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*Claudia Freire Researcher Universidade Salamanca

Sequelas Neuropsicologicas: Conexão da Memória na Mulher Maltratada e

sua ineficacia no discurso narrativo em estrutura de superficie.

Claudia C Freire*

Universidade Salamanca

Palavras Chave:Neuropsicologia, avaliação neuropsicologica, memória traumática, transtorno de

stress pós-traumático,emoções, mulher maltratada.saude.

Introdução:

Uma das problemáticas mais recorrentes ás mulheres maltratadas é a frequente

falta de memória sobre os factos ocorridos durante os episódios de maus tratos

que lhe são aplicados pelos agressores.

Esta verificação é feita durante os inqueritos policiais e judiciais ( quando existe

denuncia ) e durante as peritagens e rastreios médicos.

Este facto, é um fenomemo que para além de impossibilitar a tramitação eficaz e

desejavel de qualquer processo acessório e paralelo conducente á reestruturação

social da mulher no contexto de maus tratos é um factor residual que

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maioritariamente remete a vitima para um perfil de stress pós traumico desenhado

por tecnicos do apoio psicologico, o que partindo deste diagnostico que por norma

submete a mulher maltratada a terapia farmacologica de ambito ansiolitico como

forma rápida de superação de estado de defice cognitivo e restablecimento

emocional. Estas medidas não configurarm por si só uma metodologia terapeutica

fiavel no que concerne ao efectivo restablecimento da mulher maltratada,

assumindo esta partida teorica de um ponto de vista da neuropsicologia, uma vez

que á luz das recentes descobertas da Neuroanatomia Funcional investigada

através da Ressonancia Magnetica Funcional ( RMF) de onde se pode ter uma

leitura mais conclusiva relativamente ao mapeamento cortical implicado nas

funcionalidades primordiais do cerebro, podemos verificar numa analise resumida

com base numa apreciação anatomica das distintas areas de activação funcional

dos sistemas da linguagem,memória,audição, visão e motricidade ( Ferreira R,Jorge

et al., 2003) o nivel de afectação desde grau leve , médio e grave /severo dessas

zonas cerebrais em vitimas de maus tratos, sendo que a partir destes dados

poderemos iniciar uma nova serie de procedimentos relativos á vitima de maus

tratos quer em territorio forense quer em territorio psicoterapeutico de apoio

conducentes á reprogramação da mulher ou vitima de maus tratos com base em

dados seguros que permitam o desenho de um programa individual adequado á

vitima promovendo deste modo a sua real superação e resocialização de forma

pró activa directamente relacionada com as suas necessidades, descartando

formulas gerais e de aproximação que em nada contribuem para a resolução do

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problema da vitima pela sua falta de precisão relativamente ao sujeito a ser

tratado.

Rementendo ainda para o conceito Transtorno do Stress Pós Traumatico ( TSPT)

os primeiros estudos surgiram no pós guerra com veterano e sobreviventes de

guerra, tendo a sua inclusão sido efectuada no Manual Diagnóstico e Estatístico

para Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-III) no ano

de 1980. O TSPT tem como caracteristicas especificas para a base do seu

diagnóstico diferencial a seguinte sintomatologia manifestada posteriormente á

exposição do sujeito maltratado ao episodio traumatico, o seguinte triptico de

dimensões psicopatológicas:

(1) ressurgimento do trauma| durante 1 mes|; (2) evitamento de estímulos

que relembrem o evento traumático e distanciamento afectivo|durante

3 meses|; e (3) hiperestimulação autonômica|durante 2 meses| (Maurat

e Figueira, 2001).*

Numa revisão efectuada a diversos estudos presentes na base de dados da

PubMed National Library of Medicine (Medline) e Web of Science (base ISI), a

maioria dos estudos em neuroimagem funcional publicados até setembro de2004

utilizou o método não-invasivo fMRI (60%); em seguida, os métodos PET (22%),

SPECT (16%) e MRS(2%). Aproximadamente 992 indivíduos pertencentes

preponderantemente a três tipos de trauma foram estudados: veteranos de guerra

(35% = 347/992), maus tratos (23% = 228/992) e abuso sexual (18% = 179/992)

*|quando esta sintomatologia persista durante mais de 3 meses o TSPT é considerado crónico|

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Do total de indivíduos estudados, 55% são do gênero masculino e 45% do

feminino. Quanto à faixa etária, observamos que 71% são adultos e 29% são

crianças e adolescentes. Estes estudos partiram do objectivo de investigar

alterações anatomicas especificamente as relacionadas directamente com a

volumetria das estruturas encefalicas –funcionais-possibilitando a observação das

alterações na dinamica do fluxo sanguineo encefalico aumento ou decréscimo de

activação nas estruturas e circuitos neurais.

