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1 Primeira aula
1.1 Interações fundamentais da natureza
As interações entre os constituintes mais elementares da matéria, conhecidos
até o presente, podem ser classificadas em 4 tipos (em ordem crescente da
intensidade da interação)
• Gravitacional
• Nuclear fraca
• Eletromagnética
• Nuclear forte
1
+ +
- -
+ -
Figura 1: Tipos de cargas
2
1.2.2 Quantização da carga
Em diversos problemas que serão abordados neste curso, assumiremos a
existência de cargas distribuı́das continuamente no espaço, do mesmo modo
como ocorre com a massa de um corpo. Isto pode ser considerado somente
uma boa aproximação para diversos problemas macroscópicos. De fato, sa-
bemos que todos os objetos diretamente observados na natureza possuem
cargas que são múltiplos inteiros da carga do elétron
e = 1, 602177 × 10−19 C,
onde a unidade de carga C, o coulomb, será definida mais adiante. Este fato
experimental foi observado pela primeira vez por Millikan em 1909.
3
F12 r12 F21
q1 q2
r12
Figura 2: Força entre duas cargas
F~2 1 = −F~1 2 .
k = 8, 9875 × 109 N · m2 /C 2
1
É por esta razão que as pessoas dentro de um avião que atravessa uma tempestade,
não morrem eletrocutadas!
4
1.5 O Campo
Consideremos a equação (4) aplicada à força sentida por uma carga q 0 , devida
à N cargas q1 · · · qN
N
qj
F~ = q0 k
X
r̂ ,
2 j
(5)
j=1 (rj )
onde
N N
~ =
X
~j = k
X qj
E E r̂ .
2 j
j=1 j=1 (rj )
F~
.
q0
Estamos supondo uma situação idealizada, onde a carga q0 não altera o
campo produzido pelas outras cargas.
A idéia de se introduzir campos na fı́sica constitui um passo importante
para uma descrição onde as interações são entendidas sem a introdução de
ação à distância. Na presente descrição, a interação entre duas cargas se dá
em duas etapas. Primeiro a carga q1 cria o campo E, ~ e em seguida, a carga
q2 interage com o campo E. ~ Este detalhamento, que por enquanto parece um
luxo desnecessário, é de fundamental importância em problemas dependentes
do tempo, tendo em vista que os sinais eletromagnéticos propagam-se, no
vácuo, com a velocidade da luz
5
E1
y
E
P
E2
r
θ θ
+ x
q1 q2
2a
Figura 3: Dipolo elétrico
~ 2 | cos θ = 2k q a = 2kaq =
~ 1 | cos θ + |E
E1x + E2x = |E
2kaq
2
r r r 3
(y + a2 )3/2
2
6
∆q i
r^i
∆Ei
y a.
2 Segunda aula
2.1 Campo de uma distribuição contı́nua de cargas
Em várias situações de interesse prático, podemos desprezar a granularidade
da carga elétrica e calcular o campo elétrico, assumindo a continuidade da
distribuição. Este procedimento envolve os seguintes passos:
7
• Calculamos o campo elétrico produzido por ∆qi no ponto P ,
~i = k ∆qi
∆E r̂i
(ri )2
~ = lim
X
~ i = k lim
X ∆qi
E ∆E r̂i
∆qi →0
i
∆qi →0
i (ri )2
dq
• Carga distribuı́da em ao longo de uma linha l com densidade λ = dl
.
Veremos a seguir alguns exemplos simples de distribuições contı́nuas.
~ = −îk dq dx
dE 2
= −îkλ 2 ,
x x
8
y
l
P
x
E
dx
d
9
dE dE
P
dE
r
θ
z
dq
a
y
x
Figura 6: Anel carregado
anel. Simetrias são muito úteis pois costumam facilitar bastante a solução
de problemas mais complicados.
As componentes paralelas ao eixo z são dadas por
~ || = ẑk dq z
dE 2
cos θ = ẑkdq 3 .
r r
Note que a grandeza rz3 assume sempre o mesmo valor quando percorremos
os pontos do anel. Logo,
z z z z
Z Z Z
~ || =
E ~ || = ẑk
dE dq = ẑk 3 dq = k Q = ẑkQ (8)
r 3 r r 3
(a2 + z 2 )3/2
~ || ≈ ẑ kQ ,
E
z2
que é o campo de uma carga puntiforme.
10
P
r
R
y
x
Figura 7: Disco carregado
~ || = ẑk z
dE dq, (9)
(r 2 + z 2 )3/2
11
E
+ + + + +
+ + + + +
+ + + + +
E
Figura 8: Plano infinito carregado
~ || ≈ ẑ2π k σ z = ẑ σ sinal(z),
E (12)
|z| 20
Este limite nos dá o campo elétrico de uma plano infinito carregado, como
está ilustrado na figura 8.
3 Terceira aula
3.1 Linhas de campo
Nos exemplos vistos anteriormente, o campo elétrico foi calculado em um
único ponto P do espaço. Antes de partirmos para o cálculo em pontos ar-
bitrários, é conveniente que tenhamos uma visualização qualitativa do campo
elétrico. Esta visualização pode ser feita introduzindo-se as chamadas linhas
de campo. Na figura 9 foram desenhadas algumas destas linhas, possuindo
as seguintes propriedades:
12
E
13
+ −
+ _
14
3.2 Fluxo e Lei de Gauss
3.2.1 Fluxo
De acordo com a noção qualitativa de linhas de campo, vista na seção 3.1, a
intensidade do campo elétrico é proporcional ao número de linhas que atra-
vessam uma superfı́cie ortogonal às linhas. Para estudarmos, de maneira
quantitativa, as relações entre a intensidade do campo e superfı́cies quaisquer,
vamos agora introduzir a grandeza Φ, denominada fluxo do campo elétrico
através de uma superfı́cie. Vejamos inicialmente dois exemplos simples.
Φ = EA
15
∆ Ai
θ Ei
Ej
θ
∆ Aj
∆ Ai
θ
Ei
16
caso, convenciona-se que o vetor n̂ aponta no sentido da região interna para
a região externa. O fluxo através de uma superfı́cie fechada é então dado por
I I
Φc = ~ · dA
E ~= En̂ dA,
onde
~ · n̂
En̂ = E
é a componente do campo elétrico na direção da normal à superfı́cie.
Estude o exemplo 24.1 do livro texto [5].
~ = q r̂
E .
