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Resumão de Literatura Brasileira

• I - LITERATURA INFORMATIVA

O que é?

· É um tipo de literatura composta por documentos a respeito das condições gerais da terra conquistada, as
prováveis riquezas, a paisagem física e humana, etc. .

· Em princípio, a visão européia é idílica: a América surge como o paraíso perdido e os nativos são
apresentados sob tintas favoráveis. Porém, na segunda metade do século XVI, à medida em que os índios
iniciam a guerra contra os invasores, a visão rósea transforma-se e os habitantes da terra são pintados como
seres bárbaros e primitivos.

Principais manifestações:

• A Carta de Pero Vaz de Caminha:

· Descrição minuciosa da nova realidade; -- A simplicidade no narrar os acontecimentos;

· A disposição humanista de tentar entender os nativos; -- O ideal salvacionista.


• Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden - Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry:

· Relato de viajantes que viveram entre os índios vários meses.

· Registro da antropofagia e descrição dos costumes indígenas

• II - LITERATURA JESUÍTICA

José de Anchieta

Obras refinadas: poemas e monólogos em latim que parecem destinados a satisfazer suas necessidades
espirituais mais profundas.

Obras didáticas: hinos, canções e especialmente autos, que visavam infundir o pensamento cristão nos índios.

Os autos: Obras teatrais onde o autor tenta conciliar os valores católicos com os mitos indígenas.

Há um confronto entre o bem e o mal. O bem é defendido por santos e anjos, os quais expressam o
cristianismo e subjugam o mal, constituído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os demônios da
tradição católica.

• III - BARROCO

Surgimento: Europa, meados do século XVI - Brasil, início do século XVII. (Lembrar que, no Brasil, a literatura
barroca acaba no século XVII, junto com o declínio da sociedade açucareira baiana. Contudo, na arquitetura e
nas artes plásticas, o estilo barroco atingirá o seu apogeu apenas nos séculos XVIII e início do XIX, em Minas
Gerais.)

Variações barrocas: cultismo (exagero e rebuscamento formal) e conceptismo (exagero no plano das idéias)
são manifestações de excesso da literatura barroca.

Características:

1) Arte da Contra-Reforma, expressando a crise do Renascimento, com a destruição da harmonia social


aristocrática-burguesa através das guerras religiosas. Os jesuítas que surgem, neste período, combatem os
protestantes e espalham pelo mundo católico a sua implacável ideologia teocêntrica.

2) Conflito entre corpo e alma. Dividido entre os prazeres renascentistas e o fervor religioso, o homem barroco
oscila entre:

· a celebração do corpo, da vida terrena, do gozo mundano e do pecado;


· os cuidados com a alma visando à graça divina e à salvação para a vida eterna.

3) Temática do desengano (o desconcerto do mundo): a vida é breve, a vida é sonho, viver é ir morrendo aos
poucos. Aguda consciência da efemeridade da existência e da passagem do tempo.

4) Linguagem ornamental, complexa, entendida como jogo verbal, cheia de antíteses, inversões, metáforas,
alegorias, paradoxos, ausência de clareza. É um estilo complicado que traduz os conflitos interiores do homem
barroco.

Autores barrocos:

1) Gregório de Matos (Boca do Inferno)

Poesia religiosa - Apresenta uma imagem quase que exclusiva: o homem ajoelhado diante de Deus,
implorando perdão para os pecados cometidos.

Poesia amorosa - Tem uma dimensão elevada ("d"), muitas vezes associada à noção de brevidade da
existência, e uma dimensão obscena, onde a explosão dos sentidos (em versos crus e repletos de palavrões)
representa um protesto contra os valores morais da época.

Poesia satírica - Ironia corrosiva e caricatural contra todos os setores da vida colonial baiana: senhores de
engenho, clero, juízes, advogados, militares, fidalgos, escravos, pobres livres, índios, mulatos, mamelucos, etc.
Com seu olhar ressentido de senhor decadente, Gregório de Matos vê na realidade apenas corrupção,
negociata, oportunismo, mentira, desonra, imoralidade, completa inversão de valores. A poesia satírica,
portanto, para ele é vingança contra o mundo.

2) Padre Antônio Vieira

Os Sermões

· Utilização contínuas de passagens da Bíblia e de todos os recursos da oratória jesuítica para convencer os fiéis
de sua mensagem, mesmo quando trata de temas cotidianos.

· Ataca os vícios (corrupção, violência, arrogância, etc.) e defende as virtudes cristãs (religiosidade, caridade,
modéstia, etc.)

· Combate os hereges, os indiferentes à religião e os católicos desleixados em relação à Igreja.

· Defende abertamente os índios. Mantém-se ambíguo frente aos escravos negros: ora tenta justificar a
escravidão, ora condena veementemente seus malefícios éticos e sociais.

· Exalta os valores que nortearam a construção do grande império português. E julga (de forma messiânica)
que este império deveria ser reconstruído no Brasil.

· Propõe o retorno dos cristãos novos (judeus) a territórios lusos como forma de Portugal escapar da
decadência onde naufragara desde meados do século XVI.

· Apresenta uma linguagem de tendência conceptista, de notável elaboração, grande riqueza de idéias e
imagens espetaculares. Fernando Pessoa o chamaria de "Imperador da Língua Portuguesa".

IV - ARCADISMO (ou NEOCLASSICISMO)

Características

1. Arte ligada ao Iluminismo. Oposição ao absolutismo despótico e ao poder (barroco) da Igreja.

2. Afirmação orgulhosa da racionalidade. Razão = Verdade = Simplicidade e clareza.

3. Culto da simplicidade. Como se atinge a mesma? Através da imitação (não no sentido de cópia, mas no de
seguir modelos já estabelecidos).

4. Imitação dos clássicos. Em especial, Virgílio e Teócrito, clássicos pastoris.

5. Imitação da natureza campestre, isto é, da ordem e do equilíbrio que essa natureza apresenta, o que dá a
mesma um caráter de paraíso perdido. Dois elementos decorrem da aproximação do árcade da natureza
campestre:
a) Bucolismo: adequação do homem à harmonia e serenidade da
natureza.
b) Pastoralismo: celebração da vida pastoril, vista como um eterno
idílio entre pastores e pastoras.

6. Ausência de subjetividade. O autor não expressa o seu próprio eu, adotando uma forma pastoril (Cláudio
Manuel da Costa é Glauceste Satúrnio, Tomás Antônio Gonzaga é Dirceu, Basílio da Gama é Termindo
Sipílio, etc.)

7. Amor galante. O amor é entendido como um conjunto de fórmulas convencionais.

Arcadismo no Brasil

· Decorrência da atividade mineradora e da urbanização que dela resultou.

· Criação de Academias e Arcádias onde os letrados procuravam fugir da indiferença do meio.

· Instituição em caráter regular de um sistema literário: autores - obras escritas dentro de uma tendência
comum - público leitor permanente.

· Relação com a Inconfidência Mineira. Tomás Antônio Gonzaga foi degredado e Cláudio Manuel da Costa
se suicidou na prisão.

• Poesia lírica:

1. Cláudio Manuel da Costa

Obras poéticas

· Poesia de transição entre o Barroco e o Arcadismo.

· Do Barroco, o autor tem as noções de brevidade dos sentimentos e da vida, o tema recorrente do sofrimento
humano e o gosto pela antítese e pelo soneto camoniano. Do Arcadismo, CMC apresenta o pastoralismo e a
renúncia à visão religiosa de mundo.

· Em suas Obras, contudo, a paisagem não é campestre. Quebrando as convenções do período, ele apresenta
cenários dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando as suas raízes mineiras.

· Além das Obras poéticas, escreveu uma fracassado poemeto épico (Vila Rica).

2. Tomás Antônio Gonzaga

Marília de Dirceu (liras)

· Poesia tipicamente árcade, presa aos esquemas bucólicos e pastoris.

· A obra foi escrita em três partes que correspondem a momentos históricos diferentes na vida do poeta. A I
parte em liberdade. A II na prisão. E a III provavelmente logo após o degredo para a África.

· A expressão sentimental da obra dá-se, na maior parte das liras, de acordo com as fórmulas convencionais da
galanteria. No entanto, em alguns momentos das partes II e III, o autor escapa dos padrões árcades e
desabafa a sua dor, o sentimento de medo do futuro e da morte e, sobretudo, a saudade de Marília. Nestes
momentos, as liras adquirem um caráter pré-romântico.

· Em seu todo, Marília é um canto das virtudes ilustradas ("áurea mediocritas", racionalidade, decoro e
simplicidade).

· Sob pseudônimo de Critilo, escreveu as célebres Cartas Chilenas onde satiriza os desmandos do governador
de Minas Gerais, apelidado no texto de Fanfarrão Minésio.

3. Silva Alvarenga

Glaura

· Celebração da pastora Glaura, ora num tom galante, ora melancólico.


• Poesia épica:

1. Basílio da Gama

O Uraguai

Tema: A conquista militar das Missões jesuíticas no RS por tropas luso-espanholas, em 1756, a mando do
Marquês de Pombal.

Outros aspectos:

· Celebração épica dos conquistadores brancos, representados pelo general Gomes Freire de Andrade.

· Também os índios (Sepé e Cacambo) são apresentados na condição de heróis. É uma espécie de glorificação
do homem natural (como se os índios fossem pastores árcades) que enfrenta os representantes da civilização
européia.

· Os vilões da história são os jesuítas, duramente criticados, sobremodo o padre Balda.

· A cena mais famosa do poema é lírica e não épica. Trata-se da morte de Lindóia, que, após ter seu marido,
Cacambo, envenenado por ordens do padre Balda e na iminência de casar-se com o índio Baldeta, filho
natural do padre corrupto, Lindóia prefere morrer, deixando-se picar por uma serpente venenosa.

Não esqueça: O Uraguai é um poema em cinco cantos e em versos brancos (sem rima).

2. Santa Rita Durão

Caramuru

· Tema: A glorificação do colonizador branco e agente da catequese católica, Diogo Álvares Corrêia, que
maravilhou os índios com um tiro de arcabuz na Bahia do século XVI, casando-se com a filha do cacique,
Paraguçu, e passando a viver entre eles. Outros aspectos:

· Louvação do índio que se converte à religião do dominador luso e o auxilia na conquista da terra.

· A cena mais famosa da epopéia é a morte da índia Moema, após a partida para a França de Diogo Álvares e
sua noiva, Paraguaçu. Moema vai nadando atrás do navio até ser tragada pelas ondas.

Não esqueça: Há nesta epopéia uma forte influência de Os Lusíadas, de Camões.

• V - ROMANTISMO

Contexto histórico:

· Ascensão da burguesia > Implantação definitiva do capitalismo > Liberalismo econômico, jurídico, filosófico

· Surgimento de um novo público leitor > A arte passa a valer como mercadoria

Surgimento: Fins do século XVIII. Já o apogeu romântico ocorre na I metade do século XIX.

Características:

1) Individualismo e subjetivismo: É a dupla face do EU romântico. A do EU arrogante, napoleônico, audacioso.


E a do EU que se fecha sobre si mesmo, que escava a sua própria interioridade.

2) Sentimentalismo: Celebração do "grande amor", da paixão desmedida, mas também da tristeza, da


angústia, do "mal do século" (o tédio).