As duas principais técnicas aplicadas em estudos estruturais para definição do

volume das áreas do encéfalo associadas ao TSPT são a tomografia

computadorizada (CT) e a MRI. Os estudos de neuroimagem estrutural permitem

testar as hipóteses de associação entre TSPT e perda de massa encefálica como

conseqüência neurotóxica, assim como, identificação de fatores de predisposição

ao desenvolvimento do TSPT. Estudos estruturais têm demonstrado o

envolvimento do TSPT crônico com a redução do volume do hipocampo (Bremner

et al., 1995; Stein et al., 1997; Vilarreal et al., 2002). Gurvits et al. (1996)

revelaram que veteranos de guerra do Vietname, com maior exposição a

combates e com TSPT mais grave, tinham média de 26% de redução no

hipocampo esquerdo e de 22% no hipocampo direito em comparação aos

veteranos que combateram, mas não apresentaram sintomas.

O TSPT é um transtorno conveniente aos estudos de neuroimagem funcional, pois

os sintomas podem ser provocados por diversos estímulos exteriores. Memória

traumática é um componente central do TSPT e, por isso, tem sido o alvo principal

dos estudos com neuroimagem funcional.

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Metodologias para indução temporária de sintomas têm demonstrado confiáveis

mudanças psico-neurofisiológicas em indivíduos com TSPT (Pitman et al., 1987).

Os sintomas do TSPT têm sido induzidos por roteiros dirigidos de imagens, sons,

aparelhos de realidade virtual, paradigmas cognitivos de ativação e agentes

farmacológicos ansiogênicos.

Os resultados estatisticamente significativos, quanto ao aumento ou à diminuição

da atividade neuronal são obtidos por meio da subtração, entre a condição de

activação (sintoma TSPT) e a condição controle (estado neutro) dos sujeitos com

TSPT.

Em forma de resumo podemos indicar alguns dos resultados obtidos após a

condução destes estudos para nos ampliar a panoramica da correlação

desfuncional anatomica cerebral evidenciada em vitimas de maus tratos

diagnosticadas com TSPT :

O córtex frontal inferior esquerdo, na área de Broca, apresentou diminuição

significativa do fluxo sangüíneo na condição de evocação da memória traumática,

em subtração à condição neutra( Shin et al.,1997), outros indivíduos com TSPT,

expostos às suas narrativas personalizadas de trauma, indicaram relação

diferenciada entre os hemisférios, com lateralização direita ao evocarem memórias

traumáticas (Bremner, 2002). As diferenças na conexão cerebral entre os indivíduos

com e sem TSPT submergem na natureza não-verbal da evocação de memórias

traumáticas em sujeitos com TSPT. Vários estudos revelaram decréscimo da

actividade no córtex pré-frontal e cíngulo anterior em indivíduos com TSPT

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durante a evocação de memórias traumáticas(Lanius et al., 2001; Shaw et al., 2002;

Seedat et al., 2004). A disfunção dorso-lateral préfrontal pode vincular problemas

com linguagem e cognição. Circuitos danificados entre essa área e áreas

subcorticais podem correlacionar dificuldades em expressão verbal integrativa

com emoções. A menor actividade cortical pré-frontal, implicada na atenuação do

feedback negativo da actividade da amígdala, pode também representar o

mecanismo deficiente de extinção da resposta ao medo e desregulação emocional

em TSPT (Nutt e Malizia, 2004). Durante a exposição a percursos personalizados

para evocação das memórias traumáticas, estudos funcionais revelaram

significativo decréscimo de actividade na área de Broca, relacionada à tradução de

experiências pessoais em linguagem comunicável. Esta verificação é convergente

na dificuldade que o indivíduo com TSPT apresenta de assumir o acontecimento

traumático numa estrutura narrativa. Este facto, é verificavel em estudos

baseados em neuroimagem demonstram que o suporte da natureza não-verbal

de memórias traumáticas em voluntários com TSPT é uma presença a nivel da

estrutura de superficie linguistica e uma expressão mais narrativa das memórias

traumáticas de voluntários sem TSPT (van der Kolk, 2001; Lanius et al., 2004).

