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ano 12 | 2ª Edição
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Bahia: uma feira de lutas
Poesia: Mario Benedetti
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Carta de solidariedade aos movimentos soci
Expediente
Gestão DENEM 2009: Coordenação Geral: Penha de Oliveira Santos, Coordenação Re-
Ramon Rawache Barbosa Moreira de Lima, gional Sudeste 1: Ingrid Antunes da Silva, Isis
Coordenação de Finanças: Roberto Ribeiro Altgott, Lívia Nery Martins de Sousa Men-
Editorial nesta edição: Maria das Graças Timbó Pereira Camelo de
Maranhão, Coordenação de Comunicação: des, Lucas Leonardo Knupp dos Santos, Matos (UFC), Ramon Rawache B. M. de Lima (UFC), Roberto R.
Maria das Graças Timbó Pereira Camelo Ma- Marcos Vinícius Gouvêa, Coordenação Re- Maranhão (UFC)
deira de Matos, Coordenação de Relações Ex- Colaboradores: Cláudia Cristina de Araújo(UFC), Mariana Damas-
gional Sudeste 2: Adeilton Rosa Paiva, Ber- ceno Linhagens (UFC), Julyana Quintino (EBMSP)- Membros do
teriores : Phillipe Geraldo Teixeira de Abreu nardo Vieira Goular de Souza, Jamerson CONSED - Conselho Editorial; Gestão 2009 da DENEM, Juliana
Reis, Coordenação Regional Sul 1: Bruna Bal- Izidoro, João Bonin, Rafael Leite Nunes, Vieira Mota (UFC)- rede de ajuda da Comunicação
Projeto Gráfico: Erico dias
larotti, Diângeli Soares, Josiane Canez Fa- Coordenação de Estágios e Vivências: Cris- Tiragem: 3.000 exemplares
rias, Luiz Henrique Santiago, Coordenação tiane de Oliveira Breda, Marina Jacob Chaer,
Regional Sul 2: André Filipe Aragão Franco Pedro Henrique Fernandes do Carmo Las
da Costa, Juliana Montenegro Sapata, Luiz Casas, Stênio Bruno Leal Duarte, Coordena-
Guilherme de Souza, Marília Francesconi Fe- ção de Políticas Educacionais: Bruno Ferreira
licio, Coordenação Regional Nordeste 1: Funchal, Coordenação de Extensão Universi- Publicação oficial da Direção Executiva Na-
Adriana C. Freitas, Gabriel Xavier “Padeiro”, tária: Emille Sampaio Cordeiro, Fernanda cional dos Estudantes de Medicina (DENEM)
Leonardo Maciel, Coordenação Regional Nor- Fernandes Fonseca, Renato Penha de Oli- Rua Alexandre Baraúna, s/n, Rodolfo Teófilo,
deste 2: Paulo Tarcísio de Albuquerque Ca- veira Santos, Coordenação de Políticas de Campus do Porangabuçu – Universidade Fe-
valcanti Neto, Thiago Figueiredo de Castro, Saúde: Caio Cesar Bezerra da Silva, Emer- deral do Ceará
Fortaleza – CE – CEP: 60414-000
Coordenação Regional Centro-Oeste: Débora son Rafael Lopes, Coordenação de Educação Telefax:85 32323957
Rigo, Rafael Leonardo Silva, Rodrigo Matos, e Saúde: Lucas Rafael Gonçalves Ferreira, Endereço eletrônico: denem@denem.org.br
Tárina Moreira, Thiago Rocha, Coordenação Coordenação de Meio Ambiente: Greg de Sá www.denem.org.br
Regional Norte: André Tomaz, Caio Cesar Be- Silva, José Medeiros do Nascimento Filho,
zerra da Silva , Danilo Rezegue, Hugo Coordenação Cientifica: Henrique Gonçalves
Crasso Oliveira do Nascimento, Renato Dantas de Medeiros
HUES e sua
crise, e
FEDP
Ramon Rawache
Antes de serem criados os Hospitais Univer- sentaram dentro do campo das privatizações. Em riamente em risco.
