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Olhar de um Físico

por Rui Namorado Rosa

19Finanças e Poder

A crise financeira mundial

Os EUA encontram-se numa grave crise gerada pelo capital


financeiro e especulativo. Contudo os seus responsáveis assumem
uma postura de falsa confiança, para que outras a tomem como fé,
suportada em pretensa mas infundada manutenção ou incremento
da produtividade, quando todavia se constatam taxas de dívida
privada e pública a nível histórico, quebra de poupança, queda das
receitas das empresas, o rápido crescimento da dívida externa. Na
realidade, pelo contrário, a taxa de crescimento da produtividade
(em termos de produto por hora de trabalho) no sector empresarial
privado, no último meio século, demonstra, sobre um fundo de
rápidas oscilações, uma tendência clara de declínio de 3,5 para 1,5
%. Sem esquecer que concomitantemente, o défice comercial
externo (bens materiais) acelerou na década de 90 a par do
crescimento das dívidas internas.

A poupança privada exibe nos EUA um verdadeiro colapso, depois


de ter atingido valores máximos na década de 70, quando atingiu
11% das receita privada líquida. A redução da poupança privada e o
aumento da dívida, privada e pública, significam um incremento do
consumo e do próprio PIB, mas configuram um percurso
insustentável a prazo; trata-se de uma transferência inter-
geracional de modos de vida e de recursos que afectará sobretudo
as próximas gerações
[http://mwhodges.home.att.net/product.htm].

A bolsa de valores de New York manteve-se em persistente alta


desde 1982 até Março de 2000, após o que o índice Dow Jones
entrou em lento declínio; era o inicio aparente de uma crise em
demorada gestação. A evolução em queda persistente verificou-se
também e pela mesma altura nas bolsas de do Japão (Nikkei),
Inglaterra (FTSE), França (CAC40) e Brasil (Bovespa)
[www.financialsense.com/stormwatch/oldupdates/2002/0621.htm].

Uma vez iniciada a queda do valor das acções na bolsa de New


York, para além da continuada oferta de crédito também a injecção
de dinheiro no sistema financeiro foi acelerada, uma e outra medida
apoiadas em sucessivas reduções da taxa de juro pela Reserva
Federal. A massa monetária duplicou na segunda metade da década
de 90; a presente evolução é instável, podendo conduzir seja a
perda de confiança na moeda e a inflação, seja ao colapso maciço
de dívidas, depressão persistente e eventualmente deflação
[www.financialsense.com/stormwatch/oldupdates/2002/0614.htm].

A evolução negativa do S&P500 e do NASDAQ desde Março de 2000


parece ser sintomática. Como sintomática será também a evolução
positiva da cotação das acções das empresas produtoras de metais
preciosos e as cotações destas commodities no mesmo período;
evolução a que está subjacente uma década de persistente défice
de produção de ouro e da prata e a queda para metade do
inventário comercial deste último metal precioso
[www.financialsense.com/stormwatch/oldupdates/2002/0621.htm].
Ao longo dos últimos 12 meses, a cotação do ouro subiu
significativamente de $280 para $350 por onça
[www.kitco.com/charts/].

O crescimento do volume bolsista nas duas décadas antecedentes


foi sustentado pela emissão e transacção de títulos, acções e
obrigações; o mercado de títulos permitiu o incremento da injecção
e circulação de dinheiro não monetarizado e prescindindo dos canais
bancários tradicionais; os governos puderam assim assumir dívida
pública sem recurso ao lançamento de moeda no mercado e sem o
risco de tensões inflacionárias, que a maior massa monetária teria
induzido. O crescimento do volume bolsista, ainda mais acentuado
na década de 90, terá sido estimulado pela excessiva
disponibilização de crédito e sua canalização para a especulação
bolsista. Mas a multiplicação de derivativos financeiros a uma taxa
superior à da disponibilização de moeda e de crédito, contribuiu
ainda mais para o crescimento das bolsas de valores para
dimensões desproporcionadas relativamente aos reais activos das
empresas e ao financiamento das suas reais operações financeiras.
Neste processo, o alcance da autoridade dos bancos centrais
resultou substancialmente diminuída, num mercado financeiro
progressivamente complexo e virtual.

