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BRITO,Teca Alencar de. Música na Educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003. (204 p.)
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- Resenha -
Teca Alencar de Brito - Música na Educação Infantil: Propostas para a formação Integral da Criança
É com esta pergunta feita por um aluno seu que a autora inicia este capítulo,
relatando um diálogo ocorrido durante uma aula.
Neste diálogo, primeiramente os alunos mostram os tipos de música segundo
sua visão, depois se inicia outro trecho da conversa, que parte da pergunta "Por que
existe som?", sobre a qual o tema é expandido.
Teca de Brito chama a atenção para a percepção do som, o ouvir como parte da
integração entre o Homem e o meio no qual este vive. Os sons que nos cercam são
expressões da vida, do movimento, e indicam situações, ambientes, paisagens sonoras,
que representam o meio e a presença do Homem neste.
Som é tudo o que soa!Tudo o que o ouvido percebe sob a forma de
movimentos vibratórios...
Silêncio não é simplesmente a ausência de som, mas sim a ausência de sons
audíveis. Já que tudo vibra, o tempo todo há movimento gerador de som, sendo este
audível ou não.
Temos ainda de considerar que a cultura na qual o indivíduo está inserido
influencia na sua escuta, exemplo disso é a dificuldade, de nós ocidentais, de distinguir
e reproduzir os microtons presentes na música indiana.
É assim que a autora explora o universo sonoro antes de apresentar os
parâmetros/qualidades do som (conjunto de características do som, ou de
agrupamentos sonoros, física e objetivamente definíveis, H.-J. Koellreutter, 1990).
expostos nos grandes centros urbanos, e como esta poluição sonora afeta nossa
qualidade de vida. Neste sentido, a autora destaca R Murray Schafer (1933-),
compositor e educador que desenvolveu pesquisas acerca do som ambiente, suas
modificações (com o passar dos tempos), visando a conscientização. Esta pesquisa
teria seu ápice no "projeto acústico mundial", onde o ambiente teria seu som
produzido conscientemente pelos músicos, indivíduos integrantes do meio.
A MÚSICA
Neste capítulo, a autora apresenta "A música":
Origens;
Definições (a dificuldade de definir, como esta é influenciada por aspectos
culturais e históricos);
As muitas músicas da música (apresenta alguns estilos musicais e referências,
destaca como os materiais sonoros influenciam na produção sonora de
determinada época);
A música como jogo (apresenta análise de F. Delalande, que considera a música
como jogo).
SOBRE AS ORIGENS
quem (ou o que) produz os sons, não precisa ser consciente ou ter uma intenção na
organização dos elementos.Portanto o que é música para Cage, Koellreutter pode não
considerar como tal.
A música (como já falado anteriormente) carrega informações, através das
quais pode-se identificar a região ou o período que foi composta.O séc. XX trouxe
novas fontes sonoras, apontando muito fortemente para um tipo de som que antes
não era considerado “usável” em música: o Ruído. A manipulação de ondas sonoras e
produção de sons a partir de fontes eletrônicas expandiram o universo sonoro.
Portanto, o universo sonoro no qual vivemos integra todos os tipos de sons: TOM,
RUÍDO E MESCLA.
Achei muito importante a observação sobre alguns povos e culturas que
desconhecem ou não adotam o conceito de melodia com começo, meio e fim. A visão
que temos do mundo é em grande parte baseada em nós mesmos, ocidentais lógicos e
organizadores, em busca de uma beleza cíclica que possua a sensação de repouso e
unidade.
Delalande em sua pesquisa agrupa os vários tipos de música de acordo com sua
função lúdica, ao contrário da tradicional classificação cronológica. Essa maneira de
organizar o repertório com certeza é mais interessante para o educador, pois ajuda
muito no que realmente se espera de um exercício, tornando o trabalho do professor
mais simples. Ao pensar uma atividade, se este utilizar esta proposta, já tem seu
repertório organizado de acordo com sua necessidade. Outro ponto interessante é que
a organização se dá de forma mais natural, mais próxima de como o homem se
relaciona com a música.