sitários, as escolas de saúde utilizavam hospitais fi- 2001, a proposta foi declaradamente vender 25% dos Com as FEDP saímos todos perdendo:
lantrópicos para a ação do ensino prático em saúde. leitos para o setor privado. Em 2005, o MEC propôs Perdem os trabalhadores, que serão exigidos no ato
Nas décadas de 50 e 60 algumas universidades co- a desvinculação do orçamento do MEC os gastos da contratação (concurso público), mas poderão ser
meçaram a criar unidades de atendimento à saúde e com os HU. facilmente demitido, já que o regime é CLT. Passam
somente na década de 70, a partir de convênios com Entre 2006 e 2007 surge a “nova” proposta: a ser demitidos inclusive devido a sua organização
o Ministério da Educação com essas universidades é as Fundações “Estatais” de Direito Privado, FEDP. em sindicatos, ou coisas do tipo, como greve. Com
que começou a idéia de Hospitais Universitários. Com esse nome estranho, que mistura o termo pú- o regime CLT, a rotatividade de trabalhadores, pode
Até o surgimento do SUS, os HU eram des- blico com um antagônico, privado, o Governo Fede- até dificultar o atendimento a longo prazo de pacien-
tinados para atendimentos das pessoas fora do ral apresenta a sua idéia para resolver o problema de tes crônicos. Os trabalhadores ainda perdem com a
INAMPS (Instituto Nacional de Previdência e gestão da saúde, mas também de outras 11 aéreas. diferenciação dos PCCS e com o fato de cada FEDP
Saúde), pós constituição de 88, esses hospitais pas- . Por outro lado, as FEDP retrocedem em ser uma empresa diferenciada de outra FEDP, isso
sam a ser conveniados ao SUS, sendo garantida a au- muito em vários algumas conquistas históricas da porque causa a dispersão das categorias, que antes se
tonomia Universitária. OS HU passaram a ser luta pela saúde como um direito. organizavam por atividade e agora passarão a se or-
responsabilizados pela atenção secundária e terciá- Baseada no modelo de empresa “publica” as ganizar por atividade em cada FEDP.
ria. FEDP seriam gestadas por conselhos, mas nesses não Perdem a população que com o fim do controle so-
Desde o seu nascedouro, os Hospitais Uni- estão presentes usuários, decretando o fim do con- cial não poderão mais contribuir com a formulação
versitários, sempre apresentaram problemas desde a trole social. Na mesma lógica, as FEDP devem cum- das políticas de saúde. Ainda perdem com a situação
questão da contratuali- prir metas baseadas nas suas causada pelo fetiche das metas, que impõem organi-
zação até questões zação dos serviços de cada FEDP de maneira própria,
mais objetivas de fi- Além de não se apresentar como financiamento publico, de-
próprias decisões, recebem
sendo, como já citado, uma bela pancada na integra-
nanciamento. dicam PCCS diferenciados lidade. Ainda perdem com a não garantia da univer-
A crise hoje en- uma solução verdadeira, as para cada profissional, salidade.
frentada, não passa de fazem a contratação de fun- Perdem os estudantes que terão que se formar dentro
uma agudização de um FEDP nem sequer menciona o cionários por concurso pú- da lógica do cumprimento de metas, e não da inte-
problema crônico. Se- blico com regime CLT (hoje gralidade. Além disso, a formação em interdiscipli-
gundo a Associação naridade está prejudicada pela lógica da competição
dos Dirigentes das Ins- problema principal dos HU, falta garante ao trabalhador mais
o regime é estatutário, o que
estimulada pelas FEDP.
tituições Federais de direitos).
Ensino Superior, AN- de financiamento O fato é que para ga- È necessária como alternativa à crise dos
DIFES, a dívidas dos rantir financiamento e gerar HUs uma política de financiamento real que possa
HU era de R$440 milhões, em outubro de 2007. lucro, cada FEDP irá orientar suas metas e seus ser- realizar a contratação de mais profissionais, suprir a
Com esse acumulado de dívidas, os HU ainda viços para as atividades mais rentáveis, o que causará deficiência de equipamentos, reformas estruturais,
conseguem atingir o equivalente a 10% dos leitos e um verdadeiro abismo entre as metas cumpridas e as reabertura de serviços... Precisamos revitalizar nos-
12% do total de internações no país, mesmo sendo necessidades de atendimento da população. Isso na sos HU para termos bons espaços para aulas práticas,
apenas 2,3% do total de hospitais. Hoje, segundo o prática é a quebra da integralidade. Sem falar que não para dar boa qualidade de atendimento à população,
próprio MEC os HU acumulam um déficit de 5 mil estar vetada a venda de leito, a venda de espaços para para garantir o desenvolvimento de pesquisas com-
servidores técnicos-administrativos. aulas de cursos de saúde, a venda de espaços para prometidas com a resolução dos problemas da popu-
Toda essa situação já levou aos governos a pesquisa e afins. Com isso, a universalidade tanto do lação.
