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RESUMO
José de Castilho Pinto e seus companheiros dos trabalhos e fadigas das suas vidas, que
tiveram nas conquistas da capitania do Rio de janeiro e São Vicente, com a gentilidade e
com os piratas n' esta costa", também conhecido como, simplesmente, "Roteiro dos sete
capitães", apesar da controvérsia que o cerca, é considerado como uma das mais
leituras e reflexões que podem despertar uma fonte, independente da sua autenticidade ou
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1. A História de Uma Fonte Referencial
"Roteiro dos Sete Capitães" é uma das mais importantes. Sua relevância consiste em relatar as
primeiras expedições feitas no interior da Capitania de São Tomé, já que a primeira, e frustrada,
tentativa de colonização por parte de seu donatário, Pero de Góes, limitou-se a uma pequena
O Roteiro assim nos informa que, em 1627, Martim de Sá, Governador do Rio de
Janeiro, dividiu então a abandonada Capitania em grandes sesmarias, doadas aos "7 capitães",
Miguel Aires Maldonado, Miguel da Silva Riscado, Antonio Pinto Pereira, João de Castilho,
Gonçalo Correia de Sá, Manuel Correia e Duarte Correia. Somente em 1632, estes iniciaram a
exploração e divisão das sesmarias, dando logo início à atividade pecuária na região, com a
sobre uma nova repartição da Capitania encabeçada por Salvador Corrêa de Sá e Benevides,
sucessor de Martim de Sá, seu pai, no governo da Capitania do Rio de Janeiro. Segundo o relato
parte das terras recém desbravadas pelos sete capitães através de uma escritura de composição,
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caminhando por grandes areiaes de pé, todos esbaforidos, para estes personagens se
utilizarem com uma bochecha d'agua das nossas propriedades por maneira tal. Deos
louvado, aqui irei dando fim a esta descripção em ponto tão grosseiro, até aonde
possa chegar a minha fraca memoria. Aos 13 de Outubro de 1655 passou-se d'esta
vida prezente o Senhor Antonio Pinto Pereira, meu ultimo companheiro de tantos
annos, e ainda fiquei eu Maldonado para sentir as mortes de todos os meus
companheiros e das insolencias que estão soffrendo todos os herdeiros por esses
campos dos Goytacazes. Com isto darei fim á minha vida; segundo as minhas
circunstancias, juntamente darei fim, com a mesma vida, a esta memoria para que
todos os herdeiros fiquem no conhecimento d'estes negocios, cheios de maximas,
maiormente os do Senhor Miguel Riscado, que estão ficando espalhados por esses
campos. Até aqui tenho escripto pelo meus proprio punho, até 11 de Junho de 1657.
Daqui ao futuro veremos o que vai mais de novo para o participar, e quando Deos
me leve d' esta vida prezente, peço e rogo ao meu compadre o Sr. João
Nepomuceno de Carvalho, morador na cidade de Nossa Senhora d'Assumpção de
Cabo-Frio, que me mande registrar esta memoria no cartorio da Camara, quando
caiba no possivel, a qual lhe será entregue no fim. Aqui me despeço de todos,
maiormente de todas aquellas pessoas que me estimaram, pois, segundo as minhas
circunstancias, não poderei ir muito adiante. Capitania da cidade de São Sebastião
do Rio de Janeiro aos 21 de Fevereiro de 1661. Miguel Ayres
Maldonado.(1893:398)
Carvalho como um translado em livro cartorial de São João da Barra, datado de 1879. Neste
registra-se que o original foi translado para o livro da Câmara de Cabo Frio, conforme desejo de
seu autor, em 1664. Esta primeira reprodução teria, por sua vez, perdido-se "em uma queima que
se fez de alguns livros antigos e varios outros papeis d' esta Camara, por estarem de todo
comido de bixos" (Id.:399) conforme declaração do tabelião responsável por posterior translado
em livro cartorial de Cabo Frio, datado de 1772, quando então foi entregue uma pública forma a
Capitania de São Thomé", foi então publicado em 1893 no Tomo LVI da Revista do IHGB. Em
1909, Vieira Fazenda, ainda na Revista do IHGB, publicou um artigo sob o título "Roteiro do
Maldonado", onde mostra a impossibilidade deste capitão ter redigido tal documento, pois
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Governador como um desconhecido, quando, na realidade, eram confrades na Santa Casa da
contradições existentes no documento, afirmado que "Ha muito mais que respingar neste Roteiro
Apesar desta crítica ser suficiente para desabonar tal documento, permaneceu ainda
como referencial para diversos estudiosos. O historiador jesuíta Pe. Serafim Leite (1945:83/4)
Companhia de Jesus dos Campos dos Goytacazes. Lamego Filho, em sua obra datado de 1940,
"O homem e o brejo", diz que "O roteiro de suas viagens, escrito por Maldonado, é um