Objetivos:

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Os objectivos desta comunicação são primordialmente os de estabelecer um

ponto de abordagem mais alargado aos problemas de saude manifestados pelas

mulheres vitimas de maus tratos, onde a partir de um conjunto de dados

outorgados de forma fiavel como se apresenta o estudo do nivel de profundidade

do TSPT através da Neuroimagem nestes casos especificos, se possam constituir

metodologias dinamicas e intermultidisciplinares das várias disciplinas que

assistem a mulher mal tratada á posteriori na sua fase de reconstrução de

identidade como sujeito válido e de atributos cooperativos no ambito socializante,

numa exploração potenciadora dos limites de superação do Transtorno Stress Pós

Traumatico, partindo da base inferencial e proporcionada por este conjunto de

dados relevantes no que concerne á alteração do sistema biologico do sujeito

quando marcado pela variavel dos maus tratos e a partir deste eixo reconstruir

esse mesmo sujeito com marcadores psicologicos e somaticos que provoquem a

irradicação senão total no minimo parcial do padrão psicologico que o formatou e

vinculou emocionalmente a sua conduta mental durante a exposição aos

episodios de maus tratos recebidos. Promover a integração de Neuropsicologos

Clinicos em equipas multidisciplinares nas redes publicas de saude de apoio ás

mulheres maltradas é um objectivo a cumprir dado que os avanços cientificos

relacionados com a neuroimagem permitem uma rastreio, diagnostico e aplicação

do tratamento eficaz á vitima de acordo com o seu caso especifico, contribuindo

deste modo para a real resolução do problema de saude que assiste as mulheres

nestes casos e permitindo á posteriori o control de efeitos colaterais não previstos

em modelos de apoio antes aplicados por estas unidades por falta de meios

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tecnicos quer humanos , quer de matriz tecnologica , reduzindo esta medida o

impacto sectorial na saude publica, que a ausencia de tratamento efectivo á vitima

de maus tratos pode evidenciar em fases posteriores , por não diagnostico de

sintomatologias precoces derivadas do seu estado de exposição a quadros de

violencia aplicada e detioro do estado de saude em geral.

Partindo deste novo eixo de pressupostos baseados na permissa das

potencialidades oferecidas no ambito da neuroimagem (entre outros recursos ) e

da formação especifica do Neuropsicologo Clinico, justifica-se a urgencia desta

integração como medida positiva neste dominio de saude publica aplicado ás

mulheres maltratadas com o propósito da sua eficaz reabilitação e prevenção de

novos casos.

Material e métodos:(neuroimagem e linguagem e neuropsicologia)

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A neuroimagem funcional permite a identificação de alterações do fluxo

sangüíneo encefálico seccionado pelas diferentes regiões passiveis de afectação

sob este contexto traumatico, denunciando importantes modificações ocorridas a

nível cognitivo, (Gabbard, 2000; Rybakowski, 2002).

Os resultados indicam que a psicoterapia oferece o potencial de reabilitar a

disfunção dos circuitos neuronais conexionados aos transtornos estudados ( Brody

et al., 2001; Fumark et al., 2002; Paquette et al., 2003 ). O objectivo comum das

psicoterapias aplicadas ao TSPT é proceder a novas atribuições graduais e

novos significados emocionais à experiência traumática passada, que não tem

presença no actual codigo social da vitima (van der Kolk et al., 1996). A disciplina da

psicologia tem orientado esforços para as terapias de reconstrução imagética

aplicada ao redireccionamento cognitivo de acontecimentos passados sob uma

perspectiva nova de compreensão e aprendizagem (Leskin et al., 1998; Marks et al.,

1998). A neurociência pode através da area da neuropsicologia auxiliar e dar o seu

contributo na explicação de porquê a exposição assistida é o elemento chave na

psicoterapia para o tratamento dos sujeitos que sofrem de memórias traumáticas.