4π0 r 2
Imaginemos agora uma superfı́cie gaussiana arbitrária, abrangendo uma região
qualquer do espaço. O fluxo de E~ através de um elemento de área dA
~ = n̂dA
desta superfı́cie imaginária é
q dA cos θ
dΦ = , (15)
4π0 r2
onde usamos n̂ · r̂ = cos θ.
17
∆A
∆Σ
1
∆Ω
P
O r
θ
θ
r
n
18
consequência direta da lei do inverso quadrado da distância. A mesma forma
seria obtida se estivéssemos considerando o fluxo do campo gravitacional
newtoniano, produzido por uma massa puntiforme.
Utilizando as equações (16) e (17), teremos para o fluxo total,
q
se a carga q estiver dentro de A
q
I
0
Φ= dΩ =
4π0
0 se a carga q estiver fora de A
4 Quarta aula
4.1 Exemplos simples de aplicações da Lei de Gauss
A lei de Gauss não é somente uma forma elegante de expressar os fenômenos
eletrostáticos. É também uma ferramenta útil para o cálculo do campo de
distribuições de cargas possuindo elementos de simetria. De maneira geral,
sempre que for possı́vel identificar uma superfı́cie gaussiana tal que o campo
elétrico tenha o mesmo valor em todos os seus pontos, então o cálculo do
fluxo torna-se elementar
I
Φ= ~ · dA
E ~ = EA, (20)
19
onde E é a intensidade do campo e A é a área da superfı́cie. Note que E pode
ser positivo ou negativo, dependendo se as linhas de campo estão entrando
ou saindo da superfı́cie. Vejamos alguns exemplos.
A = 4π r 2
Φ = E4π r 2 .
Φ = E4π r 2 .
21
Note que para pontos externos à distribuição de cargas, os campos dados por
(21) e (22) comportam-se como se toda a carga estivesse concentrada num
único ponto na origem.
Para pontos internos à casca esférica, a carga no interior da superfı́cie
gaussiana imaginária é nula. Logo,
E = 0; r < a.
qin 1 λ
En̂2 = = , (24)
0 (2πrl) 2π0 r
22
~ tem sentidos opostos
é ortogonal à normal destes 4 planos. Como o vetor E
acima e abaixo do plano de cargas, então
Φ = EA + EA = 2EA
5 Quinta aula
5.1 Condutores
As cargas elétricas (elétrons) podem se mover no interior de um meio condu-
tor, mas não podem escapar espontaneamente deste meio. Na eletrostática,
estamos descrevendo situações onde as cargas encontram-se em repouso. Ad-
mitindo que as cargas ja se deslocaram para uma configuração de equilı́brio
(em um bom condutor, o equilı́brio é atingido em cerca de 10−16 s), não pode
haver campo elétrico no interior do condutor, pois, se houvesse, as cargas
ainda estariam se movendo sob a ação deste campo. Logo, no equilı́brio
eletrostático,
23
Figura 16: Condutor Carregado
24
E
F~ = q0 E.
~
25
q0 , num deslocamento infinitesimal d~s é
~ · d~s.
dW = q0 E
4 dr 1 1
Z
W34 = kq0 q 2
= −kq0 q − ,
3 r r4 r3
6 dr 1 1
Z
W56 = kq0 q 2
= −kq0 q − ,
5 r r6 r5
8 dr 1 1
Z
W78 = kq0 q 2
= −kq0 q − .
7 r r8 r7
26
1
q0
8
2 7
q 5
3 6
4
27
O trabalho total é a soma dos trabalhos em cada trecho;
1 1 1 1 1 1 1 1
W = −kq0 q − + − + − + − .
r2 r1 r4 r3 r6 r5 r8 r7
Concluı́mos facilmente que W = 0, notando que r2 = r3 , r4 = r5 , r6 = r7 e
r1 = r 8 .
A curva utilizada na figura 18 pode parecer muito especial. Vamos agora
verificar o que acontece em uma situação mais geral, como a mostrada na
figura 19 (escolhemos uma força repulsiva, mas o mesmo poderia ser deduzido
com uma força atrativa). A ampliação de um dos trechos da trajetória,
mostra uma aproximação em termos de dente de serra. Estamos portanto
reduzindo uma trajetória qualquer ao caso considerado na figura 18, onde já
demonstramos que o trabalho é nulo quando percorremos o circuito fechado.
Tomando dentes suficientemente pequenos, como é mostrado na ampliação
seguinte, tudo o que precisamos mostrar é que, para um dente qualquer, o
trabalho Wac é o mesmo que a soma dos trabalhos Wab e Wbc . No trecho
a → c o trabalho é Z c
Wca = F~ · d~s = F s cos θ,
a
pois a força é constante ao longo do trecho infinitesimal. No trecho horizontal,
Z c
Wab = F~ · d~s = F x.
a
28
q
c
F
s
y
. θ .
a x b
29
A
30
BA AB
Como Wazul = −Wazul , obtemos
AB AB
Wvermelho = Wazul .
Portanto, para calcular W AB , podemos escolher qualquer trajetória. Uma
trajetória conveniente é aquela mostrada em verde, na figura 20. No trecho
semi-circular desta trajetória, sabemos que não há trabalho realizado. No
trecho que vai de rA até rB , o trabalho é
B dr 1 1
Z
AB
W = kq0 q 2
= −kq0 q − , (25)
A r rB rA
Esta propriedade pode ser equivalentemente expressa dizendo que
o trabalho realizado por uma força conservativa
só depende da posição dos pontos inicial e final
No caso de um campo eletrostático produzido por uma distribuição qual-
quer de cargas, podemos invocar o princı́pio de superposição, subdividindo a
distribuição de cargas em elementos de carga puntiforme, cada um dos quais
produzindo um campo coulombiano, portanto conservativo. Naturalmente,
a soma de campos conservativos é um campo conservativo.
31
Note que esta grandeza depende somente das propriedades do campo elétrico.
Escolhendo arbitrariamente um ponto de referência, P0 , onde V (P0 ) = 0,
teremos o potencial em qualquer ponto do espaço
Z P
V (P ) = − ~ · d~s.
E (27)
P0
Superfı́cies Equipotenciais
32
5.2.4 Energia potencial de partı́culas carregadas
Uma carga q1 está produzindo um potencial
q1
V1 = k
r12
em um ponto que está a uma distância r12 de q1 . Da definição de potencial,
sabemos que o trabalho realizado por um agente externo para deslocar, sem
aceleração, uma segunda carga q2 , desde o infinito até a distância r12 é
q 2 V1 .