3) Culto à natureza: Raro o poema romântico que não exalte ou, pelo menos, faça referência ao mundo
natural. Também as metáforas preferidas ligam-se sempre a fenômenos da natureza.

4) Sonho, fantasia, tendência à idealização.


5) Escapismo: tendências suicidas, culto da morte, criação de mundos imaginários, entrega ao álcool e à
orgias.

6) Liberdade artística: fim do mecenatismo, ao vender sua obra no mercado o artista se libera das exigências
de seu protetor. Desobediência às regras clássicas. Surge o drama teatral e o romance se impõe como o gênero
dos novos tempos.

Romantismo brasileiro

· Arte identificada com a Independência política

· Nacionalismo ufanista:

- Indianismo - Regionalismo - Culto à natureza brasileira


- Tentativa de criação de uma língua nacional.

Vigência:

Início: 1836 - Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães


Fim: Década de 1870, com a morte dos últimos românticos importantes: Castro Alves e José de Alencar

A poesia romântica

I Geração (Nacionalista)

1) Gonçalves de Magalhães

· Suspiros poéticos e saudades > Obra (medíocre) que introduz o espírito romântico no país

· Confederação dos tamoios > Fracassada experiência indianista

2) Gonçalves Dias

Primeiros cantos - Segundos cantos - Últimos cantos - Os timbiras (epopéia indianista inacabada) - Sextilhas de
Frei Antão (poemas escritos em português quinhentista, arcaico)

Temas básicos:

Valorização do índio: herói idealizado que simboliza o passado heróico da nação: I-Juca Pirama.

Saudades da pátria: Canção do exílio (O paraíso está "lá" e não "cá", a pátria reside na natureza)

Canto da natureza: a beleza do trópico e o encontro de Deus nos fenômenos naturais (panteísmo)

Amor impossível e sofrido: Principais poemas: Ainda uma vez - adeus!; Se se morre de amor.

Não esqueça: G. Dias é o poeta romântico mais equilibrado e o que tem o melhor sentido de ritmo e
musicalidade do verso.

• A poesia romântica

II Geração (Individualista, ultra-romântica, byroniana ou do "mal do século")

1) Álvares de Azevedo

Lira dos vinte anos (poemas); O conde Lopo (poema);


Macário (drama com traços cômicos onde um jovem viaja a São Paulo guiado por Satã);
Noite na taverna (contos byronianos, góticos, sombrios e devassos nos quais sete rapazes expõem histórias
terríveis de suas vidas)

Temas básicos:

Presságio da morte: Se eu morresse amanhã.

"Mal do século": tédio, dúvida, angústia sobre o sentido da vida, confronto entre o sonho e a realidade. Idéias
íntimas.

Humor prosaico: percepção irônica do cotidiano

Amor orgíaco (dimensão da fantasia) e medo do amor (dimensão real traduzida pela imagem recorrente da
mulher adormecida).

Não esqueça: Em sua obra, como disse um crítico, as mulheres são "deusas" ou prostitutas, isto é,
inatingíveis ou desprezíveis.

2) Casimiro de Abreu

Primaveras

Temas básicos:

Emoções singelas da adolescência (inquietudes amorosas) em linguagem totalmente simples.

Saudosismo:

a) da infância: Meus oito anos

b) da pátria: Canções do exílio

3) Fagundes Varela

Anchietaou o Evangelho nas selvas

Temas básicos:

Todos os da poesia romântica: o índio, o canto da pátria, a natureza, o tédio, o abolicionismo, etc.

A morte do filho: Cântico do calvário

Não esqueça: Apesar de ser um poeta pouco original, F. V. alcança um bom nível na sua poesia
rural/sertaneja.

III Geração (Liberal, social ou condoreira)

1) Castro Alves

Espumas flutuantes - Os escravos - Cachoeira de Paulo Afonso

Temas básicos:

Poesia social: o abolicionismo, a defesa de causas liberais como a educação, o canto do futuro e do progresso.

Poesia lírica: a natureza e o amor, este como expressão dos desejos sexuais.

Não esqueça: A poesia condoreira apresenta uma linguagem forte, retórica, discursiva, com imagens
extraídas dos mais aspectos mais grandiosos da natureza. Já a poesia lírica encontra sua expressão numa
linguagem simples, quase coloquial e de forte plasticidade (qualidade visual).

2) Sousândrade - Um caso à parte

Obras poéticas

O Guesa errante

Desprezado em sua época, Joaquim de Sousa Andrade, ou Sousândrade, acabou reabilitado pelos
concretistas como um caso de "antecipação genial" da livre expressão modernista.

Poeta experimental cria uma linguagem cheia de elipses e fusões vocabulares, fugindo das banalidades
sentimentais dos românticos.

Obra principal: Guesa errante, longo poema narrativo em treze cantos. Está baseado em uma lenda indígena
colombiana: Guesa é uma criança roubada dos pais pelo deus do Sol. Educado por este deus até os 10 anos,
acaba sendo sacrificado aos 15, após longa peregrinação pela "estrada do Suna", que na verdade é o mundo.

Não esqueça: a parte mais interessante do Guesa errante é a em que ele vê a consolidação do capitalismo
como uma doença viciosa (O inferno de Wall Street).

II - O romance romântico

1. Joaquim Manuel de Macedo O moço louro - A moreninha (relato sentimental da ligação entre dois jovens,
Augusto e Carolina, presos a uma promessa amorosa infantil e que na adolescência se apaixonam, um pelo
outro, sem saber que são eles próprios os noivos prometidos)

Características da obra:

· Adaptação do folhetim romântico europeu:

a) a cenários brasileiros

b) aos valores morais e afetivos da família patriarcal brasileira

· Possibilita aos leitores brasileiros uma identificação com a realidade local

Não esqueça: A importância de Macedo é que ele desperta no público o gosto pelo romance ambientado no
Brasil

2. JOSÉ DE ALENCAR

Romances urbanos:

Senhora - romance sobre o casamento por interesse. Aurélia é abandonada pelo noivo, Fernando Seixas,
que a troca pelo dote de 30 contos de Adelaide Amaral. Contudo, Aurélia recebe vultuosa herança e compra
o antigo noivo por 100 contos, casando-se com ele. Aurélia vinga-se então de Fernando Seixas, tratando-o
como um ser desprezível, mas o rapaz especula na bola e ganha o dinheiro para se resgatar. O desfecho é
absolutamente convencional: os dois se perdoam e são felizes para sempre.

Lucíola - romance sobre a paixão de um jovem bacharel, Paulo, por uma cortesã (prostituta), Lúcia. As
dificuldades deste tipo de relacionamento, a pressão social e as angústias naturais do amante constituem a
base da narrativa. No final, os dois se retiram do centro do Rio de Janeiro em busca de um cenário favorável
para o triunfo do amor, porém, providencialmente, Lúcia morre.

Romances regionalistas (ou sertanistas):


O gaúcho - O sertanejo - Til - O tronco do ipê (relatos cujo objetivo é exaltar a unidade nacional na diversidade
regional).

Romances históricos:

As minas de prata - A guerra dos mascates (romances de muita ação e pouca historicidade objetiva)

Romances indianistas:

O guarani (que Alencar considerava um relato histórico) - Ubirajara - Iracema ("Lenda do Ceará", espécie de
poema em prosa, narra a paixão proibida - mas que acaba se realizando - entre Iracema, espécie de
sacerdotisa da tribo tabajara e o português Martim Soares, aliado dos pitiguaras. Iracema, a guardadora do
segredo de Jurema e que deveria permanecer virgem, entrega-se a Martim e desta relação nasce Moacir, "o
filho do sofrimento". Antes do nascimento da criança, Martim Soares parte. Ao regressar, encontra a índia às
portas da morte. Mesmo assim, Iracema ainda lhe entrega a criança e só depois morre. Martim leva então
consigo o filho Moacir, designado pelo escritor como o "primeiro cearense".

Características gerais da obra:

· Projeto nacionalista: revelar o Brasil em seu espaço físico-geográfico (romances urbanos e regionalistas), em
seu passado histórico (romances históricos) e em sua dimensão lendária/mítica (romances indianistas).

· Estrutura narrativa romântica, com forte influência de Walter Scott e Fenimore Cooper.

· Idealização permanente da realidade nacional, valorização da natureza e estilo metafórico, tendente ao


poético.

· Tentativa de criar uma língua brasileira (Iracema)

· Aspectos pré-realistas nos romances Lucíola e Senhora (análise psicológica mais complexa, análise do peso da
sociedade sobre a vida individual e temas relativamente proibidos: o casamento por interesse e as
complicações resultantes do amor entre dois grupos sociais distintos).

· Em Senhora e Lucíola: vitória final da ótica moral conservadora, traduzindo os valores patriarcais do autor.

Não esqueça: Com José de Alencar e seu projeto estético-ideológico (a defesa de temas nacionais e a luta
por uma linguagem brasileira), a nossa literatura começa o seu processo de emancipação definitiva da
literatura portuguesa.

3. Visconde de Taunay

Inocência - (romance sertanista -regionalista- sobre uma paixão proibida entre a jovem sertaneja, Inocência,
e um falso médico vindo da cidade, Cirino. O pai da moça, entretanto, a prometera a um tipo rústico chamado
Manecão. Este, ao descobrir a paixão de Inocência, assassina Cirino. Porém, a jovem deixa-se morrer de
tristeza, encerrando tragicamente a história.)

Não esqueça: O romance de Taunay já foi designado como uma espécie de Romeu e Julieta caboclo, além de
apresentar uma visão crítica do patriarcalismo brasileiro.

4. Um caso à parte: Manuel Antônio de Almeida

Memórias de um sargento de milícias

· Narrativa de costumes: Os hábitos das classes populares no "tempo do rei" (1808-1821)

· Destruição do Romantismo: Ironia aos cacoetes românticos - personagens semimarginais (Leonardo é "filho
de uma pisadela e de um beliscão") - ausência de idealização

· Um romance precursor do realismo: Objetividade na visão sobre o mundo social.

· Predomínio do humor: Personagens caricaturizados - acontecimentos que desmentem a hipocrisia dos


indivíduos - profusão de situações cômicas.
· Personagens principais: Leonardo - suas duas paixões, Luisinha (a ideal) e Vidinha (a sensual)
Leonardo Pataca (o pai do anti-herói) - Major Vidigal (o representante da ordem e o perseguidor de
Leonardo) - Compadre (o protetor de Leonardo), etc.

Não esqueça: Por seu teor cômico, pela ausência de idealização social e pelas características do anti-herói,
Leonardo (irresponsabilidade, sensualidade, gosto pela vagabundagem e estratégias espertas de
sobrevivência), o romance tem sido classificado como a primeira narrativa da malandragem em nossa
literatura.

• VI - REAL-NATURALISMO

Surgimento: II metade do século XIX

Características do realismo:

1) Objetivismo e impessoalidade

2) Busca da verossimilhança: as obras devem dar a impressão de verdade total, isto é, de que constituem um
reflexo perfeito da realidade

3) Busca da perfeição formal

4) Pessimismo: os valores burgueses e as crenças religiosas e ideológicas sofrem um processo de completo


descrédito

5) Racionalismo - cuja tradução é tanto a análise psicológica como a análise social

Características do naturalismo

1)Arte vinculada às novas teorias científicas e ideológicas européias (Evolucionismo, Positivismo,


Determinismo, Socialismo, Medicina Experimental). Daí o outro nome do movimento, criado por Zola: romance
experimental.