As informações que o indivíduo armazenou previamente, durante e após o

acontecimento traumático, são cruciais no processo do transfer e integração dos

fragmentos mnésicos, para que a memória do trauma possa ser deliberadamente

comunicada verbalmente (Brewin et al., 1996).

De outra maneira, as memórias traumáticas não-hipocampo-dependentes

apresentam-se fragmentadas sensorialmente, sem estrutura narrativa

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desenvolvida, estas memórias são recuperadas de modo involuntario, têm pouca

linkagem comunicacional com outras memórias autobiográficas exibem

tendencialmente uma vinculação de expressividade emocional complexa e intensa

e sensações experienciadas (Brewin, 2001; Hopper e van der Kolk, 2001).

As experiências passadas implicam na formatação dos padrões actuais de

comportamento, por meio de projecção futuristas desenvolvidadas com base nas

redes de memória. Porém, a reorganização de memórias emocionais e

traumáticas é contínua e dinâmica. A neurociência demonstra que o encéfalo não

armazena realmente memórias, mas residuos informacionais que serão utilizados

para reorganizar as memórias, reorganização essa que muitas vezes não integra a

representação dos factos experienciados no passado.

Na execução deste processamento, distintas regiões do encéfalo accionam

como nódulos neuronais que codificam, salvam e recuperam as informações que

serão usadas para criar memórias (Baddeley et al., 2000; Gonsalves e Paller, 2002). Por

conseguinte, sempre que um acontecimento traumático ou emocional é revisitado,

pode ser submetido a uma mudança cognitiva e emocional. (Loftus 1996) Observou

a inconstancia no processamento de memorização, demonstrando o fenomeno de

falsas memórias. (Leichtman et al. 2000) e (Gonçalves e Paller, 2002) revelam que as

semelhanças existentes entre memórias falsas e verdadeiras são mais profundas

do que os investigadores tinham previamente pensado, e (McNally ,2003) relatou

que o feedback aos traumas são também conduzidas pelas crenças emocionais,

sem consideração da sua precisão. Assim, tais pesquisas sobre o trauma

psicológico aportam uma fundamental compreensão à psicoterapia.

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Deste modo e considerando que uma memória emocional não forneça um quadro

eximio em relação aos factos experienciados no passado, o teor emocional,

configurado como uma memória, é uma representação absolutamente genuína

dos modelos referenciais assumidos pelo indivíduo.

O processo natural de mesclar e falsificar memórias não pode ser omitido ou

evitado pelos psicoterapeutas.

Contrariamente, este deve ser utilizado de forma eficaz na promoção da saúde

mental das mulheres maltratadas. Quando os profissionais ignoram as memórias

recuperadas dos indivíduos como sinonimo de variavel não dependente podem

surgir barreiras que dificultem o tratamento aplicado ao sujeito (DelMonte, 2000).

Neste contexto , surge então a necessidade de utilizar a possivel interacção dos

circuitos neuronais como objectivo principal orientado em pleno á abordagem

psicoterapeutica, que potencialmente pode favorecer a transição integradora da

memória traumática num sistema declarativo de memória. Assim, as memórias

declarativas coadjuvadas com acções resilientes, que incluem entre outros

metodos, a aprendizagem pró activa das experiências, auto-estima, autoconfiança

e serenidade no relacionamento e resolução de/com as adversidades, podem

constituir parte desse vasto quadro e conseqüentemente, podem proporcionar o

processo de reorganização terapêutica da memória. A recuperação de uma

memória emocionalmente configurada é influenciada pela interpretação particular

do acontecimento que programou essa mesma configuração. Izquierdo

(2002)postula que “(...) nós somos o que nós recordamos. Sem nossas memórias,

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nós não seríamos ninguém, e sem evocá-las, misturá-las e falsificá-las, nós não

poderíamos viver”.

Outras evidencias da neurociência demonstram que os reguladores e os

moduladores mais importantes na aquisição, formação e evocação de memórias

são as emoções e o nível de consciência (Baddeley et al., 2000; Dolan, 2002).

Na reabilitação de memórias traumáticas, sendo espontâneas ou

provocadas,existe a ocorrencia de um estado alterado da consciência, com

significativa expressão emocional. Uma vez modificado o estado de consciência, o

nivel de percepção do mesmo acontecimento apresenta mudanças inerentes ao

mesmo (Dietrich, 2003) e paralelamente, há uma nova integração relacional com as

difículdades contextuais a que a vítima do trauma está continuamente em

exposição . Neste sentido, os psicoterapeutas de vítimas de trauma devem estar

qualificados para trabalhar com emoções e estados alterados de consciência, que

potenciam modulações dircetas á formação da memória.