“pensar” em inúmeras propostas para “solucionar” o atendimento, quanto das pesquisas dos HU está se-
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José Medeiros
CANECA-UFRN
Enéas de troya
Distância
pela humanidade em determinada área.
todas as potencialidades do ensino à distância, inclu-
sive como forma de aperfeiçoamento do ensino pre- Enfim, a educação à distância que está co-
sencial que temos hoje na universidade, mas sim ter locada possui o intuito de aprofundar as políticas de
a clareza para criticar a forma mecânica de transpo- desresponsabilização do Estado com a educação su-
sição da grade curricular presencial para o sistema à perior e ao mesmo tempo adequar a mão-de-obra ao
Bruno Funchal distância, a ausência de atividades práticas, o grande mercado de trabalho, não contribuindo de maneira
número de alunos e principalmente a forma como o alguma como forma de emancipação intelectual da
processo educacional passa a ser encarado. Como população brasileira. Ampliando dessa forma a ex-
CAPB/UNIFESP observou Marilena Chauí, passou-se a confundir a ploração da mão-de-obra e a nossa dependência dos
Coordenaçao de Politicas Educacionais educação como “movimento de transformação in- países centrais.
da Denem
O BOICOTE AO ENADE
dade? Soma- se a isso que a Bahia tem poucas cida- nobra de desmonte do movimento. A greve teve
Diretório Acadêmico de Medicina de Feira de Santana
des com universidades, o que faz com que os estu- grande impacto. Fomos à secretaria de educação, vi-
Diretório Central do Estudantes da UEFS dantes tenham que sair de sua cidade e morar na sitamos o governador da Bahia inúmeras vezes; Lula
cidade daquela universidade. Mesmo com todo esse e Dilma Roussef também receberam nossas “boas
panorama, não é prioridade do governo uma política vindas” com faixa cartazes e palavras de ordem no
de permanência estudantil. A ampliação da residên- terreiro do PAC; Lula, o ministro da Educação e o
A educação nunca foi prioridade na pauta das forças cia universitária sai arrastada, a defesa do sistema Secretário de educação puderam ver e ouvir nossos
governantes. Isso não é diferente o governo Lula. bandejão, após 10 anos de luta foi uma conquista, pedidos e vaias. Atos no centro da cidade, relatórios
Corte de orçamento, facilidade de abertura de escolas sendo que o governo passou vários meses sem fazer extensos com todos os números e dados oficiais
privadas desresponsabilizando o estado da tarefa de o repasse da verba para pagamento deste, o número foram levantados. Assim a luta tem sido grande e in-
educar, planos de financiamento de escolas privadas, de bolsas são poucas e o valor não atinge o mínimo terminável.
sistemas de avaliação fajutos, enfim, são inúmeras necessário para a compra de materiais básicos para
uma pessoa. No mesmo período, após três meses sem receber as
as ferramentas que tem sido usada para desmontar as bolsas, os bolsistas da UEFS entraram em greve e
universidades públicas. Não sendo pouco o desmonte, as UEBAS estão sobre ocuparam a reitoria da UEFS no sentido de pressio-
uma lei estadual, 7176/97, que barra a autonomia das nar o pagamento das bolsas, a ampliação do valor e
UEBA’s, criando um conselho superior que é supe- a mudança do caráter destas.
Dentro do governo da Bahia, sob gestão do governa- rior ao CONSU e CONSEPE e ainda presidido por
dor Wagner, a situação não é diferente. As universi- quem? Pelo secretário! Oh? Mas não é a universi-
dades estaduais baianas (UEBA’s) sofreram, no dade, em vigor da sua autonomia quem decide como
início do ano, um corte de verbas que saiu de cerca utilizar suas verbas, qual o seu quadro de docentes, Obra pintada por estudante de medicina da UEFS anônimo
de 4,2% dos repasses de impostos para as universi- de funcionários, sobre a abertura ou não de cursos,
dades para 4,1% (aproximadamente), mesmo sendo etc? É meu e minha amig@. Aqui na Bahia as coisas
este um valor muito questionado. Isso gera um arro- não são bem assim. Esta mesma lei limita o número
cho nas estaduais baianas. Isso se torna ainda mais de docentes que cada UEBA venha a ter.
claro quando a coordenação de desenvolvimento do
ensino superior (CODES) coloca que a ordem da se- Logo, os cursos em implantação, como o de medi-
cretaria é barrar o crescimento das universidades. cina, não têm professor, pois uma lei estadual assim
definiu. Não tem estrutura de funcionamento, pois as
verbas não cobrem nem o orçamento anual da uni-
versidade, os estudantes são praticamente convida-
A Universidade Estadual de Feira de Santana dos a se retirar, pois não temos uma política de
(UEFS) não tem vivido em harmonia com estes assistência estudantil, não temos pesquisas, extensão,
fatos, primeiro porque do seu orçamento para 2009, eventos. Órfãos de pais vivos.
o governo só aprovou 2/3 e mandou informar que
não suplementará esta verba em hipótese alguma.