2) Todas as características do Realismo - menos a análise psicológica. Esta é substituída por variações
deterministas que transformam os personagens em fantoches de destinos pré-estabelecidos. Segundo Taine, o
homem é produto do meio, da raça e do momento histórico em que vive. Pode-se dizer assim que o
Naturalismo é o Realismo mais o cientificismo da II metade do século XIX.

3) Cientificismo sociológico e biológico. O sociológico é dado pelo determinismo do meio e do momento. O


biológico pelo determinismo de raça e dos temperamentos e caracteres herdados.

4) Personagens patológicos. Para provar suas teses, os escritores naturalistas são obrigados muitas vezes a
apresentar protagonistas doentios, criminosos, bêbados, histéricos, maníacos.

O real-naturalismo no Brasil

· As primeiras idéias renovadoras surgem na década de 1870, no Recife, através da ação de Tobias Barreto e
Sílvio Romero.

· Em 1881 aparecem O mulato, de Aluísio Azevedo e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis. Ainda que não sigam de todo os modelos europeus, as obras são respectivamente consideradas as
inauguratórias da estética naturalista e realista no país.

• O romance realista

1) Machado de Assis

I fase: (Tendências indefinidas, com maior acento romântico)

Ressurreição - A mão e a luva - Helena - Iaiá Garcia


· Tentativa de contrastar caracteres, conforme declaração do autor no prefácio de Ressurreição.

· Certos temas recorrentes na II fase, como a ambição e o egoísmo, já se insinuam nestes romances

· Linguagem carregada de lugares-comuns.

II fase: (Realista, mas de um realismo absolutamente singular, fora dos padrões europeus)

Memórias póstumas de Brás Cubas

Um defunto autor, sem as ilusões e as fraudes interiores dos vivos, narra do túmulo a sua vida pregressa. Num
tom irônico, ele vai descobrindo a ausência de grandeza em si e em todas as pessoas. A consciência de que as
ações humanas são desencadeadas apenas pelo interesse, pela possibilidade de lucro, pelo egoísmo e pelo
instinto sexual, justifica o fim do romance, em que Brás Cubas mede sua vida e conclui que ganhara: "Não
tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria".

Curioso é o personagem Quincas Borba, amigo do personagem-narrador, filósofo de duvidosa sanidade


mental, criador da teoria do Humanitas que, sendo uma sátira contra todas as filosofias, é também a tradução
da corrosiva visão de mundo do próprio Machado de Assis.

Quincas Borba

O modesto professor Rubião recebe em Barbacena grande herança do falecido filósofo Quincas Borba, com
a condição de cuidar do seu cachorro, também chamado Quincas Borba.

Rubião abandona a província, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde é enganado e explorado por um bando
de parasitas, especificamente por um ambicioso casal: Sofia e Palha. Sofia percebe a paixão do professor por
ela e se diverte com sua ingenuidade. Palha monta um negócio de exportação com o professor, o qual entra
com todos os recursos financeiros para o empreendimento.

Rubião, consciência estreita em demasia para a complexidade psicológica e social, nada entende. E acaba
enlouquecendo. Dissipa, então, a sua fortuna inteiramente. Palha desmancha a sociedade, ficando com o
negócio e Rubião é despachado de volta para Barbacena, em companhia do cachorro Quincas Borba. Lá
morre na maior miséria.

Dom Casmurro

Bento Santiago tenta recompor o passado através da memória, e recorda o amor adolescente por Capitu (a
de "olhos oblíquos e dissimulados", "olhos de cigana", "olhos de ressaca"). Boa parte da memória de Bentinho
concentra-se na adolescência dos personagens, na poesia da primeira paixão, no compromisso de casamento e
em seu ingresso forçado no seminário, promessa carola de sua mãe. Depois, as ações ocorrem velozes: a
amizade com Escobar, o abandono do seminário, o tão desejado casamento com Capitu, o enlace de Escobar
com Sancha, a amizade dos casais, o nascimento de Ezequiel, filho do personagem-narrador, a felicidade.

Escobar morre no mar e Capitu sofre tanto que Bentinho desconfia. Uma desconfiança que aumentará dia
após dia, uma dialética de suspeitas e ciúmes: Bento vê no filho, Ezequiel os traços fisionômicos de Escobar.
O casamento se corrói pela traição (concreta?, real?) de Capitu, que parte para a Europa com o filho, impelida
pelo marido que já não os aceita. Anos depois, Capitu morre, Ezequiel retorna para o Brasil (segundo o
narrador, cada vez mais parecido com Escobar), vai para a África e lá também morre. O processo de
desagregação de Bentinho estava concluído, restando-lhe enfrentar a solidão definitiva.

Esaú e Jacó

Quando o Conselheiro Aires morre, encontra-se em seus papéis a narrativa em questão. É a história de dois
gêmeos, Pedro e Paulo, que já brigavam no ventre da mãe e que seguem adversários na infância e na vida
adulta e na maturidade. Um se forma médico, outro advogado, um ingressa no partido conservador, outro no
partido liberal. Um é monarquista, outro vira republicano. Ambos, no entanto, se apaixonam pela mesma moça,
Flora. Esta oscila entre os gêmeos e termina morrendo sem optar por nenhum. Pedro e Paulo reconciliam-se
e prometem amizade fraternal para o resto da vida, mas em seguidas rompem outra vez e seguem se odiando
mutuamente.

O romance é muito lembrado por ser o único, na obra machadiana, em que fatos históricos (a Abolição e a
República) têm importância no entrecho. Nos vestibulares aparece com freqüência o irônico episódio do cap.
XLIX - Tabuleta velha - em que um dono de confeitaria, Custódio, em meio à confusão histórica (fim do
Império, início da República) não sabe como designar a sua casa de negócios.
Memorial de Aires

O mesmo Conselheiro Aires, diplomata aposentado, escreve o seu diário cheio de finas observações sobre a
vida, num tom discreto e levemente nostálgico, abrandando aquele pessimismo dos relatos anteriores de
Machado de Assis. (No mundo ficcional, as memórias do conselheiro são anteriores ao romance Esaú e Jacó,
do qual ele também é o narrador).

O conselheiro acompanha com interesse humano (talvez amoroso) a jovem viúva Fidélia, praticamente
adotada por um casal de velhos sem filhos, Dona Carmo e Aguiar. Estes tinham experimentando uma grande
decepção quando um rapaz a quem se afeiçoaram, como se fosse seu filho verdadeiro, Tristão, mudara-se
para Lisboa com o fim de freqüentar a escola de medicina. Tristão retorna e acaba se casando com Fidélia.
Em seguida, para tristeza dos velhos, o jovem casal viaja para Europa. O romance termina com o Conselheiro
Aires acompanhando com discreta piedade a solidão do casal Aguiar e Carmo, no qual muito críticos viram as
figuras de Machado e de sua esposa, Carolina.

• Os temas principais:

1 - O adultério: Motivo central de Dom Casmurro e de uma série de contos, além de ser motivo importante de
Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.

2 - O parasitismo social: Reflexo de uma sociedade erigida sobre o trabalho do escravo. Parasitas são quase
todos os personagens de Machado, principalmente em Quincas Borba.

3 - A confusão entre a razão e a loucura: As fronteiras estabelecidas entre a razão e a insanidade são vagas e
incertas. No conto O alienista desenvolve-se uma ironia feroz contra as certezas cientificistas do século XIX.

4 - O egoísmo, a vaidade, o interesse: Sem estes elementos nada ocorreria nos romances e contos de
Machado de Assis. Os personagens movem-se por orgulho ou cobiça, e os que vivem por motivos mais
nobres, em geral, são os enganados, os vencidos.

5 - A impossibilidade de ação com grandeza: Se acompanharmos Brás Cubas, Bentinho e o mesmo Rubião,
veremos apenas o inventário de mesquinharias e atitudes hipócritas que satisfazem a moral das aparências.

6 - A hipocrisia: Relaciona-se com aspecto do duplo comportamento humano. Intimamente, os seres possuem
determinadas facetas, idéias, sentimentos, mas, para satisfazer as exigências sociais, dissimulam, falsificam a
sua identidade. Trata-se de um universo de véus e máscaras. Há uma alma interior e uma alma exterior: este é
o tema do conto O espelho. Às vezes, a aparência e a verdade se confundem tanto que os indivíduos tomam
uma pela outra: Capitu aparenta trair, Bentinho a julga traidora.

7 - A ambigüidade feminina: As mulheres no regime patriarcalista, inferiorizadas socialmente, são impelidas a


aprender regras de dissimulação e de sedução, e se servem delas como armas. Muitas vezes, são elas que
conduzem os homens desencadeando crises e problemas. Sofia, Capitu, Virgília e dona Conceição - esta
última do conto Missa do galo - exemplificam este tipo de mulher.

8- O instinto e o subconsciente como móveis dos atos humanos.

Processos lingüísticos e narrativos

1 - Quebra da estrutura linear: Os romances são fragmentados por uma multiplicidade de episódios e
principalmente pelas contínuas digressões do narrador, que se faz presente em todos os textos, opinando,
julgando, relativizando tudo.

2 - A volubilidade do narrador: O narrador afirma uma idéia e, em seguida, a destrói. Assim ele faz com todos
os sistemas e filosofias, anulando a todos. Nenhuma verdade é absoluta. Tudo depende dos interesses de cada
indivíduo. Nada é eterno ou definitivo.

3 - Perfeição formal: Os textos machadianos revelam não apenas um refinamento lingüístico, mas também
uma forma trabalhada, limpa, perfeita.

Características das obras

1 - Análise psicológica: O romance de enredo linear é substituído pelo romance de digressões e situações
psicológicas. Os acontecimentos exteriores, a natureza, o cenário, são descritos apenas quando provocam
reações subjetivas nos personagens.

2 - Análise dos valores sociais: A crítica ao contexto social é um dos pilares das narrativas de Machado de
Assis. Tem plena consciência da brutalidade do patriarcalismo brasileiro, do horror escravismo e da pequenez
de nossa classe dominante. No entanto, não é um escritor de protesto. Sua análise social não aparece na
superfície, está implícita no comportamento dos personagens.

3 - Pessimismo: Decorrência da constatação da falência e da degradação dos valores que regem a vida
humana. O escritor assume uma posição de descrença absoluta em relação à saídas religiosas, filosóficas e
ideológicas.

O final de Brás Cubas é bastante conhecido:

Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui
califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar
o pão com o suor do meu rosto.(...) Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve
míngua nem sobra, e conseguintemente saí quite com a vida. E imaginará mal; porque, ao chegar a este outro
lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: -
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.

4 - Ironia: A amargura e o desespero são tão fortes em Machado que se convertem em humor. Um humor sutil,
de entrelinhas, requintado e discreto, de tal forma que os contemporâneos do escritor nunca chegaram a
percebê-lo. A ironia do escritor não atinge apenas os personagens, mas os leitores e o próprio formular da
narrativa.

Outras atividades:

· Além de romancista e contista, Machado de Assis deixou poemas, peças de teatro, crônicas e crítica
literária.

