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QUATRO Florianópolis, novembro de 2009

Universidade Federal de Santa Catarina


Curso de Jornalismo
Jornal Laboratório da disciplina Redação IV
Distribuição gratuita
Supervisão: Rogério Christofoletti

Trânsito ruim exige plano Meio Ambiente


Casan tem projeto

de mobilidade para capital


polêmico para
esgoto da Ilha
Dois emissários submarinos devem
Segundo especialistas, obras viárias não resolvem problema lançar no oceano os dejetos produ-
zidos pela população. As obras em
andamento são apontadas pela com-

Erich Casagrande
panhia de saneamento como a me-
Foto: Corbis.com

lhor saída. Proposta é contestada por


ambientalistas. 3>>

Tecnologia
Policiamento da
web preserva
e viola direitos
Internet monitorada fica entre com-
bate aos cibercrimes e a invasão de
privacidade dos dados. Técnicos e
sistemas acompanham o tráfego de
informações e preservam a seguran-
ça das redes. Monitoramento desa-
grada alguns usuários. 6>>

Política e Economia
Difícil de sair, difícil de chegar.
Caos urbano é resultado FAB cadastra
de dois veículos para cada
três habitantes, proporção passageiros para
semelhante a de grandes caronas aéreas
centros, como São Paulo. 16>>
Investimento no transporte
Posto do Correio Aéreo Nacional
público seria solução. Centrais>> seleciona quem deseja viajar até ci-
dades destino durante missões. Mi-
litares têm preferência de embarque,
Saúde
Peri Carvalho

e todos os interessados devem estar


Cultura de malas prontas, já que são avisa-
Fila Zero não Quase 2 milhões dos horas antes do voo. 11>>
reduz espera de pessoas Comportamento
por córneas viajam pela fé A técnica de
Programa do governo do estado ain- Turismo religioso é responsável desligar a alma
da não conseguiu normalizar o flu- por boa parte dos deslocamentos
xo entre doadores e pacientes. Para realizados dentro do país e mo- do corpo físico
o coordenador da SC Transplantes, vimenta a economia das regiões
Joel de Andrade, para o Fila Zero onde se encontram santuários e
Pessoas que experimentam uma
funcionar, é preciso organizar mode- templos. No Brasil, muitos são
saída do corpo entendem melhor a
los de gestão do projeto. De janeiro os destinos dos fiéis, com des-
vida. O fenômeno não tem relação
a setembro deste ano, foram feitos, taque para Aparecida, onde está
com nenhuma religião, mas a maio-
em Santa Catarina, 614 transplantes o Santuário de Nossa Senhora
ria das histórias descreve momentos
de órgãos e tecidos, a maioria em Aparecida; Juazeiro do Norte,
de paz intensa, e o resultado é positi-
Blumenau. No estado, são quinze terra de Padre Cícero, e Nova
vo. O fenômeno intriga a medicina,
hospitais e ambulatórios credencia- Trento, onde está localizado o
que estuda a atividade cerebral para
dos para a captação, distribuição e Santuário Santa Paulina. 17>>
transplante. 21>>
tentar explicá-lo. 16>>
2 Quatro DA REDAÇÃO Florianópolis, novembro de 2009

EDITORIAL

Fotos: Erich Casagrande


Transitar é o nosso verbo

O
QUATRO che- cia, um dos principais problemas
ga mais uma vez das grandes cidades é o trânsito.
aos seus leitores Ruas entupidas de veículos, trans-
com novidades. porte coletivo ineficiente, barulho,
O jornal-labora- poluição, falta de planejamento e
tório semestral alcança a sua inchaço populacional. Os proble-
quarta edição e se consolida mas no trânsito afetam a todos,
como uma iniciativa do curso pois todas as pessoas se deslo-
de Jornalismo da Universidade cam de uma maneira ou outra.
Federal de Santa Catarina. O ser humano não para. Viaja,
A consolidação não se dá apenas emigra, transita, erra. Ir e vir é
porque vem sendo produzido um dos direitos mais conheci-
ininterruptamente desde o início dos, e a problemática do trânsito
Equipe do Quatro suando a camisa para cumprir dead line, diagramadores e editores em destaque
de 2008, mas porque o jornal foi é um tema que rende muito para

Como fizemos esta edição


bem recebido por seu público e o jornalismo. Pensando nisso, a
se converteu numa proveitosa equipe do QUATRO escolheu o
experiência pedagógica da “trânsito” como ponto de partida
disciplina de Redação IV. Desde o desta edição. Na verdade, radica-
seu surgimento, o QUATRO teve lizamos o conceito, estendendo o
equipes diferentes, professores entendimento para além do tráfe-
Rogério Christofoletti
responsáveis distintos, mas um go urbano. Assim, repórteres e

O
mesmo compromisso: servir à editores produziram pautas que
experimentação no jornalismo, cercassem os muitos sentidos de jornalismo é uma
lançando mão de reportagens com “trânsito”: direção, movimento, atividade essen-
temáticas originais e textos bem deslocamento, viagens, trajetó- cialmente coletiva.
escritos. rias. Por isso, uma das
A consolidação do jornal se dá Nossa reportagem conferiu os condições para
ainda pela institucionalização de caminhos percorridos pelo esgoto, se fazer um bom jornal é contar
alguns procedimentos internos. pelo lixo reciclado e pelo sangue com uma equipe afinada, dedicada
Neste semestre, os jovens jorna- após a doação; entrevistou perso- e competente. Esta edição do
listas não só assumiram a produ- nagens que vivem nas ruas e que QUATRO só foi possível graças à
ção da edição, perambulam em soma dessas qualidades. O time de
mas também busca de atendi- jovens jornalistas discutiu, brigou
discutiram e Pautas com mento médico; e encontrou soluções para os muitos
decidiram um conferiu como desafios que se apresentaram.
conjunto de vários sentidos de se dá o tráfego Repórteres e editores avançaram nas
documentos trânsito: direção, de dados na in- madrugadas trabalhando em seus
de suporte à ternet, como fun- textos, enquanto que diagramadores,
publicação. A movimento, cionam os GPSs, tratadores de imagem, ilustradores
partir de ago- viagens, caminhos como aconte- e revisores ignoraram sábados e
ra, o QUATRO cem as viagens domingos para fechar suas páginas.
tem linha edi- astrais. A equipe A qualidade do produto, bem, essa
torial bem definida, manual do QUATRO descobriu como pode ser conferida ao longo de toda
de redação, guia de diagramação se pode pegar caronas aéreas, a edição.
e plano de distribuição. Esses do- quais os caminhos que um proje- Das pautas à impressão, foram
cumentos são resultados da inteli- to percorre antes de se tornar lei. cinco semanas de envolvimento
gência e sensibilidade dos alunos, Nossos repórteres contam ainda da enxuta equipe. Apenas quinze
e ajudam a formatar um Projeto as aventuras de uma banda de alunos do quarto período de
Editorial para o QUATRO. rock na estrada, mostram os per- Jornalismo se ocuparam de todas
As próximas equipes do jornal calços de cadeirantes nas ruas as etapas de elaboração do jornal.
devem seguir as linhas estabele- brasileiras, e os problemas viá- Não é pouca coisa se lembrarmos
cidas, fazendo ajustes conjuntu- rios que tornam Florianópolis a que essa era a primeira vez que
rais quando necessários. Mas a segunda pior cidade em mobili- assumiam integralmente um desafio
definição do que o jornal cobre, dade no mundo. desse porte.
como se posiciona, que formato Nas páginas a seguir, os leito- No fechamento, a pressão foi
assume, e como chega aos seus res têm acesso às reportagens e a maior porque o professor não deu
leitores é uma etapa que extra- trechos dos bastidores de cada moleza. Os alunos se queixaram,
pola o purismo ou a burocracia. matéria, que estão na íntegra suaram, mas venceram. Sinal de
Esses documentos sinalizam em nosso blog (http://blogdo4. que responderam bem. Daqui a
uma maturidade precoce para a wordpress.com). Tudo para que pouco, as lembranças serão menos
publicação. Boa notícia não só você se mexa, se movimente, traumáticas. Os jovens jornalistas
para quem faz o QUATRO, mas faça do trânsito que apresenta- vão olhar pra trás e se recordar com
para quem o lê. Por falar em notí- mos aqui a sua melhor viagem. orgulho de sua primeira edição.

4 Expediente Editor-chefe e professor responsável: Rogério Christofoletti, Revisão: Berenice dos Santos, Claudia Xavier e Daniela
Mtb 25041 (SP) Bidone.
Monitora: Marina Ferraz Diagramação: Alex Sobral, Diego Cardoso, João Schmitz,
Nayara D’Alama, Rosielle Machado e Suélen Ramos.
Ano II – Nº 4 – Novembro/2009 Editores: Berenice dos Santos, Daniela Bidone, João Schmitz, Fotografia, Infográficos e Ilustrações: Alex Sobral, Diego
Jornal-laboratório da disciplina Redação IV Nayara D’Alama e Rosielle Machado. Cardoso, Erich Casagrande, Ketryn Suzanny Alves e Tomás
Curso de Jornalismo - UFSC Petersen.
Universidade Federal de Santa Catarina Repórteres: Alex Sobral, Berenice dos Santos, Claudia Mebs, Circulação: Claudia Mebs, Diego Vieira e João Schmitz.
Campus Universitário - Trindade Claudia Xavier, Daniela Bidone, Diego Cardoso, Diego Fotolito e Impressão: Diário Catarinense
Florianópolis – SC Vieira, Erich Casagrande, João Schmitz, Nayara D’Alama, Tiragem: 1.500 exemplares
CEP: 88040-900 Roberta Perini, Rosielle Machado, Suélen Ramos, Thiago Blog: http://blogdo4.wordpress.com
Telefone: (48) 3721-9215 Verney e Tomás Petersen. E-mail: jornalquatro@gmail.com
Florianópolis, novembro de 2009 MEIO AMBIENTE Quatro 3

Você sabe aonde vai o seu esgoto?


Emissários submarinos levam para longe dejetos produzidos nas cidades. Mas solução é contestada
Santa Catarina (FATMA). também a segunda etapa do pro-

Arte Quatro
E
Alex Sobral
Novos sistemas de esgoto O emissário de esgoto do
norte da Ilha deve sair de Ju-
cessamento.
O melhor exemplo de trata-
m Santa Catarina, rerê, passando por Canasviei- mento, segundo Hoff, vem da ci-
apenas 9,95% da ras até o bairro dos Ingleses, dade de Los Angeles, nos Estados
população possui Norte da ilha onde está a estação de trata- Unidos, onde o esgoto recebe tra-
Extensão: 3,5 Km
tratamento de esgo- mento, já construída desde tamento terciário tão eficiente que,
Custo: Indefinido
to, segundo a Asso- População atendida: 90 mil
março de 2008. Após rece- em vez de ir para o mar é jogado
ciação de Engenharia Sanitária e Situação: Em março de 2008, ber tratamento secundário, o diretamente no lençol freático para
Ambiental (Abes). A situação é tão foram concluídos a ETE e esgoto será lançado então a que volte a ser consumido. Para a
grave que o estado apresenta o se- 4 Km do emissário. três quilômetros e meio da biogeoquímica marinha, Alessan-
gundo pior índice em cobertura de Foi entregue em outubro o praia, através da tubulação. dra Larissa Fonseca, o tratamento
saneamento do país, à frente ape- estudo de impacto ambiental Hoje, os dejetos são despe- primário causa alterações quími-
nas do Piauí. Em Florianópolis, com as alterações exigidas jados no que ainda resta do cas, biológicas e físicas onde é
segundo a Companhia Catarinense pela FATMA. Está marcada Rio Capivari, e o emissário despejado, causando a chamada
uma audiência pública para 18
de Águas e Saneamento (Casan), beneficiará, inicialmente, “zona morta”. “Na Baixada San-
de dezembro. Falta licitação,
só 58% da população recebe aten- conseguir os recursos de obra
90 mil pessoas, evitando que tista, coletamos amostra da água
dimento do sistema de coleta e tra- e obter aprovação do relatório esse esgoto chegue ao rio. de mais de 200 quilômetros da
tamento de esgoto. O restante dos de impacto ambiental Para que o projeto saia costa do estado de São Paulo, e
dejetos vai parar nos mananciais e do papel é necessário que a encontramos uma diferença muito
diretamente no mar, sem nenhum Casan consiga os recursos. grande no número de vida marinha
tratamento. Para resolver esta si- Atualmente, só está garantida em relação a áreas sem emissário.
Sul da ilha
tuação, a Casan pretende construir Extensão: 4,8 Km
a verba para a construção do Algumas espécies são diretamente
dois emissários submarinos, um no Custo: R$40,7 milhões sistema no sul da Ilha, e a es- afetadas pela mudança no habitat,
norte da Ilha, na praia dos Ingle- População atendida: 25 mil timativa é de que sejam gastos as tainhas já não entram na baía”.
ses, e outro na porção sul, entre as Situação: Embora os recursos R$5 milhões. Falta ainda que Além do questionamento so-
praias do Campeche e Joaquina. para a contrução do sistema a FATMA aprove o relatório bre os impactos ambientais, há
Emissários são sistemas de tu- já estejam garantidos através de impacto ambiental que, no discussão sobre a necessidade do
bulações construídos para levar do PAC, ainda falta a Casan início de novembro, foi apre- emissário. O jornalista Jeffrey
até o fundo do mar o esgoto de- entregar o relatório de impacto sentado pela segunda vez para Hoff acha que a Casan está indo
ambiental para ser analisado
pois de passar por uma estação análise dos técnicos do órgão. na contramão da história ao inves-
pelo FATMA. Já começou a
de tratamento. No Brasil, existem construção da ETE do Cam-
Discute-se também se os tir em emissários submarinos. “A
cerca de 20 emissários, dos quais peche, depois de paralisada emissários são a melhor solu- Flórida, nos Estados Unidos, apro-
dois estão em Florianópolis. O em julho por falta de licença ção para Florianópolis, já que vou lei que desativa os emissários,
primeiro, localizado na cabeceira ambiental. despejarão até 330 litros de Nova Iorque também. A questão é
da Ponte Pedro Ivo, foi constru- esgoto por segundo no mar. que temos opções técnicas que não
ído em 1997, tem 600 metros de Especialistas temem pelos estão sendo usadas”. O gerente de
extensão e despeja 230 litros de danos ambientais causados construções da Casan, Fábio Krie-
esgoto por segundo na Baía Sul. pelo tratamento dado aos dejetos. ger, afirma que os emissários fo-
O segundo emissário submarino, tou os moradores, maricultores e Antonio de Lisboa, passará pelos “O esgoto já causou problemas em ram a única saída. “O lançamento
inaugurado há dois anos no bair- lideranças comunitárias, que viam bairros João Paulo, Saco Grande, vários lugares do mundo. É cíni- do esgoto na baía seria a outra op-
ro do Saco Grande, tem 800 me- o projeto como prejudicial ao meio Centro, Ribeirão da Ilha e levará o co defender o tratamento primário ção, mas na Ilha os efluentes não
tros de comprimento e descarrega ambiente e à produção econômica material bruto até a Estação de Tra- para um emissário”, afirma o jorna- podem ser lançados nos rios”.
cem litros por segundo de esgoto de mariscos e frutos do mar. Algu- tamento de Esgoto do Campeche, às lista norte-americano, Jeffrey Hoff,

4
na Baía Norte. Ambos emissários mas comunidades da região, como margens da rodovia SC 405. Antes que reside na capital e faz parte do A Casan dificultou ao má-
dão tratamento primário aos de- Ribeirão da Ilha e Pântano do Sul, de ser despejado pelo emissário a 4 Movimento Urbano de Saneamen- ximo a comunicação com
jetos, que é a retirada apenas dos que preservam os típicos costumes quilômetros e meio da praia, o es- to Básico. O presidente da Casan, a única pessoa que tinha
componentes só- açorianos, têm goto receberá tratamento secundá- Walmor de Luca, chegou a defen- os dados do projeto de
lidos. A proposta suas economias rio, que extrairá maior quantidade der o tratamento primário para o construção do emissário, o geren-
de construção des- Quando prontas, baseadas na de coliformes fecais da água através esgoto, mas a Fundação do Meio te de construções.
ses sistemas tem pesca e no arte- de um reator anaeróbico, seguido Ambiente exigiu que fosse feita Bastidores em http://migre.me/bg9s
causado polêmica tubulações devem sanato. de um filtro biológico e desinfecção
entre associações despejar até 330 Após muita por ultravioleta. Com esse novo
de moradores e pressão e os re- tratamento, o custo total aumentou Do banheiro ao mar aberto
ambientalistas, e litros por segundo sultados de es- para R$40,7 milhões, recursos vin-
já sofreu algu- de dejetos no mar tudos ambien- dos do Programa de Aceleração do O tratamento que envolve o esgoto de um emissário submarino
é longo e quando é despejado no mar já perdeu mais de 90% da
mas modificações tais feitos pela Crescimento (PAC).
desde agosto des- Universidade Em julho deste ano, mais sur- sujeira. Na Estação ocorre a primeira etapa: o esgoto passa por
te ano, quando os planos foram do Vale do Itajaí (Univali), o pro- presas na obra do Campeche. A grades que retêm garrafas, pedaços de madeira e objetos grandes.
anunciados pelo presidente da Ca- jeto foi alterado. Pesquisas reve- procuradora da República, Ana Depois, um conjunto de peneiras remove resíduos finos e só pas-
san, Walmor de Luca. laram que o mar tem maior poder Lúcia Hartmann, mandou parali- sam coisas menores que 1,5 milímetro. Por último, caixas de areia
O projeto inicial era construir de autodepuração que as baías, e sar a construção alegando que a filtram substâncias como óleos e graxas.
12 pequenos emissários submari- com um número menor de emis- estação está apenas a 500 metros O material em tratamento ainda recebe aplicações de cloro, que
nos em toda a Ilha de Santa Catari- sários o controle ambiental teria da Reserva Extrativista Marinha eliminam até 99% dos coliformes fecais, altamente prejudiciais à
na, que teriam tratamento primário mais eficiência, com maior fisca- do Pirajubaé, área de preservação saúde humana.
e despejariam os dejetos tratados lização sobre a disposição final do permanente. A Casan recorreu à Através da tubulação do emissário submarino, o esgoto tratado
no mar. No sul da Ilha, a propos- esgoto. Além de um custo menor. Justiça Federal, que decidiu a seu segue por baixo da terra até chegar à praia. Os tubos são fixados
ta previa que a Estação de Trata- Agora, serão construídos apenas favor: a construção estaria apenas no fundo do oceano e se estendem por quilômetros em direção ao
mento de Esgoto (ETE), que está dois emissários submarinos, cada no entorno da reserva. Hoje, a obra alto mar. Alguns emissários são parcialmente aterrados e servem
sendo construída no Campeche, um deles ligados a um sistema de está 30% concluída e a Casan pre- como área de lazer. Os emissários têm comprimentos variados. Na
despejasse o resultado do proces- esgoto. para o Relatório de Impacto Am- Flórida, por exemplo, ele segue por sete quilômetros mar adentro,
samento no Rio Tavares, que desá- Conforme os planos, o primei- biental (Rima) para apresentar à enquanto o emissário que fica ao lado da Ponte Pedro Ivo, na Baía
gua na Baía Sul. Essa ideia revol- ro sistema começará em Santo Fundação do Meio Ambiente de Sul, tem apenas 600 metros.
4 Quatro MEIO AMBIENTE Florianópolis, novembro de 2009

Estrada para preservação ambiental


Departamento de Engenharia Civil da UFSC desenvolve soluções para tornar rodovias ecológicas

o reaproveitamento de resíduos
Tecnologia aplicada à pavimentação:

