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Introdução

O objetivo deste relatório é fazer um levantamento das estratégias de


intervenção durante o ano de 2006.
O paciente foi conduzido à clínica de psicologia com a queixa dos pais
de estar se achando muito feio, comparando – se com o “patinho feio”. Relata
se achar gordo, sente vergonha em utilizar vestimentas que demonstram partes
do seu corpo, como exemplo a camiseta cavada e sunga. É compulsivo para
comer, seu intestino não funciona direito segundo o relato de sua mãe, não
gosta de ir à escola, tem sudorese excessiva e tem um quadro de saúde frágil.
A mãe do paciente relatou que a problemática iniciou quando o filho
tinha três anos e que seu pai, que trabalhava como policial, foi preso por um
ano em São Paulo, e só voltou após dois anos. O paciente ficou muito doente
na ausência do pai e sentiu muitas saudades.
Segundo o relato da mãe, o paciente não gosta de amizades com
meninos, prefere somente meninas. Quando encontra objetos femininos, como
roupas, sapatos, batons, o paciente pede para a mãe se pode usar, porque
relata achar lindo, também a mãe relata fatos de sua gravidez, que foi nervosa
e conturbada, por conta de problemas de saúde de familiares do marido, a
prisão do pai do paciente e pela sua condição física, pois estava acima do peso
ideal.

Descrição

Em atendimento em clínica, o pai compareceu e foi realizado o contrato


terapêutico e realizado a queixa livre, onde foram coletados dados sobre a
problemática do paciente. O pai compareceu novamente, onde foi realizado a
Anamnese, concluindo o levantamento de dados.
Após o contato com o pai do paciente L. M., foi solicitada a presença da
criança, onde foi demonstrada a história do Primeiro Livro da Criança sobre a
Psicoterapia, com o objetivo de esclarecer ao paciente sobre o processo
psicoterápico e o sigilo das sessões. Foi apresentada a caixa lúdica que será
utilizada durante os atendimentos.
Foram coletadas informações da criança no seu ambiente (escola, casa,
residência da Avó), a fim de obter dados sobre a sua vida, onde era
questionado ao paciente sobre o tipo de alimentação que consumia, sobre a
sua prática de esportes, objetivando a orientação do paciente sobre uma
alimentação mais saudável.
Durante as sessões foi observado que o paciente possui carência afetiva
quanto à ausência dos pais, pois o ramo de trabalho destes induz a serem
ausentes em alguns momentos. O seu tipo de alimentação sempre apresentou
inadequado, fazendo uso de alimentos calóricos em grande parte dos períodos
do seu dia a dia.
Segundo Heller et al. (2004), é sabido que para que uma criança aceite um
novo alimento este der ser apresentado a ela diversas vezes, geralmente isto
não é feito, um alimento é oferecido uma única vez e ser for rejeitado, os pais
tendem a não mais apresenta-lo à criança alegando que ela não gosta como
estamos programados para gostar de gordura e açúcar, é fácil compreender
que estes alimentos não são recusados e, portanto, são reapresentados
diversas vezes, treinando assim a criança a seu consumo.
Segundo Heller et al. (2004), normalmente, as mães escondem as
verduras da criança, misturando-as com outros alimentos, a sopa de legumes
batidos com carne é um exemplo, com ela não se ensina nem o gosto da
carne, nem o dos legumes. Problemas quanto à saciação também devem ser
observados, as crianças difíceis de alimentar tendem a se restringir “a ingestão
de poucos tipos de alimentos, e a mãe, com receio de que a criança não coma,
acabam por reforçar este comportamento de comer certos alimentos”.
Para Heller et al. (2004) desde o período do nascimento, a comida vem
associada com o prazer, quando o bebe chora, a mãe oferece o peito, o calor
do corpo da mãe, seu cheiro e o carinho que toque recebidos durante a
amamentação são as primeiras associações de prazer e alimento, o alimento é
o prazer mais primitivo ao qual o homem tem acesso desde seu nascimento.
Esta relação normal e adaptativa pode ter a função de aprendizado futuro se
generalizar para outras situações tornando-se inadequada. Muitos pais
oferecem guloseimas para seus filhos para que estes parem de chorar, de
fazer bagunça ou simplesmente que fiquem em silencio.
“As empregadas e as babás com um mal treinamento são
especialistas neste procedimento, por isso que é muito importante
que se preste atenção às contingências que sempre querer,
muitas vezes se estabelecem, a criança que sempre recebe
alimento quando chora, ou quando quer receber atenção,
passara a associar o comportamento de comer à solidão, como
solução para a dor de sentir – se sozinha.” Heller et al. (2004).

