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LINGUAGEM PARA

-
DESCRIÇAO E
REGISTRO DE
COMPORTAMENTO

I. NECESSIDADE DE OBSERVAÇÃO DIRETA


E REGISTRO DE COMPORTAMENTO

o psicólogopode ser considerado como um estudioso do com-


portamento. Costumeiramente sua cooperação é requisitada
1,;lraauxiliar a modificação de comportamentos. Em determi-
aI .• \ ia ocasião, ele pode ser procurado por uma prof(;ssora que

dtspja que seu aluno fique mais sociável e no recreio passe a


bdncar com os colegas. Numa outra oportunidade, talvez seja
ftol ieitado pela moça obesa que está disposta a tudo, a fim de
IH'I'deruns quilinhos e deixaJ:.'de ser chamada de gorducha.
tNtio pense que foÍ equÍvoc"'O, pois o psicólogo dispõe de técnicas
eficazes para a obtenção da perda de peso!) Numa outra vez, é
O industrial que procura o psicólogo, querendo obü~r o melhor
d' 'sempenho de seus operários,. de modo a aumentar a produ-
oao
t
de sua fábrica.

21
o psicólogo escolar, o ela área da saúde' Ü o oxganizacloll;t\,
para resolver problemas como esses, pode necessitar d(~ t/'clli
cas de observação direta e registro de comportamento. Tanto
para que ele próprio observe e registre o comportamento l]\.lt'
pretende modificar, como para treinar o seu cliente, seus auxí-
liaI'es, ou pessoas ligadas a seu cliente, para que elas próprias
observem e registrem o comportamento que deve ser alterado.
A observação precisa de comportamento também é importante
para outras pessoas, que poderiam ser denominadas de
"modificadores de comportamento", entre elas: pais, educado-
res, treinadores de pessoal etc. Seu trabalho poderia toxnar-se
mais eficiente se realizassem observações planejadas e as regis-
trassem adequadall1ent(~l. Por exemplo, o pai que se queixa de a
esposa não saber lidar com o filho de 2 anos, que chora por qual-
quer coisa. Se ela fosse instruída a observar as ocasiões em que
o filho chora, quantas vezes o faz e em que circunstâncias isso
acontece, talvez descohrisse algo mais ou menos assim:
./ A criança chora quando quer obter alguma coisa que não con-
segue por outros meios;
./ Chora m.ais em presença da mãe do que de outras pessoas; e
./ Depois que o garoto começa a chorar, quase sempre a mãe faz
o que ele quer.
Diante dessas constataçâes, já temos meio caminho andado,
dispondo de uma hipótese paxa no1'toa1'o tratamento a ser em-
preendido: talvez, por atender a criança nas ocasiões em que
faz birra, a mãe esteja contrihuindo para manter esse compor-
tamento indesejável. Possivelmente o mais adequado seria ins-
truir a mãe a ouvir o choro e não satisfazer os desejos da crian-
ça, de forma a extinguir o comportamento de birra. Durante o
tratamento, observações continuariam a ser feitas de forma a
;->(' verificar se a tática adotada obteve bom resultado.
Vi H-se, nesse exemplo, a utilidade do uso da observaçãc
I:'OIll porl.anwntal. Mas não é apenas na área de modificação de com-
i
POtta.1 llel110q I[~ A ob'9t'",."('loe r9ga&'{'ro l'llllq li 1I'/;lIll( 'llt;d (', 11 li H)(.-
.,..••~t~ { ,h:,l'I'\';lt::lll (' n'~:l:-'.tn):-:;10úki,-.; /,amh(.m como úwtrumenw
dar ~ql/if;" 11111 hOlll 1l1111H'l'O cientistas tem feito uso deles, Ci·
dt'
,,","li'~AJ)('Il:I~: ;d~~llll;";,() 1;uno::::o Darwin,jáom1872, publicava os
llf4lllf ;'Ill{ I,: (h; ;--:U:IS pn~ei8ase bem descritas pesquisasobservacionillS
It p."Sp&itll da ('xrn'(,Bsâo das emoções*, Nick G. Blurton Jona>
~ell' ,\, 1Iiude, Sidney \V. Bijou, I{arl \Veick e muitos outros têr",
de.die.-60 p;utc de suas vidas para efetuarem pesquisas, utilizan-
do 11:\ 1';( isso diversas técnicas de observação e registro de compo]\
.111< 'li jo.
SQJlvu com atenção, terá notado que os pesquisadores citado
"'fllll III ll1WBestrangeiros e, então, poder-se-á perguntax: "E os bra-
s,lairos não são de nada?". Calma que chegaremos lá! Os nosso.>
~e~'llli,..:;adorestambém têm feito trabalhos utilizando a observ;:;..
~ ('{ImpOItamental. Citemos apenas algtms e as ínstituições ond 8'
~f;Ollcontram atualmente: .1VlargaridaH. Windholz (Centro de Edu ..
cAI:; l() de Habilidades Básicas - São Paulo); l\laria Clotilde RossetJ
I:" lT('il:a(Faculdade de .1VledicÍnada USP - Ribeirão Proto); Tm'f,.
1ft llontual de Lemos l\lettel (Universidade de Brasília) que h,(
if~í1 vêm fazendo e incentivando a realização de pesquisas elo
-t"-; 11 >alhoscom utilização d~) observação de comportamento huma
(f,0: (~ ,"ValteI' Hugo de i\.ndrade Cunha e César Ades (ambos dA-
lJ 11 iversidade de São Paulo) que têm feito o mesmo, principalmeu-
10 (IUanto à observação do comportamento animal.
Pois é,. estamos querendo dar u'a mãozinha ao "aprendiz de.
teiticeiro", isto é, ao aprendiz de psÍcólogo e/ou modificado!' de com
IH lltamento e/ou pesquisador que está lendo estas "mal traçada
", ias " ,.. A'qUI, voce~encon t"raTa a 1gumas "1""d
1'"1 Á r lcas \:~como f"azer par,~A
01lservar e descrever, definir e registrar comportamentos.
Bom proveito.