Arte Quatro
Tomás M. Petersen industriais até o uso de nanotec-

D
Um barril de petróleo
nologia nas camadas do pavimen- tem 159 litros. Desta
esde 1986, toda to. “As propostas servem para as quantidade, de 10% a 15%
O asfalto feito com A 100km/h, o corresponde ao resíduo
construção de ro- obras irem além do que o Ibama pneu emite 70%
dovias no Brasil solicita, e proporcionar uma rodo- borracha suporta utilizado para fazer o
140kg/m³, enquanto do ruído de um ligante da camada de
deve ser autoriza- via sustentável em quase todos os carro, contra
o normal suporta asfalto. Ao acrescentar
da pelo Instituto seus aspectos”, explica Trichês. 80kg/m³ 12% do motor, borracha triturada de pneus
Brasileiro do Meio Ambiente e Um dos principais problemas escapamento e velhos, a mistura fica mais
dos Recursos Naturais Renováveis na produção do asfalto é a emis- transmissão resistente à fadiga
(Ibama). O projeto deve contem- são de grande quantidade de gás
plar estudos e levantamentos que carbônico (CO2) à atmosfera, ge-
Mistura Asfáltica: Composta basicamente de material britado e resíduo de petróleo derretido
prevejam possíveis danos ambien- rada pela alta temperatura usada
tais, e suas respectivas medidas no derretimento de um dos com-
Base: Por receber muito impacto, precisa ser resistente. Aqui, o cimento
compensatórias. Segundo o De- ponentes da camada asfáltica. A
partamento Nacional de Infraes- liga asfáltica, derivada do petróleo
pode ser enriquecido com as cinzas da casca de arroz
trutura de Transportes (DNIT), e utilizada para agregar o material
a malha rodoviária do país tem britado, é fundida à temperatura de Sub-base: Cimento de qualidade menor, pois essa camada não
1,7 milhão de quilômetros, dos 170 ºC. Até o final deste ano, obras recebe muito impacto
quais aproximadamente 210 mil do Governo Federal pretendem
estão pavimentados. produzir 11 mil quilômetros de
Para alcançar a condição de Ro- asfalto, o que gerará 270 mil tone- Camada final: Composta de terra, argila, pedras e material de aterro.
dovia Verde deve-se levar em con- ladas de CO2. Uma das propostas Recebe terraplanagem
sideração conceitos e tecnologias do professor Trichês é acrescentar
sustentáveis e de responsabilidade o mineral zeólito, que possui água
socioambiental desde o projeto até em sua composição, para reduzir
a construção, operação e manuten- a temperatura em 30% e diminuir
ção. Atualmente no Brasil, cinco para 28 mil toneladas a quantidade
mil quilômetros de estradas têm do gás produzido. Nesta etapa, o motoristas. Na verdade, bem em- é de 18 centímetros, enquanto com que o som se dissipe, reduzindo
essas características aplicadas, co- resfriamento também causaria a baixo do próprio veículo. Depois o asfalto-borracha pode-se fazer em até cinco decibéis o ruído do
locando o país no redução de oito de rodarem as estradas, os pneus uma camada com 12 centímetros. tráfego. A superfície porosa tam-
topo das pesqui- para 5,5 litros também podem se tornar parte Uma vantagem em longo prazo é o bém diminui o acúmulo de água,
sas na área, jun- de óleo diesel delas. Uma das técnicas desen- fato de o material feito com pneus e consequentemente, pode evitar
tamente com os Deve-se pensar queimados na volvidas pela equipe do professor ter uma maior durabilidade, tanto acidentes por derrapagens em dias
Estados Unidos. sustentavelmente produção de Trichês é triturar pneus velhos e que “as construtoras já utilizam de chuva.
Rodovias como a um metro cú- transformá-los em pó. Em segui- esse processo”, explica Trichês. Economicamente inviável no
BR-290 (que in- desde o projeto até bico de asfal- da, o produto é acrescentado à A camada de revestimento Brasil, a aplicação de nanopar-
terliga a Grande a construção das to. Ao reduzir mistura asfáltica e a torna mais re- pode agregar outras tecnologias. tículas de óxido de titânio na su-
Porto Alegre ao a emissão de sistente à fadiga, efeito de deterio- Ao produzir um pavimento mais perfície das rodovias pode ajudar
litoral gaúcho), o Rodovias Verdes gases do efeito ração causado pelo constante fluxo poroso, economiza-se material a reduzir a emissão de gases do
sistema Anchieta- estufa, recebe- de veículos. Em curto prazo, este britado, extraído de pedreiras, e efeito estufa. Bastante aplicada
Imigrantes, (que leva da capital se um certificado de créditos de procedimento deixa a mistura 30% reduz-se o ruído do deslocamen- no Japão, em pavimentação de
paulista à Baixada Santista) e a carbono, que podem ser nego- mais cara. Porém, é utilizado me- to dos veículos – a maior parte é calçadas e pinturas de paredes, es-
Rodovia do Sol, no Espírito Santo ciados no mercado internacional. nos material na produção de estra- gerada pelo atrito do pneu com o sas partículas têm a capacidade de
(que liga Vitória a Guarapari) são Cada crédito equivale a uma tone- das: a espessura do asfalto normal solo. Esse tipo de textura permite reter gases nitrosos. Com a chuva,
exemplos de rodovias verdes. lada de gás carbônico, que custa esses elementos químicos (que
Estradas ecológicas não são atualmente 19 euros. não são poluentes) são “lavados”
aquelas que cruzam florestas, par- Outra alternativa sustentável Conselho Nacional do Meio Ambiente da superfície e escoados pelo solo,
ques ou reservas naturais. Pelo analisada é o uso de cinza de casca renovando a capacidade de reten-
contrário, esse tipo de rodovia de arroz na produção do asfalto. Através da Lei 6.938 de 1981, o Sistema Nacional do Meio ção das nanopartículas. O desafio
causa grandes impactos, como Todos os anos, agricultores da re- Ambiente (SINAMA) criou o Conselho Nacional do Meio da equipe de Trichês é aplicar a
desmatamento, abandono de po- gião sul de Santa Catarina produ- Ambiente (CONAMA), colegiado representativo de cinco setores: tecnologia no asfalto de forma efi-
pulações nativas e atropelamento zem cerca de 20 mil toneladas do órgãos federais, estaduais e municipais, setor empresarial e ciente e barata.
de animais silvestres. Os maiores resíduo. A queima é necessária na sociedade civil. Sobre obras, o conselho estabelece os critérios de O principal desafio é converter
exemplos dessas rodovias no Bra- produção do grão durante o pro- licenciamento e fiscalização do IBAMA: a sustentabilidade ambiental em
sil são Transpantaneira, que cruza cesso de secagem. O destino final Art. 8º Compete ao CONAMA: valores econômicos. O professor
o Pantanal Mato-grossense em das cinzas causa inúmeros impac- I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios Trichês vê no Brasil uma das li-
seus 145 quilômetros de extensão, tos ambientais – desde a poluição para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente deranças mundiais em rodovias
e a Transamazônica, que desma- de lagos até a necessidade de á- poluídoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo ecológicas e acredita que elas são
tou 2.300 quilômetros de floresta reas de aterros e o seu transporte. IBAMA; totalmente viáveis, mas que o pro-
em sua passagem. Ambas foram Ao acrescentar este excedente ao II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos blema é que não se sabe em quanto
construídas na década de 70, antes cimento da camada de base do das alternativas e das possíveis consequências ambientais de implicam os usos destas alternati-
da lei que concede a avaliação e pavimento, consome-se 20% me- projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, vas: “A construção nos permite
fiscalização do projeto ao Ibama. nos do concreto, além de torná-lo estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as infor- agregar produtos que reduzem os
Soluções ecológicas - No Depar- mais resistente. As cinzas do tipo mações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto impactos ambientais, a questão é
tamento de Engenharia Civil da pesado, provenientes das termelé- ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou ativi- atribuir gastos a essas técnicas”.
Universidade Federal de Santa Ca- tricas, também são aproveitadas,

4
dades de significativa degradação ambiental, especialmente nas
tarina (UFSC), a equipe comanda- mas economizam menos: 10% a áreas consideradas patrimônio nacional. A parte legal do jorna-
da pelo professor Glicério Trichês 15% de cimento. III - decidir, como última instância administrativa em grau de lismo é a apuração. Mas
estuda formas de desenvolver al- Outra saída para a redução de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e outras pe- há momentos em que essa
ternativas para a construção de impactos ambientais nas estradas nalidades impostas pelo IBAMA “aventura” parece que não existe.
Rodovias Verdes, aplicando desde está bem embaixo do nariz dos
Bastidores em http://migre.me/bgc4
Florianópolis, novembro de 2009 MEIO AMBIENTE Quatro 5

Destino certo para o lixo reciclável


Seleção dos materiais coletados em Florianópolis gera renda para famílias e abastece a indústria
em família, montando sua própria

Fotos: João Schmitz


João Schmitz

C
jornada, de segunda à sexta-feira.
A renda depende diretamente da
erca de 4% do lixo quantidade e do tipo de lixo que
produzido na capital cada um separa.
é destinado à coleta Ganhando “limpo” - O adoles-
seletiva, segundo a cente A.W.N., de apenas 16 anos,
Companhia de Me- trabalha com lixo reciclável desde
lhoramentos da Capital (Comcap). os 12, quando ajudava sua mãe a
Parece pouco, mas isso representa coletar o material pelas ruas do
mais de 500 toneladas de material centro da cidade. Até o início deste
reciclável por mês. Esta quantida- ano, ele trabalhava ao lado da mãe
de gera renda para quem trabalha e de dois irmãos, com seu próprio
com a triagem do lixo e abastece carrinho e local de triagem, no
a indústria da região com matéria- aterro da Baía Sul. O jovem largou
prima ecologicamente correta. os estudos ainda na quinta série,
Há menos de um ano, houve há dois anos. Filho de pai vigia
mudança na rota desse tipo de lixo e de mãe coletora de lixo, o ado-
na cidade. Antes, os membros da lescente se orgulha de ganhar seu
Associação dos Coletores de Ma- dinheiro “no limpo” ao trabalhar
teriais Recicláveis (ACMR) fa- honestamente, enquanto seus co-
ziam a coleta informal do material legas do Morro do Mocotó, favela
pelas ruas do centro e levavam o do centro de Florianópolis, “ga-
que recolhiam para um local im- nham no sujo”, disse, referindo-se
provisado embaixo da Ponte Pedro ao crime e às drogas.
Ivo Campos ou para o aterro da Sua maior queixa é que a renda
Baía Sul. Lá, cada coletor separa- da família diminuiu com a deci-
va, pesava e vendia seu lixo. Em são da prefeitura. Enquanto traba- Após serem proibidos pela prefeitura de recolher lixo nas ruas, 80 coletores se associaram à ACMR
fevereiro deste ano, a partir da lhavam por sua conta, coletando
assinatura de um Termo de Ajuste recicláveis pelas ruas do centro, todos os associados, como a Almeida Serviços Am-
de Conduta entre a prefeitura e a eles mantinham uma média de já que o preço pago é bientais, o material selecionado
associação, o Ministério Público R$1 mil por semana, que chega- maior. é prensado encaminhado para a
de Santa Catarina determinou a va a R$1.400 em determinados A principal cliente indústria, que o utiliza como ma-
desativação das instalações dos meses. Tudo que recebiam era di- da ACMR é a Almei- téria-prima para a fabricação de
coletores sob a ponte e no aterro, vidido em quatro partes iguais, e da Serviços Ambien- novos produtos. No caso do papel
e o centro de triagem foi transfe- cada um recebia cerca de R$250. tais, empresa com branco, a principal compradora é
rido para o bairro Itacorubi, junto Hoje, no centro de triagem, cada sede em São José, a Estrela Indústria de Papel, com
à sede da Comcap. um recebe uma média semanal de que compra papel sede em Palmas (PR). Lá, o pa-
A partir deste momento, a fisca- apenas R$175, ao separar mais de branco e papelão em pel recolhido nos lares de Floria-
lização feita pela prefeitura passou 300 quilos de material reciclável quantidade corres- nópolis é transformado em papel
a recolher carrinhos de catadores por dia. pondente a cerca de toalha e papel higiênico e retorna
que insistissem em realizar o tra- Apesar de bastante jovem, 50% de toda a pro- aos consumidores.
balho informal. A.W.N. já mora dução dos coletores. Além de economizar recursos
Assim, restou sozinho em sua Segundo o diretor da públicos com transporte e ater-
àqueles que de- Aos 16 anos, própria casa, empresa Milton de ramento dos resíduos sólidos, a
pendem do lixo na comunidade Almeida, o envolvi- reciclagem de materiais “propor-
a opção de tra- A.W.N. já é dono onde cresceu, mento com a ACMR ciona ganhos incalculáveis para
balhar nas novas de uma casa, graças ao di- é uma parceria que o ambiente e favorece a geração
instalações da nheiro que ga- apoia o projeto e va- de renda entre as famílias que
associação. An- obtida com o nha com o lixo. loriza a questão so- fazem a triagem”, acrescenta o
tes da assinatura dinheiro da coleta Sua mãe tam- cial, já que envolve presidente da Comcap, Ronaldo
do termo, havia bém comprou Freire.
Papel ainda passa por segunda separação trabalhadores que
108 coletores ca- um apartamento sustentam suas famí- A rota do lixo reciclável em
dastrados. Depois disso, o número por R$25 mil no Morro do Moco- lias com o dinhei- Florianópolis não passa só por ca-
baixou para 60. Porém, o impedi- tó, com a renda do trabalho como misto completam o total de 500 ro que recebem na triagem. O minhões e máquinas, mas por tra-
mento do trabalho pelas ruas fez coletora. Porém, a maior inspira- toneladas por mês. Entre todos, o material provindo do Itacorubi balhadores que tiram seu sustento
com que essa quantidade voltasse ção do garoto é a irmã: com sua papel branco tem o maior valor de é equivalente a 10% de todo o de forma digna e ainda contri-
a crescer gradativamente: hoje, parte do rateio da coleta, ela inves- mercado, vendido a R$0,38 o qui- lixo reciclável que passa pela buem para a preservação do meio
nove meses depois, já são 80 as- tiu em sua formação e concluiu o lo, enquanto a mesma quantidade empresa. ambiente, ao prolongar a vida útil
sociados à ACMR. curso técnico em enfermagem. de papelão custa R$0,18. Almeida explica que a sepa- de produtos industriais. Trabalha-
Com a assinatura do Termo de Hoje, ainda com o dinheiro do lixo, Devido à falta de infraestrutu- ração da ACMR ainda é de baixa dores humildes, grandes empre-
Conduta, a prefeitura cedeu o gal- ela continua os estudos de especia- ra, a ACMR depende de empre- qualidade, sendo necessária uma sas e a sociedade, em si, ganham
pão e a Comcap ficou responsável lização à noite e sustenta a filha, de sas intermediárias, que compram segunda triagem assim que o ma- dinheiro e uma melhor qualidade
pela coleta do lixo, que atende atu- de vida através da reciclagem.

4
apenas dois anos. O irmão sonha o lixo selecionado e revendem terial chega a seus galpões, para
almente a 80% da população da em seguir seus passos e “ainda re- para a indústria. A associação depois ser prensado e estar pronto
cidade. Todo o material é levado, ceber um diploma”. está inscrita num programa da e seguir para a indústria. Em sua Nos meus dois
então, ao Centro de Triagem Sele- Fechando o ciclo - Entre os prin- Fundação Nacional de Saúde opinião, é necessário muito mais anos de jorna-
tiva, onde os associados à ACMR cipais materiais que passam pelo (FUNASA) para a aquisição de que a compra de uma máquina lismo, essa foi a
realizam a separação dos resíduos Centro de Triagem estão o pape- um equipamento para prensar o para que a associação possa ven- minha primeira
por tipo (papel branco, papelão, lão, o plástico e o papel branco, lixo. De acordo com o presidente der diretamente para a indústria. experiência de
plástico, vidro, etc). À Comcap com recolhimento mensal de 90, da ACMR, Wolmir Santos, com a É preciso a qualificação da mão reportagem com
coube, também, o transporte dos 50 e 46 toneladas, respectivamen- prensa, seria possível vender dire- de obra e um compromisso com a um bom perso-
trabalhadores até o Itacorubi. São te. Outros materiais, como ferro, to para o setor industrial e, assim, qualidade, exigida pelo setor. nagem.
pessoas que trabalham sozinhas ou alumínio, fios de cobre e papel proporcionar uma maior renda para Em empresas intermediárias, Bastidores em http://migre.me/bgcA
6 Quatro TECNOLOGIA Florianópolis, novembro de 2009

Privacidade ou segurança pública?


Lei obriga lan houses a cadastrar usuário e reacende discussão sobre fiscalização de dados na internet

será derrubado através da lei. mente nos servidores. “O direito

Fotos: Erich Casagrande


Q
Diego Cardoso
Policiais da internet - Em Santa regula condutas, e isso vale tam-
Catarina, os casos de delitos onli- bém para a rede. Porém, está na
uem acredita que ne são cobertos pelas polícias Ci- hora de pensarmos na liberdade
a rede mundial vil ou Militar, já que o estado não na rede com algumas restrições,
de computadores tem uma delegacia específica. O e não em restrições com algumas
é um território Brasil possui sete instituições de poucas liberdades.”
completamen- segurança pública especializadas Rapidez vigiada - A velocidade
te livre está enganado. Caminhar em crimes cometidos virtualmen- da internet da UFSC é extrema-
no ciberespaço deixa uma série te. No Distrito Federal, a Divisão mente sedutora para downloads,
de pistas sobre a pessoa por trás de Repressão aos Crimes de Alta legais ou não. O acesso é feito
do computador. São informações Tecnologia (DICAT) é um órgão através da rede do Ponto de Pre-
deixadas muitas vezes em locais de apoio às Delegacias de Polí- sença da Rede Nacional de Ensi-
supostamente confidenciais. Que- cia Civil da região. O delegado no e Pesquisa em Santa Catarina
brar o sigilo virtual abre a brecha e diretor, Sílvio Cerqueira, conta (PoP-SC), que provém uma cone-
para questionar o que é pessoal e que os casos mais frequentes de xão de 2GB para mais 41 institui-
inacessível no mundo online. O cibercrimes são injúria e difama- ções. Dessa banda, a Universidade
Guilherme Rhoden recebe até 3 e-mails diários sobre downloads
monitoramento da internet hoje ção via redes sociais, ameaças, consome diariamente cerca de 200
não se restringe apenas a ques- estelionato e pedofilia. “Sempre megabits por segundo. Para se ter
tões jurídicas: esbarra na duali- há trabalho relacionado à porno- uma ideia, com essa velocidade é
dade entre direito à privacidade e grafia infantil. Em relação à pira- possível baixar um filme (apro-
à segurança pública. taria, não é tão comum já que, para ximadamente 700 MB) em cerca
Uma das principais justificati- agirmos, é necessária uma solici- de 30 segundos. De acordo com
vas para a fiscalização da internet tação do titular do direito autoral o técnico de rede da UFSC, Cláu-
brasileira é evitar a divulgação do material.” dio de Marafigo, só o campus da
de materiais com conteúdo rela- Ao auxiliar em um caso, os Trindade possui cerca de 25 mil
cionado à pedofilia. No dia 22 de profissionais do DICAT buscam quilômetros de fibras óticas para a
outubro de 2009, uma lei visando rastros que o suspeito deixou na distribuição da conexão.
combater esse tipo de crime foi internet. Em alguns casos, é ne- A UFSC e Rede Nacional de
sancionada pelo governador ca- cessário solicitar informações ao Ensino e Pesquisa (RNP) não mo-
tarinense em exercício, Leonel provedor ou à empresa detentora nitoram os conteúdos baixados
Pavan: a partir de agora, todas as do serviço. No caso de e-mail e pelos usuários na sua rede. As
lan houses e locais que comercia- redes sociais, são checados alguns empresas detentoras dos direitos
lizam acesso à internet no estado dados do investigado: nome de autorais ou suas representantes
deverão ter câmeras de vigilância. usuário, endereço IP e horário de chegam a esses usuários de várias
Além disso, essas empresas deve- acesso. Em alguns casos, os pro- maneiras. A principal delas é atra-
rão cadastrar todos os usuários, vedores exigem uma ordem judi- vés das próprias redes P2P. Essas
registrando endereço, telefone, cial para a liberação dos dados do conexões permitem saber de onde
número do RG, horários do iní- usuário, algo que pode atrasar as é o usuário e qual arquivo está bai-
cio e do final da navegação e o investigações, já que cada solici- Guilherme de Marafigo trabalha há 20 anos nas redes da UFSC xando. Ao detectar um endereço
IP (uma sequência numérica que tação pode levar até quatro meses de IP que faça parte do domínio da
identifica o equipamento na rede) para chegar ao DICAT. “Alguns UFSC, a RNP é contatada.
do computador utilizado, man- colaboram bastante, já que envol- na rede pode não ser tão simples do usuário. Afinal, a pedofilia já O coordenador técnico da PoP-
tendo essas informações por dois ve risco à pessoa ou à criança, no como uma consulta a um porteiro. existia antes da internet.” SC, Guilherme Eliseu Rhoden,
anos. Quem descumpre essa lei caso da pornografia infantil”. O Afinal, como se questiona Rover, As legislações atuais, tanto explica que são enviadas via email
recebe multa de R$2 mil e pode delegado compara o acesso a essas “Será que um investigador pega- nacionais quanto internacionais, de duas a três notificações de do-
ter seu estabelecimento fechado informações “a solicitar o registro ria só isso? Não temos como sa- são extremamente restritivas. Elas wnload ilegal todos os dias, da
em caso de reincidências. de uma portaria de prédio numa ber que dados alguém realmente partem do pressuposto do controle central da RNP para a sucursal ca-
A aprovação da lei na Assem- investigação, para descobrir a conseguiu obter dessa forma”. do usuário, e não das empresas, tarinense. A origem é determinada
bleia Legislativa do Estado foi im- identidade e a localização de uma Ele ainda afirma que “a investiga- causando o distanciamento do através do meio em que foi baixa-
pulsionada por uma investigação pessoa”. ção faz parte de um direito mais consumidor. O próprio desco- do o conteúdo: na rede com cabos,
feita pela Diretoria Estadual de In- Entre a lei e o abuso - A ques- coletivo, mas não pode se dar de nhecimento tecnológico é um é possível apenas identificar o
vestigações Crimi- tão do moni- forma abusiva”. Como alternati- problema. Coutinho exemplifica computador; já na sem fio, pode-
nais (DEIC), onde toramento dos va para essa situação, o profes- com uma decisão do Tribunal de se chegar ao nome do usuário.
uma rede de pedo- Parceria entre dados na in- sor cita as parcerias entre o Mi- Justiça do Estado do Paraná que Nos dois casos, o acesso à rede é
filia foi descoberta ternet esbarra nistério Público e algumas redes condenou uma empresa de tecno- imediatamente cortado, sendo res-
em oito estados governo e redes em mais uma sociais onde os próprios usuários logia pelo desenvolvimento do tabelecido após um período, geral-
brasileiros, inclu- sociais ajuda polêmica: a ajudam a relatar casos de crimes programa de P2P K-Lite Nitro mente até o final do ano, ou com
sive Santa Catari- ética. Para o como pedofilia online. - tecnologia de transferência de solicitação do usuário por meio do
na. O delegado da no combate à professor do Os embates entre direito à pri- arquivos utilizada em programas Núcleo de Processamento de Da-
DEIC-SC, Renato pedofilia online Departamento vacidade e interesse público fazem como eMule, Kazaa, Soulseek, dos (NPD). Alguns desses dados,
Hendges, diz que de Direito da parte de um eterno cabo de guerra. entre outros. A desenvolvedo- como o endereço IP e o motivo do
o uso da internet Universidade É o que diz Guilherme Coutinho ra do software está proibida de bloqueio, estão disponíveis no site
nesses casos é algo recente e que Federal de Santa Catarina (UFSC) Silva, advogado e assessor jurídi- disponibilizá-lo até que sejam ins- http://rede.npd.ufsc.br.

