Professional Documents
Culture Documents
Aplicação e disciplina
De acordo com Rinchen, enquanto a prática da generosidade, da disciplina
ética e da paciência é direcionada ao benefício dos outros, a concentração e a
sabedoria são importantes para o desenvolvimento pessoal. Já o esforço
entusiástico é necessário em ambos os casos.
1. Generosidade
Uma das principais práticas da filosofia budista é também sinônimo de doação.
Mais do que abrir mão dos bens materiais e de consumo, ela implica
disposição para dar algo ao outro de maneira espontânea e de boa vontade.
2. Disciplina ética
Formado pela junção de duas qualidades igualmente importantes e profundas,
esse preceito se manifesta de três maneiras diferentes: a coibição do mal, a
criação da virtude e o trabalho voluntário pelo próximo.
Para o budismo, o mal se expressa por meio de toda atitude física e verbal que
possa prejudicar os outros e a nós mesmos. Por isso, um dos papéis da
disciplina ética é justamente evitar a impulsividade, o arrependimento e levar à
consciência plena das palavras e dos atos diários.
3. Paciência
Mais do que a simples calma, a paciência representa a capacidade de
permanecer com a mente serena em qualquer situação, aceitando
voluntariamente as adversidades e confiando que, aconteça o que acontecer,
será para seu bem. Ela seria, em linhas gerais, uma compilação da tolerância,
da resignação e da fé. Mas é preciso, entretanto, diferenciar a paciência da
supressão da raiva, alerta Rinchen. “Quando a raiva simplesmente submerge,
persiste como ressentimento, e a paz e a harmonia não são possíveis
enquanto houver mágoa”, diz. A paciência seria então o contrário da raiva, a
possibilidade de perceber as dificuldades e defeitos dos outros e de
compreendê-los, sem julgar, criticar ou condenar. Algo que não é fácil, é claro,
mas que pode ser conquistado pouco a pouco. Outro alicerce dessa virtude é a
esperança. “Assim como o dia é seguido pela noite e a noite pelo dia, bons e
maus períodos se sucedem. Quando houver maus períodos, tome coragem e
pense que o sofrimento não durará para sempre”, sugere.
4. Sabedoria
Raiz de todas as qualidades, essa é uma virtude importante para a prática de
todas as outras. Sem ela, a generosidade, a disciplina ética, a paciência, o
esforço entusiástico e a concentração se tornam cegos. Para Rinchen, é ela
que faz com que cada virtude se torne mais forte.
Até mesmo para ser generoso, é preciso ser sábio, dizem os especialistas. “O
inferno está cheio de boas intenções, por isso é importante sabermos quem e
como ajudar para não acabarmos prejudicando quem recebe”, explica Enio
Burgos, fundador da Associação Meditar, em São Paulo. O simples ato de dar
dinheiro a uma criança de rua, por exemplo, pode parecer uma boa ação, mas
corre o risco de contribuir para o mal, caso ele seja usado para a compra de
drogas. Essa visão mais abrangente das causas e consequências de nossos
atos é a sabedoria, virtude que pode ser adquirida com estudo, observação da
realidade e fortalecimento de um olhar mais profundo sobre a existência
humana.
5. Concentração
Você tem o hábito de fazer mil coisas ao mesmo tempo e de estar sempre
preocupada com problemas que ainda não aconteceram? Para o budismo,
esse comportamento demonstra que sua mente não está tranquila, pois foi
dominada pelo medo e pela ansiedade, emoções contrárias à felicidade. A
melhor maneira de combater esses sentimentos, diz Rinchen, é se esforçar
para manter a atenção no aqui e agora, vivenciando cada momento por vez,
com total concentração, sem perder o foco, haja o que houver. “Precisamos
estar mais presentes em cada ato de nossa vida”, afirma o escritor Enio
Burgos. “Vejo pais tão apressados ao buscarem os filhos na escola que mal
esperam a criança entrar no carro para acelerar. Sabemos que todos têm uma
vida corrida, mas, se não temos tempo em quantidade, que possamos dar pelo
menos qualidade às pessoas que convivem conosco.”