Não esqueça: Com Machado de Assis, a literatura brasileira deixou de ser apenas uma manifestação de "cor
local", paisagem e exterioridade, tornando-se uma literatura capaz de expressar de forma brasileira as
contradições do homem universal.

2. Raul Pompéia

O Ateneu

· Presença de um narrador em primeira pessoa (Sérgio)

· Fortes traços autobiográficos no romance

· Crítica ao internato e à sociedade que ela expressa

· Registro da destruição psicológica e moral do menino Sérgio no internato

· Corrupção do ambiente (todos os personagens se degradam)

· Mundo dominado pelo sexo, dinheiro e ânsia de poder

· Teor caricatural (sobretudo na figura de Aristarco, o diretor do colégio)

· As impressões do passado são revividas pelo narrador

· Inclusão do romance no Realismo (por alguns críticos)

· Inclusão do romance na estética impressionista (por outros críticos)

· Linguagem trabalhada ("prosa artística")

3. Aluísio Azevedo

O mulato: (romance cuja ação transcorre em São Luís do Maranhão, envolvendo denúncias contra o
preconceito de cor, a mediocridade da vida provinciAna e a hipocrisia do clero. Jovem mulato de origem
misteriosa, Raimundo, volta a São Luís, após formar-se em Portugal, buscando os seus antepassados e uma
fortuna que lhe teria sido subtraída. Termina apaixonando-se pela prima, branca e rica, Ana, e descobrindo o
próprio passado. Sob a inspiração de um padre corrupto, o cônego Diogo (que estava sendo desmascarado
pelo mulato), um ex-namorado de Ana assassina Raimundo. O romance acaba com a indiferença de São Luís
em relação ao assassinato e o casamento de Ana com o criminoso.)

O cortiço

· A concepção biológica da existência - que chega ao extremo de considerar o próprio cortiço um organismo
vivo, sujeito às leis evolutivas;

· A predominância do coletivo sobre o particular;

· O registro da acumulação primtiva de capital (João Romão);

· O fatalismo que condena os indivíduos a se tornarem o reflexo do cenário onde vivem: o determinismo do
meio do qual Jerônimo é o maior exemplo;

· O determinismo dos instintos, traduzido especialmente por Pombinha;

· A identificação da indolência, da bagunça e da sensualidade como uma forma tropical-brasileira de ser. Um


símbolo disso é a mulata Rita Baiana;

· A ótica nauseada do narrador, que transforma todas as criaturas humanas em animais;

· Algumas tiradas racistas, de acordo com os princípios "cientificistas" da época;

· A celebração de uma extraordinária força vital, de uma selvagem vibração dos instintos e de uma fervilhante
alegria de existir e de sobreviver em condições tão adversas.

VII - PARNASIANISMO

Surgimento: França, década de 1860 - Brasil, década de 1880

Características: <P>1 - Reação à poesia romântica (tentativa de poesia realista)

2 - Objetividade e impassibilidade do poeta

3 - Culto à forma, entendida como métrica, rima e versificação

4 - Utilização de fórmulas poéticas fixas como o soneto

5 - Arte pela arte: a arte só tem compromisso com sua beleza

6 - Temas principais: Antigüidade greco-romana; discussão sobre a própria poesia; descrição de cenas da
natureza e de objetos.

Parnasianismo no Brasil

· Literatura descompromissada das elites

· Ampla dominação cultural paransiana (1882-1922) que desencadeia, por oposição, a Semana de Arte
Moderna.

A tríade parnasiana

1) Olavo Bilac (Tarde, Poesias, Via-láctea, Sarças de fogo)

Temas principais: Natureza - Pátria - Antigüidade greco-romana - Amor sensual e amor platônico -
Questionamento da própria poesia.

Características básicas: Rigidez métrica e luta pela perfeição formal - Desvios na objetividade parnasiana,
resultantes de uma pretensa "herança romântica" que se traduz em temas subjetivos como o amor (seja o
erótico, seja o platônico) e o nacionalismo.

Poemas mais conhecidos: Profissão de fé - In extremis - O caçador de esmeraldas

2) Raimundo Correia (Meridionais)


Temas principais: Natureza - Melancolia da existência.

Características básicas: Recursos visuais (plásticos) e sonoros na confecção dos versos - Tentativa de um
sentido filosofante na poesia em geral.

Poemas mais conhecidos: As pombas - Mal secreto

3) Alberto de Oliveira

Temas principais: Natureza - Descritivismo de objetos

Característica básica: Adesão completa e rígida a todos os princípios do movimento

VIII - SIMBOLISMO

Surgimento: França, 1880, com Verlaine, Mallarmé e Rimbaud

Características:

1) Reação subjetivista ao descritivismo parnasiano

2) Abandono das fórmulas poéticas rígidas

3) A poesia deve ser um processo de sugestões (sugerir = não dizer, não nomear)

4) Sugestão através de símbolos, de metáforas originais, de uma linguagem cifrada

5) Sugestão através da musicalidade da linguagem (uso de aliterações)

6) Culto do mistério, do espiritualismo e do misticismo

7) Descoberta das camadas profundas da vida psíquica

8) Domínio do vago, do obscuro, do nebuloso, do inefável

SIMBOLISMO NO BRASIL

- Movimento surgido em províncias intelectualmente sem importância, na época: Santa Catarina, Rio Grande do
Sul, Paraná, Minas Gerais

- Pequena ressonância na época e forte influência (dos simbolistas europeus) nos anos de 1910, 20 e 30 sobre
as obras de Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Mário Quintana e Vinícius de Moraes

1) CRUZ E SOUSA

Missal - Broquéis - Faróis - Evocações - Últimos sonetos

Temas básicos:

- A obsessão pela cor branca

- O erotismo sublimado

- O sofrimento da condição negra

- O sofrimento da condição humana

- Espiritualização e religiosidade

- Linguagem metafórica e musical

2) ALPHONSUS DE GUIMARAENS
Câmera ardente - Dona Mística – Septenário das dores de Nossa Senhora

Temas básicos:

- A morte da noiva

- A sublimação da perda da noiva através do misticismo religioso

- A paisagem fantasmagórica das cidades mineiras

- Linguagem de rica musicalidade e, por vezes, litúrgica.

3) PEDRO KILKERRY

- Poesia fragmentária, difícil.

- inovações de linguagem

• IX - PRÉ-MODERNISMO

Período de abrangência: 1902 a 1922

Período eclético*:

· grupo passadista (parnasianos e simbolistas retardatários)

· grupo renovador (sob variadas linguagens, com predomínio da prosa neo-realista, um conjunto de escritores –
sem um projeto comum – tenta olhar para o país de uma forma mais ou menos crítica.

* eclético - mistura de várias tendências.

1. Euclides da Cunha

Os sertões

· Relato sobre a guerra de Canudos travada entre sertanejos fanáticos e soldados do exército;

· A base fatual do relato são as reportagens que E.C. enviou para o jornal durante o confronto.

· A obra se divide – de acordo com as teses deterministas que a delimitam (Taine: meio, raça e momento) em
A terra – O homem – A luta.

· As teses cientificistas de E. C. estão mais presentes nas duas primeiras partes da obra.

· Em O homem, o sertanejo é apresentado, simultaneamente, como uma "sub-raça", "raça degenerescida" e


como um "forte", um "titã de cobre".

· A luta – parte mais importante – é uma mescla de texto científico, resgate histórico, reportagem jornalística,
narrativa romanesca, análise da guerra, denúncia da chacina dos sertanejos e uma profunda interpretação do
Brasil.

· A percepção da guerra como tradução da existência de dois Brasis – um civilizado e moderno e outro arcaico e
primitivo – dois Brasis sem unidade, sem um núcleo comum, constitui a grande colaboração de E. C. para a
consciência dos brasileiros da época a respeito do seu próprio país.

Não esqueça: A linguagem – extraordinariamente elaborada, ornamental, difícil, poética, barroca em suas
antíteses, em suas metáforas e em seus paradoxos – é o que confere caráter literário ao texto.

2. Lima Barreto

· Relatos neo-realistas, de estilo simples, mais ou menos desleixados na linguagem.

· Valorização da vida suburbana e das camadas pobres do Rio de Janeiro

· Caricatura dirigida aos poderosos da época (políticos e letrados, em especial)


· Ironia corrosiva ao nacionalismo ufanista

· Denúncia dos preconceitos sociais e de cor (o autor era mulato)

Triste fim de Policarpo Quaresma (Relato centrado em um burocrata visionário, dominado por formulações de
nacionalismo ufanista e que, por isso, crê piamente na grandezas convencionais da nação. A narrativa é a da
perda progressiva de seus ideais, perseguidos e destroçados pela realidade, como, por exemplo, a sua
fracassada experiência agrícola e a sua consciência da brutalidade das elites, após o episódio da Revolta da
Armada (1893). Por protestar contra a violência do próprio governo que ajudara a defender, Policarpo
Quaresma será preso e fuzilado.)

Recordações do escrivão Isaías Caminha (O jovem mulato Isaías Caminha sai do interior em busca de uma
chance no Rio de Janeiro, mas o preconceito de cor impedem-no de alçar-se, restando-lhe apenas um trabalho
subalterno num diário da antiga capital federal. No final do romance, furando uma greve dos companheiros,
Isaías Caminha acaba virando editor do jornal e depois, pelos bons serviços prestados ao patrão, recebe um
cartório de presente e torna-se escrivão ou tabelião, como diríamos hoje.)

3. Augusto dos Anjos

Eu

· Poesia com traços parnasianos, simbolistas e pré-modernistas.

· Os aspectos pré-modernistas estão presentes em alguns versos de extremo coloquialismo e na incorporação


da temática da "sujeira da vida" e do grotesco, muito comuns na poesia moderna.

· Utilização freqüente de termos científicos da medicina e da biologia, de acordo com as tendências


naturalistas/evolucionistas vindas do século XIX.

· Apresenta umaa obsessão pela morte, nas formas mais degradadas que ela pode apresentar: podridão da
carne, cadáveres fétidos, corpos decompostos, vermes famintos e fedor de cemitérios. –

· Dominada pelo niilismo, a poesia de Augusto dos Anjos questiona a falta de sentido da existência e verte um
nojo amargo e desesperado pelo fim inglório a que a natureza nos condena.

· A angústia diante da morte transforma-se numa espécie de metafísica do horror: o homem não passa de
matéria que acaba, que entra em putrefação e que depois desaparece.

4. Monteiro Lobato

Literatura geral (adulta): Urupês, Cidades mortas, Negrinha.

· contos com ênfase em soluções patéticas, macabras ou anedóticas

· estrutura do conto e de linguagem presa ao modelo realista tradicional

· registro da zona cafeicultura decadente do interior paulista (Cidades mortas)

· criação da figura do caboclo brasileiro (o caipira) – Jeca Tatu

Literatura infanto-juvenil: O sítio do pica-pau amarelo

· mescla de fantasia, realidade e informação

· presença de um cenário típico do interior brasileiro (o sítio)

5. Simões Lopes Neto

Lendas do Sul – Casos do Romualdo – Contos gauchescos

· Forte presença da cultura regional sul-rio-grandense

· Utilização de lendas como a do Negrinho do pastoreio e da Salamanca do Jarau (Lendas do Sul)


· Na obra-prima (Contos gauchescos) há uma mescla de:

a) costumes da campanha rio-grandense


b) registro da vida cotidiana
c) fixação da linguagem específica da região (com grande número
de espanholismos e alguns neologismos)

· O narrador de Contos gauchescos é uma vaqueano de quase 90 anos (Blau Nunes) que evoca histórias que
viveu, presenciou ou escutou.