, I'01' sinaL o incrível trabalho de Charles DarwÍn A expre8são das emoções no homer
,-nos animais - com 128 anos de atrasoO) - foi traduzido para o português, no an
~OOO, pela editora Companhia das Letras, Essa obra é um verdadeiro monmnent
<"<)lU contribuições }antásticas a respeito das emoções, em diferentes culturas
entre os animais. E sempre atual. Vale a pena ler.

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A o1JJserva.çãQ.comporta~eHtalé importante para os PSi-
cólOgos, modifitJadoresflecompOrtifi1m(f?nto e pesquisA"
dores, servindo .•/hes como tim instf1j-mento d? trabalh/)
para obtenção de dados que, enlreouti[âs~~isas, (A-'

aumentem sua compreensão a,..reSJ?ettodocornportA-


mento sob investigação; (b) facilitemo lellant~· to de,
hipóteses ou estabelecimento de. diagnósticó; e q~~
.. .

permitam acompanhar o desenrolarde uma inÜ~. ça O


ou tratamento e testar seus eteitosoLi eficácia.

2. LINGUAGEM CIENTíFICA

Vamos à primeira dica. Diz respeito à linguagem a ser 05#


da ao se descrever observações comportamentais. Imagíne, ..~
estudando em seu quarto. Ai, alguém liga o rádio. Em deter",i
nado momento, você pode dizer aos seus botões:
- "PÔ, logo agora estão irradiando futebol!"
Pouco d('~poís,embora esteja fazendo força para não pre&1"
atenção ao programa de rádio, mas ficar estudando, você srrbl
rá que algum locutor polícial está "dando o seu recado".
Deixando de lado algumas dicas específicas e alguns as,er
tos relacionados com a rapidez ela fala ou com o tipo iJ
entonação de voz, poder-se-ia dizer qU(~ a linguagem de U I

radialista de futebol é dotada de características próprias, dt.v


do ao uso costumeiro de palavras, expressões e até de alguM ~
formas de construir as frase~. O mesmo acontece com o lintU
jar de um repórter policiaL E típieo de narradores de lutebf>l
emprego de expressões como esta: "A..esf(.ml penetrou o barb",
te". Uma análise mais cuidadosa revelaria que possuem \,
maneira especial de descrever o que vêem; possuem uma" c..
guagem", até certo ponto, espedJiea deles. E isso se evídet\C
também na linguagem escrita, 1.<11 como catamos acostumaJI
:\ ler, por exemplo e,tu jornais, nas seções de política ou econo
mia. Quemjá não ouviu a palavra "economêi' para referir-se ao
linguajar próprio dos economistas?
O psicólogo, o modíficador de comportamento e o pesquísadop..
devem ter uma linguag-em específica para descrever suas ob-
s('rvações e comunicar o resultado de seus estudos. Bons exem .•.
J ll.osdessa linguagem podem ser vistos em revistas científica~
de Psicologia ou em resumos de congressos e reuniões científi ...
C:18. No final do texto (Apêndice 1), publicamos uma pesquis;\\
completa que fCü tl'anscríta de uma revista de Psicologia. Len-
Ilo-a você terá um exemplo de utilização da linguagem científ)-
G:l, além de ficar conhecendo uma aplicação prática das princi"
Ilaíe noções e técnicas expostas neste livro, aplicação feita parA
tentar resolver o problema de qual era o melhor local da casPt
1':,1"anele a criança poder estudar.

ObSfi;waçôes comportamentais devem ser descritas utili-


zando-sê uma linguagem científica.

:L ALGUMAS CARACTERíSTICAS
DE UMA UNGUAGEM CIENTíFICA

Dentre as características que poderiam ser requeridas de,


lima linguagem científica, destacaremos quatro, sugeridas po"
Cunha (1976): objetiviclacle; clareza e exatidão; concisão; e se"
_f{nnativa ou direta.
Objetividade. Esta é, certamente, a característica essenet'
A'(.,do linguajal' que estamos chamando de científico. Uma litl
t'h!:1'1T1 (~ohjetiva quando atém-se apenas a coisas e fatos efetll•
vA Illl' 11t(~ obscl'vados. CoÍsas e fatos visíveis, audíveis, palpáveiS

de6c1.s:I:ív(·j;.:;, cheiráveis, enfim, perceptíveis pelos sentidos, seI'\'


,111qlll" dI' 1l1l}(!O g'(\ral, há predomínio do que é percebido pel~
I J
Vl~.oe :1\11 I"1<:;10, Vl~;t() SI'r('111 ' 1 (Ine gera 1Ulente lTIalS
os Sl'nL1<.os . ut.
lizmno;-;. Desta j(n'lll<l, til'iXanH';I.· de' lado tod;l~ Ar. iJl1p'(~~Sub4
jetivas e as interpretações pessoais e leva-se Plll cunta ;.~úas coislll<j;
e fatos perceptíveis pelos sentidos,
Vejamos um exemplo. Se você está lendo um romance, ""o·
deria encontrar alguma passagem semelhante a esta.

