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Vista aérea de
Petrópolis
(Quitandinha)
Distribuição espacial do
Foto:
Arquivo
crescimento populacional dentro
Fundação CIDE
e fora da R egião Metropolitana
Região
do Rio de Janeiro
Por Dr. Rainer Randolph
E
xpansão da metrópole do Rio de Janeiro – um novo padrão de
urbanização?
É amplamente conhecido, hoje, que as grandes metrópoles brasileiras,
em especial São Paulo e Rio de Janeiro, deixaram de apresentar aquelas
Revista de Economia Fluminense
Região em foco
buição do crescimento está sendo nos distritos mais distantes do centro. tório negativo durante a década de 90
amplamente discutida no Brasil, na Partimos do pressuposto de que um – apesar de ainda apresentarem um
América Latina e também em outros crescimento mais rápido na periferia de pequeno crescimento anual (menos do
países do mundo. A grande dúvida dos Petrópolis não pode ser simplesmen- que 1%). Há, no outro extremo, aque-
analistas a respeito desses fenômenos te entendido como suburbanização; les municípios cujo crescimento
é se a mudança do padrão espacial do nem no seu sentido clássico (norte- populacional ainda supera 2% ao ano.
crescimento populacional dá origem a americano) do deslocamento de cer- Esses, com exceção de Japeri e Quei-
um nova forma de urbanização ou se tas camadas médias da população local mados, apresentam também taxas lí-
significa meramente a extensão da para áreas verdes fora do centro tradi- quidas de migração acima de 1% ao
metrópole para áreas mais distantes e cional, nem como “sub”urbanização no ano e configuram claramente uma se-
amplas. Não vamos entrar neste de- sentido do deslocamento de popula- gunda periferia dentro da periferia me-
bate no presente trabalho (vide ções de menor poder econômico para tropolitana.
Randolph 2003). áreas (semi-rurais) com infra-estrutura Observa-se na Tabela 2 (pág. 31)
Nossa intenção é apresentar alguns urbana precária, como discutido já por que, nas áreas chamadas perimetro-
dados a respeito do caso da Região politanas, há, em comparação com os
Metropolitana e área perimetropolitana A Região Serrana números da Região Metropolitana e,
do Rio de Janeiro, que possam dar uma na sua totalidade particularmente, do município do Rio
idéia a respeito das mudanças referen- de Janeiro da tabela anterior, taxas rela- 29
tem um desem-
tes às taxas de crescimento popula- tivamente altas de crescimento nas duas
cional no período entre 1991 e 2000 penho pior do regiões costeiras, em particular em al-
e da distribuição desse crescimento que a Região guns municípios da Região dos Lagos:
entre município-núcleo, demais muni- Metropolitana, em ambas o crescimento anual da po-
cípios da Região Metropolitana e área mas alguns muni- pulação entre 1991 e 2000 ultrapassa
perimetropolitana. Levanta-se, a partir até 8% em alguns casos. Uma grande
cípios mostram
daí, a hipótese de que esse novo pa- parte dos municípios situa-se na faixa
drão territorial do crescimento taxas de cresci- entre quase 4 a 6 ou 7% ao ano, ou
populacional resulta também em um mento e desloca- seja, bem superior àquelas encontra-
novo padrão de urbanização, que foi mento modera- das dentro da Região Metropolitana.
chamado na bibliografia de “contra-ur- dos acima da A Região Serrana na sua totalidade
banização”. tem um desempenho pior do que a
A verificação (ou não) dessa hipó-
média estadual. Região Metropolitana, mas alguns mu-
tese não pode ser realizada de uma nicípios mostram taxas de crescimen-
Limonad (1996) a respeito dos muni-
maneira indiferenciada para todos os to e deslocamento moderadas acima
cípios no interior fluminense, na déca-
municípios que constituem a área peri- da média estadual. As taxas, aqui, não
da de 90.
metropolitana do Rio de Janeiro. Para são tão altas assim como se observa
aprofundar debate e análise focamos, na Tabela 2: em geral ficam entre 2 a
na segunda parte do presente ensaio, Comparação entre Taxas de 2,5 %. Petrópolis e Teresópolis, dois
o caso do Município de Petrópolis1. Crescimento dentro e fora da centros importantes dessa região, não
Observam-se, para este município, for- Região Metropolitana do Rio chegam a alcançar 2%.
ma e área do crescimento populacional de Janeiro Notando, assim e ainda sem mui-
que é expressão e resultado de um Uma análise do comportamento to aprofundamento, os movimentos
dos municípios integrantes da Região da população carioca e fluminense na
1
Esse trabalho é um dos resultados de
Metropolitana na Tabela 1 (pág. 30)
Revista de Economia Fluminense
Taxa média
Regiões de governo Taxa líquida de Taxa de crescimento
geométrica de
e municípios migração (%) vegetativo (%)
crescimento anual (%)
ção urbana; há um deslocamento para cidades menores (de alto para baixo Um Novo Padrão de Urbani-
áreas urbanas periféricas, tanto no in- na hierarquia urbana). Neste sentido, zação? A Distribuição do
terior, como – e mais acentuadamen- contra-urbanização acontece a um ní- Crescimento Populacional
te – na franja da Região Metropolitana. vel intermediário entre movimentos de entre Áreas Urbana e Rural
Sem querer – e poder – aprofun- migração locais e a redistribuição de po- no Município de Petrópolis
dar a análise a respeito desses dados, pulação entre (macro) regiões. Em con- Apesar de que, como vimos antes,
pode-se imaginar que estejamos dian- dições territoriais, contra-urbanização no Município de Petrópolis não se ob-
te de um processo de “contra-urbani- pode ser entendida como a divisão servam maiores taxas de crescimento
zação” que pode ser definido, segun- entre localidades urbanas e rurais. Esta populacional ou de migração líquida, a
do Lindgren (2002: 4), como uma “for- migração não significa que a população investigação desse caso parece interes-
ma particular de dispersão da popula- perde suas ligações e laços com a cida- sante e instigante por oferecer um con-
ção”: a desconcentração é um dos pro- de-núcleo (metrópole); pelo contrá- junto de fenômenos que o tornam úni-
cessos que está na sua base. Essa con- rio, seu deslocamento representa uma co e talvez paradigmático entre os de-
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tra-urbanização se distinguiria da subur- intensificação e interação contínua en- mais municípios do universo maior da
banização por significar uma dispersão tre as localidades envolvidas e uma investigação da área perimetropolitana
a longa distância. Ela não só envolveria maior expansão das estruturas socio- do Rio de Janeiro.