Surge ainda a necessidade de advertencia de que as limitações técnologicas

associadas a outras variaveis especificas a cada sujeito diagnosticado de TSPT

( abuso de substancias,quadros depressivos,insónias, idade, comunidade de

pertença sociocultural etc...)pode concorrer para a não generalização dos

resultados observados em estudo do caso, sendo necessária precaução a

correlação dos dados obtidos entre casos na sua utilização futura por forma a

evitar enviesamento de resultados e nevoeiro informacional.

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Outro recurso recorrente como metodologia de trabalho de analise e diagnostico

em vitimas de maus tratos utilizado pelo Neuropsicologo é a linguagem.

“Através da linguagem, através de imagens de vários tipos, o homem criou

transformações maiores e mais abrangentes dos estímulos. A própria natureza do

pensamento é uma contínua integração e transformação de dados e dos produtos

da própria mente. O facto de que cada frase que enunciamos transforma-se por

sua vez, num novo estímulo, significa que seu sentido é transformado. A

compreensão é o encaixe de novas imagens em moldes antigos, transformando o

molde antigo e a nova imagem numa nova entidade. Mais do que a repetição,

talvez a capacidade de transformação é que seja fundamental para a actividade

mental. Uma transformação trouxe consigo a consciência humana.” (Rosenfield, I.

in Mind and Evolution, 1976:144, apud Rosenfield, in A Invenção da

Memória,1988/1994:241)

A investigação neuropsicológica relativa á memória consiste entre outras (e de

forma significativa) na investigação de disfunções patológicas. O estudo dessas

disfunções tem como objectivo quer a compreensão do funcionamento da

memória quer o seu diagnóstico. A objetividade pretendida pelas pesquisas

neuropsicológicas, sobretudo na área clínica, é identificada nos protocolos

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neuropsicológicos tradicionais, que avaliam o funcionamento e o desempenho da

memória simultaneamente á sua classificação e tomando como referencia as

mesmas fases ou etapas. Os protocolos investigativos, nestas condições,

procuram replicar , de forma conclusiva, o funcionamento da memória .

A linguagem no sujeito maltratado pode apresentar desvios ao padrão

estabelecido pela norma, neste contexto, a avaliação neuropsicologica da

linguagem efectuada através das diversas baterias existentes ao dispor par

efectuar uma avaliação conducente ao diagnostico do sujeito, revelam-se

instrumentos de trabalhos valiosos, no sentido da sua fiabilidade de resultados,

bem como meios de diagnostico diferencial relativamente pouco dispendiosos e

que são aplicados numa fase precoce de avaliação do estado do sujeito sem

recurso a “técnicas invasivas”, constituindo no entanto uma metodologia ao

alcance do técnico onde de forma eficaz pode avaliare diagnosticar o grau de

severidade de afectação da vitima de violencia.

A aplicação de baterias variadas como o caso do ““MINI-MENTAL STATE”,” O

DIAGNOSTICO NEUROPSICOLOGICO DE LURIA”,e utilizando do mesmo modo

instrumentos narrativos como metodologia de analise para estabelecer o

relacionamento entre as funções linguisticas e funções de memória.

Estes dados quando recolhidos e analizados podem ser indicadores reais sobre o

estado da vitima de maus tratos e por conseguinte oferecer um programa

individualizado de tratamento neuropsicologico com vista á reorganização do

sujeito patologico de acordo com as suas necessidades com base no pressuposto

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de que a função linguistica praticada através da narrativa por exemplo como

instrumento de tratamento é trazer á memória uma selecção de sequencias

lexicais induzidas pelo sujeito patologico, tendo essa narrativa o efeito de

investigação do deliberadamente “oculto e/ou omitido” pelo sujeito durante o acto

narrativo/discursivo perante o neuropsicologo, o que como metodologia de

investigação em estudo do caso pode oferecer dados bastante relevantes para a

sua exploração a nivel tecnologico numa fase posterior, por forma a detectar quais

as zonas implicadas em tais processos mentais, ou seja, uma cuidada e exaustiva

investigação do caso e seu registo e posteriormente uma recolha de dados

através das potencialidades da neuroimagem podem conlevar numa construção

de registo de dados bastante significativa para a identificação organica das

sequelas dos maus tratos nas vitimas e suas consequencias e meios de

saneamento adequado já como um valor de replica geral.