4
as lan houses são muito utiliza- especializado em Direito e Infor- co do Departamento de Inovação talados filtros que impeçam o usu-
das pelos pedófilos. “Eles dispo- mática, Aires José Rover, o registro Tecnológica da UFSC. Para ele, ário de baixar conteúdo protegido O monitoramento é
nibilizam esse material fora do de informações em lan houses, por questões polêmicas não podem pela propriedade intelectual. uma questão políti-
país. Quanto mais novas forem as exemplo, não chega a ser abusivo, servir de pretexto para ações in- Uma das possíveis soluções ca, jurídica e ética.
crianças, mais valem essas ima- pois se trata de dados administrati- trusivas. “O combate à pedofilia para esse impasse seria a inver- Abordar esses temas
gens e elas valem muito”, afirma vos, desde que seja feito pelas vias na internet é importante, mas não são do que há atualmente: mediar sem se perder nas
Hendges. É o anonimato de quem oficiais. pode servir de cavalo de tróia vi- o controle do usuário e das pró- informações não foi nada fácil.
divulga essas fotos e vídeos que Obter uma informação pessoal sando uma legislação de controle prias empresas, não pensando so- Bastidores em http://migre.me/bfSO
Florianópolis, novembro de 2009 TECNOLOGIA Quatro 7

Brasileiros aderem ao home office


Só no país, são 10 milhões de profissionais que fazem trabalho remoto ou em escritórios domésticos

tos”. Um texto publicado na revis-

Suélen Ramos
ta Wired cita a pesquisa feita pela
Pennsylvania State University,
que concluiu que o homeofficer –
trabalhador de casa – tem melhor
desempenho e satisfação no traba-
lho, menos conflitos com a família
e menor estresse. O texto também
fala que uma das vantagens do fim
dos escritórios nas empresas é a
economia com a ausência de custo
do transporte dos funcionários, de
casa para o trabalho.
Andressa Braun trabalha para a
Abril Digital como jornalista free-
lance, produzindo conteúdo para
celular, de seu apartamento, em
Florianópolis. Ela mantém con-
tato com a empresa por e-mail e
manda os pequenos textos aos ce-
lulares dos assinantes, através de
um sistema de envio de mensa-
gens, via internet. “Quando mo-
rava em São Paulo, ia até a Abril
pelo menos uma vez ao mês. Ago-
ra, todas as revisões, considera-
ções e prazos, enviam-me por e-
mail. Ganho por produção: faço,
em média, 450 SMS por mês
Desde 1992, a arquiteta Norma Suely dos Santos atende clientes por e-mail e telefone no escritório montado em sua própria casa
e eles pagam R$2,50 por cada
um. É uma forma interessante
que não a empresa, ao menos uma casa e, destas, metade são autô- do e confortável”. Ele gostou da das grandes empresas terem bons
Suélen Ramos vez no mês. Um crescimento de nomas, segundo a pesquisa “Un- experiência, montou sua própria profissionais, sem gasto de manu-

A
43% do teletrabalho nos Estados dress for Succes – The Naked empresa, a Triadworks, e conti- tenção de escritórios, transporte e
Unidos, se comparado a 2003. Truth about Working”, feita por nua com seu escritório doméstico. sem direitos trabalhistas”.
arquiteta cario- A pesquisa feita pelo Centro de Kate Lister e Tom Harnish. Eles “Tenho tudo o que preciso em meu Segundo Andressa, a maioria
ca Norma Suely Estudos sobre as Tecnologias de revelam também que se todos os lugar de trabalho: um excelente das publicações da Abril trabalha
dos Santos atende Informação e Comunicação (CE- americanos tivessem home office equipamento com dois monitores, dessa forma, com profissionais
muitos clientes por TIC.br) mostra que em 2005, ape- economizariam mais de US$500 linha telefônica exclusiva e inter- sem vínculo empregatício, mas
telefone e e-mail. nas 12% da população brasileira bilhões e as empresas poderiam net banda larga”. fixos. “Eles têm uma brecha para
Faz seus projetos num escritório tinham acesso à internet em casa, lucrar US$260 milhões a mais por A advogada Rosa Ribas Mari- trabalhar assim, se chama Contra-
doméstico, montado em um cômo- sendo que 39% das conexões eram ano, caso contratassem funcioná- nho só sai de seu escritório, que to de Cessão de Direitos Autorais
do da sua casa, numa ruazinha do discadas. A última pesquisa, lança- rios que não precisassem se des- fica em sua casa, no bairro Agro- (CCDA). Todos os meses, envio
bairro Córrego Grande, em Floria- da em maio deste ano, demonstra locar até a empresa. A economia nômica, para ir às audiências. Ela uma autorização por e-mail para a
nópolis. Fabiano Machado tem a que 28% dos domicílios brasilei- gerada seria pelo menor gasto com já se acostumou a trabalhar assim: Abril, liberando o uso do material
mesma profissão de Norma e tam- ros têm um computador, 20% com energia e aumento da produtivida- usa MSN, e-mail e telefone para que produzo”.
bém trabalha em sua casa, em São acesso à internet, sendo que 58% de dos funcionários. falar com os clientes e utiliza o A preocupação com o meio am-
José. Além de utilizar o telefone das conexões é Em Fortaleza “peticionamento eletrônico” para biente pode reforçar o discurso a
para se comunicar com clientes e banda larga. (CE), Hander- encaminhar petições ao Tribunal favor de que o trabalhador fique
fornecedores, mantém o computa- “O computa- son Frota traba- de Justiça. “A grande maioria dos em casa. Hoje circulam em Floria-
dor conectado à internet o tempo dor fica conec- Uma nova opção lha em casa há clientes tem bom manejo com a in- nópolis, entre carros, camionetes,
todo. Machado manda e responde, tado o dia todo três anos como ternet. Então, conversamos muito ônibus e motocicletas, cerca de
em média, 15 e-mails por dia e tem e utilizo para
para empresas desenvolvedor por esse meio. Sou adepta da tec- 230 mil veículos. Além do engar-
um website para fazer contatos e enviar e receber evitarem gastos de sistemas. nologia e o fato de digitar a petição rafamento nos horários de pico, os
divulgar seu trabalho. propostas, estu- Sua profissão é e postar diretamente para a comar- motoristas contribuem, na ida e
Esses profissionais estão entre dar projetos, pes-
com manutenção diretamente li- ca, sem sair da cadeira, também é volta do trabalho, com a emissão
os 10 milhões de brasileiros que quisar fornece- e transportes gada à tecnolo- extremamente confortável e eficaz. de poluentes no ar. Em Fortaleza,
fazem trabalho remoto ou em es- dores, consultar gia e, por isso, Seria possível ter um home office cidade do desenvolvedor de siste-
critórios domésticos, contratados processos junto à trouxe para seu sem o aparato tecnológico, mas, mas Handerson Frota, há cerca de
por uma empresa ou informalmen- prefeitura e enviar trabalhos para escritório máquinas modernas, com certeza, não seria tão fácil”. 530 mil veículos circulando. Em
te, segundo a Sociedade Brasileira impressão.”, explica Machado, conectadas à uma internet rápida, Rosa é advogada há 24 anos e São Paulo, são mais de 6 milhões
de Teletrabalho e Teleatividades, arquiteto há sete anos, três deles que são suas principais ferramen- desde 2002 trabalha em casa, as- nas ruas.
(SOBRATT). O avanço da tecno- trabalhando em casa. Sobre a pá- tas de trabalho. Handerson já foi sim como os dois filhos – um ad-

4
logia possibilitou aos trabalhado- gina que mantém na internet, diz funcionário de uma empresa de vogado e uma juíza – e o marido,
res terem em casa bons compu- que “como tenho um home office, Tecnologia de Informação e con- também colega de profissão. Ela Quando escolhi fazer
tadores com acesso à internet e o website cumpre a função de ser seguiu convencer seus superiores diz que manter um escritório fun- uma reportagem so-
telefonias fixa e móvel de qualida- como minha vitrine, para ser visto que seria mais produtivo em casa. cionando pesa consideravelmen- bre home office, não
de, para utilizá-los como qualquer por quem está procurando pelos “O projeto em que eu estava en- te no bolso e também no humor. imaginei que seria tão
empresa faz. Um levantamento meus serviços. Já fechei bons ne- volvido na época não exigia que “Não tinha sequer tempo para a difícil encontrar fon-
da Worldat Work, de 2008, mos- gócios graças a essa divulgação”. eu estivesse na empresa e conven- família e amigos. Às vezes, tinha tes para falar sobre o
tra que 33 milhões de americanos Nos EUA, cerca de seis mi- ci meus gerentes que iria trabalhar que estender o horário de trabalho assunto.
trabalharam de casa ou outro lugar lhões de pessoas trabalham em muito melhor em casa, concentra- para me livrar dos engarrafamen- Bastidores em http://migre.me/bfVc
8 Quatro TECNOLOGIA Florianópolis, novembro de 2009

Leitores de e-books chegam ao Brasil


Apesar de causar muitas dúvidas, aparelhos como o Kindle conquistam cada vez mais os usuários
es, o Brasil é o lugar com o máxi- monitor. Olhar os

Ketryn Suzanny Alves


Claudia Mebs Nunes mo de opções fora dos Estados livros na estante e me

O
Unidos, com 290 mil obras. dar conta de quantas
conteúdo dos liv- Locais como a Jérsia, ilha no histórias já acom-
ros agora pode ser Canal da Mancha e o Zimbabwe panhei e me fizeram
acessado por meio possuem o menor acervo: 170 mil sentir as emoções
de um aparelho que títulos. que os personagens
permite a leitura Os preços para baixar os con- sentiam. Não acred-
de versões digitais das histórias teúdos literários no exterior vão de ito que seja regra,
existentes no papel. Os leitores de U$5,99 a U$13,99. No Brasil, 100 só que para mim a
e-books transportam as páginas de mil deles custam menos de U$6. leitura no papel é in-
livros, jornais e revistas para dentro Os demais, U$12. Isso significa substituível”.
do aparelho através do simples aper- que O Símbolo Perdido, novo liv- No Brasil, o
tar de um botão ou por uma tela sen- ro de Dan Brown pode ser adquirido Instituto Brasileiro
sível ao toque, caso do mais famoso por aproximadamente R$20,50 con- de Opinião Pública
e-reader da atualidade, o Kindle. tra R$39,90 nas lojas. Caso a compra e Estatística (Ibope)
Com a notícia de que as seja feita pela rede sem fio, o custo de divulgou, em fe-
vendas para o Brasil e mais 99 U$1,99 é embutido no preço final do vereiro deste ano,
países começaram no mês pas- produto. E não importa se a pessoa que 55% da popu-
sado, o produto, que foi o mais já tenha comprado o livro anterior- lação costuma ler
comprado no site da empresa mente e só queria fazer o download livros, um total de
americana Amazon em 2008, de novo, porque a Amazon cobra o 95,6 milhões de pes-
deixou os brasileiros curiosos para serviço de solicitação para baixar o soas. Tendo em vista
saber como funciona o americano livro, quando o usuário está fora dos o mercado promis-
Kindle. O modelo internacional do Estados Unidos. mato que não é reconhecido pelo anúncio de produtos eletrônicos sor, a empresa brasileira Braview
leitor, assim como as versões DX Muitos não esperaram a em- Internacional. Assim, o usuário do importados do país norte-america- apresentou em junho o leitor de
e Kindle 2, possui uma rede sem presa americana anunciar a venda e-reader próprio para o exterior no começou em 2000, nove anos e-books, ainda sem nome. Com
fio capaz de conectar o aparelho à do aparelho internacional para terá que converter o arquivo para antes de incluir na lista de ven- uma resolução de 800x600 pixels,
internet e comprar os livros pelo garantir o seu. Pestana recebeu AZW. A Amazon faz essa con- das os leitores de e-books. Hoje, o e-reader lê arquivos em PDF e
site da Amazon, mesmo daqui do seu Kindle DX em setembro deste versão, basta enviá-lo para um en- além dos modelos Kindle 2 e DX, funciona como mp3, porém não
país. No Brasil, o acesso à web ano. O modelo é diferente do com- dereço eletrônico que cada Kindle o vendedor mineiro Guilherme possui a função de marcar páginas
será feito através de uma rede 3G, ercializado internacionalmente, possui e, de graça, formatos como Cruz também importa os aparel- e fazer anotações, recursos ofer-
a mesma rede de telefonia celular. principalmente porque não pos- HTML, PDF, JPEG são transfor- hos das marcas Sony, Irex, Cybook ecidos pelo Kindle. Daiane pode
Implantada em 2004, a tecnolo- sui a wirelles, que possibilita que mados em AZW e encaminhados e Freehand. A média de unidades continuar desinteressada pela
gia 3G ainda é recente e apenas al- a compra seja realizada direta- para o e-mail. Depois disso, o vendidas chega a 20 por mês. tecnologia que ganha espaço no
gumas regiões garantem a rede para mente do aparelho. As vantagens cabo USB faz a transação do com- O prazer do papel - Por mais que Brasil, mas o preço do e-reader
os usuários. Dos 60 principais pon- do modelo, porém, superam essa putador para o Kindle. A tela do Pestana carregue seus cem liv- brasileiro, calculado em R$340, é
tos que a disponibilizam no Brasil, desvantagem. A tela do leitor tem 9,7 aparelho usa uma tecnologia cha- ros para todo lugar a um peso de uma alternativa para muitos curio-
a maioria se en- polegadas – contra mada e-ink ou “tinta eletrônica”. quinhentos gramas, ele confessa sos que ainda não estão dispostos
contra nas cidades as 6 polegadas do Idêntica ao papel, ela não emite que ainda compra muitas obras de a pagar pelo produto mais vendido
metropolitanas do Primeiro e-reader novo Kindle - e brilho e não cansa a visão. “De papel. Mesma opinião de Daiane da Amazon.
litoral. Em Santa a capacidade de fato, é muito mais confortável ler de Oliveira, auxiliar administra-
brasileiro deve

4
Catarina, mora- armazenar 3.500 na tela do Kindle. A agressão visu- tiva em Joinville. Pelo menos uma
dores das cidades custar R$340 livros, mais do al das telas de computador tradi- ou duas vezes por mês compra
de Blumenau, que o dobro do cionais praticamente inexiste”, um livro de romance ou ficção. Achar pessoas que
Joinville e contra U$585 Internacional. concorda o mestrando. Para Daiane, que costuma levar comentem sobre os leito-
Florianópolis, até do americano Enquanto o mode- Para ter essas facilidades, o as obras em viagens sem se inco- res de ebooks não foi di-
de São Carlos, com lo internacional investimento foi de R$3.500. E o modar com o peso que causam, os fícil. Encontrar alguém
10 mil habitantes, custa U$585, preço só não aumenta a cada mês leitores de e-books não substituem que já possuísse um é
podem utilizar a rede 3G para comprar valor calculado com impostos de im- porque Pestana não compra os o prazer de se ler um livro de pa- outra história. Em fóruns, comuni-
os livros. Quem mora em alguma ci- portação e frete, o DX é vendido nos livros, mas baixa seus arquivos pel. “Enquanto leio, cada página dades, em conversa com pessoas que
dade que não possui a conexão pode Estados Unidos a U$489. em diversos sites da internet. A virada dá a sensação de mistério e gostam de tecnologia, os e-reader são
comprar os livros de outra maneira. Outra vantagem do modelo DX aquisição do aparelho foi feita curiosidade que não consigo sentir tema central de discussões.
É só baixar o conteúdo através de é a leitura de arquivos em PDF, for- através do site Mercado Livre. O baixando a barra de rolagem no Bastidores em http://migre.me/bDsf
um computador e depois passá-lo
Arte Quatro

para o e-reader com um cabo USB,


que acompanha o aparelho. É o que Opções de e-readers para caber no bolso
faz Lucas Pestana, mestrando em Cybook Gen3, da Bookeen
biologia vegetal pela Universidade Empresas apostam na concorrência com Kindle de seis polegadas
Federal de Mato Grosso do Sul. Em Botão de controle
Campo Grande, onde mora, a rede para ativar as
Nook, da Barnes & Noble Sony PRS-600 funções
3G está disponível, mas explica que
não consegui me conectar à internet Tela colorida, sensível Tela em escalas de Formatos aceitos:
ao toque cinza, sensível ao toque
do Brasil, e nem cheguei a usar os HTML, PDF, MP3
serviços da Amazon por meio do Formatos aceitos: PDF, e de imagens
MP3 e de imagens Formatos aceitos: PDF,
Kindle. Memória flash:
Memória flash: 2 DOC, MP3 e de imagens
Custos embutidos - A internet Memória flash: 512 64MB e 512 MB,
GB, com bateria para
sem fio não é paga, mas os livros, MB, com bateria para com bateria para
permanecer ligado por
sim. A Amazon conta com mais de 10 dias ler 7.500 páginas ler 8.000 páginas
360 mil títulos disponíveis para
compra. Mas o número diminui Previsão para este mês Lançado em agosto Lançado em 2007
quando o usuário não é americano.
Preço: U$ 259 Preço: U$ 299 Preço: U$ 350
Comparado com os outros 99 país-
Florianópolis, novembro de 2009 TECNOLOGIA Quatro 9
GPSs estão mais baratos e

Arte Quatro
Um pouco de orientação na história

dispõem de novos recursos 5 mil anos a.C.: Caçadores se orien-


tam pelas estrelas para encontrar suas
presas.

2,5 mil a.C.: Os babilônios elaboram


Equipamentos evoluíram, mas ainda apresentam problemas os primeiros mapas. Ao lado, frag-
mento de um mapa-mundi babilônio.

no trânsito. O teste comparativo tros países é muito mais eficaz que Século XV: Portugueses percebem
Roberta Perini revelou que o melhor aparelho é o nacional. O estudante Vinicius

C
uma ligeira diferença entre norte ge-
também o mais barato e chega a Rosa trabalhou durante um ano ográfico e norte magnético. Isso per-
om novos recur- sos custar até 1.250 reais a menos que nos Estados Unidos e aproveitou mitiria correção de rotas.
e maior con-fiabili- o aparelho mais caro do mercado. para viajar pelo país em seu tempo
dade, os GPSs são O Apontador G8 foi considerado livre. “Os GPSs de lá funcionam Séculos XV e XVI: Os navegadores
cada vez mais uti- versátil e, além disso, possui ro- muito bem. Eu conseguia chegar a portugueses inventam o sextante,
lizados no Brasil. tas alternativas e boa recepção de todos os lugares que eu queria, até instrumento que permitia calcular a
Mas apesar de seu crescente uso, o sinal. O preço varia de R$579 a mesmo os mais distantes e escon- altura de estrelas em relação ao hori-
mapeamento do país ainda é pou- R$649. didos”, relata Vinicius. zonte, permitindo localização mais
co eficiente. Um enorme número Os GPSs são de fato úteis no dia Apesar das facilidades adquiridas exata. Os mapas também são melho-
de mapas é disponibilizado pelos a dia das pessoas? - Muitos taxis- com estes aparelhos, um simples rados nesta época
GPSs, mas o que realmente impor- tas preferem contar apenas com erro de digitação pode compro-
ta é a quantidade de mapas audita- seus conhecimentos de rotas e ca- meter o sucesso de uma viagem.
dos, ou seja, que tiveram suas ruas minhos alternativos. É o caso de Recentemente, um casal de sue- 1917: Franceses inventam
conferidas. Em todo país, apenas Roberto Vieira, taxista há 26 anos. cos errou o caminho em 650 Km o sonar. que só seria usado
269 cidades receberam essa verifi- Ele sempre trabalhou no mesmo ao tentar chegar à ilha de Capri, depois da Primeira Guerra
cação, de acordo com uma pesqui- ponto, no mercado público de Flo- na Itália. Ao trocar a ordem das Mundial.
sa realizada pela Associação Bra- rianópolis, e não tem dificuldades letras,os turistas chegaram à cida-
sileira de Defesa do Consumidor de encontrar os locais para pegar de de Carpi no norte do país. O uso 1941: Em plena Segunda
(Pro Teste). e deixar seus passageiros. “Nunca do aparelho por turistas no Brasil Guerra Mundial, surge um
GPS é a sigla em inglês para usei um GPS e nem sei como ele também pode ser perigoso já que instrumento para detectar
Sistema de Posicionamento Glo- funciona. Aqui em Florianópolis nenhum aparelho disponível em aviões inimigos: o radar.
bal. Essa tecnologia de na- ve- não preciso de um equipamento território nacional é capaz de des-
gação conta com 24 satélites que desses e acho que, viar de certos bair-
realizam uma volta completa em mesmo em outra ros. O turista não
torno da Terra a cada 12 horas. De- cidade, eu teria pode evitar áreas 1957: Russos colo-
senvolvido no final da década de menos dificulda- As indicações perigosas ou fa- cam em órbita o
70 pelo Departamento de Defesa des pe-dindo in- das rotas devem velas. O máximo primeiro satélite
artificial, o Sput-
dos Estados Unidos para fins mi- forma- ções para que um aparelho
litares, o GPS foi disponibilizado as pessoas na rua ser faladas para pode fazer é evi- nik.
para uso civil na década seguinte, do que com um não distraírem os tar determinada
1973: Surge o Sis-
mas só começou a se popularizar GPS”, acredita o rua, mas isso não
no início dos anos 90. Hoje, fun- taxista. motoristas garante a seguran- tema de Posiciona-
ciona como um guia interativo que Luiz Antônio ça do motorista e mento Global, o
indica rotas e explica como chegar Bernardes, tam- dos passageiros. GPS.
ao destino final. bém taxista, possui um GPS em No Rio de Janeiro, por exemplo,
O uso dos GPSs foi regu- la- seu carro. Apesar de não utilizá-lo um erro no trajeto pode fazer com
mentado no Brasil em agosto de frequentemente, já que trabalha no que o turista se perca em uma das 2005: A Google cria o Google Earth, ferramenta online que
2007 quando o Conselho Nacio- centro de Florianópolis e conhe- favelas da cidade. permite visualizar fotos de satélite do planeta todo.
nal de Trânsito aprovou a reso- ce bem a re-gião, ele reconhece as Tão comuns quanto os GPSs
lução nº 242 que permitiu o uso vantagens de ter um carro com o em automóveis, estes dispositivos
destes equipamentos. A liberação, equipamento. “Quando fui para em celulares têm se tornado cada
po-rém, tem uma ressalva: as in- São Paulo, o GPS facilitou muito a vez mais populares. Hoje, grande
dicações das rotas não podem ser minha vida. Apesar de conhecer a parte dos novos modelos já possui
apenas mostradas nos mapas, elas cidade, eu não sabia que caminhos o sistema, mas ele só funciona in- ra simples e rápida. Entretanto, e demarcar áreas enormes com
precisam ser “faladas” aos mo- eram mais rápidos e o uso do equi- dependente da conexão com a in- o aparelho não substitui a bússo- precisão de milímetros”.
toristas para que eles não se dis- pamento fez com que economizas- ternet se o usuário tiver todos os la já que consome bateria, o que O mercado brasileiro para
traiam enquanto dirigem. De lá se bastante tempo”, diz. Aqueles mapas que serão utilizados arma- pode ser um problema em trilhas GPSs está em constante expansão.
pra cá, os modelos disponíveis se que utilizam regularmente o GPS zenados na memória do aparelho longas. O ideal é manter o GPS Atualmente, já é possível utilizar
modernizaram e passaram a acu- garantem que dirigir por lugares celular. Caso contrário, o usuário desligado e ligá-lo ocasionalmen- o Sistema de Posicionamento Glo-
mular funções. Hoje, existem no desconhecidos é mais fácil com o fica dependente da disponibilidade te para conferir o caminho per- bal em quase todas as capitais do
mercado aparelhos que integram aparelho. de sinal na região em que se en- corrido e verificar a bússola. Um país (somente a região norte ain-
MP3 Players, câmeras digitais e Carlos Alberto Borghizan é contra. GPS portátil pode ser encontrado da não é mapeada) e a tendência é
Bluetooth ao localizador. vendedor e fez uma pequena via- GPSs também são utilizados por no mercado com preços a partir de que cada vez mais cidades sejam
A Pro Teste, testou os oito apa- gem de Florianópolis até Blume- aventureiros - Para aqueles que 339,00 reais. auditadas por diversas marcas e
relhos de GPS mais presentes no nau em agosto. Ele não conhecia costumam fazer trilhas na mata a Uma área que foi diretamente modelos.

