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A UTOPIA SOCIALISTA É, ANTES DE TUDO, UMA UTOPIA HUMANITÁRIA

A utopia socialista é, antes de tudo, uma utopia humanitária.

Foi essa a força capaz de trazer à luta social milhões de pessoas.


Mas é humanitária em que bases? Primeiro na visão da equidade de oportunidades, mas uma
equidade que possa ser corrigida em função da assimetria dos acessos às oportunidades. Segundo, a
visão da potencialidade, do ambiente que viabilize o pleno desenvolvimento de todas as
potencialidades positivas existentes em cada ser humano.

No longo caminho da história, pelas necessidades imediatas de poder, essas utopias foram sendo
deixadas pelo caminho e substituídas por questões mais "práticas", no sentido de respostas ao
poder imediato.

Estabelecida a utopia fica a questão da chegada. Ou seja: ainda acreditamos na capacidade de


transformação ou não? Ainda acreditamos que somos sujeitos do processo histórico ou não?

Para Marx a resposta foi mais fácil: A classe operária lidera o processo, levada a ele pelas
contradições do capitalismo no campo da apropriação privada do trabalho coletivo. A história se
encarregou de mostrar que a classe operária podia ser cooptada pelo sistema e que ela podia deixar
de ser o agente dinâmico das transformações sociais por conta das mudanças geradas pelo processo
de produção intensiva.

Se o sujeito ainda é capaz de mover a sociedade na direção de uma utopia, quem é esse sujeito?
Extinta a possibilidade da hegemonia, na realidade percebida a questão básica da democracia que é
o direito da minoria e não das maiorias, o que resta é dar ao conjunto, a todos, esse papel. Ou seja, o
movimento que leva para a utopia e a transforma em realidade é um movimento a ser feitos por
todos e todas ou não será feito por ninguém.

Nesse processo "aberto" cada um chegará lá do seu jeito, não haverá um líder genial ou um grupo
dedicado ou uma classe hegemônica. Da mesma forma não haverá uma "chegada" que se possa
dizer "apartir de hoje estamos no socialismo". O que estamos procurando é uma obra coletiva que
irá se construindo sempre nesta direção, por ato de vontade de cada um. A utopia socialista mais
que um fim passa a ser um processo em construção permanente, a ser produzido todo o dia. Não é
fé, pois não joga para o abstrato do futuro. Joga para o hoje. A produção do socialismo é de cada um
e é aqui e agora, hoje.

Como parte da dinâmica estamos falando de leitura convergente e direito de dissidência que deve
ser uma única norma. Como a democracia, o socialismo também é o processo e dentro dele essa
visão de democracia, convergência x dissidência, é um dos cimentos.

No fim do dia não somos sujeitos perfeitos, mas sujeitos que buscam algum grau de perfeição para
que sejam, eles os sujeitos, aquilo que podem ser.
Este projeto de socialismo se realiza por contaminação e seu objeto principal não é o Estado, que
pode ser um veículo, mas as pessoas. Se elas não forem inclusas no processo nada se fará. Isso dá
um papel ao partido político que não é apenas o de estar no comando do Estado. De fato estar no
comando é insuficiente e não diz muito. Estar no Estado tem que ser resultado desta visão de
processo e significa fazer o Estado completamente permeável à participação de todos e todas.
Significa o nosso compromisso de democratização do Estado que não é, como a democracia, o fim,
mas apenas o meio.
O projeto social democrata não avançou porque era filho da mesma visão do socialismo passado de
que cabia a um grupo e apenas a ele a liderança do processo.

Em muito sentidos esta utopia já contaminou a sociedade moderna. Nossa própria constituição já se
preocupa em uma leitura sobre as assimetrias ou na questão dos conselhos paritários. Empresas se
preocupam com a questão da responsabilidade social e não apenas por mídia. É muito pouco
perante a multidão de problemas derivados da concentração de poder, formal, e renda, poder real,
mas são passos na direção correta.

Enfim, existe, em minha opinião, uma utopia possível e existem os meios de caminhar na direção
dela. Evidentemente, no campo prático, isto implica em entender os limites da ação do Estado, a
necessidade de incorporar o mercado, não como algo a ser extinto, mas como algo a ser
compreendido e inserido no processo e principalmente implica em entender que as pessoas são o
objeto primeiro e não o poder, que é o meio de realizar o processo que se quer.

DEMETRIO CARNEIRO

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