O crescimento desproporcionado da massa monetária relativamente


à produção material desvalorizou de facto o papel moeda, sobretudo
o dólar, mas foi instrumental na progressiva dolarização da maior
parte do comércio internacional e das reservas de bancos centrais,
como era desejo das instituições financeiras imperialistas. Nestas
circunstâncias, a crise e o eventual colapso do dólar lançará ondas
de choque por todo o mundo. Do ponto de vista do capital
imperialista, a fuga à crise passa logicamente por alargar a base de
suporte da exploração capitalista. Isto é, pelo agravamento da
exploração dos trabalhadores, reduzindo a sua parte nas rendas
nacionais, retirando-lhes regalias sociais, transferindo para a esfera
privada toda a propriedade de bens de produção e de todos os
fundos financeiros. E alargando ainda mais a esfera de exploração
de recursos naturais e depreciando ainda mais as matérias-primas
importadas pelos países capitalistas, o que põe na ordem do dia a
prossecução de guerras de conquista e o domínio geoestratégico
dos recursos. A perspectiva de nova intervenção em grande escala
no Golfo Pérsico, encenada nos últimos meses de 2002, e a menos
publicitada infiltração militar no Golfo da Guiné, são a
materialização desses objectivos, que sendo de poderia militar e
diplomático, constituem a outra face do presente período do
imperialismo - a grave debilitação económica com evidentes
manifestações de instabilidade financeira.

Na Europa, uma onda de aquisições e fusões de empresas está em


curso desde há uma década. Grandes empresas como a France
Telecom poderá ter de ser de novo nacionalizada para que não
colapsem serviços públicos essenciais. Esse é também um processo
induzido pela crise visível na degradação do panorama económico e
na queda dos valores bolsistas. A queda do valor das acções, os
balanços negativos, a pressão sobre as margens de lucro, o
crescimento do crédito mal parado e a turbulência dos mercados
financeiros, estimulam as aquisições e fusões bancárias. Os grandes
bancos não têm conseguido crescer organicamente, procurando
antes reduzir custos mediante fusões; algumas mega-fusões
continentais têm-se sucedido. Depois de uma década em que o
sistema bancário foi desintermediado pelos mercados bolsistas e
pela transferência de riscos creditícios para companhias seguradoras
e fundos de pensões, o sistema bancário continua em
reordenamento, agora facilitado pela criação da UME, ainda que a
diversidade de regulamentações nacionais constitua ainda um
entrave. Assim, no período 1995-2000, registaram-se quase cem
fusões e aquisições bancárias. Mas este poderá ser um
comportamento sobretudo oportunista, com sucessos e insucessos,
mais do que um movimento pró-activo, na lógica de reduzir custos e
de aumentar receitas [www.thebanker.com/art1aug02.htm].

Há importantes bancos em dificuldade, expostos às debilidades de


grandes empresas, detendo empréstimos por liquidar e valores
mobiliários de empresas que "subitamente" aparecem
reclassificadas como de alto risco, como aconteceu com a Vivendi
Universal. Abbey National (Reino Unido), Credit Suisses e outros são
alguns dos importantes bancos em posição de dificuldade na
Europa. No Reino Unido, entre um grupo de 24 gestores de fundos
que somam o montante de mais de 1 milhão de milhões de libras, a
margem de lucro caiu de 33 para 23% e os ganhos da gestão de
fundos a retalho tombou de 42% para 24% no ano passado (2001)
e a situação parece ter-se agravado depois. No conjunto da Europa,
a banca privada teve uma quebra de 14% nas receitas e
globalmente a margem de lucro caiu em média 34%
[www.thebanker.com/art1aug02.htm].

O euro é agora um estímulo para a criação de um sistema de


serviços financeiros e plataformas de produtos financeiros trans-
europeus estão a ser desenvolvidos pelos bancos mais criativos,
embora a diversidade de regulamentações seja ainda um obstáculo.
Entretanto, vários bancos europeus - HSBC, ABN Amro, BNP
Paribas, Royal Bank of Scotland, Allied Irish Banks - procedem a
aquisição de posições nos EUA, onde o sistema bancário é
relativamente mais fragmentário e a taxa de rentabilidade é
teoricamente mais elevada.

A economia real nas empresas

É já agora evidente que as grandes empresas têm desde há duas


décadas manipulado e exagerado os respectivos proveitos. Essa
prática enganosa e fraudulenta acentuou-se nos últimos anos,
sendo um dos factores concorrentes com a recente sobrevalorização
dos valores em bolsa [www.levy.org/]. Essas práticas são
sintomáticas do aprofundamento da crise que atravessa e dos meios
de que se socorre o capital financeiro especulativo, e vão
conduzindo à falência empresas após empresas e à barra do tribunal
administradores executivos uns atrás dos outros, sem com isso pôr
em causa a razão do curso destes acontecimentos, a própria
natureza do capitalismo imperialista. No plano laboral, a
instabilidade empresarial traduz-se em crescente precaridade do
direito ao trabalho, conceito que imperialismo, no plano ideológico,
procura irradicar dos espírito dos trabalhadores.

