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11º D/12ºE
Professora Antónia Mancha
Antero de Quental
Cesário Verde
Questão Coimbrã foi o primeiro sinal de renovação ideológica do século XIX entre os defensores do statu
quo, desactualizados em relação à cultura europeia, e um grupo de jovens escritores estudantes em Coimbra, que
tinham assimilado as ideias novas.
Castilho tornara-se um padrinho oficial dos escritores mais novos, tais como Ernesto Biester, Tomás
Ribeiro ou Manuel Joaquim Pinheiro Chagas. Dispunha de influência e relações que lhe permitiam facilitar a vida
literária a muitos estreantes, serviço que estes lhe pagavam em elogios.
Em redor de Castilho formou-se assim um grupo em que o academismo e o formalismo vazio das
produções literárias correspondia à hipocrisia das relações humanas, e em que todo o realismo desaparecia, grupo
que Antero de Quental chamaria de «escola de elogio mútuo». Em 1865, solicitado a apadrinhar com um posfácio o
Poema da Mocidade de Pinheiro Chagas, Castilho aproveitou a ocasião para, sob a forma de uma Carta ao Editor
António Maria Pereira, censurar um grupo de jovens de Coimbra, que acusava de exibicionismo, de obscuridade
propositada e de tratarem temas que nada tinham a ver com a poesia, acusava-os de ter também falta de bom
senso e de bom gosto. Os escritores mencionados eram Teófilo Braga, autor dos poemas Visão dos Tempos e
Tempestades Sonoras; Antero de Quental, que então publicara as Odes Modernas, e um escritor em prosa, Vieira
de Castro, o único que Castilho distinguia.
Antero de Quental respondeu com uma Carta com o titulo "Bom senso e bom gosto" a Castilho, que saiu
em folheto. Nela defendia a independência dos jovens escritores; apontava a gravidade da missão dos poetas da
época de grandes transformações em curso e a necessidade de eles serem os arautos dos grandes problemas
ideológicos da actualidade, e metia a ridículo a futilidade e insignificância da poesia de Castilho.
Ao mesmo tempo, Teófilo Braga solidarizava-se com Antero no folheto Teocracias Literárias, onde afirmava
que Castilho devia a celebridade à circunstância de ser cego. Pouco depois Antero desenvolvia as ideias já expostas
na Carta a Castilho no folheto A Dignidade das Letras e Literaturas Oficiais, evidenciando a necessidade de criar uma
literatura que estivesse à altura de tratar os temas mais importantes da actualidade. Seguiram-se intervenções de
uma parte e de outra, em que o problema levantado por Antero ficou esquecido. Provocou grande celeuma o tom
irreverente com que Antero se dirigiu aos cabelos brancos do velho escritor, e a referência de Teófilo à cegueira
dele.
Foi isto o que mais impressionou Ramalho Ortigão, que num opúsculo intitulado A Literatura de Hoje,
1866, censurava aos rapazes as suas inconveniências, ao mesmo tempo que afirmava não saber o que realmente
estava em discussão. Este opúsculo deu lugar a um duelo do autor com Antero. Mas outro escrito, este de Camilo
Castelo Branco, favorável a Castilho — Vaidades Irritadas e Irritantes — não suscitou reacções. Na realidade nada
foi acrescentado aos dois folhetos de Antero durante os longos meses que a polémica durou ainda. Eça de Queiroz,
em O crime do padre Amaro, de forma implícita, toma parte dos jovens literários.
Da autoria de Antero de Quental e publicado em 1865 em Coimbra, constitui um dos documentos mais
importantes da polémica literária que ficou conhecida como a Questão Coimbrã ou mesmo a Questão do Bom
Senso e Bom Gosto, tendo surgido como resposta à carta-posfácio de António Feliciano de Castilho inserta no
Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, de Outubro de 1865, na qual o autor de Cartas de Eco a Narciso aludia
ironicamente às teorias filosóficas e poéticas expostas nos prefácios a Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras
(ambas de 1864), de Teófilo Braga, e na nota posfacial das Odes Modernas, de Antero de Quental (de Julho de
1865).
Sentindo-se visado, Antero de Quental responde em Novembro com o panfleto Bom Senso e Bom Gosto.
Carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, onde qualifica o juízo de Castilho como uma crítica "à
independência irreverente de escritores que entendem fazer por si o seu caminho, sem pedirem licença aos
mestres, mas consultando só o seu trabalho e a sua consciência", que cometem "essa falta de querer caminhar por
si, de dizer e não de repetir, de inventar e não de copiar". Antero define "a bela, a imensa missão do escritor" como
"um sacerdócio, um ofício público e religioso de guarda incorruptível das ideias, dos sentimentos, dos costumes, das
obras e das palavras", que exige, por um lado, uma alta posição ética, por outro lado, uma total independência de
pensamento e de carácter.
Como consequência, e numa clara alusão a Castilho, Antero repudia a poesia que cultiva a "palavra" em vez
da "ideia"; a poesia decorativa dos "enfeitadores das ninharias luzidias"; a poesia conservadora dos que "preferem
imitar a inventar; e a imitar preferem ainda traduzir"; em suma, a poesia que "soa bem, mas não ensina nem eleva".
O autor das Odes Modernas preconiza ainda que a literatura portuguesa acompanhe "o pensamento moderno", "as
tendências das ciências", "os resultados de trinta anos de crítica", "a nova escola histórica", "a renovação filosófica".
SONETOS
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A poesia anteriana permite diversas divisões, talvez a mais pertinente seja aquela que a divide em quatro
fases: a lírica ou de expressão do amor; a do apostolado social e das ideias revolucionárias; a do pessimismo; e a
da metafísica e regresso a Deus:
- na primeira fase, exprime o amor espiritual, à maneira de Petrarca, sem a sensualidade lírica de Garrett,
mas cantando a mulher como ser adorável, uma “visão”, como sucede em Ideal, Beatrice, Abnegação ou
Idílio;
- na segunda fase, traduz as preocupações sociais, o desejo profundo de construir um mundo novo,
considerando que a poesia é a voz da revolução que visa a Justiça, o Amor e a Liberdade, como em A um
poeta, Evolução, Hino à Razão, Tese e Antítese, A Ideia;
Há uma análise da sociedade, procurando encontrar as causas da sua decadência e propondo soluções
baseadas no socialismo utópico de Proudhon;
- na terceira fase, há um grande pessimismo e frustração a traduzir uma certa decepção da luta, como em O
Palácio da Ventura, $ox;
- numa quarta fase, parece reconciliar-se e busca o descanso merecido “na mão de Deus”, como em $a
mão de Deus, Salmo, A um crucifixo.
Esta primeira fase, ligada à produção da juventude, mostra que os ideais amorosos e outros são uma
constante quando somos jovens. Sonhamos e idealizamos e concebemos o amor como ideal perfeiro. Também
Antero idealizou a mulher e o amor. Como poeta e pensador, exprimiu em verso esse sentimento profundo. Veja-
se, para isso, o soneto, Ideal:
IDEAL
A partir do título poderemos ser levados a evocar o Romantismo, embora o conceito de “Ideal” nos possa
remeter para a própria luta travada pela Geração de 70 na busca de novos ideais. Em qualquer dos casos há uma
sugestão de transcendência e de perfeição.
Ao longo do poema, alguns elementos semânticos – “que eu adoro”, “visão”, “como uma miragem”,
“Ideal”, “Nuvem”, “sonho impalpável” – confirmam o título do soneto e mostram-nos uma mulher adorável, como
uma “visão”.
O tema á a mulher ideal, mas a sua descrição surge por antítese daquilo que “não é”. Em confronto com
figuras mitológicas, aparece como um ser divino e sublime, ideia pura: nem mulher sensual, como a “Vénus de
cintura estreita”, com “formas lânguidas, divinas”; nem mulher fatal e traiçoeira, como a Circe, que “compõe filtros
mortais entre ruínas”; nem mulher corajosa e dominadora, como a Amazona, que “combate satisfeita”.
Esta mulher é retratada à maneira petrarquista, é uma “visão” que “ora amostra ora esconde o meu
destino”, levando o sujeito lírico ao Desejo, ou seja, ao amor, à aspiração do Ideal.
Apresenta-se como uma “miragem”, “nuvem”, “sonho impalpável do Desejo”.
A obra da segunda fase revela a sua grande elevação moral e o seu ardor revolucionário, que o leva a
considerar que “A poesia é a voz da revolução”. É neste ardor que se dirige A um poeta:
A UM POETA
As dúvidas e a verificação de que o seu apostolado não estava a conseguir os objectivos que desejava,
aliado ao agravamento da sua doença, conduziram Antero de Quental a sentir-se decepcionado, mergulhando num
estado de pessimismo. Quem se empenha como ele, de forma apaixonada, numa campanha para alterar
mentalidades e não sente a promoção do espírito da sociedade moderna, fica frustrado.