Paulo está sentado à mesa de um bar. Tem à frente três


garrafas de cerveja vazias e uma quarta, ainda pela me-
tade. Ostenta um olhar de profunda melancolia.
Não faz nada. Praticamente, seu único e repetitivo gesto
éo de levar o copo à boca. As vezes, olha o copo para
ver se nele ainda há cerveja. As várias pessoas, que se
movimentam à sua volta, não parecem existir para ele. São
agitação de superfície que não perturbam a triste quietu-
de de suas águas profundas.
Mas que vejo? Paulo se move! Acompanha atentamen-
te a graciosa criatura que, passando perto dele, foi sen-
tar -se à mesa ao lado. Algo de ínexplícável se deu. Seu
olhar agora refulge! É de alegria que brílhamseus olhos.
Se movem inquietos de um lado a outro, fitando os míni-
mos movimentos do rosto da moça encantadora. Na ver-
dade, todo o seu ser parece transformado.
Quem será a formosa criatura? Como pôde transfor-
má-Ia assim, tão abruptamente?

Fim. Acabou-se a novela. Quem quiser saber o final, agual2.


de o próximo capítulo, .. Por ora, basta chamar a atenção parA
alguns aspectos desse relato. Está se vendo que não se trata de
uma descrição científica, mas de trecho com algum aspecto d '1
literatura. Se o comportamento de Paulo fosse objeto de um ~
descrição científica, o relato serÍa bem diferente. Talvez o qu ç
se segue:

26
Paulo esfa ~;l~!lldd[j;l mesa de llrn bar. Tem à sua fren-
1e qual/(} garraias CUtll rótulos de cerveja: três vazias e
IlIll:) pela metade.
I>raticamente, seu único e repetitivo gesto é o de levar
() copo à boca. Três vezes volta o rosto em direção ao
copo. Duas pessoas passam, andando em torno de sua
mesa. Enquanto ele mantém o rosto e os olhos fixos, vol-
tados para um mesmo ponto do espaço.
Paulo volta o rosto em direção a u'a moça que, pas-
sando ao lado dele, vai sentar-se à mesa que está ao
lado da dele. Seus olhos se movem repetitivamente de
um lado a outro, mantendo o rosto orientado para o ros-
to da moça que se move para um lado e para o outro.

Ora, dirão, acabou-se a "poesia" da estória! Que seja. Ul'l\


I'clato científico não pode ser "poético", mas deve ser fe1((
numa linguagem objetiva. A edição revista (e melhorada
d:1 "tragédia" de Paulo excluiu as impressões subjetivas do
:lutor, quando diz que o olhar de 110SS0 herói era de melancO.
lia. profunda e se tornou alegria; que a moça era bela e gra<ií~
osa; que as pessoas que passavam perto de Paulo pareciaM
não existir para ele. Excluiu, igualmente, a comparação co~
as águas superficiais e as profundas de algum mar abissaL
por ser u'a. mera figura de estilo e não um fato observado.
Um tipo de interpretação subjetiva, que é fácil de se J.w·
correr, é o que se podería chamar de "finalisrno". Acontec,Q
no caso relatado, quando se diz: "olha para o copo para ve'
se nüle ainda há cerveja". É certo que Paulo poderia ter olhA
do por causa disso. lVIasnão é objetivo dizê-Io, já que ele po
deria ter tido outros motivos, quando olhou o copo. Por exeA\'
pio, poderia olhar para ver se havia espuma na cerveja, ()\
para certificar-se de que não caíra nenhuma mosca no se,
precioso líquido, ou poderia ter olhado sem nenhuma final \
dade especial.

27
Algumas vezes, os relatos têm aparência de fína li,mHl, é~
ra correspondam à realidade dos fatos. Exemplo: "Fulano ef'J
a mão no bolso da.calça para tirar o lenço. EntTegou-oa Beltl'tC1
Neste caso, se se tratasse de um relato científico, seria pref(~-.
dizer: "Fulano enfiou a mão no bolso da calça. Retirou o le,,~
Emtregou-oa Beltrano". Desta forma, sempre é preferível a ~
ração dos fatos na seqüência em que ocorrem e se sucedem.

Sublinhe, nos exemplos abaixo, onde o relato deixa 00-


ser descrição objetiva de comportamento e se toma inte~'
pretação subjetiva a respeito de tais comportamentos.
- "Mariazinha quebrou o vaso e olhou para verificar se.
sua mãe estava brava".
- "Ele permaneceu parado muito tempo na esquina, POP
isso estava irriquieto".
Se respondeu, no primeiro caso: "para verificar se sufl'
mãe estava brava" e, no segundo: "por isso estava irrf~
quieto", acertou. Muito bem!

Clareza e exatidão. O texto a respeito do hipotético PA


também se presta para salientarmos outras caTacteristic Pf'
linguajar científico: clareza e exatidão.
Certamente nenhum literato tem a obrigação de ser ela~
compreensível e ser E~xatoe preciso. Algurp.asvezes ~l belezj
seu relato reside exatamente na ausência dessas caracterÍsd
É o caso de romance "Dom CaSmUTl'O", de J\!Iachadode Assis,
dos mais importantes da literatura brasileira. A impreciso.~
certas situações descritas pelo autor tüm intrigado os estud{ ,
de sua obra, tornando-a mais atrapnle.
lvluitos e muitos livros foram (~:·wríto8 para se discutill
linda Capitu, casada com Benti ho, o traiu ou não com Esc.(
11

