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101/2000)1
No exato teor de seu artigo 1.º, diz a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei
Complementar n.º 101, de 04 de maio de 2000) ser seu objetivo principal
estabelecer “normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na
gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição”, dizendo, nos
respectivos parágrafos, que tal responsabilidade na gestão fiscal “pressupõe a ação
planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de
afetar o equilíbrio das contas públicas”, aplicando-se a todas as entidades da União,
dos Estados e dos Municípios.
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Última atualização: maio/2004.
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Mestre em direito econômico pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Especialista em direito
fiscal e tributário pela Universidade Cândido Mendes (UCAM/RJ). Juiz federal substituto na Paraíba.
Professor de direito penal do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ).
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Por sua vez, o artigo 165, § 9.º, da Carta Magna diz caber à Lei
Complementar “dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a
elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e
da lei orçamentária anual”, bem como “estabelecer normas de gestão financeira e
patrimonial da administração direta e indireta, bem como condições para a
constituição e funcionamento de fundos”. Ambos os dispositivos acima citados
traçam, na Constituição Federal, competências em matéria de direito financeiro,
exigindo sua exegese em consonância com o respectivo artigo 24, I e § 1.º, o qual
preconiza competência concorrente dos entes federativos para a edição de normas
legais sobre direito financeiro, cabendo à União, em tal competência concorrente,
apenas o estabelecimento das chamadas normas gerais.
Por normas gerais é curial entender sejam aquelas que, por sua natureza
ampla, pela importância da unificação normativa no que atine ao regramento
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Por igual, ter-se-ia por violado o princípio da isonomia entre os entes estatais
uma vez que estaria a União Federal a arrogar-se uma prerrogativa inexistente:
impor aos Estados e Municípios uma norma que seus respectivos poderes
legislativos deveriam editar. Afinal, não consistindo dada matéria (em direito
financeiro) como da competência para edição de normas gerais, tratar-se-á, em
verdade, de matéria da competência complementar/suplementar a ser disciplinada
por cada ente federativo através da edição de leis próprias, segundo a citada norma
do artigo 24 da CF/88.
Não é preciso dizer que tal incursão não encontra respaldo em qualquer
dispositivo da Constituição Federal de 1988. Linhas acima, perquiriu-se acerca do
fundamento de validade para a elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal e,
quer pela simples leitura de seu próprio texto (dado que seu artigo 1.º diz
textualmente estar a mesma lastreada nos preceitos contidos no Capítulo II do Título
VI da Constituição), quer pela análise da matéria tratada, alterando a disciplina
normativa nacional em matéria de direito financeiro, introduzindo normas gerais
acerca de orçamento e finanças públicas, demonstrou-se que tais fundamentos
encontram-se nos artigos 163 (e incisos) e 165, § 9.º, da Constituição da República,
os quais já definem o que se há de entender como matérias passíveis de comportar
regramento através das normas gerais a serem editadas nos termos do artigo 24,
§1.º, da CF/88.
somente poderia ser feita por regra constitucional expressa. Tal regra, permissiva da
coação federal aos legislativos estaduais e municipais para a edição de leis que
instituam os impostos de sua competência, em verdade, não existe no texto
constitucional.
Não se está a dizer que seja possível aos entes estatais abdicarem da
prerrogativa de toda sua competência tributária. Um tal ente federativo que assim
agisse estaria fatalmente exposto a uma intervenção federal ou estadual, conforme o
caso, uma vez que a inexistência completa de renda pública terminaria por acarretar
infrações aos chamados princípios constitucionais sensíveis, resguardados pelo
instituto jurídico da intervenção, que se constitui em restrição (expressa, como deve
ser) ao princípio da autonomia. Sendo esta autonomia (em seu aspecto financeiro)
usada contra o interesse público ou o bom desempenho da administração pública e
conservação do patrimônio público, a própria Constituição já prevê os meios
necessários ao restabelecimento da normalidade. Não se cogita, assim, que
qualquer ente estatal possa legitimamente renunciar a todas as suas receitas, mas
também não se admite a possibilidade de ver restaurado o equilíbrio através da
aplicação de uma norma inconstitucional: a própria CF já prevê o remédio
necessário.
Não se pode sequer argumentar que o fundamento de validade para uma tal
disposição estaria contida em dispositivo diverso da Constituição. Com efeito, em
matéria específica de tributação, o artigo 146 da Constituição Federal elenca os
assuntos sobre os quais há de tratar o poder legislativo da União através de Lei
Complementar e nenhum de seus incisos comporta exceção ao princípio da
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