“A doença põe a linguagem inevitavelmente sob tensão. Temos uma dor:

buscamos em vão pela palavra certa que comunique a natureza e intensidade do

que estamos sentindo, e que esclareça exatamente em que ponto sob nossa pele

ela está localizada. Isso é algo difícil, porque nossa linguagem de dor não é nem

objetiva nem bem-diferenciada. Com freqüência temos de preservar na

identificação da dor como um sintoma de alguma entidade mais abrangente: um

mau funcionamento, deficiência, distúrbio, doença — e de maneira bastante óbvia,

os pontos críticos aos quais uma dessas categorias seria aplicada. Afinal de

contas, ao dar o rótulo a um problema espera-se diminuir a ansiedade da

ignorância. A nomeação de doenças envolve classificação, promove o prognóstico

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e indica a terapia. Como diz o velo ditado: uma doença nomeada é uma doença

quase curada.” (Porter, R. 1991:365; grifos meus.)

Discussão:

Por ultimo e remetendo esta discussão para o campo da pesquisa emocional e

neste caso especifico das mulheres mal tratadas é relevante a notoria escassez

de instrumentos de avaliação neropsicologica que permitam registar as alterações

emocionais que acompanham as situações pos traumaticas , o que representaria

um indicador do possivel relacionamento do grau de severidade evidenciado pelo

sujeito em correlação com o grau de cognição indexado paralelamente ao mesmo

estado patologico de situação postraumatica durante o mesmo periodo de tempo

de analise e num rastreio posterior ao tratamento do TSTP, justificando-se esta

necessidade de construção de um modelo de avaliação emocional decorrente da

verificação da prevalencia de transtornos emocionais e mudanças de

personalidade após a ocorrencia desta tipologia de traumatismos, tendo sido esta

questão já referenciada por (Hermann y Parenté, 1994) em que se observou que o

defice cognitivo interactua com as alterações emocionais de modo muito complexo

de onde resultam com persistencia elevada os problemas conductais ( McLean,

Dikmen y Temkin, 1993; Oddy, Coughlan, Tyerman y Jenkins, 1985) e resultando também

este quadro de alterações profundas emocionais num desgaste que conduz os

terapeutas destes pacientes ao sindroma de burnout o que frequentemente

provocando a retirada destes sujeitos patologicos dos programas de tratamento

com motivações atribuidas á dificuldade do terapeuta em controlar os impulsos

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recorrentes de caracter emocional do sujeito patologico e assim manejar a sua

conduta (Harrington, Malec, Cicerone y Katz, 1993) y, e) etc...

É frequente o descarte em avaliações neuropsicologicas com a menção ao rigor

de ditas avaliações na suposição da sua objectividade o ignorar sistematico dos

problemas emocionais dos sujeitos patologicos, sendo de mencionar que tais

omissões durante a avaliação do sujeito pode constituir um grave erro na medida

em que as alterações emocionais podem interferir no resultado final da avaliação

resultante do rendimento afectado do sujeito durante a aplicação das provas e

realização de tarefas correlacionadas, no entanto , os motivos que conduzem a

esta “ignorancia” prendem-se mais claramente com os seguintes factores

estruturais;

 A complexidade dos factores etiológicos implicados na génesis e

mantimento dos transtornos emocionais.

 As respostas oferecidas pelos sujeitos com defice cognitivo.

 Os factores ambientais,tais como as redes sociais de apoio,situação

economica e familiar e profissional e também processos judiciais

pendentes terão que ser tomados em conta neste computo (Leach, Frank,
Bouman y Farmer, 1994; Muñoz Céspedes y Fernández Guinea, 1997; Puente y

Gillespie, 1991).

 A ausencia de instrumentos de avaliação adequados.

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Resulta assim num paradigma sobre o qual se pode refutar a fiabilidade e validade

das provas aplicadas e diagnosticos resultantes em sujeitos patologicos com

TSPT sob todas as suas vertentes em que a analise não comtempla uma das

variaveis indepentes mais importantes e condicionadoras das pesquisas e

tratamentos aplicados se apresenta omissa na equação final desses mesmos

resultados.

