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DAL COL
Título Original: ARRET - O DIÁRIO DA VIAGEM
Registrado na Fundação Biblioteca Nacional sob nº 224.272
ISBN nº 85-901892-1-X
Código de barras nº 9788590189213
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Porém, se o leitor ou leitora gostar do livro e quiser contribuir com algum valor,
poderá fazer um depósito no banco e na conta especificada no final deste livro,
antes da biografia do autor. Com isso poderemos custear algumas despesas,
providenciar a impressão do livro e ampliar a sua divulgação.
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J. A. DAL COL
ARRET
O AMANHÃ DA TERRA
O PASSADO DO PLANETA
ÍNDICE
DEDICATÓRIA
INTRODUÇÃO
O APARECIMENTO DE OLINTHO
A profecia do Homem do Cavalo Branco
O país de Olintho antes da sua ascensão
A chegada de Olintho ao governo
As primeiras ações
A reforma agrária e as agrovilas
Outras das principais realizações
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OS ACONTECIMENTOS ENTRE OS ANOS 11 E 40
DEDICATÓRIA
INTRODUÇÃO
Visão geral
Nos anos anteriores àquele grande acontecimento, a situação geral dos
povos que viviam nos diversos países daquele planeta não era diferente do atual
padrão terrestre. Lá também havia diferenças sócio-econômicas entre os povos que
viviam nos países mais desenvolvidos, emergentes e subdesenvolvidos, bem como,
entre os habitantes desses países. Se comparados ao nível de costumes, rendas e
de comportamento social, a maioria dos habitantes do planeta tinha um modo de
vida semelhante àquele vigente nos países mais desenvolvidos da Terra nos idos
de 1960. De maneira geral, a população vivia tranqüila e segura, pois os crimes e
delitos rotineiros na atualidade terrestre constituíam um fato incomum em Arret.
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Lá não havia o crime organizado, a máfia, o narcotráfico e a grande
maioria dos delitos comuns em nosso planeta, pois as legislações e costumes
sociais arretianos tinham forte fundamento religioso, como acontece em alguns
países do nosso globo. As transgressões legais eram encaradas como um “pecado
grave” e punidas com severidade. Na maioria dos casos, os condenados não
tinham o direito de recorrer às cortes superiores e eram punidos imediatamente.
Além da severidade das leis, a população tinha um alto grau de consciência
religiosa e uma visão quase fanática daquilo que as religiões terrestres denominam
como “pecado”.
Em razão da consciência religiosa e do menor grau de desigualdade
social entre os países arretianos, uma significativa parcela da população tinha um
bom nível de qualidade de vida e um razoável grau de atividades culturais e de
lazer, centradas nas práticas esportivas, na música, nas danças folclóricas e de
salão, além de passeios e viagens turísticas nos fins-de-semana ou nas férias. A
seguir, serão detalhados os principais aspectos do planeta e da sociedade arretiana
da época.
Raças e preconceitos
Havia quatro raças bem definidas e uma quinta composta por
cruzamentos delas. A mais representativa tinha a pele morena clara, cabelos
escuros e olhos predominantemente castanhos. Era seguida por uma raça de pele
bem clara, com cabelos quase sempre loiros ou ruivos e olhos verdes ou azuis. O
terceiro lugar era ocupado por uma raça amarela e alta, como os nossos chineses.
A quarta apresentava um tipo de pele semelhante à dos mulatos brasileiros, com
cabelos encaracolados ou crespos e olhos escuros. Os mestiços eram mais
parecidos com os atuais habitantes do planeta. Em Arret nunca existiu escravidão
como aqui conhecemos e o chamado trabalho forçado estava restrito a prisioneiros
de guerra ou a delinqüentes abrigados em colônias agrícolas. Os membros das
duas primeiras raças conviviam em harmonia e sem preconceitos entre si, pois
freqüentavam os mesmos locais de lazer e se casavam livremente. Quase toda a
riqueza e poder econômico estavam concentrados nas mãos dessas duas raças, as
quais controlavam os grandes negócios e atividades do planeta.
Seus membros desprezavam os componentes das raças amarela e
mulata que, por sua vez, demonstravam preconceitos raciais entre si. Os mestiços
eram aceitos pelas demais raças e não eram preconceituosos. Seus membros eram
espalhados por quase todos os países e formavam um povo bonito, alegre e festivo,
sem apego a radicalismos religiosos e sociais. Ao contrário do padrão terrestre, as
cinco raças arretianas não viviam isoladas ou mais concentradas em alguns países
ou regiões do planeta. Apesar de haver maior nível de concentração em bairros,
cidades e até em alguns países, lá era possível encontrar grupos representativos de
todas elas em quase todos os locais, pois Arret era mais globalizado que a
atualidade terrestre.
Formas de governo
Nos seis continentes equatoriais, em uma pequena parte do continente
polar norte e em inúmeras ilhas de grande porte, havia uns 450 países e territórios
independentes. Cerca de 250 deles adotavam um regime democrático com eleições
em todos os níveis executivos e legislativos. Uma parte dos países democráticos
adotava um regime semelhante ao nosso parlamentarismo, com um primeiro
ministro e sem a figura do presidente da república. Mais de uma centena de países
eram monarquias parlamentaristas compostas por um rei e por um primeiro
ministro. Os demais tinham governos totalitários, controlados por um ditador ou por
uma junta militar.
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Com pequenas variações, os países tinham um governo federativo,
governos estaduais ou provinciais e, nos maiores, governos municipais. O direito ao
voto não era obrigatório, era conquistado aos 21 anos e somente por pessoas com
certo grau de instrução, ou nível de renda, ou por aqueles que pertenciam à classe
empresarial. Quase todos os países democráticos tinham eleições majoritárias e
legislativas semelhantes ao padrão terrestre e com apenas um turno, onde os mais
votados eram os eleitos. As monarquias e governos totalitários indicavam os
demais níveis do executivo e nesses países havia apenas eleições legislativas ou
para o primeiro ministro.
Relações internacionais
Havia um certo padrão nas relações entre os países em função da força
que representava a ONU arretiana, criada cerca de 150 anos antes da grande
transição e formada por representantes de todas os países e territórios
independentes. Ela atuava como um poder legislativo e judiciário a nível global, pois
sua amplitude operacional abarcava os mais variados setores da sociedade
planetária. Suas propostas eram aprovadas ou rejeitadas em assembléia e cada
membro tinha um voto de valor variável, definido através de uma fórmula que
levava em conta a população, o nível de atividades econômicas e vários
indicadores sociais. Se algum país não seguisse suas recomendações, ficava
sujeito a vários tipos de sansões econômicas, incluindo o bloqueio do acesso aos
satélites de comunicação geridos por aquele poderoso organismo.
Apesar desse rigor, ela agia com neutralidade e não interferia nos
princípios de soberania de seus membros, inclusive nos casos das freqüentes
guerras entre eles, quando procurava evitar ou abreviar os conflitos por meios
diplomáticos, sem aplicar sansões diretas, a menos que a contenda prejudicasse
outros países não envolvidos. Apesar dos arretianos nunca terem se envolvido em
guerras do tipo mundial e nunca terem produzido armas de destruição em massa ou
bombas de alto poder destrutivo, eles eram um povo altamente belicoso e sempre
havia países em guerra pelos mais diversos motivos. Além de expansão territorial e
econômica, o maior provocador de conflitos eram as questões religiosas,
semelhantes àquelas que ocorrem em alguns países da Terra.
As guerras, apesar de sempre existirem em todos os continentes
arretianos, ocorriam com maior freqüência em dois deles, um dos quais era o
campeão em número de conflitos. A maioria dos países que formavam esses
continentes era governada por dinastias reais, ditadores, ou juntas militares e seus
habitantes apresentavam um alto grau de fanatismo religioso. Apesar das guerras
entre muitos deles, as relações entre a maioria dos países eram intensas ao nível
de comércio exterior, intercâmbio de tecnologias e exploração espacial, pois em
quatro continentes havia um mercado comum muito ativo, iniciado na quinta década
anterior à grande transição.
Agricultura
Como toda a população era vegetariana, a agricultura ocupava uma
porção significativa do solo e era bem distribuída por todo o planeta. Havia uma
grande quantidade de pequenas propriedades familiares que praticavam uma
agricultura orgânica bastante diversificada e voltada para a produção de verduras,
legumes e frutas. Também criavam peixes que faziam parte da dieta alimentar de
uma parcela significativa da população. Havia grandes propriedades voltadas para
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a monocultura de alguns tipos de cereais, onde utilizavam máquinas sofisticadas e
projetadas para os mais variados tipos de serviços.
Os agricultores formavam uma classe com bom nível de renda e muito
respeitada pelos habitantes das zonas urbanas, que não os viam com “matutos ou
caipiras”. Eles tinham um modo de vida bastante confortável, pois dispunham de
muitas das facilidades encontradas nas cidades, como a energia elétrica, a telefonia
e a televisão. A eletrificação rural era quase toda oriunda da energia solar, cujo uso
era bastante difundido em todo o planeta, inclusive nas zonas urbanas. O
associativismo era uma realidade em quase todos os países e os agricultores,
especialmente os familiares, se reuniam em grandes cooperativas que
desempenhavam diversas funções e forneciam apoio técnico em todas as fases do
processo produtivo, além de recolher, armazenar e comercializar a produção e
distribuir os lucros aos seus associados. Essas cooperativas também mantinham
escolas, postos de saúde, clubes recreativos, colônias de férias e outras atividades
em conjunto com os poderes públicos.
Indústria
Todos os países contavam com parques industriais significativos,
diferenciados pelo menor ou maior desenvolvimento tecnológico de seus
equipamentos e produtos. Como regra geral, os países eram auto-suficientes
quanto as suas necessidades básicas e isso ocorria em função das constantes
guerras que envolviam muitos deles, durante as quais não podiam depender de
suprimento externo. Os países mais desenvolvidos tinham indústrias altamente
robotizadas e produziam todos os tipos de bens, especialmente os de alta
tecnologia, como os eletrônicos, aviões e outros. Nos mais pobres, suas indústrias
se limitavam à produção dos bens de consumo básico, máquinas e ferramentas
utilizadas pela suas respectivas populações.
Ao contrário daquilo que acontece na Terra, a produção industrial
primava pela qualidade e durabilidade dos bens produzidos. Os produtos
descartáveis ou de baixa duração, limitavam-se àqueles que tinham esse tipo de
vocação, como barbeadores, copos descartáveis e escovas dentais. Em função do
grande mercado comum que vigorava em quatro dos seis continentes, a produção
industrial seguia padrões rígidos de qualidade e a competitividade era baseada na
versatilidade, utilidade e durabilidade de cada produto, onde o preço era objeto de
uma criteriosa análise de custo e benefício por parte dos consumidores. A
sociedade arretiana não era dada a modismos, mesmo com relação a roupas e
aparelhos eletrônicos. Os novos modelos eram lançados somente quando
apresentavam aperfeiçoamentos significativos ou uma utilidade real que atendesse
uma nova necessidade daquela exigente e conservadora sociedade de consumo.
Era comum um modelo de veículo permanecer inalterado durante anos ou décadas,
a exemplo daquilo que presenciamos com relação a alguns veículos produzidos em
nosso país nas décadas passadas.
Educação e cultura
A ONU arretiana também estabelecia um padrão educacional mínimo e
todos os países mantinham um sistema com cursos gratuitos até o equivalente à
nossa oitava série, quando os alunos dominavam a língua pátria, a matemática e
outras matérias básicas, além de uma forte noção de direitos, deveres e cidadania.
Os professores eram bem preparados, exigentes e respeitados pelos alunos, pelos
pais e pela sociedade em geral. Quase todos os países ofereciam uma educação
básica de qualidade e o nível de analfabetismo era insignificante em todo o planeta.
Muitos países estendiam o ensino gratuito ao nível seguinte e ofereciam vários
cursos profissionalizantes de nível médio. Alguns mantinham a gratuidade nos
cursos de graduação e para acesso a eles não havia vestibulares, pois os alunos
eram selecionados a partir de notas médias obtidas nos cursos públicos inferiores.
Como as vagas não eram suficientes para todos, somente os mais esforçados e
bem preparados podiam estudar em universidades públicas.
Porém, em todos os países havia escolas básicas, de nível médio e
universidades particulares voltadas para as classes mais abastadas, as quais
também eram freqüentadas por alunos das classes sociais inferiores que recorriam
a financiamentos governamentais, renovados a cada ano, desde que os alunos
fossem aprovados. Os pagamentos eram exigidos a partir do segundo ano após o
término do curso de graduação, em parcelas mensais e com descontos
proporcionais à média das notas obtidas. Em todas as escolas havia avaliações
periódicas e ao final de cada ano letivo. Os certificados de conclusão especificavam
as notas obtidas em cada matéria e as médias gerais para acesso aos níveis
superiores e para obtenção de descontos, no caso de financiamento
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governamental. As notas e as médias também eram consideradas para acesso ao
mercado de trabalho e esse costume obrigava os alunos a serem aplicados,
disciplinados e altamente competitivos.
Quase toda a população tinha um leque variado de atividades culturais
que se confundiam com as de lazer, descritas mais abaixo. A música era uma das
principais paixões dos arretianos de todas as classes sociais e apresentava
gêneros semelhantes àqueles que existiam na Terra nos idos de 1960. Porém, em
todos os países havia uma predileção por músicas de três tipos básicos: clássico,
romântico e regional. Os arretianos também apreciavam a dança em grandes
salões onde predominavam as canções românticas ao estilo das grandes
orquestras dos anos 50 a 70 do nosso século passado. As televisões apresentavam
noticias, filmes e muitos programas musicais e de variedades. O cinema era muito
ativo em variados gêneros, predominando as produções referentes a feitos bélicos
daquela época ou do passado arretiano, além de filmes religiosos. O teatro, com
peças cômicas, românticas, dramáticas, musicais ou religiosas, era bastante
elitizado e voltado para as camadas mais abastadas.
Transportes
A maioria das cidades arretianas tinha três ou mais séculos de idade e
ruas estreitas nas áreas centrais que dificultavam e até impediam o tráfego de
veículos particulares, os quais, geralmente, eram impedidos de circular nessas
áreas. Naquelas onde o tráfego era liberado, esses veículos pagavam pedágios
caros e acessíveis apenas às classes mais abastadas. Nas cidades mais novas e,
principalmente naquelas construídas segundo o padrão definido pela ONU arretiana
nos 100 anos anteriores à grande transição, havia total liberdade de circulação, com
prioridade para os veículos coletivos da eficiente rede de transportes públicos. Em
muitas cidades antigas de médio ou grande porte e em quase todas as novas, havia
uma rede de trens subterrâneos e aéreos de grande velocidade e totalmente
integrados aos demais veículos de transporte coletivo.
A maior parte dos carros particulares era de pequeno porte,
acomodavam de dois a cinco passageiros e eram movidos por motores elétricos
acionados por eficientes baterias, cuja autonomia média era superior a 100
quilômetros. Elas eram recarregadas, tanto pela energia elétrica convencional,
como por sofisticadas e eficientes células fotovoltaicas que formavam uma boa
parte da carenagem desses veículos. Muitos deles tinham três rodas e
acomodações para dois a três passageiros, substituindo as nossas motocicletas
que lá não existiam. De maneira geral, a frota de veículos particulares era
proporcionalmente menor que a terrestre e concentrada nos países desenvolvidos
ou emergentes. Porém, todas as famílias tinham um ou mais triciclos com um a
quatro assentos e respectivos pedais, pois os arretianos não utilizavam bicicletas de
duas rodas.
Os veículos particulares e outros de maior porte, incluindo as máquinas
agrícolas, tinham motores a explosão e utilizavam diversos tipos de combustíveis
provenientes de óleos fósseis ou vegetais, além de alguns tipos de gases, incluindo
o hidrogênio, o qual era direcionado, prioritariamente, ao transporte de cargas e de
passageiros. Quanto ao transporte aéreo, contavam com uma grande frota de
aviões de diversos tamanhos, com formato tubular ou elíptico. Havia pequenos
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aviões com hélices acionadas por motores a explosão e outros movidos a jato. Os
maiores utilizavam propulsores a jato e muitos atingiam velocidades superiores à do
som. Esses supersônicos guardavam alguma semelhança com o “Concord” e o
ônibus espacial americano. Como fruto das atividades espaciais que atingiram
grande desenvolvimento nos anos anteriores à grande transição, alguns países
estavam testando protótipos de aviões sem asas que se sustentavam e se
deslocavam através de um novo princípio, semelhante àquele utilizado pelas naves
arretianas da atualidade.
Para realizar viagens turísticas a pequenas localidades ou a áreas
florestais, os arretianos também utilizavam helicópteros de diversos portes
oferecidos por várias locadoras, pois a habilitação para pilotar pequenos aviões e
helicópteros era tão comum em Arret, como a habilitação de motociclista na Terra.
Como muitos motoristas também pilotavam pequenas aeronaves, havia muitas
companhias que alugavam esses aparelhos, com as mesmas facilidades que aqui
alugamos carros. Os transportes marítimos intercontinentais eram voltados para
cargas, limitando o transporte de passageiros ao turismo costeiro, realizado por
navios de vários portes. Quase todos os arretianos das classes mais abastadas
possuíam lanchas ou iates em alguma das inúmeras marinas existentes em todas
as localidades turísticas marítimas ou fluviais. Como acontecia com os carros e
aviões, nesses locais havia locadoras que ofereciam lanchas e outros
equipamentos para a prática de esportes aquáticos, os quais eram uma paixão
entre os arretianos de todas as classes sociais.
Comunicações
A rede de comunicações era suportada por satélites interligados que
cobriam todo o planeta e era operada, administrada, mantida e aprimorada pela
ONU arretiana desde os cinqüenta anos anteriores à grande transição. As tarifas
eram calculadas para cobrir os custos com uma pequena margem de lucro, pois a
exploração desses serviços era a principal fonte de recursos para manter a
estrutura operacional daquele poderoso organismo e seus inúmeros programas
sociais a nível planetário. Em cada país foi criada uma empresa estatal ou privada
para operar uma concessão que incluía a transmissão de voz, dados e imagens. No
decorrer dos vinte anos seguintes, todos os países abandonaram a telefonia fixa
que existia no planeta há quase dois séculos e implantaram um sistema móvel sem
restrições de áreas, regiões ou países.
Com isso todos os arretianos passaram a ter acesso a um serviço
telefônico abrangente, de boa qualidade e a baixo custo, pois era acessível aos
usuários de todas as classes sociais. Os serviços eram pré-pagos através de
cartões com tarja magnética, os quais eram vendidos em todos os
estabelecimentos comerciais e podiam ser inseridos em qualquer telefone. Com
essas facilidades e o baixo custo dos serviços, quase todos os habitantes tinham
um telefone móvel desde a infância e seu número era mantido por toda a sua vida,
como uma espécie de identidade pessoal.
Mais de um terço das famílias do planeta e todas as empresas também
dispunham das mesmas facilidades para comunicação entre seus computadores
através de uma rede semelhante à nossa Internet, implantada e utilizada de
maneira crescente desde os 45 anos anteriores à grande transição. A ONU
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arretiana era o provedor principal e em cada país havia um provedor secundário
que era a mesma empresa estatal ou privada que detinha a concessão de telefonia.
A ligação do computador ao provedor era realizada com a mesma tecnologia da
telefonia móvel. Apesar de resolver uma grande variedade problemas sem sair de
casa ou do local de trabalho, a Internet arretiana não era tão abrangente e aberta
como a nossa. Nela não havia “sites” de pornografia ou de assuntos banais e nem
vírus que danificavam programas de computadores.
O rádio foi implantado no planeta com a telefonia fixa e havia uma
grande quantidade de emissoras presentes em quase todas as pequenas cidades
do planeta. Como na Terra, o rádio sempre teve grande aceitação junto aos
arretianos, mesmo após o surgimento da televisão e da rede de computadores. A
televisão funcionava somente com canais por assinatura e, além daqueles com
programação variada, havia canais especializados em notícias de interesse geral,
esportes, documentários, filmes, programas religiosos e atividades governamentais.
Em cada país, a ONU arretiana fornecia concessões para funcionamento de até
três canais com o mesmo tipo de programação, segundo critérios por ela definidos.
Quase todos os arretianos tinham um ou mais aparelhos de televisão e as taxas de
assinatura eram bastante acessíveis, pois havia pacotes para atender todas as
faixas de renda, inclusive, para acesso a canais de outros países.
Além da rede de computadores, do rádio e da televisão, em cada país
havia uma quantidade maior ou menor de jornais, revistas e periódicos adquiridos
por assinatura, ou em livrarias e estabelecimentos comerciais. Somente as grandes
cidades dispunham de jornais diários e tanto eles, como as revistas e periódicos,
podiam ser acessados pela Internet arretiana. Lá não havia bancas de jornal como
aqui conhecemos e sim muitas livrarias que vendiam uma infinidade de livros sobre
os mais variados assuntos, predominando os religiosos. Todos os livros também
podiam ser adquiridos em versão eletrônica através da rede de computadores e
podiam ser lidos em computadores convencionais ou em equipamentos portáteis
que simulavam um livro, armazenavam dezenas ou centenas deles e permitiam
diversas interações com o texto.