Em O Palácio da Ventura, os momentos de dúvida e de incerteza, ou melhor de esperança e
desesperança, estão bem patentes:
O Palácio da Ventura
Desde o início se percebe que há uma busca da felicidade (palácio da ventura), mas só encontra a
ilusão. Caminha, ansiosamente, na busca da concretização de um sonho, mas no final apenas encontra Silêncio e
escuridão -- e nada mais!
O próprio caminho é feito de confiança e decepção, de expectativa e desengano. Na primeira parte (até
ao verso 6), há a busca da felicidade (vv. 1 a 4), mas é tomado pelo cansaço e pela desilusão (vv. 5 e 6). O
entusiasmo é constituído pelo desalento. Na segunda parte (vv. 7 a 12), verifica-se uma ilusão momentânea que o
leva ao grito de ansiedade Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!(v.11). A adversativa ‘mas’ (v.13), com que inicia a
terceira parte, volta a mostrar a desilusão, desta vez mais forte e dorida.
São muitas as decepções de Antero de Quental. Não consegue libertar-se das adversidades. Resta-lhe uma
última esperança – o pensamento no divino -, embora sempre demarcado das concepções religiosas tradicionais. O
pensamento de Deus surge, frequentemente, associado à morte, mas de novo persegue um ideal que agora se
confunde com o Bem Supremo.
a Mão de Deus
Em O Palácio da Ventura, Antero de Quental perseguia o sonho, mas tudo acabou em desilusão e nada.
Agora afirma que Do palácio encantado da Ilusão /Desci a passo e passo a escada estreita. , ou seja, ‘passo a passo’,
desiludido, deixou essa viagem atrás da ilusão, procurando descanso $a mão de Deus, na sua mão direita.
O pessimismo, que resultara do fracasso da luta e da vida, lva o poeta e pensador a desejar evadir-se para
além do que existe e do sofrimento. Neste soneto, perante a impossibilidade de concretizar o sonho, abranda a sua
acção (descansando, depondo, dormindo), desiste da luta e procura o sono … na mão de Deus eternamente!
A mão de Deus surge como lugar de descanso, e pode sugerir uma concepção dúbia como imagem da
criação, dada ao longo dos tempos. Deus, ao contrário do que sucede noutros textos, já não é aqui o Deus da
inteligência, que racionalmente tenta explicar. É visto como um efúgio, um meio de evasão, e esta imagem do
descanso ‘na sua mão direita’ pode ser tradutora do contacto com o Supremo Bem, o reencontro com a força
primeira criadora.
Antero nunca conseguiu separar a poesia da vida, da sua ânsia de transformar o mundo, da sua agústia
perante a dificuldade de explicar Deus, a vida e a morte. Revolucionário e racionalista, procura um ‘mundo novo’
que tarda a chegar. As decepções, a dificuldade de conciliar pensamento e acção, as inúmeras dúvidas interiores e a
crise de nevrose depressiva que nunca chegou a curar, levam-no ao pessimismo e, por fim, ao encontro com a
morte.
E, se por vezes procurou Deus como refúgio, a Morte foi, para o poeta, a verdadeira Libertação. O ‘Santo
Antero’, como Eça de Queirós o intitulou, não conseguiu evitar o suicídio. Na sua poesia, o desalento perante a
adversidade e o mal do Mundo em agonia, levou-o a ver na Morte, no ‘não ser’, a única saída. Disso nos dá conta,
por exemplo, em Nox.
$oite, vão para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos dispersos tormentos....
O poeta, nas quadras, começa por invocar a noite, caracterizando-a por oposição ao dia, onde reina o Mal;
nos tercetos manifesta o desejo de que a noite seja a libertação deste Mal que assola o mundo, impedindo-o de
‘lutar‘ e ‘ver’.
Note-se que esta noite surge conotada com a Morte, pois é $oite sem termo, noite do $ão- ser! (v.14). A
noite apresenta-se como fim eterno, que anula toda a possibilidade de ser.
Os elementos apolíneos que surgem na referência à … à luz cruel do dia,(v.2) em que decorreram as suas lutas, são
substituídos pelos nocturnos, que melhor lhe permitem exprimir a agonia e a inutilidade dos tormentos passados.