Qual a saída para a forca? Mendicância?
Tendo este panorama, as notícias que correm sobre
Um dos grandes problemas das Uebas é a dificuldade as estaduais baianas incluindo a UEFS não poderia
de manter um estudante sobrevivendo na universi- ser diferente. Desde 2007 o curso de medicina tem
dade, primeiro que a universidade não é de fato pú- feito inúmeras paralisações, na intenção de convocar
blica, apesar de não ter semestralidade e outras o estado a assumir suas responsabilidades. Este ano,
formas de financiamento, mas e quanto aos livros não mais suportando, o curso de medicina para não
que não temos em bibliotecas e temos que comprar, estancar, entrou em greve permanecendo assim por
xerox, alimentação, eventos científicos que muitas 28 dias sob pautas principalmente internas, onde ti-
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vezes precisamos pagar dentro da própria universi- vemos avanços significativos, mesmo com toda ma-
Além destas lutas, o movimento estudantil está de
acordo com os movimentos sociais de Feira de San-
tana. Recentemente a luta em defesa do transporte
público tornou o centro da cidade palco de guerra e
de muito cinismo por parte da prefeitura. Alem do
aumento do valor, houve intenção de redução de fro-
tas sem melhorar a qualidade do serviço prestado. A
tarifa de ônibus de Feira de Santana está entre as
maiores do Brasil e é a segunda maior do nordeste.
Soma-se a isso que a cidade tem 600.000 habitantes
para uma tarifa de R$2,00. Assim, os estudantes
foram às ruas, sendo eles espancados e presos covar-
demente ao final da manifestação.
Ramon Rawache
estudantes assim como a sociedade geral de se orga- fundamentais básicos para a garantia das liberdades
individuais. Um dos seus maiores problemas é a exi-
nizar em prol da construção popular e dos movimen-
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UFRGS
Meia estudantil,
Hoje muito se fala na superação do movi- tário, a realidade do machismo e da negligência com
mento feminista devido ao fato de que atualmente as pautas das mulheres também está presente nos es-
homens e mulheres já ocupam patamares de igual- paços do movimento estudantil.
por inteiro
ritariamente masculinos ao longo do processo zada. Mas o que é mais incomum, de um modo geral,
histórico da luta feminista. Porém, será que é “boba- é ver mulheres dirigindo a política e o movimento
gem” da parte das mulheres reivindicar e promover como um todo, e serem respeitadas. De fato ainda
o debate de gênero e, ainda hoje, falar em machismo? muitos companheiros não estão preparados para
A Universidade brasileira ainda carece muito serem “dirigidos” por uma companheira, e quando Ramon Rawache
de assistência estudantil. Principalmente, carece de tal situação se apresenta em conjunturas de disputa
programas de assistência voltados de forma especí- política, muitas vezes presenciamos cenas de ma-
fica às mulheres estudantes – que, por mais incrível chismo e intolerância. Os casos não se restringem XII de Maio, UFC Fortaleza
que pareça para alguns, têm suas nas situações referentes à direção política exercida Coordenaçao geral da Denem
demandas que são singulares. por mulheres, mas também atingem diferentes níveis
Até o de participação feminina na política, que ainda é um
ano de 2008, a espaço bastante masculino.