Tecnologia
A nível geral, a tecnologia arretiana era bem superior à terrestre do final
do século vinte e somente com relação a alguns produtos eletrônicos populares
havia alguma semelhança com os seus similares terrestres de alta tecnologia e
ainda pouco acessíveis ao grande público. Na informática, produziam sofisticados
computadores de grande porte e pessoais, extremamente compactos, possantes e
de baixo custo, pois já dominavam uma tecnologia com alto índice de
miniaturalização que, entre nós, ainda encontra-se em estágio inicial de pesquisa e
é conhecida como nanotecnologia. Ao nível de software aplicativo, havia uma
infinidade de programas educacionais e outros que controlavam, executavam ou
auxiliavam na execução das mais variadas atividades. Os programas educacionais
abrangiam todos os ramos do conhecimento e, além de excelentes recursos
gráficos, utilizavam avançados conceitos de inteligência artificial, eram bastante
amigáveis, obedeciam a comandos de voz e dispensavam, em muitos casos, o uso
de outros dispositivos de entrada de dados.
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A tecnologia estava presente em outros ramos da ciência e era bastante
utilizada na medicina. Além de sofisticados aparelhos de análise e diagnóstico,
realizavam implantes de alguns órgãos mecânicos de alta eficiência, como era o
caso do coração. Também dominavam o código genético contido no DNA humano e
preparavam medicamentos e vacinas, de uso genérico ou personalizado para
combater as mais diferentes enfermidades, pois lá não havia nenhuma doença
incurável. Apesar dos arretianos não praticarem a clonagem humana, em função
das fortes pressões religiosas, eles produziam clones de vários animais e tinham
completo domínio da genética vegetal. Nesse ramo da ciência, combinavam
espécies, criavam novas variedades mais resistentes e aumentavam ou diminuíam
seus teores de vitaminas, proteínas e outros princípios ativos. Nessa mesma linha,
produziam uma grande variedade de sementes geneticamente modificadas.
Na área espacial dominavam uma tecnologia de propulsão, sustentação
e deslocamento que não utilizava foguetes e guardava alguma semelhança com
aquela utilizada pelas naves arretianas da atualidade. Essa tecnologia permitia
longas viagens e com isso, já haviam enviado missões tripuladas a dois planetas
vizinhos. Também realizavam vôos regulares às suas três luas, onde mantinham
bases de estudo e pesquisa, especialmente na maior, que dispunha de atmosfera
respirável, vida animal e vegetal. Os arretianos já haviam detectado a existência de
vida inteligente em dois planetas do seu sistema estelar e estavam se preparando
para enviar missões tripuladas quando sobreveio a grande transição.
Urbanismo e habitações
Cerca de sessenta por cento da população vivia em áreas urbanas e
poucas cidades tinham mais de 500 mil habitantes. A grande maioria abrigava uma
população inferior a 50 mil. Dentre as maiores, algumas ultrapassavam a casa dos
cinco milhões e a maioria delas tinha uma população situada entre um e três
milhões de habitantes. Todas as cidades implantadas ou ampliadas nos 100 anos
anteriores à grande transição obedeceram a um novo padrão urbano definido pela
ONU arretiana e apresentavam baixo nível de adensamento populacional. Seus
habitantes residiam em casas térreas ou assobradadas de madeira, construídas em
terrenos fartamente arborizados, com um mínimo de vinte metros de frente e
cinqüenta de fundo. Dez desses terrenos formavam uma quadra e elas eram
divididas por alamedas com muitas árvores e flores. Um conjunto variável de
quadras residenciais, comerciais e de serviços formava um bairro e estes, uma área
de expansão urbana ou uma nova cidade.
Mesmo sem os variados contrastes que observamos em nosso planeta,
Arret também apresentava vários modelos urbanos. Havia uma grande quantidade
de cidades planejadas e construídas segundo o padrão definido pela ONU
arretiana, o qual lembrava o plano piloto de Brasília. Esse padrão era utilizado para
criar novas cidades ou para expandir as já existentes. Por outro lado havia cidades
e povoados antigos que apresentavam ruas estreitas e edificações de todos os
tipos, tamanhos e formatos. Nas áreas centrais das médias e grandes cidades
havia muitos prédios suportados por colunas metálicas e paredes que utilizavam
materiais leves e a madeira, tanto ao natural, como em placas industrializadas. Eles
eram destinados a atividades comerciais ou de serviços e apresentavam diversos
tamanhos, formatos e alturas. Em Arret não havia favelas e quase toda a população
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urbana residia em casas próprias. O percentual de desabrigados e daqueles que
moravam em condições precárias era insignificante e somente sensível em algumas
regiões interioranas dos países mais pobres. Toda a população rural morava em
casas próprias ou naquelas oferecidas pelos proprietários das terras aos seus
trabalhadores.
Esportes e lazer
Em função do menor grau de desigualdades sociais entre os diversos
povos, havia um razoável leque de atividades de lazer à disposição de uma
significativa parcela da população. Essas atividades estavam relacionadas com as
práticas esportivas, a televisão, o cinema, o teatro, a música, as danças folclóricas
e de salão, além de passeios e viagens turísticas de fins-de-semana ou de férias.
Porém, como também acontece em nosso planeta, somente as classes mais
abastadas tinham acesso a pacotes, equipamentos e tipos diferenciados de
entretenimentos. Esse seleto grupo freqüentava os melhores hotéis e centros de
lazer do planeta, além de ter acesso a espetáculos culturais e esportivos somente
ao alcance das elites. Tirando essa pequena parcela de privilegiados, a maior parte
da população tinha várias opções de lazer, tanto culturais, como esportivas. O
restante tinha um leque de opções restritas à televisão, cinemas, espetáculos
musicais populares, esportes de massa e balneários públicos.
Apesar dos arretianos daquela época terem mais opções de lazer que a
humanidade terrestre, havia um maior nível de racismo e de elitismo das estruturas
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turísticas de quase todos os países. Havia uma nítida separação entre as duas
raças dominantes e as demais. Além desse problema racial, em muitos países
também havia separações entre os seguidores das principais correntes religiosas,
parecendo torcidas organizadas que não se juntavam em um mesmo local. Outro
fator que restringia as atividades de lazer era motivado pela política de férias e de
descanso semanal adotada em vários países.
De maneira geral, as opções de lazer não se afastavam muito do atual
padrão terrestre, apesar de sua maior socialização. Havia grandes e luxuosas
estruturas nos mais diversos pontos do planeta, incluindo algumas localizadas na
lua que tinha atmosfera respirável. Havia praias e balneários marítimos e fluviais em
quase todos os países, além de uma grande rede de teatros, cinemas, salões de
bailes, restaurantes, museus e locais específicos para as mais variadas práticas
esportivas. Muitos dos esportes de massa da época eram semelhantes aos nossos
e igualmente competitivos. Alguns eram muito violentos e guardavam alguma
semelhança com as nossas lutas marciais e antigos combates de gladiadores, ou
entre cavaleiros medievais. Na maioria das modalidades esportivas, os atletas e
suas torcidas apresentavam um elevado grau de fanatismo e de animosidade com
relação aos seus adversários. Apesar da grande variedade, os esportes com maior
número de adeptos eram os aquáticos, predominando a natação e o mergulho
praticado por todas as classes sociais.
Religião
Com raras exceções localizadas em poucos países, a religião era
praticada com alto grau de fanatismo e muita intransigência, tanto entre as diversas
correntes religiosas, como com relação a falhas de comportamento dos seus
membros. Os cultos e cerimônias religiosas eram realizados em edificações
próprias, geralmente grandes e luxuosas, com uma arquitetura mais ou menos
padronizada e correspondente a cada uma das cinco corrente religiosas principais e
suas vertentes mais significativas. Quase todos os dirigentes e membros das
diversas correntes tinham uma visão diferenciada da Lei Divina, de Deus, dos seus
Messias planetários e de seus vários mensageiros.
Muitos países também utilizavam textos de seus livros sagrados como lei
civil e penal, os quais definiam os diversos tipos delitos, ou de “pecados”. Muitos
deles eram considerados como transgressões graves e, além de “serem cobrados
após a morte”, também eram pagos em vida com o desprezo da sociedade e outros
inconvenientes mais graves, como a mutilação de órgãos e a pena de morte. Com
poucas exceções, os arretianos apresentavam um alto grau de animosidade e uma
grande dureza de coração com relação àqueles que não praticavam o seu credo
religioso. Esses povos apresentavam um comportamento semelhante àquele que
envolve os judeus e os palestinos sem, contudo, envolver o nível de atentados e de
violência que esses povos praticam.
Em Arret havia cinco grandes correntes religiosas com inúmeras
ramificações e, em sua maioria, elas eram antagônicas e concorrentes entre si.
Uma delas era semelhante ao nosso Cristianismo, pois havia sido criada após a
última aparição de Ahelohim, o Messias planetário, como o nosso Jesus. Apesar de
seguir o mesmo livro sagrado, essa corrente apresentava duas vertentes básicas,
uma com poucas subdivisões e outra com uma infinidade de denominações,
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semelhante aos nossos Evangélicos. Nos cinqüenta anos anteriores à grande
transição, essa vertente apresentou um grande crescimento, tanto ao nível de
adeptos, como de denominações e de templos. Esse processo sofreu uma grande
aceleração em função do novo sistema de comunicações implantado pela ONU
arretiana, quando quase todos os habitantes passaram a contar com um ou mais
aparelhos de televisão em suas casas.
Com isso, os “evangélicos” arretianos multiplicaram suas denominações
e construíram tantas igrejas nos mais diversos recantos do planeta, sendo difícil
encontrar uma pequena cidade que não tivesse 5 a 10 delas, de denominações
diferentes e concorrentes entre si. As discussões entre seus membros eram
acirradas e, em algumas delas existia tamanho grau de fanatismo, que seus
adeptos praticavam muitas barbaridades em nome de Deus e de Ahelohim.
Algumas dessas denominações formavam grandes impérios econômicos e
possuíam igrejas em quase todos os países, além de estações de rádio, canais de
televisão, jornais, revistas e portais na Internet, dominando completamente a rede
de comunicações necessárias à expansão de suas atividades. Algumas das mais
poderosas estavam também inseridas no sistema financeiro, como acionistas
minoritários ou majoritários de bancos e outras entidades desse sistema.
O APARECIMENTO DE OLINTHO
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Não pretendemos e nem nos atrevemos a interpretar o texto dessa
profecia. Porém, para enquadrá-la e validá-la como tal, vamos tecer alguns
comentários sobre alguns personagens e situações facilmente identificáveis na
primeira metade do texto produzido em 23/12/1952 e, portanto, cerca de 20 meses
antes do primeiro acontecimento:
O líder operário que teve morte violenta, pois cometeu suicídio, ou foi
assassinado como muitos defendem, foi o presidente Getúlio Vargas, do Partido
Trabalhista Brasileiro, ocorrida em 24/08/1954.
Os momentos difíceis começaram com revoltas na Marinha e na Aeronáutica e
continuaram com os ataques da UDN liderada por Carlos Lacerda, no sentido de
invalidar as eleições, necessitando da firmeza do Marechal Lott para controlar a
rebeldia de alguns militares influentes e garantir a posse do novo presidente
eleito, o JK.
O homem da terra do Mártir Tiradentes foi Juscelino Kubitschek de Oliveira, um
mineiro conhecido como JK. Ele instituiu o plano de metas, construiu muitas
estradas e hidrelétricas, implantou a industria automobilística e edificou Brasília
em três anos e meio, a cidade jardim tal qual o Éden, diferente de todas as
outras, para onde transferiu a capital do Brasil e nela passou a faixa presidencial
para o seu sucessor.
Jânio Quadros substituiu Juscelino, causou muitas polêmicas, como a proibição
do uso de biquínis, e renunciou ao seu mandato, abrindo o caminho para a
implantação do regime militar em março de 1964, citado no texto como “o
período crítico”.
O homem de patriotismo, vindo também da terra de Tiradentes foi Tancredo
Neves. A campanha das “diretas já”, encabeçada por ele e por vários outros
líderes políticos, culminou com a sua eleição indireta e encerrou o longo ciclo de
governos militares.
Então, muita coisa nova começou a acontecer. Tancredo Neves foi eleito e não
tomou posse em razão de uma estranha doença que o acometeu nos dias
anteriores, quando gozava de perfeita saúde, deixando o país em grande
ansiedade e com medo de um retrocesso. Faleceu após algumas semanas de
sofrimento pessoal e de toda a nação, de quem recebeu um enterro digno de um
herói. O vice José Sarney assumiu e logo implantou o Plano Cruzado, uma das
iniciativas que mais mobilizou e, em seguida, mais decepcionou a população
brasileira, pois a inflação disparou e todos perderam a noção do valor do dinheiro
e dos seus bens.
José Sarney foi substituído por um homem desconhecido e criado pelos meios
de comunicação de massa, cuja campanha de baseou no combate ao dragão da
inflação, à corrupção e aos “marajás”.
Fernando Collor também criou grandes novidades, como o seqüestro da
poupança popular, suas camisetas com mensagens dominicais, demonstrações
de juventude e esportividade, além de abrir as portas de sua intimidade
palaciana e pessoal. Ele tornou-se o primeiro presidentes a ser deposto pela
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mobilização popular dos “caras pintadas” e motivou o início de um ciclo
crescente de CPI’s sobre a corrupção.
As coisas novas ou incomuns continuaram acontecendo. Novamente o vice-
presidente assumiu. Itamar Franco criou o Plano Real e escolheu um sociólogo
para implantá-lo, quando tudo estava definido e ajustado pelos ministros da
fazenda que o antecederam. Com isso, Fernando Henrique conseguiu eleger-se
presidente e, depois de negociar com o congresso a aprovação da reeleição
para cargos executivos, assumiu seu segundo mandato em meio a uma grande
crise do sistema financeiro internacional, o qual nos motivou a escrever um livro
sobre a profecia do “Homem do Cavalo Branco”, conforme está registrado em
Arret - O Diário da Viagem.
É interessante observar que a primeira metade do texto, até a frase “irão
derrubar a viga mestra da confusão”, não requer interpretação, pois não apresenta
dificuldades para identificação dos personagens, situação no tempo e
acontecimentos correlatos. Porém, a partir da frase seguinte o texto apresenta
sérias dificuldades para interpretação. Assim como o longo período do regime
militar é referenciado apenas como “o período crítico”, a frase “então muita coisa
nova vai acontecer” parece também abarcar um longo período de tempo que inclui
os parágrafos seguintes e a seguir comentados, até o aparecimento do “homem
franco, sincero e leal”.
Muitos homens, mulheres e crianças já sofreram e continuam sofrendo as
conseqüências justas e injustas dos erros provocados pelos governos anteriores
e pela própria situação internacional. A distância entre ricos e pobres vem
aumentado a cada ano e a qualidade da educação e da saúde vem piorado,
assim como, vem aumentado o número de desempregados e daqueles que
vivem abaixo da linha da pobreza.
É difícil afirmar que, após os anos de chumbo do regime militar, o regime foi
“combatido e até abalado”, principalmente, se a frase for analisada pela ótica
convencional. Porém, se analisada de uma maneira ampla e sob a ótica do
“então, muita coisa nova vai acontecer”, a frase pode ser interpretada de uma
maneira válida.
Assim como o terrorismo e as guerrilhas representam alto nível de insegurança
para a população e, conseqüentemente, para a nação, o crime organizado, o
narcotráfico, as invasões lideradas pelos movimentos dos sem-terras e sem-teto
representam situações semelhantes e até mais graves que o terrorismo e as
guerrilhas dos anos de chumbo, pois todos que vivem no campo ou nas cidades
estão sujeitos às suas ações.
Juntamente com a criminalidade crescente e suas variadas facetas
representadas por roubos, assaltos e seqüestros associados ao narcotráfico que
provoca o desencaminhamento, a morte de tantos jovens, a insegurança e a
desestabilização de muitas famílias pode ser interpretada como um combate e
abalo do regime, pois as famílias formam a base da sociedade de um país.
Durante os longos anos do regime militar não ocorreram tantas mortes e
seqüestros como nos últimos anos de reinado do crime organizado e do
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narcotráfico, cuja atuação, abrangência e poder aumenta a cada ano. Algumas
autoridades e repórteres já associaram o fato a um poder paralelo a ser
combatido como se fosse uma guerrilha urbana, inclusive, defendendo a
convocação das forças armadas, como já aconteceu em alguns estados do
nosso país.
Porém, não é difícil constatar que o Brasil está se tornando um país respeitado
pelas grandes nações e que a maioria dos homens que governaram nosso país,
ou foram o esteio da situação até o final do período ditatorial, já foram
”chamados a prestar contas a Deus”.
Apesar de que sempre estiveram em atividade, os elementos da natureza estão
começando a agir de maneira crescente, abrangente e inusitada em todos os
locais do planeta. São cada vez mais freqüentes as notícias sobre ondas de
calor em locais normalmente frios, enchentes em locais predominantemente
secos ou a situação inversa, além de ressacas, furações, maremotos, quebras
de safras agrícolas e populações famintas, “não só no Brasil, mas também no
mundo”.
Mesmo com esses indicadores de anormalidade, ainda não é prudente acreditar
que até o final do ano de 1999, o “sol, as enchentes e o frio já criaram fome e
desespero, não só no Brasil, mas também no mundo”.
Cremos que estamos atravessando esse período e, por essas e outras razões
podemos afirmar que até o advento do presidente Fernando Henrique Cardoso,
nenhum dos governantes anteriores, incluindo ele mesmo, representaram ou
eram o “Homem do Cavalo Branco”. Ainda não chegamos “no final de tudo”, ou
no fundo do poço.
Durante os quatro anos que restam ao seu governo, ou ao do seu sucessor,
essa situação poderá se consolidar e abrir caminho para o aparecimento do
homem que “dará uma nova personalidade nos destinos do Brasil, corrigindo
injustiças e fazendo voltar a confiança e a esperança no futuro do Brasil”.
Além daquilo que a profecia descreve sobre o seu personagem central,
existem poucas informações orais ou escritas sobre esse ser extraordinário.
Resumimos abaixo aquelas que conseguimos acessar ao longo dos últimos vinte e
quatro anos. Elas foram obtidas em livros canalizados, como aqueles ditados por
Ramatis, ou através de outras mensagens espirituais, além de inúmeras conversas
com dezenas de pessoas e sensitivos que tinham alguma informação a respeito.
Registraremos apenas aquelas que atenderam a um critério de concordância geral.
Trata-se de um ser de elevada hierarquia espiritual que atua nas linhas do poder
e da justiça, especialmente, a da justiça, pois ele é um arcanjo dessa linha.
Ele não pertence à hierarquia espiritual da Terra e já dirigiu mundos com
governo planetário, como o arretiano.
Seu advento será precedido por um crescente interesse pelas questões de
justiça e punições de crimes de diversas naturezas, especialmente, os de
corrupção ativa e passiva.
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Sua chegada ao governo se dará por caminhos diferentes dos padrões até então
vigentes, podendo ser através de um “golpe de estado”, ou pela eleição ou
indicação de alguém que não apresenta as condições usuais que elegeram seus
antecessores.
Ele se tornará um líder interno e externo, muito querido pelo povo brasileiro,
especialmente pelos mais humildes.
Sua missão é preparar o Brasil e o povo brasileiro para a transição planetária,
exemplificando, para os demais países da Terra um novo padrão de governo
centrado na justiça social e na fraternidade.
Apesar das dificuldades para análise e interpretação da parte final da
profecia, sua primeira parte é surpreendente e nos obriga a raciocinar a respeito
das suas possibilidades e significados ainda ocultos. Em última análise, é alentador
saber que poderemos ter um presidente “franco, sincero e leal” que “dará uma nova
dimensão e personalidade nos destinos do Brasil, corrigindo injustiças e fazendo
voltar a confiança e a esperança no futuro”. Somente por essas razões, vale à pena
acreditar que, mesmo que o Brasil e o mundo cheguem ao fundo do poço, existe a
esperança de um futuro melhor. Considerando que Olintho é o provável “Homem do
Cavalo branco” e que, assim sendo, os destinos do Brasil será colocado em suas
competentes mãos pelas “Forças Supremas que habitam o Cosmos”, é importante
conhecer uma parte do trabalho que ele realizou em Arret durante os três anos
anteriores à grande transição, durante ela e nos dez anos seguintes, onde foi o “fiel
da balança” junto a todos os povos daquele planeta.
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Muitos já haviam fechado suas portas nos dez anos anteriores e boa parte daqueles
que restaram estavam prestes a fazer o mesmo.
A corrupção era muito grande em todos os níveis e a impunidade dos
políticos e das classes dominantes revoltava a população que nada podia fazer, a
não ser participar de greves e manifestações de protesto pela situação em que o
país se encontrava. Apesar de praticar um regime democrático com eleições gerais
em todos os níveis executivos, legislativos e judiciários, esses poderes eram
controlados por grandes e velhas oligarquias que se alternavam e se protegiam
mutuamente. Além de manter uma polícia militar a nível municipal, o país tinha um
razoável contingente de forças armadas, apesar de contar com mais de 100 anos
de paz e sem conflitos bélicos com países vizinhos ou distantes. Além daquilo que
está registrado a respeito do modo de vida no período anterior à grande transição,
esse era o cenário básico daquele país, no período anterior ao advento de Olintho.