4
mercado brasileiro e descobriu o local, mas como a cidade foi pé ou de bicicleta, o GPS funcio- beneficiada pela sua populariza-
que todos são fáceis de usar, po- auditada pelo aparelho utilizado na como uma prévia do trajeto que ção foi a topografia. Se antes os
rém mesmo os mapas auditados por ele, foi fácil chegar ao hotel será percorrido. topógrafos perdiam horas cal- Pude observar que
deixam a desejar porque não mos- no qual se hospedou e em todos os Através de mapas disponíveis culando o caminho percorrido e a é impossível se per-
tram muitos locais de interesse, pontos turísticos visitados. “Se me na internet pode-se escolher o ca- localização, hoje tudo ficou muito der quando se tem
como pontos turísticos, delegacias perguntarem por onde eu passei, minho mais rápido, o menor, ou mais simples e rápido. Pedro Pau- uma rota previa-
e hospitais. Os principais critérios não vou saber dizer exatamente, aquele de menor dificuldade. Os lo dos Passos é topógrafo há 30 mente demarcada
que nortearam a análise foram eu simplesmente segui as coorde- mochileiros não precisam mais anos e afirma que o GPS facilita o no aparelho, mas manter a lancha
versatilidade, portabilidade, na- nadas ditadas pelo GPS”, conta o carregar enormes mapas de papel trabalho em grandes áreas. “Com na trilha exata requer experiên-
vegação, informações no display, vendedor. e podem calcular as distâncias ele conseguimos economizar até cia. Bastidores em: http://migre.me/
informações de voz e segurança O mapeamento de rotas de ou- percorridas e a altitude de manei- 60% do tempo de medição normal bxXh
10 Quatro POLÍTICA & ECONOMIA Florianópolis, novembro de 2009

Leis percorrem caminho

Roberta Perini
longo até a aprovação final
Normas são sugeridas, passam por comissões e presidente

menos pelas comissões de Consti- por, no mínimo, um terço dos De-


Diego Vieira tuição e Justiça e de Cidadania, de putados Federais ou dos Senado-

O
Defesa do Consumidor e de Edu- res, pelo Presidente da República
trajeto para a apro- cação e Cultura. ou por mais da metade das Assem-
vação das leis no A maioria dos processos já bléias Legislativas dos estados.
Brasil é bastante pode ser aprovada diretamente nas Ao contrário das leis comuns,
longo e desconhe- comissões, sem passar por votação a PEC não pode ser votada de
cido pela maioria em plenário. Mas a qualquer mo- ma-neira conclusiva nas comis- Venda de passes é ocupação comum no centro de Florianópolis
da população. Para entrar em vi- mento um congressista des- con- sões e deve passar por votação
gor, a nova norma deve ser suge-
rida, transitar pelo senado e pela
tente com o resultado das votações
obtido nas comissões pode soli-
secreta em dois turnos nas casas
legis- lativas. Depois de aprovada Benefícios para informais
câmara e depois ser sancionada citar que a proposta seja julgada no congresso, segue para a sanção
pelo presidente.
Para iniciar, a lei deve ser su-
por todos os parlamentares. Ao ser
aprovado, o processo é encami-
presidencial. Para acompanhar
o andamento dos projetos, basta
que fogem do desemprego
gerida por uma autoridade com nhado à próxima casa legislativa, acessar o site da Câmara (www.
competência constitucional. São camara.gov.br) e escolher a opção
elas: Parlamentares, Presidente da de receber notícias por e-mail. Já Marlene sente falta da estabilidade
Roberta Perini
República, Supremo Tribunal Fe- Para mudar a no site do Senado (www.senado. do trabalho formal. “Gosto do que
deral, Tribunais Superiores (TST, gov.br), é possível solicitar a en- faço, mas não tenho salário fixo e

M
STJ e TSE), Procurador Geral da Constituição trega de um jornal semanal gratui- todos os benefícios de quem tem
República e grupos organizados com uma PEC, o to, com as informações do que foi árcia Jaquelina a carteira assinada.” Para a artista,
da sociedade. Neste caso, os pro- discutido e aprovado pela Casa. é atendente de o programa do Governo pode ser
jetos ficam conhecidos como de processo é mais A fiscalização é um direito da so- uma lanchone- uma boa opção para formalizar
Iniciativa Popular e devem contar lento e rigoroso ciedade, e também pressiona o le- te do centro de seu trabalho. Mas nem todos os
com o apoio de 1% do eleitorado gislativo a transitar os pedidos de Florianópolis autônomos podem ser beneficia-
do país, cerca de um milhão de as- novas leis com mais agilidade. no período da manhã e durante as dos pelo programa, que não con-
sinaturas, distribuídas em, no mí- por onde passará outra vez , pelas tardes trabalha nas ruas vendendo templa áreas como construção,

4
nimo, cinco estados. mesmas etapas. Depois da discus- meias. Mãe de três filhos e des- serviços de vigilância e limpeza.
O próximo passo é dar entrada são no congresso, o projeto de lei A idéia de uma ma- cendente de camelôs, Márcia en- Uma atividade informal co-
em uma das casas legislativas (Se- chega às mãos do Presidente da téria sobre a formu- controu no mercado de trabalho mum no centro de Florianópolis é
nado ou Câmara). Lá, os projetos República. Ele pode vetar total ou lação das leis par- informal uma oportunidade de a venda de passes de ônibus. De-
são analisados por comissões, que parcialmente o projeto, deixando tiu de um curso que complementar a renda familiar. zenas de pessoas se concentram na
são grupos de parlamentares que vigorar somente os dispositivos realizei no primeiro Ela não sabe exatamente quanto praça do mercado público diaria-
discutem assuntos afins. sancionados por ele. Em caso de semestre deste ano, na Câmara ganha por mês com a venda de mente comprando passes daqueles
A principal comissão é a de veto, o Poder Legislativo pode dos Deputados, em Brasília. Lá, meias, mas garante que o valor é que não os utilizam e revendendo
Constituição e Justiça e de Cidada- derrubar a determinação presiden- percebi a necessidade de, como maior que o salário fixo que rece- para outras pessoas. O presiden-
nia, por onde passam obrigatoria- cial através de votação secreta na estudante de jornalismo, tentar be. “Em dias bons, no começo do te da recém criada Associação de
mente todos os projetos de lei para Câmara e no Senado. explicar um dos processos mais mês, chego a lucrar até R$300”. Trabalhadores Autônomos de Flo-
que os congressistas verifiquem se Para alterar a constituição- A importantes da democracia, o de A dificuldade para encontrar rianópolis (ATA), Vanderley Elias
há alguma inconstitucionalidade Proposta de Emenda e Constitui- como nascem as leis. A principal empregos formais leva todos os Duarte, é uma dessas pessoas.
no texto. Depois, segue para as de- ção (PEC) tem o poder de alterar dificuldade foi tentar incluir um anos milhares de pessoas à in- O vendedor conta que a asso-
mais comissões envolvidas. Uma a Lei Máxima do país, por isso é personagem. formalidade. Apesar da taxa de ciação surgiu em maio deste ano
lei que regule as mensalidades es- o tipo de regra que mais demora Bastidores em: desemprego apresentar queda em com o objetivo de criar um canal
colares, por exemplo, passaria ao a ser aprovada. Deve ser proposta http://migre.me/bx8R comparação ao ano passado, ela entre os trabalhadores informais
ainda varia em torno de 8%. e os órgãos públicos, garantindo
O programa Empreendedor um espaço de trabalho nas ruas.
Individual, lançado pelo Governo Vanderley Elias Duarte gostaria
Arte Quatro

4
Entenda o processo legislativo Vai para a
Federal em julho,
visa regularizar a Mal
de trabalhar com
olhava carteira assinada,
outra casa Presidente para mim en- mas tem dificul-
para nova assina ou não situação dos infor-
votação mais, para que eles quanto eu fazia dades em arrumar
possam garantir di- minhas per- emprego. Para ele
É votada pelas
comissões e reitos trabalhistas. guntas, com medo de ter “uma coisa com-
plenário. A for-malização seus produtos levados pelo pensa a outra. Com
Proposta pode ser feita de rapa. Bastidores em: http:// a carteira assinada
Vai para a
é feita pelo maneira simples, migre.me/bxea eu ganharia me-
Presidente, casa legislativa através da inter- nos dinheiro, mas
parlamentares, STF, (Senado ou Câmara)
net. Após o preenchimento do teria outros benefícios como fé-
Tribunais Superiores
cadastro, o trabalhador adqui-re rias, aposentadoria e 13° salário”.
ou a sociedade
o Cadastro Nacional da Pes-soa Marisol Paz, consultora de plane-
Jurídica (CNPJ), inscrição previ- jamento organizacional da ATA,
denciária e entra oficialmente no ressalta que o principal objetivo
A sanção presidencial mercado de trabalho formal. da Associação é conseguir recur-
Na última instância, o Presidente Marlene Martini Palaoro é artis- sos para que esses trabalhadores
pode vetar partes ou toda a proposta. ta plástica e vende seus qua- dros possam adquirir qualificação em-
Porém, uma votação secreta na em feiras de artesanato, em Flo- preendedora. “Nós queremos par-
Câmara e no Senado pode derrubar o rianópolis. Ela foi bancária, mas ceiros para treinar esses trabalha-
veto presidencial. preferiu abandonar seu emprego dores. Queremos que eles possam
para se dedicar às artes. Hoje, montar o próprio negócio”.
Florianópolis, novembro de 2009 POLÍTICA & ECONOMIA Quatro 11

Passagens aéreas sem pagar nada


Interessados se cadastram no Correio Aéreo Nacional e viajam em aviões da FAB durante missões

do Estado-Maior da Aeronáutica

fab.mil.br
Erich Casagrande ou do Gabinete do Comandante da

S
Aeronáutica, sediado no Ministé-
e a distância entre o rio da Defesa em Brasília.
ponto de partida e o A viagem em aviões da FAB -
de chegada é grande, Izildinha, que é paulistana, mora
viajar de avião, ge- em Florianópolis há um ano, e já
ralmente, é a melhor viajou duas vezes em um avião da
opção. Rápido, confortável e se- FAB. A primeira foi de São Paulo
guro, mas caro. Atualmente, uma para Pirassununga, e a segunda de
passagem aérea de Florianópolis Florianópolis para São Paulo. Nas
a São Paulo pode custar R$700 duas vezes o avião era um EMB-
se comprada para o dia seguinte, 110 Bandeirante com capacidade
e cerca de R$200 com três meses de levar até 21 passageiros que
de antecedência ou com valor pro- ficam sentados ao longo da aero-
mocional. Mas a costureira Izildi- nave em bancos laterais, junto a
nha Morellaco viajou até a capital fuselagem.
paulista e não gastou um centavo. Izildinha conta que as viagens
Para isso, ela se inscreveu no Cor- pela FAB são diferentes: “A
reio Aéreo Nacional e quando um primeira vez que fui foi tranquilo,
avião da Força Aérea Brasileira apenas meia hora de viagem.
(FAB), que estava em missão com A segunda que foi complicada,
destino a São Paulo, informou que demoramos duas horas e meia por
tinha vagas disponíveis, ela apro- causa do mau tempo”.
veitou a oportunidade e viajou Além do Bandeirante, há outros
C-130 Hércules: capacidade para 90 passageiros. Com ele, quase todos os interessados obtêm vaga
sem pagar nada. Desde janeiro de aviões que transportam passageiros
2008, partiram da Base Aérea de CAN. O Caravan é um dos aviões
Florianópolis 1.383 pessoas com geiro sabe que há vagas horas an- estão todos os militares da FAB tino escolhido. A Base Aérea do que a Base Aérea de Florianópolis
destino a outra base militar do país tes do embarque e como o avião em exercício e seus dependentes Galeão tem o maior número de utiliza para transporte de pessoas.
em um avião da FAB. está em missão, não espera nin- familiares. Depois, seguem outros missões, portanto é para o Rio de Pequeno, ele balança enquanto
O segredo é estar disponível - guém. “Já deixo tudo pronto, tem militares em exercício ou não da Janeiro que há maior possibilida- voa, mas é muito usado em
“Faça a inscrição, mas deixe as que sair correndo, às vezes tem só Marinha ou Exército e seus depen- de de viajar pelo CAN. Partindo missões curtas até o Rio de Janeiro
malas prontas”. Essa é a dica uma hora para estar na Base Aé- dentes familiares. E só então cons- de Florianópolis, é bem possível ou Santa Maria.
que o sargento Ervander Cesar rea”, conta Izildinha que já deixou tam os civis, que são os últimos a conseguir voo para Santa Maria e Quanto maior a aeronave, maior
Ferreira dá para quem deseja de de viajar porque não iria conseguir serem chamados, caracterizados Canoas (RS) e para São Paulo, ca- a possibilidade de embarque para
fato viajar pelo Correio Aéreo chegar a tempo para o embarque. como o 13° grau de prioridade. pital, além do Rio. Mas já partiram quem aguarda na lista do CAN. O
Nacional (CAN) e economizar Militares têm a preferência - Parece difícil para um cidadão voos para Campo Grande (MS), EMB-120 Brasília tem capacidade
100% do valor da passagem. Atualmente, constam 50 nomes comum conseguir vaga em um Manaus (AM), Pirassununga (SP), para levar 30 passageiros, mas nada
Ferreira é o militar encarregado na lista de interessados para via- avião da FAB, mas nem tanto. entre outras cidades. comparado ao C-130 Hércules,
pelo Posto CAN da Base Aérea jar pelo CAN de Florianópolis. O Na Base de Florianópolis são Em 2008, 99 aviões decolaram com 40 metros de envergadura
de Florianópolis. O seu trabalho último a se inscrever foi o militar poucos os inscritos e nem sempre de Florianópolis, levando ao todo e 39 de comprimento que pode
é parecido com o realizado pelos aposentado Carlos Couto Filho, aqueles que são chamados estão 888 passageiros inscritos pelo transportar até 90 passageiros.
balconistas durante o check-in em que esteve na Força Aérea Brasi- de prontidão. Outras vezes, a CAN. Já neste ano, até o final de “Quando pousa um avião grande

4
companhias aéreas comerciais, a sorte ajuda e pousa um avião com assim quase todo mundo que está
diferença é que não tem passagens grande quantidade de vagas, como Enquanto conver- na lista viaja” conta Ferreira. “Se
para conferir, apenas bagagens Militares estão no no dia 21 de fevereiro de 2009, que sava com o Sargento não há restrições quanto a missão
e documentos. Ferreira também pousou um EMB-120 Brasília e 22 Ferreira, dois aviões que o avião está fazendo, quase
é responsável por avisar os topo da hierarquia passageiros viajaram pelo CAN, de patrulha da base todas as aeronaves podem levar
passageiros quando um avião tem de acordo com as sendo que 12 eram civis. decolaram, e a von- passageiros CAN”.
vagas. Foi com ele que Izildinha Para onde o CAN vai - Os avi- tade de voar só au- Helicópteros e aeronaves de
falou para se inscrever em um voo preferências de ões da FAB estão em constantes mentava. Mas não foi desta vez combate (caças) não operam
com destino a São Paulo. embarque missões pelo território nacional e que viajei em um avião da Força pelo CAN. “Como tem pouca
Para viajar assim, ela foi até algumas vezes em outros países. Aérea Brasileira, vou esperar por gente na lista, quem está inscrito
a Base Aérea de Florianópolis, Eles levam militares para uma for- um C-130 Hércules, que deve ser de fato voa”, conta Ferreira, que
localizada no bairro da Tapera. leira entre 1960 e 1993. “Nem sei matura no Rio de Janeiro, buscam mais emocionante. também diz sair voo para o Rio
O portão norte fica ao lado do mais quantas vezes viajei”, conta carga em Santa Maria (RS), tra- Bastidores em: de Janeiro todos os meses. Mas
aeroporto Hercílio Luz. Na base, Couto. E acrescenta ao sargento zem peças de São Paulo. Ferreira http://migre.me/bLuo ele não consegue definir com
Izildinha foi até o Posto CAN com Ferreira, “quero ir para o Rio de conta que o CAN já operou com que frequência decola um avião
toda a documentação necessária Janeiro, pode ser qualquer dia”. rotas regulares, “mas agora é ex- com vagas para o CAN, “É difícil
(original e cópia da carteira de Já experiente em viajar pelo CAN, clusivamente ligado a missões”. outubro, embarcaram apenas 495. dizer, porque passa duas semanas
identidade e comprovante de Couto já está de malas prontas e Nenhum avião é deslocado de sua Segundo o sargento Ferreira, a re- sem nenhum avião e na semana
residência), e junto com o sargento provavelmente irá viajar logo. missão para transportar um pas- dução ocorreu devido ao menor seguinte tem quatro”.
Ferreira, preencheu a ficha de Mas Couto tem uma vantagem sageiro. Todo passageiro CAN é número de missões envolvendo a De fato, é difícil dizer quando
inscrição. sobre Izildinha. De acordo com carona e deve adequar-se à mis- Base Aérea de Florianópolis em um avião vem. A solução mesmo
Além disso, o interessado em as prioridades estabelecidas pelo são já determinada que a aeronave 2009. é estar sempre de malas prontas
viajar pelo CAN deve concordar documento NSCA 4-1, elabora- está cumprindo. Ao todo são 17 Para conseguir viajar em um para não perder a oportunidade de
com a vistoria, sempre que re- do pelo Comando da Aeronáutica cidades em território nacional com avião da FAB que está em missão viajar em um avião da Força Aérea
querida, de sua bagagem. Nesse e pelo Centro do Correio Aéreo Base da Força Aérea Brasileira. É internacional é muito difícil. São Brasileira e de fazer uma boa
momento, também é importante Nacional (CECAN), ex-militares possível ir para qualquer uma de- poucas missões, a maioria dos avi- economia. “Eu acho ótimo, não
informar em qual período deseja têm preferência de embarque. las, desde que tenha um avião em ões partem da Base Aérea do Ga- gasta nada. De Bandeirantes, você
viajar, com disponibilidade qua- se Couto está em sexto na hierarquia missão partindo do ponto onde o leão no Rio de Janeiro, e o passa- não tem ‘lanchinho’, mas também
que imediata. Geralmente o passa- de prioridades, antes dele ainda passageiro se inscreveu até o des- geiro precisa de uma autorização não paga”, resume Izildinha.
Centrais TRÂN

Planejamento precisa ser met


Último estudo sobre mobilidade urbana de Florianópolis é de 1978. Governo alega não ter R$ 2 milhões, custo
coletivo na Grande Florianópolis e a criação tado é explicado pelo crescimento irregular
Berenice dos Santos de pistas exclusivas para ônibus. e dependente das condições geográficas da

U
Hoje, o sistema de transporte coletivo é Ilha. A pesquisa da UnB mostra um levan-
m plano de mobilidade urba- fonte de polêmicas na capital. A última con- tamento de dados sobre o sistema viário de
na que priorize o transporte fusão envolvendo o setor aconteceu no dia cidades brasileiras com mais de 300 mil
público é a solução aponta- cinco de novembro, quando motoristas e habitantes, com o objetivo de determinar a
da por especialistas para os cobradores paralisaram suas atividades por existência de um padrão típico.
problemas do trânsito em duas horas em apoio à greve dos trabalha- De acordo com informações divulgadas
Florianópolis, mas a Prefeitura não parece dores da Zona Azul e para protestar contra na imprensa, a tese de Medeiros constatou
estar preocupada com a ausência de plane- a possibilidade de demissão dos cobrado- que Florianópolis tinha a pior mobilidade
jamento da cidade. Mudanças de itinerários res e a diminuição de horários dos ônibus. urbana do país. Mas segundo o professor da
de ônibus e outras alterações no trânsito Algumas pessoas, revoltadas com a greve Univali Renato Saboya, o trabalho de dou-
são realizadas para sanar problemas emer- repentina, destruíram catracas e bebedouros torado de Medeiros não pode ser usado para
genciais e são baseadas no plano diretor de do Terminal de Integração do Centro. afirmar que a mobilidade urbana da capital
1997. O improviso guia as ações do poder O problema e a solução - Greves de ôni- é ruim, já que não era essa a intenção do
público municipal. bus são rotina em Florianópolis. Em 2009, estudo.
O engenheiro do Instituto de foram duas grandes paralisações. A primei- A pouca integração entre as vias da ca-
Planejamento Urbano de Florianópolis ra, em maio, e durou 24 horas. Em julho, pital é apenas um complicador. Como a
(IPUF), Carlos Eduardo Medeiros, afirma a população ficou três dias sem transporte cidade possui muitas áreas de preservação
que “um plano de mobilidade é a priorida- coletivo. A greve só acabou quando foram ambiental, não há possibilidade de expan-
de número um para a cidade no momento”. atendidas as reivindicações de aumento do são para construção de novas estradas, e a
Entretanto, a Prefeitura ainda não tomou salário e do vale-transporte de motoristas e maioria das obras é feita em aterros. Um
as medidas necessárias para o elaborar. cobradores. estudo sobre transporte público, elaborado
Segundo Medeiros, não há verbas para re- pelo escritório do arquiteto e ex-prefeito de
alizar uma pesquisa de origem e destinos, Curitiba Jaime Lerner, concluiu que a tenta-
importante para determinar onde há mais tiva de resolver os problemas viários a partir
fluxo de pessoas e carros. “Essa pesquisa de grandes obras voltadas para os automó-
custa de R$2 a 3 milhões, mas sem ela não veis só ajuda a deslocar os engarrafamentos
há como elaborar um plano eficaz para a ci- de um lugar para o outro. Não há como ex-
dade”. pandir o sistema viário eternamente.
A mobilidade urbana é a facilidade que A alternativa apontada é uma política que
as pessoas têm de se deslocar através de di- priorize o transporte público. “Enquanto o
versos meios de locomoção, como bicicleta, uso de ônibus não for considerado interes-
ônibus, carro e a pé. Um bom planejamento sante pelos usuários atuais e futuros, o carro
inclui não apenas obras para melhorar o trá- continuará ocupando o espaço que ocupa
fego de veículos, mas mudanças em itine- atualmente na cidade. Só com um sistema
rários de ônibus, construção de ciclovias e eficiente e barato é possível pensarmos em
calçadões para pedestres, medidas de aces- uma troca maciça pelo transporte público”,
sibilidade para deficientes físicos e até a conclui o professor de arquitetura Renato
localização correta de placas. Para elaborar Saboya.
o plano, é necessário fazer um levantamen- Algumas pessoas já estão conscientes da
to de tudo isso. A pesquisa deve abranger necessidade dessa mudança, como o enge-
também a localização dos empregos e das nheiro eletricista Fernando de Souza. Para
Transporte público tem poucos horários
áreas residenciais, além da distribuição de trabalhar, ele vai de bicicleta todos os dias
densidades urbanas, como a de pessoas no do bairro Trindade até Capoeiras, no con-
território da cidade. Quem depende de ônibus para trabalhar tinente. Nos dias de chuva, vai de ônibus.
A última pesquisa abrangente sobre as e estudar sofre com as paralisações relâm- “Eu me sinto contribuindo para a cidade”,
condições de transporte na cidade foi feita pagos e considera o serviço da capital ruim, diz Souza, que usa o carro apenas em situa-
em 1978. O Estudo de Transportes Urbanos muito caro e com poucos horários. Outro ções especiais.
da Grande Florianópolis, feito numa par- acontecimento recente que desagradou aos O estudo feito pelo escritório do arquite-
ceria entre a Secretaria de Transportes e usuários do sistema foi a diminuição dos to Jaime Lerner também aponta a alta car-
Obras do Estado, a Prefeitura e a Empresa horários de certas linhas. Mas há também ga tributária como um desestímulo ao uso
Brasileira de Transportes Urbanos, realizou ações positivas para melhorar a eficiência do transporte coletivo. Em países desen-
uma avaliação minuciosa do transporte da do transporte coletivo. A criação de faixas volvidos, a sociedade transfere verbas ao
capital e de municípios vizinhos, como São exclusivas para ônibus em abril deste ano transporte público, ao contrário do Brasil,
José, Biguaçu e Palhoça. Também foi ela- ajudou a diminuir o tempo de viagem. Estas onde o transporte é que gera recursos ao
borado um plano global de transportes para áreas foram criadas na ponte Colombo governo por meio de impostos. Enquanto
toda a região urbana de Florianópolis, com Salles e na Avenida Jorge Lacerda, na Florianópolis aguarda soluções planejadas
medidas a curto, médio e longo prazo por Costeira do Pirajubaé. para os problemas de trânsito, está em tra-
um período de 15 anos. Além da inexistência de um plano de mitação na Câmara dos Deputados o Projeto
A construção da Ponte Pedro Ivo mobilidade, outro grande problema de de Lei 1.687, que cria diretrizes para a po-
Campos e o aumento do calçadão da Rua Florianópolis é o excesso de carros, não lítica de mobilidade urbana. O projeto ins-
Felipe Schmidt, por exemplo, foram sugeri- há como expandir estradas e avenidas titui que todos os municípios devam ter um
dos por esse estudo. Mas nem todas as alte- para dar conta do aumento de veículos. plano de mobilidade, além de outras medi-
rações indicadas no plano concretizaram-se “Florianópolis está no limite de sua capa- das para incentivar e melhorar o transporte