Segundo Graham Turner em BBC News, 30 de Junho de 2002, "Não


há muito tempo, as empresas dos EUA relatavam regularmente
taxas de crescimento dos respectivos ganhos de dois dígitos,
enquanto a bolsa de valores subia para níveis progressivamente
mais elevados. Os ganhos do próprio governo, detalhados nas
contas nacionais, mostravam que as empresas não estariam de
facto a realizar os lucros que anunciavam. Durante os cinco últimos
anos de mercado em alta, as empresas representadas no S&P500
relataram ganhos que teriam crescido 96% (ou seja 19%/ano). Pelo
contrário, os números do governo revelavam que o sector das
corporações empresariais havia crescido apenas 36% (ou 7%/ano).
Os números significavam que as empresas estariam a exagerar o
crescimento dos seus proveitos em mais de 150%. Mas na verdade,
mesmo então não era difícil ver que as empresas dos EUA estavam
a manipular as suas contabilidades. Os investidores não tinham de
procurar muito para constatarem que os ganhos anunciados por
muitas empresas em fins da década de 90 estavam inflacionados.
Claro que agora sabemos que as empresas estavam mesmo a
exagerar os respectivos proveitos".

Como sabemos, os colapsos de diversas empresas, algumas de


grande porte como a Enron e a WorldCom, trouxeram grave
prejuízo para os respectivos trabalhadores, que nesses colapsos
perderam os postos de trabalho e foram espoliados das suas
reformas. Outras multinacionais gigantes como a IBM, GE e a GM,
enquanto a bolsa de valores esteve em alta, extraíram vultosas
vantagens da liquidez proporcionada pelos planos de pensões dos
respectivos empregados. Mas agora, com a bolsa de valores em
baixa, essas empresas deverão prover contribuições líquidas para os
fundos de pensões, com relativa redução dos seus proveitos. Mesmo
no âmbito governamental tem sido denunciada essa engenharia
financeira. Designadamente foi relatado o desvio anual da ordem de
centenas de biliões de dólares de saldos de fundos de pensões e de
segurança social para cobertura de défices orçamentais
[http://mwhodges.home.att.net/statistic-wizardry.htm].

A participação de trabalhadores no capital das empresas em que


trabalham é um logro, uma forma de os aprisionar ao futuro da
empresa, mesmo sem deter responsabilidade na sua gestão. Eles
são parcialmente remunerados com títulos (opções) da empresa,
com o direito a comprar acções a certo preço numa certa data ou
dentro de um certo período. Trata-se de uma compensação ao
trabalhador e portanto uma despesa da empresa com a força de
trabalho que emprega. O actual Sistema Nacional de Contas -
SNA93, adoptado internacionalmente pela Comissão de Estatística
da ONU, não é explícito em classificar esse tipo de despesa como
remuneração de trabalho; bem como é incerto o tempo em que a
despesa deverá ser contabilizada
[www.statistics.gov.uk/IAOSlondon2002/contributed_papers/IP_Ed
wards.asp]. Pelo que assim se alimenta a confusão entre
remuneração de trabalho e remuneração de capital, abrindo espaço
à manipulação "criativa" do cálculo do PI B e dos indicadores de
produtividade.

Um curso muito perigoso

O actual excesso de capacidade produtiva não atinge apenas alguns


mas sim muitos sectores que são objecto de intenso comércio
internacional - telecomunicações, automóvel, aeronáutica,
electrónica, aço, química, etc. - que em conjunto excedem mais de
metade dos fluxos internacionais (não incluindo produtos agrícolas);
nesses sectores esse excesso de capacidade vai de 20 a 80%. O
risco de queda descontrolada de preços e de receitas é evidente. Se
essa situação se multiplica e difunde através de toda a actividade
económica, teremos uma situação de "deflação" macroeconómica. O
desastre. [www.thebanker.com/art2oct02.htm].