Tudo começou cerca de quatro anos antes daquele grande
acontecimento, em um período de grandes dificuldades que o país atravessava,
aumentadas pela atuação de um governo incompetente e corrupto que, desde o
seu início, elevou os gastos, aumentou os impostos e diminuiu os investimentos
governamentais, especialmente nas áreas de infra-estrutura, educação e saúde. Os
constantes erros a nível interno e a falta de agressividade na política externa
acarretou uma sensível diminuição das exportações e das reservas cambiais,
elevando a dívida externa, o desemprego e a inflação a um patamar muito alto.
Toda a economia estava abalada, estagnada e extremamente frágil, com alto e
crescente descrédito internacional.
O governo, que vinha demonstrado grande insensibilidade política,
econômica e social, tomou uma série de medidas impopulares e injustas para
reverter a situação, recorrendo a um novo aumento de impostos e taxas para
compensar a queda na arrecadação decorrente da diminuição da atividade
econômica, além de elevar os juros e bloquear parte significativa das contas
bancárias e aplicações de pessoas físicas e empresas. Essas medidas revoltaram a
população e desencadearam os acontecimentos que levaram Olintho ao poder,
semelhantes aqueles que culminaram com a derrubada do governo Collor.
O povo, já cansado, desesperançado e sem horizontes, iniciou algumas
manifestações de protesto por iniciativa de alguns segmentos organizados,
apoiados por donas de casa, desempregados e estudantes. Em poucas semanas
esses protestos pacíficos, representados por passeatas e concentrações, se
estenderam por todas as cidades do país e foram engrossados com greves de
vários segmentos bastante representativos e importantes, tanto das classes
operárias, como das patronais. Essa união acabou gerando um movimento de
grandes proporções, com intensa, crescente e organizada participação popular.
Logo que surgiram as primeiras greves, começaram as negociações
entre o governo e os líderes dos diversos segmentos. Em função da intransigência
governamental, os resultados não foram satisfatórios e o movimento se alastrou
com inúmeras outras greves que começaram a paralisar o país. Para tentar reverter
a situação, o governo federativo convocou os governantes estaduais e decidiram
intervir no movimento mediante o uso da força, assim que os governadores
comunicassem a decisão aos respectivos prefeitos. As forças armadas foram
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acionadas para intervir, prender os responsáveis e terminar com o movimento, em
conjunto com as polícias militares presentes em todos os municípios.
Porém, ao invés de cumprirem as determinações, os comandantes e
seus subordinados, todos com pais, irmãos, filhos, parentes e amigos engajados no
movimento, acabaram se juntando ao povo e fizeram uma revolução sem
derramamento de sangue. Em poucos dias derrubaram os três níveis de governo,
exceto os de algumas pequenas e médias cidades que não se opuseram aos
reclamos populares. Também suspenderam os direitos políticos, fecharem todas as
câmaras legislativas e as cortes de justiça superiores, incluindo várias cortes
básicas das médias e grandes cidades que se opuseram ao movimento popular.
Como o país estava sob lei marcial, prenderam todos os governantes e uma grande
quantidade de membros do legislativo e do judiciário, sabidamente corruptos pela
população que se irmanou com as forças militares.
Nos dias seguintes àquele “golpe militar popular” foram criadas juntas
provisórias para gerir temporariamente os três níveis de governo, formadas por
membros das forças armadas e pessoas notáveis da sociedade civil. Havia igual
número de civis e de militares com patentes ou experiências profissionais
compatíveis com cada esfera de governo. Essas juntas foram formadas por 7 a 14
membros a nível municipal, 14 a 21 no estadual e 28 no governo federativo. Todas
tinham um coordenador eleito pelos respectivos membros e a maioria das decisões
foi tomada por maioria simples. As juntas foram criadas para governar durante um
período de três meses, considerado como suficiente para tomar diversas medidas
saneadoras, sentir os anseios da população, definir os próximos passos e marcar
uma nova eleição geral.
Todas as ações empreendidas durante esses três meses foram
realizadas com total transparência, com amplos e constantes comunicados à
população e embasadas em levantamentos de opinião, pois o principal objetivo era
anular atos de corrupção e permitir o rápido restabelecimento e desenvolvimento
das atividades industriais, comerciais e de serviços. Durante esse período
prenderam todas as pessoas notoriamente conhecidas por seus atos ilícitos ou
sobre as quais as forças armadas e as polícias militares tinham informações
seguras sobre atos de corrupção. Todos foram recolhidos em quartéis, navios
militares ou prisões especiais e foram julgados e condenados sumariamente por
tribunais mistos, compostos por juízes militares e civis.
Como as máquinas estatais dos três níveis de governo estavam
inchadas, inoperantes e com muitos funcionários com altos salários, fizeram cortes
drásticos que reduziram significativamente a folha de pagamento e várias outras
despesas. Isso permitiu diminuir as alíquotas de vários impostos e taxas, além de
eliminar alguns tributos polêmicos criados pelo governo deposto e pelos anteriores.
Como havia muitos problemas que demandavam estudos mais profundos e
demorados, foram criados diversos grupos de trabalhos para propor soluções nos
meses seguintes. No final desses três meses foram tomadas as principais ações
saneadoras e as pesquisas de opinião indicavam que a população estava satisfeita
com os resultados alcançados e com muita esperança em relação às conclusões
dos estudos em andamento. Com base nessas expectativas, o processo foi
ampliado por mais seis meses e todas as juntas provisórias foram reestruturadas e
denominadas como juntas de transição.
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Seus componentes foram ampliados e a junta federativa passou a contar
com 49 membros. As juntas estaduais com 21 a 35, conforme o porte e nível de
atividades econômicas de cada estado. As grandes cidades passaram a ser
governadas por 21 membros, as médias por 14 e as pequenas por 7. O poder
legislativo continuou suspenso e o judiciário voltou à normalidade, com uma nova
composição em todos os níveis. Também ficou acertado que, no final dos seis
meses, a população seria consultada sobre a manutenção daquela forma de
governo com os ajustes que seriam propostos nos meses seguintes, incluindo o
restabelecimento do pode legislativo.
Nos primeiros dias de atuação das novas juntas de transição, foram
libertados todos os presos não acusados por crimes de corrupção, estelionato,
morte, assalto e outros de natureza semelhante, pois aquele país era um dos
poucos que não aplicava penas de morte ou de mutilação física. Fizeram o mesmo
como todos que tinham cumprido dois terços de suas penas originais, sob
promessa de regeneração e integração à sociedade. As ações saneadoras foram
intensificadas e nos meses seguintes julgaram e prenderam uma grande
quantidade de políticos, policiais, membros das forças armadas, religiosos e
pessoas comuns que foram acusadas de corrupção, enriquecimento ilícito e outros
crimes. Os que estavam sob suspeita foram impedidos de deixar o país até o
término das investigações. Além das informações e provas coletadas pelas
autoridades, a população foi convocada para fazer denuncias fundamentadas sobre
crimes e atividades ilícitas de qualquer cidadão.
Elas foram coletadas através da Internet e de urnas colocadas em
estabelecimentos comerciais, permitindo que toda a população participasse. Com
base no número de denuncias imputadas a cada suspeito, as autoridades foram
investigando, obtendo provas materiais e prendendo essas pessoas. Os dossiês
gerados embasavam o indiciamento e a acusação dos suspeitos em julgamentos
sumários, nos mesmos moldes praticados pelas juntas provisórias. O principal
objetivo desses julgamentos era punir exemplarmente os casos de corrupção e de
enriquecimento ilícito. Com isso, durante os quatro primeiros meses de atuação das
juntas de transição, todos os acusados foram julgados, punidos e tiveram seus bens
ilícitos revertidos aos cofres públicos. Quando não havia provas suficientes o réu
era inocentado ou tinha seu julgamento adiado para coleta de novas provas,
quando poderia ser inocentado se a dúvida persistisse.
Além do intenso trabalho de combate à corrupção, os serviços supérfluos
foram suspensos em todos os níveis de governo e as diversas equipes de trabalho
se concentraram em cortar gastos, racionalizar e agilizar as máquinas
administrativas, o que acarretou uma substancial redução do funcionalismo público.
Todos que não desempenhavam suas funções a contento foram dispensados,
assim como aqueles que executavam atividades eliminadas ou simplificadas, pois
naquele país, como em todos os demais, não havia estabilidade para funcionários
públicos. As leis trabalhistas seguiam um padrão da ONU arretiana e eram válidas
para todos os tipos de funcionários e não previa tantos direitos como a sua similar
brasileira.
As reduções de impostos e taxas realizadas nos três primeiros meses,
somadas à racionalização das estruturas e serviços governamentais, à grande
quantidade de bens ilícitos revertidos aos cofres públicos e à moralização que
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passou a vigorar naquele país, permitiram novas e substanciais reduções nas
alíquotas de todos os tributos e seu agrupamento em um leque bastante reduzido
que abrangeu os três níveis de governo. Com isso e com a simplificação da
burocracia, todos passaram a pagar um valor justo que, ao mesmo tempo em que
permitiu a expansão da economia e a geração de novos postos de trabalho no setor
privado, possibilitou ao governo dos três níveis reativar e implantar novos projetos
em todas as suas áreas de atuação.
As primeiras ações
Olintho deu continuidade aos projetos desencadeados pela junta de
transição e três deles tinham alta prioridade e mereceram especial atenção durante
o seu primeiro ano de governo, pois completavam ações iniciadas anteriormente. O
primeiro foi o projeto de racionalização da estrutura do governo federativo e dos
demais, objetivando a redução da máquina estatal e de seus custos até a base da
pirâmide e, principalmente, a sua agilidade e objetividade. Esse projeto envolveu
um grande conjunto de simplificações legislativas e gerou muitos benefícios para as
empresas e para a população. O segundo criou uma série de incentivos e canalizou
um grande volume de recursos para o desenvolvimento das atividades produtivas,
geração de empregos e expansão das exportações, privilegiando o setor agrícola.
O terceiro englobava uma série de ações de curto e médio prazo, voltadas para a
melhoria da qualidade de vida da população, especialmente da mais carente.
Esse projeto, além das ações próprias dos três níveis de governo, contou
com a parceria e a colaboração de empresários, entidades religiosas, filantrópicas e
de uma parcela significativa da população de melhor poder aquisitivo, quando foram
reformados e ampliados inúmeros centros de lazer urbanos, como parques e
equipamentos voltados para atividades esportivas e culturais. Para ser concluído
em um tempo maior, Olintho começou a reestruturar os sistemas de assistência
médica, de previdência social, de educação e habitação, privilegiando as pequenas
cidades e a zona rural, além de iniciar um novo projeto de reforma agrária baseado
em agrovilas. No início do segundo semestre do seu governo ocorreram as eleições
para as câmaras legislativas que passaram a funcionar em novos moldes, sem
espírito de corpo, negociações para obter governabilidade e outros aspectos que
prejudicavam a máquina governamental e a sociedade como um todo.
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Quando essas câmaras começaram a funcionar, definiram um projeto de
reestruturação do poder judiciário e de simplificação e consolidação de toda a
legislação então existente. O objetivo era permitir que qualquer caso fosse julgado
com a rapidez alcançada durante os primeiros meses de funcionamento das juntas
provisórias, para que a demora e a impunidade deixasse de ser a principal causa da
criminalidade e da corrupção. Vale ressaltar que as questões de justiça eram a
principal marca da personalidade de Olintho e que elas lhe custaram críticas
internas e externas durante o seu primeiro ano de governo.
Isso aconteceu em decorrência da maneira rápida e sumária com que as
cortes judiciais vinham agindo desde o advento das juntas provisórias e também
pela extinção das câmaras legislativas estaduais e federais. Apesar de não existir
torturas ou desrespeito aos diretos humanos, vários países e diversos organismos
internacionais acabaram criticando e associando o governo de Olintho a um regime
totalitário, pois seu governo ainda mantinha uma infinidade de pessoas corruptas
que eram qualificadas por esses organismos como “presos políticos”. Ele também
sofreu a desaprovação de uma pequena e influente parcela da população interna
que se sentiu prejudicada pelas diversas ações iniciadas pelas juntas e continuadas
em seu governo, especialmente aquelas voltadas para a melhoria das condições de
vida da população mais pobre e diminuição das desigualdades sociais.
No final do primeiro ano, quando todos os grandes e pequenos corruptos
estavam julgados, condenados e seus bens ilícitos bloqueados ou revertidos aos
cofres públicos, uma nova legislação permitiu que qualquer preso fosse transferido
para outro país que o aceitasse para lá viver em liberdade. Esses condenados
podiam vender ou levar seus bens de direito e permaneceriam fora do país até o
final do cumprimento de suas penas originais. Essa legislação calou as críticas
internas e, principalmente, as externas, pois muitos países que criticavam o
governo de Olintho foram os primeiros a recusar os vistos de entrada para esses
delinqüentes, justificando a decisão com os mais variados pontos-de-vista. Mesmo
assim, muitos deles ganhou a liberdade e o mesmo aconteceu com vários
condenados por outros crimes. Com isso, muitas penitenciárias foram desativadas e
as novas admissões diminuíam a cada dia, à medida que melhorava as condições
sociais, a qualidade de vida da população e aumentava a confiança do povo no
governo.
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individuais necessárias para garantir a sustentabilidade de cada família variava
entre 4 e 16 hectares, conforme o tipo de agrovila e seu modelo operacional.
Em paralelo a esses estudos, fizeram um completo levantamento das
áreas propícias pertencentes aos três níveis de governo. Esse levantamento foi
realizado rapidamente em razão de já possuírem informações geo-referenciadas
sobre as áreas de propriedade pública ou privada, as quais eram constantemente
atualizadas por diversos procedimentos, incluindo mapeamentos realizados por
satélites. Esses dados eram utilizados para cobrança de impostos, avaliação de
queimadas, desmatamentos, ocupação das áreas e outras finalidades. Logo que os
levantamentos foram concluídos, todas as terras pertencentes aos estados e aos
municípios foram transferidas para o governo federal e colocadas à disposição do
programa de assentamentos.
Também em paralelo, definiram os modelos dos diversos tipos de
núcleos habitacionais e de serviços comunitários para comportar de 50 a 200
famílias e os critérios para inscrição e seleção dos interessados. Enquanto as
inscrições eram realizadas, processadas e os interessados informados,
selecionados e treinados para viver e produzir em cada tipo de agrovila que
escolheram, foram definidas e demarcadas milhares delas de diversos tamanhos,
voltadas para os mais diferentes tipos de atividades, como fruticultura, horticultura,
piscicultura e extrativismo, todas associadas a agroindústrias voltadas para o
processamento local da produção e agregação de valor ao processo produtivo. O
esquema de demarcação das agrovilas foi planejado para ser concluído antes do
final da fase de treinamento dos interessados, de maneira a permitir que cada
família escolhesse também o local específico do tipo de agrovila, com base em uma
planta detalhada de cada uma delas.
Assim que as famílias concluíram a fase de treinamento e cada agrovila
escolhida atingiu seu limite populacional mínimo, seus futuros moradores foram
imediatamente transferidos para elas e lá encontraram o local preparado para armar
as barracas, bem como, a serraria e a marcenaria em condições de operação e
uma grande quantidade de toras secas e em processo de secagem. Assim que se
instalaram e receberam a complementação do treinamento inicial, começaram o
processo de corte das toras, preparação das madeiras e construção das
residências. Quando elas foram concluídas e ocupadas, todos iniciaram duas
frentes de trabalho, em dias ou períodos alternados, conforme o que foi decidido
pelo conselho representativo dos moradores de cada agrovila. Uma delas foi
dedicada às construções de uso coletivo e a outra aos trabalhos nas glebas
individuais ou coletivas, para torná-las produtivas no menor tempo possível.
Como já registramos, as casas e as glebas não foram doadas aos
assentados. Todos estavam sujeitos a uma taxa que variava entre dez e vinte por
cento da renda bruta de cada família, conforme o tipo de agrovila. Esse valor, além
de cobrir a manutenção dos serviços, a assistência técnica e a utilização dos
equipamentos comunitários, tinha uma parte correspondente ao aluguel da casa e
da gleba por um período de três anos. Aquela referente à gleba foi calculada
criteriosamente e levava em conta a qualidade planimétrica, acesso, fertilidade do
solo, disponibilidade de água e outros fatores normalmente associados ao valor
justo de qualquer propriedade agrícola.
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Após o período de três anos de trabalho efetivo na agrovila e criação das
condições de sustentabilidade familiar, os moradores tinham opção de compra, ou a
possibilidade de transferência para outra agrovila do mesmo ou de outro tipo de
atividade. Também podiam pedir a transferência para outra agrovila, ou desistir a
qualquer tempo e por qualquer motivo, assim como estavam sujeitos a serem
excluídos do programa de assentamentos se não cumprissem as metas
estabelecidas para a agrovila onde residiam, ou viessem a criar problemas para os
demais assentados, ou deixassem de cumprir com suas obrigações financeiras sem
motivo justo. Em caso de compra, o pagamento era parcelado em vários anos, de
maneira a não comprometer mais que vinte por cento da renda familiar, sendo que
o maior nível de produção barateava o valor das parcelas. A venda da moradia e da
gleba a terceiros só era permitida no final dos pagamentos, quando o assentado
recebia o título de propriedade.
O programa de assentamentos extrapolou todos os objetivos iniciais,
pois assentou todos os sem-terras originários da zona rural, extinguiu o fluxo
migratório para os centros urbanos e desconcentrou todas as cidades,
especialmente as grandes, pois uns vinte por cento da população urbana se
transferiu para as agrovilas antes do início da grande transição. Apesar da grande
procura, houve terras para todos os interessados em função de algumas iniciativas
tomadas pelo governo com a antecedência necessária. No país de Olintho, as
áreas improdutivas eram taxadas com alíquotas que aumentavam conforme fossem
maiores os tamanhos das glebas. As áreas produtivas também eram taxadas de
maneira significativa e esses tributos geravam problemas e reclamações de todos
proprietários de terras. Além disso, muitos deles tinham recorrido a financiamentos
no passado e suas dívidas, em alguns casos, eram superiores ao valor de suas
terras.
Logo que as primeiras agrovilas foram implantadas com grande sucesso
e seus moradores começaram a obter bons resultados produtivos, a quantidade de
inscrições dos sem-terras urbanos aumentou consideravelmente e superou todas
as expectativas iniciais mais otimistas. Com isso, o governo certificou-se que as
terras disponíveis não seriam suficientes para atender todos os interessados.
Olintho, que era muito perspicaz e um administrador brilhante que adorava
desafios, logo encontrou uma solução simples e prática para solucionar o problema,
como era o seu estilo de resolver tudo pelo caminho de menor resistência. Ele
convocou algumas reuniões com os órgãos representativos dos proprietários de
terras e com os maiores latifundiários do país, dentre os quais se encontravam
também os maiores devedores de financiamentos agrícolas.
Nessas reuniões foram expostas as linhas gerais da proposta de
utilização de terras particulares para continuidade do programa de assentamentos,
conforme características gerais abaixo resumidas.
Os devedores teriam seus financiamentos recalculados para apuração do saldo
referente ao montante do empréstimo original, cujo valor seria convertido em
quantidades de uma cesta de bens, produtos e insumos agrícolas vigentes na
época da contratação de cada empréstimo e transformadas em um valor atual da
mesma cesta.
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O novo valor seria refinanciado com taxas menores, em parcelas e prazos
condizentes com a capacidade real de desembolso de cada devedor, de maneira
a não comprometer o seu processo produtivo e inviabilizar o pagamento da
dívida.
Caso ocorresse uma retração econômica do setor correspondente a cada um, a
dívida poderia ser novamente refinanciada em prazos maiores e em parcelas
menores.
Os devedores podiam optar por quitar a dívida com uma parte de suas terras
improdutivas, a preços de mercado.
No caso dos proprietários que não tinham dívidas, ou quando elas eram
inferiores ao valor das terras que viessem a transferir para o programa de
assentamentos, o governo pagaria o seu valor de mercado em parcelas
trimestrais, acrescidas das mesmas taxas utilizadas no refinanciamento das
dívidas.
Para todos que transferissem glebas para o programa de assentamentos, seriam
concedidas reduções crescentes nos tributos sobre as áreas remanescentes,
conforme a quantidade transferida. O governo concederia isenção total se ela
representasse 75 por cento da área original.
Os valores das taxas incidentes sobre as áreas remanescentes também seriam
convertidos em quantidades da mesma cesta de bens, produtos e insumos
agrícolas utilizada no refinanciamento das dívidas e, na medida que a produção
aumentasse e o valor da cesta fosse reduzido, as dívidas e os impostos seriam
igualmente reduzidos.
Adicionalmente, todos os proprietários também se beneficiariam com escolas,
postos médicos, assistência técnica e outros benefícios concedidos aos
assentados.
A proposta teve grandes repercussões positivas, tanto entre os
proprietários de terras, como entre os inscritos e aqueles que pretendiam se
inscrever no programa de assentamento. Nos meses seguintes foram definidos
todos os detalhes daquela grande operação, renegociadas todas as dívidas e
cadastradas todas as áreas vendidas ou transferidas ao governo em troca de
dívidas. A resposta dos proprietários também ultrapassou as expectativas mais
otimistas, pois a quase totalidade dos devedores preferiu quitar suas dívidas e
muitos proprietários não endividados colocou parte de suas áreas originais à
disposição do programa de assentamentos.