seu melhor amigo. É que o auto.", ílll:<~neíonalmente,fez uSo


ambigüidades que deixam o I( ,i tI li" na incerteza. Por ser ~
obra literária e não texto científico, l'~válido o recurso de
de dareza o exatidào.
1'4·l:t éJll.':lilkúvpj que () suposto litel'ato1'e·
IlH':~IlI:1 tPrL~Õ,
"lt:, dito que P:ntlll \'(J11S{~l'Vavaum "olhar de profunda mela~
(AI/li'. I h,' imediato, pode-se dizer que isso é uma impressão subo
Jel'jV:l. Mas também se poderia argumentar que, de fato, algo
I':t:~ê;()n no semblante dele e no seu olhar, de modo a levar oS';
Cl'ilut', que observava a cena, a ter impressão de que havia tris.
-(e'l,;\. Nesse caso, tais modificações do semblante e do olhaR i
q IW deveriam ser descritas detalhadamente.
Noutro ponto, afi:nna-se que "várias pessoas se movime~
"r:\I11 a, vo lt'a de P au I"
o. Q uantas pessoas senam . "/'''?
vanas. l 11.

jdeal seria indicar o número exato ou aproximado. "Se mmJ í


luentam", , o que isso quer dizer? Significa que as pessoas "paf'J
~:un, andando" em torno da mesa, ou que as pessoas que estAi
;\0 lado da mesa estão se rebolando, fazendo ginástica ou moví
1ll8ntando a, mão à frente dos olhos de Paulo? Tudo isso poderÍ
ser considerado como "movimentar-se".
Clareza e exatidão, em oposição a obscuridade, ambigüidadJ
(~imprecisão, afio, portanto, necessárias a um relato científíc.
para que o leitor não tenha dúvida a respeito do que o aut C
quis dizer.

Sublinhe, nos dois exemplos, a(s) palavra(s) que


incorre(m) em falha de exatidão, Tente responder, an~es de
ver as respostas dadas a seguir.
- "Ele permaneceu parado muito tempo na esquina".
- "O patrão deu um pequeno aumento a José".
Respostas: "muito" e "pequeno". O que é "muito tempo"?
Um dia, duas horas ou 30 minutos? O que constitui "pe-
queno aumento"? Dez centavos, cem reais ou o quê?
Para quem ganha salário mínimo, R$50,00 é aumento
reaL Mas não o seria se fosse para o salário de um depu-
tado".
Se acertou tudo, muito bem, caso contrário, seria
conveniente reler texto. °
29
Brevidade e concisão. Se a descrição do nosso literato
fosse um relato científico, poderíamos dizer que o homem está
pior que certos jogadores de futebol: mais cometem faltas do
que jogam, tal como ele mais comete erros do que escreve ...
Outra suposta falha: nã.o é breve ou conciso. Po:rexemplo, quan-
do inclui a comparação com as águas profundas e as superfici-
ais; quando se pergunta: "mas o que vejo?" quando comenta
que "algo de inexplicável se deu" etc. Todas essas coisas são
desnecessárias.
Algumas vezes, a brevidade ou coneisão deve ceder lu-
gar à repetição, redundância ou explicações adiôOlwis, a
fim de que a clareza seja mantida. Dessa forma, se se des-
crevesse que "Beltrano apanhou o lápis e o giz e escreveu",
pocler-se-ia perguntar: com o primeiro, com o segundo, ou
com ambos? Num relato científico, poderia ser necessário
saber com qual deles é que escreveu. Na linguagem comum,
o uso de certas explicações adieionais seria anti-econômico
e até irritante, mas num relato científico podem ser úteis ou
até mesmo indispensáveis.
II m outro exemplo: "lVlárcia foi até a mesa de Carlose
pegou o seu livro". Poder-se-ia perguntar: o livro de quem?
D(.~Nlárcia ou Cados? Seria melhor dizeT: 'l\1árcia foÍ até a
mesa de Cados e pegou o livro dele" (ou: "o livro de
Cados").

I
Reescreva os seguintes relatos, tornando-os mais bre-
ves e concisos.

- "O gato deu um pulo e foi cair a quase um metro do


local. Foi um pulo espetacular".

::0
"C..tQ,loS disf'e" VI ~Ilh;lC<'l!
O qarolo foi até ele. 'Trata-
S9'd~llln q;uoto IHuilo obediente",

Noto-se que, no primeiro exemplo, a indicação de que


() !lato foi cair a "quase um metro do local" pode ser jus-
tlllcada, pois quando não se dispõe de meios para uma
Inensuração precisa, é aconselhável uma indicação apro-
xírnada.
Respostas. Para corrigir os exemplos dados, bastaria
eliminar a última frase de cada um.

Ser direta ou afinnativa. Só se deve descrever o que


.-contece e não o que deixa de acontecer. Em outras palavras
" descrição deve ser feita de maneira direta ou afirmativé
deixando-se de apelar para a negação. Como dizia em classe
Ull1 professor que tive, "se a gente fosse dizer tudo o que nãof.
(Jcontece, não haveria, no mundo todo, tinta e papel que ba5~
orassem"... No trecho referente a Paulo, o nosso literato dissQ
que ele "não faz nada". Ora, por que não incluir que Paul~
1/:10 estava gritando, não estava lendo gibi, não estava fazen'
,10 tricô otc etc? Por sinal, a frase seguinte, da descrição, estA
apresentada de maneira direta f\ afirmativa: "Praticamente
seu único e repetitivo gesto é o de levar o copo à boca". Ressa]~
te-se, também, que o "praticamente" pode ser aceito. Não é C-

único gesto -levar o copo à boca - mas é o mais freqüente. S'


não foi contado quantas vezes tal gE:stofoi repetido, o mai~
correto é usar ou uma medida aproximada ou, "saindo pel. j
tangente", utilizar, como aparece no texto, a palavra "pl'ati
camente".