CRIANÇAS,
SONS E MÚSICA
Quando canta, bate, ou qualquer forma que a criança utiliza para produzir som,
a criança “se transforma em som”, representa a si através do som. E é por isso que
brincar é a melhor forma da criança aprender, porque quando brinca, se diverte, e
concentra maior atenção para aquilo que faz.
Para as crianças, fazer ou ouvir música não significa seguir regras ou observar
características, mas sim vivenciar o momento, aprender. Quando faz um som ou um
movimento sonoro, a criança não está consciente de que está fazendo música, mas
quer apenas interagir com os objetos ou com si mesma. Ela não quer fazer música no
sentido que conhecemos, o da música intencional, organizada, mas o faz através da
ausência de intenção, para ela não importa como o outro toca o seu instrumento ou se
está fazendo corretamente, ela simplesmente toca.
É possível estabelecer relativos entre a expressão gráfica e a linguagem da
criança com a música. Ao fazer um desenho que ocupa todo o espaço do papel, por
exemplo, ela explora suas capacidades motoras, ou quando ela está no processo de
aquisição da linguagem, tem de organizar, filtrar e reproduzir o que ouve de forma
significativa, para que ela absorva o conhecimento, esse processo ocorre de forma
parecida na música.
“A finalidade última da intervenção pedagógica é contribuir para que o aluno
desenvolva as capacidades de realizar aprendizagens significativas por si mesmo...e
que aprenda a aprender.”
(C. Coll, 1990 p. 179)
CONCLUSÃO
A música no Brasil sofreu (e sofre) com certos conceitos errôneos, como por
exemplo, a prática de utilizar a canção de forma condicionadora, adestradora, para a
hora do lanche ou a hora de ir embora, tornam a experiência musical vazia e sem
significado para a criança, já que ela somente reproduz o que lhe foi ensinado sem
nenhuma reflexão ou possibilidade de experimentação.
A concepção de música como algo pronto prejudicou por muito tempo o
aprendizado de todos, já que o aluno não era estimulado a criar e até mesmo refletir
sobre o trabalho não era habitual.
Promover o ser humano é a principal função da música. Portanto devemos
acolher a todos mesmo que sejam (estejam) desafinados, pois é através da prática que
podemos desenvolver o aprendiz.
FAZENDO MÚSICA
OS INSTRUMENTOS MUSICAIS
É importante notar que a autora põe a expressão objetos sonoros logo no título
do trecho, já explicitando a necessidade de explorar objetos, não necessariamente
confeccionados pelo educador ou pelas crianças, que podem ou não ter a aparência de
um instrumento tradicional.
O educador deve ter muita atenção para as chances que aparecem durante
esta atividade, ampliando a experiência das crianças com a história dos instrumentos e
como estes eram usados.
PARA CONSTRUIR
Nesta seção, a autora mostra como construir uma série de instrumentos com
facilidade, apresenta dicas e sugestões de instrumentos passo-a-passo, apresentando
vários conceitos do funcionamento acústico do instrumental e preparando o professor
para expandir os experimentos apresentados.
A música vocal é uma das maiores fontes de expressão musical do bebê, pois
representa sua forte comunicação com os pais ou responsáveis. Este absorve qualquer
som a sua volta e aos poucos vai organizando-os para sua futura comunicação.
Para a criança, a movimentação e a exploração de suas possibilidades motoras
deve ser sempre utilizada para promover a percepção musical, já que ela não distingue
ainda as sensações e ações como dados diferentes.
DESCOBRINDO A VOZ
Na fase dos bebês e crianças, a exploração vocal deve ser um dos objetivos do
trabalho.