Casa do Estudante É fundamental que exista a possibilidade
da Universidade Fede- de auto-organização dos setores feministas de
ral do Rio Grande do Sul entidades e movimentos estudantis. Além des-
convidava as estudantes ses espaços, atividades de formação (em con-
em período de gestação a junto com o público masculino) vêm para
se retirarem da casa, e não preencher as lacunas da falta de costume em
lhes era oferecido nenhum problematizar a situação da mulher nos dife-
tipo de assistência. Além de rentes espaços sociais. Porém, de nada adiantará
perder a moradia, a estudante a organização e a formação se as mulheres não to-
perdia o “sossego” quando retor- marem a iniciativa de ocupar os espaços que tan-
nava à Universidade (se retornava): gem as pautas gerais do movimento, reivindicando O primeiro semestre de 2009 foi repleto de ações do
não há, ainda hoje, creche universitária para sua capacidade política de tomar direção dos proces- movimento estudantil sobre uma velha questão: o di-
filhos e filhas de estudantes, apesar de sos de mobilização. É só com mulheres dirigentes reito a meia-entrada. Por mais que parecesse algo já
já existir essa discussão há muito tempo. que será possível, por exemplo, impulsionar um pro- consolidado, o direito a meia estudantil sempre
Casos de abuso sexual, ofensa e violência cesso de mudança na Universidade a fim de se obter sofreu ataques, os mais conhecidos são as formas de
contra mulheres na Universidade e precon- avanços na assistência estudantil, pois ainda somos burlar a lei, com meia para todos, ou preços de meia
ceito com estudantes lésbicas também foram presen- nós, mulheres, a maioria preocupada com nossas que são verdadeira inteiras.
ciados na UFRGS entre os anos de 2007 e 2009. questões específicas. Foi apresentado no senado federal, e já aprovado
É bastante difícil pautar, na Universidade, Finalmente, é preciso, sim, problematizar a nessa casa, um projeto de lei de autoria do senador
questões como essas, que são tão distantes da reali- conjuntura da mulher: os porquês, de onde vêm, para Eduardo Azeredo – PSDB-MG que limita a meia-en-
dade de conteúdos abordados nas disciplinas da aca- onde vão. E, principalmente, estar atento ao fato de trada a 40% dos ingressos de eventos culturais e es-
demia. De fato, a maioria dos cursos sequer se que “a percepção da perspectiva de gênero nas rela- portivos. Tal projeto de lei, agora deve ir para o
aproxima da discussão profunda acerca da mulher e ções entre as pessoas de ambos os sexos fornece congresso, e depois para a sanção presidencial.
sua situação social atual, e a Medicina não fica fora meios de decodificar o significado, culturalmente Tal limitação, que o senado chama de regulamen-
de tal contexto. Porém, mesmo com uma educação atribuído ao varão e à mulher, e de compreender as tação do uso da meia-entrada, é uma distorção do di-
médica limitada em relação ao debate de gênero, sa- complexas conexões entre as várias formas de inte- reito estudantil. A meia-entrada é um direito que é
bemos que existem peculiaridades acerca da saúde ração humana. Quaisquer empreendimentos, para al- inerente a condição de estudante, e com a lei, o dire-
da mulher, dos cuidados gerais de gestantes, dos re- terar a relação entre os gêneros masculino e ito a meia seria condicionado aos “40% primeiros es-
flexos psicossociais da violência e do abuso sexual feminino, exigem uma profunda compreensão das tudantes”.
e da diversidade de questões que rondam o universo instituições sociopolíticas sobre as quais se pretende Essa limitação efetiva tem um grande impacto na
feminino. Ainda assim, não é de nosso costume pro- transformar, porque a política da dominação de gê- dinâmica social, pois seria além de tudo, a limitação
blematizar, apenas absorver de forma sistemática a nero não subordina apenas mulheres, moças e jovens ao acesso a cultura e esporte, que já são escassos para
teoria necessária para sermos bons médicos e boas aos varões dominantes; ela funciona como cidadela a maioria da população brasileira. Os grandes vito-
médicas... até que, em algum momento, temos a do direito de propriedade dos interesses tradicionais riosos, caso seja aprovado essa lei, são as casas de
oportunidade de prestar atendimento a mulheres lés- e conservadores da sociedade.” (A presença da mu- show, a grande indústria de cinema. A luta pelo
bicas – e ficamos completamente perdidos. lher no controle social das políticas de saúde, Maria acesso a cultura, ao esporte sempre foram cotidianas
Além da formação insuficiente e da falta de José de Lima, 2003, Rede Feminista de Saúde). do ME, e é importante para nós do ME de saúde tam-
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familiaridade com o assunto no cotidiano universi- bém colocar esse debate enquanto uma questão de
EREM Sul 2
saúde. Isso porque garantir saúde é garantir que a como não existe uma vaga para cada estudante, foi
população tenha acesso ao que é produzido na so- criado um sistema de pontuação como forma de se-
ciedade, como por exemplo música, cinema, esporte, leção, priorizando os estudantes mais antigos no
enfim, a arte. curso (com menos tempo para viajar) e aqueles que
Nacionalmente, muita luta vem sendo travada contra fazem o programa funcionar. Estes são os que rece-
esse projeto. Várias entidades estudantis se colo- bem estudantes em suas casas durante as quatro se- Luiz Guilherme de Souza
caram contrários a esse projeto e vem realizando mo- manas de estágio (anfitriões), e os que ambientam o
bilizações e manifestações de rua. intercambista e mostram a realidade da saúde pública DANC- UFPR
É importante dar destaque ao fato de a União Na- no novo país (padrinho/madrinha). Os estágios têm Coordenação Regional Sul 2
cional dos Estudantes, através de sua direção ma- duração de quatro semanas, estada gratuita garantida
joritária (a composição da diretoria da UNE é (que pode ser em um alojamento estudantil, hostel O Encontro Regional dos Estudantes de Medicina
da SUL 2 ocorreu em São José do Rio Preto - São
proporcional), ter levantado a proposta de monopólio ou casa de algum estudante estrangeiro) e pelo Paulo nos dias 29,30 e 31 de maio.
