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Pedagogia do E-Learning

Educação e Sociedade em Rede

Ser cidadão no Second Life


Rosalina Simão Nunes

"Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!


/ Ser completo como uma máquina."
Álvaro Campos

Resumo

Neste trabalho final, pretende-se, partindo das intervenções mais pertinentes, ocorridas durante o
Curso, nos Fóruns da Unidade Curricular Sociedade em Rede, estabelecer um fio condutor entre
a questão das identidades na rede e o exercício do poder e cidadania na (Ciber)Cultura.

Através de uma reflexão mais aprofundada, recorrendo à bibliografia da unidade curricular, usando
a experiência pessoal, na rede, nomeadamente no Facebook e Second Life, após descrição da
presença da Presidência da República Portuguesa no Second Life, infere-se que esta forma de
actuação possa ser uma consequência do novo exercício do poder e cidadania.

Palavras-chave: Identidade e rede(s), Poder e cidadania, (Ciber)cultura, Presidência da


República Portuguesa no Second Life, democracia digital

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NOTAS PRÉVIAS

1 - Considerou-se importante o uso diário do FaceBook, enquanto ferramenta de trabalho, na


construção desta reflexão, uma vez que, e recorrendo a palavras de uma colega no Fórum sobre
a rede como interface educativo -> a minha experiência (Domingo, 14 Junho 2009, 22:51): ”O
Facebook e outras redes virtuais sociais têm um efeito bola de neve”. No período que medeia
entre a segunda semana de Julho e o momento em que é redigido este texto, o número de amigos
é já de 35, tendo-se aderido a 7 grupos.

Para imagem de fundo deste artigo, usou-se, em marca de água, a Roda de Amigos, resultante
das interacções no Facebook. Dessas interacções destaco, em particular, a que foi estabelecida
com o Vice-Presidente da CCV - Comunidade Cultural Virtual, Rui Lourenço, que permitiu uma
informação actualizada sobre as actividades desenvolvidas no âmbito da Presidência da República
Portuguesa, no Second Life.

Essencial, para a consecução deste trabalho foi, indubitavelmente, a orientação do Professor


Pedro Abrantes, na manutenção da discussão, fazendo pontos de situação e propondo o
aprofundamento das questões essenciais.

2 – Para fundamentar a conclusão desta reflexão, foi muito importante e útil, todo o trabalho
desenvolvido na Unidade Curricular de Comunicação Educacional, aquando da preparação para o
Congresso “Face2Face e Comunicação mediada por computador”, bem como todas as
experiências de carácter cultural e social desenvolvidas no Second Life, quer de forma autónoma,
quer com a orientação da Professora Maria Balsamão (Mysan Randt).

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O exercício do poder na rede


Se quiséssemos temporalizar o primeiro momento em que tomámos consciência, enquanto
indivíduo, da importância da rede, teríamos que recuar à década de noventa do séc. XX. Desse
momento fizemos registo no Fórum de apresentação: redes e identidades, no Tópico: A rede e o
self: questões para debate, quando, em resposta a uma intervenção de um colega que se referia à
necessidade de não permitir que a rede aniquilasse o indivíduo, defendendo a auto-regulação para
que tal se verificasse, levantámos duas questões (Quarta, 25 Março 2009, 23:09) que nos fizeram,
sequencialmente, referenciar o filme A rede (1995) com Sandra Bullock, uma vez que neste thriller
a acção gira à volta de uma personagem, cuja identidade é destruída, pela e na internet, sendo-lhe
criado um novo ‘self’. Pretendíamos com essa situação discutir sobre como definir as fronteiras
entre indivíduo e rede e, também, estimular o debate sobre quem poderia/deveria exercer o poder
de definir essas fronteiras, procurando, assim, reflectir acerca das novas formas de poder e de
cidadania.

Curiosamente, esta questão não teve, no Fórum, a repercussão que desejávamos. Por exemplo, e,
na sequência das participações no Fórum acima identificado, o colega com que discutia o assunto
sugeriu que ninguém pudesse definir essas fronteiras, devendo depender de cada um, individuo ou
grupo, desenvolver as suas próprias capacidades (Quarta, 25 Março 2009, 23:31). Como resposta,
remeti para a leitura de quatro links, todos eles artigos informativos sobre a vontade de Estados se
mostrarem interessados em controlar o acesso dos cidadãos à Internet, tal como se pode ler
nestas palavras, no site da Ciberia (um dos links referenciados): A União Europeia quer que os
Governos dos vários países e as empresas do sector privado partilhem responsabilidades no
controlo da internet, preparando terreno para formar no futuro um organismo de controlo que conta
também com a ajuda dos Estados Unidos.