e forjicação" de sua obra Teoria da História do Brasil, cita o Roteiro como um dos
simples refutação deste documento abriria uma lacuna inaceitável na história seiscentista das
consistente com outra fonte documental, até então não questionada por sua autenticidade, a
referida escritura de composição. (3) Desta maneira, a discussão sobre o Roteiro perpassa a
questão da forjicação, exigindo uma análise contextual, na procura de um novo recorte histórico
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O Roteiro do Capitão Maldonado Frente as Confrontação Documentais
com Benevides, o narrador identifica-se como Capitão Maldonado. (4) Na parte inicial,
dedicada a descrição das viagens exploradoras, o narrador é outro personagem não identificado,
Poderíamos, assim, estar frente a um documento em que parte dele seria reprodução
sempre para o nordeste, descobriram um lago: "- Que apellido avemos de dar a este lago? disse
o Senhor Manoel Corrêa. - Demos-lhe o appelido de Saquarema de Cabo Frio. Pois seja
Saquarema, disse o Senhor Riscado" (p. 373). Contudo, esta referida lagoa situa-se na direção
Convento Carmelita do Rio de Janeiro consta o translado de uma carta de sesmaria concedida
por Jorge Correa, Capitão-mor de São Vicente, e datada de 1596, correspondente "no cabo frio
hua lagoa de terra de sesmaria tanto de largo como de comprido que partira da ponta de
marahitiba athe o morro de Sauqarema" (Anais, LVII, p. 283). Assim, bem antes dos sesmeiros
instalados em suas margens. Porém, na planície campista, próximo ao Rio Paraíba, ao norte da
Lagoa Feia, havia uma outra lagoa denominada igualmente Saquarema, diferenciando-se da
situada nas sesmarias carmelitas por ser esta "de Cabo Frio", conforme referida no Roteiro. Ao
mesmo tempo, esta parte inicial caracteriza-se pela riqueza de informações etnográficas e
ambientais (5). Parece-nos, assim, que esta parte inicial foi redigida a partir de registros
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exploratórios da região, confundindo-se, em algumas passagens, o desconhecido autor na
fraudulenta, cuja a finalidade, tudo indica, foi questionar a validade legal da escritura de
composição feita por Benevides, através de sua "implantação" nos livros da Câmara de Cabo
Frio. Resta-nos saber a procedência da acusação deste documento de composição, elaborado sob
a égides de Benevides, como instrumento de usurpação de terras dos seus legítimos sesmeiros.
Pesquisando então, na relação copilada por Pizarro, das sesmarias registradas no Livro
de Sesmarias e Registros do 1º Ofício de Notas do Rio de Janeiro (6), constata-se que no Livro
correspondente as terras localizadas do Rio Macaé ao Iguassú, portanto a sesmaria dos sete
capitães. Contudo, o registro cartorial desta sesmaria tem como data 3 de fevereiro de 1631, e
não 1627, conforme quer o roteiro. (7) Mas o que levou tanto esforço e, com certeza, custos, para
alterar em poucos anos esta data? a resposta encontra-se no mesmo Livro 25, onde achava-se o
registro de uma sesmaria concedida aos jesuítas e índios de Cabo Frio das terra compreendidas
Notas. (9) Tem ela o despacho do Governador Martim de Sá, datado de primeiro de agosto de
1630. Nesta, os jesuítas reivindicam uma extensa faixa de terra em nome dos índios da aldeia
Cabo Frio, na sua maioria da etnia Tupi e os da "nação" Goitacá (Aitacazes). Alegam que são
esses indígenas os responsáveis pela defesa desta porção litorânea, que percorrem em
criadores de gado, alegando os religiosos que estes indígenas necessitavam de "todos os pastos
que correm do Rio Maquiê até a Paraíba". Pedem igualmente que "lhes dê de sesmaria todos os
campos que estam entre Maquiê por costa pera a banda do sul até Itapebussú do Rio de Liripe",
no que são atendidos pelo despacho favorável do Governador Martim de Sá. (10) Esta última
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data de terra, porém, que corresponde, segundo nos parece, a região situada entre os rios Macaé e
das Ostras, já havia sido concedida aos mesmos através de carta de sesmaria assinada ainda por
sesmarias na Capitania de São Tomé, ou Paraíba do Sul, sendo a carta de doação aos jesuítas de
data anterior a dos Sete Capitães. Supomos que Martim de Sá tenha confundindo-se nas diversas
concessões de sesmarias, ou, mais provavelmente, constatando que concedera aos índios, em
nome dos jesuítas, uma extensa faixa territorial, do rio das Ostras ao Paraíba, correspondente a
quase totalidade da porção litorânea da Capitania concedida a Pero de Góes, região que, na
época, ganhava cada vez mais importância econômica, devido a necessária expansão da pecuária.