Somente aquelas transferidas em troca de dívidas foram suficientes para
atender, com grandes sobras, todos os inscritos até aquela data. Juntamente com
as áreas adquiridas de proprietários não endividados, criaram reservas suficientes
para triplicar a quantidade de inscrições. Nos seis meses seguintes, o governo
assentou uma grande quantidade de famílias oriundas de centros urbanos que suas
populações diminuíram visivelmente. Com isso foram liberadas inúmeras casas que
logo foram compradas ou alugadas por pessoas que moravam em áreas mais
adensadas e esse fato evitou muitas mortes e ferimentos quando ocorreu a grande
transição.
40
Outro fato importante foi o novo tipo de relacionamento criado entre os
antigos proprietários de terras e os sem-terras, pois nasceu entre eles uma nova e
grande camaradagem. Os assentados passaram a ver essas pessoas como amigos
e benfeitores, tanto pelo bom relacionamento que cultivaram, como pelo fato da
maioria deles terem disponibilizado as terras que permitiram a implantação dos
assentamentos. Do outro lado, os proprietários viam os assentados como pessoas
ordeiras e interessadas nas suas novas atividades e também como as responsáveis
por tê-los livrado de suas dívidas. Além disso, também se beneficiaram com a
assistência técnica, escolas, postos de saúde, clubes sociais e várias outras coisas
implantadas nas agrovilas próximas. Enfim, as duas partes juntaram o útil com o
agradável.
Enquanto os grandes proprietários continuaram se dedicando à
produção extensiva de grãos, as agrovilas começaram a produzir peixes, hortaliças,
legumes, frutas, mel e seus derivados, artesanatos e vários outros produtos. Muitas
que estavam localizadas em áreas florestais também produziam móveis e madeiras
serradas para consumo nos centros urbanos e para exportação. Com isso, deixou-
se de exportar toras brutas e iniciou-se um projeto de manejo sustentável das
florestas, onde também coletavam folhas, ervas e raízes medicinais, além de
resinas, essências e frutos silvestres de grande aceitação no mercado interno e
externo.
Todas essas atividades estavam em pleno andamento antes do final do
segundo ano do governo de Olintho e seu país se transformou no maior produtor e
exportador de alimentos, remédios naturais, peixes de água doce, madeiras
serradas e móveis do planeta. Além disso, quase todos os assentamentos tinham
uma parte de sua renda proveniente da exploração do turismo, pois o interesse
pelas agrovilas contagiou a população urbana daquele país e extrapolou suas
fronteiras, levando outros governos a implantar um projeto semelhante. O sucesso
do programa de reforma agrária e o excelente nível de qualidade de vida alcançado
pelos assentados motivaram outros moradores dos centros a se fixarem no campo,
seguindo os passos de seus antigos amigos, vizinhos ou colegas de trabalho.
Quando sobreveio a grande transição, o país de Olintho foi aquele que
menos danos sofreu em todos os sentidos, pois além de ter uma população
bastante dispersa geograficamente, tinha a melhor e mais bem aparelhada
estrutura de produção agrícola do planeta. Muitos desses assentamentos foram
posteriormente utilizados como núcleos de trabalho comunitário e seus habitantes
já estavam treinados e preparados para a nova etapa que se iniciou em todo o
planeta. Foi por essas razões que relatamos esse projeto com mais detalhes que os
seguintes.
47
Algumas pessoas desistiram por diversos motivos e logo foram liberadas
e reconduzidas aos respectivos locais de origem com a promessa de guardarem
segredo total sobre os acontecimentos. Cerca de 22 milhões de voluntárias e
voluntários se comprometeram a participar da operação e lá permaneceram com a
finalidade de receber o treinamento necessário para colaborar nos trabalhos de
resgate e acomodação de um terço da população que sobreviveria aos
acontecimentos. Esse percentual, com pequenas variações, representava um
padrão universal e aplicável a todos os planetas de nível primário, cuja humanidade
apresentava as mesmas características morais, espirituais e de conscientização
presentes no conjunto do povo arretiano.
O treinamento foi iniciado na manhã seguinte e se estendeu por três
dias. Ele começou com uma visão geral dos acontecimentos previstos, realizada
através de projeções holográficas que simulavam os diversos tipos de ações
destrutivas dos elementos da natureza programadas para ocorrer em cada região
ou local específico do planeta. As imagens, quase reais, causaram um choque
inicial em todos os grupos, pois superavam suas expectativas com relação ao grau
de destruição física das mais diversas edificações e instalações planetárias. Porém,
todos reagiram bem e ninguém desistiu do compromisso, pois eram seres cujos
espíritos estavam preparados e qualificados para aquele tipo de operação. Durante
esses dias, todos receberam informações detalhadas sobre os trabalhos que
realizariam, os cuidados necessários, os equipamentos e recursos de alta
tecnologia que teriam à disposição e sobre as quantidades de pessoas que seriam
resgatadas em cada uma das fases que dividiram a grande operação.
Dentre os trabalhos programados, o primeiro deles exigia uma ação
rápida e objetiva dos grupos de voluntários e referia-se à montagem parcial dos
núcleos de sobrevivência para abrigar cerca de 500 milhões de pessoas que seriam
resgatadas antes do início dos acontecimentos. Elas seriam abrigadas em 733.000
núcleos de sobrevivência espalhados por todos os países e locais do planeta. Para
realizar essa grande tarefa em poucas horas, contariam com diversos materiais e
equipamentos de alta tecnologia, além do apoio de uma nave e de sete espaciais,
os mesmos que treinaram cada grupo de 30 voluntárias e voluntários encarregados
da montagem parcial de cada núcleo.
49
Assim que concluíram a instalação dos banheiros necessários para
atender todas as pessoas que seriam resgatadas durante a primeira operação, 16
dos 30 voluntários foram teletransportados para as naves que aguardavam o início
da operação de resgate, pois iriam colaborar nos trabalho de recepção dessas
pessoas. Alguns que apresentavam um perfil apropriado foram deslocados para
grandes naves que abrigariam os governantes e autoridades de cada país. Coube
aos demais voluntários e aos sete espaciais concluir a montagem das
acomodações familiares para abrigar as pessoas que seriam resgatadas e
desembarcadas nas horas seguintes.
Como os banheiros e sanitários, as acomodações familiares tinham as
mesmas cores e o formato de um iglu. Eles não apresentavam divisões internas e
podiam abrigar, confortavelmente, de 4 a 8 pessoas, conforme o seu diâmetro. Sua
cor externa era o amarelo com quatro largas faixas azuis que se cruzavam no teto.
A parede interna apresentava uma suave tonalidade rosa e o piso o mesmo padrão
externo. Todos os iglus eram confeccionados com um material plástico e flexível
que, ao ser inflado com uma espuma especial, seu piso apresentava uma
espessura de uns vinte e cinco centímetros e a parede uns dez centímetros a
menos. Em poucos minutos todo o conjunto adquiria a rigidez de um colchão de
espuma de alta densidade, além de apresentar um excelente isolamento térmico e
acústico.
Antes da montagem, cada iglu formava um pequeno pacote e sua
instalação era muito simples e rápida. Bastava tirar o lacre do pacote, engatar um
cilindro metálico no conector do piso e abrir a válvula que, em poucos segundos, ele
ficava cheio e em condições de ser fixado no solo com pinos próprios e por uma
máquina especial, pois iria resistir a fortes ventos durante a grande transição. O
mesmo cilindro era utilizado para encher a parede e, no caso dos banheiros, suas
divisões internas. Todos tinham uma abertura para entrada e saída sob pressão e
um compacto e revolucionário equipamento de múltiplas funções.
Ele era responsável pela iluminação, renovação, purificação do ar e
manutenção da temperatura interna estável e no nível de conforto definido pelo
usuário, dispensando o uso de cobertores até nas regiões mais frias. Esse
equipamento era instalado em um orifício circular no centro do teto e tinha um
“motor” inaudível, não poluente e autonomia para mais de 15 dias de uso contínuo,
além de alimentar o intercomunicador de voz e imagem que havia em todos os
iglus, o qual permitia a comunicação entre eles e com a nave de apoio. Quando
esse trabalho foi concluído, cada núcleo de sobrevivência ficou pronto para receber
as pessoas que seriam resgatadas antes do início dos acontecimentos. Os 14
voluntários e os sete espaciais que permaneceram em cada local se recolheram na
nave de apoio para preparar o esquema de recepção e treinamento do primeiro
grupo de resgatados, cujos componentes se juntaram a eles para concluir os
trabalhos de montagem das acomodações necessárias para abrigar as demais
pessoas que seriam resgatadas após o início da grande transição, nas horas e dias
seguintes.
59
Na primeira hora predominaram os terremotos e tsunames de pequeno
ou médio grau de intensidade e, apesar de atuarem em todos os continentes,
atingiram somente um terço dos centros urbanos e causaram poucas mortes e
danos físicos na estrutura planetária. No decorrer da hora seguinte houve um
aumento na abrangência e na intensidade destrutiva dos quatro elementos, atingido
quase toda a superfície do planeta. Em muitos locais os terremotos apresentaram
alto poder destrutivo e não havia mais pontes, estradas, combustíveis, água
encanada, sistemas de comunicação ou de energia elétrica em todo o planeta, pois
as usinas de geração e torres de transmissão foram destruídas ou seriamente
danificadas.
Esses fatos deixaram os povos completamente isolados, tanto a maioria
que foi duramente atingida, como os demais que ainda não tinham sentido todos os
efeitos devastadores das forças naturais. Os habitantes ainda não tinham entendido
o que estava realmente acontecendo e, pela falta de informações, tinham opiniões
divergentes. Uma parte via a situação local como uma calamidade semelhante a
outras que os atingiram anteriormente ou tinham conhecimento da sua ocorrência
em outros lugares. A maioria entendia os acontecimentos como incomuns e
estavam desesperados sem saber como ou a quem recorrer. Independente de suas
opiniões, em todos os locais havia milhares de pessoas se movimentando em
confusão total, em busca de bens, parentes e amigos mortos ou desaparecidos. No
decorrer da terceira hora, a fúria dos elementos atingiu o grau máximo e, nos
pontos mais ao norte e ao sul do planeta, os terremotos e tsunames foram
devastadores. Em vários lugares o nível de destruição foi tão grande e o de
sobrevivência tão baixo, que é difícil descrever o que realmente lá aconteceu.
Nesses locais a ação dos elementos da natureza foi especialmente destrutiva e
realizou coisas que a mente humana dificilmente conseguiria imaginar.
Após a quarta hora, quando os terremotos e tsunames perderam seus
poderes destrutivos, a situação da estrutura planetária era desoladora e só não
ceifou uma quantidade maior de vidas humanas em função das operações de
resgate realizadas pelos espaciais desde o final da primeira hora de atuação dos
elementos, conforme será descrito no próximo capítulo. Todas as grandes, médias
e pequenas cidades mais adensadas foram completamente destruídas e nelas não
era possível localizar uma única edificação de dois ou mais andares em pé.
Somente algumas casas térreas de madeiras localizadas em suas periferias e nos
pequenos povoados ainda estavam em pé, apesar de quase todas estarem
seriamente danificadas.
Também era difícil encontrar, mesmo nas regiões menos afetadas, mais
de dois quilômetros contínuos de estradas trafegáveis ou uma ponte intacta. Quase
todos os veículos das zonas urbanas mais adensadas foram destruídos ou
seriamente danificados. Porém, ainda restou uma grande quantidade sem danos
significativos ou com boas condições de recuperação, representada por aqueles
que estavam nas periferias urbanas ou nas zonas rurais. Toda a estrutura industrial
foi transformada em escombros, incluindo os grandes depósitos de alimentos,
materiais e combustíveis. Todos os postos de abastecimento de veículos foram
inutilizados ou consumidos por grandes incêndios quando seus tanques foram
danificados ou “espremidos” pelos terremotos.
60
Toda a frota marítima e fluvial foi afundada ou destruída, com exceção
de algumas pequenas e médias embarcações fluviais que estavam ancoradas nos
rios existentes nas regiões menos atingidas. Os grandes aviões estacionados
também foram destruídos ou seriamente danificados. Aqueles que voavam durante
os acontecimentos ficaram sem pistas de pouso e, em suas aterrissagens forçadas,
provocaram muitos desastres sem sobreviventes. Restaram alguns pequenos
aviões e helicópteros estacionados nos locais menos atingidos.
Sete dias após o início dos acontecimentos, quando a estrela Alnilam
voltou a iluminar o planeta e o ar novamente se tornou respirável, a geografia
arretiana apresentava profundas mudanças em função das movimentações
ocorridas na crosta do planeta. Enquanto alguns continentes diminuíram suas
áreas, outros a aumentaram e dois deles se juntaram, diminuindo a quantidade
inicial de oito para sete, incluindo os dois continentes polares. O mesmo aconteceu
com muitas ilhas e arquipélagos que aumentaram ou diminuíram de tamanho, ou
apareceram ou desapareceram pelo mesmo processo.
Quando, ao final de dois meses foi concluído o degelo dos continentes
polares, das demais geleiras e o nível dos mares se situou bem acima do original,
completou-se o desenho final dos continentes e ilhas. A salinidade do mar diminuiu
e o novo clima do planeta passou a ter uma única estação, uma mistura de outono
e primavera. Dos pouco mais de 10 bilhões de habitantes, sobreviveram menos de
3,5 bilhões, representando cerca de um terço da população anterior à grande
transição. Quanto aos animais, répteis e pássaros, o número de mortes foi
incalculável e provocou a extinção de muitas espécies que não foram inicialmente
protegidas pelos espaciais. Morreram todas as cobras, mosquitos, aranhas,
escorpiões e outros seres semelhantes que não tinham mais afinidade com a nova
aura planetária e o modo de vida que iria se desenvolver no planeta.
Critérios utilizados
A razão de dividir as três horas principais da grande transição em fases
distintas teve dois motivos básicos. O primeiro decorreu da crescente abrangência,
variedade, combinação e grau de intensidade destrutiva dos quatro elementos da
natureza. O segundo, do critério adotado pela Hierarquia Espiritual Arretiana, que
priorizou o resgate das pessoas que necessitavam de menor exposição aos
acontecimentos. Começaram por aquelas que escolheram o caminho do amor e
conquistaram níveis mais elevados de consciência espiritual ao longo de suas vidas
e, por essa razão, alguns foram resgatados antes do início dos acontecimentos,
como foi descrito anteriormente. Gradativamente foram resgatando aquelas que
priorizaram a conquista de objetivos materiais em suas vidas e escolheram o
caminho da dor. Essas pessoas necessitavam vivenciar os acontecimentos em
diversos graus de intensidade para que pudessem, pela dor própria e pelo amor e
carinho que receberam quando foram resgatadas, tratadas e abrigadas, despertar
para uma realidade e um modo de vida diferente daquele que praticavam.
Em função das informações que detinham sobre cada habitante, os
responsáveis pela Hierarquia Espiritual Arretiana previam o desencarne de dois
61
terços da população do planeta, totalizando quase sete bilhões de pessoas. Dentre
os que pereceram havia uma grande maioria de pessoas reprovadas no exame de
seleção e uma minoria de seres missionários e outros com bom nível evolutivo que
já estavam aprovados quando nasceram no planeta. Essas pessoas, pelos bons
trabalhos que realizaram nas vidas, décadas e anos anteriores, retornaram ao plano
espiritual porque foram poupadas de realizar os trabalhos de reconstrução e
normalização da vida planetária. Por outro lado, dentre os sobreviventes havia uma
grande maioria de pessoas que obtiveram as notas necessárias para aprovação e
uma parte que estavam ligeiramente abaixo da “nota mínima”. A essas pessoas foi
dada uma última oportunidade para obter a aprovação através da dor, da perda, da
renuncia e de outros aceleradores evolutivos que vivenciaram durante a grande
transição e no restante de suas vidas. Conforme o comportamento que
assumissem, poderiam ser aprovadas ou reprovadas.
Como regra geral, todos que foram resgatados após o início dos
acontecimentos necessitavam de um choque menor ou maior, conforme o nível de
conscientização ou de desenvolvimento espiritual de cada um, ou em outras
palavras, conforme a nota obtida no exame de seleção. Os mais conscientes foram
resgatados antecipadamente ou após a primeira hora do início dos acontecimentos.
Os demais, nas horas e dias seguintes. Independentes do sofrimento a que foram
submetidos, todos receberam apenas a dose mínima do remédio necessário. Como
toda regra tem exceções, entre os regatados havia pessoas de excelente nível
espiritual cujos espíritos preferiram permanecer com seus familiares, parentes ou
amigos que precisavam receber choques de diversos tipos. Esses seres
renunciaram a direitos conquistados em anos, décadas ou vidas anteriores para dar
um exemplo e com isso, ajudar outras pessoas a conquistar ou consolidar seus
diretos de ingressar na nova escola planetária. Elas assim agiram por amor aos
seus irmãos cósmicos e ao Pai celestial que, nesses casos, permitia que Seu filho
ou filha passasse por sofrimentos desnecessários.
Em função da complexidade das avaliações individuais, coube aos
responsáveis pela Hierarquia Espiritual Arretiana a análise e a definição da situação
e do destino final de cada habitante. Foram eles que tomaram as providências
necessárias para manter as pessoas vivas ou não, sem ou com ferimentos de
diversas gravidades, livres para serem resgatadas rapidamente ou presas aos
escombros em profundidades variáveis. Muitos desses resgates foram feitos nos
dias seguintes à grande transição e deram muito trabalho aos espaciais e
voluntários. Também coube à Hierarquia Espiritual Arretiana transferir para outros
planetas de expiação e de provas todas as pessoas que pereceram durante os
acontecimentos e foram reprovadas no exame de seleção. Ao comando da frota de
apoio a Arret coube efetuar os resgates conforme os critérios definidos pelos
mentores do planeta. Para isso realizaram gigantescas operações para resgatar os
sobreviventes, sanear o planeta e permitir a sustentabilidade, continuidade e
desenvolvimento da nova sociedade planetária, conforme será descrito a seguir.
63
melhores condições físicas e emocionais eram teletransportadas para a ala de
recepção dessas naves.
A primeira etapa foi concluída depois de meia hora de intensos
trabalhos, quando os últimos resgatados foram teletransportados para as grandes
naves. Durante essa etapa foram resgatadas cerca de 200 milhões de pessoas em
todo o planeta, em sua maioria sem ferimentos ou com lesões leves. Aquelas que
apresentaram lesões e descontroles emocionais de maior gravidade permaneceram
em tratamento nas alas hospitalares. Algumas foram liberadas em poucas horas e
outras após vários dias ou meses. As que estavam em boas condições receberam
informações gerais sobre os acontecimentos e depois foram levadas a locais
próprios onde tomaram banho e vestiram novas roupas. Em seguida foram
separadas em grupos homogêneos compostos por familiares, parentes, amigos e
moradores de um mesmo bairro ou local específico.
As autoridades de nível equivalente àquelas já abrigadas em outras
naves foram para elas teletransportadas com seus familiares. Os demais grupos
foram reunidos em salões específicos, onde receberam outras informações sobre a
grande transição e para qual núcleo de sobrevivência seriam transferidos. Também
foram informados sobre a continuidade dos resgates nas próximas horas e dias e
sobre a ajuda que poderiam prestar durante a longa operação de resgate nos
escombros. Muitas pessoas se ofereceram como voluntárias e a maioria delas se
colocou à disposição para realizar qualquer tipo de trabalho, sem nenhuma
exigência ou restrição. Como seria necessário um grande número de novos
voluntários, as pessoas que se ofereceram e não eram pais ou mães de crianças
que se encontravam entre os resgatados a apresentavam a aptidão física e
emocional necessária foram imediatamente aceitas e levadas para outros locais da
nave onde receberam treinamento específico. As demais foram transferidas para os
respectivos núcleos de sobrevivência através de cabines de teletransporte
existentes nas grandes naves e na nave de apoio que permaneceu em cada núcleo.
A segunda etapa de resgates foi iniciada nos primeiros minutos da
terceira hora, quando a ação dos quatro elementos da natureza havia atingido todo
o planeta e apresentava um grau destrutivo crescente. Durante sua realização
foram resgatados outros 300 milhões de sobreviventes, os quais obedeceram aos
mesmos critérios de seleção e receberam o mesmo tratamento dispensado ao
grupo anterior. Diferente dele, esse grupo apresentava um número maior de
pessoas com ferimentos de todos os tipos, além de traumas emocionais e
psicológicos mais graves, decorrentes do aumento do poder destrutivo dos
elementos e do maior número de perdas de familiares, parentes e amigos. Também
foi grande o número de pessoas que se colocaram à disposição para auxiliar nos
trabalhos de resgate nos escombro e, por terem menor nível de conscientização
espiritual que o grupo anterior, a principal motivação dessas pessoas foi a
possibilidade de encontrar familiares, parentes e amigos.