“O educador deve considerar que, ao falar e cantar com as crianças, atuará
como modelo e um dos bons hábitos, tais como não gritar, não forçar a voz, inteirar-se
da região (tessitura) mais adequada para que as crianças cantem, respirar
tranqüilamente, manter-se relaxado e com boa postura.”
O educador deve observar se há crianças com problemas vocais para
encaminhamento ao médico especialista.
A CANÇÃO
A canção é uma forma de música que une música e letra, e o faz assim como a
criança que entende a vida como algo integrado (não a seccionando em letra, som,
ação, etc., mas como momentos que fazem sentido como um todo), podendo com
maior facilidade e profundidade o conteúdo.
Deve-se prestar atenção em como se está cantando. Se o educador grita, as
crianças hão de acompanhá-lo, e este deve ter o cuidado de adaptar as peças à suas
possibilidades vocais.
A ESCOLHA DO REPERTÓRIO
ACALANTOS
No fim deste trecho (assim como nos outros) a autora tem recomendações e
perguntas que auxiliam o leitor-educando a refletir e lembrar-se de como estas
músicas e atividades foram significativas a ele.
BRINCOS E PARLENDAS
A casinha da vovó;
Serra, serra, serrador;
Palminhas de guiné;
Bambalalão;
Dem, dem;
Toque pra São Roque;
Peneirinha;
Dedo mindinho.
BRINQUEDOS DE RODA
A nossa música deve ser mostrada também às crianças, para enriquecer seu
conhecimento. O repertório popular brasileiro contém diversas músicas que podem
ser trabalhadas com as crianças, e até algumas compostas por grandes compositores
especialmente para elas.
Canções propostas por Teca:
Maracangalha – Dorival Caymmi;
Pra mó de chateá – Tom Jobim;
A noite no castelo – Hélio Ziskind;
Minha Canção – Enriquez / Bardotti / Chico Buarque;
Havia um pastorzinho – desconhecido / cultura popular;
INVENTANDO CANÇÕES
JOGOS DE IMPROVISAÇÃO
RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
moto. A partir daí, cada um decidiu qual seu transporte e então começaram a
explorar .A brincadeira ganhou maior elaboração quando o sinal foi inserido, as
crianças assumiram essa liderança depois;
Brincadeira do rio – Nesta atividade um líder leva o grupo ao rio. O grupo segue
as indicações do líder, representando o caminhar, as paradas, velocidade da
caminhada, etc.;
Estouro da pipoca – Aqui o grupo inspirou-se ao ouvir a pipoca estourando.
Representaram os sons e depois ouviram a gravação;
Sol e chuva, casamento de viúva – Um jogo de improvisação onde o contraste é
o principal elemento trabalhado (densidade), tema que possibilitou a inclusão
de parlendas e músicas para o grupo cantar.
SONORIZAÇÃO DE HISTÓRIAS
ELABORANDO ARRANJOS
Um arranjo musical é a forma com que são organizadas as partes e seções para
formarem uma unidade, o arranjo conseguir representar a peça.
Da parte do educador, é importante que utilize estruturas simples e que
possibilite a intervenção da criança, estimulando a participação na atividade (pode
criar atividades onde o objetivo seria que as crianças realizarem o arranjo).
Brito considera que a notação musical pode ser trabalhada a partir dos três
anos de idade, através do desenho do som (assim como a representação corporal do
som, “fazer o que a mão ficou com vontade de fazer”).
É interessante perceber que a forma como a criança representa graficamente o
som é muito próxima de como ela o percebe e executa, e este pode ser uma ótima
forma de entender um pouco mais da percepção delas.
“O professor Koellreutter afirma ainda que o poder de abstração das crianças é
muito grande, levando em conta que elas percebem primeiro o todo e depois o
particular, os detalhes. Por isso, ele aconselha que se parta de uma imagem sonora
globalizante, e não de alturas definidas. Para as crianças, especialmente na educação
infantil, o espaço sonoro é global (silêncio e som), aberto e também multidirecional
(em todas as direções, e não apenas da esquerda para a direita).”