· O fato do narrador ser oriundo das camadas populares ocasiona uma intensa oralidade em sua forma de
narrar as histórias.

· No conjunto, os Contos gauchescos apresentam simultaneamente uma louvação do gaúcho (coragem,


audácia, honestidade e cavalheirismo) e uma crítica implacável à violência que campeia no pampa.

Não esqueça: Apesar do tom regionalista dos relatos de Simões Lopes, as paixões humanas que animam os
mesmos ultrapassam a condição localista e se situam numa dimensão universal. Assim o drama específico do
pampa rio-grandense adquire interesse para leitores de todos os quadrantes.

6. GRAÇA ARANHA

Canaã: Romance de tese (ou de idéias ou ainda romance-ensaio), centrado no debate ideológico entre dois
imigrantes alemães, Milkau e Lentz, recém chegados ao Espírito Santo. Há uma discussão sobre o futuro da
sociedade brasileira, discussão esta centrada nas idéias de clima e de raça. A linguagem da obra tem certos
acentos impressionistas.

X - MODERNISMO

A SEMANA DE ARTE MODERNA

Antecedentes europeus: as vanguardas

Futurismo, Cubismo, Dadaísmo (o Surrealismo não influenciou diretamente a Semana, mas apenas o
movimento da Antropofagia, de Oswald de Andrade.)

Futurismo: Fundado pelo italiano Marinetti, foi o movimento de vanguarda que mais influenciou os nossos
modernistas. Propunha uma ruptura total com o passado. Ao mesmo tempo, exaltava o "esplendor geométrico
e mecânico do mundo moderno". Isso significava cantar a máquina, o aeroplano, o asfalto, o cinematógrafo. No
plano formal, os futuristas suprimiram o eu poético, a pontuação, os adjetivos e usavam apenas o verbo no
infinitivo, etc.

Antecedentes brasileiros:

· A publicação, em 1917, de diversos livros de poemas em que jovens autores buscavam uma nova linguagem,
ainda não bem realizada. (Nós, de Guilherme de Almeida; Juca Mulato, de Menotti del Picchia; Cinza das horas,
de Manuel Bandeira; e Há uma gota de sangue em cada poema, de Mário de Andrade).

· A célebre exposição de Anita Malfatti, em 1917, e que foi duramente criticada por Monteiro Lobato em seu
célebre artigo Paranóia ou mistificação. Jovens artistas paulistanos saíram, então, em defesa da pintora,
criando uma polêmica que os ajudou a formar um grupo desejoso de mudar a arte e a cultura brasileira.

A semana de Arte Moderna

Realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, a Semana representou a ruptura barulhenta
com os princípios estéticos do passado.

A proposição de uma "semana" (na verdade, foram só três noites) implicava uma amostragem geral da prática
modernista. Programaram-se conferências, recitais, exposições, leituras, etc. O momento mais sensacional
deu-se na segunda noite, quando Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira: Os sapos, uma ironia
corrosiva aos parnasianos que ainda dominavam o gosto do público.

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
‘- Meu pai foi à guerra
- Não foi! - Foi! - Não foi!’
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - Meu cancioneiro
É bem martelado.

Principais participantes da Semana

Literatura:

Mário de Andrade - Oswald de Andrade - Graça Aranha - Ronald de Carvalho - Menotti del Picchia - Guilherme
de Almeida

Música e Artes Plásticas:

Anita Malfatti - Di Cavalcanti – Santa Rosa - Villa-Lobos - Guiomar Novaes

A importância estética da Semana

A Semana significou também o atestado de óbito da arte dominante. O academicismo plástico, o romantismo
musical e o parnasianismo literário esboroaram-se por inteiro. Os autores modernistas colocaram a renovação
estética acima de outras preocupações. O principal inimigo eram as formas artísticas do passado.

Caberia a Mário de Andrade - verdadeiro líder e principal teórico do movimento - sintetizar a herança de 1922:

· A estabilização de uma consciência criadora nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira.

· A atualização intelectual com as vanguardas européias.

· O direito permanente de pesquisa e criação estética.

A Semana e a realidade brasileira

A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vários historiadores já a
relacionaram com a revolta tenentista e com a criação do Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as
aproximações não sejam imediatas, é flagrante o desejo de mudanças que varria o país, fosse no campo
artístico, fosse no campo político.

O Modernismo de 22 a 30
(Fase de destruição e experimentação

O projeto dos modernistas pode ser dividido em três linhas básicas que se conjugam:

A) Desintegração da linguagem tradicional

Questiona-se a arte acadêmica e suas fórmulas envelhecidas. O estilo parnasiano e o bacharelismo são os alvos
prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal destruição, usa-se a paródia, o poema-piada, o
sarcasmo.

B) Adoção das conquistas das vanguardas

A liberdade de expressão, a visão do cotidiano, a linguagem coloquial e outras inovações desenvolvidas pelas
vanguardas européias são assimiladas, ainda que desordenadamente, pela geração de 22. A revista Klaxon, de
1922, e os primeiros textos publicados no ano da Semana mostram essa preocupação com a
contemporaneidade. Não tem fundamento, portanto, a afirmativa de que os modernistas seriam antieuropeus.
A identificação com as velhas matrizes culturais ainda é evidente.

C) Busca da expressão nacional


Em 1924, em Paris, Oswald de Andrade assiste a uma exposição de máscaras africanas. Elas parecem
expressar a identidade dos povos negros da África. Nesse momento, o escritor se interroga: "E nós, os
brasileiros, quem somos?

Atrás dessa pergunta, começa a se delinear a luta por um abrasileiramento temático. Antes, as questões
fundamentais eram estéticas. A partir de agora passam a ser também ideológicas: sonha-se com a delimitação
de uma cultura brasileira, de uma alma verde-amarela.

A saída primitivista

O novo nacionalismo irá assumir uma perspectiva crítica, um tom anárquico e desabusado. Celebra-se o
primitivismo, isto é, as nossas origens indígenas e extra-européias. as civilizações aborígenes e também no
folclore, nos aspectos míticos e lendários da cultura popular, quer se descobrir a essência do Brasil. Esta
pesquisa de uma subjacente alma nacional só poderia ser realizada, no entanto, com o instrumental artístico da
modernidade. Assim, o Brasil seria uma síntese entre o primitivo e o inovador.

Os movimentos primitivistas

Pau-Brasil

Lançado em março de 1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil trazia como idéias-chave:

· A junção do moderno e do arcaico brasileiros: "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre
nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos astéticos (...) A reza. O Carnaval. A energia íntima. O
sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de avaliação militar. Pau-
Brasil."

· A ironia contra o bacharelismo: "O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. (...) A
riqueza dos bailes e das frases feitas.(...) Falar difícil."

· A luta por uma nova linguagem: "A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição
milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (...) Contra a cópia, pela invenção e pela surpresa."

· A descoberta do popular: O Pau-Brasil descortina para os modernistas o universo mítico e ingênuo das
camadas populares: "O Carnaval é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os
cordões de Botafogo. A formação étnica rica. Riqueza vegetal."

Antropofagia:

O manifesto antropofágico, lançado em 1928, amplia as idéias do Pau-Brasil, através dos seguintes
elementos:

· A insistência radical no caráter indígena de nossas raízes: "Tupy or not tupy that is the question".

· O humor como forma crítica e traço distintivo do caráter brasileiro: "A alegria é a prova dos nove".

· A criação de uma utopia brasileira, centrada numa sociedade matriarcal, anárquica e sem repressões: "Contra
a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem
prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama."

· A postura antropofágica como alternativa entre o nacionalismo conservador, anti-europeu e a pura cópia dos
valores ocidentais: "Nunca fomos catequizados.(...) Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará."

Caberia a Mário de Andrade, com o romance Macunaíma, e a Raul Bopp, com o poema Cobra Norato, a
tentativa de levar para a criação literária as idéias do Manifesto.

Não esqueça: Nos anos de 1967, Caetano Veloso e outros compositores populares – através do Tropicalismo –
voltam a acenar com os princípios antropofágicos para combater a estreiteza da chamada M.P.B., que rejeitava
a incorporação de elementos da música pop internacional à música brasileira.

Verde-Amarelo (1924) e Anta (1928):

Com a participação de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado, estas tendências opõem-se ao
primitivismo destruidor e debochado dos "antropófagos" através do reforço do "sentido de brasilidade" e de
uma tendência conservadora e direitista no plano social.
Características da literatura modernista

A) Liberdade de expressão

A importância maior das vanguardas residiu no triunfo de uma concepção inteiramente libertária da criação
artística. Poética, de Manuel Bandeira, é um manifesto dessa nova postura, com seu célebre verso final:

Não quero mais saber de lirismo que não é libertação.

B) Incorporaçõa do cotidiano

O prosaico, o diário, o grosseiro, o vulgar, o resíduo e o lixo tornam-se os motivos centrais da nova estética. À
grandiosidade da paisagem, Manuel Bandeira sobrepõe a humildade do beco:

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?


- O que eu vejo é o beco.

C) Linguagem coloquial

A linguagem torna-se coloquial, espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, o
estilo elevado com o estilo vulgar. O artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras
simples e que, inclusive, admite erros gramaticais, conforme se vê neste poema de Oswald de Andrade:

Para dizerem milho dizem mio


Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

D) Inovações técnicas

· Verso livre

· Destruição dos nexos

· Paronomásia (junção de palavras de sonoridade muito parecida, mas de significado diferente).

· Enumeração caótica

· Colagem e montagem cinematográfica

· Liberdade no uso dos sinais de pontuação

Os autores de 1922

1. Oswald de Andrade (1890-1954)

Obras principais:

Poesia: Poesia do pau-brasil (192 );

Teatro: O rei da vela(1937)

Romances: Memórias sentimentais de João Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1937)

Os romances da destruição

· Os dois romances acima (ou anti-romances) desobedecem aos padrões tradicionais da narrativa, diluindo a
separação entre prosa e poesia.
· Apresentam metáforas ousadas, neologismos e são totalmente fragmentários. Há uma grande quantidade de
"capítulos-relâmpagos".

No conjunto, os romances de Oswald de Andrade são descontínuos e antidiscursivos, predominando neles a


idéia de montagem cinematográfica, isto é, da técnica do corte e da colagem dos múltiplos fragmentos.

Como registrou uma estudiosa, eles "apresentam várias modalidades de linguagem: a cotidiana, a caipira, a
bacharelesca, a de composições infantis, a dos diários íntimos. Inclui ainda os clichês, as frases feitas, piadas,
neologismos, palavrões, etc..."

2 - Mário de Andrade (1893-1945)

Obras principais:

Poesia: Paulicéia desvairada (1922); Clã do jabuti (1927); Lira paulistana (1946)

A obra mais importante é Paulicéia desvairada até por causa de seu prefácio, denominado pelo autor Prefácio
interessantíssimo. Nele, Mário teorizara sobre sua própria poesia e sobre as tendências modernistas do novo
lirismo:

"Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de
Andrade chamando-me de futurista errou.(...). Escrever arte moderna não significa jamais para mim
representar a vida atual no que tem de exterior: automóveis, cinema, asfalto. 'Si' estas palavras freqüentam-
me o livro não é porque pense com elas escrever moderno, mas porque sendo meu livro moderno, elas têm
nele sua razão de ser."

