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Confessaram a gente da armada e, na 4* dominga da Quadragésima daquele ano, diziam sua primeira missa. O padre Nobrega pregava ao governador e seus homens, o paclre Juan de Azpileueta Navarro, aos da terra. J ao irmao Vicente Rodrigues (ou Vicente Rijo) encarregara-se 0 ensino dos meninos, tanto da doutrina como de “ler e escrever’; neste trabalho seria seguido pelo irmao Dio- g0 icome, na capitania de Mhéus, na qual fazia, segundo o padre Nobrega, “muito fruto em ensinar 0s moose escravos"; menos de um ino mais tarde, © padre Navarro estava em Porto Seguro, “ensinando alere fazera oragio aos pequenos* ‘Além da conversio do “gentio” de uri modo geral, 0 ensino das riangas, comose-vé, fora uma das primeirase principais preocupagdes dos padres da Companhia de Jesus desde o inicio da sua misao na ‘América portuguesa. Preocupacdo que, aliss, também estava expressa ‘no Regimento do governador Tomé de Sousa, no qual 0 rei dom Joao a III determinava que “aos meninos porque neles imprimir’ melhor a ddoutrina, trabalhareis por dar ordem como se fagam cristdos’.? Obviamente, a Companhia de Jesus nao teve a exclusividade esse ensino, Ordens tao importantes como a cos Frades Menores se ocuparam da conversio no século xv, e também do ensino dos filhos ddos portugueses. O padre José de Anchieta se vangloriava, na Carta Anua de 1581, dos alunos da escola dos jesuitas de Olinda, ongulho= so da “quanta diferenga ha deles aos que, nas outras escolas da vil aprencem”.* De qualquer modo, os jesuftas ocuparam um papel cen- tral em todo esse processo Muito embora a Companhia de Jesus houvesse nascido, na pri- meira metade do século xv, como ordem essencialmente mission fia, os poucos foi também se transformando em uma *ordem docente”, De fato,a Ordem dos Jesuitas pouco a pouco orientou seus tesforcos no sentido de se ocupar da formagao, nao s6 dos seus prt juventude, 0 que correspondia “ao Gesejo de formar jovens nas letras € virtude, a fim de fazé-los propa- prios membros, mas também, gar eles mesmos, no mundo onde vivessem, os valores defendidos, pela companhia”, As inim jos na Europa (foram quarenta em quae vinte anos), abertos também aos estud tes “de fora”, comprovam a importincia que a cipula da compa passou a devotar a instrugao de criangas e adolescentes. Colégios ‘as fundagoes de col Imodernos constituiam uma “institui¢20 complexa, ndo apenas de ensino, mas de vigilincia e enquadramento da juventude”. De fato, 0 proprio santo Indcio, numa carta enviada em margo de 1554, a todos 6s reitores de colégios da companhia, escrevia que “nossa intenclo (e] que nos colégios ¢ escolas seja ensinada ¢ instituida nas let bons costumes a juventude E claro que nesses primeiros anos, a célebre “educagao jesu que teve célebres alunos — nio se encontrava pronta e acabada ‘como, alids, a propria ordem nao estava: era ainda a “juvenil e turbu= Jenta Companhia de Jesus". A famosa Ratio atque Instituto Studiow rum Societatis lesu (ou, simplesmente, Ratio Studiorum), que ‘a educagio jesuitica, s6 seria definitivamente aprovada no final do século xvi. Jé:as Constituigdesda companhia, escritas por san= to Indcio e emendadas posteriormente, ¢ que definiam, entre outras imatérias, as principais diretrizes da educacao na companhia, seria, promulgadas somente na primeira Congregacio Geral, ja depois da morte dle santo Inacio (embora tivessem sido enviadas, a titulo de experincia, a todas as provincias da companhia, inclusive a do Brasil, na segunda metade da década de 1550). sa relativa “indefinico” a respeito dos rumos da companhi € de sua propria organizagao, a qual foi sendo consolidada 40s poucos, tanto na Europa como nas diversas provincias missoes no ultramar, um ponto de partida importante para entendermos a relaclo que os religiosos estabeleceram com os moradores portugueses, com 08 indios e com as criancas, no decorrer do século xv1. De fato, as opgdes edecisdes que atingiam o ensino dos meninos, que aos poucosse tor- ‘nou central na missio, como veremos, nao podem ser pensadas ape- nas como um plano predeterminado, concebido antes do embarque; clas sao fruto igualmente da propria experiéncia missiondria dos padres no Novo Mundo. E bem verdade que a infincia estava sendo descoberta nes ‘momento no Velho Mundo, resultado da transformagio nas relagdes entre individuo e grupo, o que ensejava