4
até 1992, prazo final das mudanças. A Via cidade viária”, avalia o engenheiro do IPUF público das cidades brasileiras.
Expressa Sul começou a ser construída ape- Carlos Eduardo Medeiros. De acordo com
nas em 1994 e a Avenida Beira-mar conti- tese de doutorado defendida pelo arquite- A gente acredita que a função
nental está prevista para ser inaugurada ain- to Valério Medeiros na Universidade de da prefeitura é facilitar para
da este ano. Além de obras para melhorar o Brasília (UnB), a cidade tem a menor in- os motoristas. Mas a Ilha não
trânsito de veículos, o estudo indicou como tegração no seu sistema viário entre as 24 aguenta mais. Bastidores em:
objetivo aumentar a eficiência do transporte cidades brasileiras pesquisadas. Esse resul- http://migre.me/bR4t Engarrafamentos nas pontes que ligam Ilha ao co
NSITO Florianópolis, novembro de 2009

ta na capital Sistema viário da Ilha já não


suporta o número de carros
o da pesquisa para elaboração de novos planos
a outra, também com duas fai- lume de automóveis. No caso
Tomás Petersen
xas, Bairro/Centro. A largura do de Florianópolis, não se previu

T
Fotos: Erich Casagrande
viaduto será de 18,60 metros, quando a demanda de automó-
odos os dias e há suficientes para dar vazão ao veis superaria a capacidade, que
15 anos, Carlos fluxo de veículos em horários segundo a professora Lenise,
Alberto Moura de pico”, comentou o prefeito aconteceu a partir do ano 2000.
transporta passa- Dário Berger durante a assinatu- A cidade não acompanhou seu
geiros em seu táxi ra da ordem de serviço. O inves- próprio crescimento.
por Florianópolis. Considera o timento de R$16 milhões será A pesquisa levou em conside-
trânsito da capital “horrível”, um terço pago pela Prefeitura e ração projetos de obras do IPUF,
situação que segundo ele, come- o resto pelo Governo do Estado. em contraposição à construção
çou seis anos atrás. Essa opinião A obra deve sair em 2010. de empreendimentos futuros,
corresponde à de Márcio Corrêa, Na SC-401, enquanto o “con- como o Shopping Iguatemi (na
motorista de táxi há sete anos e serto” do morro deslizado está época), o Sapiens Parque (norte
Dilnei Beza, taxista desde 2000: quase pronto (previsto para ser da Ilha) e o novo aeroporto (no
eles avaliam o trânsito da cidade concluído neste mês), outros sul). Esses empreendimentos
com a mesma palavra. trabalhadores já iniciaram a du- constituem outro ponto impor-
Isso é praticamente uma plicação do trecho que falta, que tante que se reflete nos proble-
unanimidade entre os cidadãos. deve estar pronta no ano que mas de trânsito. Para a professo-
Existem aqueles que precisam vem. Mas o curioso é que a lici- ra Lenise, o conceito de uso de
acordar mais cedo para ir de tação que prevê a manutenção e solo está mal aplicado: os dife-
ônibus ao trabalho; há os que se alargamento da rodovia foi feita rentes tipos de estabelecimentos
atrasam para seus compromissos em fevereiro de 1995. O con- (comerciais, residenciais, etc.)
devido a obras de recapeamen- trato de quase R$3 milhões já são construídos desordenada-
to da pista em pleno horário de previa isso, além dos constantes mente. Ela deu o exemplo da ci-
pico; e há ainda quem não con- recapeamentos que sempre atra- dade de Barcelona, na Espanha:
siga ir ao aeroporto em dias de palham a vida dos motoristas. “Todas as regiões possuem um
jogo. O fato é que o de trânsito comércio local próximo, como
de Florianópolis é péssimo. farmácias, mercados. As pesso-
As pontes, que ligam a Ilha
ao continente e vice-versa, pos-
Em sete anos, as conseguem fazer tudo a pé”.
Na capital catarinense, ocorre o
suem um movimento de cerca de frota de veículos oposto.
130 mil veículos todos os dias e
nelas, os congestionamentos po-
cresceu 36%, A análise dos cenários futu-
ros criados pela pesquisa resul-
dem chegar a 10 quilômetros. entupindo as tou em previsões nada anima-
A rodovia SC-401, que liga o
centro às praias, é problemática
ruas da cidade doras. A relação capacidade/vo-
lume de alguns dos pontos mais
em dois pontos: indo ao norte da movimentados, considerando os
Ilha, depois do viaduto que leva Tende a piorar - As obras po- planos do IPUF, foi maior que
a Jurerê, a pista dupla sofre um dem fazer pouco. É o que con- 80% (quanto maior a proporção,
afunilamento. No pico da tarde, clui a pesquisa Avaliação do mais problemático é o trânsito):
entre 18h e 19h, formam-se filas. impacto do adensamento do uso o acesso ilha-continente, que te-
Durante a temporada de verão, de solo em Florianópolis, feita ria outra ligação; a entrada para
isso dura praticamente o dia in- em 2006 em uma parceria en- a BR-282, que teria faixas adi-
teiro. E mais recentemente, des- tre o Instituto de Planejamento cionais; e a SC-401 totalmente
de novembro de 2008 quando as Urbano de Florianópolis (IPUF), duplicada. As obras previstas
chuvas provocaram uma queda o Departamento de Engenharia para a Lagoa da Conceição e
de barreira no quilômetro 14 da Civil da Universidade Federal para o Campeche, no sul da Ilha,
rodovia, trecho entre Cacupé de Santa Catarina (UFSC) e prometem melhorar. Já o centro
e Santo Antônio de Lisboa, as o Laboratório de Sistemas de da cidade não tem mais jeito: se-
obras de reparos também cau- Transportes da Universidade ria impossível demolir prédios
sam transtornos aos motoristas. Federal do Rio Grande do Sul comerciais para alargar as ruas,
No sul da Ilha de Santa (UFRGS). A proposta da pesqui- por exemplo.
Catarina, a situação não é dife- sa é estudar a atual situação do O resultado do trabalho per-
rente. Na SC-405, o Trevo da trânsito na cidade e prever três mitiu à professora Lenise apon-
Seta reúne diariamente motoris- futuros, levando em considera- tar o principal vilão da mobi-
tas dos diversos bairros em dire- ção os projetos do IPUF: daqui lidade urbana da cidade. De
ção ao centro, que levam apro- a 5 anos, daqui a 15 anos, ou acordo com dados do Detran,
ximadamente uma hora para quando a capacidade atingir a até setembro deste ano, já ha-
percorrer apenas cinco quilôme- saturação na sua totalidade, pra- via mais de 250 mil veículos
tros. Chegando ao centro, mais ticamente o apocalipse viário. em Florianópolis. Em 2002, esta
trânsito lento, já que as ruas A professora da UFSC Lenise quantidade era de 159.423 veí-
não comportam os 250.031 ve- Goldner, uma das coordena- culos, ou seja, em sete anos hou-
ículos segundo o Departamento doras do projeto, é taxativa em ve um aumento de 36% da frota.

4
Estadual de Trânsito (Detran). sua conclusão: “É um equívoco
A Prefeitura Municipal co- falar que erros na infraestrutura A angulação mudou.
meçou, em setembro, a cons- prejudicam o trânsito. O erro Cheguei à conclusão
trução do Elevado do Trevo da está na falta de planejamento que desmentir mitos
Seta, uma reivindicação antiga do sistema viário”. O mapa do é mais interessante
dos usuários do sistema de trân- trânsito tem uma capacidade (o do que só explicá-
sito. “Uma pista com duas faixas número de faixas, por exemplo) los. Bastidores em:
flui no sentido Centro/Bairro e que comporta um limitado vo- http://migre.me/bR94
ontinente chegam a 10 quilômetros durante rush. Ônibus é saída indicada
14 Quatro COMPORTAMENTO E SOCIEDADE Florianópolis, novembro de 2009

Nunca é tarde para pegar a estrada


Histórias de quem, por necessidade ou prazer, provou a liberdade sobre quatro rodas depois dos 30
diferentes. Por isso, os casais sen-

Arquivo pessoal
Claudia Mebs Nunes tem necessidade de que os dois

S
saibam dirigir e, se possível, que
imone Medeiros cada um tenha seu carro próprio.
apoia a vontade da O resultado é uma frota de veícu-
filha, Izabela Cristina los cada vez maior no Brasil. Em
Medeiros, de aprender Santa Catarina, o Detran registrou,
a dirigir logo que com- de janeiro a setembro deste ano,
pletar 18 anos. Izabela defende o a circulação de 3.106.241 veícu-
porquê de tirar a carteira de mo- los pelo estado, 1.220.098 a mais
torista “tão cedo”: “vou ter au- do que o mesmo período de cinco
tonomia para ir à faculdade, festas anos atrás – um crescimento de
e trabalho sem precisar dos pais 39% no número de carros, motos,
para me levar”. Mas com sua mãe caminhões, ônibus e mais 21 catego-
a história foi diferente. Hoje com rias que compõe a frota catarinense.
48 anos, foi aos 40 que a assistente A dependência da família e de
social entrou em um curso de au- transporte público para se loco-
toescola, incentivada por amigas mover pela cidade fez com que
e fa- miliares. O período da vida Beth Mafra começasse a fazer as
em que só andava de ônibus, táxi, aulas da autoescola para tirar a
a pé ou de carro, quando o marido primeira habilitação no início de
Necessidade: aos 52 anos, Beth ganhou de presente o curso da família para levar o filho ao médico
podia levá-la aos lugares, não foi 2009, com 52 anos. A inscrição
maior porque resolveu superar para as aulas foi um presente da
Claudia Mebs Nunes

a insegurança e a dependência família e, concluído o curso, supr-


do esposo. Desde que recebeu a iria a necessidade de levar o filho
carteira de motorista, a utilização Vinícius ao médico quando fosse
do carro é frequente, inclusive preciso, já que o marido trabalha
em viagens para as cidades de em horário comercial e não pode
Tubarão, Curitiba e Florianópolis, levá-lo nas consultas.
distantes até 300 quilômetros de Entretanto, o medo e o nervo-
Joinville, onde mora. Tanto dirige sismo na hora de dirigir fizeram
o Clio modelo 2008, que gostaria com que hoje, com a carteira de
de ser menos dependente do au- motorista em mãos, ela utilize
tomóvel. “Pretendo no futuro di- pouco o carro. “Tenho muito medo
minuir o uso do veículo, levando de dirigir sozinha, sempre dirijo
uma rotina mais tranquila”. acompanhada de meu marido”.
Em meio ao predomínio de pes- Quando Vinícius está doente, o car-
soas na faixa dos 20 anos que estão ro é utilizado, porque dificilmente
inscritas nas autoescolas, um outro Beth pede ajuda para alguém da
grupo de indivíduos, com mais de família. Exceto neste caso - e em
30 anos, chama a atenção pela de- passeios ao supermercado, casa de
terminação de enfrentar as 45 horas amigos e escola, sempre acompan-
de aulas teóricas e outras 20 de aulas hada do marido -, o ônibus continua
práticas. Mariza Teixeira, gerente a resolver seus problemas.
da autoescola Geração, conta que Sem medo de dirigir - Casos
as turmas sempre têm pessoas mais como o de Beth, em que o medo do
velhas, principalmente no período trânsito e a insegurança no volante Simone, que aprendeu a dirigir aos 40, quer que com a filha Izabela (fundo) seja diferente, aos 18
noturno. Em outubro, elas repre- reduzem o uso do veículo, tam-
sentavam 15% das vagas em sala bém adiam a iniciativa de muitas
de aula. As mulheres que chegam pes-soas no processo de primeira e autocríticas, o que faz com que se- duas partes. As primeiras aulas são prática do Detran e ter sua carteira
à autoescola depois dos 30, geral- habilitação. Em Florianópolis, jam ansiosas na direção e cobrem de no consultório, onde são realizadas de motorista em mãos.
mente nunca pegaram no volante, Marcia Battiston, especialista em si mesmas um bom desempenho du- avaliações prévias e identificações A disciplina para fazer o curso
por isso, o desafio costuma ser psicologia do trânsito e do trans- rante a prática. “Geralmente, são as do que pode causar o medo de dirigir. é diária. “Trabalho até às 19 h,
maior. “A partir desta faixa etária, porte, e a orientadora Ivana Maria características particulares de cada O segundo passo são as aulas práti- vou para a autoescola, de onde
as mulheres têm mais dificuldade, de Souza formam um, que inter- cas, que podem ser feitas com o carro saio às 21 h. Quando chego em
porque os homens com mais de 30 uma equipe es- ferem na direção de apoio da equipe ou com o au- casa, ainda cuido do meu filho de
anos geralmente, já sabem dirigir,
só não possuem a carteira de mo-
pecializada em
tratamentos com
Casais passam a do veí- culo e
em outras ações
tomóvel próprio do motorista. Como
cada pessoa tem um atendimento
oito meses”. Entretanto, Simone
e sua irmã, Fernanda Verzola, de
torista”. motoristas inse- acreditar que seja também. Não específico, a duração do programa 27 anos, têm a oportunidade que
Motivos - Os porquês que le-
vam as pessoas a tirar a Carteira
guros na di- re-
ção. O “Dirigir
imprescindível existe, ne- ces-
sariamente, um
varia conforme o progresso de cada
motorista.
seus pais não tiveram. São eles
os responsáveis pelo pagamento
Nacional de Habilitação são mui- sem Medo!” foi cada um ter seu trauma por trás E quando o medo de dirigir não do curso de motoristas das filhas
tos. A maioria dos fatores que
influenciam para a obtenção da
criado há cinco
anos e, investin-
próprio carro do medo”, ex-
plica Márcia.
é o problema? - Simone Verzola
tem 32 anos e vai começar as
e pela realização da independên-
cia no trânsito, tão desejada pelos
carteira de motorista está ligada do principalmen- O perfil dos aulas práticas da autoescola. A motoristas que começam a dirigir
à dependência e à vontade de di- te na divulgação boca a boca, a motoristas que procuram o “Dirigir secretária desejava ter a primeira com mais de 30 anos.

4
minuí-la ou anulá-la por completo. procura pelo tratamento aumenta sem Medo!” é diversificado, com habilitação há algum tempo, mas
O histórico da sociedade brasilei- a cada ano. faixas etárias entre 20 e 60 anos, sen- a falta de um veículo fez com Foi interessante con-
ra, em que as mulheres costuma- Estudos realizados pelas pro- do a maioria aqueles que estão acima que o plano fosse adiado. Com a versar com Beth e re-
vam ser donas de casa, começa a fissionais do programa destacam dos 30. Em relação ao sexo, as mul- aquisição de um Peugeot 206 re- ceber um “obrigada
ser substituído pela rotina em que que existem algumas característi- heres são predominantes na procura centemente, Simone espera fazer por me impulsionar
ambos os parceiros trabalham fora cas comuns às pessoas com medo de por tratamento e representam 95% o caminho de casa até o trabalho a pegar o carro” Bastidores em:
e, na maioria das vezes, em locais dirigir. São detalhistas, competentes dos casos. O programa é dividido em de carro, quando passar na prova http://migre.me/bDxF
Florianópolis, novembro de 2009 COMPORTAMENTO E SOCIEDADE Quatro 15

De amador a multiatleta exemplar


Charles Teixeira tem uma perna só e não para. Pratica tênis, vela e anda de bicicleta por Florianópolis

Diego Cardoso

Diego Cardoso
Nayara D’Alama

U
m acidente em 2005 mudou a
vida do ex-vigilante e manobrista
Charles Teixeira, 33 anos. Perdeu
uma perna, aposentou-se, mas
não deixou de ter força de vonta-
de. O tênis, que era sua distração, hoje é meta
profissional. Além diso, Teixeira treina mais
dois esportes. Pedala sozinho pela cidade e pas-
sa por todos os problemas de mobilidade de um
deficiente físico pelas ruas da capital catarinen-
se. Após ganhar campeonatos locais e estadu-
ais, ele quer chegar mais longe. O QUATRO foi
até as quadras de tênis da Universidade Federal
de Santa Catarina e conversou com o atleta que
dá exemplo de persistência.
Teixeira durante treino nas quadras da UFSC, de olho em um campeonato internacional de tênis em São Paulo
Quatro - Há quanto tempo você treina?
Charles Teixeira - O tênis faz dois anos. Há
quatro, sofri um acidente e um ano depois, conhe- A mídia também não divulga esse tipo de cam-

Diego Cardoso
ci o basquete, o que deu incentivo a outros es- peonato, não traz isso pro conhecimento do
portes, como natação, handebol... O próprio tênis, público. Só aqui na Universidade e em lugares
que é um dos esportes que eu me dedico mais. muito restritos que há esse tipo de modalida-
4 - Quantas vezes por semana você treina? de. A gente sofre um pouco com isso, mas esta-
CT - Treino cinco vezes por semana: de segun- mos batalhando e talvez com esse campeonato
da a quinta-feira e sábado pela manhã. de expressão internacional melhore para mim e
4 - Quanto dura o treino por semana? para os meus companheiros que sempre estão
CT – Geralmente, duas horas por dia. No sá- presentes treinando.
bado é um pouquinho mais puxado, das nove da 4 - Quais as dificuldades na hora do jogo
manhã ao meio dia. Tenho um Campeonato Inter- de tênis?
nacional de Tênis em São Paulo em vista agora no CT - A dificuldade de se alcançar a bola é um
dia 19. Vamos ver como a gente vai se sair! pouco mais complicada e o esporte adaptado dá
4 - É o primeiro campeonato? oportunidade para a bola quicar duas vezes, é a
CT - É o primeiro fora. Houve quatro internos única regra que muda. O ângulo da quadra fica
aqui na UFSC e teve um em Gaspar, que foi o um pouco menor em relação ao tênis normal,
Campeonato Catarinense. Eu levei todos até en- pois você está mais baixo sentado na cadeira de
tão! (risos) Estou sem adversários em Santa Ca- rodas. Mas as dificuldades têm que ser ultra-
tarina. passadas e o esporte... o resultado compensa,
4 - E quais as expectativas para o próximo com certeza.
campeonato? 4 - Você virou atleta depois que sofreu o
CT - Segundo os professores e as pessoas que acidente?
acompanham meu treinamento, tenho um bom de- CT - Sim, gostava muito de esporte antes,
senvolvimento na cadeira. Está tudo correndo bem mas era sempre por lazer. Agora, já é mais para
e espero que eu vá bem nesses cam- rendimento mesmo e o intuito é
peonatos. de levar esse campeonato.
Charles treina 5 vezes por semana até 2 horas por dia
4 - Que outros esportes você “A locomoção fica 4 - Como se tornou deficiente
pratica? físico?
CT - Também pratico a vela bem mais difícil, CT - Sofri um acidente auto- sempre quando é possível, eu tento vir para a Uni-
adaptada uma vez por semana, que mas nada que a mobilístico, fui atropelado por um versidade pedalando.
é um projeto novo aqui em Floria- carro, estava de moto. Após duas 4 - E o ônibus adaptado, funciona bem aqui?
nópolis. Em dezembro eu fui parti- força de vontade semanas, tive que amputar o mem- CT - Eu acho que para cadeirantes fica um pou-
cipar do Campeonato Brasileiro de não resolva” bro. Mas aceitei desde o princípio co a desejar. Como eu tenho uma certa mobilidade
Vela Adaptada em São Paulo. Além já que não tinha o que fazer, né? e consigo andar com a prótese, até tenho que an-
disso, estive, em agosto, no Cam- Foi muito difícil, sofri muito com dar de muleta, fica um pouco mais fácil para mim.
peonato Brasileiro de Handebol no Paraná, fui dores, ainda sofro. A locomoção fica bem mais di- Mas eu creio que para o cadeirante é bem com-
convidado pelo pessoal de lá pra participar. fícil, mas nada que a força de vontade não resolva. plicado. É difícil porque há falta de respeito de
4 - E ganhou alguma premiação lá? Não são problemas, são desafios que a gente têm muita gente que no ônibus não dá lugar para o de-
CT - Em São Paulo, eu fiquei entre os três me- no dia a dia. ficiente sentar, só vai se dar conta que é amputado
lhores na fase classificatória e na segunda parte 4 - Você é de Florianópolis? depois que está saltando, aí pede desculpas... O
eu fiquei em sexto. O pessoal em São Paulo é mais CT - Sou, sou manezinho. manezinho até absorve mais esses problemas dos
acostumado, enquanto aqui estamos começando. 4 - Como você se desloca em Florianópolis? deficientes, mas o pessoal que vem de fora deixa
4 - Você tem intenção de jogar profissional- CT - Eu geralmente utilizo o ônibus. Comecei a um pouco de lado isso, pensa muito em si.
mente? andar de bicicleta também, consigo pedalar, é um

4
CT - Eu pretendo ser profissional. Já fui ran- pouco dificultoso, mas é prazeroso, a locomoção
queado pela Federação Catarinense de Tênis. A fica mais rápida. Eu já fui atropelado duas vezes Descobrimos que um grupo de deficientes trei-
busca de um Campeonato Brasileiro é intensa da depois do acidente. Quem atropela só vai se dar na tênis nas quadras da UFSC. O tema é cer-
minha parte. O problema está nas autoridades que conta quando vê o ciclista no chão. No meu caso tamente delicado, e não poderíamos abordar
não dão nenhum apoio, até a própria Associação até com a prótese, às vezes, eu caio, aí tem que qualquer pessoa de qualquer forma. Foi assim
Florianopolitana de Deficientes Físicos (AFLO- tirar a prótese, a prótese cai. A gente fica com que conhecemos Charles.
DEF) fica um pouco a desejar em relação a isso. um pouco de medo, um certo receio de andar. Mas Bastidores em http://migre.me/bUzs
16 Quatro DESLOCAMENTOS Florianópolis, novembro de 2009

