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Visão de mundo Positivista x Visão de mundo Dialética

Profª Lenir Viscovini


Sociologia/Antropologia

Características do pensamento/concepção positivista:

- O positivismo surge no século XIX (pós-revoluções burguesas).


- Há para o positivismo uma ordem imutável na natureza e o conhecimento a reflete.
- Principais autores positivistas: Saint-Simon, Augusto Comte, e Émile Durkheim.
- Daremos ênfase aqui naquele que é considerado o fundador da sociologia: Auguste
Comte.
- Comte expressa o pensamento burguês daquele período. O autor toma partido da
parcela mais conservadora da burguesia francesa que defendia um regime ditatorial,
não parlamentarista para impedir qualquer mudança na ordem burguesa
estabelecida.
- Neste sentido, devemos entender que o positivismo será expressão da nova ordem
social burguesa.

Mas, para o que nos interessa: como o positivismo vai conceber o conhecimento
científico?

- Vejamos que para os positivistas a história percorre um caminho que é


predeterminado, como sendo um conjunto de fases imóveis (sem movimento
algum), guiadas por dois princípios básicos: A ORDEM e o PROGRESSO.
1) Ordem: as transformações da história devem ser dentro da ordem e pela ordem.
2) Progresso: transformações na história levam a melhoramentos lineares e
cumulativos.

- Nesta visão cabe ao homem o papel de resignação; é preciso esperar a ordem natural
das coisas. “O progresso constitui, como a ordem, uma das duas condições
fundamentais da civilização moderna”. (Comte).

Esses dois princípios de ordem e progresso permeiam não apenas a visão de


história e sociedade mas também a concepção de ciência.
Conhecimento é: real, útil, preciso, certo e positivo.

- O fundamento da ciência está para os positivistas nos FATOS. Para eles o


conhecimento científico é real porque parte do real/parte dos fatos tal como são.
(fotografo o fato).
- A base metodológica de explicação da realidade é o fato (Fatos em si mesmos). Não
se trata obviamente da mera acumulação de fatos – uma vez que isso não levaria ao
conhecimento científico; isso seria empirismo.
Só há conhecimento científico quando e porque o homem relaciona os fatos acumulados
a hipóteses por meio do raciocínio. Através da observação que permite relacionar os
fatos; Relaciona-los para que se estabeleçam as leis gerais e invariáveis.

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- Essas relações excluem tentativas de descobrir a origem, ou uma causa subjacente
dos fenômenos e são na verdade descrição das leis que as regem.

Esquema: OBSERVAR OS FATOS + RELACIONAR OS FATOS ESTABELECIDOS


PELO RACIOCÍNIO + DESCRIÇÃO DAS LEIS QUE REGEM OS FENÔMENOS.

O que se quer:

“Apreciação sistemática daquilo que é, renunciando a descobrir sua primeira


origem e seu destino final” (Comte).
O conhecimento científico para explicar os fenômenos sociais seria
constituído por um conjunto de leis – como na física/na química, etc...

- Para os positivistas o pensamento positivo se opõe ao negativo (à crítica), porque


busca organizar, não destruir. Isso porque a natureza para os positivistas é composta
por fenômenos ordenados de forma imutável e inexorável e cabe à ciência, apenas
apreender e descrever tal ordem.
Negam a indeterminação ou acaso em qualquer fenômeno da natureza. O Homem
interfere pouco na natureza rigidamente ordenada das coisas.

Importante lembrar que:


O método positivista foi pensado como válido para todas as ciências, inclusive e
principalmente para a sociologia. Desta forma, vejamos que: assim como ocorre com as
outras ciências que se ocupam de fatos que são regidos por leis naturais e imutáveis,
também a sociedade é vista pelos positivistas como governada por leis imutáveis,
independentes da vontade dos homens ou do coletivo.

- O progresso está subordinado à ordem: a família, a propriedade, a religião, a


linguagem, a relação de poder não se alteram, são definitivas; o que ocorre é o
aperfeiçoamento destas coisas, não a mudança. A dinâmica está submetida à
estática. Estruturas são perenes e imutáveis. Os positivistas são defensores do poder
estabelecido, e críticos de qualquer tentativa de mudança do poder estabelecido:
ordem, progresso, harmonia social, leis imutáveis, regem a sociedade.

Características do pensamento/concepção dialética:

Surge no século XIX com Karl Marx e Frederic Engels, inspirados na visão
dialética de Hegel (a idéia de Hegel era idealista, os autores (Marx/Engels) a trazem para o
plano material).
Para os dialéticos: “toda ciência seria supérflua, se a forma de manifestação e a
essência das coisas coincidissem imediatamente”. (Marx)
Para o pensamento científico baseado na dialética a história se dá por meio de
contradições, antagonismos e conflitos. A transformação não é nunca linear, espontânea,
harmônica, não é dada de fora da própria sociedade; é conseqüência de contradições criadas
dentro dela, junto das ações concretas dos homens...
“O homem é um ser social e histórico (cultural), e o que leva esse homem a
transformar a natureza e a si mesmo neste processo, é a satisfação de suas necessidades”.

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(Marx) A natureza humana não é pronta, imutável e nem resultado de algo exterior ao
próprio homem.
A compreensão da gênese dos fenômenos deve partir da concepção de que nada,
nenhuma relação, fenômeno ou idéia tem o caráter imutável – Tudo muda o tempo todo; há
um movimento contínuo marcado por contradições.
“Qualquer fenômeno, objeto do conhecimento é constituído de elementos que
encerram movimentos contraditórios, elementos e movimentos que levam necessariamente
a uma solução, um novo fenômeno, uma síntese.” (Marx) Essa síntese não é uma solução
definitiva; não significa que cessam as contradições/movimento; é apenas a solução de uma
contradição, solução que já contém uma nova contradição. Ex: A semente precisa
morrer/ser negada, para nascer o trigo; esse precisa morrer/ser negado, para nascer o pão.

TESE + ANTÍTESE + SÍNTESE

Comparação Dialética x Positivismo:

Para a visão dialética, as relações que carregam contradições e que imprimem


movimentos dos fenômenos são constituídas por relações que estão contidas em outras
relações mais gerais e que são determinantes na constituição dos fenômenos; Idéia de
totalidade. Estes não existem, como consideram os positivistas, per se, ou isolados, ou
ainda unidos por relações unilaterais.
Não é a ação isolada de variáveis que determina um fenômeno, nem o somatório de
um conjunto de variáveis isoladas quaisquer que o determina. Os fenômenos, constituem-
se, fundam-se e transformam-se, a partir de múltiplas determinações que lhes são essenciais
– tais determinações são constitutivas do fenômeno, fazem parte dele e de outras relações;
qualquer fenômeno faz parte de uma totalidade – forma um todo. Ex. questão da gravidez
na adolescência, aborto, violência urbana, luta no campo, etc... não posso pensar um
fenômeno, sem considerar o todo; sem considerar o contexto (econômico, político, social e
cultural) do qual faz parte.
As coisas constituem-se de contradições e antagonismos, movimento e
transformação constante, existem em contínua relação e inter-relação com outros
fenômenos; constituindo-se e constituindo as totalidades. Neste sentido, compreender os
fenômenos não é tarefa fácil, não basta apenas observar, descrever e comparar, é preciso
fazer a distinção entre aparência e essência.

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