31
1. Modifique os relatos dados a seguir, de 10llna a'
carem escritos de maneira direta ou afirmativa:
- "O menino saiu chorando, sem dizer uma só palav~j
Pouco depois, voltou e bateu em alguém que não conheço.

- "O garoto subiu na árvore e, sem olhar par baiXe


chamou a mãe para ver".

As correções poderiam ser as seguintes:


"O menino saiu chorando. Pouco depois, voltou e bF
teu numa criança (garoto, homem etc.)".
"O garoto subiu na árvore e, olhando para cima, chA
mou a mãe para ver".

2. Nestas duas correções ainda persistem outras ç-J


lhas contra o linguajar científico. Corrija-as e diga con1' c
que norma(s) peca(m).
Se já corrigiu, tudo bem. Caso contrário faça-o arrre
de ler o que se segue.
"Pouco depois" peca contra a exatidão, e "para v ~
é contra a clareza, pois fica-se sem saber, por exe ~
pio, quanto tempo decorreu no primeiro caso ou, no be
gundo relato, o que o garoto queria que sua mãe "í~
se. Uma das maneiras de se corrigir a primeira desc.:l
ção seria: "O menino saiu chorando. Voltou e bateu nUlY\
criança". Ou: "Trinta segundos depois, voltou ..." Se o tef"\
po não foi cronometrado, poder-se-ia ou eliminar a ino i
cação de tempo, como se fez acima, ou estimar a s \A
duração: "cerca de meio minuto depois, voltou" ...

32
()n:lIIln ;1se~Junda descriçao. poderia ser alterada de
Illlldo ;( rt'car assim: "O garoto subiu na árvore e, olhan-
di) pdla cinja, chamou a mãe para vê-Io". Ou: "olhando
P;I/;I cima, disse: mãe, vem ver". Você poderia dizer que
"olhando para cima" não expressa exatamente o que a
I, "se "sem olhar para baixo" quer significar. É possíveL
Isso decorre da imprecisão ou falta de clareza da lingua-
qcm comum. Na verdade só quem presenciou o fato é
que poderá explicar com clareza o que, realmente, se pas-
sou. "Olhando para cima" é apenas uma das muitas in-
terpretações possíveis. É por isso que se dá tanto valor
ao linguajar científico, para se evitar frases ambíguas.

Na descrição científica de comportamentos, deve,..sepro-


curar ser o mais objetivo possÍvel, tudo expressar com
c1areza,exatídão e concisão, descrevendo-se o que
acontece, na seqüência em que os fatos se sucedem,
de·maneira direta ou afirmativa.

4. DESCRiÇÃO CIENTíFICA
E LINGUAGEM COTIDIANA

A linguagem que usamos em nossa vida diária, a lingua.


\.(emcoloquial, normalmente se apresenta repleta de subjetivi
dades e imprecisões. Além de outros fatores, contribui para iss(
(I fato de cada palavra possuir múltiplos significados. Tantos E

tais, que certo estudioso se referia à linguagem como uma "fon·


te de mal entendidos" e concluía ser um verdadeiro milagre (
fato de conseguirmos nos fazer entendm>. Além de interpreta
ções subjetivas e imp.recisões, a linguagem cotidiana faz uso dE
expressões desnecessárias, e outros recursos, que se opõem ai!
linguajar científico.
33
Por tais razões, e uma vez que é de capital imptll'l,úllcí;
que psicólogos, modifícadores de comportamento e pesquil-';l'"
dores se façam entender adequada e plenamente, é necessú_
rio que deixem de lado a linguagem cotidiana ou coloquial e
utilizem a científica, quando descrevem suas observações 011
relatam seus estudos. É igualmente necessário, como vere-
mos mais adiante, que definam os comportamentos aos quaió
dizem se referir. Do contrário, poderão estar falando de coi-
sas diferentes quando afirmam estar se referindo a uma mes -
maCOlsa.
O longo costume que temos no uso da linguagem coloquiaL.
constitui, no entanto, uma dificuldade ao aprendizado de umA
linguagem científica. Donde se fazer necessário um treina ...
mento especial para que ela seja adquírida.
Não se pode pretender que deixemos de utilizar a língua -
gem coloquial no nosso día-a-dia, e que os literatos não empre-
guem um línguajar repleto de figuras de estilo em seus escri-
tos. Como diziam os antigos, "Cada coisa em seu lugar" ou ain ..
da, "Para tudo há tempo e hora". Seria ridículo, quando nãO
fosse pedante e até irritante, requerer que em nossa comuni-
cação diária, ou na literária, fôssemos ohjetivos, claros, exa ...
tos, concisos e só relatássemos as coisas de maneira afirmati-
va. Se isso fosse feito, complicaríamos o nosso relacionamento
diário, além de, quem sabe, tornarmos o mundo menos colori-
do, menos poético e menos agradável. Nada disso!