Utilizámos atrás um verbo volitivo (desejávamos), porque nos parece que, neste intricado de
vivências, que é estar em rede, seria importante aprender a estar em rede, enquanto sociedade
informacional (Castells, 2007) . E, quanto a nós, isso só será possível, contextualizado num novo
paradigma de cidadania. Aquele, onde, seguindo as reflexões de Castells [Castells, M. - A
Sociedade em Rede: do Conhecimento à Política], “todos os intervenientes deverão colaborar
no sentido de "maximizar as hipóteses de cumprir os projectos individuais e colectivos expressos
pelas necessidades sociais e pelos valores, em novas condições estruturais." (idem) Devendo o
objectivo ser "caminhar para políticas-chave a fim de deliberadamente melhorarem o bem-estar
humano num novo contexto histórico." (idem). Esta última transcrição consta do wiki construído em
equipa, sobre o Poder e Cidadania aquando do desenvolvimento da Unidade II - A virtualização
das relações sociais. Optámos, na altura, por participar na construção do Wiki sobre esta
temática, por se revelar de grande interesse, quanto a nós, para a compreensão daquilo que deva

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ser a CiberCultura. E passamos a transcrever a participação registada no Fórum sobre a


(ciber)cultura / Tópico: cultura e poder no século XXI, no dia 4 Maio 2009, que sintetiza as
nossas ideia sobre as novas formas de poder que emergem actualmente e que têm como
referência, na actualidade, Barak Obama, Presidente dos EUA. Veja-se o que sobre estes novos
procedimentos, escreve Meskell (2007) e recorde-se que as redes sociais de Barak Obama
começaram a ser construídas cerca de dois anos antes de todo o processo eleitoral que o
conduziu à Presidência.

"Internet trouxe a oportunidade do voto online, da divulgação de candidatos menos conhecidos; a


possibilidade dos cidadãos se auto mobilizarem, no auxílio à polícia, no combate ao crime e (...)
possibilitando uma maior transparência nas campanhas."

Re: cultura e poder no século XXI

por Rosalina Simão Nunes - Segunda, 4 Maio 2009, 05:44

Talvez a fragmentação de que fala a Mónica seja uma boa pista para começarmos a construir uma visão
mais complexa desta relação entre cibercultura e poder nas sociedades contemporâneas.

Para responder a este último desafio do Professor, socorri-me precisamente do seu texto - A Cultura na
Sociedade em Rede - e detive-me, já no último capítulo, "Em busca de um sentido para os dias de hoje", nas
seguintes afirmações:

"...o aumento exponencial dos fluxos de pessoas e de informação que circulam pelo mundo conduziu a uma
intensificação tão grande das relações interculturais que, por vezes, somos levados a pensar que todas as
culturas se diluíram num mesmo referencial." - Esta ideia de cultura global, remete-me quase
automaticamente para o conceito de meta-rede de Castells (Sociedade em Rede, página 614), desenvolvida
a partir da construção social das novas formas dominantes do espaço e do tempo. E à ideia de que as
culturas se diluíram de Pedro Abrantes, perdendo, portanto, identidade, na meta-rede de Castells, as
funções não essenciais são ignoradas , sendo os grupos sociais subordinados e os territórios desavalorizados
("espaço dos lugares") .

Assim, subsiste a ideia de haver uma força dominante que se sobrepõe. São, segundo Pedro Abrantes, os
centros que "impõem o seu modelo cultural às periferias"; de acordo com Castells, a "forma fundamental de
dominação da nossa sociedade baseia-se na capacidade organizacional da elite dominante, que segue de
mãos dadas com a sua capacidade de desorganizar os grupos da sociedade..." (pág. 540) E é a partir destas
novas relações, onde conhecimento e imaginação se instituem poderes (Pedro Abrantes) que emerge uma
nova forma de exercer o poder, com base na informação e cultura.

O espaço através do qual essa informação circula deixou de ser físico. A internet permite a globalização e,
segundo Castells, o poder tem medo da internet: "...os poderes têm medo da Internet. Estive em não sei
quantas comissões assessoras de governos e instituições internacionais nos últimos 15 anos, e a primeira
pergunta que os governos sempre fazem é: como podemos controlar a Internet? A resposta é sempre a

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mesma: não podem. Pode haver vigilância, mas não controle." Mas podem. Veja -se o caso da China, por
exemplo.