Para Heller et al. (2004), comer quando esta com fome provavelmente
não engradara pois já estávamos privados de alimentos e portanto tão logo
ingerido o alimento, nosso corpo trata ou de utilizar toda a energia absorvida,
mas por outro lado se ingerirmos alimentos quando estamos com problemas ou
somente passar o tempo, iremos consumir alimentos calóricos, guloseimas, e
tendemos a sentir culpa ao fazer isso, nessa ultima situação, não precisávamos
da energia desses alimentos calóricos e engordurados. Em casa cabe aos pais
o estabelecimento de regras relativas à alimentação, desde as mais básicas,
como horários para as refeições, desde muito cedo, a criança pode aprender
que se faz em media quatro refeições diárias, e que elas devem ser feitas
sempre nos mesmos horários, não oferecendo comida constantemente auxilia
a criança neste processo discriminativo. Alem da questão do horário, o local
onde as refeições serão feitas é importante, o estabelecimento que se coma na
mesa é função dos pais, algumas famílias permitem que suas crianças comam
assistindo televisão ou em frente ao computador , este tipo de padrão dificulta
que a qualidade e a quantidade de alimentos seja percebida alem de impedir
que horários fixos para as refeições sejam estabelecidos. Normalmente ao
comer vendo televisão come-se mais, optando pelas guloseimas e abre-se a
porta para a obesidade. Comer com outras pessoas é muito gratificante para a
criança, pois a alimentação tem também um papel social, as crianças que
comem em creches tendem a comer uma dieta mais diversificada, pois imitam
os seus pares, quando em companhia de adultos é bastante freqüente que a
criança diga que não gosta de um alimento sem sequer ter provado, na creche
isto geralmente não ocorre pois a criança imita os colegas.
Heller et al. (2004), antes mesmo de a criança falar, quase todo o
controle alimentar esta nas mãos dos pais, entretanto à medida que a criança
aprende a falar, ela começa a impor suas vontades e inicia o tempo de
negociações, esta fase, por um lado é positiva na medida em que permite que
se saiba quando a criança tem fome e quando esta saciada. Porem, como não
comemos apenas porque temos fome, tampouco apenas alimentos saudáveis,
muitas vezes esta fase torna-se uma verdadeira guerra na qual os pais tentam
impor consumo de certos alimentos e a criança se rebela, não se pode deixar
toda a decisão por conta da criança, pois ela provavelmente não terá uma dieta
equilibrada, é preciso que se respeite a quantidade que ela quer consumir, pois
cabe à criança ser capaz de discriminar sua fome identificando quando esta
saciada. É importante deixar que a criança de cinco anos se sirva, pois ela
passa a discriminar a quantidade de alimento que necessita. As diferenças
entre os pais no controle da alimentação têm um importante papel no
desenvolvimento das preferências, da seleção de alimentos alem da regulação
da quantidade ingerida. As crianças pequenas são capazes de autoregular sua
ingestão, entretanto isto pode ser prejudicado pelo controle inadequado dos
pais, os pais controladores tendem a impedir que a criança autoregule o
consumo de alimento, dificultando assim o estabelecimento de autocontrole do
comportamento alimentar e essa incapacidade pode ter complicações serias no
futuro servindo de gatilho pra a obesidade.
Bandura (1969) citado por Heller et al. (2004) dizia que a criança imita o
comportamento das pessoas que tem prestigio para ela, isso é chamado de
aprendizagem por modelação ou imitação de modelo. Pais, familiares e
educadores são os principais modelos na infância, e daí sua profunda
responsabilidade no desenvolvimento infantil, famílias que tem uma dieta
equilibrada ensinam este padrão de comportamento alimentar para suas
crianças e fazem com que a relação com o alimento seja adequada. Já nas
famílias em que ocorre superalimentação tende-se a fomentar e a incentivar a
alimentação desequilibrada (ingestão excessiva de doce e pouca de verdura),
nestes casos, a relação com a comida apresenta-se de maneira bastante
desadaptativa, a comida serve a diferentes fins e é associada a diferentes
situações como solidão, quando os pais viajam ou saem e quando voltam
trazem doces para a criança; dor, quando a criança se machuca e grã água
com açúcar e doces para se acalmar ou para se alegrar; socialização, faz muita
comida para as visitas e não se aceita que elas não consumam, ensina-se que
é falta de educação deixar comida no prato e não comer o que for oferecido,
mesmo que não se tenha vontade ou que não goste.
Aspectos emocionais da Obesidade Infantil