33
P
r’’
r
φ r’d θ
θ r
’
r ’ sen θ d φ d r’
6 Sexta aula
6.1 Potencial de uma esfera uniformemente carregada
A figura 21 mostra uma esfera possuindo carga total Q, uniformemente dis-
tribuı́da em todo o seu volume.
Um elemento de carga dq = ρdv (o volume dv está mostrado na figura),
produz um potencial
dq dv
dV = k 00 = kρ 00
r r
00
num ponto P situado a uma distância r do centro da esfera. Também esta
indicada na figura, a distância r 0 , que vai do centro da esfera até o volume
dv. Podemos expressar r 00 em termos de r e r 0 , observando que
q q
r 00 = (r 0 senθ)2 + (r − r 0 cos θ)2 = r 0 2 + r 2 − 2rr 0 cos θ
dv = (r 0 senθdφ)(r 0 dθ)(dr 0 ).
34
O potencial total em P é obtido integrando em r 0 , θ e φ
2π π ρ senθ r 0 2 R
Z Z Z
V =k dφ dθ . dr 0 √
0 0 0 r 0 2 + r 2 − 2rr 0 cos θ
Como a densidade de carga ρ é constante e o resto do integrando não depende
de φ, podemos imediatamente integrar em φ, resultando em
Z π Z R ρ senθ r 0 2
V = kρ(2π) dθ dr 0 √ .
0 0 r 0 2 + r 2 − 2rr 0 cos θ
Fazendo a mudança de variável
senθdθ = −d(cos θ) = −du,
teremos Z
r0 2
R Z 1
V = kρ(2π) du √ 2 dr 0 .
0 −1 r 0 + r 2 − 2rr 0 u
Fazendo uma segunda mudança de variável
2
x = r 0 + r 2 − 2rr 0 u; dx = −2rr 0 du,
teremos
R (r−r 0 )2 dx r 0 2
Z Z
0
V = kρ(2π) dr √
0 (r+r 0 )2 (−2rr 0 ) x
kρ(2π) R 0
Z
= − r (|r − r 0 | − |r + r 0 |) dr 0
r 0
Devemos agora distinguir duas situações:
ponto P fora da distribuição de cargas
Neste caso, |r − r 0 | − |r + r 0 | = −2r 0 . Logo,
kρ(4π) R3 kQ
V = = (29)
r 3 r
35
s
ds E
θ
Portanto,
dV
E cos θ = − .
ds
Ou seja,
(Componente de E ~ ao longo de s) = − ∂V
∂s
O eixo s poderia ter sido escolhido ao longo de qualquer um dos 3 eixos x,
36
y ou z. Neste caso, terı́amos as componentes cartesianas do vetor campo
elétrico dadas por
∂V ∂V ∂V
Ex = − , Ey = − , Ez = − . (31)
∂x ∂y ∂z
~ · d~a = 0 = qin .
I
E
0
Portanto, toda a informação que a lei de Gauss nos dá, é que a carga lı́quida
na superfı́cie da cavidade é nula.
Admitindo que as cargas teriam se distribuı́do na superfı́cie da cavidade,
como na figura 26 (sabemos que num condutor tal configuração não seria
estável), terı́amos um campo elétrico não nulo no interior da cavidade. Mas
37
+ +
+
+ +
+ +
+ +
R
+ +
+ +
+ + +
V
kQ
R
kQ
r
kQ
r2
E=0
Q =0
Q= 0
E=?
E=0
38
Superficie gaussiana
−−
−
?
+
++
- -
-
+
++
39
esta suposição nos leva à uma contradição, uma vez que a integral de linha
do campo elétrico, ao longo da curva fechada Γ, indicada na figura, seria não
nula; I
~ · d~s 6= 0,
E
Γ
o que é um absurdo. Logo,
É por esta razão que circuitos elétricos sensı́veis (como a placa mãe de um
computador) são blindados por um gabinete metálico. Note que se a lei de
Gauss não fosse verdadeira, a blindagem não ocorreria, mesmo que o campo
fosse conservativo.
7 Sétima aula
7.1 Capacitores
Capacitores são utilizados em diversos dispositivos tais como:
• “Flash” de máquina fotográfica.
• Sintonizador de radio.
• Filtros.
• Capacitores microscópicos em memória RAM de computadores.
Basicamente, um capacitor é um armazenador de energia potencial elé-
trica. Um capacitor tı́pico é formado por dois condutores possuindo cargas
iguais e opostas (estas cargas podem ser fornecidas por uma bateria), sepa-
rados por um isolante.
De acordo com o princı́pio de superposição, a superposição de duas con-
figurações idênticas à mostrada na figura 27 (mesma disposição geométrica e
mesmo isolante), será uma nova configuração possuindo o dobro da carga; o
campo elétrico será dobrado em cada ponto do espaço, o que por sua vez fará
com que o trabalho para transportar uma carga teste seja também dobrado.
Portanto, concluı́mos que o módulo da carga elétrica Q deve ser proporcional
ao módulo da diferença de potencial V , ou seja,
Q = CV.
40
Condutor
+Q
-Q
Condutor
Isolante
Bateria
41
Q
+ + + + +
+ + + + +
+ + + + d
+
- - - - -
- E
- - - -
- - - - -
Note que a relação acima não depende da validade da lei de Coulomb. Ela
é uma consequência somente do princı́pio de superposição e do fato de ser
o campo elétrico um campo conservativo (derivável de um potencial). A
constante C é chamada de capacitância e V é denominado voltagem.
A unidade de capacitância é o farad.
C
[C] = = F.
V
Um capacitor tı́pico possui capacitância variando entre 1µ F = 10−6 F até
1pF = 10−12 F .
Como um exemplo, vamos calcular a capacitância de uma esfera condu-
tora. Sabemos que a voltagem é V = kQ/R, onde R é o raio da esfera (o
outro condutor é uma casa esférica metálica à uma distância praticamente
infinita da esfera). Portanto,
Q Q R
C= = kQ = = 4π0 R. (32)
V R
k
42
y
−
+ + + + + + + +
−
−
−
−
−
−
−
x
~ · d~s = σ σd
Z − Z d
V = E dx = . (35)
+ 0 0 0
Portanto,
Q 0 Q 0 A
C= = = ,
V σd d
onde utilizamos
Q
. σ=
A
Exercı́cio: Calcule a área das placas paralelas de um capacitor possuindo
capacitância C = 1 F e distância entre as placas de um milı́metro.