No início da quarta hora foi desencadeada a terceira etapa da operação,
quando resgataram cerca de 500 milhões de sobreviventes, o mesmo número das
duas etapas anteriores. Esses resgates não mais utilizaram os analisadores nível
de desenvolvimento espiritual, pois qualquer pessoa com sinais vitais positivos
podia ser resgatada. Naqueles momentos a situação das áreas urbanas era
desoladora e dificilmente descritível, especialmente no caso das cidades litorâneas
64
ou daquelas próximas da costa, pois a violência e o poder destrutivo dos elementos
da natureza ultrapassou as previsões mais pessimistas. Eles atuaram em duplas ou
em trios na maioria dos locais e muitas regiões foram afetadas pela ação conjunta
dos quatro elementos, com altíssimo poder destrutivo e reduzido número de
sobreviventes. Muitos dos locais atingidos moderadamente durante as duas horas
anteriores foram novamente assolados pelo mesmo ou por outros elementos,
elevando o nível de destruição física e de mortes. No decorrer da terceira hora
pereceram mais da metade das pessoas que perderam a vida em decorrência da
grande transição.
Como nas etapas anteriores, as pessoas continuaram sendo resgatadas
através dos raios transportadores das naves em trânsito e transferidas diretamente
para as grandes naves. Quase a metade das pessoas resgatadas durante a quarta
hora foram encaminhadas à ala hospitalar para tratamento físico ou mental em
função da gravidade dos seus ferimentos. Os demais seguiram a mesma rotina das
etapas anteriores e muitos se ofereceram como voluntários para a operação de
resgate nos escombros. Boa parte deles tinha, além da motivação do grupo
anterior, a de localizar valores materiais, como dinheiro ou jóias.
74
aspecto físico, combinando uma ou mais das características a seguir descritas e
válidas para a maioria deles.
Estatura maior ou menor e crânio mais ou menos desenvolvido e
desproporcional com o tamanho do corpo.
Pernas e braço mais curtos ou mais longos, com maior o menor quantidade de
dedos nas mãos e nos pés.
Olhos muito grandes, ou muito pequenos, ou um único, de todas as cores,
desenhos e formatos.
Orelhas grandes ou ausentes, ou de formato exótico.
Coloração ou tipo de pele exótica, como a dos répteis.
Ausência total ou excesso de pelos no corpo.
Essas diferenças eram motivadas pelas mais diversas origens
planetárias e estelares de cada grupo, pois alguns viviam em mundos localizados a
poucos anos-luz de Arret e outros, a centenas ou milhares deles. Porém,
independente da procedência ou forma física, todos formavam uma única e grande
equipe de trabalho, harmônica, eficiente e dedicada. Todos tinham o único objetivo
de auxiliar e servir o povo arretiano em um momento de grandes dificuldades e de
total fragilidade, pois estavam completamente indefesos e sem saber onde ou a
quem recorrer. Eles agiram como verdadeiros anjos e executaram trabalhos das
mais diversas naturezas. Alguns foram agradáveis e delicados, como aqueles
voltados para a preservação da flora e da fauna. Outros revirariam o estômago de
qualquer terráqueo, como o recolhimento de cadáveres humanos e de outros seres
mortos.
Independentes do tipo de trabalho, todos foram executados com amor e
dedicação extrema, pois entendiam que eram necessários ao bem-estar dos
sobreviventes e para o restabelecimento da normalidade da vida planetária. Esses
seres que formavam a frota de apoio a Arret deram o grande exemplo que acelerou
a mudança da mentalidade dos sobreviventes e transformou o caos e o desespero
dos primeiros momentos em harmonia, felicidade, irmandade, igualdade e
fraternidade. Além de tudo que foi acima registrado, vamos sintetizar algumas
operações realizadas, começando pela preservação da flora e da fauna,
desencadeada antes da ocorrência da grande transição. As demais foram
realizadas nas horas, dias e meses seguintes, umas seqüencialmente e outras em
paralelo.
78
O recolhimento de alimentos e outros materiais
Na madrugada do oitavo dia foi iniciada outra grande operação a nível
planetário que envolveu um grande número de naves cargueiras e outras para
apoio aos trabalhos no solo durante os sete dias seguintes. Ela não contou com a
participação de voluntários arretianos e foi dividida em duas fases. Na primeira,
deram prioridade para o recolhimento de alimentos, utilidades domésticas e
materiais de higiene e limpeza. Na segunda recolheram diversos tipos de materiais
de construção, mudas, sementes, ferramentas, compostos, fertilizantes agrícolas,
veículos elétricos e triciclos, dentre outros itens semelhantes. As duas fases
envolveram a realização de trabalhos no solo e foram planejadas com base nos
levantamentos realizados pelas naves alocadas nos núcleos de sobrevivência. O
planeta foi dividido em inúmeros setores dos mais variados tamanhos, definidos em
função da concentração, volume e características dos produtos e materiais
disponíveis em cada região.
Cada setor ficou sob a responsabilidade de uma equipe de que contava
com várias dezenas de espaciais, uma nave cargueira de médio ou grande porte
para armazenar e transportar os materiais, uma nave de apoio aos trabalhos no
solo, diversos equipamentos utilizados durante a operação de resgate nos
escombros e outros específicos para facilitar os trabalhos, como carrinhos e
plataformas flutuantes para coleta dos materiais. As equipes foram auxiliadas por
um “pool” de naves cargueiras responsáveis pela retirada de entulhos e
desobstrução dos locais. Elas foram as primeiras a entrar em ação e a terminar
seus trabalhos nas fábricas, supermercados, atacadistas e depósitos instalados em
grandes galpões e outras edificações. Todos os entulhos foram removidos por
desmaterialização e destinados conforme os critérios utilizados durante a operação
de resgate nos escombros.
Assim que uma nave do “pool” terminava a desobstrução de um
determinado local, a nave de apoio do respectivo setor pousava nas proximidades e
desembarcava a equipe encarregada de recolher os materiais. Em paralelo, a nave
cargueira estacionava sobre o local e liberava uma grande quantidade de “carrinhos
flutuantes” com uma a três cestas ou plataformas sobrepostas, com uns oitenta
centímetros de largura e um metro e meio de comprimento. Os carrinhos ficavam
estacionados em pontos estratégicos, não tinham operadores e eram programados
para transitar entre o local da coleta e a nave cargueira, além de atender a uma
série de comandos dos espaciais, tanto remotos, como em seu teclado de controle.
Conforme cada espacial requisitava um ou mais carrinhos com certa quantidade de
plataformas, eles se dirigiam automaticamente até o local onde o requisitante se
encontrava. Cada carrinho era carregado com produtos pertencentes a um mesmo
grupo básico, como sabonetes, compotas de frutas, detergentes ou cremes dentais.
Quando o espacial identificava o grupo básico no teclado de controle e
liberava o carrinho com carga total ou parcial, ele se dirigia automaticamente à nave
cargueira e estacionava no setor correspondente ao seu grupo de produtos. Lá,
outros espaciais descarregavam e liberavam os carrinhos para retorno ao local de
coleta. Em seguida classificavam os produtos por tipo específico e os
acondicionavam em embalagens com quantidades padronizadas. Por último,
registravam esses dados no computador da nave através de comando de voz e
acondicionavam as embalagens em containeres específicos. Quando a carga da
79
nave atingia seu limite, os containeres eram descarregados em grandes depósitos
que os espaciais instalaram nos dias anteriores em ilhas e outros locais inabitados
do planeta.
Conforme cada equipe concluía o recolhimento e o transporte dos
alimentos, utilidades domésticas e materiais de higiene e limpeza que havia em
cada setor, iniciava o recolhimento dos materiais de construção, como fios, ferros,
tintas, tubulações e conexões, dentre outros, bem como, de mudas de árvores
frutíferas e ornamentais, sementes de todos os tipos, ferramentas manuais,
fertilizantes agrícolas, triciclos e veículos elétricos. Essa segunda fase obedeceu à
mesma estratégia e procedimentos utilizados na primeira, com algumas diferenças.
O recolhimento de materiais e itens de maior porte foi realizado através de
plataformas flutuantes e outros equipamentos especiais, como os raios
transportadores que transferiam os materiais mais pesados ou volumosos
diretamente para o interior das naves cargueiras.
As duas fases apresentaram expressivos resultados quantitativos e
quantitativos, superando as expectativas iniciais. A maioria dos alimentos básicos
estava em excelentes condições e suas quantidades foram suficientes para atender
os sobreviventes durante mais de três meses. No caso dos demais alimentos, como
doces, molhos e biscoitos, suas quantidades foram suficientes para supriu as
necessidades durante um tempo maior. Quanto às utilidades domésticas
representadas por panelas, pratos garfos e outros itens semelhantes, resgataram
um conjunto significativo e suficiente para atender quase todos os sobreviventes.
Os materiais de higiene e limpeza, incluindo toalhas e tecidos para cama, mesa e
banho, permitiram atender todas as necessidades iniciais. Com relação aos
diversos tipos de materiais de construção, muitos itens atenderam todas as
necessidades de instalação dos novos núcleos de trabalho.
O recolhimento dos insumos agrícolas também surpreendeu, pois
obtiveram uma grande quantidade de sementes de cereais, hortaliças, flores e
espécies florestais com excelente grau de conservação, além de uma alta
tonelagem de compostos e fertilizantes agrícolas. Como havia grandes viveiros de
mudas abrigadas em estufas nas periferias de muitas cidades, quase todas
estavam em boas condições para plantio. Aquelas que sofreram com o frio intenso
foram recuperadas pelos espaciais e totalmente aproveitadas. Quanto aos triciclos,
foram recolhidos cerca de 2 bilhões deles em boas condições e outro tanto
parcialmente danificado. Também recolheram mais de 100 milhões de veículos
elétricos movidos a energia solar que estavam operacionais ou apresentavam boas
condições para recuperação, além de uma quantidade três vezes maior com
diversos problemas causados pelos elementos da natureza.
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Com o decorrer dos dias era muito difícil encontrar alguém que não se
sensibilizasse com o nível de dedicação dos amigos das estrelas aos
sobreviventes, especialmente com relação ao carinho que dispensavam àqueles
que se recuperavam de ferimentos de todos os tipos. Por essas e por outras
razões, foram raros os problemas para aceitação das propostas para formação das
juntas de governo, ou para acomodação daqueles que não foram aproveitados e
que, juntamente com seus familiares, iriam ser transferidos para os novos núcleos
de trabalho comunitário agrícola que escolheram, os NTCA. Logo após a refeição
da manhã do décimo quinto dia, todos foram transferidos para os locais escolhidos
e foram acomodados em iglus do mesmo padrão oferecido a todos os
sobreviventes. Na parte da tarde os comandantes de cada nave fizeram reuniões
com os membros das juntas de governo e reforçaram a linha de ação que todos
deveriam seguir. Também detalharam o cronograma de visitas às bases por eles
montadas nos dias anteriores e aos novos núcleos de trabalho. Durante a manhã
do décimo sexto dia foi realizada a transferência das juntas de governo para as
naves destinadas a cada uma delas.
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Na manhã do décimo segundo dia foi iniciada a grande operação de
transferência dos sobreviventes para os NTCA. Essa operação foi considerada
como a mais importante de todas, pois ela deu início ao novo modo de vida que iria
se desenvolver no planeta. Esse era o objetivo principal dos acontecimentos que
desencadearam a grande transição. A operação de transferência dos sobreviventes
envolveu milhões de naves de pequeno e médio porte, além de um número
significativo de naves cargueiras e outras que, nos dias anteriores, realizaram
trabalhos de demarcação e preparação das áreas para instalação dos iglus de seus
moradores. Os trabalhos foram iniciados com o desligamento das tubulações de
água que serviam os iglus e dos ganchos que os prendiam ao solo, pois foram
transportados como se encontravam. À medida que eles foram soltos e identificado,
foram agrupados por local de destino e transportados pelas naves cargueiras. Em
seguida os buracos dos sanitários e banheiros foram fechados e os sobreviventes
embarcados e transportados para o local escolhido.
Conforme os grupos chegavam a cada NTCA, iniciavam os mesmos
procedimentos adotados para montagem dos núcleos de sobrevivência e no meio
da tarde, todos os sobreviventes estavam abrigados nos locais que escolheram,
nos mesmos iglus que utilizaram nos dias anteriores. Com isso, toda a população
que restou em Arret estava distribuída pelo planeta em quase 3,5 milhões de NTCA,
com uma média de mil pessoas de todas as idades em cada um deles. Cerca de 24
milhões de pessoas permaneceram em quase 2 milhões de pequenos núcleos
rurais, pois não desejavam abandonar suas terras. Em cada NTCA havia uma nave
de apoio e uma nave cargueira estacionadas, fazendo parte integrante da nova
comunidade. A noite daquele dia foi destinada a orações ecumênicas, fogueiras e
confraternizações em todos os NTCA.
O dia seguinte foi destinado para que todos descansassem e
conhecessem os arredores da região e seus locais de lazer, representados por
montanhas, rios, cachoeiras e lagoas, pois após o jantar haveria uma nova reunião
com os espaciais. Naquele dia todos se transformaram em crianças felizes e se
divertiram muitos nos locais de lazer assinalados nas plantas que todos receberam
durante o processo de escolha. Após o almoço, os mais jovens voltaram a esses
locais e os mais velhos se reuniram em grupos para conversar a respeito das
próximas ações, a partir daquilo que cada um entendeu a respeito das informações
transmitidas pelos espaciais. Apesar das diferenças de enfoque de cada grupo a
respeito dos trabalhos necessários para construir as edificações e alcançar a auto-
suficiência alimentar, pois a maioria não tinha a menor experiência nesses
assuntos, todos concordavam que só conseguiriam atingir os objetivos com a união
e a boa vontade de todos os membros do NTCA, incluindo os jovens e as crianças,
cujo conjunto representava a metade da população sobrevivente.
90
começariam os trabalhos de abertura de ruas e nivelamento das áreas destinadas à
construção das edificações de uso comum e para implantação da horta comunitária.
Cada família recebeu uma pasta contendo o projeto completo do NTCA e
questionários para definir as áreas de trabalho de cada um, dentro de uma ordem
de habilidades e de interesses individuais que permitisse a cada um se envolver
com a atividade que mais gostava de executar. Os questionários deveriam ser
preenchidos e entregues no final da manhã seguinte para tabulação e separação
inicial dos grupos de trabalho. Os espaciais também esclareceram que os grupos
poderiam ser alterados e recompostos no decorrer dos dias para melhor atender e
acomodar os interesses individuais. No final, informaram que na parte da tarde
seriam realizadas reuniões com cada grupo para transmitir novas informações e
acertar ao detalhes necessários para dar início aos trabalhos.
Na manhã do dia seguinte, o décimo quarto, os espaciais iniciaram os
trabalhos programados enquanto as famílias conversavam e preenchiam os
questionários que incluíam os parentes em tratamento nas grandes naves. Os
questionários foram entregues antes do horário combinado e foram rapidamente
tabulados e ajustados juntamente com aqueles preenchidos pelas famílias que
ainda se encontravam nas naves que abrigavam as autoridades e chegariam na
manhã seguinte. No início da tarde os espaciais emitiram as listas com os
componentes dos grupos de trabalho e com eles fizeram reuniões que continuaram
durante todo o dia seguinte, quando foram acertados os detalhes e a estratégia
básica de desenvolvimento das atividades.
Após o jantar do décimo quinto dia, os espaciais fizeram uma reunião
com todos os moradores para apresentar outros detalhes do projeto de construção
das edificações coletivas e da sua seqüência de execução. As diversas atividades
seriam iniciadas no dia seguinte em frentes paralelas voltadas para as novas
captações, reservatórios e redes de água potável, depósitos de alimentos, de
artigos de higiene e limpeza, cozinhas, restaurantes, almoxarifados de materiais de
trabalho e oficinas. Conforme as frentes de trabalho fossem adiantando ou
concluindo suas atividades, seriam iniciadas as atividades agrícolas voltadas para
implantação da horta comunitária e preparação de mudas de árvores frutíferas.
Como as demais, essa reunião foi realizada simultaneamente em todos os NTCA
espalhados pelo planeta e incluiu os moradores dos pequenos núcleos e
agrupamentos rurais. Elas geraram uma onda de euforia e otimismo que criou um
ambiente de extrema cooperação, camaradagem e irmandade entre os
sobreviventes.
Eles eram pessoas originárias das mais variadas profissões, religiões e
níveis sócio-econômicos no período anterior à grande transição. Entre elas havia
detentores de grandes fortunas convivendo em igualdade de condições com outras
que viviam do fruto de seus parcos salários. Havia pessoas famosas e muitas
totalmente anônimas, assim como, grandes empresários e trabalhadores braçais. A
partir do décimo sexto dia, com pequenas exceções, todos se esforçaram e
procuraram se transformar em operários de diversas especializações que moravam
em iglus com o mesmo tipo de conforto e um modo de vida muito simples, em
estreito contato com a natureza e com os seus novos amigos arretianos e das
estrelas.
91
As atividades das juntas de governo
Quando as juntas de governo federativos e estaduais foram alocadas
nas respectivas naves, as duas semanas seguintes foram utilizadas para realizar
sobrevôos, visitas e reuniões entre os membros de cada junta com o comandante
da respectiva nave e os especialistas em assuntos governamentais. Nessas
reuniões foram analisadas diversas informações referentes aos sobreviventes
abrigados nos NTCA que seriam instalados em cada estado ou país. Elas faziam
parte dos bancos de dados da nave do comando da frota de apoio a Arret desde os
anos anteriores à grande transição e estavam atualizadas com os últimos
questionários preenchidos pelos sobreviventes. Essas informações apresentavam
vários níveis de detalhamento e havia tabulações cruzando diversos dados, como
sexo, faixa etária, escolaridade, experiência profissional anterior e aptidões
manuais, dentre outros, permitindo uma pormenorizada avaliação do perfil
individual, familiar e da força de trabalho disponível em cada NTCA, no estado, no
país e no planeta como um todo. Além delas, havia informações gerais e
detalhadas a respeito de todos os materiais e produtos coletados e armazenados
durante as operações já realizadas.
Outra parte do tempo foi utilizada para sobrevôos nos locais onde
estavam sendo instalados os novos núcleos e a outros lugares onde os amigos da
estrelas realizavam diversos trabalhos sem a participação de voluntários arretianos.
Todos os membros de todas as juntas visitaram serrarias, marcenarias, bases de
operações que foram construídas em ilhas isoladas e as instalações industriais
localizadas nos dois continentes polares. Essas visitas foram de grande utilidade
para os governantes e suas equipes, pois todos ficaram impressionados com a
amplitude dos trabalhos e com a extrema dedicação dos espaciais para melhorar as
condições e a qualidade de vida de seus irmãos arretianos, como constantemente
se referiam aos nativos do planeta.
Apesar do espírito fraterno que animava a grande maioria dos dirigentes
e membros de cada junta, Alguns coordenadores quase criaram problemas para os
espaciais durante as visitas às usinas de reciclagem instaladas nos continentes
polares. Eles ficaram inconformados ao constatar que as reservas particulares e
estatais de metais preciosos guardadas em bancos ou caixas-fortes de seus países
foram somadas às de outros, transformadas blocos e armazenadas como os
demais tipos de metais comuns. Felizmente, essas pessoas não obtiveram o apoio
dos membros de suas juntas e nem dos demais coordenadores por eles
contatados. Também não possuíam nenhum instrumento de pressão contra os
espaciais, cuja tecnologia tanto os fascinava como os amedrontava.
Nos três meses seguintes as equipes das juntas de governo federativo
visitaram todos os NTCA e as estaduais o fizeram em várias ocasiões. Alguns com
maior concentração de moradores problemáticos foram constantemente visitados e
os problemas reais ou potenciais foram contornados de várias maneiras, incluindo a
transferências e concentração desses sobreviventes em núcleos específicos,
compostos por pessoas que pensavam e agiam da mesma forma. Durante esse
período foram realizadas inúmeras reuniões entre as juntas federais e estaduais
para avaliação dos trabalhos em andamento e definição de estratégias para
minimizar os problemas que afetavam uma pequena parcela dos sobreviventes.
92
No início do quarto mês, quando a rotina de trabalho nos NTCA e nas
juntas de governo se estabilizou, os coordenadores das juntas federativas de um
mesmo continente começaram a se reunir com o objetivo de definir um esquema
para troca de alimentos excedentes em alguns países e escassos em outros.
Depois de algumas reuniões e debates sobre as maneiras de controlar esse novo
tipo de “comércio exterior”, não chegaram a um consenso válido em todos os
continentes. Apesar de participarem dessas reuniões, os espaciais se comportavam
com total imparcialidade e deixavam os coordenadores tomarem as decisões que
julgavam como adequadas ou justas.
Nos trinta dias seguintes ao início dessas reuniões, os países de dois
continentes vizinhos, incluindo aquele onde se localizava o país de Olintho,
decidiram doar suas sobras, colocando-as à disposição dos espaciais para que as
destinassem conforme julgassem apropriado. Os países de dois outros continentes
decidiram realizar trocas entre eles e os demais, controlando os saldo da “balança
comercial” para acertos futuros. No continente onde existia o maior percentual de
descontentes, além de gastarem mais que o dobro do tempo para chegarem a um
acordo, os coordenadores decidiram trocar os excedentes somente com países que
também os tinham em valores equivalentes, conforme uma tabela que definiram
para cada produto.