Psicólogos, modifícarJores de comportamento e


pesquísadores,alétn(jJa linguagem coloquial que usam
no Se# diaê:a-difi!T de}t-fJin utilizar o IinguajqJPc;;ientifico para
de$CreW3tti.Fd(jfin;ntomportamentos, o qUfJ.Ldêmandaum
trE;ifJa to(;;sp~cial.
! ';Hd pc:nnílir que você estabeleça melhor a diferença
(~lIhe as lillquagens corriqueira e cientifica, reproduzimos
a es1ória de Paulo numa disposição gráfica especial que
perrnite compará-Ias quase que palavra por palavra.
A fim de evitar que durma ao reler a estória de Paulo,
propomos escolha uma dentre duas alternativas: ler o tex-
to com vagar e procurar responder a pergunta que será
feita logo mais. Nesse caso, além da oportunidade de es-
tabelecer melhor a diferença entre as duas linguagens,
você estará descobrindo mais um erro que deve ser evi-
tado numa linguagem científica.
A outra alternativa é, pura e simplesmente, pular esse
trecho e passar diretamente para o item seguinte. Afi-
nal, esse é um direito que você tem, principalmente num
país democrático ... Para quem escolheu a primeira alter-
nativa, eis a pergunta (a esses fica assegurado um outro
direito democrático, o de xingar o autor ...):
Dentre os trechos que foram suprimidos, indicados pe-
los parênteses, alguns o foram por ser um recurso usu-
al em nossa linguagem corriqueira e que não tem cabi-
mento num relato científico, o uso de adjetivos. Após ler
o relato, indique pelo menos dois deles.
A primeira linha traz a versão mais objetiva (simboliza-
da pela letra o) e a segunda, a romanceada (indicada pela
letra r). Os parênteses mostram os trechos suprimidos e
a linha pontilhada salienta os trechos que foram substituí-
dos por palavras ou expressões equivalentes, porém mais
objetivas. Note-se que se trata de "expressões equivalen-
tes", pois a linguagem corriqueira admite, muitas vezes,
várias interpretações e se presta a certas ambigüidades.
Você, ou qualquer outra pessoa, pode duvidar ou discor-
dar que a "tradução" dada corresponda ao que o texto ro-
manceado quis dizer. É exatamente para tentar evitar es-
sas falhas que em Psicologia e outras áreas procura-se
adotar uma linguagem mais objetiva.

35
Legenda:
o '" relato objetivo;
r '" relato romanceado;
( ) '" trecho suprimido: e
.... '" trecho subStitUldo por outro.

o. Paulo está sentado à mesa de um bar.


r. Paulo está sentado à mesa de um bar.

o. Tem à sua frente quatro garrafas


r. Tem à sua frente t rês garrafas

o. . com rótulos de cerveja:


r. de cerveja

o. três vazias e uma ( ) pela metade.


r. vazias e uma ainda pela metade.

o. ( )
r. Ostenta um olhar de profunda melancolia.

o. ( ) Praticamente, seu único


r. Não faz nada. Praticamente, seu único

o. e repetitivo gesto
r. e repetitívo gesto

o. é o de levar o copo;) 1)()Cd - três vezes


r. é o de levar o copo ;1 boc; i Às vezes

o. .. VOIl;l () l(l';\(l t~1l1 direção ao copo.


r. olha o copo,

o. )
r. para ver ~~(
. til ~lt. ; til II'" li;', (;c~[veja.

I••
() Uuas pessoas
I\s várias pessoas

U. . passam, andando
r que se movimentam.

o. . em tomo de sua mesa,


r. à sua volta

o. . ~..enquanto ele
r. parecem não existir para ele

o. mantém o rosto e os olhos fixos,


r.

o. voltados para um mesmo ponto do espaço.


r.

o. ( )
r. São agitação de superfície que não perturbam

o. ( )
r. a triste quietude de suas águas profundas.

o. ( ) Paulo se move ( ).
r. Mas que vejo? Paulo se move !
o. .. Seu rosto se volta em direção
r. Acompanha

o. a( ) uma moça
r. a graciosa criatura

37
o. que, passando ao lado dele, vai sentar-se
r. que, passando ao lado dele, vai sentar-se

o. à mesa que está ao lado da dele.


r. à mesa do lado.

o. ( )
r. Algo de inexplicável se deu,

o. ( )
f. pois seu olhar refulge!

o. ( )
r. É de alegria que brilham seus olhos.

o. Seus olhos se movem repetitivamente


r. se movem inquietos

o. de um lado a outro,
r. de um lado a outro,

o. . mantendo o rosto orientado para


r. fitando

o. ( ) 0 rosto
r. os mínimos movimentos do rosto

o. da moça que se move de um lado


r. da moça

o. para outro ( )
r. encantadora
( ) ( )
Na verdade, todo o seu ser parece transformado

o. ( )
r. Quem será a linda criatura?

o. ( )
r. Como pôde transformá-Jo assim,

o. ( )
r. tão abruptamente?

Cite dois adjetivos, dentre os utilízados na narrativa:


..................................
e .
Respondendo à pergunta formulada, você poderia ter in-
dicado dois dentre estes adjetivos: "triste", "graciosa", "mí-
nimos", "encantadora" e "linda".

Caso queira testar sua compreensão a respeito das idéias priJ-


cipais desenvolvidas até aqui, no presente texto, vocêpode resol.-
ver o Exercício I, que se encontra no Anexo 1, no fu1al do livro.