Ficção: Amar, verbo intransitivo (1927); Macunaíma (1928); Contos novos (1946).

Macunaíma: o herói sem nenhum caráter

Macunaíma representa a adesão de Mário ao nacionalismo primitivista. Desde o início, o romance (ou a
rapsódia, como queria o autor) apela para o suporte mitológico: a lenda indígena de Macunaíma é a base do
texto. Há também no texto lendas sertanejas e caboclas, misturadas com os aspectos mágicos da cultura afro-
brasileira, etc.

O esforço de síntese percorre toda a rapsódia: síntese cultural, lingüística, geográfica, psicológica.

As andanças de Macunaíma da selva à cidade, em busca da pedra mágica (o muiraquitã), roubada pelo gigante
Wenceslau, seus amores e aventuras servem para levantar os traços definidores daquilo que seria o caráter do
homem brasileiro

O "herói de nossa gente" tem como características a preguiça, a irreverência, o deboche e uma sensualidade
intensa. Em resumo, estamos frente á malandragem. Mas, de certa forma, é uma malandragem derrotada, pois
Macunaíma retorna à selva, só lhe restando um destino mítico: subir aos céus e virar constelação.

Não esqueça: Em sua linguagem tão múltipla, o relato satiriza os padrões da escrita acadêmica. A carta que
Macunaíma envia às icamiabas (índias amazonas), por exemplo, é uma paródia da retórica bacharelesca que
sempre caracterizou os letrados brasileiros.

Outros autores de 1922

Raul Bopp - Cobra Norato (poesia)

· Vinculação à antropofagia

· Poema baseado numa lenda amazônica

Antônio de Alcântara Machado - Brás, Bexiga e Barra Funda (contos)

· Realismo irônico e sentimental

· Valorização do imigrante italiano


· Estilo coloquial

XI - A POESIA MODERNA

1. Manuel Bandeira (1886-1968)

Obras principais: Cinza das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930);
Estrela da manhã (1936); Lira dos cinquent'anos (1948); Estrela da tarde (1963)

Características gerais da poesia:

· Fusão entre a confissão pessoal e a vida cotidiana.

· Um clima de desejo insatisfeito e amargurado percorre a sua obra. A tuberculose impediu-o de viver
profundamente. Desta forma, a poesia representou para ele "toda a vida que podia ter sido e que não foi."

· Os poemas Vou-me embora pra Pasárgada ("Vou-me embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei / Lá tenho
a mulher que eu quero / Na cama que escolherei"), Balada das três mulheres do sabonete Araxá e Estrela da
manhã se inserem nesta linha do desejo insatisfeito.

· Outro tema dominante em sua poesia é o da morte.

· Bandeira é também um grande poeta do cotidiano: descobre o lirismo perdido nos becos, nos arrabaldes, em
pobres quartos de hotel e em tudo que é irrisório e banal.

· Sua expressão poética é de absoluta simplicidade. Uma simplicidade que o levou a desconsiderar
(equivocadamente) a importância de sua própria poesia:

Criou-me, desde eu menino


Para arquiteto meu pai
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não esqueça: Manuel Bandeira é o poeta que melhor realiza a síntese entre a grande tradição da lírica
ocidental e a radicalidade da poesia moderna. Da tradição, herda os temas universais (morte, infãncia, desejo
amoroso, questionamento da vida). Do modernismo, o coloquial, o cotidiano e o verso livre.

2. Cecília Meireles (1901-1964)

Obras principais: Viagem (1939); Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); O romanceiro da Inconfidência
(1953)

Características gerais:

· Uma poesia presa à tradição lírica do passado.

· Há nela forte herança simbolista: a maioria das obras expressa estados de ânimo, vagos e quase incorpóreos.
Além disso, certas imagens naturais como o mar, a areia, a espuma, a lua, o vento etc., por sua repetição
obsessiva, acabam também ganhando uma dimensão simbólica.

· Predominam os sentimentos de perda amorosa e solidão. A atmosfera de dor existencial é ampliada pela
insistência no tema da passagem do tempo.

· Sua linguagem é elevada, sublime, com pouca presença do coloquial.

O romanceiro da Inconfidência:

É a sua experiência poética mais significativa. Para escrevê-lo, pesquisou todos os elementos históricos que
compuseram o evento. Ao mesmo tempo, encontrou uma forma poética específica do passado ibérico: o
romanceiro. Trata-se de um conjunto de poemas narrativos, unidos por um tema central. Cada poema é um
romance.
Composto por oitenta e cinco romances, O romanceiro da Inconfidência oferece uma visão dramática e lírica da
sociedade mineira do século XVIII, de suas principais figuras humanas e do levante republicano abortado pela
denúncia de Joaquim Silvério:

Melhor negócio que Judas


fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo
tu trais um simples Alferes...

Não esqueça: O romanceiro da Inconfidência é um texto que parte de uma reflexão sobre a história concreta
do levante mineiro e alcança uma dimensão lírica superior, tornando-se uma interrogação sobre o sentido das
ações humanas.

3. Mário Quintana (1906- 199)

Obras principais: Rua dos cataventos (1940); Sapato florido (1948); Espelho mágico (1951); O aprendiz de
feiticeiro (1950); Do caderno H (1973); Apontamentos de história sobrenatural (1976); Velório sem defunto
(1990)

Características principais:

· Herança simbolista

· Temática da morte e da tristeza das coisas.

· Linguagem de absoluta simplicidade.

A melancolia dos versos está determinada por um clima de derrocada pessoal. O indivíduo percebe o fim de
tudo e sente-se perdido numa realidade imprecisa, cheia de noites silenciosas e de cenas surreais, indicando a
herança simbolista. A idéia da morte perpassa todo o discurso poético:

Da vez primeira em que me assassinaram


Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

Os poemas em prosa · Aparecem em Sapato florido e em Do caderno H.

· São poemas curtos em prosa. Lembram epigramas, pois são curtos e geralmente irônicos. Uma ironia
estabelecida sobre o cotidiano. O poeta mergulha na vida prosaica, surpreendendo-lhe os aspectos risíveis,
insólitos ou até mesmo trágicos.

· Manuel Bandeira denominou "quintanares" a esses poemas curtos.

Cartaz para uma Feira do Livro

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.

Indecência

Na verdade, a coisa mais pornográfica é a palavra 'pornografia'.

4. Jorge Lima (1893-1953)

Obras principais:A túnica inconsútil (1938); Poemas negros (1947); Invensão de Orfeu (1952)

· Sua carreira poética iniciou-se sob o signo parnasiano.

· Apresenta uma fase nordestina caracterizada pela registro poético da realidade existencial, cultural e histórica
da região. O popular aparece identificado com o mundo dos engenhos decadentes.

· Captação (com uma linguagem cheia de expressões populares) do saber, das crenças e dos aspectos
pitorescos desse universo rural nordestino.
· Valorização da religiosidade de substrato católico.

· Teve ainda uma fase de celebração da cultura negra, seus ritmos e costumes. Usou um linguajar afro-
brasileiro para conferir maior verdade antropológica e lingüística aos textos. Essa negra Fulô louva o
sensualismo das escravas e virou peça antológica:

Ora, se deu que chegou


(isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada Fulô (...)
Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)

5. Murilo Mendes (1901-1976)

Obras principais: Tempo e eternidade (com Jorge de Lima, 1935); As Metamorfoses (1944); Contemplação de
Ouro Preto (1954)

· Começa com uma poesia de inspiração modernista, em que predominava o humor.

· Depois, sua poesia assume uma dimensão religiosa, requintada e quase hermética.

· Apresenta uma linguagem próxima do surrealismo, definida por alucinações, uso de símbolos e alegorias e
acentuada abstração da vida cotidiana

6. Vinícius de Moraes (1913-1980)

Obras principais: Novos poemas (1938); Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946)

A obra de Vinícius de Moraes divide-se em duas fases:

I - A primeira fase insere-se na linha de um neo-simbolismo, de conotações místicas, em que há um debate


entre as solicitações da alma e as do corpo.

· II - A segunda fase, iniciada com Cinco elegias, assinala a explosão de uma poesia mais viril. "Nela - segundo
o próprio Vinícius - estão nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo material, com a
difícil mas consciente repulsa ao idealismo dos primeiros anos."

Características principais:

· Sua tendência ao verbalismo é contida pelo uso freqüente do soneto.

· Seu grande tema é o amor. O amor em suas múltiplas manifestações: saudade, carência, desejo, paixão,
espanto. Registra uma nova concepção sentimental, mais concreta, mais livre de preconceitos, mais atenta às
mulheres. Em seus poemas, destrói noções como a da eternidade do amor - dogma do Brasil patriarcal – em
versos célebres como aquele "que seja eterno enquanto dure", extraído do Soneto da fidelidade.

· A partir dos anos de 1940 e 1950, o poeta se inclina por uma lírica comprometida com o cotidiano, buscando
inclusive os grandes dramas sociais do nosso tempo. (O operário em construção e Rosa de Hiroshima, cujos
versos iniciais transcrevemos, são os exemplos mais conhecidos):

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Não esqueça: Além de poeta, Vinícius de Moraes trilhou com êxito a carreira de compositor de música popular,
tonrando-se o grande letrista da Bossa Nova, com clássicos como Garota de Ipanema e Chega de saudade. A
exemplo do soneto, a canção obrigou-o a restringir seus excessos verbais.

7. Carlos Drummond de Andrade (1902-1989)

Obras principais: Alguma poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do mundo (1940); A rosa do
povo (1945); Claro enigma (1951); Fazendeiro do ar (1954); Lição de coisas (1962); Boitempo (1968); As
impurezas do branco (1974); O corpo (1984); Amar se aprende amando (1985)

Obras em prosa: Fala, amendoeira e Cadeira de balanço (crônicas); Contos de aprendiz

Características principais:

· A multiplicidade quase infinita de assuntos. A rigor, podemos dizer que a sua obra estrutura-se sobre sete
temas básicos: a poesia social; a de reflexão existencial (o eu e o mundo); a poesia sobre a própria poesia; a
do passado; a do amor; a do cotidiano; a da celebração dos amigos.

· A linguagem de impressionante invenção e capacidade sugestiva, herdeira tanto da tradição lírica ocidental (o
tom sublime e elevado) quanto das experiências radicais dos vanguardistas do século XX (a dicção coloquial e
prosaica). Uma linguagem capaz de explorar as infinitas faces das palavras, gerando uma expressão de notável
riqueza polissêmica e, portanto, de não menos notável possibilidade interpretativa.

· A presença do gauche, visível no Poema de sete faces, que abre o primeiro livro, Alguma poesia, e que
prosseguiria como um dos elementos mais inusitados da personalidade poética do escritor: "Quando nasci, um
anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida." O gauche (esquerdo, em
francês) é o anti-herói, o torto, o desajeitado, o errado, o sujeito em desacerto com o mundo, para quem as
coisas não dão certas.