Durante os seis primeiros meses Olintho consolidou sua liderança a nível
planetário, não só por aquilo que realizou no período anterior à grande transição,
como pelas suas atitudes com relação ao esquema adotado em seu país para
implantação dos NTCA, cujo modelo serviu de base para aquilo que será descrito a
seguir. Seu país foi o primeiro a concluir os trabalhos básicos que serviram de
exemplo para quase todos os demais países. Isso aconteceu em função da
experiência do seu povo na implantação das agrovilas no período imediatamente
anterior à grande transição, as quais foram as precursoras do ideal comunitário e do
espírito cooperativo que começou a vigorar em todo o planeta. Suas idéias e seu
modo justo, simples e prático de encarar e resolver qualquer desafio ampliou sua
influência em todos os continentes, especialmente em 4 deles, onde se tornou uma
espécie de conselheiro dos coordenadores federativos.
94
Preparação das áreas destinadas a pomares e plantio de muitas mudas de
árvores frutíferas recolhidas em diversos viveiros e locais do planeta.
Preparação e plantio de todas as áreas destinadas ao cultivo de cereais.
Construção do depósito de alimentos e de artigos de higiene e limpeza, das
cozinhas, restaurantes coletivos e de 2 dos 4 almoxarifados de materiais de
trabalho, incluindo suas instalações elétricas, hidráulicas, pintura, equipamentos
e mobiliário.
Os sistemas de iluminação eram alimentados por energia “solar” captada
por painéis fotovoltaicos e armazenada em baterias de alta capacidade e
durabilidade. Os fogões funcionavam com energia elétrica fornecida por geradores
especiais e silenciosos, alimentados por qualquer tipo de matéria de origem vegetal
ou mineral, como madeiras ou pedras. Nas cozinhas de cada restaurante foi
instalado um conservador de alimentos e, no depósito de alimentos, uma grande
câmara de conservação. O princípio de conservação desses equipamentos não era
baseado no frio, e sim em um tipo de raio ou campo de força que mantinha os
alimentos durante semanas ou meses nas mesmas condições em que foi
armazenado, sem alterar seu aspecto inicial. Nos restaurantes instalaram sistemas
de aquecimento de água utilizando o calor do “sol” arretiano e aquele gerado pelos
fogões. Esse sistema produzia água em ponto de fervura e alimentava torneiras e
expositores de alimentos quentes de auto-serviço.
Quando os depósitos de alimentos foram concluídos, eles foram
abastecidos com legumes, frutas e cereais originários de Arret e dos planetas de
origem dos espaciais. Esses alimentos permitiram a inauguração dos restaurantes e
que os moradores voltassem a ter uma alimentação variada e semelhante àquela a
que estavam acostumados antes da grande transição. Até aquele momento os
sobreviventes ingeriam uma dieta balanceada e pouco variada que, apesar de
altamente nutritiva e saudável, vinha causando um nível crescente de desinteresse
nas crianças e em muitos jovens e adultos. No país de Olintho os restaurantes
entraram em operação no oitavo dia do segundo mês, exatamente um mês depois
que os sobreviventes puderam sair livremente dos iglus instalados nos núcleos de
sobrevivência. As mulheres definiram todas as tarefas necessárias e concluíram
que um quarto delas seria suficiente para executar as tarefas que envolviam o
preparo de três refeições diárias. Com isso organizaram um esquema de rodízio
onde cada grupo trabalhava um dia nos restaurantes e três em outras atividades.
Assim como aconteceu no país de Olintho, à medida que os depósitos
de alimentos e os restaurantes comunitários dos NTCA dos demais países foram
concluídos, suas inaugurações ocorreram em um jantar seguido por diversas
festividades, conforme os costumes de cada povo. Geralmente, após o jantar do dia
seguinte, os espaciais sempre realizavam uma reunião com os moradores, a fim de
definir os critérios para ocupação das moradias que seriam construídas em seguida.
Na maioria dos núcleos o assunto foi discutido e definido em uma única reunião e
nos demais em duas a três delas. No geral, chegaram a duas conclusões básicas e
na quase totalidade dos NTCA seus moradores resolveram realizar um sorteio
prévio, concluir todas as moradias, mobiliá-las, e ocupá-las conjuntamente. Uma
minoria resolveu destiná-las através de sorteios, assim cada moradia fosse
construída e mobiliada. Os NTCA que optaram pela segunda modalidade foram
95
aqueles com maiores percentuais de descontentes e também os que mais
demoraram para construir todas as residências.
Para iniciar essas edificações, as frentes de trabalho anteriores foram
divididas em grupos especializados em um tipo específico de atividade, permitindo
que cada um trabalhasse naquela onde melhor se adaptou durante a construção
das edificações coletivas. Com isso a produtividade aumentou substancialmente em
todos os NTCA, exceto em uma minoria que não seguiu a estratégia adotada no
país de Olintho. A maioria desses núcleos foram aqueles que definiram o critério de
entrega das moradias por sorteio e também aqueles onde havia grande
concentração de pessoas problemáticas, em sua maioria, oriundas de seitas ou
correntes religiosas fanáticas. De maneira geral, reclamavam da inexistência de
templos nos NTCA, da inexistência de horários para manifestações religiosas, do
desconforto dos iglus, da comida padronizada e dos trabalhos que precisavam
executar, além de várias outras querelas.
O início do segundo mês da nova era arretiana também foi marcante em
termos de mudança de hábitos religiosos, pois quase todos os sobreviventes
começaram a realizar orações e agradecimentos coletivos nos novos restaurantes,
em lugares abertos, sob a sombra das árvores, sob a luz das estrelas, ou sempre
que se reuniam para comemorar o término de algum trabalho e os bons resultados
alcançados pelo NTCA. Seus moradores não mais defendiam conceitos
separatistas ou falavam em nome de suas antigas denominações religiosas. Eles
começaram a demonstrar uma religiosidade sem dogmas e centrada na irmandade
universal e na paternidade divina. Foram nessas reuniões que muitos moradores
começaram a solicitar palestras dos espaciais sobre os conceitos religiosos
vigentes em seus planetas de origem, pois já havia intimidade e um grande
companheirismo entre eles. Apesar dos NTCA ainda estarem isolados e sem vias
de comunicações entre eles, os espaciais falavam uma linguagem comum, pois a
base da Lei Divina era a mesma em todos os seus planetas de origem.
Essas palestras geravam uma energia positiva que contagiava todos os
sobreviventes e, na maioria delas ocorriam alguns fenômenos durante ou após as
preleções dos espaciais, como uma suave luminosidade que os envolvia, um
perfume que era sentido por todos, ou visões em alguns e sonhos em outros. Os
amigos das estrelas evitavam tocar em temas polêmicos, mas às vezes suas
resposta a perguntas contrariavam crenças de uma parcela menor ou maior dos
moradores, pois os espaciais não desconversavam e não mentiam em hipótese
alguma. Mesmo assim, suas palestras e respostas a perguntas não geravam
discussões ou problemas, pois falavam com profundo conhecimento a respeito de
qualquer tema e com a autoridade e força moral advinda do exemplo de irmandade
e fraternidade que deram durante a grande transição e davam em todos os
momentos. Essas palestras sempre provocavam profundas reflexões em muitos
moradores e, gradativamente, a maioria deles começou a entender, aceitar e
praticar com naturalidade os novos conceitos religiosos transmitidos pelos amigos
das estrelas.
Durante o segundo mês os moradores de todos os NTCA deram
prosseguimento a uma série de atividades iniciadas no mês anterior, começaram a
construir as moradias individuais e concluíram alguns trabalhos, a exemplo dos
abaixo descritos.
96
Praças em torno dos restaurantes, incluindo a instalação de equipamentos de
lazer para crianças.
Os demais almoxarifados de materiais de trabalho e oficinas.
Abertura de ruas de acesso aos terrenos dos setores residenciais e das estradas
e caminhos nas áreas agrícolas.
Abertura dos buracos para fixação dos pilares de sustentação das residências.
Canalização da água potável nos terrenos de todos os setores residenciais.
Canalização dos esgotos e instalação das fossas sépticas e sumidouros das
moradias.
Cerca de 20 % das habitações individuais, com instalações elétricas, hidráulicas
e pintura, incluindo o mobiliário padrão.
Replante das hortaliças semeadas com essa finalidade no mês anterior.
No decorrer do segundo mês a vida dos moradores entrou em ritmo de
normalidade, bem ao contrário do que aconteceu no mês anterior, onde tudo era
uma grande novidade. Após a inauguração das praças, os moradores passaram a
utilizá-las freqüentemente para conversas e confraternizações após o jantar, as
quais sempre contavam com a presença dos espaciais residentes nas naves
alocadas em cada NTCA. Às vezes os amigos das estrelas eram solicitados a falar
sobre seus planetas de origem e outras vezes se integravam como participantes
comuns das conversas, confraternizações e brincadeiras que os sobreviventes
realizavam, estreitando os laços de companheirismo e de amizade entre eles.
Nesse período ocorreram muitas cenas hilariantes envolvendo os espaciais e as
mulheres que trabalhavam nas cozinhas. Elas adoravam preparar guloseimas e
presenteá-las aos amigos das estrelas como forma de agradecimento por tudo que
eles tinham feito e continuavam fazendo. Algumas não eram apropriadas à dieta
alimentar a que estavam acostumados e, como eram atenciosos e educados, não
se negavam a experimentá-las. Com isso, muitos deles foram acometidos por
problemas digestivos e intestinais, mesmo ingerindo guloseimas e quitutes
preparados com ingredientes de origem vegetal, pois os arretianos não comiam
carnes de animais desde os duzentos anos anteriores à grande transição.
No final do segundo mês havia poucos doentes retidos para tratamento
nas naves e a quase todas as famílias estavam novamente recompostas com todos
os membros que sobreviveram à grande transição. Nesse período eram comuns as
brincadeiras e conversas entre os casais a respeito da continência sexual a que
estavam submetidos, motivada pelas grandes dificuldades que uma gravidez
representava naqueles momentos e pela inexistência de contraceptivos de qualquer
tipo. Mesmo no caso das esposas que não corriam risco de gravidez, havia grandes
dificuldades para o relacionamento sexual nos iglus ou em outros lugares, pois o
movimento de pessoas no NTCA era intenso. Apesar de muitos casais aguardarem
com certa ansiedade a mudança para as novas casas, os costumes sexuais
passaram por uma mudança radical naquele curto período. Quase todos deixaram
de priorizar o relacionamento físico, estreitaram os laços de amizade e começaram
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a dar mais atenção a um tipo de relacionamento amoroso baseado no carinho e na
afinidade espiritual.
Durante o terceiro mês os trabalhos seguiram um padrão semelhante ao
do mês anterior, com grande concentração de esforços na construção das
residências, no desenvolvimento da horta e do pomar. No país de Olintho, todos os
NTCA concluíram a construção das residências no final daquele mês e deixaram
seus iglus para residir em uma habitação funcional e confortável. Como vinha
acontecendo desde o mês anterior e de maneira crescente, quase todos os NTCA
começaram a produzir uma razoável quantidade e variedade verduras e legumes
em suas hortas, fazendo com que os sobreviventes voltassem a consumir alimentos
que não experimentavam desde o início da grande transição.
A estratégia utilizada para construção das residências no país de Olintho
foi adotada por diversas outras juntas de governo e com isso, concluíram suas
habitações no decorrer do quarto mês. Foram raros os núcleos que optaram pelo
sorteio e ocupação das residências conforme eram concluídas, que terminaram
todas elas durante o quarto mês. A maioria somente conseguiu atingir esse objetivo
no decorrer do sexto mês. Todos os NTCA que concluíram suas residências
começaram a utilizar uma parte da mão-de-obra liberada para ampliar e melhorar
suas áreas de lazer. Os projetos para essas áreas eram particularizados em função
das inúmeras variações de tipos e disposições de atrativos naturais existentes em
cada núcleo. Naqueles em que havia maior variedade de atrativos, os projetos
individuais eram mais simples e de execução mais rápida. Quando acontecia o
contrário, os projetos eram mais sofisticados e de execução mais demorada,
variando entre um e seis meses.
No decorrer do quinto mês, aumentou substancialmente a oferta de
verduras e legumes produzidos pelas hortas e muitos NTCA também já eram auto-
suficientes em termos de cereais. O sexto mês foi marcado por intensa atividade
em diversas frentes e encerrou o primeiro ciclo do novo modo de vida arretiano,
calcado no trabalho cooperativo e comunitário. Além da melhoria dos locais de
lazer, foram iniciados os trabalhos de ajardinamento das residências e dos
canteiros das ruas, onde foram plantadas muitas árvores ornamentais. As calçadas
começaram a ser recobertas com placas de pedras planas de diversas cores e
tamanhos, separadas por filetes de grama que formavam desenhos harmoniosos.
Esses trabalhos de decoração, juntamente com o colorido das
edificações, começaram a transformar os NTCA em locais agradáveis, funcionais e
muito bonitos, contrastando radicalmente com o cenário das cidades anteriores à
grande transição. No final do sexto mês, a horta coletiva estava em franca produção
e com ressuprimento contínuo. Em termos de verduras e legumes, todos os NTCA
eram auto-suficientes e dispunham de quase todas as variedades existentes no
planeta. Com relação aos cereais não ocorreu a mesma coisa, mas a safra global
foi suficiente para atender todos as necessidades do planeta. Obedecendo aos
critérios definidos pelas juntas de governo, os países realizaram trocas de
excedentes ou receberam produtos doados por outros. Muitas áreas produtoras de
frutas já estavam recuperadas dos danos causados pela grande transição e
estavam começando a produzi-las novamente, aumentando gradativamente a
participação desses produtos na dieta da população. Além dos pomares
recuperados, a maioria das mudas de árvores frutíferas produzidas pelos NTCA
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estavam plantadas em lugares definitivos, juntamente com aquelas recebidas
inicialmente.
A mudança de clima ocorrida no planeta criou uma única estação, uma
mistura de outono e primavera. O novo regime de chuvas noturnas, leves e
contínuas, facilitou o desenvolvimento da agricultura e eliminou as necessidades de
irrigações. Também houve uma sensível diminuição de pragas e doenças nas
hortas e nos pomares, tornando as perspectivas para os próximos meses e anos
muito animadoras, não só pela melhoria das condições de cultivo, como também
pela maior disponibilidade de mão-de-obra liberada a partir do término das
residências. Para concluir essa primeira fase do novo modo de vida arretiano, é
importante ressaltar dois aspectos que muito contribuíram para firmar as bases da
irmandade planetária, os quais foram a pedra de toque e o embrião de todas as
grandes transformações que ocorreram nos anos seguintes. Um deles envolveu a
construção das habitações familiares e o outro, uma mudança de mentalidade que
decorreu de uma nova visão de vida, tanto individual, como coletiva. Os dois
tópicos, apesar de intimamente ligados, serão relatados a seguir, em itens distintos.
101
suas quantidades e dimensões foram padronizadas em função da quantidade de
dormitórios e da área construída.
Armário modular em cada quarto, com duas divisões básicas.
Camas solteiro com duas gavetas e de casal com quatro, ambas com baú na
cabeceira. Em cada quarto havia uma cama de casal no centro, ou duas de
solteiro nas laterais.
Colchões de espuma de alta densidade que foram resgatados durante as
operações específicas ou fabricados pelos espaciais nas indústrias instaladas
nos continentes polares.
Sofás para duas e para quatro pessoas, com estrutura de madeira e almofadas
de espuma.
Mesa de sala e cadeiras para 4 a 10 ocupantes.
Mesa de cozinha com 6 cadeiras, independente do tamanho da residência, além
de armário na pia e armário vertical de tamanho compatível com cada tipo de
residência.
Armários de banheiro, sendo um menor com espelho sobre o lavatório e outro
maior para artigos diversos.
Bancos de madeira com encostos instalados na varanda, com 4 a 12 lugares.
Apesar das residências serem padronizadas e cada setor ser formado
por habitações de um mesmo tipo ou tamanho, seu conjunto e suas cores externas
bastante variadas deixavam cada setor e o próprio NTCA com um aspecto
harmonioso, alegre, bonito e organizado, especialmente depois que concluíram o
ajardinamento das residências, as calçadas e o plantio de árvores nos canteiros das
ruas. Com isso, os NTCA se tornaram muito diferentes das antigas cidades
arretianas que apresentavam casas e prédios de todos os tipos e tamanhos, redes
elétricas e várias outras coisas que as tornavam parecidas com o atual padrão
terrestre.
A mudança de mentalidade
O conforto que os habitantes dos NTCA experimentaram nas novas
habitações, a fartura e a qualidade dos alimentos por eles produzidos, as diversões
coletivas nas ainda precárias estruturas de lazer e a satisfação por terem realizado
tantas coisas que nunca fizeram antes e em tão pouco tempo, dentre outros fatores
simples e importantes, redobrou a confiança no futuro e o apreço que a grande
maioria nutria pelos amigos das estrelas desde os dias da grande transição. Além
da constante e desinteressada dedicação, eles sempre cumpriam o que prometiam
e nenhum arretiano jamais se sentiu enganado por eles em nenhum momento.
Mesmo a decrescente minoria que ainda criticava o novo modo de vida e também
não confiava plenamente nos espaciais, não encontrava motivos lógicos ou
objetivos para justificar qualquer coisa contra eles junto à grande maioria.
Além disso, o relacionamento cordial e respeitoso que mantinham com
os sobreviventes, sem a mínima demonstração do poder e da supremacia
tecnológica e espiritual que todos os sobreviventes sabiam que eles detinham,
creditava aos espaciais um respeito e uma autoridade moral que os capacitava
102
como conselheiros nas mais diversas questões individuais, familiares ou coletivas.
Por essas razões eles foram requisitados, de maneira crescente, para fazer
preleções diversas, especialmente sobre os mais variados aspectos da Lei Divina.
De maneira didática, gradativa, objetiva e sem margens para contestações lógicas,
transmitiram os conceitos mais importantes e profundos sobre a realidade espiritual.
Essas preleções contribuíram decisivamente para acelerar e consolidar as drásticas
mudanças que ocorreram no comportamento social, afetivo e no pensamento
religioso da população, além de acelerar a materialização do ideal de irmandade e
fraternidade, pois a grande maioria começou a mudar radicalmente o seu modo de
pensar anterior e de encarar o seu novo modo de vida.
O que aconteceu naquele período foi o resultado de um longo processo
de maturação de idéias individuais e coletivas que finalizou com o advento da
grande transição. Os sobreviventes começaram a entender que o seu novo modo
de vida, apesar de simples, era muito melhor que aquele que vivenciaram
anteriormente como pessoas ricas ou pobres, famosas ou desconhecidas.
Começaram a entender o significado de uma coisa que buscaram sob as mais
diversas faces e somente a encontraram por breves momentos. Essas pessoas
começaram a sentir, vivenciar, praticar e entender a real natureza daquele
sentimento que denominavam como felicidade e entendiam que somente podiam
alcançá-la com riquezas e poderes materiais. Nessa nova fase de suas vidas, eles
não precisavam de carros, riquezas, títulos universitários e outras coisas que
diferenciavam as pessoas e pelas quais lutaram e se sacrificaram para atingir o
ponto onde supunham encontrar a felicidade e viam que, uma vez alcançado, o
ponto sempre se deslocava para um referencial mais alto que exigia novas lutas e
sacrifícios ainda maiores.
Nos NTCA, trabalhando como operários da construção civil, como
lavradores e outros ofícios, todos se sentiam iguais e felizes com as pequenas
coisas do dia-a-dia, como nunca experimentaram anteriormente. Ficavam felizes ao
contemplar a germinação das sementes na horta, em saborear os produtos
colhidos, ou durante o banho em uma cachoeira. Com isso, começaram a
questionar seus antigos valores e concluíram que a maioria das lutas que
empreenderam no passado foram em vão e na direção errada, pois raramente
experimentaram mais que algumas horas ou dias da tranqüilidade, segurança,
alegria e felicidade que vivenciaram desde os primeiros dias da grande transição,
especialmente, durante a construção e após a ocupação das residências. Nos
NTCA não circulava dinheiro, não havia assaltos, assassinatos, patrões,
empregados, doutores, operários, pobres ou ricos. Todos eram sobreviventes de
uma grande catástrofe que destruiu a antiga estrutura planetária e ceifou a vida de
dois terços de sua população.
Todos estavam começando uma nova fase de suas vidas e uma nova
era planetária em harmonia com seus semelhantes, com a natureza e felizes como
as crianças, com as quais conviviam estreitamente e não mais em algumas horas
da noite e dos fins-de-semana, como acontecia anteriormente. Muitas vezes as
crianças trabalhavam em igualdade de condições com os adultos e até em
superioridade, a exemplo do que acontecia durante o plantio e colheita de verduras
e legumes na horta comunitária. Nessas atividades elas produziam mais que os
adultos em função da flexibilidade de seus corpos mais adaptados para trabalhos
103
ao nível do solo. Esses fatos e vários outros dominaram as conversas naqueles
dias do sexto mês e levaram os moradores a falar cada vez menos a respeito da
tragédia representada pela grande transição e a centrarem suas conversas nos
benefícios que ela representou, pelos bons frutos que produziu em um tempo tão
curto.