5. REGISTRO CURSIVO DE COMPORTAMENTO~

A observação pl'ecisa de comportamentos, feita diretamen-


te, a saber, quando o observador se coloca frente ao seu sujeite
e o observa, é essencial a trabalhos de psicólogos, modificadoreS
de comportamento e pesquisadores. O registro dessas observA'
ções também se reveste de importância, na medida em que fPt-
cilita a análise posterior, dificultando a ação do esquecimento.
Uma forma simples de registro é o denominado "cursivo", que.
será explicado a seguir. Basicamente se resume no que se falOC
anteriormente sobre "descrição de comportamento". Outras fo RJ

39
mas de registro têm sido desenvolvidas. A::;que ma ís nos i II-re..
ressam serão apresentadas no Capítulo 3.
O registro cursivo é também chamado de registro con-rl~
nua. Consiste em se descrever o que ocorre, na seqüênci fi
em que os fatos se dão, cuidando-se de se seguir as recomen-
dações técnicas para que se tenha uma linguagem científr
ca.
O exemplo abaixo foi retirado de um registro cursivo efe-
tuado na Santa Casa de lVIisericól'dia d.eSão Paulo, pavilhã()
d.epediatria, onde os sujeitos estavam internados. Trata-se
de registro (1edois minutos de duração, obtido com uma den·
tre 10 crianças que foram observadas na ocasião. As criançaG
podiam se movimentar livremente pelos quartos e corredoR.,
Estavam sendo observadas para que se viesse a conhecer O
seu repertório comporta mental.

Folha de Registro

Situação de observação: atividades livres no quarto da enfer-


meira. O quarto mede 5,5 x 3 m e nele se encontram 4 camas
e 4 criados-mudos.
Os feitos estão ocupados, mas no momento três das pacientes
estão fora do quarto.
Sujeito: G.A.M. (Menina de 6 anos, internada com pneumonia;
nível sócio-econômico baixo.)
início da observação: 9h Término: 9h02 Duração: 2 min
Técnica de observação: Registro Cursivo
"S (o sujeito) se encontra no quarto, sozinho, de pé; junto à
cama que fica próxima da porta. Canta, enquanto anda, indo
até a porta do quarto. Volta cantando. (Entram no quarto três
meninas.) Conversa com outra criança. Agacha-se e apanha
uma boneca. levanta-se e corre até a cama que está perto da
porta. Coloca a boneca sobre esta cama. Sorri. levanta o bra-
ço esquerdo. Pergunta: "Quem quer brincar, põe o dedo aqui"
- indicando a mão esquerda espalmada e levantada.

'10
{ '••lHO 1'01\1' 5e,. noT#t'du, O n'g:i:-;tro enrHivo é um relato de
"I u!ii& i.udo () 11 w' ·el'. É uma espécie de filmagem do que
:w(>n li
ri. I'rl'é";('nciado, na seqüência em que os fatos se sucedem. O
/ll~j&tfo que leram é uma versão melhorada das anotações,
«.eS11lllidas e cheia de abreviações, feitas durante a observação.
(,"'19 procedimento é bastante usado, quando se trata de regis,
1"'a;oclIfsivo:primeiramente se faz um rascunho com anotaçõeE
1.e611 midas e, depois, se passa a limpo, completando o registro.
Ic'lll dito acima que se relata "quase tudo o que acontece". Issc
l"lj'que, em primeiro lugar, só se registram fatos objetivos qUE
'J'&llham ocorrido. Depois, porque é praticamente impossível SE
At Ilotar tudo o qU(~ocorre.

Repare que todos os tempos dos verbos, do registro feito n2


6:lllta Casa, estão no presente. Essa é uma convenção usual
embora o emprego de todos os verbos só no passado seja acei·
1;\vel.
Repare que, por ser mais simples e conciso. não fOTam utí
li:l.ados certos recursos comuns de linguagem. Por exemplo
palavras ou expressões do tipo: "antes", "depois que", "a se
;;uir", "novamente", "unicamente", Não é preciso escrever: "pri
meiro vai até a cama(l) e depois coloca a boneca sobre ela(2)
:1 seguir, sorri(3)", já que a ordem das ações observadas (1-2
:l), segundo convencionamos, é a própria ordem da seqüêncIA
do que foi anotado. Também, por uma questão de simplicida
de e concisão, não é necessário dizer: "levanta o braço umA-
vez só e sorri novamente". Basta informar: "levanta os braçoS
e sorri"..
A grande vantagem do regístro cursivo é permitu' a indu ..•
são de um ampla variedade de comportamentos (tódos os que,
puderem ser lembrados), sem requerer deles definição prévia.
Devido a isso, é muitas vezes utilizado numa fase inicial de
trabalhos e pesquisas. É o caso, por exemplo, do registro refe-
rente à criança, dado acima. A partir dele (feito durante 6 diap
e com 9 outras crianças) descobriu-se qual era o conjunto doó
comportamentos daquelas crianças hospitalizadas, escolhendo ..

41
alguns a serem observados posteriormente, utiliz,:lnc1o-:-w1é'c,,-
:as de registros mais precisas.
Já se apontou a dificuldade que os registros cursivos apl'Q-
ltam quanto aos comportamentos observados: nem todos S;l( l
~tivamente anotados, ou porque não os percebemos todos, 0\1
rque não há tempo suficiente para que tudo seja registrado,
ada que abl'eviadamente. As vezes um tal problema é cal]-
mado (a) na medida em que, previamente, se decide anotar
um conjunto de comportamentos, POTexemplo, só se regis-
H os compoTtamentos motores ou o que o sujeito falar; (b) ou
resolve fazer uso de um gravador, ditando a ele o que acon-
ce, em vez de ficar a.escrever.
Uma questão, contudo, parece persistir sempre: a
lalltificação dos dados obtidos. Um registro cursivo é uma
~scrição, um relato e não um conjunto de números. Daí, a
ficuldade de se comparar registros cursivos feitos por dois
)servadores independentes. As técnicas que serão descri-
,s no Capítulo 3 se prestam melhor à quantificação.

o registro cursivo é Urn Iefa to, feito f1i{rm~linguagem


cientffica, do que éprêiSê;f7ciado,na seqüênôía em que os
fatos se sucedem. Recômel'1da-seutilizaras verbos no tem-
po presente e dispeesar o emprego de recursos extras
para indicar ordenaçãotantesldepois': "errlprimeíro/se-
gundo lugaretc), repetição("também': "tomou a fazer" etc)
e exclusividade("somenfe': "apenas uma vez"etc).

