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DESCRIÇAO E
REGISTRO DE
COMPORTAMENTO
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o psicólogo escolar, o ela área da saúde' Ü o oxganizacloll;t\,
para resolver problemas como esses, pode necessitar d(~ t/'clli
cas de observação direta e registro de comportamento. Tanto
para que ele próprio observe e registre o comportamento l]\.lt'
pretende modificar, como para treinar o seu cliente, seus auxí-
liaI'es, ou pessoas ligadas a seu cliente, para que elas próprias
observem e registrem o comportamento que deve ser alterado.
A observação precisa de comportamento também é importante
para outras pessoas, que poderiam ser denominadas de
"modificadores de comportamento", entre elas: pais, educado-
res, treinadores de pessoal etc. Seu trabalho poderia toxnar-se
mais eficiente se realizassem observações planejadas e as regis-
trassem adequadall1ent(~l. Por exemplo, o pai que se queixa de a
esposa não saber lidar com o filho de 2 anos, que chora por qual-
quer coisa. Se ela fosse instruída a observar as ocasiões em que
o filho chora, quantas vezes o faz e em que circunstâncias isso
acontece, talvez descohrisse algo mais ou menos assim:
./ A criança chora quando quer obter alguma coisa que não con-
segue por outros meios;
./ Chora m.ais em presença da mãe do que de outras pessoas; e
./ Depois que o garoto começa a chorar, quase sempre a mãe faz
o que ele quer.
Diante dessas constataçâes, já temos meio caminho andado,
dispondo de uma hipótese paxa no1'toa1'o tratamento a ser em-
preendido: talvez, por atender a criança nas ocasiões em que
faz birra, a mãe esteja contrihuindo para manter esse compor-
tamento indesejável. Possivelmente o mais adequado seria ins-
truir a mãe a ouvir o choro e não satisfazer os desejos da crian-
ça, de forma a extinguir o comportamento de birra. Durante o
tratamento, observações continuariam a ser feitas de forma a
;->(' verificar se a tática adotada obteve bom resultado.
Vi H-se, nesse exemplo, a utilidade do uso da observaçãc
I:'OIll porl.anwntal. Mas não é apenas na área de modificação de com-
i
POtta.1 llel110q I[~ A ob'9t'",."('loe r9ga&'{'ro l'llllq li 1I'/;lIll( 'llt;d (', 11 li H)(.-
.,..••~t~ { ,h:,l'I'\';lt::lll (' n'~:l:-'.tn):-:;10úki,-.; /,amh(.m como úwtrumenw
dar ~ql/if;" 11111 hOlll 1l1111H'l'O cientistas tem feito uso deles, Ci·
dt'
,,","li'~AJ)('Il:I~: ;d~~llll;";,() 1;uno::::o Darwin,jáom1872, publicava os
llf4lllf ;'Ill{ I,: (h; ;--:U:IS pn~ei8ase bem descritas pesquisasobservacionillS
It p."Sp&itll da ('xrn'(,Bsâo das emoções*, Nick G. Blurton Jona>
~ell' ,\, 1Iiude, Sidney \V. Bijou, I{arl \Veick e muitos outros têr",
de.die.-60 p;utc de suas vidas para efetuarem pesquisas, utilizan-
do 11:\ 1';( isso diversas técnicas de observação e registro de compo]\
.111< 'li jo.
SQJlvu com atenção, terá notado que os pesquisadores citado
"'fllll III ll1WBestrangeiros e, então, poder-se-á perguntax: "E os bra-
s,lairos não são de nada?". Calma que chegaremos lá! Os nosso.>
~e~'llli,..:;adorestambém têm feito trabalhos utilizando a observ;:;..
~ ('{ImpOItamental. Citemos apenas algtms e as ínstituições ond 8'
~f;Ollcontram atualmente: .1VlargaridaH. Windholz (Centro de Edu ..
cAI:; l() de Habilidades Básicas - São Paulo); l\laria Clotilde RossetJ
I:" lT('il:a(Faculdade de .1VledicÍnada USP - Ribeirão Proto); Tm'f,.
1ft llontual de Lemos l\lettel (Universidade de Brasília) que h,(
if~í1 vêm fazendo e incentivando a realização de pesquisas elo
-t"-; 11 >alhoscom utilização d~) observação de comportamento huma
(f,0: (~ ,"ValteI' Hugo de i\.ndrade Cunha e César Ades (ambos dA-
lJ 11 iversidade de São Paulo) que têm feito o mesmo, principalmeu-
10 (IUanto à observação do comportamento animal.