· Um intenso "humour" – um dos elementos-chave para a compreensão de sua obra – que é o humor sutil,
quase sempre corrosivo, uma espécie de olhar enviesado sobre a realidade e que esconde, sob o seu manto,
uma complexa reflexão a respeito do sentido das coisas, conforme podemos observar em poemas célebres
como Quadrilha e No meio do caminho.

· O aspecto nuclear da obra de Drummond é o da reflexão existencial. Sua poesia exprime, como nenhuma
outra no país, a angústia da alma humana frente às correntezas convulsas do destino. A solidão, a
incomunicabilidade, a lógica misteriosa da existência, o fluir do tempo, a relação de perdas e ganhos na
trajetória do homem, a luta do ser contra a morte e a procura uma saída redentora para o indivíduo constituem
os principais motivos desta lírica filosófica. Um dos exemplos mais conhecidos é José:

E agora, José?
A festa acabou
a luz apagou
o povo sumiu
a noite esfriou
e agora José?
e agora, você?
você que é sem nome
que zomba dos outros,
você que faz versos
que ama, protesta?
e agora, José?

XI - O ROMANCE DE 1930

(A vitória do neo-realismo)

(Conjunto de narrativas, escritas entre os anos de 1930 e 1960, por um mesma geração, oriunda de famílias
oligárquicas decadentes, com uma visão de mundo crítica, um sentido missionário da literatura e padrões
cartísticos bastante próximos do realismo do século XIX).

Características
· Ênfase nas questões ideológicas e sociais. E não mais no projeto estético da geração de 1922

· Rejeição ao experimentalismo técnico e ao gosto pela paródia, substituídos por um realismo mais ou menos
trivial: retrato direto da realidade, busca da verossimilhança, linearidade narrativa, etc.

· Tipificação social explícita (indivíduos que representam as várias classes sociais)

· Construção de um mundo ficcional que deve dar a idéia de abrangência e totalidade.

· Tomada de consciência do subdesenvolvimento (atraso e miséria do país)

· Denúncia contínua da situação opressiva vivida por camponeses e operários

· Tentativa de comunicação com as massas através de uma linguagem coloquial

· Valorização da realidade rural que levou os críticos a designarem o período como regionalista

Os mundos narrados

1) Romances de temática agrária

A) A ascensão e queda dos coronéis: Bangüê e Fogo morto, de José Lins do Rego; Terras do sem fim e São
Jorge dos Ilhéus, de Jorge Amado; e O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Estes relatos oscilam entre a
saga (exaltação com traços épicos) e a crítica mais contundente, seja a ideológica (Jorge Amado), seja a ética
(Erico Verissimo). No caso específico de José Lins do Rego, predomina um tom nostálgico e melancólico
diante das ruínas dos engenhos.

B) Os dramas dos trabalhadores rurais: Seara vermelha, de Jorge Amado; e Vidas secas, de Graciliano
Ramos. Ambos correspondem a uma impugnação da realidade latifundiária nordestina.

C) O confronto entre o Brasil rural e o Brasil urbano, visível no choque entre Paulo Honório e Madalena em São
Bernardo, de Graciliano Ramos. A obra sintetiza o descompasso entre a mentalidade patriarcal-latifundiária e
a urbana modernizada. Também de Graciliano Ramos, Angústia revela a solidão e a destruição de Luís da
Silva,descendente da oligarquia, na teia complexa das relações citadinas.

Por outro lado, tanto em A bagaceira, de José Américo de Almeida, romance inaugural do ciclo de 1930,
quanto em O quinze, de Rachel de Queiroz, os personagens principais, Lúcio e Conceição – embora filhos das
velhas elites agrárias – foram modernizados pela escolarização na cidade. Por isso, acabam questionando o
horror da seca, da miséria e o atraso do latifúndio.

2) Romances de temática urbana

A urbanização ininterrupta do país levou os narradores a olhar para a nova realidade que se constituía, fosse
sob o prisma da denúncia (Jorge Amado, Amando Fontes), da adesão crítica (Erico Verissimo) ou de uma
tristeza impotente (Cyro dos Anjos). Os núcleos temáticos abordados foram:

A) As camadas populares, trabalhadores e marginais: Jubiabá, Capitães de Areia e Mar morto, de Jorge Amado;
Os Corumbas e Rua do Siriri, de Amando Fontes.

B) Os setores médios (pequena burguesia): A tragédia burguesa, de Otávio de Faria, Os ratos, de Dyonélio
Machado e toda a primeira fase de Erico Verissimo, o chamado ciclo de Clarissa.

Cronologia dos primeiros romances de 30

1928 - A bagaceira, de José Américo de Almeida

1930 - O quinze, de Rachel de Queiroz; O país do carnaval, de Jorge Amado

1932 - Menino de engenho, de José Lins do Rego; Cacau, de Jorge Amado; João Miguel, de Rachel de Queiroz.

1933 – Doidinho, de José Lins do Rego; Caetés, de Graciliano Ramos; Clarissa, de Erico Verissimo; Os
Corumbas, de Amando Fontes

1934 - Bangüê, de José Lins do Rego; São Bernardo, de Graciliano Ramos; Suor, de Jorge Amado

1935 - Jubiabá, de Jorge Amado; Música ao longe, de Erico Verissimo; Os ratos, de Dyonélio Machado.
XIII - A Geração de 1945

Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getúlio Vargas e pelo clima de
euforia daí decorrentes no país, a geração de 45 colocou em segundo plano as preocupações políticas,
ideológicas e culturais dos artistas da década de 30 e privilegiou a questão estética. Assim, a aventura da
linguagem, a preocupação com a forma e com o rigor do texto tornam-se o objetivo básico desta geração, que
teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de ficção.

A) POESIA

1. JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998)

Obras principais:

Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composição (1947); O cão sem plumas (1950);
Morte e vida severina (1956); A educação pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).

- Sua obra se articula como uma profunda reflexão sobre o fazer poético. A poesia é entendida como esforço
em busca da síntese, do despojamento total. Poesia é lenta e sofrida pesquisa de expressão: "Não a forma
encontrada / como uma concha perdida (...) / mas a forma atingida / como a ponta do novelo / que a atenção,
lenta, / desenrola (...)

- Os primeiros textos de João Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição) iniciam a
aventura da expressão mínima e contida.

- Em O cão sem pluma a perfeição de sua linguagem encontra uma temática: o rio Capibaribe, com sua sujeira,
seus detritos e com a população miserável que lhe habita as margens, trágico espelho do subdesenvolvimento:
"Na paisagem do rio / difícil é saber / onde começa o rio; / onde a lama / começa no rio / onde a terra começa
da lama; / onde o homem, / onde a pele / começa da lama; / onde começa o homem / naquele homem."

MORTE E VIDA SEVERINA

A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subtítulo: Auto de Natal pernambucano.
Aqui a técnica despojada do autor realça ainda o aspecto dramático do assunto: a trajetória de um sertanejo
que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migração apenas a morte. Severino continua seu
roteiro até chegar ao Recife. Lá percebe que a miséria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a
notícia do nascimento de um menino, filho de José, mestre carpina. Severino vai visitá-lo e descobre que
aquela vida, mesmo franzina, é a prova da resistência de todos os "severinos" do Nordeste.

E não há melhor resposta


que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida (...)
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

2. A POESIA CONCRETA

- A partir de 1952, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulação da
chamada poesia concreta, em São Paulo, numa revista chamada Noigandres.

- Reação contra a lírica discursiva e freqüentemente retórica da geração de 45, a poesia concreta procura se
filiar às experiências mais ousadas das vanguardas dos século XX. Ela poderia ser sintetizada assim:

a) linguagem sintética, homóloga ao dinamismo da sociedade industrial;

b) valorização da palavra solta (som, forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompões na página;
c) o poema ganha o espaço gráfico como agente estrutural, em função de que deverá ser lido/visto:

d) utilização de recursos tipográficos, visuais, plásticos, etc.

ovo
novelo
novo no velho
o filho em folhos
na jaula dos joelhos
infante em fonte
feto feito
dentro do
centro

3. FERREIRA GULLAR

Obras principais: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976)

- Iniciou sua obra sob os princípios da poesia concreta.

-Após romper com os concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da época,
todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, às vezes, excessivamente politizada e prosaica.

- A publicação de Poema sujo, em 1976, representou a superação de seus impasses temáticos e formais.
Poema sujo é uma espécie de síntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas
experiências vitais em São Luís, sua aprendizagem da vida, sua visão de mundo, suas angústias e esperanças,
numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou
seja, uma poesia "suja" com os resíduos da realidade.

- Em Poema sujo, as idéias, as sensações as lembranças e a coragem do escritor tipificam-se. tornam-se a


imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em meio às primeiras crises da ditadura militar.

B) PROSA DE FICÇÃO

A FICÇÃO DE TEMÁTICA RURAL

1) JOÃO GUIMARÃES ROSA

Obras principais:

Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, do Pinhém; Noites do
sertão; novelas, 1956); Grande sertão: veredas (romance, 1956); Primeiras estórias (contos, 1962); Tutaméia
(contos, 1967); Estas estórias (contos, 1969).

Caraterísticas básicas:

- A primeira grande inovação do autor é da linguagem, cheia de arcaísmos, neologismos, onomatopéias,


inversões, novas construções sintáticas, etc., e que poderia ser resumida assim:

Linguajar sertanejo + Recriação estilística = Linguagem revolucionária

Observe o início de Grande sertão: veredas:

Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus, esteja. Alvejei mira em árvore, no
quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí,
vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com máscara
de cachorro.

- O mundo retratado em suas ficções é o do sertão mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem vínculos
com o litoral modernizado do país e cuja principal traço é a consciência mítica dos protagonistas. Esta
consciência mágica explica o mundo pelo sagrado e pelo fantástico. Assim, os fenômenos naturais indicam
sinais de potências misteriosas e inexplicáveis. À medida que a modernidade urbana /capitalista avança, o
mítico tende a ser dissolvido.

- A presença do demônio em Grande sertão: veredas faz com que a narrativa se insira na categoria do
realismo mágico.

- Alguns contos de Guimarães Rosa são célebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga e O
burrinho pedrês, de Sagarana; e A terceira margem do rio, de Primeiras estórias.

Grande sertão veredas

- A temática da "jagunçagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste romanace, que se estrutura
no jogo dialético do presente e do passado. Assim:

Plano presente:

O ex-jagunço e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a história de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor"
nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em monólogo. Ao lado das reminiscências,
Riobaldo formula uma série de interrogações sobre o sentido da existência, a luta do Bem x Mal, a presença
real ou fictícia do demônio, etc.

Plano passado:

Focaliza as experiências de Riobaldo como jagunço, quando realiza sua longa travessia pelo sertão mineiro.
Uma travessia exterior por um sertão objetivo, geográfica e historicamente falando. Numa espécie de
"banalidade do mal", os bandos armados se exterminam a serviço dos grandes latifundiários. Mas como o
"sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente", essa travessia torna-se interior, levando Riobaldo
ao autoconhecimento. A percepção de si mesmo surge do contato com outros homens, em especial da dupla
polarizada Diadorim-Hermógenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrará no narrador o processo
amoroso. O segundo – força demoníaca - representará o ódio, o sangue e a perfídia.