Segundo Heller et al. (2004) a dificuldade de expressão de sentimentos


é bastante freqüente entre crianças com sobrepeso, em geral elas são dóceis,
não reclamam, aceitam ordens, dividem os brinquedos podendo chegar a
extremos como não sentir ciúme do irmão, pais e educadores geralmente não
identificam problemas na criança que e boazinha, e para que seja percebida,
muitas vezes ela precisa passar par o extremo oposto. Quando não se
consegue pedir ajuda para lidar com a solidão, com a raiva ou mesmo
simplesmente para passar o tempo, o comportamento de comer acaba sendo
uma alternativa viável.
Para Heller et al. (2004) a obesidade pode ser compreendida a partir de
um esquema:
• A criança recebe criticas sobre seu corpo e peso.
• A criança não sabe lidar com esta situação de critica
• Esta criança já possui uma historia de vida em que ocorreu
punição, humilhação, em fuça de seu peso e, portanto, a
repetição de tal situação gera um estado de alta ansiedade.
• Para resolver esta questão a criança opta por uma entre duas
alternativas:
Ø Isola-se deliberadamente do grupo recolhendo-se na televisão ou
no computador evitando assim mais criticas.
Ø A criança agride seus agressores, em geral os pares, e acaba
sendo excluída do grupo e sendo isolada. Em ambos os casos o
resultado é o isolamento social
• O isolamento diminui as fontes de obtenção de prazer e a comida
passa a ter papel ainda mais gratificante, o isolamento incentiva o
sedentarismo, ou seja, televisão, videogame, computador e
facilita o ganho de peso.
• A criança engorda ainda mais, ocorre rebaixamento de auto-
estima, sensação de fracasso, de não-controle, o que leva à
tristeza e que pode, em casos extremos, levar até à depressão.
• A criança triste ou deprimida não tem condições de seguir um
tratamento para perda de peso e se mantém com sobrepeso e
vulnerável às criticas sociais.
• O circulo vicioso se auto-perpetua e a obesidade se mantem
dentro deste paradigma, a única forma de enfrentá-la consiste em
se quebrar esta cadeia comportamental, preferencialmente em
seu inicio, ou seja, ensinando a criança a lidar com situações de
critica, a falta de assertividade esta associada aos transtornos
alimentares e à obesidade (Heller, 2000, 202, 2003, Smolka &
Thompson, 2001) e parece fundamental que seja implementada
em tais crianças a fim de habilitá-las a lidar com as criticas que
sempre existirão.

Segundo Luiz e Gorayeb (2006), a obesidade infantil é uma doença


crônica, definida por um acúmulo excessivo de massa de gordura, é um
dos problemas de maior prevalência na área pediátrica e um dos
transtornos nutricionais mais freqüentes, sendo por isso considerada um
grave problema de saúde pública. Fatores genéticos, ambientais,
culturais, econômicos e comportamentais contribuem para a etiologia da
obesidade e podem atual em diferentes combinações para determinar a
ocorrência do problema.
Segundo estudos de Luiz e Gorayeb (2006), cerca de 20% das
crianças obesas podem se tornar adultos obesos. Outros estudos
ressaltam que, quanto menor a idade em que a obesidade se manifesta
e quanto maior sua intensidade, maior a chance de que a criança seja
um adolesce3nte obeso e um adulto obeso. Em virtude do aumento da
prevalência da obesidade na vida adulta e pelo fato desta ser um
importante fator de risco para as doenças crônico – degenerativas, há
grande interesse em prevenir a obesidade infantil.
Para Luiz e Gorayeb (2006), os sintomas depressivos podem ser
expressos por queixas somáticas, como dores, tonturas, formigamentos,
tremores, arrepios, por cansaço, dificuldade de concentração e
isolamento social e excesso de preocupação e queixas especificamente
psicológicas, como tristeza, angustia e irritabilidade e de acordo com os
critérios do Manual Diagnostico e Estatístico de Transtornos Mentais –
DSM IV, o diagnostico de um episodio depressivo maior em crianças e
adolescentes são realizados com base nos mesmos critérios utilizados
para o adulto, ainda que existam dados sugerindo que a predominância
de sintomas característicos module com a idade, queixas somáticas,
irritabilidade, retraimento social e retardo psicomotor são mais comuns
em crianças.
A depressão pode ser também sintoma de doenças orgânicas,
como distúrbios endocrinológicos e neurológicos. Entre os grupos
vulneráveis para o desenvolvimento da depressão infantil encontram –
se as crianças obesas, que muitas vezes apresentam dificuldades
comportamentais, que interferem no relacionamento social, familiar e
acadêmico.
Erickson, Robinson, Haydel e Killen citados por Luz e Gorayeb
(2006), realizaram um estudo com estudantes pré – adolescentes
obesos para avaliar a relação entre sintomas depressivos e obesidade,
os resultados mostraram presença de sintomas depressivos apenas
entre as meninas, dados aparentemente relacionados com a maior
preocupação com o excesso de peso para o sexo feminino.
Segundo Luiz e Gorayeb (2006), vários estudos sobre a
obesidade em adultos apontam uma relação entre obesidade e
ansiedade, entretanto é fundamental para auxiliar em programas de
orientação e em implementação de estratégias de intervenção, um
numero maior de estudos que investiguem a ansiedade e problemas
comportamentais ente crianças obesas.