um deslocamento populacional a maio- espaciais que ainda incluem sem igual Para iniciar a discussão sobre o caso
res distâncias, mas também no interior (ou similar/familiar) significados socio- de Petrópolis, recorremos a um estu-
do sistema urbano, da maior cidade a culturais e padrões. do de La Rovere e Carvalho (2006)
Região em foco
Tabela 2
Taxa média
Regiões de governo Taxa líquida de Taxa de crescimento
geométrica de
e municípios migração (%) vegetativo (%)
crescimento anual (%)
que apresenta, em número recente dos empregos em Petrópolis está con- ções econômicas de Petrópolis no se-
dessa revista, no contexto de uma pre- centrada nos setores de comércio e tor industrial são a fabricação de pro-
ocupação sobre o papel das instituições serviços que são responsáveis por dutos alimentícios e bebidas, têxteis e
no desenvolvimento local, estrutura e aproximadamente 64 % do emprego confecções e máquinas e equipamen-
evolução econômicas dos Municípios total (Tabela 3, pág. 32). tos”. (La Rovere, Carvalho 2006: 33)
de Petrópolis e Teresópolis, que são Uma análise desagregada dos da- As atividades que empregam me-
responsáveis por cerca de 62% do dos sobre as atividades econômicas, nos pessoas são as da Indústria
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Produto Interno Bruto da Região Serra- feita a partir da Relação Anual de Infor- Extrativa Mineral e da Agropecuária;
na do Estado do Rio de Janeiro. mações Sociais (Rais) do Ministério do queremos chamar a atenção especial-
Em relação ao caso que nos inte- Trabalho, mostra que “há uma clara mente para este último setor, que
ressa aqui, La Rovere e Carvalho predominância das atividades ligadas ao responde por apenas 827 emprega-
(2006: 33) apontam as seguintes ca- turismo (alojamento e alimentação) no dos ou 1,5 % do total dos empregos
racterísticas econômicas: a maior parte setor de serviços. As principais voca- no município.
Tabela 3 pessoas que, conforme o censo, mo-
Região em foco
ao do município do Rio de Janeiro, que crescimento de 47 % ao ano deve-se, plicação da Washington Luís em finais
ficou em 0,74% ao ano (dados do em parte, ao reduzido número de 195 da década de 70, houve um sensível
IBGE; vide Tabela 2, pág. 31). 2
O distrito de Cascatinha abrange tam- melhoramento da acessibilidade, que
Quando se desagregam esses bém áreas mais distantes do centro, incentivou a ocupação de veraneio fun-
dados para os cinco distritos e se in- como, por exemplo, o bairro de Araras;
damentalmente nas áreas próximas às
não podemos aqui considerar essas di-
troduz uma diferenciação entre po- ferenciações. principais rodovias.
Tabela 4
Setor em foco
Município
tx cresc.a.a. 1991 1996
Distritos de Pop. 1991 1996 2000
1991-2000 1996 2000
Petrópolis
Petrópolis Total 164.816 169.618 181.638 1,09 0,58 1,73
Região
Sede
Petrópolis Urbana 164.816 169.618 181.638 1,09 0,58 1,73
Cascatinha Total 56.937 63.419 61.939 0,94 2,18 -0,59
2
Cascatinha Urbana 56.937 63.419 61.939 0,94 2,18 -0,59
Itaipava Total 13.088 14.261 18.862 4,14 1,73 7,24
3 Itaipava Urbana 12.893 13.998 12.436 -0,40 1,66 -2,91
Itaipava Rural 195 263 6.426 47,45 6,17 122,33
Pedro do Rio Total 12.572 14.085 14.549 1,64 2,30 0,81
4 Pedro do Rio Urbana 8.063 9.634 7.824 -0,33 3,62 -5,07
Pedro do Rio Rural 4.509 4.451 6.725 4,54 -0,26 10,87
Posse Total 8.055 8.286 9.549 1,91 0,57 3,61
33
5 Posse Urbana 6.371 6.700 6.834 0,78 1,01 0,50
Posse Rural 1.684 1.586 2.715 5,45 -1,19 14,38
FIBGE: Censos de 1991 e 2000 e Contagem de População de 1996
setores e serviços, por outro, não gem a novas formas de urbanização, RANDOLPH, R., GOMES, P.H.O.
Expansão da metrópole e áreas perime-
significa nenhuma contradição ou à medida que começam a ser ocupa- tropolitanas: continuidade ou ruptura? O
oposição. Ao contrário, uma se ex- das permanentemente (Randolph, contexto de uma investigação do entor-
no do Rio de Janeiro. Anais do XII En-
plica pela outra quando se compre- Gomes 2007). contro Nacional da Associação de Pes-
quisa e Pós-Graduação em Planejamen-
to Urbano e Regional – ANPUR –
Belém, 2007 (em prelo).
Dr. Rainer Randolph. Professor Titular do IPPUR / UFRJ e Pesquisador do CNPq.