Quando a alma sai do corpo Regressão como tratamento


vidas passadas descobri que
Claudia Xavier
Estudos e relatos para entender experiência de viagem astral fui enforcada em uma árvo-
re e entendi a razão da minha

R
angústia e o porquê do meu
etornar a momen- pavor pela cor verde”. Hoje,
meno com a ajuda de técnicas”. Para Rachadel, professor do tos do passado Nádia conta que não tem mais
Daniela Bidone Para quem já passou por expe- IIPC, as pessoas que experimen- como a infância a sensação de sufocamento e

A
riências de quase morte (EQM), tam uma saída do corpo entendem ou a adolescên- que adora a cor que antes re-
sensação é de estar também é comum descrever que melhor a vida: “Fora do corpo, nós cia, ou até mes- pugnava. Para ela, a regressão
flutuando. “Eu vi transitou por lugares sem o cor- entendemos quem somos, e nos mo relembrar experiências de é como estar em um cinema
uma luz no céu e po físico. O velejador Lars Gra- questionamos sobre o motivo de vidas passadas, é o que prome- assistindo a um filme. “A única
fui até lá, onde en- el, atropelado por uma lancha em estarmos aqui”. O fenômeno não te a terapia de regressão, uma diferença é que a protagonista
contrei meu mentor 1998, declara que saiu do corpo tem relação com nenhuma reli- técnica utilizada com o intuito sou eu”, completa.
espiritual. No tempo real, durou nos instantes em que seu coração gião, mas a maioria das histórias de harmonizar traumas, medos, Segundo o neurologista
pouco mais de um minuto, mas parou, e diz que a sensação é de descreve momentos de paz intensa, repressões e outros sentimentos Paulo César Trevisol Bitten-
pareceu mais longo na outra di- leveza, sem dor, algo de difícil ex- e o resultado é positivo, como para que prejudicam o dia a dia de court, a ciência rotula esta téc-
mensão”. O relato é da funcioná- plicação. Em 2002, o neurologis- Lars Grael, que confessa valorizar determinada pessoa. Para ser nica como fantasiosa, já que
ria do Hospital Universitário da ta suíço Olaf Blanke, do Hospital tudo na vida depois da experiência. submetido ao procedimento é não há explicação científica
UFSC, Glória Mello, que afirma Universitário de Genebra, perce- A projeciologia, ciência que estu- preciso identificar o foco, aqui- para tal procedimento. “O meio
ter vivido o fenômeno chamado de beu o fato ao examinar uma pa- da as ações da consciência fora do lo que realmente incomoda o científico desacredita, mas não
projeção consciente, ou seja, saída ciente epiléptica. No momento em corpo físico, explica as experiên- indivíduo nos tempos atuais. é dono da verdade absoluta e,
do corpo. Assim como Glória, não que o médico estimulou eletrica- cias fora do corpo, já que entende Segundo a coordenadora do até hoje, mesmo com todos os
são raras as histórias de pessoas mente a parte do cérebro chamado as pessoas como uma energia que Projeto Amanhecer do Hospital avanços, muitos fenômenos
que garantem conseguir sair do de giro angular (extremidade do nunca morre, e o corpo apenas Universitário da UFSC, Gilvana ainda não foram explicados e
próprio corpo e fazer uma viagem lobo parietal), ela disse que conse- como suporte físico. Para a me- Fortkamp, inicialmente, é feita alguns dificilmente serão. As
astral, dormindo, conscientes ou guia se ver deitada na maca. dicina, apesar da literatura sobre uma avaliação com o candidato pessoas que fazem regressão
em estado de quase morte. O que já se sabe - Neurocien- o assunto ser restrita, é intrigante para verificar se realmente é ne- acreditam na sua veracidade, e
Segundo o professor Klever- tistas da Universidade da Pensil- entender a atividade do cérebro de cessária a regressão. Caso esta isto faz com que para elas isto
son Luiz Rachadel, que trabalha vânia, nos EUA, chegaram ao que quem garante conseguir fazer via- avaliação seja positiva, a pes- seja realidade”.
no centro educacional do Instituto pode ser a explicação para as saí- gens astrais. Os relatos são muitos soa passa por um relaxamento A coordenadora do Projeto
Internacional de Projeciologia e das de corpo ao fazer tomografias e já acontecem há muito tempo, e depois por uma leve hipnose Amanhecer defende que não
Conscienciologia (IIPC), em Flo- em budistas durante a meditação, o fato é elucidado aos poucos, e o que, de acordo com a coorde- há perigo, mas muitas pessoas
rianópolis, as pessoas também são em 2001. A atividade do lobo pa- mundo cada vez mais aparece como nadora, é a expansão da consci- temem entrar na regressão e
formadas por um corpo extrafísi- rietal, setor cerebral que faz perce- algo além do que se pode tocar. ência. “É preciso, em primeiro não voltar mais aos dias atuais.

4
co, chamado de psicosoma. Du- ber onde termina o corpo e começa lugar, fazer uma harmonização, Segundo Gilvana, isto não é
rante a vida, há uma ligação ener- o mundo, fica muito reduzida nes- Jornalismo é assim, limpar as energias, só isto já possível. Não há contra-indica-
gética entre este e o corpo físico, sas ocasiões, o que traz a sensação quando o repór- deixará a pessoa mais relaxada, ções, mas idosos com proble-
que é interrompida, por exemplo, de um “eu” infinito. Junto a isso, ter menos espera, mais leve”. Gilvana lembra que mas cardíacos devem ser trata-
durante o sono. “Todas as pessoas o lobo temporal direito trabalha encontra alguém na primeira sessão, geralmen- dos com cautela. Para aplicar o
saem do corpo enquanto dormem, mais, e isso pode causar alucina- que viveu o fato. te, não se consegue visualizar procedimento, o psicólogo ou
mas quem é saudável mentalmente ções, além de induzir à religiosi- Bastidores em http:// nenhum acontecimento vivido terapeuta deve saber desenvol-
e fisicamente pode atingir o fenô- dade intensa. migre.me/bDGO anteriormente, isto porque o ver as técnicas necessárias e é
paciente ainda não está aberto preciso ter realizado cursos de
ao procedimento. especialização na área.
Durante a regressão, não se A regressão não está ligada
Arte Quatro

perde a consciência. Ao con- a nenhuma religião, crença ou


Áreas do cérebro ativadas durante as projeções trário, o estado consciente é credo. Para Glória Mello, fun-
fundamental para o êxito do cionária do Hospital Universi-
processo. O terapeuta reen- tário da UFSC, a única crença
Giro angular: Extremidade Lobo temporal direito: carnacionista Gilberto Isidro que deve haver neste caso é a
do lobo parietal, que traz a Com a baixa atividade do Pinheiro explica que o método de que a alma é imortal, tem
percepção de onde termina lobo parietal, o lobo temporal tem um objetivo terapêutico e várias vidas, mas uma única
o “eu” e começa o mundo. A direito fica mais ativado. Isso rompe a sintonia com traumas mente. “ O corpo físico é ape-
baixa atividade do giro angular traz alucinações à pessoa, e de vidas anteriores. “Em cada nas um veículo que dá oportu-
faz a pessoa ter sensação de ser pode induzi-la à religiosidade encarnação, vivenciamos si- nidade de proporcionar experi-
infinita. intensa. A sensação é de estar
tuações que, por vezes, geram ências no plano terreno”. Ela
fora do corpo.
angústias e sofrimentos. Estes já se submeteu à técnica de re-
sentimentos, caso não tratados, gressão e relata que conseguiu
passam de uma encarnação a visualizar momentos já viven-
outra. A pessoa pode ter morri- ciados em seu passado.
do afogada em outra vida e nes- Em todo o Brasil, há insti-
ta ter medo de água”. De acordo tuições especializadas em re-
com o terapeuta, tais problemas gressão e hipnose que cobram
podem ser solucionados com em torno de R$200 a R$300
a regressão que neutraliza as por sessão. O tempo de cada
emoções negativas. uma é variável, assim como
A dona de casa Nádia Car- o número de sessões que uma
doso Pires sofria com um pro- pessoa precisa para conseguir
blema na garganta, como se voltar a vidas passadas.
estivesse constantemente ago-

4
niada, sufocada. Tomava remé- A matéria foi uma sur-
dios, mas não melhorava. Re- presa. Não sabia que
solveu, então, há cerca de três conheceria pessoas tão
anos, buscar ajuda por meio da tranquilas, serenas.
regressão. “A sensação é estra- Bastidores em
nha, mas ao me visualizar em http://migre.me/bDZa
Florianópolis, novembro de 2009 DESLOCAMENTOS Quatro 17

Turismo da fé movimenta economia


lesão nos pulmões, a viagem ao Santuário é

Peri Carvalho
Claudia Xavier
recompensada pela paz que o lugar proporcio-
na e pela alegria de poder estar ali louvando
Viagens religiosas a Santa Paulina pela prece atendida. “Minha
família já era devota da religiosa e sempre que
de 1,7 milhão de pessoas possível visitava o local, mas agora este deslo-
geram empregos camento é mais significativo”. Para Metzner, em
sua sexta passagem pelo templo, estar perto da
e renda pelo país santa é estar no céu. Depois de dois anos e meio
em uma cadeira de rodas, ele veio agradecer por

H
poder chegar até o santuário com as suas próprias
á dois anos e meio, José pernas.
Leopoldo Metzner, 62 anos, Santa brasileira - A irmã de caridade Amábile
ficou ferido em um assalto Lúcia Visintainer, a Madre Paulina, é a pri-
ao posto de gasolina no qual meira santa brasileira reconhecida pela Igreja
trabalhava em Indaial, Santa Católica, canonizada no dia 19 de maio de
Catarina. Ele caiu e fraturou a coluna, perden- 2002 pelo Papa João Paulo II. Dois milagres
do o movimento das pernas. A primeira vez em foram creditados à freira para a sua santifica-
que esteve no Santuário de Santa Paulina, em ção. O primeiro, reconhecido em 1989 pelo
Nova Trento (SC), foi para pedir pela sua recu- Vaticano, foi a cura de Eluíza Rosa de Souza,
peração. Segundo os médicos, seu caso era ir- de Imbituba (SC), que no último mês de ges-
reversível. Jadina Marioneti Caetano, 19 anos, tação do seu último filho recebeu a notícia de
ficou internada durante duas semanas no muni- que o feto estava morto. Ela foi submetida a
cípio de Porto Belo. O diagnóstico da jovem foi uma cirurgia de curetagem, mas teve uma gra-
uma doença chamada pneumotórax instantâneo, ve hemorragia que a levou a uma parada cardí-
Quase 30 mil fiéis visitam por mês o Santuário Santa Paulina
acúmulo anormal de ar que pode atingir o co- aca. Seu quadro foi considerado pelos médicos
ração e levar a morte. Na ocasião, ela pediu a irreversível. As Irmãs da Imaculada Conceição
intercessão da Santa Paulina. que administravam o Hospital São Camilo fize- deslocamento de pessoas impulsionadas pela
Metzner e Jadina são dois dos 1,7 milhão ram uma promessa à Madre Paulina. Na manhã fé, uma prática bastante comum no Brasil. Há
de brasileiros que praticam turismo religioso seguinte, Eluíza estava fora de perigo. vários tipos de viagens que mudam de nome
em todo o Brasil, um movimento que significa O segundo milagre foi a recuperação de Iza de acordo com o objetivo do fiel. A romaria,
quase 2% de todas as viagens realizadas den- Bruna, em 1992, que nasceu com uma defor- por exemplo, é uma atividade turística feita por
tro do país. Esse tipo de viagem também atrai midade no cérebro. De acordo com os médi- uma pessoa ou por um grupo a um destino sa-
estrangeiros, com 25.000 visitantes do exterior. cos, a menina não sobreviveria se submetida grado. O termo é uma referência a Roma, sede
Segundo o Ministério do Turismo, a atividade à cirurgia de reparação. A avó da criança, de da Igreja Católica Apostólica Romana, e é usado
movimenta por ano cerca de R$6 bilhões, geran- Rio Branco (AC), pediu a intercessão de Santa para classificar as movimentações católicas.
do negócios, empregos, renda e, principalmente, Paulina. Iza sobreviveu e não teve sequelas. Já a peregrinação é feita com o intuito de pa-
fortalecendo a economia das cidades e regiões A freira Amábile, que adotou o nome de gar promessas ou outros votos como sacrifícios
onde estão localizados estes templos e santuários. Paulina do Coração Agonizante de Jesus, nas- e oferendas. Quando a finalidade é a remissão
Em todo o país, muitos são os locais onde os ceu na Itália, mas é considera- de alguma culpa ou pecado
fiéis podem depositar suas preces e promessas, da a primeira santa brasileira. denomina-se viagem de pe-
independente do credo ou religião. As cidades de Em 1875, aos 9 anos de ida- A terra de Padre nitência ou de reparação. As
maior destaque no setor são Juazeiro do Norte, de, veio junto com a família diversas religiões e doutrinas
no Ceará, terra de Padre Cícero e Aparecida, e morar no país onde ajudaram Cícero e o organizam outros eventos
em São Paulo, onde está o Santuário Nacional a fundar a cidade de Nova Santuário de fundamentados na fé como
de Nossa Senhora Conceição Aparecida, que Trento, a 80 quilômetros da as procissões, que são cor-
recebe por ano sete milhões de pessoas. Nova capital Florianópolis. Foi Aparecida são os tejos realizados, geralmente
Trento também se destaca nacionalmente pelo no município que a religio- mais visitados em ocasiões festivas, em
Santuário Santa Paulina, que recebe cerca de sa criou a Congregação das devoção a um santo ou di-
30 mil pessoas por mês. Irmãzinhas da Imaculada vindade. Em Florianópolis,
O Brasil, com o maior número de católicos Conceição e onde dedicou sua vida à carida- a Procissão de Nosso Senhor dos Passos, re-
do mundo, tem todos os anos diversos eventos de e ao cuidado aos doentes. alizada na semana da Páscoa, reúne todos os
ligados à fé, entre procissões, feiras, congres- É em Nova Trento que fica localizado o anos milhares de pessoas no centro da capital.
sos, romarias. Mas a pluralidade brasileira tam- Santuário Santa Paulina, que preserva a história O que transforma um lugar comum em um
bém abre espaço para manifestações de outras da Madre. Os turistas podem visitar a Casa destino sagrado são fenômenos sem nenhuma
crenças. Uma delas é a Marcha para Jesus que Paterna, local onde ela morou, o Casebre explicação científica como aparições ou al-
acontece em 200 países e reúne milhares de fi- onde se encontram documentos como a certi- gum religioso que passa a realizar milagres.
éis. No Brasil, a Igreja Renascer em Cristo or- dão de nascimento e a foto da casa que Santa Em outras partes do mundo não é diferente.
ganiza a passeata realizada em São Paulo há 17 Paulina morava antes de vir ao Brasil. Na Índia, por exemplo, os fiéis se dirigem em
anos. “A marcha é o maior evento público do O templo onde são realizadas as celebra- massa para se banhar no Ganges, rio sagrado
mundo com cerca de cinco milhões de partici- ções eucarísticas tem capacidade para cerca de dos hindus. Meca é o principal destino dos
pantes e é onde as pessoas têm a oportunidade 3.500 pessoas e tem como diferencial o formato muçulmanos, pois o profeta Maomé determi-
de demonstrar seu amor e sua fé a Deus”, afir- do telhado, planejado para representar mãos em nou no Alcorão, livro sagrado da religião, que
mou o bispo da Igreja Renascer em Cristo em oração. O Santuário, inaugurado em 2006, é um todo islamita deve ir ao menos uma vez na
Santa Catarina, Sérgio Benites. complexo ecológico em meio à natureza onde po- vida à cidade. O Judaísmo tem como roteiro
Em Florianópolis, a 14ª edição da marcha dem ser encontrados animais, plantas e cachoeiras, peregrinações ao templo de Jerusalém. No
aconteceu em 19 de setembro e, de acordo com além de aproximadamente 30 minilojas, restau- Cristianismo, destacam-se os lugares onde
a Guarda Municipal, reuniu cerca de 50 mil rantes e hotéis que garantem a movimentação Jesus Cristo nasceu, pregou e morreu. Roma,

4
pessoas. “A passeata não é feita para trazer da economia da cidade. onde está localizado o Vaticano e onde estão
mais adeptos à religião, mas sim para dar Segundo Maria Izolete Stähelin, assistente os túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo, recebe Esses dias falei para
mais visibilidade à igreja como um todo. O administrativa do santuário, Madre Paulina milhões de cristãos todos os anos. O caminho alguém como é incrível
diferencial é que não é um protesto, uma ma- tem milhares de devotos por estar mais per- de Santiago de Compostela, que se estende por o fato do jornalismo
nifestação, mas sim uma demonstração de fé to dos cristãos. “Ela viveu aqui, curou aqui, toda a Península Ibérica até a cidade de Santiago nos possibilitar viajar
e de amor em que as pessoas vêm somente tudo aconteceu no Brasil. E é uma ótima in- de Compostela, na Espanha, também é um lugar cada dia a um mundo diferente.
para louvar e agradecer”, completa o bispo. tercessora”, completa. célebre do turismo religioso, pois é onde se en- Bastidores em:
Para a católica Jadina, recuperada de sua As viagens pela fé - O turismo religioso é o contra o túmulo do apóstolo Tiago. http://migre.me/bDxd
18 Quatro PERFIL Florianópolis, novembro de 2009

A voz do apocalipse está nas ruas


P
elas ruas do Centro de Florianópolis,

Alex Sobral
Alex Sobral um homem tenta abordar pedes-
tres apressados. Luciano Maciel
Machado, conhecido também como
Centro é palco Luca Leicam, tenta conscientizar as
pessoas de que “estamos em extinção”. Ele fala
para performances rápido, como um narrador de futebol, e a agres-
sividade de suas interpelações causam as mais
de Leicam, que variadas respostas, como um olhar de medo,
sorriso sem graça, raiva, dó ou assentimento.
acredita na O homem crédulo do fim é gaúcho de Porto
extinção humana Alegre (RS), mas vive em Florianópolis desde
1999. Aos 45 anos, veste-se como um jovem,
com camiseta larga, calça jeans surrada, boné
na cabeça, tênis gasto e uma mochila.
Para Leicam, a civilização está imbeciliza-
da, sem capacidade de reação e reflexão; em
inércia, e a causa disso é o sistema que altera
o ser humano e só lhe dá liberdade de escolher
o que comprar. Por trás de seus óculos peque-
nos, Leicam observa no calçadão da Rua Felipe
Schmidt, no Centro de Florianópolis, quem
irá abordar para lhe aplicar mais um Dircurso
Viabilizador do Tralalá – DVT, espécie de per-
formance cênica com técnicas de vendas e sen- Luciano produz o fanzine Tralalá, que já vendeu mais de 1.100 exemplares numa edição
sacionalismo, onde ele apresenta suas ideias e
vende o fanzine Tralalá, publicação de contra-
Divulgação cultura que criou em 1996. guntou se ele teria coragem de lhe agredir. Sua ele mantém a família. O nome do fanzine é
Em meio a vendedores, aparência raquítica diz pouco. Definitivamente, inspirado no filme Porcile, do diretor italiano
autofalantes, carros e pes- não é uma imagem que imponha medo, portanto Pier Paolo Passolini, um crítico da igreja e da
soas grudadas nas vitrines, naquela situação preferiu agir com displicên- sociedade. No filme, um casal a beira de um
é a única voz da epopeia hu- cia, e não revidar a agressão. O rapaz, então, chafariz, termina uma conversa falando: “tra-
mana, um trovador solitário parou e o olhou como que espantado, em segui- lalá, tralalera”. “É algo infantil, é meio dada-
sem religião. Muitos o chamam da caminhou para o meio da multidão. Laicam ísta, faz com que voltemos à infância, que é o
de louco. Mas ele defende-se: “é é anárquico e prega a não violência, para ele princípio de tudo”. Os fanzines, abreviação de
tratamento de choque. As pessoas agressividade só nas palavras, é com essa que fanatic magazines, tiveram grande importância
precisam ser chacoalhadas e não de ele sempre trabalhou. no movimento de maio de 1968, mas sua ori-
mais alguém para passar a mão na Possuidor de uma dialética cativante, pas- gem vem dos Estados Unidos, geralmente tem
cabeça delas”. sou por vários cursos como história e filosofia, baixa tiragem e não dão lucros como os jornais
Na edição 21 do fanzine Tralalá, antes de se fixar nas artes cênicas. No começo e revistas de bancas.
Leicam compara a situação da hu- dos anos 90, quando ingressou na Universidade A produção do Tralalá é feita através de co-
manidade com a metáfora de uma Federal de Santa Maria, entrou no movimento lagens, fotos e gravuras que Leicam encontra,
rã numa panela de água quente. A estudantil e junto com quatro amigos criou o organizados de forma atraente e direta, de acor-
água esquenta e ela relaxa, e a rã se fanzine Coletivo Urbano. do com a edição. Em seguida,
deixa cozinhar sem resistência. Esse Antes, já contribuía para o original dá lugar as fotocó-
senhor de 45 anos afirma que aque- outro fanzine, A Vaka, res- A civilização está pias que serão dadas em tro-
cimento global, fome, escassez de ponsável por uma intensa e ca de qualquer contribuição.
água, obesidade, guerras e desmata- engajada vida cultural da ci- imbecilizada e A tiragem do Tralalá 21, de
mento cozinham lentamente a civili- dade. Nesse período se tornou só tem liberdade maio de 2009, é de 800 exem-
zação. anárquico. Ainda na facul - plares, mas já houve edição
Leicam anota as reações mais dade começou a trabalhar para escolher o em que foram feitas mais de
interessantes das pessoas à abor- na Rádio Universidade AM e que comprar 1.100 cópias. Todas foram
dagem em seu blog (http://zine- depois na Medianeira FM. A vendidas. Leicam mantém
tralala.blogspot.com) e no fan- união de embasamento teórico um preciso registro dos dias
zine Tralalá, no que ele cha- e a boa forma de expressão, adquirida na facul- trabalhados, exemplares vendidos e valor arre-
ma de pesquisa de campo. dade e no rádio, tornam suas abordagens mais cadado. De abril de 2006 até outubro de 2007
Algumas abordagens são atrativas. Numa conversa rápida com Leicam, foram 7.609 exemplares em 204 dias de trabalho.
hilárias, por exemplo: mu- se ouve nomes como Wilhelm Reich, Antonin Quanto ao lucro, ele prefere não divulgar por
lher de 50 anos se expressa Artaud, Freud e até Nelson Rodrigues. medo da Receita Federal, mas já chegou a ga-
após DVT sobre a extinção Ele se declara um romântico idealista, e se nhar até R$400 em 12 dias.
humana: “Não concordo sente melhor atuando no calçadão do que na O jeito incisivo com que Leicam aborda
com o que tu tá falando, mas UFSC, pois no calçadão as pessoas são mais as pessoas é uma performance cênica, onde a
sei que pode acontecer”.Ele res- vividas. Também já fez parte do Partido dos linguagem, o corpo e o discurso são usados de
ponde: “Você está tendo uma atitude esquizo- Trabalhadores (PT), chegou até a espalhar em modo a chamar a atenção das pessoas para sua
Colagens em edição do Tralalá
frênica concordando e discordando ao mesmo época de eleições adesivos em todos os postes questão. “Minha abordagem é muito intensa,