Sem conseguir fundamentar, para já, com elementos textuais conclusivos, começo a sentir que a visão de
Castells da sociedade em rede é demasiado optimista. Isto é, despe-se quase do factor humano com vista a
defender as suas virtualidades. Acontece que por detrás de qualquer computador está um homem, uma
mulher, um jovem, uma criança. E, fazendo fé das palavras de Schopenhauer, em Sobre o Sofrimento do
Mundo, o alvo imediato e directo do homem é o sofrimento, isto porque, "...é absurdo pensar que as
infindáveis aflições de que o mundo está cheio e que emergem da necessidade e da angústia próprias da
vida, sejam sem sentido e puramente acidentais. "

Claro que não subscrevo o pessimismo de Schopenhauer, mas para já, parece-me ser a melhor forma de
equilibrar o que vou apreendendo.

A identidade na (ciber)cultura

Por identidade, entendo o processo pelo qual o actor social se reconhece a si próprio e constrói
significado, sobretudo, através de um dado atributo cultural ou conjuntos de atributos culturais
determinados, a ponto de excluir uma referência mais ampla a outras estruturas sociais. – Partindo
desta definição de identidade, Castells, no Prólogo da obra de referência desta Unidade
Curricular, [Castells, 2007, p. 26], conduz a discussão para a seguinte problemática: “Como
combinar novas tecnologias e memória colectiva, ciência universal e culturas comunitárias, paixão
e razão? De facto, como?! E porque observamos a tendência oposta em todo o mundo,
nomeadamente, a distância crescente entre globalização e identidade, entre Rede e o Self?
[Castells, 2007, p. 27]

A questão da rede e do self foi debatida no Fórum de apresentação: redes e identidades, e foi,
talvez, um dos tópicos com maior participação (83 Participações).
A propósito da distância crescente entre globalização e identidade, transcrevemos um excerto de
um das participações, registada a 28 Março 2009, pelas 23:36:

Parece-me que a tal oposição bipolar entre rede e self surge, porque a distância entre globalização
(rede) e identidade (self) é cada vez maior. Isto porque as novas tecnologias de informação estão a
integrar o mundo em redes globais de instrumentalidade.

• Aqui [ainda] não entendi o seguinte: por que razão falar em oposição bipolar. Havendo
oposição, por inerência, têm de existir sempre dois pólos, dois termos que se oponham.

Concluída esta fase do Curso e depois de todas as leituras, análises e reflexões efectuadas,
parece-nos que a oposição entre identidade e rede seja cada vez mais ténue. No Fórum sobre a

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(ciber)cultura: cultura e poder no século XXI, foi-nos pedido que escolhêssemos um símbolo
que, para nós, fosse representativo desta nova (ciber)cultura, justificando a escolha, à luz dos
conhecimentos mais teóricos sobre o tema. Houve vários exemplos que recaíram sobre indivíduos,
enquanto participantes na rede, tendo-se tornado símbolos pela criação de uma imagem digital de
si próprios. Sem dúvida que esse facto estará relacionado com a utilização da comunicação
mediada pelo computador, como refere Snyder (2001, p. 120), realçando nestas palavras a
importância que é dada à imagem:

‘The turn to the visual’ also represents a significant change associated with computer-mediated
communication as to how meanings are made. Certain developments in technology – electronic text
and data processing and reproduction, image and colour reproduction, and layout practices – are all
making the shift from the verbal to the visual possible.

Para símbolo representativo da (ciber)cultura, escolhemos Ana Free, como de seguida daremos
conta, bem como do processo de busca, leitura e reflexão cujo produto final se acabou por
concretizar em dois momentos, fruto da interacção com o Professor:
1º Momento