43
b
a
+Q
−Q
44
−Q. Utilizando superfı́cies gaussianas esféricas e concêntricas com a esfera
condutora, a lei de Gauss nos dá
Q
r̂ para a < r < b
4π 0 r 2
~ =
E
0 em qualquer outro ponto.
O potencial é
~ · d~s = Q dr Q 1 1 Q b−a
Z − Z b
V = E = − − = .
+ 4π0 a r2 4π0 b a 4π0 a b
Portanto, a capacitância é
Q ab
C= = 4π0 . (37)
V b−a
Note que a equação (32) é obtida da equação (37) tomando-se limite b →
∞. Ou seja, quando o segundo condutor está a uma distância infinita do
primeiro.
45
Deste modo, após ter sido carregado com uma carga Q, o capacitor possuirá
uma energia total dada por
1 Q Q2
Z Z
U= dU = q dq = .
C 0 2C
Usando Q = C V , podemos também expressar a energia do capacitor em
termos do potencial V como
1
U= C V 2. (39)
2
Podemos também relacionar a energia diretamente com o campo elétrico.
Para um capacitor de placas paralelas possuindo espaçamento d e área A,
sabemos que V 2 = E 2 d2 e C = 0 A/d. Levando estas grandezas na equação
(39), obtemos
0 0
U = E 2 (A d) = E 2 (volume). (40)
2 2
É importante notar que a grandeza volume na expressão acima, é o volume
da região do espaço onde o campo elétrico é não nulo. Podemos portanto
introduzir uma densidade de energia u, do campo elétrico, dada por
dU 0
u= = E 2. (41)
dv 2
Como um exemplo, vamos calcular a energia do campo eletrostático de
uma esfera metálica de raio a, a partir da equação (41). Sabemos que para
r < a, o campo elétrico é nulo. Logo, de acordo com a equação (41), não
há densidade de energia dentro da esfera metálica. Em pontos do espaço
situados a uma distância r > a do centro da esfera, a densidade de energia é
0 2 0 Q 2 1
u(r) = E = ; r > a. (42)
2 2 16π 2 20 r 4
A quantidade de energia contida em uma casca esférica de espessura dr é
Q2 dr
dU = u(r) 4πr 2 dr = ; r > a.
8π 0 r 2
Portanto, a energia contida em todo o espaço é
Q2 Z ∞ dr Q2
U= = .
8π 0 a r 2 8π 0 a
46
8 Oitava aula
8.1 Capacitores com dielétricos
Sabe-se empiricamente que a capacitância aumenta quando o capacitor é pre-
enchido com um material dielétrico. Os primeiros a constatarem isto foram
(independentemente) Faraday (1837) e Cavendish (1773). Todo dielétrico
pode ser caracterizado por uma grandeza denominada constante dielétrica,
denotada pela letra grega κ, definida por
C
κ= ,
C0
onde C e C0 são as capacitâncias de um mesmo capacitor respectivamente
com e sem dielétrico. Note que o valor mı́nimo κ = 1 ocorre no caso em que
o capacitor está vazio, ou seja, C = C0 . O valor de κ a temperatura de 25 C
é 1, 00059 para o ar, 2, 25 para a parafina, 78, 2 para água destilada.
Quando um capacitor é carregado com carga Q e mantido isolado, de tal
forma que sua carga não pode variar, a mudança da capacitância deve ser
acompanhada de uma mudança do potencial entre as placas. De fato, como
Q = C V não muda, então
C0 V0 = C V,
onde V0 e V são os potenciais respectivamente antes e depois da introdução
do dielétrico. Portanto, o novo potencial
C0 1
V = V0 = V0
C κ
1
diminui por um fator κ
em relação ao potencial V0 , na ausência do dielétrico.
V = V1 + V2 .
47
(1 - r) rd
-
+ + + + + + + +
-
-
κ1 κ2
-
-
-
-
-
(1 - r) rd
- -
+ + + + + + + +
+ + + + + + + +
- -
- -
κ1 κ2
- -
- -
- -
- -
- -
48
Denotando por C1 e C2 as capacitâncias nas duas regiões, teremos
Q Q Q
= + .
C C1 C2
Logo,
C1 C2
C= . (43)
C1 + C 2
Substituindo
0 A
C1 = κ 1
(1 − r) d
e
0 A
C2 = κ 2
rd
em (43), teremos
κ1 κ2
C = C0
κ2 − r (κ2 − κ1 )
9 Nona aula
9.1 Descrição atômica do dielétrico
~ no interior de um meio dielétrico é diferente do campo
O campo elétrico E,
~
E0 originalmente produzido pelas cargas das placas. Isto pode ser facilmente
entendido, lembrando que
~ · d~l = V0 = − 1
Z Z
V =− E ~ 0 · d~l.
E
κ κ
Ou seja,
~ = 1E
E ~ 0. (44)
κ
De acordo com o princı́pio de superposição, o campo E ~ deve ser a soma
~
de E0 , com outro campo. Qual é a fonte deste outro campo?
Sendo o dielétrico completamente neutro, a única possibilidade (ou a
possibilidade mais simples) é que suas moléculas constituem dipolos perma-
nentes, ou induzidos pela ação do campo elétrico. Este efeito de polarização
ocorre porque, sob a ação do campo elétrico, as cargas negativas (elétrons)
49
+q F = q E0
2a +
asen θ
θ
+
τ
E0
F q
Figura 33: Interacão de um dipolo com o campo externo
U = −~ ~ + constante.
p·E
50
E Ei E0
− + − + − + − + − + − + − + − +
−
+ + + + + + + +
−
+ + + + + + + +
− + − + − + − + − + − +
− −
− + − + − + − + − − + − + − + − + −
− + − + − + = −σ − + − + − +
σ + σ − −σ
− + − + − + − + − + − + − + − +
− i i
i i
− + − + − + − + − + − +
− −
− + − + − + − + − + − + − + − +
− −
− + − + − + − − + − + − + −
− + − + − + − + − − + − + − + − + −
d2 U
> 0.
dθ 2
Usando a equação (45), obtém-se facilmente que a solução para estas duas
condições é θ = 0, ou seja, o dipolo p~ de cada molécula fica alinhado na
mesma direção e sentido do campo aplicado E ~ 0.