Nos EUA, os excessos financeiros da década de 90 conduziram


investidores e consumidores a deterem agora pesadas dívidas,
mesmo a uma taxa de juro progressivamente mais baixa. As
amortizações das dívidas implicam redução dos níveis de
investimento e de consumo. A inflação já desceu para 1,5% ao ano
mas a recessão tem-se manifestado recorrentemente. No Reino
Unido, o diferencial entre a procura efectiva e a oferta potencial tem
sido perceptível ao longo dos últimos anos e a tendência
desinflacionária tem persistido; a taxa de inflação é aí já inferior a
2%. A zona Euro tem exibido igualmente um crescimento aquém da
sua capacidade produtiva, com crises atingindo a própria Alemanha,
pelo que não é previsível a sua recuperação desinflacionária. O
Japão já se encontra em deflação há anos, sem sinais seguros de
recuperação e com taxas de juro ainda nulas. A persistência destes
sintomas nas mais "fortes" economias faz temer que todas elas
entrem em período deflaccionário nos próximos anos, com graves
repercursões mundiais.

As recessões financeiras verificadas nas recentes décadas foram


produzidas por subidas inflacionárias, seguidas pelas taxas de juros,
conduzindo a roturas de crédito. Agora a situação é bem diferente.
As empresas vêm as suas receitas a decrescer com os preços,
enquanto as suas dívidas crescem, a pesar da deflação. O sistema
bancário será levado a reprogramar os empréstimos ou a precipitar
as falências, o que contribuiria para o colapso da dívida. Os
mercados de acções tornam-se desinteressantes em período de
deflação; os investidores ou os simples aforradores preferirão deter
o dinheiro em papel-moeda ou em depósito bancário. E em
alternativa procurarão investir ou salvaguardar as suas poupanças
em ouro e metais preciosos [www.kitco.com/charts/], como está de
facto a acontecer como já ficou dito, ou em outros bens materiais.

A desordem financeira

A dita "nova economia" caracteriza-se não só por rápida inovação


tecnológica em determinados sectores produtivos mas também por
uma persistente inovação de instrumentos financeiros e pela
globalização da sua transacção; esta segunda componente da "nova
economia" alimenta-se na primeira é sobremaneira especulativa.

A dívida que antes era assegurada sobretudo pelo sistema bancário,


mediante empréstimos, é agora assegurada sobretudo pelos
mercados financeiros, mediante títulos ou valores mobiliários. Os
riscos estão mais largamente distribuídos, são assumidos por novas
entidades financeiras de vocação mais ou menos especulativa e até
são transferidos pelo estado para a sociedade quando políticas
privatizadoras são promovidas na segurança social, nos serviços
públicos, etc. Além da socialização dos riscos, o prejuízo social
existe também porque a intermediação das transacções de títulos
gera lucros que largamente escapam ao pagamento de taxas,
facilitando a apropriação privada de grandes benefícios, sem
trabalho produtivo. No quadro do presente Sistema Nacional de
Contas - SNA93, uma entidade que traduza os seus ganhos na
remuneração de dividendos é desfavorecida em impostos e em
poupança.

No quadro do sistema bancário tradicional, os bancos gerem


carteiras de títulos de clientes e cobram comissões sobre esses
ganhos; assim como gerem as próprias carteiras, os ganhos não
sendo neste caso explicitamente registados e portanto não visíveis
na contabilidade nacional, o que se traduz em prejuízo da receita
pública; a medida tradicional de produtividade de tais serviços
financeiros dependerá então da proporção relativa dos dois tipos de
carteiras, pelo que tal medida não tem objectividade.

No quadro do sistema de seguros, constata-se a prática de


pagamento de parte das indemnizações com os prémios cobrados,
ou seja, a utilização de parte das receitas de capital para a
liquidação de indemnizações; em princípio, os prémios cobrados
devem estar ajustados à expectativa de indemnizações no mesmo
período, ponderados os montantes segurados, os riscos envolvidos,
a receita do investimento dos prémios cobrados e o custo dos
serviços prestados; a desregulamentação e as práticas consentidas
não protegem os segurados e obscurecem as contas desse
importante sector financeiro. Conduzindo também ao prejuizo da
receita pública.

No que respeita a fundos de pensões, segundo o SNA93, a


imputação da contribuição da entidade empregadora, quando não
transferida oportunamente, é estimada na base das transferências
devidas no mesmo período; porém, quando a população activa
envelhece continuadamente (como acontece actualmente na
Europa) este critério gera uma estimativa desadequada por defeito
dos compromissos reais assumidos; isto é, o actual volume de
pagamento de pensões, por fundos que não são oportunamente
transferidos, será num futuro próximo excedido pelo volume dos
crescentes compromissos assumidos para com os trabalhadores que
estão ainda no activo.
[www.statistics.gov.uk/IAOSlondon2002/contributed_papers/IP_Ed
wards.asp].