por Rosalina Simão Nunes - Domingo, 5 Abril 2009, 14:30


Tive alguma dificuldade em escolher um símbolo representativo desta nova (ciber) cultura, à luz
da leitura que fiz do Capítulo 5. E isto, porque conforme ia lendo, vários exemplos me surgiam,
mas eram logo postos de parte ou porque não eram um filme, site ou signo linguístico ou porque,
e principalmente por esta última razão, não se enquadravam no perfil daquilo que deveria ser um
ícon da cibercultura.
Por exemplo, pensei no Taxi Dirver como símbolo cultural. Foi, sem dúvida, mas noutra era. Depois
lembrei-me de Wake me up, before you Go-Go, dos Wham. Também um símbolo cultural e
também de outra época. O que me leva a pensar que começo a estar ultrapassada...
Entretanto, e durante a leitura, achei que por símbolo cultural desta nova era, apenas deveria
pensar naqueles que existissem na internet. Por isso, coloquei de parte a Jade Goody e o
fenómeno Big Brother. Entretanto, cheguei à conclusão, pela leitura do subcapítulo A Cultura da
Virtualidade Real, de que também ela poderia ser um símbolo. Neste subcapítulo, sublinho a
importância da definição do conceito de virtual: "Logo, o que é historicamente específico no novo
sistema de comunicação, organizado pela integração electrónica de todos os meios de
comunicação, do tipográfico ao sensorial, não é induzir à realidade virtual, mas construir a
realidade virtual. (...)«virtual: que existe na prática, embora não estrita ou nominalmente», e
«real: que existe de facto». Portanto, a realidade, como é vivida, sempre foi virtual porque é
sempre percebida por intermédio de símbolos formadores da prática como um certo sentido que
escapa à sua rigorosa definição semântica." (pág. 489)
Como, entretanto, consoante a leitura, ia procurando outros casos, acabei por achar que a Ana
Free seria um bom exemplo. Afinal, esta jovem atingiu a fama através de um website - YouTube. E
é hoje um símbolo para todos os jovens que desejem ver os seus sonhos concretizados, no mundo
da múscia.

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A propósito de sonhos, termino a citar um excerto do capítulo 5 que me despertou interesse e que
tem a ver com cultura da primeira geração de utilizadores : "Mas à medida que as pioneiras e
heróicas tribos informáticas vão recuando face ao implacável fluxo de ''newbies'', o que resta da
contracultura original da Rede e a informalidade e a autonomia da comunicação, a ideia de que
muitos contribuem para muitos, mas, no entanto, cada um tem a sua própria voz e espera uma
resposta individualizada. " (pág. 466)

2º Momento

por Rosalina Simão Nunes - Sábado, 11 Abril 2009, 22:11

Neste vídeo, no canto inferior esquerdo, podemos ler: "Ana Free / Uma história verídica". E em
30s ficámos a saber que uma jovem, Ana Free, tornou conhecida a sua música através da Internet.

Ana Free, nome artístico de Ana Gomes Ferreira, é filha de pai português e mãe inglesa. Desde os
11 anos que compõe e toca guitarra desde essa altura também. Foi ensinada pelo pai.

Estudou em Cascais, numa escola internacional e terminou, já em Inglaterra, o curso de Economia


que não sabe porque tirou...
Descreve-se, neste vídeo, como uma rapariga que sabe ser silly, que gosta de se divirtir e gosta de
divertir os outros. Afinal, uma rapariga igual a tantas outras. E, talvez por isso, o ênfase dado, quer
ao desporto, quer ao gosto pelas viagens. Dá particular destaque às artes marciais, que terá
praticado ainda miúda. Termina o vídeo, publicado a 9 de Janeiro de 2007 e que já conta até hoje
com 39968 exibições, após a referência ao gosto das viagens, afirmando que gostaria de visitar
muitos lugares e que agradece a todos os que a têm apoiado na concretização do seu sonho. E
curiosamente, o seu sonho, segundo as suas palavras não é a música, mas sim: "Estar ligada a
Vocês e partilhar as minhas experiências convosco para ficarem a saber sobre mim (...) E mesmo
que nunca nos encontremos", diz que o que deseja é manter-se ligada e que por isso vai continuar
a fazer posts, a cantar, para os que a quiserem acompanhar. No entanto, as últimas palavras são
dirigidas àqueles que, eventualmente, não quererão saber dela. O que não deixa de ser curioso,
mas em simultâneo me leva, de novo, para o texto de Castells, quando ele escreve (pág. 470): "A
comunicação on-line alenta discussões, permitindo a sinceridade do processo. O custo, contudo, é
a alta taxa de mortalidade das amizades on-line, na medida em que um comentário infeliz pode ser
sancionado por um clik que corta a ligação para sempre."
Não pondo em causa de forma alguma as capacidades vocais de Ana Free, parece-me muito
interessante essa consciência de que tem de estar ligada para partilhar o que faz, mas ao mesmo
tempo também sabe que pode haver quem não queira ouvi-la.
O que é certo é que esta menina, recorrendo, à Internet, particularmente comunidades virtuais,
está a trilhar o caminho da fama, tendo sido já usada pela Zon para o sopt publicitário que
identifiquei no início. Seria também interessante explorar esta vertente da publicidade...