sobre a produção e distribuição das carteirinhas de menos uma alimentação por dia. Portanto, o estu- Como é um encontro do movimento estudantil, or-
estudantes, um grande absurdo. dante paga apenas uma taxa de 120 euros, a sua pas- ganizado pela DENEM através da coordenação re-
Por acesso a cultura, arte, cinema, esporte, saúde, sagem e eventuais gastos que terá no país. gional, os temas discutidos tendem a ser não
dizemos: meia-entrada, eu quero meu direito por in- A DENEM também o promove o Projeto de somente uma capacitação para os estudantes, mas
sim uma troca de experiências e análise conjunta da
teiro! Estágio em Ação Global (GAP Exchange), o Núcleo realidade do estudante de medicina além de cum-
Brasil – Cuba (NBC) e os Estágios de Vivência em prir um papel importante para organizar as lutas es-
CLÉ.. o que??
comunidades, como Estágio em Defesa da Vida. O tudantis.
GAP Exchange tem o enfoque na discussão de
“doenças da pobreza” negligenciadas pelo sistema O tema do encontro foi “Medicina para que(m)?”
no sentido de abordar o mercado de trabalho em
de organização capitalista e consiste em acordos bi- medicina e a formação médica. Muito das discus-
laterais entre Brasil, França e Peru, cuja primeira sões apontaram para a análise de que ocorreu uma
etapa acontecerá no Brasil em julho de 2009 e será reestruturação do trabalho em saúde nos últimos 40
Marina Jacob Chaer anos. Antigamente o médico se formava e abria seu
sobre a Doença de Chagas. O Núcleo Brasil – Cuba
consiste em um estágio de vivência em Cuba voltado consultório e exercia o que chamamos de prática li-
beral. Nota-se que isso mudou consideravelmente e
Coordenadora de Estágios e Vivências da DENEM para a discussão política da revolução cubana e da no cenário atual são raros os médicos recém forma-
Centro Acadêmico XXI de Abril – CAXXIA UFG internacionalização da experiência socialista. Os es- dos que conseguem abrir seu consultório. Ou já
tágios de vivência em comunidades, como o Estágio existe um aporte familiar que permita isso (geral-
em Defesa da Vida que ocorreu ano passado em uma mente famílias mais abastadas) ou então o médico
comunidade na Paraíba, são projetos que de formação será obrigado a vender a sua força de trabalho no
mercado como qq outro profissional, seja para um
CLEV! Sigla para Coordenação Local de Es- de militantes, organizados em parceria aos movimen- plano de saúde ou para o SUS. Vale lembrar que
tágios de Vivências. Mas você deve estar se pergun- tos sociais populares promovendo o intercâmbio cul- apenas para ser credenciado à UNIMED precisa
tando: o que é isso afinal?! tural, político e vivencial entre os estudantes pagar valores que variam de 40 à 80 mil reais , de-
Primeiramente, através do nosso respectivo participantes e comunidades. Trata-se de uma expe- pendendo do Estado. Esse processo que vem ocor-
Diretório ou Centro Acadêmico fazemos parte da Di- riência que envolve a união de pesquisa e extensão rendo com a medicina, podemos chamar de
proletarização do médico. Esse termo, apesar de
reção Executiva Nacional dos Estudantes de Medi- com discussões e reflexões acerca da realidade do forte, elucida bem o fato de que tudo o que o estu-
cina (DENEM), entidade legítima que representa campo e do sistema de saúde de nosso país. dante formado possui e possuirá como mecanismo
todos os estudantes de medicina do Brasil. Esta, por Também temos um programa de estágio em de renda é a própria força de trabalho que será ven-
sua vez, faz parte da maior organização internacional prática médica e em pesquisa dos Estágios Nacionais dida por um determinado valor.