Experimente realizar um registro cursivo, durante


mais ou menos 2 minutos. PRra tanto, arranje lápis e,
usando o modelo de Folha de Ronistro dado a seguir,
vá anotando, conforme ori(~lltaçües dadas acima, °
que faz alguém que você escolheu (o motorista do táxi,
o seu colega de trabalho, <'l pessoa que sentou-se à sua

I~,
~ ell16 nu t1nibc», O AI Hesentador de algum programa de
I \I de). Vá obsC'rvando o que vê ou ouve e anote logo
seguida. Você só desviará o rosto do seu sujeito na
\ 'f11

JlOf8 de registrar o que presenciou e procurará escre-


ver rápida e resumidamente.
Registre tudo o que faz o sujeito que você observa e
na seqüência em que os fatos se dão,
Primeiramente, faça anotações abreviadas ou até
mesmo codificadas. A seguir, passe a limpo o que es-
creveu e complete ou amplie o que lhe parecer neces-
sário para descrever tudo o que fez o seu sujeito.
Importante: o seu relato final só deve conter coisas
percebidas pelos seus sentidos, as interpretações, por
exemplo, devem ser excluídas (releia o texio, caso não
esteja lembrado). Antes de começar a observação pro-
priamente dita, preencha os itens que constam do ca-
beçalho da Folha de Registro.

Folha de Registro

Situação de observação: (indique em que situação o


sujeito se encontra, por exemplo: "situação de refeição
na cozinha", "situação de aula", "de serviço no escritó-
rio", "de lazer no parque", "de conversa num bar" etc):
Sujeito: .
Início da observação: , .
Término: , .
Duração total: Data: ../. ../. .
Técnica usada: Registro Cursivo

Ia parte: registro provisório(rascunho)

43
2a parte: registro definitivo (passado a limpo)

• , ]111 i i jj! i "" li til •• di tiL t ilililJi , "" j

6. ALGUNS CUIDADOS PARA


OBSERVAÇÃO DE COMPORTAMENTO

Agora que você já aprendeu a técnica de registro CUl!.&


para observar e registnll' comportamentos, é de se esperar Q
na medida do necessário, saia por aí a fazê-Ia. E para isso pC
ser de grande utilidade as recomenda~:ões que seguem, ,,_
vez que são fruto da experiência de muitos pesquisadores o.
tentaram observar e registrar comportamentos, principalme.
te em situações naturais. Tais reCOlIH'lHlw,:ões certamente pc.
Iitarão ° seu trabalho t~ aumentarilo:1 sua efióência, preveni
do que você dê cabeçadas desnec('ss:íri:ls.
a) Recomenda-se um certo Ü'/llIJO lh' wnbientação do obs'
vadol' à situação, antes que Ínicil' S('ll:-': registros propriamee
ditos. Por exemplo, se se pn'i,l'llt!l' nll,'';l'rvlu' jovens em u ••
sala de aula, conviria qtw o Uh:~('l'\';ldor f(lHse à sala de a i
vários dias e nela permam'CI';-;:;(' por ('('!'tll /.empo, antes de O
inicio aos seus registros. Isl-'o PI' 1'1llÍTeq Ili' ()observador se am~
ente, bem como, e princip:dllH'll!". 'lllr' (I~ sllj(~itos se acostume
com a presença dopesq\li:~;ld\IIC
b) O observador d(,vi' 11('1'1111/ IleCell'Q,lIlJ/<1 distância do suj I
to que permita vÍswlli'/,:It,":11l ;1t!"'JlLI,l:t dos comportamerrtl
desejados. De modo ~~('r;tl. 1I;ld COSrlllll:1 ~a'r muito próxima I

11
l'h, a r, til ti" n<1o inü~rferir no de8empenho dele, ou tirar a
'!·;I H lIitnncldadü.

,)Man(enha-se o observador numa atitude discreta, procu-


() lIÚC) demonstrar ostensivamente que está a observar, pois

wr·se ol)servado, costuma modificar a naturalidade ou es-


.aneidade do sujeito em seu desempenho.
I) O observador deve procurar não interferir na situação,
trando-se indiferente ou "neutro" a possíveis solicitações
sujeitos. Com crianças, por exemplo, é muito comum que
procurem interagir com o observador.
8}malgumas ocasiões, o observador intervém planejada
liberadamente na situação, porque ou tal intervenção é
óprio objeto de seu estudo, ou ó necessária para a obten-
de dados adicionais. No primeiro caso se enquadra pes-
,a efetuada por Eibl-Eibesfeldt. O autor se aproximava
1mestranho e sorria para ele, visto pretender observar a
tão do sujeito ao sorriso de uma pessoa que lhe fosse des-
heciela.
Se enquadra no segundo caso o trabalho elopesquisador
, já dispondo de certas informações a respeito do comporta-
lto do seu sujeito, passa experimentar como o comporta-
)to se modifica em função de determinadas interferências
,passa a fazer. Nesses exemplos, temos ilustração da possi-
da de da observação se aliar à experimentação.

mtes de iniciar a obtenção de registros, o observador


éve procurar se ambientar à situação e permitir que o
ujeito se acostume com sua presença, deve permane-
er a uma distância razoável do sujeito, mantendo-se
fuma atitude neutra e «discreta': sem interferência na
:ituação, a meno$ que tal interferência seja o próprio
lbjeto doestudC).

45

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