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Exercício da cidadania, em rede, nas Comunidades Virtuais


Decorrente da interacção acima referida com o docente da Unidade Curricular, a propósito dos
símbolos da nova (ciber)cultura, foi-nos colocada uma questão, à qual, na altura, não nos
sentíamos, ainda, com capacidade de responder.
Neste momento, parece-nos, sem qualquer dúvida, e respondendo à pergunta (Isto leva-nos a
pensar se o desenvolvimento da internet não se pode considerar, por si próprio, um movimento
social. No entanto, neste caso, assenta sobre uma ferramenta que conserva os princípios (e
sonhos) dos seus pioneiros. Pelo menos essa é a teoria de Castells. Será assim?), que o
desenvolvimento da internet é um movimento social. A prová-lo está este trabalho que, ainda que
em docx. (posteriormente transformado em pdf.) acabou por ser todo elaborado com o recurso à
plataforma Moodle (Universidade Aberta), pese embora, inicialmente, tenha sido impresso um dos
Fóruns. Optou-se por essa metodologia pela necessidade de diálogo constante entre as várias
temáticas, com a utilização, em simulltâneo, das Referências Bibliográficas, maioria das quais
disponíveis online, e que pela estrutura do trabalho enunciada em cima, teria sido pouco viável
executá-lo com outra ferramenta.

No entanto, tal como referimos, na mensagem do dia 6 Abril 2009, 20:41, parece-nos, cada vez
mais, que este será um movimento que provoca alterações no dia-a-dia das pessoas. Que lhes
altera comportamentos. Que questiona valores e poderes estabelecidos, onde as redes sociais
funcionam como ferramentas facilitadoras da interacção. Como refere Castells (2007, 458 e 463),
quando estabelece a comparação entre este momento que vivemos agora e o que se viveu no
advento da Rádio e Televisão, “…ao contrário da televisão, os consumidores de Internet são
também os seus produtores por fornecerem conteúdos e moldarem a rede. Portanto, o tempo
desigual de chegada das várias sociedades à constelação Internet terá consequências
duradouras no futuro modelo de comunicação e cultura mundial."
Estaremos, então, a falar de um movimento cultural e comunicacional.
É neste ponto que achamos pertinente introduzir o conceito de comunidade virtual, segundo
Castells (2007, p. 489):
Então, o que é um sistema de comunicação que, ao contrário da experiência histórica anterior,
gera virtualidade real? É um sistema em que a própria realidade (ou seja, a experiência simbólica /
material dos sujeitos) é inteiramente captada, totalmente imersa, numa composição de imagens
virtuais no mundo do faz-de-conta, no qual as aparências não se encontram apenas no ecrã
através do qual a experiência é comunicada, mas transforma-se em experiência. Todas as
mensagens, de todos os tipos são inseridas no médium porque este se tornou tão abrangente, tão
diversificado, tão maleável que absorve no mesmo texto multimédia toda a experiência humana,
passada, presente e futura, como aquele ponto único do Universo a que Jorge Luís Borges

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chamou “Aleph”. Deixem-me dar um exemplo, apenas isso, um exemplo que ajude a transmitir
ideias.”
E de seguida, Castells descreve a situação que envolveu Dan Quayle, na campanha presidencial
norte-americana em 1992, para exemplificar. Nós iremos tentar mostrar que a presença da
Presidência da República no Second Life se enquadra nestes parâmetros descritos por Castells.

A definição de comunidade virtual de Castells poderia ser sintetizada por estas palavras: a free
online virtual world imagined and created by its Residents (definição de Second Life, disponível no
respectivo site), enquanto “sistema em que a própria realidade (ou seja, a experiência simbólica /
material dos sujeitos) é inteiramente captada, totalmente imersa, numa composição de imagens
virtuais no mundo do faz-de-conta, no qual as aparências não se encontram apenas no ecrã
através do qual a experiência é comunicada, mas transforma-se em experiência.”