estudantil do mundo, a International Federation of (EN), porém devido às alterações decretadas pela
A análise que fizemos no encontro caminha no sen-
Medical Students’ Associations (IFMSA), com mais Nova Lei dos Estágios este programa está suspenso tido de entender como essa mudança no mundo do
de 90 países membros, e da Federação dos Estudan- temporariamente até que as universidades consigam trabalho tem impactado na formação médica e nas
tes de Cuba (FEU). se adaptar e termos viabilidade jurídica para executá- mudanças nas diretrizes curriculares. Entendemos
A IFMSA foi criada após a segunda guerra lo. que o que muda antes são as relações de trabalho e
mundial com o intuito de gerenciar o sistema de in- Todos os alunos de medicina podem partici- estas determinam a educação, e não o contrário. A
consolidação do SUS como um sistema de saúde
tercâmbios, muito mais num sentido de aprendizado par dos programas de estágio que a DENEM oferece. desigual (o pobre fica na fila meses, só tem atendi-
humano quanto ao que a população de cada país em Porém, para poder receber estudantes em sua facul- mento primário em UBS enquanto quem tem mais
específico necessita do que num sentido de viagem dade e participar mais ativamente dos programas e condições usufrui de outros níveis do sistema,
cultural e diversão pura e simplesmente. dos debates acerca da pauta dos estágios, é necessá- como planos de saúde) naquilo que podemos consi-
Desta maneira, um estudante que vai para rio que cada CA/DA possua uma Coordenação Local derar “cesta básica da saúde”, ou seja , uma saúde
pobre para pobre somado às necessidades das in-
outro país deve ter sempre em mente sua função so- de Estágios e Vivências, o famoso CLEV! Para abrir dústrias médico-farmaceuticas em vender seus pro-
cial para as pessoas com as quais terá contato, e con- uma CLEV é muito simples, vejam os passos dutos e à interferência das empresas de saúde
tribuir para uma evolução daquele lugar, bem como Apresentar o programa de estágios da DENEM para o seu CA/DA e (planos, seguros, etc) têm moldado as mudanças
adquirindo habilidades com que auxiliará toda uma para a Coordenação do seu curso. nas universidades. Dessa forma observa-se flexibi-
população a ser atendida por ele em seu país de ori- Enviar uma carta de respaldo do seu CA/DA com os nomes dos Coor- lização dos currículos, retirada de conteúdos, foca-
denadores Locais de Estágios e Vivências (sugerimos 2 a 3 pessoas lização na atenção primária, etc para formar um
gem. médico mais barato para um sistema de saúde de
para serem os coordenadores), respaldando a abertura da CLEV e
Entendendo a diversidade de áreas com- as pessoas nomeadas para tal função, com a assinatura do repre- baixa qualidade, com a medicalização da saúde etc
preendidas durante o ensino de medicina, as ativi- sentante legal do CA/DA.
dades da IFMSA foram divididas em diversos Enviar a carta de respaldo escaneada para cev@denem.orgParsi- Esse processo não é homogêneo e acontece em
comitês, Standing Committee on Medical Education monia saburre deciestilo clev_nomedafaculdade@yahoo.com.br e maior ou menor grau de acordo com as resistências
enviar um email para a lista da CEV cevdenem-subscribe@ya- ou não às mudanças. Em universidades tradicionais
(SCOME), S. C. on Public Health (SCOPH), S. C. vemos ainda a consolidação da formação voltada a
hoogroups.com. Trata-se de uma lista fechada, então é necessário
on Human Rights and Peace (SCORP), Standing enviarem a carta de respaldo anteriormente ao pedido da lista para ultraespecialização visando formar os médicos que
Committee on Reproductive Health including AIDS nós aceitarmos o pedido da sua CLEV. atenderão particulares (pessoas mais ricas) e que
(SCORA), Standing Committee on Professional Ex- Tentar criar vagas para receber estudantes em sua CLEV. Não é ne- utilizarão maior densidade tecnológica. Em facul-
change (SCOPE) e Standing Committee on Research cessário que seja no Hospital Universitário, mas é necessário que um dades mais recentes o currículo é voltado ao sim-
professor da sua faculdade seja o tutor do estágio. Também não é im- ples e elementar, onde a valorização não está no
Exchange (SCORE). conteúdo em si, mas sim nas “atitudes” do aluno.