índios e jesuítas, a conhecidos e parentes seus, encabeçados por seu irmão, Gonçalo. (11)
Este documento encontra-se no Livro de Tombo do Colégio de Jesus do Rio de Janeiro sob o
título "Escritura de Composição e Repartição dos Curraes dos Goitacazes. Neste, verifica-se que
a região entre o rio Macaé e Iguassú fora redividida, conforme acertadamente informa o Roteiro,
em 12 quinhões, comportando cada 8 currais, ocupando cada curral 500 braças quadradas. Deste
modo, cada curral possuiria 121 hectares ou 25 alqueires geométricos, área atual correspondente
a uma fazendola. Como cada quinhão possuía 8 currais, sua área corresponderia a quase mil
hectares.
reservados oito quinhões, dos quais um seria concedido a Benevides. Ou seja, um quinhão para
cada um dos Sete Capitães ou seus hereos. Dentre estes sete quinhões, Benevides ficaria com
dois. O de seu tio Gonçalo de Sá, que vende sua sesmaria a Baltazar Leitam, de que Benevides
Assim, coube ao Governador um total de 3 quinhões. Aos jesuítas caberiam também 3 quinhões
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e o quinhão restante foi, de comum acordo, concedido a Pero de Sousa Pereira. Ainda nesta
escritura de composição Antonio Pinto, o outro dos Sete Capitães participante, através de
procuração a seu filho, na composição, concede metade de seu quinhão aos monges do convento
de São Bento. Ficando de fora desta composição a área situada entre os rios Iguassú e Paraíba,
pessoal entre Maldonado e Benevides, não é difícil constatar que Maldonado, ao contrário do
que procura fazer acreditar o Roteiro, foi cúmplice de Benevides. Ao mesmo tempo este se
aproveita de uma situação de fato conflitante criada não por ele, mas por seu pai, Martim de Sá,
cabendo a ele, agora como Governador, resolver. Considerando-se ser ele já possuidor de 2
quinhões, na realidade, ao receber "espontaneamente" um dos oito quinhões reservado aos Sete
Quanto aos jesuítas, a quem caberia, dada a precedência de sua carta de sesmaria, o
juntamente com o Governador, como os maiores latifundiários das terras a serem incorporadas à
Capitania Real do Rio de Janeiro. Além disso, e principalmente, é preciso observar que na carta
de sesmaria concedida por Martim de Sá representam os jesuítas os interesses dos índios, a
terra passam diretamente para os jesuítas, esbulhando-se, assim, aqueles que, mais do que
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Considerações Finais
Na realidade, ao contrário do que procura demonstrar o Roteiro, esta é uma
composição, senão harmoniosa, pelo menos conscenciosa, entre poderosos, onde se preserva,
inclusive os direitos dos herdeiros dos Sete Capitães. Qual seria então a razão da forjicação deste
-"Sete de mão commum deram um quinhão ao general". Quaes são estes sete?
Porque razão todos sete não estavam assignados? Não seria por já terem passado da
vida prezente? Em outro lugar diz: - "Um quinhão que lhe deu o capitão Miguel
Ayres Maldonado, que lhe pertencia a João de Castilho". Pois não lhe fiz saber, que
este quinhão estava já vendido ao finado Senhor Riscado. Aquella escriptura foi
lavrada a 21 de Agosto de 1616. Apareceu n'este comenos tudo mudado de figura
do nosso roteiro (...) Com estas noticias alguns dos herdeiros do finado Senhor
Miguel Riscado nos vieram expôr, que iam tratar de annullar a escriptura, em razão
do impedimento da minha molestia e avançada idade e do Senhor Antonio Pinto,
não podermos lidar com estes negocios (1893:394/5,397)
pública forma a Thomé Riscado da Mota elucida assim a razão de tal Roteiro, ou seja,
Assim, a razão da existência deste Roteiro, como uma fonte documental fraudulenta,
colonial.
