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A quantidade, a forma e a posição dos nós, assim com a cor e a extensão dos
cordões, determinavam a informação registrada no quipo. Por exemplo, um quipo
que registrasse os números 342, 1613, 105, 2361 e 5223 teria a forma da figura
abaixo.
Vamos falar este mês de um povo extraordinário. Eles não dispunham de uma linguagem
escrita e nem mesmo de um sistema numérico com uma notação gráfica. Ainda assim,
administraram com invejável competência um vasto país que reunia o que hoje corresponde à
superfície somada de França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Suíça e Itália os incas. Com a
capital instalada na cidade peruana de Cuzco, sua civilização chegou a englobar o Equador
(desde a fronteira com a Colômbia) e quase todo o Peru, avançando até a região central do
Chile.
A ausência de números ou letras, no entanto, nem de longe significa que não soubessem
contar. Veja só: imagine uma corda com um pouco mais de 1 metro de comprimento. Pendure
nela um grande número de cordéis de 20 e poucos centímetros cada um e com um pequeno
espaçamento entre eles, formando algo parecido com uma longa franja. Eis aí um quipo nó, no
idioma quéchua , o nome dado ao primitivo, porém eficiente, computador inca. Um nó feito no
cordel da ponta representava uma unidade. O seguinte era o dez, outro o 100, e assim
sucessivamente. Já um cordel sem nada correspondia ao nosso zero. Trocando em miúdos, os
quipos eram cordéis com marcas que obedeciam a um bem elaborado sistema de numeração
decimal.
Além de indicar a quantidade, os cordéis tinham às vezes cores e espessuras diferentes. Eles
serviam para registrar, por assim dizer, informações qualitativas. As variações do tamanho, das
cores ou mesmo da forma dos nós serviam para armazenar detalhes vitais como o tamanho da
safra, quantidades e tipos de armamentos disponíveis e até o resultado do recenseamento tal
qual um banco de dados. Essa memória virtual dos quipos era fundamental para assegurar a
coesão do império.
O trabalho de contar era altamente especializado. Todos os registros eram feitos por uma
espécie de escribas de quipos, profissionais que passavam de pai para filho a sua arte. Há
indícios de que em todos os níveis da administração havia técnicos para fazer quipos
específicos, como os usados para as anotações históricas elaboradas pelos homens sábios, os
armantus, e que serviam como base para as narrativas transmitidas oralmente.