108
Os familiares dos membros do novo organismo logo sentiram
dificuldades para incrementar seus relacionamentos em função das barreiras
representadas pelas diversos idiomas natais. Esse fato causou um isolamento das
famílias e um grande choque em todos os membros do novo organismo. Para
solucionar esse problema, resolveram definir como língua oficial da Ilha de Agartha,
a mesma que utilizavam no antigo mercado comum. No decorrer das discussões,
extrapolaram o objetivo a nível planetário e decidiram recomendar o ensino da
linguagem em todos os núcleos agrícolas e industriais do planeta, pois o caminho
para a unificação planetária estava aberto e esse era o principal objetivo da criação
daquele organismo. Essa foi a primeira proposta aprovada pelo novo organismo e
imediatamente posta em pratica pelos dirigentes de todos os países, pois em cada
NTCA havia uma ou mais pessoas que conheciam a nova língua.
Como havia muitas na ilha de Agartha, em pouco mais de seis meses
todos se comunicavam através dela, o que fomentou a integração entre os
moradores e significou um grande passo em direção à unificação planetária, pois
em pouco tempo desapareceu a sensação de que pertenciam a países distintos. Os
habitantes do país de Olintho comemoraram a entrada do terceiro ano utilizando a
nova língua como idioma oficial que, no decorrer daquele ano, foi adotado pelos
demais países daquele continente. Apesar do entusiasmo inicial, o engajamento e o
uso diário da nova língua ainda demorou alguns anos para ser falada e escrita por
todos os habitantes do planeta, mais por força do hábito, do que por outras razões.
Como outro grande fruto das atividades iniciais da nova ONU, foram
reestruturadas as juntas de governo federativas e extintas as estaduais de todos os
países. Juntamente com essa iniciativa, criaram uma pequena estrutura semelhante
às juntas federativas em todos os NTCA, para facilitar as comunicações e agilizar o
andamento dos trabalhos, denominada como Coordenação Administrativa.
Também estabeleceram um sistema de eleições para todos esses cargos, com
mandatos de quatro anos e reeleições sucessivas. A primeira eleição geral ocorreu
no final do segundo ano e quase todos os dirigentes federativos que se
candidataram foram confirmados em seus cargos, como foi o caso de Olintho. Com
isso, as juntas estaduais foram extintas e seus membros e suas respectivas famílias
foram residir e trabalhar nos NTCA que escolheram.
Além da força normativa que a nova ONU representava, a extinção das
juntas estaduais e a criação de coordenações administrativas em cada NTCA vinha
sendo discutida pela maioria dos coordenadores estaduais e demais membros
desde meados do ano anterior, em função de três fatores principais.
A normalização das atividades em todos os NTCA, o decrescente uso das naves
para locomoções e o bloqueio de um grande número de espaciais que estavam à
disposição das juntas estaduais.
A necessidade de uma coordenação local em cada NTCA para aliviar o trabalho
dos espaciais que atuavam em cada um deles e de muitos moradores que, além
de desempenharem atribuições afetas a todos os moradores, eram
constantemente acionados para resolver diversos tipos de problemas, ou para
tomar decisões ou administrar situações que afetavam a comunidade.
109
O crescente desejo dos membros das juntas estaduais de residir no solo e ter a
mesma qualidade de vida dos moradores dos NTCA, especialmente quando
tinham filhos pequenos ou adolescentes.
As juntas federativas foram reduzidas para um máximo de 33 membros e foram
mantidas as 450 naves principais como gabinete de trabalho e residência familiar.
Os especialistas em questões governamentais foram limitados aos tripulantes das
naves e todos os voluntários arretianos foram com suas famílias morar nos NTCA
que escolheram. Com isso, a quantidade de naves de pequeno porte para
locomoção caiu drasticamente e ficou restrita às novas necessidades dos membros
das juntas federativas. Essas mudanças abriram caminho para outras maiores e no
decorrer do segundo ano foi concluído e aprovado um planejamento global para
construção de Núcleos de Trabalho Comunitário Industrial, os NTCI.
Esse projeto foi incentivado pelos espaciais que se comprometeram a doar todos os
equipamentos necessários e a ministrar o treinamento para capacitar os arretianos
a assumir a produção de uma série de produtos industrializados e de outros bens
que integrariam as linhas de produção nos anos seguintes. Essa disposição dos
amigos das estrelas foi motivada pela nova maneira de pensar do povo arretiano
que, em sua maioria, assimilou completamente as lições impostas pelos
acontecimentos da grande transição e já pensavam e agiam de uma maneira
impessoal e completamente diferente daquela que praticavam anteriormente.
Os critérios para construir e instalar os novos núcleos foram simples e
objetivos. À medida que as safras agrícolas de cada país apresentassem
excedentes, eles seriam eletivos para implantação de NTCI e, dentro deles, as
regiões mais produtivas, de cujos NTCA seriam recrutadas e selecionadas as
famílias para construir, residir e produzir nos novos núcleos, pois a saída dessas
famílias não representaria trabalho adicional para aqueles que permaneceriam nos
locais de origem. Cada NTCI foi projetado para produzir uma linha específica de
produtos e previa expansões futuras das áreas residenciais, industriais, de lazer e
de serviços públicos. Os candidatos e suas famílias foram selecionados em função
da formação anterior, habilidades e desejos individuais e familiares. Todas as
famílias selecionadas foram abrigadas em naves apropriadas durante a fase de
construção dos NTCI para abrigar até 2.000 pessoas, entre adultos e crianças, em
um período compreendido entre quatro e seis meses. Exceto a área industrial, as
demais seguiram os mesmos padrões existentes nos NTCA, inclusive quanto aos
restaurantes comunitários.
Durante os meses que duraram as construções, todos os novos
industriários receberam treinamento teórico e prático no interior das naves e em
instalações congêneres que os espaciais mantinham em diversos locais do planeta.
Os primeiros NTCI foram concluídos no início do terceiro ano e tiveram sua
produção direcionada para a industrialização de alimentos, artigos de vestuário,
cama, mesa e banho, peças de madeiras e outros equipamentos para construção e
mobiliário, além de uma infinidade de ferramentas de trabalho e utilidades
domésticas. Assim que cada NTCI foi concluído e as residências ocupadas, os
espaciais iniciaram a instalação e os testes operacionais dos equipamentos
industriais, sempre auxiliados pelos novos operários. As fábricas entraram em
operação com total acompanhamento dos espaciais e, após algumas semanas,
quando os arretianos se sentiram seguros e dominaram a técnica de operação e de
110
manutenção dos equipamentos, a maioria dos amigos das estrelas se retiraram
para instalar novos NTCI, deixando um grupo de apoio em uma nave estacionada,
como ocorria em todos os NTCA. Em alguns locais, eles permaneceram por um
tempo maior e somente partiram quando a produção atingiu o nível máximo,
O processo de industrialização se estendeu até o final do décimo ano,
quando os excedentes de mão-de-obra agrícola permitiram a implantação de toda a
infra-estrutura necessária à auto-suficiência do planeta. Permaneceram ativas e
ainda operadas pelos espaciais, apenas as industrias básicas instaladas nos
continente polares e em algumas ilhas isoladas. Durante o segundo ano também
foram iniciados alguns movimentos para unificação de países, começando pelo
continente onde se localizava o país de Olintho. No final do terceiro ano, a metade
dos países daquele continente foram unificados e Olintho foi indicado como seu
governante. Em outros três continentes ocorreram unificações mais acanhadas,
mas o movimento continuou ativo e de maneira crescente. No início do quinto ano
todos os países do continente de Olintho foram unificados e ele foi eleito o primeiro
governante continental.
Uma das suas primeiras medidas foi construir um núcleo para abrigar a estrutura
habitacional e administrativa do novo governo. Ele foi rapidamente construído e
logo os membros do primeiro governo continental voltaram a viver no solo com suas
famílias. Essa iniciativa motivou outros coordenadores de juntas federativas e
daquelas formadas por grupos de países a tomarem iniciativa semelhante. A
competente administração de Olintho gerou um grande aumento na produção
agrícola e industrial do seu continente, a qual implicou em uma redução na jornada
de trabalho no decorrer do sexto ano, para não gerar excedentes não aproveitáveis
no restante do planeta. A jornada foi diminuída para dez horas diárias e incluiu o dia
de sábado no descanso semanal. Esses resultados influenciaram os demais países
de outros três continentes parcialmente unificados e os processos se intensificaram
com a criação do segundo governo continental no final do oitavo ano, elevando para
mais de 200 o número de países unificados em todo o planeta. Não fosse a sua
morte ocorrida no final do décimo ano, esse processo teria sido concluído em um
tempo bem menor que aquele que foi gasto.
A morte de Olintho
Ele faleceu em decorrência de um ataque cardíaco fulminante, às
vésperas de completar sessenta e quatro anos, durante uma visita de rotina a um
núcleo industrial. Olintho vinha sendo alertado pelos seus médicos para diminuir o
seu ritmo e horário de trabalho desde quando assumiu a presidência de seu país,
três anos antes da grande transição. Depois, os espaciais continuaram com a
mesma recomendação, pois não podiam interferir no seu livre arbítrio. Durante
quase quatorze anos ele trabalhou intensamente para melhorar a qualidade de vida
das populações que governou como um missionário. Ele nunca tirou férias e poucos
foram os fins de semana que aproveitou para descansar. Quando faleceu, era a
pessoa mais admirada e respeitada no planeta, incluindo os dirigentes e habitantes
dos países mais problemáticos. Por isso, ele era uma espécie de embaixador dos
amigos das estrelas e dos demais dirigentes juntos a esses povos. Ele também era
visto como uma espécie de pai, amigo ou irmão de todas as pessoas que viviam em
seu país de origem e no continente que governou durante mais de cinco anos.
111
Desde quando Olintho assumiu a presidência do seu país, no período
anterior à grande transição, ele sempre foi o exemplo de tudo que deu certo e
produziu os melhores resultados com o menor esforço e no menor tempo possível.
A notícia da sua morte paralisou o planeta, pois o comando a frota de apoio a Arret
divulgou o fato a todas as naves sediadas nos núcleos, como sempre acontecia
com notícias de interesse geral, a exemplo das deliberações da nova ONU,
unificações de países e uma série de outras novidades que sempre eram
divulgadas nos restaurantes coletivos e nas demais áreas sociais. Fazia quase uma
década que a grande maioria dos habitantes não tinha razões para tristezas, pois a
nova vida planetária apresentava um número crescente de fatos positivos que só
geravam alegrias e confiança em um futuro ainda melhor. A morte de Olintho
entristeceu todos os habitantes do planeta a população, pois foi sentida como a
perda um parente querido ou de um grande amigo. Como todos queriam prestar a
ele a sua última homenagem e não havia condições para tal, os espaciais
sortearam um morador de cada núcleo e o levaram à ilha de Agartha para, em
nome dos demais, prestar suas homenagens àquele grande homem.
Seu corpo foi preparado para suportar a longa homenagem que recebeu
no centro de convenções durante doze dias e noites, quando foi visitado por quase
4 milhões de pessoas. Os espaciais montaram telões nas praças que circundavam
os restaurantes coletivos, para que a população acompanhasse as homenagens
após o jantar. Também transmitiram a cerimônia que ocorreu no dia do seu
sepultamento quando todas as atividades planetárias fora paralisadas. Ele foi
enterrado em um local da ilha de Agartha onde atualmente é o centro de um jardim
localizado no lado direito da entrada principal do Palácio da Harmonia, a atual sede
do governo planetário. No jardim do lado esquerdo está enterrado o corpo de
Hórhium, o segundo governante do planeta, tido pelo povo arretiano como uma
nova manifestação de Olintho.
A cerimônia simples foi precedida por um emocionado discurso do
comandante da frota de apoio a Arret e foi presenciada por todos os coordenadores
das atuais e das primeiras juntas de governo criadas após a grande transição.
Olintho foi substituído por Nunzain um dos membros da sua junta de governo
continental e também um de seus maiores amigos e grande colaborador desde os
primeiros dias da grande transição, quando coordenou os esforços que levaram à
construção dos NTCA de seu país em tempo recorde. Ele também era um
trabalhador incansável, muito competente, querido e respeitado pelos povos do seu
continente. Nunzain era uma pessoa dotada de grande sabedoria e senso de
justiça, possuindo, de maneira geral, as qualidades básicas do seu grande amigo e
mestre Olintho.
O período preparatório
Esse período de 9 anos foi de grande importância na história arretiana e
culminou com a instalação do governo planetário. Mais importante que esse
acontecimento foram as suas conseqüências, pois desencadeou outras coisas
altamente positivas que, em sua maioria, não faziam parte dos sonhos da
população e nem daqueles que trabalharam incansavelmente para implantar o
governo planetário. No início do ano 41, os dirigentes continentais e a quase
totalidade da população almejava a criação do governo planetário. O entendimento
de todos era que ele representaria muito mais que uma administração centralizada.
Entendiam que ele representaria, principalmente, a consolidação da irmandade, da
fraternidade e da igualdade entre todos os povos, pois na prática, já havia uma
certa centralização administrativa, em função do suporte que os espaciais
forneciam indistintamente aos povos de todos os continentes, dos procedimentos
padronizados definidas pela ONU, das fronteiras livres e do idioma único, dentre
várias outras coisas.
No início do ano 42, em continuidade ao processo de transferência de
tecnologia, os espaciais começaram a equipar a ONU e os governos continentais
com sofisticados computadores, sistemas integrados e banco de dados que antes
só existiam em suas naves. O banco de dados mantido e atualizado pelos espaciais
foi substancialmente ampliado a partir de um detalhado levantamento das
necessidades básicas da população, relacionadas com habitação, alimentação,
vestuário, saúde, educação e lazer, dentre outras consideradas como fundamentais
para o bem-estar, conforto e qualidade de vida, além de particularidades e
expectativas dos habitantes de cada continente. A finalidade desse banco de dados
era facilitar o planejamento das necessidades da população e tornar os governos
continentais independentes desse tipo de apoio dos amigos das estrelas. A
administração do sistema e do banco de dados ficou sob a responsabilidade da
ONU arretiana, sediada na ilha de Agartha, onde foram instalados os computadores
ou servidores principais. O acesso para consultas e atualização seletiva do banco
de dados foi descentralizado em diversos níveis, desde a administração continental
até os núcleos administrativos, operacionais e de serviços existentes em cada
cidade agrícola ou industrial. Esse grande e ramificado sistema foi o embrião da
nova Internet arretiana.
116
A ONU era um organismo muito respeitado em todo planeta desde a sua
criação e, com o passar do tempo adquiriu maior agilidade, poder e amplitude de
atuação, principalmente após sua última reestruturação ocorrida no ano 35. Ela
atuava como um organismo que definia critérios de conduta e padrões a nível geral
e, nesse aspecto, antecedeu o governo planetário. Sua estrutura colegiada e
flexível permitia avaliar assuntos específicos de cada continente sem perder a visão
da coletividade planetária e por essa razão suas deliberações eram sempre
acatadas e colocadas em prática, pois todos os seus membros agiam com o mais o
mais alto espírito público. Entre os anos 42 e 48, ela definiu regras e procedimentos
que motivaram os governos continentais a implantar os mais variados projetos
voltados para viabilizar o governo planetário. Com isso, todos os pequenos e
grandes problemas foram equacionados e resolvidos, incluindo soluções
particularizadas para atender reivindicações específicas de uma pequena parcela
da população concentrada no último e mais problemático dos continentes
unificados.
Nos seis meses finais do ano 48, os governantes continentais e suas
equipes intensificaram as reuniões com grupos de trabalho da ONU e, com a
assessoria dos amigos das estrelas, definiram o projeto básico para estruturação do
governo planetário, envolvendo sua forma de atuação e critérios para escolha do
presidente, ministros e demais membros. Os seis meses seguintes foram gastos em
reuniões informativas no centro de convenções da ilha de Agartha, envolvendo os
dirigentes continentais, regionais e municipais, todas, com milhares de
participantes. O objetivo dessas reuniões era levar o mesmo nível de informações a
todos e, ao mesmo tempo, detectar e resolver qualquer tipo de problema que ainda
não tivesse sido levantado e equacionado. No final, o projeto foi considerado como
aprovado, com as seguintes características principais.
A estrutura organizacional seguiria o padrão vigente na ONU e nos governos
continentais.
O governo planetário ficaria sediado em Agartha e utilizaria, além da estrutura do
centro de convenções, aquela utilizada pela ONU arretiana, a qual seria
desativada.
Os recursos humanos e materiais alocados nos governos continentais seriam
parcialmente aproveitados, pois a nova estrutura necessitava de menor
quantidade desses recursos.
Nos dias seguintes à eleição e posse do presidente e seus ministros, seriam
extintos todos os cargos incompatíveis com a nova estrutura e empossados
todos aqueles que dela fariam parte. Os demais iriam viver e trabalhar em
cidades agrícolas ou industriais de sua livre escolha.
Os sete dirigentes continentais, incluindo o coordenador geral da ONU seriam
candidatos natos à presidência do governo planetário. Os demais membros
seriam candidatos a ministro, de acordo com a área de atuação de cada um
deles.
117
O presidente e seus 21 ministros seriam escolhidos por votação secreta dos
dirigentes continentais e seus ministros. Também votariam, o coordenador geral
da ONU e os coordenadores dos seus 21 conselhos setoriais.
Como todos se conheciam muito bem, não haveria campanha e a escolha seria
realizada com base nos méritos individuais, no trabalho que realizaram e na
forma como aceitavam e cumpriam a Lei Divina.
O período de mandato seria até o final da vida de cada um, a menos que
renunciassem por vontade própria.
A eleição seria realizada no centro de convenções de Agartha e seria transmitida
para todo o planeta através de telões que os espaciais instalariam em cada
cidade.
O centro de convenções seria ocupado pelos eleitores, demais membros da
ONU e coordenadores regionais de cada continente. Os demais lugares seriam
ocupados por pessoas oriunda de todas as regiões do planeta, sorteadas em
quantidades proporcionais aos seus habitantes.
Finalmente, marcaram o dia da eleição para meados do ano 49, em um dia
equivalente a um sábado, às 8 horas da manhã.
Com isso foram satisfeitos os anseios da quase totalidade da população.
Porém, ainda restaram alguns problemas que envolviam uma pequena parcela da
população que rejeitava a idéia da irmandade planetária, se esquivava do trabalho
comunitário sempre que podia e exagerava na utilização dos bens distribuídos ou
retirados gratuitamente nos mercados públicos, sem nenhum tipo de controle.
Como essas pessoas pertenciam à geração anterior à transição e, nos últimos
anos, seu número foi drasticamente reduzido, os idealizadores do projeto chegaram
a um consenso que deveriam defini-lo sem critérios de exceção, dando a todos os
mesmos direitos e deveres, mesmo àqueles que não cumpriam com suas
obrigações sociais. Assim procederam, pois entendiam que a Lei Divina se
encarregaria de fazer o devido ajuste no tempo apropriado.
121
Toda a produção planetária passou a ser um bem comum e começou a
ser transportada para esses depósitos e redistribuída para os supermercados da
sua região. Apesar do crescente aumento da população e da longevidade, as ações
do governo planetário ao longo desses 20 anos, aliadas ao entusiasmo e
colaboração da população, geraram um significativo aumento no volume e na
variedade de produtos agrícolas e industriais. Com isso, no ano 70 o trabalho diário
havia sido reduzido para 9 horas, com descanso semanal aos sábados e domingos,
além do direito a férias anuais de quatro semanas, a fim de não gerar excedentes
não aproveitáveis.
Assim como vinha ocorrendo nas décadas e anos anteriores, por volta
do ano 70, todos os sobreviventes com mais de 25 anos no período anterior à
grande transição retornaram ao plano espiritual e aqueles que não conseguiram
vivenciar os novos conceitos da irmandade planetária foram transferidos para
mundos inferiores, mais afinados com suas idéias e ideais. Esses mundos
representavam escolas de nível primário, ou inferiores, e eram bem diferentes de
Arret, já transformado em escola de nível ginasial e franqueada somente a espíritos
com certo grau de conhecimento e vivência prática dos postulados básicos da Lei
Divina. Alguns desses mundos abrigavam uma humanidade bárbara cujo objetivo
era a luta pelo poder e pela conquista de outros povos e sua riquezas. Outros
mundos ainda inferiores abrigavam uma humanidade animalizada que morava em
cavernas e tinha como objetivo a busca diária por comida e a luta árdua pela
sobrevivência em condições adversas, pois dividiam o planeta com animais, rapteis
e pássaros carnívoros de grande porte e extremamente predadores.
Esse processo de separação “do joio do trigo” foi iniciado nas décadas e
anos anteriores à grande transição, atingindo seu ponto máximo naquela ocasião,
quando todos os espíritos desencarnados que não passaram no exame de seleção
foram imediatamente transferidos para esses mundos. Os aprovados
permaneceram na Hierarquia Espiritual Arretiana se aperfeiçoando e aguardando o
momento do retorno à vida física. Antes de continuar a narrativa daquilo que
aconteceu após o ano 70, vamos resumir alguns aspectos da justiça e da
misericórdia divina, a qual sempre dá a última chance aos seus filhos antes de
enquadrá-los em um novo processo educativo.