Em resumo, as contas nacionais, as estimativas do PIB e o bem


estar material actual e futuro da sociedade aparecem fortemente
interligados mas, lamentavelmente, em mais do que aparente
contradição entre si.

Como em Portugal?

Em Portugal, a produtividade e a competitividade têm sido


argumentos no discurso político do governo e do patronato.
Procuram, um e outro, estabelecer a sequência lógica
competitividade - produtividade - salário, como se houvesse uma
simples relação causa-efeito na esfera tão complexa da produção
económica.

A produtividade pode aumentar sem correspondente aumento da


competitividade e a competitividade pode aumentar sem que haja
aumento da produtividade. A competitividade de um produto é
determinada por numerosos factores, de que o preço não é o mais
importante, e o preço não é só determinado pelo custo do factor
trabalho, obviamente.

A diferença de produtividade aferida é muito grande de empresa


para empresa nacional ou estrangeira operando em Portugal
(Revista Exame, Abril 2002), muito embora a legislação laboral e os
trabalhadores sejam culturalmente os mesmos. A baixa
produtividade nem é geral nem uma necessidade, como também
não é uma consequência da legislação laboral
[www.msst.gov.pt/forum/show.php?fid=5&id=193].

Como é reconhecido mais geralmente noutros países, o principal


condicionante do factor trabalho para a produtividade é a
qualificação, pois que a qualificação condiciona a qualidade do
trabalho vivo posto no produto. Infelizmente os indicadores
comprovam que a força de trabalho portuguesa é a menos
qualificada na União Europeia. E que é também em Portugal que se
verifica menor incorporação de investigação científica e
desenvolvimento tecnológico na produção. Por uma e outra razão, e
pelo insuficiente ritmo de aperfeiçoamento destes indicadores, o
nosso país é o mais mal colocado no Painel da Inovação 2001
[http://europa.eu.int/comm/barcelona_council/1414_pt.pdf].

A motivação dos trabalhadores certamente contribui para a


produtividade. Essa motivação é determinada por várias condições,
nomeadamente o salário. A remuneração do salário é aliás um
incentivo económico porque promove a procura de bens e serviços
pelo próprio trabalhador. Outros incentivos económicos, como os
incentivos à exportação, são mais problemáticos ou arriscados, por
dependerem também de vários outras condições que não são
controláveis.

O governo português procura de novo, agora furiosamente, desviar


os fluxos financeiros da segurança social para a recuperação da
especulação bolsista, para beneficiar os grupos económico-
financeiros constituídos, senão mesmo para a salvação da própria
bolsa. As receitas da segurança social, regime geral, tem
consistentemente excedido as despesas respectivas (prestações); o
Fundo de Estabilização Social, gerido pelo Instituto de Gestão
Financeira da Segurança Social, alimentado com os respectivos
saldos, ascende a mais de 4 mil milhões de Euro, não obstante as
dívidas da parte do Estado (9,5 mil milhões Euro) e das empresas
(2,1 mil milhões Euro). Pelo contrário, o Instituto de Seguros de
Portugal afirmava "o mercado de fundos de pensões continuava no
ano de 2000 numa fase algo estacionária (…) a ausência de
reformas estruturais dos sistema públicos de repartição e as
evoluções desfavoráveis dos mercados accionistas marcaram o ano
de 2000" para preconizar "as reformas (…) serão decisivas para a
renovação do mercado português de fundos de pensões". E todavia,
nesse ano, os fundos de pensões geridos pelas companhias
seguradoras ascendiam já a 13,7 mil milhões de Euro! A voracidade
do capital é inesgotável e a sua instabilidade contribui para
aumentar essa voracidade. A aplicação na bolsa de uma pequena
parcela do Fundo de Estabilização já se traduziu em perdas; e a
transferência pelo Estado para esse Fundo de títulos da Portugal
Telecom, em vez de dinheiro fresco, também já se traduziu em
perdas adicionais [http://ilhamaior.no.sapo.pt/analise/PARTE
%20II.htm]. Parece evidente a aliança entre o governo e o capital
financeiro em Portugal também. E é patente a sua teimosia em
procurar "salvar" a bolsa de valores da sua insanável crise, à custa
das remunerações, poupanças e pensões das classes trabalhadoras.

Só podemos prever o pior da eventual privatização da segurança


social e, em particular, da eventual entrega do Fundo de
Estabilização. Mas o apetite do capital financeiro e a intenção
política do governo querem entregar por inteiro a gestão desse
Fundo à banca privada, podendo ser utilizado para alimentar a
especulação bolsista e, ainda por cima, devendo essa "gestão" ser
remunerada pelo Estado!

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