4
tempo”. Ela retruca “Não posso aceitar porque do bairro onde mora, mas hoje vê em qual- por isso canso muito”, explica. A preferência
Luciano, e seu pertenço à igreja”, e ele finaliza: “Compreendo. quer governo e instituição a manutenção do pelo calçadão da Felipe Schmidt, local de maior
personagem Leicam, Obrigado por sua espontaneidade”. domínio de uma classe sobre a outra. Neste trânsito de pessoas da cidade, o faz conheci-
representam o nosso O anarquista - Certa vez, após abordar um contexto, a religião estaria incluída como um do de muitos. E também o faz visado, alguns
lado mais ativo e pedestre, um jovem alemão alto, loiro e forte, instrumento de exploração dos homens, exis- o evitam, pois Leicam é um “péssimo fisiono-
determinado. Afinal, Leicam se viu em uma situação desafiadora. O tindo para manter o negócio econômico. mista” e aborda a mesma pessoa mais de uma
quem se propôe nos dias de hoje rapaz irado foi para cima dele e de forma vio- Por isso, se declara anarquista. “A humanida- vez. Mas muitos também o apóiam e contri-
a sair à rua para defender o que lenta gritou para que retirasse aquele papel de de sempre evoluiu da rebeldia, de questiona- buem para sua causa, fazendo com que dia após
pensa? Bastidores em http://migre. “m...” de sua frente. Laicam se encolheu todo, mentos e atitudes ativas”. dia ele esteja novamente nas ruas falando o que
me/bDwY mas preferiu encarar a situação e, piedoso, per- Contracultra - É da venda do Tralalá que muitos não estão dispostos a ouvir.
Florianópolis, novembro de 2009 CULTURA Quatro 19

Literatura para botar o pé na estrada


Gênero que existe para US$18 mil. Foram 40 mil quilômetros

Flávio José Cardoso Jr.


percorridos pelas três Américas em cinco me-
desde o século XV ses de viagem, passando por 15 países diferen-
tes, com o objetivo de assistir as Olimpíadas de
produz best-sellers Atlanta em 1996. Na trilha das Américas conta
que o aventureiro suportou temperaturas extre-
e cativa leitores que mas (7° negativos e os sufocantes 40°), que es-
capou do furacão Dolly que devastou boa parte
buscam aventuras do Golfo do México, e que presenciou uma ex-
plosão no Centennial Olympic Park de Atlanta
Thiago Verney que matou duas pessoas e deixou 110 feridas.
“Apesar dos percalços, a forma como se deu a

U
viagem me deixou muito próximo das pesso-
ma viagem ao desconhecido as normais, pois o que fiz é um objetivo que
desvendada a cada palavra, Livro conta viagem de fusca de Vaz até EUA qualquer um pode sonhar e alcançar”, assegura
frase, parágrafo. É assim que a Roberto Vaz.
chamada “literatura de viagem” descritivas foram os antecedentes desta litera- Essa proximidade com o leitor traz as “es-
exerce fascínio no público e tura que, com sucesso, são praticadas até hoje. critas-viagens” para o imaginário coletivo, até
excursiona lado a lado com disciplinas como O livro Mar sem fim, do navegador Amyr mesmo as ficcionais como a obra-prima On the
história e antropologia, relatando desde a Klink, é um exemplo típico que narra desde o Road, de Jack Kerouac, cujo título
poética de navegação, observada no clássico dia em que o aventureiro teve que deixar mu- no Brasil é Pé na Estrada. Publicado
Os Lusíadas de Luis Vaz de Camões, ou o lher e filhas na cidade de Paraty (RJ) até quan- na década de 1950, o livro com tra-
autoconhecimento, como em Comer, rezar, do concluiu sua primeira volta ao mundo. “Um ços autobiográficos mostra a história Carta de Pero
amar, livro de Elizabeth Gilbert que já vendeu
4 milhões de exemplares.
homem precisa viajar para lugares que não co-
nhece para quebrar essa arrogância que nos faz
avessa ao american dream, onde dois
jovens, Sal Paradise e Dean Moriaty,
Vaz de Caminha
Embora tenha antecessores medievais, a “li- ver o mundo como o imaginamos”, registra em atravessam os Estados Unidos de é considerada
teratura de viagem” surgiu de fato na Europa
no final do século XV e começo do XVI. A
seu diário.
O engenheiro-escritor e empreendedor de
costa a costa em busca de autoconhe-
cimento. Foi um retrato do pós-guer-
primeiro diário de
necessidade dos navegadores espanhóis e aventuras Roberto Böell Vaz, radicado em ra norte-americano e gerou tamanha bordo no país
portugueses de registrarem rotas, condições Florianópolis, segue a mesma linha de Klink, identificação do público que influen-
atmosféricas e outros elementos para facilitar mas prefere conhecer humanos “aos pinguins ciou no surgimento da geração beat
as excursões futuras ajudou a criar o gênero. observados pelo navegador”. Vaz já publi- e em alguns dos movimentos da contracultura.
No Brasil, o primeiro exemplo do tema é a car- cou dois livros: Na trilha das Américas e Segundo o pesquisador Stélio Furlan, des-
ta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal Conhecendo o velho mundo, que narra sua tra- de a poética da navegação de Camões a José
D.Manuel I, em 1500, comunicando o “acha- vessia na América e Europa dirigindo veículos Saramago, sempre haverá um ponto de conver-
mento” de novas terras na América do sul. inusitados, como um barco feito com garrafas gência: o relato de um deslocamento em uma
O estilo “diário de bordo” de Caminha é um plásticas. Esta aventura no litoral catarinense escrita em trânsito, tecida ao ritmo do passeio
dos recursos narrativos mais utilizados para ele contará no próximo livro, já em produção. atento. “Todas as formas de sociedade, compre-
retratar uma jornada. Segundo o professor de Vaz já foi inclusive de Florianópolis a Atlanta, endendo tribos e clãs, nações e nacionalidades,
pós-graduação em Literatura e pesquisador nos EUA, dirigindo um Fusca 1975. Era pra ser colônias e impérios trabalham e retrabalham a
do gênero na Universidade Federal de Santa uma picape com tração nas quatro rodas, mas o viagem, seja como modo de descobrir o ‘outro’,
Catarina (UFSC) Stélio Furlan, estas notações orçamento da expedição caiu de US$150 mil seja como modo de descobrir o ‘eu’”.

Road movies fazem da jornada uma reflexão

D
ois motoqueiros cruzam os das e alguns terroristas canibais. No final, não
Divulgação

Estados Unidos em busca de concluem o passeio conturbado, mas o filme é


liberdade. Ao som de Born to apontado pela crítica como uma metáfora que
be wild, na contagiante inter- remete o fim da civilização como a conhece-
pretação de Steppenwolf, Billy mos, devido a hábitos consumistas gerados por
(encarnado pelo ator Dennis Hopper) e Wyatt uma educação capitalista.
(Peter Fonda) fazem da estrada um símbolo da Nesta direção, há o nacional Bang bang
juventude americana dos anos 1960. Mais do (1971), de Andrea Tonacci, e No decorrer do
que viajantes, a dupla do enredo cinematográ- tempo (1976), do alemão Win Wenders, aponta-
fico de Sem destino tornou-se uma clássica re- dos como os favoritos de Fonseca. Atualmente,
ferência ao movimento de contracultura hippie, o brasileiro Walter Salles se destaca no cenário
e é um dos destaques quando se fala de road road, com obras como Central do Brasil (1999)
O clássico Sem Destino é símbolo da juventude
movie. Mas que gênero é este? e Diários de motocicleta (2004). Agora, o dire-
Para o professor e pesquisador de Literatura tor está envolvido na adaptação para o cinema
e Cinema na UFSC Jair Tadeu da Fonseca, de Jean-Luc Godard (1967), além de ser uma do livro On the road, de Jack Kerouac.
road movies têm o deslocamento dos perso- revolução no plano-sequência da época, pois Road movies têm como característica um
nagens como elemento fundamental da trama. utilizou em uma cena um longo travelling late- apelo alegórico que atrai o público justamente
Por isso, já existiam títulos assim antes mes- ral sem cortes acompanhando um congestiona- por essa identificação com o tema: o desloca-

4
mo da criação desse rótulo. Basta lembrar, por mento na autoestrada francesa, foi uma quebra mento retratado nas obras reflete a observação
exemplo, o western de John Ford, No tempo na narrativa tradicional do cinema. da vida de uma forma mais livre em relação ao O provérbio “quem
das diligências (1939), que conta a história de O enredo começa com a viagem de um casal passado ou futuro. Mesmo cercado de imprevis- vê cara, não vê co-
uma caravana atravessando o Velho Oeste até que irá para a casa dos pais da moça. Até aí, tos, esse olhar remete à importância do caminho ração” pode ser uma
ser surpreendida por índios Apaches. tudo bem. Entretanto, no caminho eles se de- e não das chegadas ou partidas. O viés pode até metáfora para uma
Mesmo recente, o rótulo já tem espaço param com situações e pessoas cada vez mais ser simples, mas queira ou não, realizar uma lon- matéria em uma man-
para diferentes ângulos e abordagens, lem- surreais, como carros incendiados, cadáveres ga jornada “sem destino” sempre percorrerá o cha gráfica de jornal. Bastidores
bra Fonseca. O político Weekend à francesa, jogados na estrada, figuras históricas revivi- imaginário coletivo. (T.V.) em: http://migre.me/bEox
20 Quatro CULTURA Florianópolis, novembro de 2009

Cassim e Barbaria, rock pra viagem


C
om pouco mais de um ano de

Divulgação
Rosielle Machado vida, a banda de Florianópolis
Cassim e Barbaria já percorreu
11 mil quilômetros em uma van
Banda de pelos Estados Unidos e Canadá,
participou de quatro festivais de música norte-
Florianópolis americanos e concluiu que empresas aéreas são

estreia com 14 igualmente estressantes em qualquer lugar do


mundo. Ainda não têm 20 toalhas brancas e um
shows nos EUA camarim com foie grás e Johnny Walker na ge-
ladeira, mas carregam a experiência de ter feito
e Canadá e quer a primeira turnê internacional antes mesmo da
nacional, o privilégio do contato com bandas
mais em 2010 do mundo inteiro e o orgulho de quem resume
os 14 shows e as 150 horas de viagem com uma
expressão bastante sucinta: “foi do caralho”.
A banda já nasceu como um projeto viajan-
te. Diferente de outros grupos de Florianópolis
que costumam se destacar principalmente na
cena musical da própria cidade ou no eixo
Arte Quatro

Rio-São Paulo, Cassim e Barbaria preten- Durante primeira turnê, grupo com dois bateristas viajou 11.000 km de van, sem nenhum luxo
dia, desde o início, levar a bandeira de Santa
Catarina mundo afora. Hoje, tem no currículo tendem utilizar uma maior quantidade de im-
uma recente viagem ao Canadá para apresenta- provisos que deixem o som cada vez mais ex- até casas noturnas, restaurantes e, surpreenden-
ções nos festivais Pop Montreal e Indie Week perimental. temente, igrejas - ter 30 pessoas na plateia é
Canada, onde tocaram em outubro, e shows Quanto a substitutos para os que abandona- motivo de comemoração. Além disso, o escas-
no Canadian Music Festival e no South by ram o barco, já têm em mente o nome do co- so público de alguns shows é compensado pela
Southwest, em março deste ano. Para 2010, já lega e guitarrista Gabriel Orlandi e, para cum- intensa troca de experiências com outras ban-
planejam uma segunda aventura musical pelo prir a agenda até o fim do ano, contam com das e pelo contato com gravadoras, produtores
Toronto lado de lá do Equador, ancorados na experi- “Amexa” e “Cachorro” para as apresentações e organizadores desses grandes “carnavais do
ência de ter programado uma turnê inteira por em Cuiabá, Natal, João Pessoa e Goiás. Até lá, rock”, como define Cassiano.
Nova York conta própria, sem empresário, produtor ou as- ensaiam exaustivamente com os dois suplentes A experiência internacional também os ins-
sessoria de imprensa. para os shows que, se não saírem totalmente pirou a importar para o Brasil formatos dife-
O primeiro convite para tocar nos Estados sincronizados, serão pelo menos gastronomi- renciados de se “consumir música”, seguindo
Nova Jersey
Unidos veio com a banda ainda engatinhando, camente fartos. No final de outubro, às véspe- o modelo dos festivais internacionais em que,
em novembro do ano passado. Inicialmente ras de viajar para o festival junto com apresentações por
Boston
pensada como um projeto solo de Cassiano Calango, em Cuiabá (MT), toda a cidade, acontecem con-
Fagundes, então membro da curitibana Bad já planejavam experimen- ferências e exposições. Outra
Austin Folks, logo ficou claro que os demais músicos tar a típica farofa de bana- “A gente aqui faz ideia que pretendem trazer
não poderiam ser utilizados como meros ins-
trumentistas de apoio. “Seria desperdício de
na da cidade. Na turnê de
março, estavam igualmente
uma ideia muito para Florianópolis é a de que
nem sempre os shows preci-
Athens talento”, diz Cassiano. Feita a constatação, de- empolgados para degustar glamourizada de sam estar vinculados a cerveja
cidiram chamar o baterista Guilherme Zimmer,
que já tocava em outras bandas, para se unir a
todas as possibilidades dos
restaurantes americanos. “A
um festival, e não e festa. “Não que a gente não
curta isso, mas é improdutivo.
Washington DC
Cassiano, Eduardo “Xuxu”, Heron Stradioto e gente comia o dia inteiro, é bem assim” Aqui, por exemplo, é impossí-
Filadélfia
Márcio Leonardo. “E eu, sabiamente, não acei- toda hora e as coisas mais vel começar a tocar antes da
tei”, brinca Zimmer, “mas quando me convi- bizarras”, lembra Zimmer, meia-noite”, critica Zimmer.
daram para ir com eles para o festival, resolvi “na verdade é meio que o objetivo da viagem, Durante a turnê americana, a banda se surpre-
Florianópolis reconsiderar. Achei que a banda poderia chegar a banda é só desculpa”, brinca. endeu por constatar que as apresentações nos
a algum lugar”. Chegaram, três meses depois, Além da expansão de horizontes gastronô- bares começavam às 21h. No público, viam
a Nova York, onde iniciaram uma turnê que micos, as viagens trouxeram, principalmente, pessoas engravatadas que haviam saído do
passou por Toronto, no Canadá, e pelos esta- aprendizado. “A gente aqui faz uma ideia mui- trabalho e, como se fossem ao cinema ou ao
dos americanos de Massachusetts, Geórgia, to glamourizada de um festival, e não é assim”, teatro, iam escutar música. “Apesar de menor,
Washington, Pensilvânia e Texas, onde parti- diz Xuxu. Para os músicos, o mais difícil não achamos o público de lá mais interessado que
ciparam do festival South by Southwest, em é ser chamado para tocar nestes eventos, mas o do Brasil”, diz Xuxu.
Austin. conseguir se destacar entre as quase duas mil Para se dedicar à Cassim e Barbaria e aos
Barbaria na estrada - A preparação para a bandas que querem, claro, aparecer. Nesse projetos de impulsionar a cena musical de
viagem foi intensa. Além de ensaiar, precisa- ponto, o fato de serem brasileiros ajuda, ao Florianópolis, Xuxu e Zimmer já deixaram
vam rearranjar as músicas para deixá-las com mesmo tempo em que aumenta a pressão. “O de lado seus empregos de arquiteto e gerente
uma identidade que refletisse cada um dos in- pessoal acha muito massa o fato de ser uma de tecnologia da informação. Cassiano segue
tegrantes. Às composições de Cassiano, todas banda brasileira, mas se você não faz um show atuando como redator e, junto com os dois
em inglês, acrescentaram-se noises improvisa- maravilhoso as críticas são ‘ah, eu esperava colegas, aguarda o fim do ano para fazer aquilo
dos em um sintetizador por Zimmer, que pas- mais da terra dos Mutantes e da Tropicália’”, que chamam de fechar para balanço. Os três
sou também a controlar uma segunda bateria. diz Zimmer. ainda não sabem exatamente o roteiro das
Após muitas noites no estúdio que utilizam Diferente do Brasil, um festival norte- viagens de 2010, mas estudam a possibilidade
para ensaios e gravações no Rio Tavares, em americano é mais uma grande convenção da de incluírem a Argentina - e seu dulce de leche
Florianópolis, Cassim e Barbaria conseguiu se indústria musical do que um evento de entre- - na programação. Sem planos definidos, só

4
tornar o que é hoje: uma banda com duas ba- tenimento. Por isso, apesar de o maior públi- sabem que pretendem continuar a ser uma
Suspeitei que minha terias e influências do rock progressivo alemão co internacional da banda até agora ter sido de banda que viaja.
audição estava em dos anos 70, da psicodelia dos anos 60 e de 200 pessoas em um bar da Filadélfia, o grupo Não simpáticos a empresas aéreas,
jogo ao vê-los colo- experimentalismos. Mas não por muito tempo. não reclama de não ter atingido número seme- certamente ainda vão reclamar muitas vezes
cando protetores de A vontade de inovar, somada à saída do baixis- lhante nos festivais que participou. Em eventos da taxa de excesso de bagagem que uma banda
ouvido enquanto ajei- ta e do baterista, faz com que a banda queira, no qual toda a cidade é mobilizada para shows com guitarras, baixo, equipamento de som,
tavam os instrumentos. Bastidores mais uma vez, se reinventar. No novo álbum, que acontecem simultaneamente, a qualquer sintetizador, amplificador e não uma, mas duas
em: http://migre.me/bADZ que será gravado em dezembro e janeiro, pre- hora do dia, em qualquer lugar - desde a rua baterias, é obrigada a pagar nos aeroportos.
Florianópolis, novembro de 2009 SAÚDE Quatro 21

Fila Zero ainda não diminuiu espera


Desde fevereiro, número dos que aguardam transplante de córneas no estado subiu de 900 para 1.354
dade para qualquer tipo de trans- sistema é seguro e cada funcioná-

Débora Puel
Suélen Ramos plante) e pessoas que correm o ris- rio que tem acesso a esse cadastro

E
co de perder o olho”, explica Joel tem uma senha particular”.
m fevereiro de 2009, de Andrade. Já as filas de fígado, Estatísticas que atrapalham-
o Governo de Santa pulmão e coração, por exemplo, Assim como qualquer transplante
Catarina lançou o são divididas em quatro, uma para de órgãos, pode haver rejeição do
programa Fila Zero cada tipo de sangue: A, B, O e AB. paciente após receber a nova cór-
de Córnea, que Além dessa divisão, a fila para nea, mesmo que todos os exames
previa aumentar o número de transplante de fígado é por gravi- necessários para a comprovação
doações, credenciando bancos dade de caso, já os transplantes da qualidade do tecido captado
de tecido ocular e criando duas de coração e pulmão são feitos de tenham sido feitos. Um desses
novas equipes de transplantes. acordo com o peso e o tamanho exames é quanto à existência do
Além disso, seriam feitos exames dos doadores e receptores, ou seja, vírus de hepatite B ou C. Joel de
para estabelecer a posição dos o biótipo do doador deve ser seme- Andrade exemplifica: se há 60 mil
pacientes em fila, de acordo com lhante ao do receptor. Enfermeira mortes em Santa Catarina por ano,
a gravidade de cada caso. Mesmo da SC Transplantes há 10 anos, apenas 30 mil delas ocorrerão em
com 260 transplantes de córneas Silvana Zanette diz que por mais lugares com estrutura médica para
feitos, de fevereiro a setembro, a que o paciente que precisa de uma que sejam notificadas à Central
fila não diminuiu, pelo contrário, Joel Andrade garante que até junho de 2010 todos serão atendidos nova córnea tenha dificuldades de de Transplantes. Destas, apenas
aumentou. Quando o programa foi visão, ele consegue esperar na fila 15 mil passarão pelo processo de
lançado, 900 pessoas esperavam sem maiores problemas. “Já os que captação, quando autorizado pelas
por córneas e, até setembro deste mais pessoas do que deve, está que também foi credenciado como precisam de transplante de fígado, famílias, devido à contaminação
ano, havia 1.354 pacientes na fila, inchada. É necessário organizar a banco de olhos, assim como o coração e pulmão, dependendo da pelo vírus da hepatite. “Só no oes-
segundo a Central de Captação, fila, revisando quem são esses pa- Hospital Uniclínicas Unimed, em gravidade, podem morrer, caso es- te de Santa Catarina, em torno de
Notificação e Distribuição de cientes, pois alguns deles podem Chapecó”. Nos dias 28 e 29 de ou- perem por muito tempo”. 50 a 70% da população tem o vírus
Órgãos e Tecidos de Santa até nem estarem vivos”. tubro deste ano, 31 pessoas foram O coordenador da SC tipo B ou C”.
Catarina (SC Transplantes). Várias reuniões foram fei- treinadas para retirada de córneas, Transplantes diz que o andamen- Os órgãos transplantados de pa-
O coordenador da SC tas este ano para decidir como o para reforçarem os transplantes do to da fila também é influencia- cientes falecidos são captados ape-
Transplantes, Joel de Andrade, ex- programa vai funcionar, expli- tecido. do pelas condições dos hospitais nas em casos de morte encefálica,
plica que o Fila Zero foi criado no ca o médico coordenador da SC Desde 2005, com intenso tra- credenciados para transplantar. já a córnea pode ser aproveitada de
início do ano, mas para ser coloca- Transplantes. “Foram incluídos balho nos transplantes de órgãos, “Muitas vezes, chega a hora do qualquer paciente que não tenha
do em prática é preciso organizar no Fila Zero, para fazerem trans- a SC Transplantes ganhou visibili- paciente receber o órgão ou tecido, sofrido lesões no tecido ocular.
modelos de gestão do programa, plantes de córneas, o Hospital dade no estado e no país, o que, se- o médico é avisado, mas não há Nem todos os órgãos e tecidos são
para aumentar a captação e, con- Municipal São José, em Joinville, gundo Joel de Andrade, foi essen- leitos no hospital onde o paciente captados porque muitas mortes
sequentemente, os transplantes. o Hospital Governador Celso cial para que tivessem a estrutura está cadastrado ou faltam anes- não são notificadas a tempo à SC
“Além disso, a fila de pacientes Ramos, em Florianópolis, e o que tem hoje e a atenção do go- tesistas”, explica. “Esse tipo de Transplantes, e também porque
que necessitam de córneas tem Hospital Regional de São José, verno. Agora, com o Fila Zero, a problema não pode acontecer, pois o órgão ou tecido, muitas vezes,
intenção é que Santa Catarina tam- não é conservado devidamente até
bém seja referência no transplan- a chegada da equipe de captação.
te de tecidos, principalmente, as “O morto deve ser mantido em lo-
Locais credenciados em SC córneas, que têm hoje a maior fila “Há como zerar cal com temperatura de no máxi-
de espera. “As córneas foram es-
colhidas para um programa como
a fila que existe mo 15 graus e o olho tapado com
gaze umedecida”, explica Joel de
Blumenau esse porque a fila está enorme e hoje. É uma Andrade. Depois de captadas, as
Botelho Oftalmoclínica Ltda
Clínica de Olho Dr. Roberto Von Hertwig
temos a possibilidade de zerá-la
se concentrarmos nosso trabalho
vergonha a córneas são imersas em um me-
dicamento que as conserva por 14
Clínica Médica Oftalmológica Blumenau SS nesse projeto. É uma vergonha a situação atual” dias até o transplante.
Sociedade Divina Providência Hospital Santa Isabel situação como está”. O Fila Zero pretende colocar
Santa Catarina tem 20 clínicas nada adianta termos uma estrutura cada paciente em sua própria ci-
Chapecó
e hospitais que transplantam ór- referência no Brasil na captação dade. “O paciente de Joinville
Associação Hospitalar Lenoir Vargas Ferreira – Hospital Regional
gãos e tecidos, todas pelo Sistema e distribuição de órgãos e belas que precisa de córneas não será
de Chapecó
Único de Saúde (SUS), e 15 des- campanhas publicitárias se os hos- cadastrado no Hospital Celso
Criciúma tes fazem transplantes de córneas. pitais não estão em condições de Ramos, em Florianópolis, e sim
Hospital São José Segundo a Associação Brasileira realizar os transplantes”. no Hospital Regional São José,
de Transplantes de Órgãos O Sistema Nacional de que também faz o transplante e
Florianópolis (ABTO), há 378 equipes cadastra- Transplantes controla as filas e fis- fica na sua cidade”, afirma o coor-
Centro Integrado de Oftalmologia- CIOFT das para transplantarem córneas no caliza as ações das CNCDOs, que denador dos transplantes em Santa
Centro Oftalmológico de Diagnose e Terapêutica S\C Ltda. – país, sendo que 155 foram ativas são as centrais de captação e dis- Catarina. “Mas vamos encaminhar
CODT de janeiro a junho de 2009 e fize- tribuição de órgãos de cada estado. pacientes para os hospitais trans-
Hospital Governador Celso Ramos ram 6.526 transplantes do tecido. Por isso, não é possível que o pa- plantadores de cada cidade só de-
Instituto de Visão Rayes S\C Ltda De janeiro a setembro deste ano, ciente esteja na fila à espera de um pois que zerarmos essa fila, que
Joaçaba foram feitos, em Santa Catarina, órgão ou tecido em mais de um es- tem 1.354 pessoas, e isso será fei-
Hospital Universitário Santa Terezinha 614 transplantes de órgãos e teci- tado. A enfermeira Silvana Zanette to, no máximo até junho de 2010”.
dos, grande maioria no Hospital explica que a base de dados onde
Joinville Santa Isabel, em Blumenau. estão cadastrados doadores e re-