Constitui pois este ponto de reflexão uma nova partida matricial para o redesenho

e redireccionamento dos instrumentos de avaliação a elaborar e aplicar

futuramente em trabalhos convergentes a um resultado mais homogeneo e isento

de lacunas por forma a ser construido um mapeamento funcional do sujeito com

TSPT de modo valiado e coerente com base em todos os seus elementos

integrantes.

Conclusões:

Pretende-se com este conjunto, suscitar a ideia e planeamento de uma futura

integração de profissionais da Neuropsicologia no ambito de assistencia a

mulheres maltratadas a fim de se contemplarem novos dados de informação ao

trabalho multidisciplinar que actua nesta problemática por forma a serem

desenvolvidas respostas mais adequadas e eficazes na assistencia integral á

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saude das mulheres maltratadas, que tem sido um dos aspectos menos

focalizados e relegados para segundo plano aquando eventos de maus tratos,

concluindo-se que este ponto constui um dos aspectos residuais de resolução a

curto/médio prazo de uma problemática em todos os seus quadrantes ( judicial,

social e de saude) dada a riqueza informativa que se pode obter por esta via de

tratamento aplicado á vitima promovendo-se assim um novo modelo de interacção

entre os elementos envolvidos na problemática da violencia e maus tratos.

Este modelo integracionista da Neuropsicologia Clinica que recorre ás novas

funcionalidades das novas tecnologias para oferecer respostas rápidas e eficazes

á resolução deste problema que tendencialmente tem uma relevancia social cada

vez mais expressa, surge como modelo que se pretende afecto ás diversas

medidas e programas institucionais onde se encontram outros profissionais no

atendimento ás mulheres vitimas de maus tratos como medida de agrupamento de

equipas interdisciplinar, que em conformidade com os resultados aqui expostos e

outros existentes fica demonstrado que o accionamento de medidas desta

natureza poderão ser evitados tanto custos acrescidos a nivel da saude da mulher

mal tratada, se a sintomatologia apresentada for inicialmente correctamente

tratada bem como o acrescimo de custos redireccionados ás administrações

publicas desta area, dado esta problemática quando não controlada poderá

desencadear por diversos factores colaterais uma despesa publica acrescida no

control de doenças derivadas desta situação e que se podem relacionar de modo

indirecto com ; doenças do foro psicologico em grau severo ( por agravamento dos

sintomas não tratados e desenvolvidos sem control manifestados muitas vezes em

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estados limite), doenças do foro sexual ( por deficit de vinculação afectiva e

procura de novos parceiros ocasionais como forma de compensação da baixa

auto-estima | casos frequentemente observados mas não registados como

derivados desta problemática|), doenças do foro fisico ( existem relatos de

mulheres vitimas de maus tratos que recorrem aos serviços de saude com

reacções psicosomaticas após episodios de maus tratos onde o diagnostico

aponta frequentemente para doenças gastrointestinais, polmunares, cardiacas |

arritmias, taquicardias,etc...|).

Pretende-se assim o redimensionamento das equipas que prestam assistencia ás

mulheres maltratadas no ambito da saude publica com a inclusão dos

especialistas formados em Neuropsicologia Clinica , medida que aponta para a

optimização desses serviços de modo global e integrador com todas as valencias

já existentes das outras disciplinas com o objectivo final de oferecer uma mais

valia dinamizadora de resultados eficazes permanentes á problematica da saude

nos casos de violencia nas mulheres, com o mérito de operacionalizar um

conjunto de novos conhecimentos cientificos formando uma rede multidisciplinar já

existente e que possibilite não a camuflagem de um problema mas a sua efectiva

resolução, cujos resultados serão sempre orientados para a satisfação integral das

necessidades expressas pelas comunidades envolvidas na problemática da saude

publica das mulheres maltratadas , configurando assim um accionamento em rede

simultanea dos recursos envolvidos na perspectiva vindoura se não da sua

extinção rementendo os resultados para um alto nivel de control e superação e

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manutenção dos objectivos fixados para a diminuição deste grave problema numa

perspectiva positiva e de alta eficacia social.

*Claudia Freire

cclaudiafreire@usal.es

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