A figura 34 ilustra o efeito do alinhamento dos dipolos no interior de um
dielétrico que está dentro de uma capacitor de placas paralelas. Observe
que o efeito lı́quido do alinhamento dos dipolos é a produção de um campo
elétrico induzido E~ i . Este campo superpõe-se ao campo E ~ 0 , resultando em
um campo total
E~ =E ~0 + E
~ i = (E0 − Ei ) î. (46)
Ao campo induzido E ~ i , está associada uma densidade de carga induzida, na
superfı́cie do dielétrico. Esta relação pode ser facilmente obtida aplicando-
se a lei de Gauss como mostra a figura 35. Utilizando-se uma superfı́cie
gaussiana de área A, teremos
qin σi A
Ei A = = .
0 0
Portanto,
σi
Ei = . (47)
0
51
Ei
− + − + − + − +
− + − + − +
− + − + − + − +
− + − + − +
− + − + − + − + σ i
− + − + − +
− + − + − + − +
− + − + − +
− + − + − + − +
10 Décima aula
10.0.1 O vetor P~ (polarização dielétrica)
Se existirem N moléculas por unidade de volume do dielétrico, e cada uma
possui um momento de dipolo q ~δ (δ é a separação entre a carga positiva e
negativa), então o momento de dipolo por unidade de volume é
P~ = N q ~δ. (50)
52
de carga em qualquer volume é sempre nula. No entanto, na superfı́cie do
dielétrico sabemos que existe uma densidade superficial de cargas de pola-
rização σi . Vejamos agora como relacionar P~ com a densidade σi . O número
de cargas negativas que atravessam uma superfı́cie de área A é igual ao
produto de N pelo volume δ A (estamos assumindo que o deslocamento das
cargas se dá na direção normal à superfı́cie). A carga é obtida multiplicando-
se o número de cargas por q. Finalmente, a densidade superficial é obtida
dividindo-se pela área A. Deste modo, obtemos
σi = N q δ.
Comparando a equação acima com (50), vemos que a densidade superficial
de cargas é igual à polarização P no interior do material dielétrico. Ou seja,
σi = P. (51)
Podemos agora expressar o campo total E ~ no interior do material dielé-
trico, em termos da densidade de cargas livres σ e da polarização P~ . Subs-
tituindo as equações (47) e (48) na equação (46) e usando a equação (51),
podemos escrever
0 E = σ − σ i = σ − P (52)
A relação (52) é um caso especial de
~ = 0 E
D ~ + P~ ,
53
Para um tratamento bastante completo das propriedades dos dielétricos,
recomendamos o capı́tulo 10 e 11 da referência [2].
∆Q = n q A ∆x, (56)
54
∆x
A
vd
vd ∆ t
dI = J~ · n̂da. (59)
55
Vemos que a corrente é obtida calculando-se o fluxo do vetor densidade de
corrente.
Podemos agora relacionar a densidade de corrente com a velocidade de
migração obtida na seção anterior. Usando a equação (57) para a área infi-
nitesimal da, teremos
dI = n q da vd
~ (60)
J · n̂ da = n q da vd .
Portanto,
J~ · n̂ = n q vd . (61)
Note que a velocidade de migração foi tomada no mesmo sentido e direção
do vetor n̂. Portanto, em geral, podemos escrever
J~ = n q~vd . (62)
11.4 Resistência
Consideremos um fio condutor com área de seção A, como mostra a figura
36. Admitindo que exista um campo elétrico aplicado, o qual atuará sobre as
cargas deste condutor, gostarı́amos de determinar a relação entre a corrente
elétrica produzida e a diferença de potencial entre dois pontos quaisquer do
fio, separados por uma distância l. Sabemos que a diferença de potencial é
Z b Z l
V = Vb − Va = − ~ · d~l = E
E dx = E l. (64)
a 0
56
Em se tratando de um material para o qual seja válida a lei de Ohm então o
campo elétrico na equação acima pode ser obtido da equação (63), resultando
em
lJ
V = , (65)
σ
sendo σ a condutividade do material e J a intensidade do vetor densidade
de corrente que atravessa a seção de área A. Logo, usando a equação (59),
teremos
l
V = I. (66)
σA
Temos então uma relação linear entre a diferença de potencial e a corrente
que está fluindo no fio condutor. As caracterı́sticas intrı́nsecas ao material
(sua geometria e condutividade σ) definem, neste caso, a resistência do fio
l
Rf io ≡ . (67)
σA
57
as colisões com os átomos ou ı́ons que formam a rede cristalina do sólido fa-
zem com que a velocidade dos elétrons seja diminuı́da. Neste modelo, um
dado portador de carga q move-se entre duas colisões com velocidade
~
qE
~v = ~v0 + ~a t = ~v0 + t (69)
m
Tomando a média sobre todos os possı́veis valores de v0 e t e levando em
conta que os valores médios de v0 , ~v e t são respectivamente 0 (distribuição
aleatória), ~vd (velocidade de migração) e τ (tempo médio entre colisões),
podemos escrever
~
qE
~vd = τ. (70)
m
Utilizando a relação entre a velocidade de migração e a densidade de corrente,
dada pela equação (61), teremos
J = nqvd = σE
q2 E , (71)
= n m τ =
ou seja,
nq 2
σ= τ. (72)
m
É conveniente definir a grandeza resistividade, como
1 m 1
ρ≡ = 2 . (73)
σ nq τ
Expressando o inverso do tempo médio como a razão entre a velocidade
térmica média v̄ e o livre caminho médio d, teremos
m v̄
ρ= . (74)
nq 2 d
Medidas da velocidade térmica vd para o cobre a temperatura ambiente
dão resultados mais de 10 vezes maiores do que o valor previsto pelo modelo.
Um estimativa clássica para dependência de v̄ com a temperatura resultaria
√
em (usando 1/2mvd2 = 3/2kT , onde k é a constante de Boltzmann) ρv ∼ T .
No entanto, sabe-se que nos metais puros a resistividade varia linearmente
com a temperatura. Na verdade, sabe-se experimentalmente que v̄ é pra-
ticamente independente da temperatura e que 1/d depende linearmente da
temperatura.
58
Na teoria quântica os elétrons se comportam como ondas que se espalham
na estrutura de rede cristalina do material e não como um gás clássico de
partı́culas não interagentes. Utilizando o formalismo da Mecânica Quântica,
podemos mostrar que em uma rede cristalina sem vibrações ou impurezas
os elétrons se deslocariam sem qualquer resistência. A resistividade apa-
rece como conseqüência de efeitos térmicos (fazendo a rede vibrar) ou de
interações com as impurezas. Em altas temperaturas a resistividade é do-
minada pelas vibrações térmicas, enquanto em baixas temperaturas são as
impurezas que produzem o efeito de resistividade.