4
Hospital Municipal São José de Joinville A espera por córneas é a única ceptores de órgãos e tecidos, utili- Consegui muitas in-
Instituto de Olhos Sadalla Amin Ghanem S\C Ltda. fila indiana no sistema de trans- zada por todas as CNCDOs, é mo- formações valiosas
São José plantes, ou seja, os pacientes são nitorada pelo Sistema Nacional de sobre o Fila Zero de
Hospital Regional São José Dr. Homero de Miranda Gomes atendidos pela ordem de chegada. Transplantes. “Nós inserimos as Córnea e acredito que
“O caso das córneas é diferente informações dos doadores no sis- servirão como aler-
Videira
dos outros órgãos porque não há tema e ele faz a busca de possíveis ta aos que precisam.
Hospital Santa Maria Ltda.
risco de morte. Só passamos na receptores, de acordo com as espe- Bastidores em:
frente crianças (estas têm priori- cificidades de cada transplante. O http://migre.me/bAyt
22 Quatro SAÚDE Florianópolis, novembro de 2009

Caminhos da transfusão de sangue


Coleta sanguínea leva de 5 a 10 minutos, mas trajetória percorrida até as veias do receptor final é longa

existe um tempo para o organismo nutos para haver a separação das

Condições para a doação


Nayara D’Alama criar anticorpos para os combater plaquetas do plasma.

A
e, se a amostra é coletada neste Com elas prontas para doação,
nnelise Camilo período, os testes podem dar um o plasma é novamente dividido
Miranda, 32 anos, “falso negativo”. O HIV (Vírus entre plasma normal e o chamado
aguarda chamarem da Imunodeficiência Humana), “crioprecipitado”, extração rica Quem pode doar?
seu nome na sala de por exemplo, demora três sema- em substâncias de coagulação. *Pessoas entre 18 e 65 anos
recepção do Centro nas para ser indicado nesse teste. As plaquetas são doadas a pesso- *Pesar no mínimo 50 quilos
de Hematologia e Hemoterapia “Nestes casos não há como identi- as com leucemia e outros tipos de *Não estar em jejum
de Santa Catarina (Hemosc). Há ficar o sangue contaminado. É um câncer, além daquelas submetidas *Não ter comido alimentos gordurosos antes da doação
cinco anos, ao seguir o exemplo risco que corremos”. Roseli alerta à cirurgias cardíacas, enquanto o *Não ter ingerido álcool nas últimas 12 horas
de seu pai, a manicure começou que há casos de pessoas que fazem “crioprecipitado” é destinado a *Ter repousado pelo menos 6 horas na última noite
a doar sangue e desde então pra- a doação com o propósito de veri- pacientes hemofílicos. Já o plas-
tica a ação regularmente: “Gosto ficarem se têm determinada doen- ma normal é encaminhado para os Quem não pode doar?
muito de poder ajudar as pessoas. ça e que isso pode levar à contami- que precisam de reposição hídri- *Pessoas que já tiveram: hepatite B ou C ou doença de Chagas
Comecei assim que tive a chance e nação de receptores. ca, como vítimas de queimaduras. *Portadores de malária ou sífilis
agora doo sempre que possível”. O Se uma amostra aponta resulta- Assim, uma única doação pode *Pessoas que tiveram febre ou gripe nos últimos sete dias
que Annelise e a maioria dos doa- do positivo ou inconclusivo para salvar até quatro vidas. *Grávidas
dores não sabem é todo o percurso alguma das doenças, ou para o Depois da separação, os compo- *Quem teve diversos parceiros sexuais no último ano
pelo qual seu sangue passa até ser exame de hematologia, o Hemosc nentes sanguíneos são armazena- *Usuários de drogas
transfundido para o receptor final. convoca o doador para recolher dos na sala de Hemocomponentes
Fonte: Centro de Hematologia e Hemoterapia de SC
Os doadores têm aproximada- sangue para novo teste e, em caso Bloqueados, onde ficam até que os
mente 450 ml de sangue retirados de confirmação, a pessoa é enca- resultados dos testes com as amos-
para doação propriamente dita minhada para tratamento. Dados tras estejam prontos. que não falte material em nenhu- sou as respostas da ficha de tria-
e outros 45 ml colhidos em três do Hemosc indicam que cerca de O plasma pode ser conserva- ma região. Durante o transporte gem clínica. Se fosse percebido al-
amostras para passar por testes 4% das amostras é infectada por do em temperatura entre -30ºC e para seu destino final, os compo- gum fator de impedimento para a
laboratoriais de tipagem sanguí- alguma doença e, deste total, 2,5% -50ºC por até dois anos, as hemá- nentes sanguíneos são mantidos doação, Annelise não iria adiante.
nea, hematologia e sorologia. O é hepatite B, 0,8% sífilis e 0,05% cias duram até 45 dias entre 2ºC e em temperaturas específicas de ar- Como nada de anormal foi encon-
primeiro exame apenas verifica HIV. O sangue que apresenta algu- 6ºC, e as plaquetas podem ser uti- mazenamento e estão prontos para trado, ela foi para a sala de coleta.
qual é o grupo sanguíneo (A, B, ma alteração nos testes é descarta- lizadas em até 5 dias, mantidas em a transfusão. O procedimento, que dura entre 5
AB ou O) e o fator Rh (positivo do e incinerado. temperatura ambiente. Em geral, Etapas da doação - Por uma e 10 minutos, é feito sob a super-
ou negativo) da amostra. O sangue Separação de componentes - Ao após 24 horas da coleta, os mate- questão de segurança de saúde, visão de enfermeiro ou médico, e
que é encaminhado para o teste de mesmo tem- riais são liberados. todo doador passa por uma pré-se- o material é descartável e encami-
hematologia é testado para exami- po em que as Como a ma- leção para verificar se está apto a nhado para incineração após o uso.
nar se há alterações em sua hemo-
globina, a substância responsável
amostras são
analisadas, as
Por mês, quase nicure Annelise,
outras 9 mil pes-
doar. Assim que chegou ao hemo-
centro, Annelise Camilo Miranda
Geralmente, 450 ml de sangue
são retirados, mas a quantidade
por transportar o oxigênio pelo bolsas de san- 9 mil doadores soas doam sangue apresentou documento com foto, pode ser menor, de acordo com o
corpo. Em caso positivo, o sangue
é descartado e o doador, encami-
gue são pre-
paradas para
procuram os mensalmente no
Hemosc e nos ou-
preencheu um cadastro com seus
dados pessoais e recebeu uma fi-
peso do doador. Para se reidratar, a
manicure recebeu lanche com pão,
nhado para tratamento. A terceira terem os seus hemocentros de tros hemocentros cha de triagem clínica com 46 ovo, fruta, iogurte, suco ou café
amostra vai para o Laboratório de
Sorologia e passa por exames que
componentes
separados. O
todo o estado regionais espalha-
dos pelo estado,
questões. É perguntado se a pessoa
repousou na última noite, se está
antes de deixar o Hemosc. É as-
sim com todos os doadores. Após
identificam se há contaminação primeiro pro- número que re- em jejum ou ingeriu bebida alco- 40 dias, os iniciantes recebem
por alguma doença transmissível cesso retira as hemácias (células presenta 90% das doações realiza- ólica nas últimas 12 horas, se tem suas carteirinhas de doador pelo
que impeça a transfusão. vermelhas) do plasma. O sangue das em Santa Catarina. Os testes alguma tatuagem ou foi submetida correio. Segundo o procedimento
Esses testes são feitos por má- é centrifugado por 10 minutos em das amostras coletadas nos cen- a alguma cirurgia. padrão, homens estarão aptos a
quinas automatizadas que intro- alta velocidade, o que faz com tros de Lages, Joaçaba, Chapecó, O hemocentro ainda quer sa- doar novamente após dois meses,
duzem nas amostras substâncias que as hemácias se depositem no Criciúma e Joinville são feitos ber o número de parceiros sexu- e mulheres, três. Se quiser, a mani-
que indicam a contaminação por fundo da bolsa e o plasma com as em Florianópolis. A distribuição ais do doador no último ano e se cure Annelise pode ajudar a salvar
hepatite, doença de Chagas, sífilis, plaquetas (parte líquida) fiquem na do que é recolhido no Hemosc da é portador de alguma doença. São vidas novamente no ano que vem.
AIDS, entre outras doenças. parte de cima. Após isso, aconte- capital depende da demanda dos avaliados também pressão arterial,

4
Os resultados, entretanto, não ce a separação das duas partes por hospitais, clínicas, ambulatórios, temperatura, pulso, peso e altura, e Entrei na sala de se-
são 100% seguros devido a um uma prensa e o concentrado de he- maternidades e agências transfu- é coletado sangue por um pequeno paração dos compo-
período chamado “janela imu- mácias e o plasma rico em plaque- sionais. furo no dedo da mão para verificar nentes, vi o processo
nológica”. A chefe do setor de tas são pesados. Neste estágio, as O número de bolsas é enviado incidência de anemia. acontecer e tirei algu-
Captação do Hemosc, Roseli hemácias estão prontas para serem de acordo com os pedidos médi- Após esses procedimentos, mas dúvidas com os
Sandrin, explica que após a con- transfundidas, mas o líquido é no- cos. Também há envio de supri- Annelise passou ainda por uma funcionários. Bastidores em:
taminação por agentes infecciosos vamente centrifugado por 15 mi- mentos entre os hemocentros, para entrevista, onde o atendente anali- http://migre.me/bAEI
Arte Quatro

Como funcionam os tipos de sangue Disponibilidade no HEMOSC


Sistema ABO O sangue O pode ser transfundido Fator RH Pessoas que possuem o B-: 2,35% O gráfico ao lado
para todos, mas só recebe doações fator Rh em seu sangue A+: - 34,85% mostra qual a
Doador de si próprio porque ele possui apresentam Rh posi- disponibilidade no
O universal
B+: 8,78%
banco de sangue do
anticorpos A e B, substâncias que
destroem as células de sangue
Rh+ Rh+ tivo, enquanto as que não,
HEMOSC no dia
negativo. Se o receptor não O-: 7,33%
destes tipos. Sangues A e B têm o possui, ao ocorrer uma 1/10/2009 para cada
anticorpos B e A, respectivamente, transfusão, ele formará A-: 5,85% tipo sanguíneo.
A AB B e isso impede doações entre si. Já o Rh- Rh- anticorpos anti-Rh, o que o
tipo AB não apresenta anticorpos, impedirá de receber futuras
o que permite receber sangue de doações de sangue fator
AB+: 7,9%
Receptor O+: 31,63%
A B todos os tipos.
universal Rh+, sob risco de morte. AB-: 1,31%
Florianópolis, novembro de 2009 SAÚDE Quatro 23
Diego Vieira

Lei garante pagamento de diárias a pacientes em tratamento fora de seus municípios, mas a maioria passa dia por conta própria enquanto espera transporte de volta

Transporte de vidas para a capital


“Ambulancioterapia” faz com que pacientes passem por vários hospitais até encontrar atendimento

marcar e ficam batendo de porta nência deles no hospital, e é for- nos de R$3 mil e é

Cátia Santos
Diego Vieira
em porta nos hospitais.” mada exclusivamente por voluntá- composto por um

P
Outro grave problema regis- rios. Para o presidente da AAHU, eletrocardiograma
ara dona Marialva trado nos atendimentos fora do Narciso Policarpo, a “ambulancio- e uma máquina di-
Gomes, moradora do município é a carência financei- terapia” é uma prática desumana, gital para fotografar
município de Videira, ra dos pacientes. Muitos marcam mas não há como acabar com ela. as lesões dermato-
que fica a 450 quilô- consulta para as 9h da manhã, mas “O governo não tem como inte- lógicas. Os exames
metros e 5 horas de o transporte só volta para buscá- riorizar todos os serviços de saú- são realizados por
Florianópolis, o dia começou los no fim da tarde, e os usuários de”. Para ele, o que pode ser feito um profissional
cedo. Ela já acordou ciente que ficam sem ter o que comer. Maria é atenuar o problema deslocando da área da saúde e
enfrentaria um longo dia de “am- Aparecida lembra que existe uma serviços de média complexidade transmitidos para
bulancioterapia”, nome dado pela lei que regula o tratamento de para as localidades mais distantes, um especialista na
população ao trânsito contínuo de saúde fora dos municípios (TFD) deixando somente os casos mais capital, que emi- Até fevereiro, HU vai ter sala de acolhimento
ambulâncias do interior do estado e garante o pagamento de diárias graves para a região da capital. te o laudo técnico.
para a capital em busca de trata- aos pacientes, “mas a maioria dos Para diminuir o sofrimento da Para Harley Miguel
mento de saúde. Dona Marialva, municípios não a cumpre, o que espera, a AAHU está construindo, Wagner, um dos coordenadores do assistência, outro serviço ofereci-
57 anos, reclamava há algumas deixa as pessoas em situação pre- em parceria com a Receita Federal, projeto, o sistema permite a reali- do é o da segunda opinião forma-
semanas de dores nas costas que cária aqui na capital”. uma sala de acolhimento aos pa- zação de exames preventivos em tiva, que pode ser utilizado pelo
apareciam sem explicação e re- Ainda assim, a espera pela van cientes, com televisor e poltronas pessoas que fazem parte do gru- profissional do interior em caso
correu ao posto da cidade, mas e a fome não são as únicas dificul- para que eles se acomodem com po de risco de algumas doenças. de dúvida no diagnóstico. Através
não conseguiu marcar consulta. dades. Há casos em que o paciente mais conforto. A obra deve ficar “Conseguimos diminuir a fila de dele, pode-se consultar os exames
Decidiu tentar vir a Florianópolis perde o horário pronta até fe- espera e atender a uma demanda do paciente e realizar uma troca
em busca de ajuda em uma emer- do transporte vereiro de 2010 reprimida de exames preventivos de informações entre o profissio-
gência. Às 10h da manhã, ela já
havia percorrido dois hospitais na
e fica sem ter
como voltar. A
“Os que vêm sem e custará cerca
de R$1 milhão.
que antes competiam com os ca- nal local e um especialista. Desta
sos de urgência.” O número de forma, o usuário tem outra opinião
tentativa de atendimento e desisti- assistente so- agendar ficam Atualmente, as exames realizados aumentou mui- sem precisar deixar o município
do pelo tamanho das filas.
Decidiu-se por esperar no ter-
cial lembra-se
de um paciente
batendo de porta pessoas aguar-
dam o retorno
to, já que o município não depende de origem e, mais uma vez, evitar
mais de cotas em clínicas privadas os transtornos da “ambulanciote-
ceiro, a emergência do Hospital do oeste que em porta para para casa em ou do transporte para a capital para rapia”. Porém, mesmo com todas
Universitário da UFSC (HU). Ali,
teria companhia para esperar a ca-
ficou sem a
carona de vol-
conseguir consulta” alguns bancos e
no gramado em
prestar o serviço. essas iniciativas, todos os dias de-
O projeto pretende chegar, até o zenas de ambulâncias continuam
rona de volta, às 18h, já que outros ta porque sua frente ao HU. final do ano, a mais de 200 muni- chegando ao HU. O que reforça
pacientes de Videira tinham con- consulta demo- Telemedicina cípios catarinenses, e, em 2009, já a necessidade de capacitação dos
sultas marcadas. Dona Marialva é rou além do esperado. “Nesse dia, - Outra iniciativa para diminuir o realizou mais de 220 mil exames, profissionais dos postos de saúde,
mais uma dos 570 videirenses que pedimos à Associação Amigos do fluxo de pacientes do interior para sendo que desses, 180 mil foram maior investimento na regionali-
conseguem atendimento todos os HU que pagasse a passagem de a capital é o projeto Telemedicina, eletrocardiogramas, todos através zação do serviços e melhorias nas
anos no HU. Para a assistente so- volta, mas nem sempre eles têm uma parceria com o governo do do Sistema Único de Saúde (SUS). condições de recepção aos pacien-
cial do hospital Maria Aparecida condições”. Uma alternativa mui- estado que tem por objetivo rea- Além da realização de exames, o tes na capital. Pessoas como dona
Fagundes, as pessoas que vêm sem to utilizada pelo serviço social do lizar o máximo de procedimentos Telemedicina trabalha com capa- Marialva aguardam a solução.
consulta marcada previamente nos HU é a colocação dos pacientes possível sem que o usuário preci- citação à distância do pessoal de

4
postos de saúde tendem a passar em casas de apoio voluntárias. se deixar o município de origem. atendimento nos postos de saúde. É incrível como as
mais dificuldades em busca da Amigos do HU - Criada em 2001, Através dele, já se pode realizar Todas as semanas, são realizadas pessoas temem repre-
vaga. “As unidades de saúde nos a Associação Amigos do HU procedimentos como o eletrocar- webconferências direcionadas aos sálias das administra-
municípios têm um sistema que dá (AAHU) é uma entidade sem fins diograma e exames dermatológi- profissionais, com temas que vão ções municipais e não
acesso ao agendamento de consul- lucrativos, que tem por objetivo cos nos postos de saúde.O sistema desde a prevenção à diabetes até entendem que o trata-
tas aqui em Florianópolis, mas as dar assistência aos pacientes e básico que é instalado nas uni- ao diagnóstico de câncer de pele. mento é um direito. Bastidores em:
pessoas mal orientadas vêm sem acompanhantes durante a perma- dades de saúde locais custa me- Ainda na área de capacitação e http://migre.me/bA3n
24 Quatro Florianópolis, novembro de 2009

Quatro minutos TEXTOS CURTOS SOBRE TEMAS QUE SE ESTENDEM

A lama foi uma das protagonistas da competição. Com a chuva do fim de semana, além da água que os organizadores jogaram, a pista se transformou numa piscina

Tecnologia e lama
em prova off-road
Texto e Fotos
Erich Casagrande

C
huva, barro e gasolina. Essas foram época, aventureiros se reuniam para cruzar os 1.340
as palavras que marcaram a etapa quilômetros de deserto entre o Oceano Pacífico e o
Regional Sul da Baja SAE Brasil. Golfo do México em carros preparados para qual-
A competição ocorre desde 2003 e quer tipo de terreno. Atualmente, com o avanço da
pela primeira vez foi realizada na tecnologia, os bajas viraram protótipos de carros
cidade de Horizontina (RS). No início de novem- especialmente desenvolvidos para competições de
bro, 13 equipes de estudantes de engenharia de 11 rally. Alguns modelos podem ser vistos em compe-
universidades do sul do país tiveram seu protótipos tições como o Rally Dakar, por exemplo.
off-road desafiados. Os “minibajas”, como também são conhecidos,
Além de apresentarem seus projetos aos juízes são completamente projetados e construídos por
e realizarem as provas de segurança e conforto, os estudantes. A ideia é desenvolver o conhecimento
pequenos carros de rally tiveram que superar cur- na área da construção automotiva, incentivado pela
vas fechadas, piscina de lama, saltos, costeletas e possibilidade de criar um projeto campeão.
adversários em duas baterias de enduro. Eixos que- Na etapa de Horizontina, foram seis provas: segu-
brados, motores fundidos, suspensões arruinadas e rança, apresentação, conforto, suspensão e tração,
Pilotos se reúnem antes da corrida para receber instruções dos fiscais
capotagens. rampa e enduro de resistência. Ao final dos testes,
+
As primeiras competições de baja começaram
no início da década de 60 nos Estados Unidos. Na
venceu o protótipo ilhéu, da equipe da Universidade
Federal de Santa Catarina. 4 Enquanto fotografava, quase fui atropelado por um dos pilotos.
Bastidores em http://migre.me/bL1A

Protótipo não resiste ao duro teste e é retirado do circuito

“Minibajas” são completamente desenvolvidos por estudantes das universidades que participam do evento Foco é desenvolver estudos na construção automotiva

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