Quando ocorreu a grande transição, não desencarnaram somente os
repetentes. Morreu uma grande maioria deles e também um número significativo
daqueles que já nasceram graduados, ou que obtiveram as melhores notas no
exame de seleção. Da mesma forma, sobreviveram muitos daqueles que foram
aprovados e alguns que ficaram em “recuperação”, enquadrados em um artigo
especial da Lei Divina que concederia a eles o “certificado de aprovação”, caso se
esforçassem e modificassem sua maneira de pensar e de agir até o final de suas
vidas físicas. A esses espíritos foi dada a última oportunidade para assimilar os
conceitos básicos da matéria referida no início deste livro, além de contar com a
ajuda e o exemplo da maioria dos aprovados que passou a demonstrá-la e a
exemplificá-la nos atos práticos do dia-a-dia. Os alunos que ficaram em
“recuperação” tiveram anos ou décadas para assimilar essa matéria e praticá-la em
igualdade de condições com os sobreviventes. Muitos aproveitaram a oportunidade
e se livraram de repetir o curso primário em uma escola muito exigente e
desconfortável. Porém, uma parte não conseguiu, apesar de todos os exemplos e
122
ajudas que tiveram por quase sete décadas. Quando o processo de separação do
“joio do trigo” foi concluído, teve início um outro processo a nível espiritual, com
grandes reflexos no nível físico, o qual desencadeou uma nova era de mudanças
positivas e de grandes dádivas para todos.
No início da sétima década, com a conclusão dos desencarnes dos
alunos em “recuperação” e com o completo amadurecimento da geração nascida
após a grande transição, totalmente afinada com o padrão da nova humanidade
arretiana, foi completada a limpeza da aura planetária, tanto a nível físico, como
espiritual. Como conseqüência desse grande fato, muitas coisas novas e
maravilhosas começaram a acontecer nos dois planos. A nível físico foram
totalmente extintos os últimos insetos e répteis nocivos que ainda viviam em
algumas regiões isoladas do planeta. Com isso, as “pragas” agrícolas
desapareceram completamente, melhorando a saúde e a produtividade das hortas
e lavouras. A visão espiritual plena, que era um privilégio de poucos, passou a ser
um atributo de todos, incluindo as crianças com mais de 7 anos, completando um
processo anunciado no ano 49 por Ahelohim. Todos passaram a ter acesso total à
sua memória de vidas passadas e foi nesse período que a população identificou a
equipe do segundo governo planetário, conforme Ahelohim também havia previsto.
Essas habilidades, ou dons espirituais, tiveram um papel muito
importante na consolidação do comportamento do povo arretiano e motivou várias
mudanças, inclusive, no aspecto sexual, conforme será detalhado mais adiante.
Outra grande mudança ocorreu com relação à tecnologia. Os amigos das estrelas,
desde a época da grande transição, sempre forneceram todo o suporte necessário
à população, incluindo os únicos meios de transporte de longa distância e, apesar
de toda a dedicação que sempre demonstraram, suas naves continuaram a ser
fabricadas em seus planetas de origem e sempre foram operadas e mantidas por
eles. A partir do ano 70, eles começaram a transferir uma parte de sua avançada
tecnologia ao povo arretiano e começaram a construir as primeiras fábricas de
naves e de muitos outros bens de alta tecnologia, até então restrita a alguns itens
indispensáveis ao conforto básico da população. Naquele mesmo ano, os amigos
das estrelas começaram a construir as primeiras fábricas de componentes e as
montadoras de naves. Em paralelo, implantaram cursos de treinamento e
começaram a capacitar o pessoal nativo para assumir o processo produtivo, a
operação e a manutenção dessas naves.
O formato básico das naves da atualidade arretiana, suas medidas e
proporções, foi estabelecido naquela época e não sofreu alterações ao longo dos
séculos, a não ser quanto às divisões internas apropriadas a cada tipo de utilização,
ou com relação a aperfeiçoamentos, princípios de sustentação, de deslocamento e
de navegação interplanetária, pois as primeiras naves foram construídas para
operar dentro da atmosfera arretiana. Logo que a estrutura básica e o treinamento
do pessoal de produção foram concluídos, os arretianos começaram a construir
quatro tipos de naves e, como das vezes anteriores, os amigos das estrelas
supervisionaram e acompanharam todo o processo até o ponto onde os arretianos
se sentiram seguros e independentes. As quatro naves produzidas na época
correspondiam, respectivamente, aos tipos 4, 5, 6 e 7 da atualidade arretiana,
conforme está descrito no Diário da Viagem e abaixo resumido.
123
A maior delas media 24 metros de largura, 18 de altura, 72 de comprimento e era
voltada exclusivamente para o transporte de cargas.
O segundo tipo atendia tanto o transporte de carga como de passageiros e
media 12 metros de largura, 9 de altura e 36 de comprimento.
O terceiro media 8 metros de largura, 6 de altura, 24 de comprimento e era
voltado para o transporte de passageiros.
O último tipo media 2 metros de largura, 1,50 metros de altura e 6 metros de
comprimento. Essa pequena nave podia transportar até doze pessoas
confortavelmente sentadas, ou até 3 toneladas de carga. Pela sua versatilidade,
foi largamente utilizada como ambulância, transporte de passageiros e como
veículo de deslocamento dos membros do governo planetário, dentre várias
outra aplicações.
Até o final do ano 75 os arretianos construíram as naves necessárias e já
operavam toda a rede de transportes de cargas do planeta e, nos dois anos
seguintes, assumiram todo o transporte de passageiros, incluindo novas linhas
regulares para inúmeros novos locais de lazer que construíram. Com isso, os
arretianos começaram a realizar viagens turísticas aos mais diversos recantos do
planeta durante suas férias anuais. A partir do ano 70 foi dada alta prioridade para a
construção de novas cidades agrícolas e industriais nos continentes polares, os
quais ainda apresentavam uma densidade demográfica inferior à dos demais
continentes. Apesar de ainda distantes dos padrões da atualidade, essas cidades
foram construídas obedecendo a novos conceitos urbanos, em termos de espaços
públicos e privados, arruamento, ajardinamento e áreas de lazer. Até então, as
cidades ainda obedeciam ao mesmo projeto dos primeiros núcleos de trabalho
comunitário, especialmente, com relação à cozinha sem fogão e ao restaurante
coletivo.
Nas novas cidades, as residências passaram a contar com cozinhas
completas e funcionais, além de vários outros itens que aumentaram o conforto e a
qualidade de vida dos seus habitantes. Essas modificações partiram dos anseios da
população e foram, gradativamente, se estendendo a todos ao longo do tempo. A
população entendia que a melhoria no nível de conforto oferecido inicialmente a
alguns, seria um direito de todos no futuro. Também entendia que, se um novo
processo não fosse iniciado, todos continuariam na mesma situação. Além disso,
não era mais necessária a manutenção dos restaurantes coletivos, por duas razões
básicas.
Não havia mais necessidade de economizar alimentos ou mão-de-obra, pois a
produção aumentava constantemente, enquanto a carga de trabalho diminuía.
Também não havia mais necessidade da refeição coletiva como forma de
incentivar a convivência harmoniosa, pois o ideal de fraternidade já era uma
conquista de todos.
Essas novas cidades contavam com um centro de lazer e um grande
parque, como os parques do encontro existentes em todas as atuais cidades
arretianas. Os balneários e outros locais de lazer não urbanos, para uso nos fins de
semana e nas férias anuais, começaram a ser estruturados e construídos durante
esse período, como uma das conseqüências da nova estrutura de transportes de
passageiros. Durante os 20 anos seguintes, a estrutura do planeta passou por
124
grandes transformações positivas e todos os arretianos experimentaram uma nova
fase de grandes progressos em todas as áreas. A transição planetária tornou-se um
acontecimento histórico que passou a ser lembrado como uma benção divina que
motivou a transformação do planeta e o novo modo de vida do povo arretiano.
Thauro faleceu na metade do ano 96, depois de realizar um grandioso
trabalho desde os primeiros meses do seu governo. Ele, seus ministros e demais
colaboradores, seguiram à risca as palavras de Ahelohim e fizeram tudo o que foi
possível para incrementar a irmandade planetária e melhorar a qualidade de vida da
população. Não mediram esforços, fizeram enormes sacrifícios individuais e
exerceram seus mandatos por amor ao Pai Celestial e a seus irmãos de todos os
recantos do planeta, iniciando um processo que foi seguido e aprimorado pelos
demais governantes ao longo dos séculos. No início do ano 90, Thauro convidou
Hórhium e sua equipe principal para trabalhar com ele e seus ministros, dando
início a outro costume que foi seguido por todos os demais governantes. Desde os
20 anos anteriores, todos os arretianos sabiam que Hórhium seria o novo
governante e que ele era uma nova manifestação de Olintho, cuja figura singular
nunca foi esquecida pela população.
Thauro, que o tinha como mestre e como o exemplo que sempre seguiu,
foi obrigado a inverter os papéis durante os anos que o teve como colaborador e
dedicado discípulo, como Hórhium sempre fazia questão de frisar e de se colocar.
Thauro morreu tranqüilo e feliz, tanto pela consciência do dever cumprido, como por
saber quem era o seu substituto. Foi assim que a nova equipe de governo,
anunciada por Ahelohim, em meados do ano 49, deu continuidade aos trabalhos em
andamento e realizaram muitos outros. Hórhium era o mais velho de sua equipe de
ministros, pois estava com 61 anos, com a aparência de 40. Ele viveu 142 anos e
governou Arret durante quase 81, pois seu governo foi iniciado na metade do ano
96 e se estendeu até o final do ano 176. Naquela época, a idade média da
população já passava dos 120 e muitas pessoas viviam 130 anos ou mais, com
perfeita saúde e disposição. Essa longevidade decorria de uma alimentação
equilibrada e de excelente qualidade, do tipo de vida que levavam, bastante ativa e
feliz, além da avançada medicina transmitida pelos espaciais, que já atuava no
corpo vital e tinha um caráter eminentemente preventivo.
Além de dar continuidade aos trabalhos de Thauro, Hórhium utilizou os
três anos e meio que fechavam o primeiro século, para efetuar um novo e grande
levantamento de dados e planejar as atividades do seu governo. Como parte das
comemorações do primeiro centenário da grande transição ele e sua equipe
ofereceram ao povo uma nova versão da constituição planetária, editada no final do
ano 36. Como seu conteúdo permaneceu inalterado durante mais de 60 anos,
estava necessitando de uma revisão, pois a sociedade planetária passou por
profundas alterações durante esse período e muitos dos temas que tratava foram
definidos para acomodar situações particulares de alguns povos da época. A nova
versão foi substancialmente reduzida e escrita em linguagem simples e direta,
tornando ainda mais claros os principais postulados da Lei Divina. Ele continuou
titulado como “A Lei de Deus” e manteve o seu poder de resolver todos os
problemas e situações que envolviam a comunidade planetária. Esse extraordinário
livro, que também era a Bíblia que todos seguiam, sofreu pequenas alterações ao
125
longo dos séculos e permaneceu como livro de cabeceira do povo arretiano, lido
entendido e praticado por todos os habitantes com mais de 7 anos.
129
século e adquiridas através de horas extras. Elas ainda não faziam diagnósticos e
não estavam integradas ao sistema de saúde.
Em função da crescente disponibilidade de mão-de-obra ocorrida nos
anos seguintes, o governo planetário resolveu agilizar um trabalho que vinha sendo
lentamente realizado ao longo dos dois séculos anteriores, com o objetivo de
recuperar e reflorestar com espécies nativas originais, as áreas onde se
localizavam as grandes cidades e megalópoles existentes antes da grande
transição. De maneira geral, essas áreas estavam cobertas por uma vegetação
constituída por capins, árvores e arbustos de pequeno ou médio porte, formando
um bioma semelhante ao do Cerrado brasileiro. Também adotaram idênticas
providências em todas as áreas desérticas ou desmatadas no passado e com os
leitos de antigas estradas e acessos implantados antes e após a grande transição.
Juntamente com a recuperação dessas áreas, começaram a reestruturar os antigos
centros de lazer e a implantar outros dentro dos mesmos padrões da atualidade.
O sistema educacional foi reestruturado por volta do ano 350, quando
foram criados os grandes centros de ensino e pesquisa avançada existentes na
atualidade. Com isso a população atingiu um alto nível de escolaridade e um
grande número de arretianos começou a complementar seus estudos de terceiro
grau com cursos de especialização em planetas mais avançados. Nas duas
décadas finais daquele século, os arretianos já projetavam, construíam e operavam
seis dos sete tipos de naves existentes na atualidade. Elas ainda não construíam
naves para deslocamentos a outras estrelas, mas já visitavam todos os planetas do
seu sistema estelar e a mantinham colônias de estudos e pesquisas na maior de
suas três luas. No final daquele século as férias anuais chegavam a 4 meses, com
um mês de descanso a cada dois de trabalho e uma jornada de 8 horas diárias.
Entre os anos 401 e 500 houve um novo surto de desenvolvimento
tecnológico e industrial que beneficiou toda a comunidade planetária.
Desenvolveram uma infinidade de bens e produtos que substituíram seus similares
anteriores, além de várias novidades que passaram a integrar a lista de produtos
distribuídos gratuitamente, e outros para aquisição com trabalhos extras. Até a
metade daquele século, todas as naves passaram a contar com novos sistemas de
sustentação, deslocamento, navegação e proteção por campos de forças,
semelhantes ao da atualidade. A partir do ano 450, começaram a construir as
grandes naves do tipo 1 da atualidade arretiana, com 1.368 metros de
comprimento, 456 de largura e 342 de altura, destinadas a viagens pela Via Láctea,
iniciando a fase de contatos e apoio a outros povos. Com isso, passaram a integrar
o comando galáctico, em igualdade de condições com os espaciais que os
socorreram no passado. No mesmo período, começaram a construir duas outras
naves menores para viagens exploratórias e turísticas a planetas da nossa região
galáctica. A do tipo 2 tinha 456 metros de comprimento, 152 de largura e 114 de
altura. A do tipo 3 apresentava um comprimento de 144 metros, 48 de largura e 36
de altura. Com isso passaram a contar com os mesmos sete tipos de naves
existentes na atualidade do planeta.
No final daquele século, Arret apresentava um desenvolvimento
tecnológico semelhante ao da atualidade, diferindo apenas com relação a detalhes
e aperfeiçoamentos introduzidos posteriormente. Já havia veículos individuais para
todos os pretendentes, assim como, telões, computadores de alta capacidade e
130
telefones móveis integrados a uma nova rede de satélites administrados pela CIA, a
Central de Informações de Arret, que já atuava nos moldes da atualidade. As
cabines de teletransporte já faziam diagnósticos médicos e todas estavam
integradas a um eficiente e preventivo sistema de saúde. Com isso, as pessoas
viviam e trabalhavam com vigor juvenil até os 180 anos, pois desde a grande
transição a prática da aposentadoria foi abolida em todo o planeta. Todos passaram
a considerar o trabalho como uma atividade de lazer e queriam contribuir com suas
obrigações sociais enquanto vivessem e fossem úteis à sociedade planetária.
Com o aumento da expectativa de vida, a população teve um pequeno
incremento e chegou a ultrapassar a casa dos 11,5 bilhões de habitantes. As
opções de lazer nos fins de semana e nos períodos de férias foram ampliadas com
a construção de novos balneários marítimos e fluviais, além de núcleos turísticos
em áreas montanhosas e florestais. Também continuaram recuperando as áreas
degradadas e em muitas delas foram implantadas novas áreas de lazer. O horário
de trabalho diário e as férias anuais continuaram no mesmo padrão do século
anterior.
O período compreendido entre os anos 501 e 600 foi marcado por um
certo grau de estabilidade dos diversos sistemas planetários e pelo grande
incremento das viagens diplomáticas, de turismo e de intercâmbio com os povos
dos planetas que os socorreram no passado e a outros membros da confederação
galáctica. As embaixadas desses povos em Agartha e as contrapartidas em seus
planetas de origem já chegavam a 112, sendo 96 delas referentes aos povos que
participaram das operações anteriores e posteriores à grande transição. Por volta
do ano 510, os arretianos e suas naves começaram a participar de operações em
planetas que estavam prestes a passar ou que passaram pela sua grande
transição, quando tiveram a oportunidade de prestar o mesmo tipo de apoio que
receberam no passado.
Durante aquele século os arretianos embelezaram os centros de lazer já
existentes e construíram outros, cujos tipos até então não existiam, como as
colônias submarinas e as estações orbitais, dentro dos mesmos padrões da
atualidade. Como exemplo de embelezamento de balneários marítimos e fluviais,
introduziram equipamentos de iluminação aquática para permitir mergulhos e
observações noturnas. Por volta do ano 550, O mobiliário doméstico chegou ao
padrão da atualidade, incluindo as camas especiais que proporcionaram um grande
conforto durante o período de descanso do corpo. A maiorias das pequenas e
médias áreas degradadas já estavam recuperadas e os vestígios das grandes
cidades do passado tinham desaparecido completamente. O horário de trabalho
continuava sendo de oito horas diárias e o período de férias já era de 6 meses por
ano, sendo um de trabalho e um de descanso.
O século seguinte, iniciado no ano 601, foi marcado por um novo
processo de racionalização da produção, simplificação e aperfeiçoamento de um
grande conjunto de itens, com o objetivo de simplificar o seu conjunto e também
melhorar o nível de qualidade de vida de uma população que havia retomado seu
nível de crescimento e já ultrapassava a casa do 12 bilhões de habitantes. Em meio
ao planejamento do novo processo, um novo governante assumiu a gestão do
planeta no ano 642 e realizou um grandioso trabalho nas décadas seguintes. Esse
governante chamava-se Arcthuro e ainda era o presidente do governo planetário no
131
ano 722, correspondente a 1.999 do tempo da Terra e ao ano em que foi realizado
o levantamento de dados sobre o modo de vida do povo arretiano.
Para atingir o nível de produtividade, de modernidade e o elevado
padrão de vida da atualidade arretiana, Arcthuro e sua equipe realizaram uma
completa reformulação do sistema industrial, introduzindo novas máquinas e
equipamentos de alta tecnologia e elevado grau de robotização. Em maior ou
menor grau, todos os demais sistemas passaram por algum tipo de reformulação e
todos eles foram otimizados e aperfeiçoados, de maneira a manter o equilíbrio e a
harmonia do macrosistema planetário. Durante os 80 anos que já estava à frente do
governo planetário, Arcthuro transformou a vida arretiana no padrão descrito
resumidamente no Diário da Viagem e reduziu a carga de trabalho para 6 horas
diárias sem alterar o direito a 6 meses de férias anuais. Os resultados desse
grandioso trabalho constituem o terceiro volume que apresenta a atualidade
arretiana a partir de uma visão sistêmica bastante detalhada. Ele apresenta uma
visão geral do macrosistema planetário e descrições pormenorizadas de cada uma
dos seus doze sistemas institucionais, como o educacional, o de saúde e o de lazer,
além de descrever alguns sistemas não institucionais, como o familiar e o religioso.
Obrigado por ler este livro. Se gostou, esperamos que se junte aos
sonhadores e sonhadoras que propagam um ideal de vida semelhante ao
arretiano. Com isso ajudaremos a materializar o sonho representado pela
vida, pela obra, pelas palavras e pelo exemplo de Jesus.
BIOGRAFIA DO AUTOR
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J. A. Dal Col, batizado como José Aparecido Dal Col, nasceu em 23 de
Dezembro de 1948, às 15:13 hs em uma fazenda na cidade de Guarantã – SP.
Começou a trabalhar ainda jovem em várias atividades e empresas e, em 1967, já
morando na cidade de São Paulo, ingressou na antiga Companhia Telefônica
Brasileira, onde atuou como escriturário, encarregado, chefe de seção e analista de
sistemas. Casou-se em 1973 com Solange, com quem teve três filhos e adotou
outros dois.
Em 1978, graduou-se em administração com especialização em análise
de sistemas. De 1974 até 1988, desempenhou diversas funções de direção nas
áreas de sistemas da Manah, Votorantim, Prodam e bancos estrangeiros, como o
First Chicago e BNL. Em fins de 1988 montou sua empresa de consultoria na área
de sistemas e, em setembro de 1992 mudou-se para Alto Paraíso de Goiás, onde
montou um supermercado e adquiriu uma propriedade rural, o Santuário Vale
Dourado, uma área de 658 hectares, com muitas cachoeiras, rios e outras belezas
naturais.
Em 1999, depois de registrar a grande aventura arretiana, mudou-se com
sua esposa Solange para o Vale Dourado (www.valedourado.com), onde
passaram a viver em estreito contato com a natureza, obtendo a sustentabilidade
através do Ecoturismo. Em 2008 definiram um projeto de Ecovila e começaram a
compartilhar o local com outras pessoas interessadas em praticar um novo estilo de
convívio social baseado na cooperação e no respeito à individualidade.
Novas pessoas estão se interessando, ajudando ou se integrando ao
projeto da Ecovila (ecovilavaledourado@gmail.com) e ela está se desenvolvendo.
O futuro está entregue nas mãos do Pai Celestial.
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