o nascimento de novas for- mas de afetividade ea propria “afirmacao dosentimento da infincia’, ‘na qual Igreja ¢ Estado tiveram um papel fundamental. Neste sentido, foi também esse movimento “que fez 2 Companhia escolher as crian cas indigenas como o ‘papel blanco’, a cera virgem, em que tanto se dlesejava escrever; e inscrever-se Nao obstante, 0 exame atento das diversas opgées e, principal- mente, dos problemas que o ensino das criangas ensejou, mostra que ‘no havia necessariamente uma escolha previamente definida. O que fica claro € que aos poucos foi-se construindo uma politica relativa criancas que, inclusive, 10 longo do século Xv, sofreu import reacomodagdes, UMA “NOVA CRISTANDADE" Se inicio da missio jesuitica no Brasil fora marcado por um rela~ tivo otimismo quanto aos rumos da conversiio do gentio— o famo- S0 “papel branco”, no qual ndo havia mais que escrever com prazer — rapidamente, os padres foram percebendo a dificuldade da evan- .gelizacdo dos nativos. Jé em janeiro de 1550, o padre Nobrega, numa carta dirigida ao provincial de Portugal, padre Simao Rodrigu derava que talvez pelo med os indios se converteriam mais rapido do que pelo amor, em razao de seus “abominaiveis” costumes e de stare Fecristd. Neste contexto, a evangeliz: criangas e uma forma cle viabilizar uma dificil convei Como eserevia esperar muito fruto, uma vez que pouco contradiziam a le ‘om os adultos cada atencio se vol- Va 40s filhos cestes, explicava o ent > José de Anchieta aos padres ¢ irmaos de Coimbra, em finais de abril de 1 Comefeito, como passar dotempo, consolidava-se a convice ial de que os meninos indios ndo somente se converteriam mais ‘mente, como também seriam 0 “grande meio, e breve, para a conver- io do gentio”, como escrevia 0 padre Nobrega a Dom Joti Ill, em setembro de 1551." “Hist6ria da fundagio do Colégio da Babi’, escri- ta provavelmente em meados da cécada de 1570, explica exemplar- ‘mente o sentido que parece haver orientado 0 ensino dos meninos: ‘Vendo os padres que a gente crescida estava tio armaigada em seus pecados, ‘0 obstinada no mal, to cevada em comer earne humana, que a isto cha mavam verdadeiro manjar, ¢ vendo quilo pouco se podia fazer com eles por estarem todos cheios de mulheres, encarnigados em guerras, entregues a seus vieios, que & uma das coisas que mais perturba a azo e tira de seu sen- ‘ido, resolveram ensinar a seus thos as coisas de sua salvacao para que eles {depois ensinassem a seus pais, para o qual estvam mais dispostos, por care- ‘er dos vcios dos pats, € assim indo pelasaldeiasos juntavam para thes ens nar a doutrina cristae desta maneira foi Nosso Senhor abyrindo os olhos a ‘muitos, mo s6 pequenos, mas também dos grandes, para que Ihe aficionas- sem nossa santa fé € aos costumes dos cristios, assim alguns, depois de bem instrudos, deixand 0s rtos gentilicos, foram batizados. Na documentacio jesuitica quinhentista, ha constantes referén- as ao desejo dos indios de entregarem seus filhos para que fossem ensinados pelos padres. Talvez, 0 ensino das criangas indigenas pudesse representar, também, uma possibilidade de estabelecer aliancas entre grupos indigenas e padres, revelanclo outra cimensio da evangelizacio das criangas como “grande meio” para se converter © gentio. Quicé fosse essa a razao do principal de uma aldeia na Bahia, relata 0 padre AntOnio Pires em agosto de 1551, ter promet doa sua mulher e 0s seus filhos aos padres para que estes os ensina: sem, Mais de dez anos depois, segundo relato do irmao Anchieta em 1563, Martim Afonso Tibirigé, principal de Sao Paulo de Piratininga, 40 organizar se povo para uma guerra contra 0 Tamoios, exortava 40s Seus pelas ruas (como € seu costume) que defendessem a Ig ja, que os padres haviam feito para os ensinara eles ea seus filhos” F dificil determinar ao certo qual foi a imagem a respeito dos port gueses construida pelas varias tribos indigenas-e, principalmente, dos religiosos da Companhia de Jesus, mas a construgao de aliangas, a partir das criangas (os indios dando seus filhos), pode ter constituido, uuma possibilidade frutifera de relacionamento para alguns grupos. De qualquer modo, a0 longo do século xvi, se fortalece a ideéia de que as ctiancas constituiriam, de fato, uma “nova cristandade”, Para ‘padre Nobrega, os mocos, “bem doutrinados e acostumados na vir-

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