Pois é,. estamos querendo dar u'a mãozinha ao "aprendiz de.
teiticeiro", isto é, ao aprendiz de psÍcólogo e/ou modificado!' de com
IH lltamento e/ou pesquisador que está lendo estas "mal traçada
", ias " ,.. A'qUI, voce~encon t"raTa a 1gumas "1""d
1'"1 Á r lcas \:~como f"azer par,~A
01lservar e descrever, definir e registrar comportamentos.
Bom proveito.
, I'01' sinaL o incrível trabalho de Charles DarwÍn A expre8são das emoções no homer
,-nos animais - com 128 anos de atrasoO) - foi traduzido para o português, no an
~OOO, pela editora Companhia das Letras, Essa obra é um verdadeiro monmnent
<"<)lU contribuições }antásticas a respeito das emoções, em diferentes culturas
entre os animais. E sempre atual. Vale a pena ler.
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A o1JJserva.çãQ.comporta~eHtalé importante para os PSi-
cólOgos, modifitJadoresflecompOrtifi1m(f?nto e pesquisA"
dores, servindo .•/hes como tim instf1j-mento d? trabalh/)
para obtenção de dados que, enlreouti[âs~~isas, (A-'
2. LINGUAGEM CIENTíFICA
:L ALGUMAS CARACTERíSTICAS
DE UMA UNGUAGEM CIENTíFICA
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Paulo esfa ~;l~!lldd[j;l mesa de llrn bar. Tem à sua fren-
1e qual/(} garraias CUtll rótulos de cerveja: três vazias e
IlIll:) pela metade.
I>raticamente, seu único e repetitivo gesto é o de levar
() copo à boca. Três vezes volta o rosto em direção ao
copo. Duas pessoas passam, andando em torno de sua
mesa. Enquanto ele mantém o rosto e os olhos fixos, vol-
tados para um mesmo ponto do espaço.
Paulo volta o rosto em direção a u'a moça que, pas-
sando ao lado dele, vai sentar-se à mesa que está ao
lado da dele. Seus olhos se movem repetitivamente de
um lado a outro, mantendo o rosto orientado para o ros-
to da moça que se move para um lado e para o outro.
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Algumas vezes, os relatos têm aparência de fína li,mHl, é~
ra correspondam à realidade dos fatos. Exemplo: "Fulano ef'J
a mão no bolso da.calça para tirar o lenço. EntTegou-oa Beltl'tC1
Neste caso, se se tratasse de um relato científico, seria pref(~-.
dizer: "Fulano enfiou a mão no bolso da calça. Retirou o le,,~
Emtregou-oa Beltrano". Desta forma, sempre é preferível a ~
ração dos fatos na seqüência em que ocorrem e se sucedem.
I
Reescreva os seguintes relatos, tornando-os mais bre-
ves e concisos.
::0
"C..tQ,loS disf'e" VI ~Ilh;lC<'l!
O qarolo foi até ele. 'Trata-
S9'd~llln q;uoto IHuilo obediente",
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1. Modifique os relatos dados a seguir, de 10llna a'
carem escritos de maneira direta ou afirmativa:
- "O menino saiu chorando, sem dizer uma só palav~j
Pouco depois, voltou e bateu em alguém que não conheço.
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()n:lIIln ;1se~Junda descriçao. poderia ser alterada de
Illlldo ;( rt'car assim: "O garoto subiu na árvore e, olhan-
di) pdla cinja, chamou a mãe para vê-Io". Ou: "olhando
P;I/;I cima, disse: mãe, vem ver". Você poderia dizer que
"olhando para cima" não expressa exatamente o que a
I, "se "sem olhar para baixo" quer significar. É possíveL
Isso decorre da imprecisão ou falta de clareza da lingua-
qcm comum. Na verdade só quem presenciou o fato é
que poderá explicar com clareza o que, realmente, se pas-
sou. "Olhando para cima" é apenas uma das muitas in-
terpretações possíveis. É por isso que se dá tanto valor
ao linguajar científico, para se evitar frases ambíguas.
4. DESCRiÇÃO CIENTíFICA
E LINGUAGEM COTIDIANA
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Legenda:
o '" relato objetivo;
r '" relato romanceado;
( ) '" trecho suprimido: e
.... '" trecho subStitUldo por outro.
o. ( )
r. Ostenta um olhar de profunda melancolia.
o. e repetitivo gesto
r. e repetitívo gesto
o. )
r. para ver ~~(
. til ~lt. ; til II'" li;', (;c~[veja.