Quanto à segunda parte da definição de Comunidade Virtual de Castells (Todas as mensagens, de


todos os tipos são inseridas no médium porque este se tornou tão abrangente, tão diversificado,
tão maleável que absorve no mesmo texto multimédia toda a experiência humana, passada,
presente e futura, como aquele ponto único do Universo a que Jorge Luís Borges chamou
“Aleph.”), encontramos paralelismo nestas palavras com a descrição da Ilha da Presidência da
República que podemos encontrar no respectivo site e que é da responsabilidade da Equipa de
produção do Espaço Second Life da Presidência da República:

Num cenário em que predomina a ecologia e a harmonia com o ambiente, combinam-se elementos
da nossa história e cultura com linhas arquitectónicas futuristas, recriados em 3D e Multimédia. A
Ilha é envolta em espaços verdes e recriações de animais como golfinhos, baleias, pássaros, com
os quais será possível interagir de várias formas.

A Ilha está organizada em 5 áreas principais: Auditório Armilar, Exposição "Portugal 12.21
Identidade", Museu da Presidência da República, Miradouro da Poesia e Espaço "Tesouro
Passado e Futuro".

À data em que concluímos esta reflexão, estão previstos, na Ilha da Presidência da República
Portuguesa, no Second Life, para dia 22 de Julho, os seguintes eventos, a propósito da
INAUGURAÇÃO DA REABILITAÇÃO DOS VIVEIROS DO JARDIM DA CASCATA:

• 21h30 - Apresentação do documentário sobre a história e restauração das fontes

Transmissão de um documentário de cerca de 5m de duração, que retrata a história do espaço do Jardim da


Cascata e dos seus Viveiros e a sua reconstrução

• 22h00 - Início da Ópera “Dido e Eneas”

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Transmissão em directo e exclusivo para o Second Life da estreia da Ópera “Dido e Eneas” de Henry Purcell,
uma produção do Teatro Nacional de São Carlos encomendada pela Presidência da República Portuguesa.
Com encenação do jovem brasileiro André Heller-Lopes, direcção musical do Maestro Geoffrey Styles,
cenografia e figurinos de Rita Pereira e desenho de luz de Pedro Martins, esta obra-prima universal será
apresentada nos Jardins da Residência Oficial da Presidência da República Portuguesa por jovens cantores
portugueses integrados no projecto “Estúdio de Ópera” do Teatro Nacional de São Carlos.

Na comemoração do 10 de Junho de 2009, ocorreram os seguintes eventos no mesmo espaço


virtual: Exposição "Portugal 12.21 Identidade”; Mensagem do Presidente da República às
Comunidades Portuguesas; Concerto de Rodrigo Leão, em simultâneo com o concerto no
Convento de Santa Clara, tendo ao longo dos dias 9 e 10 de Junho actuado na Ilha um conjunto
de artistas portugueses que têm ganho notoriedade no Second Life.

Parece-nos que esta forma de actuar da Presidência da República Portuguesa operacionaliza o


conceito de democracia digital que encontrámos analisada por Cardoso et al.(2003, p 115):

Assim, a democracia digital define-se como “um conjunto de experiências de prática democrática
sem limites de tempo, espaço e outras condições físicas, recorrendo às TIC ou à CMC
(comunicação mediada por computador), como um complemento e não como uma substituição de
práticas políticas tradicionais ‘análogas’. Nesta definição denota-se uma orientação moderada na
análise dos impactos dos novos media no sistema político, na esteira de outros autores como
Anthony Giddens (1999, 2000), quando defende que as novas tecnologias não irão destronar a
democracia representativa, mas podem ser um complemento útil para a conciliação do processo de
tomada de decisões políticas com as preocupações correntes dos cidadãos.

Assim, infere-se que esta possa ser uma forma de exercer o poder e cidadania, nas sociedades em
rede. Do poder, porque todas as iniciativas provêm da Presidência da República Portuguesa, na
acção de promover iniciativas / eventos / projectos que permitam aos cidadãos, no exercício da sua
cidadania, ter acesso à informação de todo o mundo.
O contacto com outros povos que vivem, pensam e sentem os problemas sociais, ambientais,
económicos e políticos de forma diferente, tende a modificar os referenciais tradicionais das
sociedades. O Second Life permite isso, dado que se trata de uma comunidade global.
Circunstância que poderá anular as fronteiras geopolíticas, fomentando a pluralidade de pontos de
vista e aumentando a possibilidade de contestação dos padrões, valores, opiniões vigentes pelos
indivíduos ou grupos sociais, que no caso da Presidência da República Portuguesa, podem,
também, interagir através das redes sociais como: twitter, videos.sapo, flickr e youtube.

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REFERÊNCIAS
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português na construção de uma democracia digital. Sociologia, Maio 2003, no.42,
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• http://secondlife.com/ [Julho de 2009]
• http://twitter.com/presidencia [Julho de 2009]
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Julho / 2009

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