Não esqueça: A obra de João Guimarães Rosa – embora centrada no mundo sertanejo mineiro –ultrapassa
pela linguagem revolucionária e pela indagação a respeito da questões fundamentais do homem (amor, sentido
da vida e da morte, mito e razão, etc.) os parâmetros do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor
universal.

2. JOÃO UBALDO RIBEIRO (1941)

Obras principais: Sargento Getúlio (1971); Viva o povo brasileiro

Sargento Getúlio

Considerado sua obra-prima, narra a história de Getúlio, um sargento da Polícia Militar de um destacamento
sediado em Aracaju, Sergipe. De família pobre, Getúlio trabalha como feirante e engraxate para sobreviver,
tornando-se depois soldado. Tendo assassinado a mulher, que o traíra com outro, busca a proteção de um
chefe político de Aracaju, ao qual passa a servir como "cabo eleitoral". A mando dele executa "vinte trabalhos"
(mortes). Mesmo pretendendo aposentar-se, aceita nova missão, a de prender, no interior, um adversário
político do chefe. Cumprida a tarefa, Getúlio começa a viagem de retorno a Aracaju, momento em que se inicia
a narração em primeira pessoa, que termina com a morte do protagonista.

A FICÇÃO URBANA

1. CLARICE LISPECTOR (1926-1977)

Obras principais:

Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); Laços de família (contos, 1960); A legião estrangeira
(contos, 1964); A paixão segundo G. H. (romance, 1964); A hora da estrela (romance, 1977).

Características básicas:

- É a intérprete mais sofisticada da chamada ficção introspectiva.

- Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira metafórica quanto realista, as ondulações psicológicas e
estados interiores das personagens.

- No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de consciência e do monólogo interior.


- Sua linguagem é excepcionalmente densa e inovadora.

A hora da estrela

Relativa exceção a esta prosa introspectiva é a novela A hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo)
acompanha a medíocre vida de uma jovem nordestina (Macabéia) que vegeta em São Paulo. Feia, ignorante,
humilhada pelas colegas, pelo namorado, pela existência, ela terá o seu momento glorioso, a sua "hora de
estrela", conforme lhe profetiza uma cartomante, quando no fim do relato é atropelada e morta por um
automóvel.

2. LYGIA FAGUNDES TELLES (1923)

Obras principais: PCiranda de pedra (1955); Verão no aquário (1963); Antes do baile verde (contos,1970);
As meninas (romance,1973); Seminário dos ratos (1977); As horas nuas (1989).

- Descendente da linha aberta por Clarice Lispector, mantém o interesse pelo movimento psicológico das
personagens. Contudo, em sua obra o mundo exterior configura-se com maior objetividade.

- Além disso, suas narrativas publicadas a partir da década de 1970, têm apresentado uma saudável abertura
para uma temática social e política, conforme podemos observar especialmente em As meninas.

3. ANTONIO CALLADO (1917-199)

Obras principais: Quarup (1967), Reflexos do Baile (1975)

Quarup

- Através da trajetória de um padre, Nando, que perde a vocação religiosa, adquirindo em troca uma profunda
consciência do atraso nacional, o autor nos mostra os fundamentos da sociedade brasileira dos anos de 1950 e
1960.

- Ainda que a saída ideológica de Nando pela luta guerrilheira seja equivocada, o romance apresenta capítulos
extraordinários, destacando-se a expedição que vai ao Xingu, demarcar o ponto central do país. O contato com
os índios e as conseqüentes doenças que esses contraem são inesquecíveis e por si só legitimariam Quarup.

4. DALTON TREVISAN (1925)

Obras principais: Novelas nada exemplares (1965); A guerra conjugal (1969); Cemitério de elefantes (1970);
Os desastres do amor (1968); O vampiro de Curitiba (1970); Faca no coração (1972); A polaquinha (novela,
1992).

- Sua obra é basicamente composta por contos.

- Coloca Curitiba como o cenário simultaneamente mágico e vulgar de seus relatos.

- Seus personagens vivem em torno dos desastres do amor. Uma sucessão de desejos alucinados, taras,
compulsões, traições cruéis, crimes do coração, paixões proibidas e infelizes compõem o seu mundo ficcional.

- Um personagem símbolo desse mundo de paixões terríveis e solidão não menos assustadora é Nelsinho, rapaz
que vaga pela cidade em busca de sexo e afeto. Ele é o célebre vampiro de Curitiba:

Ai, me dá vontade até de morrer. Veja só a boquinha dela como está pedindo beijo – beijo de virgem é mordida
de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É das que molham os lábios com a ponta da língua
para ficar mais excitante (...). Se eu fosse me chegando perto, como quem não quer nada – ah, querida é
apenas uma folha seca ao vento – e me encostasse bem devagar na safadinha...

5. RUBEM FONSECA (1925)

Obras principais: Os prisioneiros (contos - 1963); A coleira do cão (contos - 1965); Lúcia McCartney (contos -
1970); Feliz ano novo (contos -1975); O cobrador (contos -1980); A grande arte (romance - 1983); Buffo e
Spalanzanni (romace -1985); Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (romance -1988); Agosto (romance-
1990), Buraco na parede (contos –1993), Do meio do mundo prostituto, só amores guardei ao meu charuto
(novela - 1997)
- Sua carreira iniciou-se pelo conto, gênero onde atinge o seu apogeu.

- Normalmente, suas histórias (em especial, os romances) são apresentadas sob a estrutura da narrativa
policial. Há um crime ou um mistério a ser desvendado e vários dos personagenm principais ou são da polícia
ou detetives particulares ou advogados criminalistas.

- Um dos temas dominantes de seus contos e romances é a violência que percorre as ruas brasileiras, numa
espécie de guerra civil não declarada.

- O outro alvo de sua literatura é a solidão dos indivíduos nas grandes metrópoles. Quase todos os
protagonistas são opressos pela sensação de isolamento. O contato amoroso com outros seres parece dar-se
apenas no campo sexual.

- O que confere maior verossimilhança ainda a seus relatos são a técnica e a linguagem. O escritor sente-se à
vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo tempo o protagonista. Mas para cada tipo
social existe uma linguagem distinta. O assaltante tem seu código, o seu estilo, e assim o industrial, numa
multiplicidade lingüística verdadeiramente assombrosa

A CRÔNICA

- Gênero literário marcado por certa efemeridade, na medida em que registra a vida diária, os acontecimentos
que são marcantes no dia-a-dia.

- Fernando Sabino definiu-a como a "busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um".

- Apresenta um caráter jornalístico, desenvolvendo-se já no século XIX, com José de Alencar e Machado de
Assis, sob o nome de folhetim (o mesmo do romance romântico em capítulos).

- Nas décadas de 1950 e 1960, a crônica atingiu sua culminância. Estes pequenos comentários a respeito das
coisas banais ora assumem uma tendência mais terna e lírica, aproximando-se da poesia; ora centralizam-se
na crítica humorística dos acontecimentos e dos costumes.

A) Crônica lírica

1) RUBEM BRAGA (1913-1990)

Obras principais: O conde e o passarinho(1936); Um pé de milho (1948); O homem rouco (1949); A


borboleta amarela (1956); A cidade e a roça(1957); Ai de ti, Copacabana(1960).

- Registro da poesia oculta nos momentos mais triviais da vida diária

- Evocação de amores perdidos e do tempo que flui

- Celebração da beleza geográfica, humana e artística do Rio de Janeiro, ainda que com certa dimensão
melancólica.

B) Crônica de Humor

Tradicional dentro do jornalismo brasileiro, a crônica de humor sempre teve larga aceitação. Poderia ser
dividida (um pouco arbitrariamente) em crônica de humor leve - visando sobremodo o riso - e a crônica
satírica, na qual o deboche atinge instituições ou figuras públicas. No primeiro grupo poderíamos destacar o
nome de Fernando Sabino. No segundo, Lima Barreto foi um precursor genial e sarcástico, fulminando as
elites intelectuais e burocráticas do Rio, na República Velha, através dos ferinos comentários de Bruzundangas
(o Brasil).

1. Fernando Sabino (1923)

Obras principais: O homem nu (1960); A mulher do vizinho (1975).

- O humor jovial e divertido é a marca do cronista. Muitas de suas crônicas são pequenas histórias de final
surpreendente, os que as aproxima do conto.

Não esqueça: Fernando Sabino tornou-se o romancista de toda uma geração ao escrever O encontro marcado
(1956). Acompanhando a crise existencial, sexual e ideológica de três jovens em Belo Horizonte do pós-guerra,
construiu um quadro simultaneamente inocente e dramático das esperanças, frustrações e vida cotidiana dos
jovens de classe média.

2. Luís Fernando Verissimo (1936)

Obras principais: O popular; Ed Mort; O analista de Bagé; O gigolô das palavras (1986); Comédias da vida
privada; Comédias para se ler na escola (2001)

- Criador de tipos risíveis que entram no anedotário brasileiro: o analista de Bagé, o fracassado detetive Ed
Mort e a Velhinha de Taubaté.

- A consolidação do sucesso de público veio com a publicação das Comédias da vida privada. São crônicas de
humor retratando as contradições amorosas, sexuais, espirituais, geracionais e econômicas das classes médias
urbanas, com seus pequenos dramas existenciais que se prestam mais ao humor do que à tragédia humana.

XV O Teatro Contemporâneo

1) Nelson Rodrigues (1912-1981)

Principais peças:

O crítico Sábato Magaldi estabeleceu uma divisão temática das peças:

Peças psicológicas (Vestido de noiva - Viúva, porém honesta, etc.)

Peças míticas (Álbum de família - Senhora dos afogados)

Tragédias cariocas (A falecida - Beijo no asfalto - Os sete gatinhos - Boca de ouro - Toda a nudez será
castigada, etc.)

- Segundo Magaldi: "As peças psicológicas abordam elementos míticos e da tragédia carioca. As peças míticas
não esquecem o psicológico e nelas aflora a tragédia carioca. Já a tragédia carioca assimilou o mundo
psicológico e mítico da obra rodrigueana."

Vestido de noiva

- Em 1943, a encenação de Vestido de noiva renovou por completo as bases formais e ideológicas do teatro
brasileiro.

- Nesta obra, a linguagem de Nelson Rodrigues revelava uma dimensão coloquial sem precedentes. - O aspecto
renovador reside conjuntamente no fato do autor tornar-se o cronista dos traumas morais e sexuais da família
tradicional. Seus personagens mantém uma conduta de aparente normalidade, mas, nos desvãos da sociedade,
cometem uma série de crimes, quase todos vinculados ao comportamento sexual.

A história se passa em três níveis:

a) (realidade) Atropelada, uma jovem senhora, Alaíde, é operada num hospital.

b) (alucinação) A moribunda divaga, encontrando, em seu delírio, Madame Clessi, famosa prostituta do início
do século, assassinada pelo amante adolescente, e de quem Alaíde, no plano real, tinha um diário de
confidências. Nesta atração, condensam-se todos os desejos reprimidos de Alaíde, entediada de seu marido,
Pedro.

c) (memória) Revela-se, pouco a pouco, que Alaíde roubara Pedro de sua própria irmã, Lúcia. A consciência
culpada leva-a imaginar cenas de traição entre Pedro e Lúcia. No final, Alaíde morre e Lúcia, após período de
hesitação, resolve casar-se com Pedro.

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