59
(75), resultando em
P = R I2 (76)
ou ainda
V2
P = . (77)
R
A aplicação de uma ou outra das duas equações acima depende do problema
especı́fico em consideração.
• Energia Térmica:
– Queima de carvão.
– Queima de óleo combustı́vel.
– Reações nucleares.
60
^
Fio sem resistencia
+
ε − R
I
Figura 37: Circuito com uma resistência
12.1.1 Circuitos
Um circuito é um conjunto de dispositivos, tais como resistores e capacitores
conectados por fios condutores idealmente sem resistência (ou qualquer outra
propriedade que seja caracterı́stica dos elementos do próprio circuito). Na
figura 37, é mostrado o esquema básico de um circuito simples possuindo
somente uma fonte de fem e um resistor. Este esquema pode estar represen-
tando, por exemplo, uma bateria (fem) ligada à uma lâmpada (R).
61
flui do terminal positivo (maior potencial elétrico) para o negativo (menor
potencial elétrico). A diferença de potencial entre os terminais é denominada
voltagem de terminal. A quantidade de corrente que flui, depende dos ou-
tros componentes do circuito da mesma forma que a quantidade de água que
flui em uma rede hidráulica depende da espessura dos encanamentos, etc.
No presente caso, a resistência R vai determinar a corrente I. A corrente é
formada pelo movimento dos elétrons que estão sendo atraidos para o termi-
nal positivo da bateria (lembre-se que a corrente é definida pelo movimento
oposto ao dos elétrons).
Suponha que o mecanismo interno da bateria realize um trabalho dW
para mover uma quantidade dq de carga positiva do terminal negativo para
o positivo. Então a fem da bateria é definida como
dW
E≡ (78)
dq
ou seja, a fem é a energia por unidade de carga que é fornecida pela fonte
de energia. No sistema de unidades MKS, E tem unidade de volt. Algumas
vezes utiliza-se de maneira imprecisa o termo voltagem referindo-se à fem.
No entanto, esta denominação é mais apropriada para se referir à diferença
de potencial entre os terminais da bateria, a qual pode ser diferente de E.
Para determinar quantitativamente a corrente que flui no circuito, consi-
deremos o esquema esboçado na figura 37. Iniciando no ponto a e seguindo
o sentido da corrente I, teremos um aumento de uma quantidade E do po-
tencial ao passar do terminal negativo para o terminal positivo da bateria
(não há variação de potencial ao atravessarmos os fios de resistência nula).
Ao atravessar a resistência R (que estamos supondo ômica), o potencial di-
minui de uma quantidade I R. À esta queda de potencial está associada
uma diminuição da energia potencial das cargas (a energia potencial está
sendo convertida em energia térmica no resistor). Lembrando que o poten-
cial elétrico é derivável de uma força conservativa, o trabalho realizado para
transportar uma carga em um circuito fechado, é zero. Logo, a variação
total de potencial correspondente deve ser também igual a zero. Portanto,
devemos ter
E − I R = 0. (79)
Ou seja,
E
I= (80)
R
62
^
Fio sem resistencia
r
+ R
ε−
I
Figura 38: Resistência interna de uma bateria
63
Observe que podemos medir E diretamente, fazendo com que a corrente
no circuito seja igual a zero. Neste caso, a equação (82) nos dá V = E, onde
V é a diferença de potencial que é medida entre os terminais da bateria.
Para que a corrente I seja igual a zero, podemos tomar uma resistência R
muito grande (o medidor da voltagem V deve ter resistência idealmente igual
a infinito).
12.2 Circuitos RC
A figura 39 mostra dois circuitos possuindo uma bateria produzindo uma
diferença de potencial E (com resistência interna nula), um resistor R, uma
chave S e um capacitor C. Este circuito é denominado circuito RC. Na
primeira figura a chave está aberta e o capacitor descarregado. A segunda
figura representa a configuração do circuito após a chave S ter sido ligada.
Vamos supor que a chave foi ligada no instante de tempo t = 0. Considerando
as variações parciais da energia potencial de uma quantidade de carga dq, em
seu percurso no circuito fechado a → b → c → d → a, e igualando a soma
destas variações a zero, teremos,
64
I =0
S
+
ε −
R
I =/ 0
b c
S
+
ε −
R
− +
a d
C
Figura 39: Circuito RC
dq(t)
I= . (88)
dt
Substituindo a equação acima em (85), teremos
dq(t) q(t)
E −R − = 0. (89)
dt C
Vamos resolver a equação diferencial acima. Primeiramente, observe que
65
esta equação pode ser equivalentemente escrita como
d (q(t) − EC)
−RC − (q(t) − EC) = 0. (90)
dt
Temos portanto uma equação mais simples
dq̄ 1
=− q̄ (91)
dt RC
para a nova variável
q̄ ≡ q − EC. (92)
Reescrevendo a equação (91) como
dq̄ 1
=− dt (93)
q̄ RC
e integrando desde t = 0 até um instante qualquer t,
q̄dq̄ 1 t
Z Z
= − dt0
q̄0 q̄ RC 0
!
q̄ t
ln = − . (94)
q̄0 RC
Portanto,
t
q̄(t) = q̄0 e− RC (95)
Finalmente, usando a equação (92), obtemos o seguinte resultado para a
carga no capacitor em função do tempo
t
q(t) = EC 1 − e− RC . (96)
66
Q
ε−−C
1
0.8
0.6
0.4
0.2
0 1 2 3 4
t
−−
τ
I
−− 1
I0
0.8
0.6
0.4
0.2
0 1 2 3 4
t
−−
τ
Figura 40:
67
13 Décima Terceira Aula
13.1 O campo magnético
A força magnética manifesta-se de maneira bastante evidente em diversas
situações. Assim como a gravitação e a eletrostática, a força magnética pro-
duzida por imãs naturais ou artificiais, é também observada comummente na
escala macroscópica. Na Grécia antiga, já haviam descoberto que pequenos
pedaços de ferro podiam ser atraidos por uma material chamado magnetita
(Fe3 O4 ). Em 1100 A.C. os chineses já haviam utilizado a magnetita para
construir uma bússola. William Gilbert, em 1600, sugeriu que tanto a mag-
netita como a Terra comportam-se como um imã permanente.