“Parece que os indivíduos obesos sofrem maior


discriminação e estigmatização social, prejudicando seu
funcionamento físico e psíquico, podendo causar impacto
negativo em sua qualidade de vida.” Luiz e Gorayeb
(2006).

Esta citação se trata de alguns dados de pesquisas que sugerem


que problemas relacionados às áreas sociais e comportamentais da
população geral são mais comuns em crianças obesas.
No decorrer do processo psicoterápico, o terapeuta acrescentou na
caixa lúdica o jogo do “prato feito” que mostrou ser de grande importância para
o processo. O paciente pode levar para a sua residência, continuando o
aprendizado sobre uma alimentação saudável e balanceada.
Com um levantamento de dados significativo, o terapeuta agendou o
atendimento e convocou a mãe e realizou a devolutiva, onde esclareceram
dados que seriam muito importantes para o processo de atendimento.
Na entrevista que foi realizada com a mãe, o terapeuta pontuou sobre a
problemática do paciente, relatando sobre a nítida carência afetiva do paciente,
sobre a alimentação inadequada, a postura inadequada dos pais ao reforçarem
os comportamentos inadequados do filho (o filho faz “birra”, e quando faz isso
consegue o objetivo desejado). Nessa entrevista a mãe demonstrou uma
grande preocupação com o seu filho, relatou que gostaria que o terapeuta
realizasse uma sessão com o pai, porque a maioria dos reforços inadequados
que o paciente recebe é de origem paterna. Em entrevista com o pai, o
terapeuta relatou quanto à questão da inabilidade social do paciente, que não
tem convívio social, fica isolado em sua casa, não tem amigos de escola, ate
mesmo pelo fato que o seu sobrepeso que o impede de praticar atividades que
o faça conseguir adquirir amigos. Foi orientado ao pai que praticasse atividades
com o seu filho (paciente L. M.), seria importante a presença deste para
aquisição de repertório de atividades físicas, a consulta com o endocrinologista
e com o nutricionista seria de grande valia para a orientação da alimentação
familiar, principalmente a do paciente.
Os pais do paciente L. M. foram orientados pelo terapeuta que caso não
passe por uma avaliação do endocrinologista e de um nutricionista ate o mês
de setembro o seu atendimento seria encerrado. Os pais concordaram em
conduzir o filho para uma avaliação medica. Esta foi uma condição imposta
para que pudesse dar prosseguimento ao processo psicoterápico.
O pai foi solicitado na terapia, onde foi realizado a devolutiva, como já
havia sido realizado com a mãe, onde foi relatado ao pai a importância do
controle da alimentação do paciente L. M., mas que essa mudança de hábitos
alimentares não poderiam ser apenas do paciente, mas também de toda a
família, para que a alimentação não se torne uma fonte de punição para o
paciente. Esses dados que foram trazidos para a família do paciente, vieram de
origem de uma profissional em nutrição (coordenação do curso). Posterior a
entrevista devolutiva com a mãe e com o pai do paciente L. M. foi dado
prosseguimento aos atendimentos com o paciente enquanto o terapeuta
aguarda os resultados dos exames do paciente que serão realizados com o
medico endocrinologista.
Foi observada a mudança os hábitos alimentares da família do paciente
L. M., houve também modificações nos comportamentos, como exemplo o
paciente começou a desenvolver atividades com outras crianças.

Conclusão

O paciente durante o processo psicoterápico demonstra ter necessidade


da atenção dos pais, problemas de carência afetiva, necessita realizar
atividades recreativas com os pais, como fazer caminhadas, andar de bicicleta,
praticar natação.
Fica concluído que o paciente L. M. continuará a realizar a psicoterapia
durante o ano de 2007. O paciente deverá dar prosseguimento no tratamento
com o especialista em endocrinologia e em nutrição, continuando assim com a
sua dieta alimentar, ingerindo alimentos menos calóricos e mais saudáveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Heller, D. C. L. [et al.], Obesidade Infantil – Manual de Prevenção e


Tratamento – Org. Denise Cerqueira Leite Heller. 1ª ed. Santo André, S.P.:
ESETec Editores Associados, 2004.

Miayazaki, M. C. O. S., Psicologia da Saúde : pesquisa e pratica; org


in Domingos N. A. M., Valério N. I. -- São José do Rio Preto, S.P. :
THS/Arantes Editora, 2006. Capitulo 06.

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