I••
() Uuas pessoas
I\s várias pessoas
U. . passam, andando
r que se movimentam.
o. . ~..enquanto ele
r. parecem não existir para ele
o. ( )
r. São agitação de superfície que não perturbam
o. ( )
r. a triste quietude de suas águas profundas.
o. ( ) Paulo se move ( ).
r. Mas que vejo? Paulo se move !
o. .. Seu rosto se volta em direção
r. Acompanha
o. a( ) uma moça
r. a graciosa criatura
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o. que, passando ao lado dele, vai sentar-se
r. que, passando ao lado dele, vai sentar-se
o. ( )
r. Algo de inexplicável se deu,
o. ( )
f. pois seu olhar refulge!
o. ( )
r. É de alegria que brilham seus olhos.
o. de um lado a outro,
r. de um lado a outro,
o. ( ) 0 rosto
r. os mínimos movimentos do rosto
o. para outro ( )
r. encantadora
( ) ( )
Na verdade, todo o seu ser parece transformado
o. ( )
r. Quem será a linda criatura?
o. ( )
r. Como pôde transformá-Jo assim,
o. ( )
r. tão abruptamente?
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mas de registro têm sido desenvolvidas. A::;que ma ís nos i II-re..
ressam serão apresentadas no Capítulo 3.
O registro cursivo é também chamado de registro con-rl~
nua. Consiste em se descrever o que ocorre, na seqüênci fi
em que os fatos se dão, cuidando-se de se seguir as recomen-
dações técnicas para que se tenha uma linguagem científr
ca.
O exemplo abaixo foi retirado de um registro cursivo efe-
tuado na Santa Casa de lVIisericól'dia d.eSão Paulo, pavilhã()
d.epediatria, onde os sujeitos estavam internados. Trata-se
de registro (1edois minutos de duração, obtido com uma den·
tre 10 crianças que foram observadas na ocasião. As criançaG
podiam se movimentar livremente pelos quartos e corredoR.,
Estavam sendo observadas para que se viesse a conhecer O
seu repertório comporta mental.
Folha de Registro
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{ '••lHO 1'01\1' 5e,. noT#t'du, O n'g:i:-;tro enrHivo é um relato de
"I u!ii& i.udo () 11 w' ·el'. É uma espécie de filmagem do que
:w(>n li
ri. I'rl'é";('nciado, na seqüência em que os fatos se sucedem. O
/ll~j&tfo que leram é uma versão melhorada das anotações,
«.eS11lllidas e cheia de abreviações, feitas durante a observação.
(,"'19 procedimento é bastante usado, quando se trata de regis,
1"'a;oclIfsivo:primeiramente se faz um rascunho com anotaçõeE
1.e611 midas e, depois, se passa a limpo, completando o registro.
Ic'lll dito acima que se relata "quase tudo o que acontece". Issc
l"lj'que, em primeiro lugar, só se registram fatos objetivos qUE
'J'&llham ocorrido. Depois, porque é praticamente impossível SE
At Ilotar tudo o qU(~ocorre.
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alguns a serem observados posteriormente, utiliz,:lnc1o-:-w1é'c,,-
:as de registros mais precisas.
Já se apontou a dificuldade que os registros cursivos apl'Q-
ltam quanto aos comportamentos observados: nem todos S;l( l
~tivamente anotados, ou porque não os percebemos todos, 0\1
rque não há tempo suficiente para que tudo seja registrado,
ada que abl'eviadamente. As vezes um tal problema é cal]-
mado (a) na medida em que, previamente, se decide anotar
um conjunto de comportamentos, POTexemplo, só se regis-
H os compoTtamentos motores ou o que o sujeito falar; (b) ou
resolve fazer uso de um gravador, ditando a ele o que acon-
ce, em vez de ficar a.escrever.
Uma questão, contudo, parece persistir sempre: a
lalltificação dos dados obtidos. Um registro cursivo é uma
~scrição, um relato e não um conjunto de números. Daí, a
ficuldade de se comparar registros cursivos feitos por dois
)servadores independentes. As técnicas que serão descri-
,s no Capítulo 3 se prestam melhor à quantificação.
I~,
~ ell16 nu t1nibc», O AI Hesentador de algum programa de
I \I de). Vá obsC'rvando o que vê ou ouve e anote logo
seguida. Você só desviará o rosto do seu sujeito na
\ 'f11
Folha de Registro
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2a parte: registro definitivo (passado a limpo)
11
l'h, a r, til ti" n<1o inü~rferir no de8empenho dele, ou tirar a
'!·;I H lIitnncldadü.
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