O estudo dos fenômenos magnéticos (magnetismo) passou a estar asso-
ciado à eletricidade a partir de 1820, quando Ampère combinou seus ex-
perimentos com os realizados por Örsted para mostrar o aparecimento de
efeitos magnéticos toda vez que cargas elétricas estão em movimento. Por
volta de 1820, Faraday desvendou a relação entre eletricidade e magnetismo.
Finalmente, em 1860 Maxwell realizou a sı́ntese definitiva da eletricidade
e do magnetismo, possibilitando o entendimento da luz e de outras ondas
eletromagnéticas.
68
experimental de fundamental importância no eletromagnetismo.
Da mesma maneira que a interação entre cargas elétricas é descrita em
termos de um campo elétrico, também a interação entre os dipolos magnéticos
é mediada por um campo magnético que propaga-se por todo o espaço. Este
campo é denotado pelo sı́mbolo B. ~ Em geral, semelhantemente ao campo
elétrico, em cada ponto do espaço B ~ aponta em uma direção diferente.
~ associado à um dipolo magnético pode ser mapeado utilizando-
O vetor B
se um dipolo de prova, semelhantemente à carga de prova utilizada para
mapear o campo elétrico. Quando colocamos o dipolo de prova em uma
região onde há campo magnético, ele gira orientando seu eixo N-S na direção
do campo magnético. Assim por exemplo, se quisermos mapear o campo
magnético da Terra, devemos percorrer o espaço a sua volta, munidos de
uma bússola, e observar a orientação N-S da bússola em cada ponto (estamos
considerando uma bússola que possa girar em torno de um único ponto, e
apontar em todas as direções do espaço). Um outro experimento simples
que permite visualizar as linhas de campo magnético consiste em espalhar
pequenos limalhas de ferro (por exemplo, fragmentos de um esponja de aço)
sobre uma folha de papel colocada encima de um imã. Cada pedacinho de
ferro comporta-se como um pequeno imã (uma “bússola”) que será girado
pelo campo magnético. A orientação dos diversos pedaços de ferro nos dá
uma idéia da projeção das linhas do campo B ~ ao longo da superfı́cie plana
do papel. Em regiões onde a densidade de limalhas é maior, o campo B ~ é
mais intenso (maior densidade de linhas de campo). A convenção utilizada
para o sentido de B ~ é tal que as linhas de B~ saem de N e entram em S. A
figura abaixo mostra um esboço das linhas do campo B ~ produzido por um
imã em forma de barra.
69
~ orientado na direção do eixo +y, e
região do espaço onde existe um campo B
uma carga positiva q, suficientemente pequena. Os seguintes fenômenos são
observados:
• F~ é proporcional ao módulo de B.
~
F~B = q~v × B.
~ (99)
FB = q v B senθ. (100)
70
B saindo
B entrando
F~ = q E
~ + ~v × B
~
h i
. (102)
71
F F
I= 0 I I
72
B
Fio
I
dq
I
v
ds
73
onde I é a corrente no fio. O vetor velocidade da carga dq é
d~s
~v = . (104)
dt
Utilizando a equação (99) e as duas equações acima, obtemos para a força
magnética que atua sobre o segmento infinitesimal
!
~ = (Idt) d~s × B
dF~ = dq~v × B ~ . (105)
dt
dF~ = Id~s × B.
~ (106)
~ onde L
Na expressão acima, usamos f io d~s = L,
R
~ é um vetor orientado no
sentido da corrente e possuindo o comprimento L do fio.
74
Fio
B
I
a θ
L’ b
F~Bunif. = I L
~ 0 × B. (110)
Usando a mesma abordagem acima, podemos concluir facilmente que a força
total sobre um fio formando uma curva fechada (espira), imerso em um campo
uniforme, é nula, uma vez que, neste caso, a resultante dos infinitos vetores
d~s é igual a zero.
75
14.2 Torque sobre uma espira de corrente
Uma espira de corrente consiste de um fio rı́gido formando uma curva fe-
chada, por onde flui uma corrente I. Vimos que a força resultante sobre
uma tal configuração de corrente é nula. Veremos agora que, dependendo da
posição relativa da espira e das linhas de campo magnético, pode existir um
torque sobre a espira. Este efeito é fundamental para o funcionamento de
dispositivos tais como motores elétricos e de instrumentos de medida.
Consideremos uma espira rı́gida, em forma retangular, de lado menor a
e lado maior b, por onde flui uma corrente I. Quando aplicamos um campo
magnético uniforme, B, ~ cada um dos quatro lados da espira estará sujeito à
uma força que pode ser calculada utilizando-se a equação (108). A figura 45
mostra uma configuração da espira colocada em um campo aproximadamente
uniforme. A espira está fixa a um eixo passando pelos pontos C − C 0 , não
mostrado na figura. Utilizando a equação (108) para cada um dos quatro
lados da espira, teremos
As forças F~1 e F~3 possuem o mesmo módulo, mas sentidos opostos. O mesmo
é verdade para o par formado por F~2 e F~4 . Isto está de acordo com o resultado
geral, segundo o qual F~1 + F~2 + F~3 + F~4 = 0 para uma espira qualquer num
campo uniforme. No entanto, enquanto o par F~1 -F~3 atua ao longo do mesmo
eixo C − C 0 , F~2 e F~4 atuam sobre eixos diferentes, produzindo um torque que
faz a espira girar no sentido horário, como mostra a figura 44 (b). Quando
o plano da espira coincidir com o plano z − y, o par F~2 -F~4 também estará
atuando ao longo do mesmo eixo e não haverá mais torque.
O vetor torque, ~τ , pode ser facilmente calculado, utilizando-se o resultado
conhecido da mecânica, como
sendo que ~r2 e ~r4 , indicados na parte (c) da figura 44, são vetores perpen-
diculares ao eixo C − C 0 , ambos possuindo comprimentos a/2 e formando
um ângulo ψ com F~2 e F~4 , respectivamente. Assim, os dois termos do lado
direito da equação acima possuem o mesmo sentido +y (entrando na folha
76
z
F4 A
N θ S
B
z F2
y
(b)
x
F4 C’
F3
N 4
3 z
2
S
1
I x
C F1 F2
F4 µ
(a)
ψ
N r4 S
r2
B
ψ
F2
(c)
77
na parte (c) da figura 44). Logo,
~τ = r2 F2 senψ ̂ + r4 F4 senψ ̂
a a
= (IbB) senψ ̂ + (IbB) senψ ̂
2 2
= I ab senψ B ̂. (113)
~τ = µ ~
~ ×B (115)
~
quando imersa em um campo magnético B.