prescindível que a CLEV receba estudantes, mas trata-se de algo
Todavia, as atividades em que a DENEM par- muito importante para o funcionamento do programa em nosso país Passa existir uma divisão do trabalho. De um lado
ticipa com maior ênfase dentro da IFMSA são nos e para o desenvolvimento e aprimoramento da CLEV. um médico ultraespecializado com qualidade capaz
estágios de prática médica (SCOPE) e de pesquisa Qualquer dúvida envie para cev@denem.org.br ou diretamente para de empurrar todos os produtos de alto valor da
médica (SCORE). os Coordenadores de Estágios e Vivências da DENEM em nível na- saúde (imagens, medicamentos, exames, etc) para
cional (CEVs): marychaer@gmail.com, pedronrick@gmail.com, ste- os setores mais ricos e de outro um médico de
Nos últimos anos, a DENEM fechou em baixa qualidade, barato para atender a maior parte
nioduarte@gmail.com ou cristiane.breda@yahoo.com.br
média 40 contratos de estágio em pesquisa e 250 em Lembre-se também que podem contar com o auxílio dos Coordena- da população.
prática médica com mais de 80 países, ofertando um dores Regionais da sua regional, inclusive podem pedir o CD do CLEV
total de cerca de 300 vagas a serem distribuídas para com diversos materiais de capacitação e administração para o seu Isso parece fazer muito sentido também quando ob-
todas as universidades brasileiras incluídas no pro- Coordenador Regional. Caso não saiba quem são e quais os contatos servamos a expansão indiscriminada de novas es-
do seu Coordenador Regional enviem um email para colas médicas. Essa expansão segue a lógica de
grama via DENEM através de suas CLEVs. Assim,
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Uh Uh NE1!
Feministas e os Movimentos Negros. Defender a alegria como uma certeza
Durante o evento, as vivências e diversos es- defendê-la do óxido e da sujeira
paços de diálogos tornaram o encontro mais palpável da famosa ilusão do tempo
e dinâmico, como, por exemplo, a ida ao Hospital do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso
Psiquiátrico local paralelo ao GDT de Saúde Mental,
Entre os dias 11 e 14 de junho aconteceu, em Ara- bem como a visita às Salinas da cidade de Mossoró Defender a alegria como um direito
junto às discussões sobre Medicina do Trabalho. defendê-la de deus e do inverno
caju, o XIII EREM da NE1, sediado pelo CAMED-
O evento, por fim, foi coroado com um Ato Público das maiúsculas e da morte
UFS. Seu tema foi: “Mãos que Constroem: em frente ao Hospital Tarcísio Maia, protestando dos sobrenomes e dos lamentos
do azar e também da alegria
Mobilização Estudantil Transformando Realidades”. contra a realidade local, conivente com o contexto
Com uma programação que incluia temas como nacional, de precarização da estrutura da saúde pú-
blica, bem como exigindo o processo de escolariza-
Abertura de Novas Escolas Médicas, Exame de
ção do hospital, vantajoso para estudantes,
Ordem, Privatização da Saúde e um turno de vivên- profissionais e usuários da saúde local.
cia na rede do Sistema Único de Saúde da cidade, o
EREM- NE 2
hadores em Educação do Rio Grande do Sul ), Data: 14 a 16 de agosto
ABED (Associação Brasileira de Estudos em Dire-
ito), além das representações da DENEM e da Setembro:
FENED. Seminário do CENEPES
Paulo Tarcísio Neto Ao fim do EREM, os centros acadêmicos Local: a ser definido
Coordenaçao regional NE 2- aprovaram a continuidade dos debates do Encontro Data: 04 a 07 de setembro de 2009
UFRN- CANECA através da realização de uma campanha da re-
gional, a ser trabalhada no segundo semestre de Outubro:
2009. Mantendo o mote do EREM “A medicina XLVII Congresso Brasileiro de Educação
O Encontro Regional dos Estudantes de Me- além do que se vê”, a campanha contará com os Médica, Local: ExpoCuritiba, Curitiba-PR
dicina da Nordeste 2 ocorreu entre os dias 17 e 21 de eixos Trabalho Médico e Lei dos Estágios, Gênero, Data: 17 a 20 de outubro de 2009
abril na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte. O Aborto e Saúde da Mulher, Avaliação e Privatiza-
evento foi sediado pelo Centro Acadêmico Carlos Er- ção da Saúde, sendo os últimos dois agregados às
nani Rosado, o CACER, da Universidade Estadual campanhas nacionais da DENEM aprovadas no
do Rio Grande do Norte. COBREM Fortaleza (Janeiro/2009).