Considera que o seu ‘apostolado social’ não lhe permitiu a realização do sonho, não foi mais do que Tanto estéril
lutar, tanta agonia,(v.3). Sente inglória a sua luta e a luta do Homam, ao longo da História. Resta-lhe o desejo de
uma noite eterna que adormeça e que caia sobre o Mundo para sempre.
Antero de Quental mostra-se atormentado pela sede de Infinito. Nos seus sonetos há a dor e a esperança,
a razão e o sentimento, a revolta e a fé, o combate e a desilusão.
A jeito de síntese:
• Antero exprime a revolta e o inconformismo da sua geração perante uma situação social, política e cultural
conservadora e retrógada, fomentada por um Romantismo que não conseguiu concretizar os ideais que defendera.
• Mestre e mentor, inspirador e símbolo da Geração de 70, a sua personalidade está intimamente ligada à vida
cultural e social em que activamente participou.
• A poesia de Antero exprime as preocupações do ser humano que reconhece a sua condição e a sua fragilidade,
que sente esperanças e sofre os desalentos, que duvida perante os mistérios da criação, da morte de Deus.
• António Sérgio considera a existência de dois Anteros: o apolíneo e o nocturno. O primeiro exprime a Luz, a Razão
e o Amor; o segundo canta a noite, a morte e o pessimismo.
• Pode dividir-se a obra anteriana em quatro fases: a lírica ou de expressão do amor; a do apostolado social e das
ideias revolucionárias; a do pessimismo e a da metafísica e regresso a Deus.
• Para Antero, “ a poesia éa voz da revolução”. Ele foi um verdadeiro apóstolo social, solidário e defensor da justiça,
da fraternidade e da liberdade.
• Antero nunca conseguiu separar a poesia da vida, da sua ânsia de transformar o Mundo, da sua angústia perante a
dificuldade de separar Deus, a vida e a morte.
• Antero luta por ideais feitos de Amor, de Justiça e Liberdade. Esperança e desilusão são duas forças constantes no
seu pensamento e na sua vida, entre as quais tudo oscila.
• Idealista, acaba por considerar empobrecedoras as concretizações da Ideia. Daí as decepções constantes, sentindo
que a sua luta não está a conseguir os resultados projectados.
• Com dificuldade em libertar-se das adversidades, Antero dirige o seu pensamento para o divino, embora sem
abandonar o seu racionalismo.
• O pensamento de Deus surge, frequentemente, associado à morte, considerada como a verdadeira libertação.
O Terceiro Romantismo
- A interrogação vertical Eu/Deus – a preocupação com Deus, procurando conhece-lo, interpreta-lo, compreende-
lo, de forma racional.
José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de
Julho de 1886) .Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria
da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras
em 1873, frequentando-o por apenas alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto,
grande amigo para o resto da vida.
Em 1877 começou a dar sinais a tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a
irmã. Estas mortes servem de inspiração a um de seus principais poemas, Nós
(1884).
Tenta curar-se da tuberculose, sem sucesso; vem a falecer no dia 19 de Julho de
1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde (disponível
ao público em 1901), compilação da sua poesia.
De poesia delicada, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema
sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, os seus cenários predilectos.
Evitou o lirismo tradicional, expressando-se da forma mais natural possível.
Poeta parnasiano, procura descrever os objectos, pintá-los, despertar nos outros ideias e sensações.
Propõe uma explicação para o que observa com objectividade e, quando recorre à subjectividade, apenas transpõe
pela imaginação transfiguradora, a realidade captada que só um olhar de artista pode captar.
“Camponês preso em liberdade pela cidade”, como o define Caeiro, é um poeta-pintor que capta as impressões da
realidade que o cerca com uma grande objectividade. É intencionalmente realista, atento a pormenores mínimos
que servem para transmitir as percepções sensoriais. Da cidade de Lisboa, por onde deambula, descreve as ruas
soturnas e melancólicas, com sombras e bulício, e absorve-lhes a melancolia, a monotonia, o ‘desejo absurdo de
sofrer’. Nesta cidade projecta imagens da mulher formosa, fria e altiva, os vícios e as fantasias mórbidas. Do campo,
canta a vida rústica, de canseiras, a sua vitalidade e saúde. É no campo útil onde o poeta se identifica com o povo. A
invasão simbólica da cidade pela vitalidade e pelo colorido saudável dos produtos do campo, surge, por exemplo,
‘Num Bairro Moderno’. Neste poema, e em outros, como ‘Cristalizações’ e ‘O sentimento de um Ocidental’, as
descrições de quadros e tipos citadinos retratam Lisboa em diversas facetas e segundo ângulos de visão das
personagens. O campo aparece, por exemplo em poemas como ‘Nós’, ‘De tarde’, ‘Em petiz’.