78
• Lei de Faraday. FEM. Campo elétrico produzido por fluxos magnéticos
variáveis no tempo. Geradores e motores. Equações de Maxwell na
forma integral.
Campos Magnéticos
devido à Correntes
16 Lei de Biot-Savart
O campo magnético produzido por um condutor carregado pode ser obtido
~ para o
através da Lei de Biot-Savart. Esta lei afirma que a contribuição dB
campo produzido por um elemento de condutor id~s em um ponto P , a uma
distância r do elemento de corrente, é:
~ = µ0 id~s × ~r
dB
4π r 3
Onde ~r é o vetor que aponta do elemento para o ponto em questão.
A quantidade µ0 , chamada constante de permeabilidade, tem o valor 4π ×
10−7 T · m/A ≈ 1, 26 × 10−6 T · m/A
79
17 Campo Magnético de um Fio Longo
Para um fio longo e reto carregando corrente i, a lei de Biot-Savart fornece,
para o campo magnético a uma distância r a partir do fio:
µ0 i
B=
2πr
20 Lei de Ampere
Para algumas distribuição de correntes, a Lei de Ampere
I
~ · d~s = µ0 iint
B
80
21 Campos de um Solenóide e de um Toróide
Dentro de um solenóide longo carregando corrente i, em pontos afastados
das extremidades, a magnitude do campo magnético B é:
B = µ0 in
Onde n é o número de espiras por unidade de comprimento. Em pontos
dentro de um toróide, a magnitude do campo magnétido é:
µ0 iN 1
B=
2π r
Onde r é a distância do centro do toróide ao ponto em questão.
Indução e Indutância
23 Fluxo Magnético
O fluxo magnético ΦB do campo magnético B é
Z
ΦB = B.dA, (116)
81
24 Lei de Indução de Faraday
Se o fluxo magnético ΦB através de uma área limitada por um loop condutor
fechado muda com o tempo, uma corrente e uma fem são produzidas no loop;
este processo é chamado de indução. A fem induzida é
dΦB
E=− . (Lei de F araday). (118)
dt
Se o loop é substituido por uma espira compacta de N voltas a fem induzida
é
dΦB
E = −N . (119)
dt
25 Lei de Lenz
Uma corrente induzida tem a direção tal que o campo magnético da corrente
se opõe à mudança no campo magnético que produz a corrente.
82
27 Indutores
Um indutor é um artefato utilizado para produzir um campo magnético
com caracterı́sticas bem definidas. Se uma corrente i é estabelecida através
de cada uma das N voltas de um indutor, um fluxo magnético Φ é produzido.
A indutância L de um indutor é
NΦ
L= (indutancia def inida). (122)
i
A unidade SI de indutância é o henry (H), com
1 henry = 1 H = 1 T.m2 /A. (123)
A indutância por unidade de comprimento perto do meio de um solenoide
comprido de seção transversal A e n voltas per unidade de comprimento é
L
= µ 0 n2 A (solenoide). (124)
l
28 Auto-indutância
Se uma corrente i numa espira muda com o tempo, uma fem é induzida na
espira. Esta fem auto-induzida é
di
EL = −L . (125)
dt
A direção de EL é achada da lei de Lenz: a fem auto-induzida atua de modo
a se opor à mudança que a produz.
29 Circuitos RL em série
Se uma fem constante E é introduzida dentro de um circuito de um loop que
contem uma resistência R e uma indutância L, a corrente alcança um valor
de equilı́brio de E/R de acordo com
E
i = (1 − e−t/τL ) (crescimento de corrente). (126)
R
Aqui τL (= L/R) governa a taxa de crescimento da corrente e é chamado
de constante de tempo de indução do circuito. Quando a fonte de fem
constante é removida, a corrente cai a partir do valor i0 segundo
i = i0 e−t/τL (decaimento de corrente). (127)
83
30 Energia Magnética
Se um indutor L leva uma corrente i, o campo magnético do indutor armazena
uma energia dada por
1
UB = Li2 (energia magnetica). (128)
2
Se B é o campo magnético em qualquer ponto (num indutor ou em qualquer
outro lugar), a densidade de energia magnética armazenada em aquele ponto
é
B2
uB = (densidade de energia magnetica). (129)
2µ0
31 Indução Mútua
Se duas espiras (1 e 2) estão perto uma da outra, uma mudança de corrente
em qualquer espira pode induzir uma fem na outra. Esta indução é descrita
por
di1 di2
E2 = −M e E1 = −M , (130)
dt dt
onde M (medida em henries) é a indutância mútua para o arranjo de espiras.
Equações de Maxwell
84
33 Extensão de Maxwell para a Lei de Ampère
~ A lei de
Um campo elétrico cujo fluxo varia induz um campo magnético B.
Maxwell
~ · d~s = µ0 0 dΦE
I
B (Lei da indução de Maxwell) ,
dt
relaciona o campo magnético induzido ao longo de um caminho fechado com
a variação do fluxo de um campo elétrico ΦE através do caminho fechado. A
lei de Ampère I
~ · d~s = µ0 icirc. ,
B
nos dá o campo magnético gerado pela corrente icirc. circundada pelo caminho
fechado de integração. A lei de Maxwell e a lei de Ampère podem então serem
escritas numa única equação:
34 Corrente de Deslocamento
Define-se uma corrente fictı́cia chamada corrente de deslocamento, a qual é
devida à variação do campo elétrico, como
dΦE
id = 0 .
dt
A equação (131) torna-se
I
~ · d~s = µ0 id,circ + µ0 icirc (Lei de Ampère-Maxwell) ,
B
85
35 Equações de Maxwell
As equações de Maxwell, mostradas na tabela abaixo, resumem o eletromag-
netismo e constituem os fundamentos deste.
IV Lei de Ampère-Maxwell
H
~ · d~s = µ0 0
B dΦE
+ µ0 i
dt
Referências
[1] R. P Feynman, R. B. Leighton e M. Sands, Lectures on Physics, vol I,
Addison-Wesley Publishing Company (1977).
[3] R. P Feynman, The Character of Physical Law, The M.I.T Press (1986).
[6] E. R. Willians, J. E. Falter e H. A. Hill, Phys. Rev. Lett 26, 721 (1971).
86