Inicialmente, é preciso considerar que sesmarias, capitanias e propriedades são
considerar que os Sete Capitães tornaram-se, através de suas sesmarias, donatários da Capitania
posse, que só se legitima com a sua devida ocupação. Se hoje esse direito é materializado,
também, pela manutenção da área cercada, é preciso lembrar que as os arames de cerca foram
determinado pelas Ordenações, ser devidamente ocupadas, podendo então a parte não explorada
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ser concedida a outro requerente. Deste modo, a superposição de áreas concedidas por sesmarias
Assim, todas estas questões suscitadas pelo Roteiro trazem em seu âmago uma
Brasil. A Lei das Sesmarias, promulgada por D. Fernando, segundo nos parece, é a primeira
tentativa legal de reforma agrária no ocidente. O que nos parece característico da cultura
opressora instaurada no Brasil, é o mal uso de uma boa lei. Na Capitania do Rio de Janeiro,
assim como em diversas partes do Brasil Colônia, a Lei das Sesmarias, concebida como um
instrumento de limitação dos poderes feudais, através de uma distorção engendrada pelos
colonial.
usurpação fundiária, utilização distorcida da lei das sesmarias e do direito de posse para a
Deste modo, o Roteiro, apesar de, senão por razão de, sua forjicação, permanece
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NOTAS
1- Boxer (1973: 299): Afora essas glebas no recôncavo, Salvador possuía ainda
extensas propriedades territoriais na região nordestina do Rio de Janeiro
conhecida pelo nome de Campos dos Goitacá, onde abundava o gado bravio. Essa
fértil zona pastoril era desde muito tempo um reduto de índios selvagens e o
"refúgio para os criminosos e assassinos" do Rio, em cuja população, rala e
vagabunda, eram elementos predominantes o mameluco e o mestiço. Por volta de
1627 a região havia sido fracionada em sesmarias, que foram distribuídas entre
sete pretendentes, conhecidos popularmente por "sete capitães", embora não
dispusessem, em sua maioria, de recursos suficientes para fazê-las prosperar.
Pouco antes de sua partida de Angola em 1648, Salvador havia feito umas
redistribuição das sesmarias da região, valendo-se de meios em que os seus
inimigos quiseram ver um misto de força e cambalacho. Qual era a verdadeira
situação em que se achavam esses núcleos é coisa que não se pode saber com
clareza, por isso que os documentos mais relevantes se mostram contraditórios e
confusos, quando não são palpavelmente forjado. Assim, o célebre historiador
britânico "dá uma no cravo e outra na ferradura", na medida em que, apesar das
ressalvas, faz uso de suas informações como verdadeiras.
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6- Pizarro, responsável por esta relação, identifica os Livros de Sesmarias
consultados não pelo cartório, mas sim pelo tabelião, Antonio Teixeira de
Carvalho, que assumiu a titulação do 4º Ofício de Notas em 1735, conforme se
observa na relação dos tabeliães do Rio de Janeiro, elaborada por D. L. de Macedo.
Contudo, como observa ainda Macedo, parece ter havido uma mistura dos livros
dos cartórios de 1º e 4º Ofícios, já que o nome do citado tabelião aparece nos livros
de ambos os cartórios. Como o 4º Ofício de Notas só foi criado em 1657, a
sesmaria concedida a Maldonado e outros só poderia encontrar-se nos registros do
cartório de 1º Ofício de Notas, criado em 1565, por Mém de Sá.
11- Apesar de Vieira Fazenda (1909: 17) identificar os tres como tios de
Benevides, somente Gonçalo C. de Sá era irmão de seu pai, Martim de Sá. Manuel
e Duarte Correas, irmãos, eram, na verdade, meio irmão de Salvador Correa,
portanto tios de Martim de Sá.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Descrição que faz o Capitão Aires Maldonado e o Capitão José Castilho Pinto e seus
companheiros etc. Rev. Trim. do I.H.G.B., Rio de Janeiro, T. LVI, V. 887, 1893.
FEYDIT, Julio
Subsídios para a história dos Campos dos Goitacases. Rio de
Janeiro, Ed. Esquilo, 1979.
LEITE, Serafim, S. J.
História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro,
Imprensa Nacional, 1945. T VI
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