Interessou-lhe o quotidiano da realidade que o cercava com o à-vontade do prosador realista, preocupando-se
apenas com a expressão clara, objectiva e concreta. A notação objectiva e sóbria das graças e dos horrores da vida
da cidade ou profunda vitalidade da paisagem campestre são uma tentação constante na sua poesia.
A obra de Cesário influenciou grande parte dos escritores portugueses do séc. XX, e continua a ter uma
grande importância graças às marcas realistas, naturalistas, impressionistas, parnasianas e até pré-simbolistas, mas
também pelas polaridades temáticas que vão desde a oposição cidade/campo, à antítese morte/vida, sem esquecer
a cidade-mulher ou a mulher fatal e lúbrica.
Influências literárias
• João Penha (preocupação com a forma e observação atenta do real quotidiano; humor crítico e irónico)
• Baudelaire (gosto pelo inédito, pelo repulsivo – não esquece os quadros dolorosos, sombrios, os quadros
revoltados da cidade; simpatia pelos humildes; ânsia de evasão; o deambulismo; amor ao fabricado, ao geométrico;
exercício da análise)
Principais características:
Poeta-pintor
Impressionista
Atitude antilírica
Parnasianista
- É assim que se pode falar deste mito em Cesário Verde na medida em que o contacto com o campo
parece reanimá-lo, dando-lhe forças, energias, saúde
Temática:
1. A cidade e o campo
- Pintura literária e rítmica de temas
comuns e realidades comezinhas,
escolhendo as palavras que melhor Identifica-se com a cidade presente, deambulando pelas
os reflectem. ruas e becos; revive por evocação da memória todo o
passado e os seus dramas; acha sempre assuntos e sofre
-Não canta motivos idealistas, mas uma opressão que lhe provoca um desejo “absurdo de
coisas que observa a cada instante; sofrer”: ao anoitecer, ruas soturnas e melancólicas, com
sombras, bulício...; o enjoo, a perturbação, a monotonia
descreve ambientes que nada têm de
(“Nas nossas ruas, ao anoitecer,/ Há tal soturnidade, há tal
poético. melancolia,/ Que as sombras, o bulício do Tejo, a maresia/
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.” – Sentimento
- Não dá a conhecer-se, nem dá a de um ocidental
conhecer o que sente (oposto ao A cidade surge viva com homens vivos; mas nela há a
romantismo) doença, a dor, a miséria, o grotesco, a beleza e a sua
decomposição fatal...
-recorre raramente à subjectividade A nível pessoal, a cidade significa a ausência, a
(imaginação transfiguradora) impossibilidade ou a perversão do amor.
A nível social, a cidade significa opressão.
- poesia do quotidiano: nasce da As descrições de quadros e tipos citadinos retratando Lisboa
em diversas facetas e segundo ângulos de visão de
impressão que o “fora” deixa no
personagens várias (Num Bairro Moderno; Cristalizações; O
“dentro” do poeta.
Sentimento dum Ocidental).
No campo há a saúde, o refúgio durante a peste na cidade...
- Interesse pelo conflito social do A nível social, o campo significa a possibilidade do exercício
campo e da cidade. da liberdade
Do campo capta a vitalidade e a força telúrica; não canta o
convencionalismo idílico, mas a natureza, os pomares, as
canseiras da família durante as colheitas.
No campo, a vida é activa, saudável, natural e livre, por
oposição à vida limitada, reprimida e doentia na cidade.
(“Que de fruta! E que fresca e temporã./ Nas duas boas
quintas bem muradas, /Em que o Sol, nos talhões e nas
latadas,/ Bate de chapa, logo de manhã” – Nós)
A invasão simbólica da cidade pela vitalidade e pelo colorido
saudável dos produtos do campo (como por exemplo, a
“giga” da “rota, pequenina, azafamada” rapariga em Num
Bairro Moderno).
2. A humilhação
Nível morfossintáctico: