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Apresentação
No momento que estamos vivendo, muitos procuram angustiados os caminhos da
oração e põem em questão toda e qualquer fórmula pré-estabelecida. Não há dúvida de
que, neste terreno, já abusamos em demasia do formulismo, mas não se pode negar a
aptidão da Palavra Sagrada para carregar a mente em sua subida a Deus. Para isto existe
na Bíblia o Livro dos Salmos, ou, mais propriamente, o Livro de Orações, segundo o
título hebraico. É o livro de orações por excelência.
A finalidade deste Livrinho Eletrônico não é tornar conhecidas algumas oraçãos
antigas. Os salmos são para nós orações perenes, válidas também hoje. Neles
encontramos as mesmas alegrias e tristezas, angústias e apreensões, certezas e dúvidas.
Todas as experiências mais profundas da história dos homens encontram neles forte
ressonância. Ao rezar os salmos entramos no grande movimento acionado por Deus no
coração dos homens, em busca da Paz. “A Paz é tudo que desejo!” (Sl 120).
Os salmos não pretendem ser a expressão mais perfeita, nem ter o monopólio da
oração. Constituem apenas um marco e uma fase no movimento secular da oração.
Contêm um período da caminhada consciente do homem em direção a Deus e em busca
da sua realização pessoal e coletiva. Como toda a caminhada, também os salmos são
condicionados pelas limitações próprias de quem ainda não atingiu plenamente o fim,
mas para ele tende.
Os salmos brotam de uma vida conscientizada pela revelação da presença de
Deus. É exatamente por isso que eles podem abrir novos horizontes, e levar a viver
nossa própria vida em uma profundidade maior. Mais do que nos consolar ou
tranquilizar, os salmos nos questionam, nos desinstalam, nos enviam à procura das
respostas aos grandes apelos de Deus e dos homens.
Não estão aqui todos os Salmos, mas, apenas uma seleção deles, que possam
servir de inspiração e devoção. Sendo assim, esta seleção de salmos apresentada neste
Livrinho, visa, pura e simplesmente, favorecer sua leitura, oração e reflexão, de maneira
individual. Como sugestão, podem ser escolhidos aleatoriamente os salmos, na ordem
que se preferir, para priorizar os três momentos diários mais importantes da oração:
manhã, tarde e noite. Pela manhã, você tem um salmo para começar bem o seu dia. Ao
longo do dia, um outro salmo para reforçar a sua jornada. À noite, antes de se deitar,
mais um salmo para sua meditação.
No uso diário dos salmos como feitio de oração, você vai se deparar com muitas
coisas da vida: coisas para rir e para chorar.
Você já ficou alguma vez maravilhado diante da beleza de uma criança? Já teve
saudades? Já viu um pedreiro levantar uma parede? Ja teve medo de guerra? Já viu uma
vez uma criancinha dormir no colo da mãe?
Antes de você, alguém já viveu a vida e já viu e experimentou tudo isto e muito
mais ainda. Para ele, estas coisas da vida funcionaram como um despertador e ele se
lembrou de outra coisa. Lembrou-se de Alguém que é maior do que tudo isto e está na
raiz de tudo: Deus. Assim, para ele, a vida com tudo que ela tem de belo e triste, a
natureza com todas as suas belezas e ameaças, enfim, tudo que dá para rir e para chorar,
tornou-se transparente como vidro, revelando e lembrando o Deus amigo que apela e
questiona, anima e critica, sustenta e encoraja.
E, quase sem ele o saber, estas coisas da vida se lhe tornaram o material e o
assunto para uma conversa ao pé do ouvido com este Deus amigo. Assim nasceram os
salmos. Brotaram da vida com Deus.
Na oração dos salmos você vai poder ver e sentir um série de fotografias de
situações e acontecimentos, de belezas e amarguras, que você já conhece, pois são
coisas da vida. Aquele outro, o autor dos salmos, representando todo um povo no seu
caminhar pela existência, também as conheceu e para ele foram motivo de conversa
com Deus. Talvez elas possam ajudar você a encontrar na sua vida o motivo e o
material para uma conversa pessoal com o seu Deus.
E, se este Livrinho Eletrônico, com esta seleção cuidadosa de salmos, ajudar você,
durante algum tempo, a redescobrir o sentido profundo da oração, que é uma forma de
encontro e diálogo com Deus e se contribuir no esforço diário da conversão – terá ele
alcançado plenamente o seu objetivo. (LEC)
Chaves de Leitura
Este Livrinho com a seleção de Salmos pode exercer uma função importante em
nossa vida como manual de oração, porque:
Lumensana
Publicações Eletrônicas
2009
Salmo 1
Comentário
Sl 1. Salmo sapiencial, que apresenta a opção existencial entre dois destinos, nos
quais se resume a história da humanidade. O valor autêntico da vida humana que,
mesmo em ambiente ateu, reside na fidelidade a Deus, repercute na relação da
pessoa para com a comunidade e para com Deus. O tema desta breve meditação
exprime um princípio geral sobre um conflito que agita a história da humanidade
e a vida íntima de cada pessoa- o conflito entre o bem e o mal-. Da escolha que se
fará, depende o seu progresso e bem-estar.
Salmo 2
Comentário
Sl 2. Salmo da realeza com perspectiva messiânica, que celebra a entronização de
um rei da dinastia davídica, portadora da promessa divina, à qual está vinculada a
aliança de Deus com o povo eleito. Por ter o Messias relação de filiação com
Deus, seu reino, que transcende os limites do povo de Israel, terá que enfrentar
oposição sistemática, revolta geral e luta implacável das forças do mal, até
alcançar a vitória completa no juízo final.
Salmo 3
Comentário
Sl 3. Salmo de lamentação individual, em que predomina a confiança: enquanto os
inimigos, baseados na ausência de Deus, se animam a oprimir o indefeso, o
salmista confia na presença do Deus salvador, que atua em favor do indefeso que
o invoca.
Salmo 4
Comentário
Sl 4. Súplica, em que predomina a expressão de confiança. Em meio à dura
aflição o salmista dirige sua oração vespertina a Deus, confiado em sua ajuda, já
experimentada no passado. À base dessa convicção, admoesta os homens
influentes a não se deixarem enredar nas intrigas palacianas, mas a
reconsiderarem sua conduta e restaurarem sua confiança em Deus pela meditação
particular. O ceticismo dos amigos derrotistas contrasta com a paz interior do
salmista e sua confiança em Deus. Se sentirmos alguma felicidade, saibamos que
ela é dom de Deus e que temos obrigação de comunicá-la aos outros.
Salmo 5
Oração da manhã
Comentário
Sl 5. Súplica insistente, nos moldes da lamentação individual, dirigida a Deus
durante a oração matinal. Este salmo reflete o estado de ânimo de alguém que,
dominado pelo problema do mal que campeia livremente na sociedade, se refugia
na presença de Deus pela celebração da liturgia, a fim de amoldar sua oração e sua
vida às exigências da santidade divina e colaborar com Deus para o triunfo da
justiça e do amor contra toda a forma de corrupção. A verdadeira tranquilidade
consiste numa consciência que em nada nos acusa diante de Deus e dos outros.
Salmo 6
Oração de um penitente
Salmo 8
Comentário
Sl 8. Hino de louvor à magnificência do Deus Criador e à dignidade do homem,
da qual deriva o sentido e o valor de sua atividade. No silêncio da noite, o salmista
contempla as maravilhas do céu estrelado, cujo esplendor enche de admiração
almas inocentes, e de confusão homens agnósticos. Por ser imagem e semelhança
de Deus, o homem se situa acima das outras criaturas do universo, e é chamado a
participar do domínio de Deus sobre toda a criação. A visão clara das coisas à luz
de Deus limpa o olhar para poermos apreciar a beleza das noites de luas e de toda
a natureza.
Salmo 11
A confiança do justo
Comentário
Sl 11. Canto de confiança, em forma de diálogo dramático entre homens
pusilânimes, alarmados ante o perigo iminente, e o salmista, confiado na
providência de Deus. O confronto entre um e outros reflete a imagem do homem
de Deus: assediado e pressionado por mil perigos e contrariedades externas, ele
vive interiormente na paz de Deus. A alma do justo é um templo sagrado, morada
de Deus, onde se entra com recolhimento e oração, para obter proteção contra
perigos externos. A fuga não é solução. É preciso continuar na luta.
Salmo 12
Salmo 13
Lamentação do justo
Comentário
Sl 13. Lamentação individual, em momento de grande aflição, onde a ausência de
Deus é causa de grande angústia na alma atribulada. Mas na oração de confiança
se vislumbra um raio de esperança na ação salvífica de Deus. Quando Deus se
cala e nos abandona, é necessário acordá-lo, mostrando que, na nossa derrota, ele
também sai derrotado.
Salmo 14
Comentário
Sl 14. Lamentação coletiva sobre a corrupção geral na sociedade. Em forma
dramática o salmista expõe as conseqüências do ateísmo prático. Toda a negação
de Deus volta-se contra o bem espiritual e temporal do homem; e quando tal
negação se torna um fenômeno social, estão abalados até à base todo o progresso,
toda a civilização e a própria convivência entre os homens, porque o homem está
desorientado e não consegue reconhecer-se a si mesmo nem a sua dignidade e, por
conseguinte, a dignidade e o valor transcendente de seus semelhantes. E mesmo
que a maldade prevaleça na organização do mundo, a vitória final será do Bem.
Salmo 15
Comentário
Sl 15. Canto de entrada no templo, em forma de diálogo e com objetivo
catequético. As condições para a participação na liturgia e na comunhão com
Deus são de índole estritamente moral, sem referência a prescrições rituais. O
salmista enumera dez condições para a integridade da vida moral em sua
manifestação por palavra e por obra. Viver a amizade com Deus implica o nosso
relacionamento com o próximo.
Salmo 19
Comentário
Sl 19. Este salmo é constituído de duas composições poeticamente distintas, com
uma idéia central que as unifica: a ordem da natureza, representada pelo sol, e a
ordem da palavra de Deus, representada pela lei divina, unidas pelo mesmo
objetivo de renderem louvor a Deus, Criador e Legislador. O hino ao Criador (2-
7) mostra a harmonia do universo que, obedecendo a uma inteligência superior,
manifesta, em linguagem paradoxal, uma silenciosa teofania. O raiar do sol num
dia festivo é uma das coisas mais lindas da vida. Deus quer ser este sol na vida do
homem. O poema didático (8-15) faz um panegírico da Lei, que é um reflexo da
sabedoria e santidade divinas e o espelho em que deve refletir-se a alma israelita,
para reconhecer sua imperfeição e dependência de Deus. Como resposta ao
silencioso discurso da natureza e à palavra de Deus na Lei, o homem dirige sua
oração a Deus, único apoio e segura garantia para o homem, ansioso de viver em
união com ele. Esta união está explicada e traçada na Lei de Deus, que não
oprime, mas liberta.
Salmo 23
O bom pastor
Comentário
Sl 23. Salmo de confiança, que exprime a experiência pessoal de segurança e
acolhimento do salmista em sua relação com Deus. As imagens do pastor, solícito
pelo sustento e pela proteção do rebanho, e do anfitrião, generoso no acolhimento
do hóspede, encontram sua aplicação no relacionamento de Deus com os homens
e têm sua atualização na liturgia, que celebra a solicitude do Bom Pastor para com
os fiéis e a participação na mesa do banquete sagrado. A intensa experiência
converte-se em esperança e desejo para toda a vida. Quem caminha assim, não
sente falta de nada, apesar dos vales e depressões da vida.
Salmo 24
Comentário
Sl 24. Hino de procissão, na solenidade da entronização da arca da aliança no
templo. A profissão de fé em Deus, cuja soberania absoluta impõe a todos os
homens o dever de reconhecê-lo, implica em atitudes concretas de integridade e
de pureza moral, em consonância com a santidade divina. Tais disposições
religiosas se impõem aos fiéis, para participarem da liturgia no templo, onde se
evoca e atualiza a aliança de Deus com o povo eleito. E o caminho para a
felicidade a ser encontrada em Deus é uma vida honesta e sincera.
Salmo 25
Comentário
Sl 25. Salmo alfabético, constituído de sentenças, em forma de considerações
morais, e de súplicas, unidas entre si pela seqüência alfabética. Os versos extraem
da tradição sapiencial de Israel reflexões sobre a misericórdia divina, que se
manifesta na relação de Deus com os fiéis do povo eleito. A parte final do salmo
renova, com maior insistência do que na parte inicial, a súplica de perdão dos
próprios pecados e de proteção divina em situação pessoal de grave perigo. Em
tudo que fazemos, a grande preocupação deve ser descobrir o caminho por onde
Deus quer nos guiar.
Salmo 27
Comentário
Sl 27. Salmo de vigília, composto de duas partes, que correspondem a dois
estados de ânimo: a primeira é um canto de confiança (1-6), que reflete uma
atmosfera de serenidade e de luz sobrenatural. O salmista, recolhido em
meditação e oração no templo, experimenta a alegria da união com Deus e
encontra a segurança, graças à proteção recebida, pela qual ele fará uma ação de
graças na celebração da liturgia. A força que nos deve animar em todos os
momentos é a nossa fé em Deus. A segunda parte (7-14) é uma súplica, formulada
em termos de lamentação, dirigida ao Deus da salvação que, por sua bondade,
intervirá em favor de todos os fiéis à aliança divina na Terra Prometida. A vida
não termina no fim de um dia, mas continuará como busca constante da presença
de Deus.
Salmo 32
Comentário
Sl 32. Salmo penitencial, de cunho didático, que expressa a felicidade do pecador
arrependido que obtém a amizade com Deus pela confissão de seus pecados. Este
salmo, proclamando a misericórdia de Deus, que nos salva sem mérito algum de
nossa parte, ensina que devemos recorrer à fonte da graça, humilhando-nos diante
de Deus, na penitência e na confissão dos pecados. Somente Deus pode cancelar o
pecado, mas o homem deve colaborar para obter tal remissão. A experiência do
perdão torna-se fonte de paz e alegria para o penitente; para os pecadores, um
apelo para a conversão, que oriente a vida segundo o ensinamento de Deus. Se
Deus for realmente o nosso amigo, podemos procurar junto a ele a paz da
consciência. A Lei de Deus exige obediência livre e não permite uma submissão
servil, própria de animais.
Salmo 33
Comentário
Sl 33. Hino litúrgico ao Deus Criador, providente e salvador. Após convite
introdutório para louvar a Deus, seguem os motivos do louvor, o tema da
confiança e uma breve súplica final. Motivos de especial louvor a Deus: sua
palavra, ação, justiça, misericórdia, sua onipotência criadora e sua providência, a
eleição de Israel e sua proteção no perigo. Este hino de louvor a Deus, Senhor da
criação e da história, contém revelações que tocam o coração do homem. Louvar a
Deus e saber porque o louva caracteriza o homem inteligente. É sinal de
esperança.
Salmo 34
Comentário
Sl 34. Poema didático, que reúne, em seqüência alfabética, uma série de breves
sentenças sobre a proteção divina. O salmista utiliza o canto individual de ação de
graças, para formular a experiência espiritual de quem vive sob a proteção divina
e se empenha na prática do bem. Quem encontrar na sua vida esta paz, sente a
necessidade de comunicar algo da sua felicidade aos amigos.
Salmo 36
Comentário
Sl 36. Salmo de meditação sobre o mistério do pecado, personificado como força
interior que pronuncia seus oráculos contra Deus. Obstinado no mau caminho e
entregue ao poder do mal, o ímpio é um rebelde contra Deus, é um traidor e
criminoso contra o próximo. Opõe-se-lhe o mistério da graça e da justiça de Deus,
que transcende qualquer limitação. Deus está presente no templo para repartir seus
benefícios ao homem nos símbolos litúrgicos e na oração pessoal. A súplica final
invoca a justiça e a misericórdia divinas, para que os fiéis, defendidos contra as
insídias do poder do mal, cresçam no conhecimento do mistério da graça. A vida
não permite que nos acomodemos, pois teremos de optar sempre entre o bem e o
mal.
Salmo 41
Oração na doença
Comentário
Sl 41. Salmo de lamentação que expressa a situação do enfermo em grave perigo
de vida. Na súplica pela cura, o doente reconhece seu próprio pecado e a justiça
de Deus em puni-lo. A misericórdia divina é o conforto de quem a ele se entrega
com confiança nos momentos mais tenebrosos da vida, quando, em meio ao
sofrimento, o invadem a tristeza, a solidão e o desamparo. Quem reza, não precisa
procurar palavras bonitas. Pode desabafar e falar como pensa. Deus quer
sinceridade.
Salmo 42
Comentário
Sl 42. Salmo de lamentação individual, que forma uma unidade com o salmo
seguinte. Desterrado, com a alma aflita e atormentada por causa das invectivas
dos pagãos, o salmista recorda, com profunda nostalgia do santo templo, as horas
felizes na presença de Deus, durante as celebrações litúrgicas. O refrão, qual raio
de luz divina, reaviva a fé e o salmista reanimado exorta-se a ter confiança em
Deus. Saudades e tristezas devem ser motivo para uma busca mais intensa de
Deus.
Salmo 43
Comentário
Sl 43. Continuação do salmo precedente. Começa com um pedido genérico de
libertação, seguido de ardente súplica para que Deus, na luz de sua verdade,
reconduza o salmista do desterro à sua pátria, onde na liturgia do templo poderá
agradecer a Deus por tê-lo trazido à sua presença. A verdade se encontra em Deus.
Salmo 44
Comentário
Sl 44. Canto de lamentação coletiva, dividido em três partes: hino que celebra as
gloriosas façanhas do Senhor em favor de seu povo (2-9); lamentação coletiva
pela situação deprimente da nação, que atravessa uma crise em conseqüência de
derrota militar (10-17); súplica, em forma de protesto pela derrota do povo, não
obstante a fidelidade de Israel à aliança. Às vezes parece que Deus nos abandona.
Tenhamos a coragem de cobrar dele o compromisso que assumiu conosco.
Salmo 46
Comentário
Sl 46. Este cântico de Sião celebra, com sentimentos de júbilo e confiança, a
presença de Deus em meio ao seu povo. Destacando a fé inabalável em Deus e em
sua solicitude pela nação, que ele salva do poder de inimigo implacável, conclui
com o convite a reconhecer os grandes feitos do Senhor em favor de Israel. A
oração deste salmo, robustecendo em nós a certeza da presença de Deus em nosso
meio, quer evitar compromissos e alianças equívocas, que nos possam desviar do
caminho da salvação. A segurança e a coragem de viver nascem da certeza de que
Deus está conosco com o seu poder e fidelidade.
Salmo 49
Comentário
Sl 49. Salmo sapiencial, que medita sobre a sorte de ricos e pobres, opressores e
oprimidos, à luz de seu destino, a morte. O salmo apresenta o fato da morte, à qual
se encaminham todos os homens; questiona o sentido dos bens terrenos, da
prosperidade e do bem-estar em relação ao fim último do homem; e expõe a
doutrina da retribuição das ações humanas. A solução do enigma da condição
humana se vislumbra no v. 16, no qual refulge a esperança de vida e recompensa
futura para o justo, embora sem especificar-se o sentido de tal recompensa. A
meditação desse salmo, quando acompanhada de atitudes concretas em relação a
Deus e ao próximo, levará à experiência religiosa da salvação. O pensamento da
morte nos preserva da presunção e nos dá maior consciência da relatividade do
nosso esforço.
Salmo 50
O verdadeiro culto
Comenmtário
Sl 50. Este salmo didático, em forma de discussão judicial entre Deus e seu povo,
destina-se a uma ocasião litúrgica e contém uma violenta crítica contra o
formalismo do culto judaico e a infração da lei divina. Deus não atua como juiz,
no sentido humano, mas como parceiro que persuade seu povo a confrontar sua
conduta com as exigências da aliança, tomando por norma o decálogo. O culto
externo prestado a Deus só terá valor, quando acompanhado de sentimentos
religiosos internos: de compunção e de fidelidade à lei divina em relação aos
direitos de Deus e do próximo. Tal visão do culto, embora sem rechaçar os
sacrifícios cruentos, nega-lhes o valor mágico para aplacar a Deus. O salmista
recomenda a confissão das ingratidões pelos benefícios passados, como
manifestação religiosa mais íntima e agradável ao Altíssimo. Somos tentados a
esconder-nos atrás de ritos e práticas. Deus, porém, quer sinceridade em tudo que
fazemos.
Salmo 51
Comentário
Sl 51. Salmo penitencial, em forma de canto de lamentação individual, estruturado
em duas partes: reino do pecado (3-11) e reino da graça (12-19). Após breve
invocação da misericórdia divina, segue-se a confissão formal do pecado, como
ato pessoal de ofensa a Deus, não como mera violação de uma ordem abstrata. A
consciência do pecado pessoal e da condição pecaminosa congênita da natureza
humana é um dom da revelação divina, infundida no coração humano. A
consciência da própria culpa e a confissão da ofensa pessoal evocam, pela
purificação e reconciliação, a alegria espiritual. O reino da graça, que transforma
o homem justificado em nova criação pelo tríplice espírito- resoluto, santo e
generoso- motiva o penitente justificado a levar a reconciliação aos outros, como
mediador entre Deus e os homens. Após a absolvição da pena capital, merecida
pelo pecado, o homem reconciliado responde com hinos de ação de graças. Uma
adição final (20-21), referente ao tempo do exílio, almeja a restauração do culto
solene em Jerusalém, uma vez que o povo já está purificado. Os versos deste
salmo, quais degraus de escada que leva ao alto, conduzem do lodaçal do pecado
para uma atmosfera espiritual e divina, onde o pecador vive naquele mundo novo,
que Deus cria em torno dele. Cônscio de sua fragilidade, o homem apela a Deus
que, na sua sabedoria, dispõe de meios para superá-la. Errar é humano, mas o
perdão é possível, perdão que nasce do reconhecimento da culpa diante de Deus.
Salmo 58
Comentário
Sl 58. Salmo de denúncia, em estilo vigoroso e tom profético, contra juízes
iníquos. Da descrição genérica, em termos de abuso de poder para fins injustos,
passa à descrição específica de seus ardis sem escrúpulos morais ou religiosos e
de suas obras perniciosas, conseqüência de perversão congênita, contagiosa e
incurável. O homem de fé não pode ficar indiferente a tal perversidade; por isso
pronuncia uma série de imprecações contra esses juízes. Seu castigo e
aniquilamento, uma vindicação da justiça divina, libertará o justo oprimido. Não é
o prazer da vingança, nem a complacência no sofrimento alheio que levam o
salmista a pedir o castigo dos ímpios, mas o zelo pelo triunfo da justiça, como
manifestação da existência de Deus, que pune o ímpio por suas maldades e
recompensa o justo por suas boas obras. Deixemos a Deus o julgamento dos
outros, mas convém pedir com insistência a vinda deste julgamento.
Salmo 63
Comentário
Sl 63. Salmo de vigília, em forma de lamentação individual. Os sentimentos
intensos, expressos em tom de intimidade, refletem a profundidade de uma alma
religiosa que encontra sua única felicidade na comunicação afetiva com Deus no
templo. A expectativa da participação na ação litúrgica do louvor divino e do
banquete sagrado suscita nela intensa alegria pela intimidade com Deus, a ponto
de esquecer os próprios inimigos, pessoais ou estatais. Transpomos com
segurança a noie da crise e da insegurança, agarrados a Deus que alegra a nossa
vida.
Salmo 67
Comentário
Sl 67. Salmo para obter a bênção divina, comentando e ampliando a fórmula da
bênção sacerdotal (Nm 6,24-27). A fecundidade terrestre é símbolo e penhor da
bênção espiritual no tempo messiânico. O tema da ação de graças após a colheita
é ampliado pela súplica para que, por essa bênção em favor de Israel, todas as
nações reconheçam a glória de Deus e, convertendo-se, lhe rendam louvor. Se
Deus abençoar nosso trabalho, nossos esforços hão de produzir frutos
abundantes.
Salmo 72
O reino messiânico
Ó Deus, concede ao rei teu direito,
tua justiça a este filho de rei,
para que ele governe teu povo com justiça,
e segundo o direito teus humildes!
Proporcionem as montanhas e colinas
paz ao povo, mediante a justiça!
Tome ele a defesa dos humildes do povo,
salvando os filhos dos pobres
e esmagando o opressor,
para que sejas reverenciado, enquanto durar o sol
e permanecer a lua, de geração em geração!
Seja ele como o cair da chuva sobre a relva,
ou da garoa que umedece a terra,
para que, em seus dias, floresça o justo
em plena paz, até não haver mais lua!
Domine ele, de mar a mar,
desde o rio até os confins da terra!
Os habitantes do deserto se curvem diante dele,
e os inimigos lambam o pó!
Os reis de Társis e das ilhas
lhe enviem presentes,
os reis de Sabá e Seba
lhe paguem tributo,
todos os reis se prostrem diante dele,
e o sirvam todas as nações!
Ele libertará o pobre que pede auxílio,
e o desvalido, privado de ajuda.
Ele terá compaixão do miserável e do pobre
e salvará a vida dos indigentes.
Da opressão e da violência lhes resgatará a vida
e o sangue, que é precioso a seus olhos.
Que ele viva, e lhe tragam ouro de Sabá!
Intercedam por ele, sem cessar,
e o bendigam, todo dia!
Haja, no país, trigo em abundância
ondulando até os cumes dos montes,
como a vegetação do Líbano;
vicejem os cidadãos como a erva do campo!
Que seu nome seja eterno,
e sua fama se propague diante do sol,
para que nele sejam abençoadas
todas as nações que o bendizem!
Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel,
o único que opera maravilhas!
Bendito seja para sempre seu nome glorioso!
Que toda a terra seja repleta de sua glória!
Amém! Amém!
Comentário
Sl 72. Salmo da realeza, augurando ao novo rei, no dia de sua entronização,
justiça perfeita e paz imperturbável, êxito nas campanhas militares, especial
solicitude pelos indefesos e muita prosperidade, da qual se beneficiarão todos os
povos da terra. A doxologia final, acrescentada ao salmo, transcende a descrição
da realeza com a visão da majestade e do poder de Deus. Esse salmo celebra as
maravilhas da graça que o Senhor, por meio de seu Espírito, realiza no homem. A
esperança é a última que morre. Jamais podemos duvidar da vitória do bem e da
paz sobre a guerra e desunião.
Salmo 73
Comentário
Sl 73. Salmo sapiencial, baseado na experiência pessoal, sobre o problema do
bem-estar e da impunidade dos ímpios, em contraste com os infortúnios dos
justos, e sobre a certeza da retribuição nesta vida e a fonte da verdadeira
felicidade. Este salmo constitui o ponto culminante dos conhecimentos de Israel
sobre a vida após a morte, por transcender a situação contingente do homem e
superar a visão da recompensa terrena, ao fixar o olhar na união com Deus, que
desde já constitui o único e sumo bem e será nosso quinhão para toda a
eternidade. A realidade é diferente do ideal da fé e provoca crise, que deve ser
superada pela busca constante de Deus.
Salmo 81
Comentário
Sl 81. Salmo litúrgico composto de um invitatório, em forma de hino, convidando
o povo a celebrar piedosamente uma festa instituída por Deus (2-6b), e de um orá
culo (6c-17), em que o profeta lembra em nome de Deus o fato fundamental da
redenção, o êxodo e, sobretudo, a lei que prescreve a adoração do Deus único. À
acusação de transgressões contra a lei divina segue o anúncio do castigo:
abandonado por Deus, o povo fará a triste e amarga experiência de seus desvarios.
Mas a misericórdia divina, sobrepondo-se à injustiça do povo, convida-o à
conversão, para receber as bênçãos anexas ao fiel cumprimento da aliança. O
grande perigo é colocar sua esperança num apoio fictício e trocar Deus pelos
ídolos da vida moderna.
Salmo 82
Salmo 84
Salmo 85
Comentário
Sl 85. Lamentação coletiva, que reflete a situação de desânimo dos repatriados e
procura infundir-lhes novo ânimo, pedindo a Deus que complete a obra de
libertação de Israel, sepultando seu passado pecaminoso e proporcionando-lhe um
futuro mais esperançoso. Ao lamento do povo responde o oráculo divino,
trazendo-lhe uma mensagem de fidelidade e justiça que enlaçam o céu e a terra
em perfeita harmonia. Sobre a terra da humanidade, reconciliada com Deus,
descerão as bênçãos divinas, como em inúmeras ocasiões de sua história. Justiça e
Paz devem ser o critério e o objetivo dos nossos esforços. Deus está
comprometido conosco nesta luta.
Salmo 90
Comentário
Sl 90. Este salmo de lamentação coletiva, em forma de meditação sobre a
brevidade da existência humana e o sentido da vida, prima pela profundidade dos
conceitos e pela força incisiva das imagens e expressões. O salmista exalta a
eternidade de Deus, que contrasta com a fugaz existência humana. A causa de tão
mísera caducidade reside no pecado, que atrai sobre o homem a ira de Deus. Estas
considerações suscitam a oração de súplica: a caducidade refugia-se no Infinito;
caminhando para a morte, recorre à fonte da vida; oprimida pelo trabalho, invoca
a bênção do alto. Esta súplica tem caráter comunitário pela invocação da
benevolência de Deus, para que abençoe e confirme o trabalho cotidiano dos que
procuram sair da difícil situação econômica, resultante da prostração nacional. A
vida passa e passa rapidamente.
Salmo 91
Comentário
Sl 91. Salmo de confiança, que pela palavra do sacerdote exorta um asilado no
templo a confiar na proteção de Deus. No oráculo, Deus fala pessoalmente, para
ressaltar que a divina providência, embora não preserve o justo de morrer de fome
ou peste ou na guerra, nem o ponha ao abrigo das desgraças da vida, vela todavia,
com solicitude paternal, por quem nela confia e o salvará.
Salmo 92
Comentário
Sl 92. Hino de ação de graças, com temas sapienciais. São motivo de admiração e
de louvor a grandeza das obras divinas e a profunda sabedoria pela qual o Senhor
governa o mundo. Os homens insensatos, pelo contrário, não entendem tais coisas
porque andam iludidos com a efêmera prosperidade dos ímpios, aos quais aguarda
a ruína perpétua. Aos justos, porém, Deus dá saúde, força e vigor, alegria, vitória
sobre os inimigos, prosperidade e vida fecunda, para que por meio desses favores
sejam exaltadas sua bondade e justiça. A vida na presença de Deus é perene
juventude e ambiente propício para uma admirável fecundidade espiritual.
Salmo 95
Comentário
Sl 95. Salmo litúrgico para o rito de entrada dos fiéis no templo. Compõe-se de
duas partes: um hino que ressalta três motivos para louvar a Deus: seu domínio
absoluto, sua transcendência criadora e sua aliança com o povo eleito (1-7); um
oráculo divino sobre a incredulidade e indocilidade dos israelitas, visando a
despertar na assembléia dos fiéis atitudes de fé e docilidade à voz de Deus. O
homem deve escutar o que Deus lhe tem a dizer. Deus fala através da vida.
Salmo 97
Comentário
Sl 97. Hino à realeza universal de Deus, descrita em termos de teofania
escatológica, que fazem lembrar a aparição divina no monte Sinai e outras da
história de Israel. Ao relatar as manifestações divinas do passado, o salmista
insinua que a aparição final há de resumir e atualizar todas as precedentes, por
constituir o ato culminante de toda a história sagrada: a entronização de Deus no
universo. Diante dele ninguém poderá resistir. O universo inteiro, com suas forças
misteriosas, está em suas mãos: Ele é mais forte que o universo. A luta do Rei
divino nos últimos tempos será a síntese e o epílogo de todas as lutas travadas
pela causa de Deus na história de Israel: o poder de Deus, que virá para julgar a
força do mal neste mundo, subverterá todas as coisas. A coragem de viver vem da
certeza de que o nosso Deus domina tudo e que a sua presença nos acompanha.
Salmo 101
O rei exemplar
Comentário
Sl 101. Salmo da realeza, em forma de juramento prestado pelo rei na cerimônia
de sua entronização. Os compromissos formulados neste salmo são fruto da
meditação da lei divina e da sabedoria inspirada por Deus aos sábios de Israel e
representam o ideal que deve inspirar a conduta moral de um bom chefe de
governo. O rei era considerado o representante de Deus entre o povo de Israel:
devia portanto refletir, de certo modo, a santidade de Deus diante de seus súditos e
em nome de Deus administrar a justiça com integridade, sem respeito humano e
sem violência, para não induzir os homens a blasfemar o nome de Deus. É
necessário prever e planejar a vida e ter a coragem de assumir este compromisso
de vida diante de Deus.
Salmo 103
Comentário
Sl 103. Hino de ação de graças à misericórdia divina, indulgente e compreensiva
com o pecador. As exigências da misericórdia de Deus sobrepõem-se às de sua
justiça, e por isso o coração arrependido sempre encontra o perdão da parte de
Deus, que conhece a fragilidade da natureza humana. Não é um juiz implacável,
mas um pai benévolo para com seus filhos. Este maravilhoso hino de gratidão tem
um grandioso final, no qual são convidados a unir sua voz à do salmista os anjos,
mensageiros de Deus misericordioso, e todas as criaturas, manifestação sensível
da divina misericórdia. No fim de todas as situações da vida, sempre cabe uma
palavra de agradecimento a Deus.
Salmo 115
Comentário
Sl 115. Salmo litúrgico de profissão de fé no verdadeiro Deus. É ressaltada a
infinita distância entre o Deus de Israel, Criador do universo, e os ídolos pagãos,
fabricados por mãos humanas. Diante do Deus vivo, torna-se manifesta a
inanidade desses ídolos, que não passam de representações das forças da natureza
ou das paixões humanas ou das potências demoníacas. Ao venerar esses falsos
deuses, o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, renega seu Senhor,
origem e razão última de sua existência; degrada-se, tornando-se escravo daquilo
que ele deveria dominar. Israel tem motivo ainda mais forte para condenar os
ídolos pagãos, por ser consagrado a Deus, que lhe proibiu fabricar imagens de
qualquer espécie e o segregou dos outros povos para defendê-lo da contaminação
da idolatria. Ao ato de fé segue um ato de confiança e Deus, por seus sacerdotes,
responde com sua bênção, cuja eficácia se estende ao universo inteiro. A escolha
entre Deus e os ídolos não se faz de uma vez para sempre, mas deve ser renovada
cada dia.
Salmo 116
Amo o Senhor ,
porque ele escuta minha voz suplicante.
Porque me presta ouvido,
em meus dias o invocarei.
Envolviam-me os laços da morte
e as angústias do abismo;
experimentei tristeza e aflições.
Invoquei o nome do Senhor :
“Ah! Senhor , salva minha alma!”
O Senhor é benigno e justo,
nosso Deus é compassivo.
O Senhor vela sobre a gente simples;
eu era fraco, e ele me salvou.
Volta, ó minha alma, à serenidade,
porque o Senhor foi bom para contigo.
Livraste da morte minha alma;
das lágrimas, meus olhos;
e meus pés, da queda.
Caminharei na presença do Senhor ,
na região dos viventes.
Eu permanecia confiante, mesmo quando dizia:
“Sou muito infeliz”.
Perplexo, eu dizia:
“Todos os homens são mentirosos”.
Como pagarei ao Senhor
todo o bem que me fez?
Elevarei o cálice da salvação
e invocarei o nome do Senhor .
Cumprirei meus votos diante do Senhor
na presença de todo o povo.
É dolorosa aos olhos do Senhor
a morte de seus fiéis.
Porque sou teu servo, Senhor
– teu servo, filho de tua serva –,
rompeste meus grilhões.
Oferecer-te-ei um sacrifício de ação de graças,
invocando o nome do Senhor .
Cumprirei meus votos diante do Senhor
na presença de todo o povo,
nos átrios da casa do Senhor ,
em teu centro, Jerusalém.
Aleluia!
Comentário
Sl 116. Canto de ação de graças pela salvação, após iminente perigo de vida em
grave enfermidade. A comovente expressão de ação de graças pela cura e a
descrição da experiência pessoal de salvação denotam profunda intimidade e
comunicação afetiva com Deus. A alma agradecida desdobra-se em generosidade,
nos vários ritos de ação de graças: invocação e louvor de Deus, cumprimento dos
votos, testemunho público diante da assembléia, libação e um sacrifício de ação
de graças.
Salmo 117
Comentário
Sl 117. Brevíssimo hino de louvor a Deus. A perspectiva é nitidamente
messiânica: o salmista, em nome da comunidade dos fiéis, convida todas as
nações a se associarem ao louvor do Senhor, único Deus verdadeiro, por ter
manifestado lealdade e fidelidade em sua aliança com o povo eleito. Para quem
encontrou Deus na vida, a natureza inteira parece transformar-se num hino de
louvor ao Criador.
Salmo 119
Comentário
Sl 119. Este longo salmo sapiencial tece intermináveis elogios à lei divina, revelada
como norma de vida, no relacionamento do homem com Deus e com o próximo. O
salmista quer expressar, em todas as circunstâncias da vida, desde o início até o fim, seu
amor e acatamento à lei divina, porque nela encontra o bem supremo, luz, alegria e
conforto nas perseguições e no sofrimento. Leis, mandamentos, preceitos, decretos,
prescrições, sentenças, promessas e palavras. esses termos exprimem aquele aspecto da
palavra de Deus que traz exigências concretas para a vivência da fé e se constitui em lei
permanente para o povo eleito. De seu acatamento depende a eficácia da aliança divina,
que se manifesta pelo cumprimento das promessas de Deus, feitas a Israel. No tempo
em que Israel perdeu sua soberania política, especialmente quando não havia acesso à
liturgia no templo, a piedade dos israelitas, para entrar em contato com Deus,
concentrava-se no estudo da Lei e aplicava-se à meditação. A Palavra e a Lei de Deus
devem ser o critério que orienta no trabalho em direção à felicidade.
Salmo 120
Comentário
Sl 120. É o primeiro dos cânticos de peregrinação, recitados pelos peregrinos em
viagem à Cidade Santa, por ocasião das grandes celebrações anuais da liturgia
israelita. O salmista retrata, nos moldes de lamentação individual, a figura do
justo perseguido por causa de sua fé religiosa, quer habite no meio do povo de
Deus, povo infiel à aliança, quer se encontre longe da pátria, exposto ao ódio e à
calúnia da população pagã. Nem todos pensam como nós. Têm idéias diferentes.
Apesar disto, devemos continuar na construção da Paz verdadeira.
Salmo 121
Comentário
Sl 121. Com este salmo de confiança os peregrinos se despedem da Cidade Santa,
confirmados pelo oráculo de proteção divina. É importante saber que Deus vai
lado a lado conosco atrafvés da vida.
Salmo 122
Comentário
Sl 122. Neste cântico de Sião, entoado pelos peregrinos no momento da chegada a
Jerusalém, a saudação à Cidade Santa evoca sentimentos de alegria e admiração.
Jerusalém é o símbolo do nosso futuro. Fixando nele os olhos, teremos um ideal
na vida.
Salmo 123
Salmo de esperança
Comentário
Sl 123. Este salmo de lamentação coletiva reflete uma situação de prostração
geral, ou de toda a nação, por causa da exploração de inimigos externos, ou da
comunidade de fiéis, oprimidos pelos chefes prepotentes. A súplica é intensa,
cheia de expectativa e confiança. Nós dependemos de Deus. É firmando nele os
olhos que podemos caminhar com firmeza e enfrentar a vida.
Salmo 124
Comentário
Sl 124. Canto de ação de graças do povo pela intervenção salvífica de Deus em
circunstâncias de grave perigo para Israel como coletividade nacional. Por melhor
que seja a nossa situação, somos sempre como gente que acaba de escapar de um
grande desafio.
Salmo 125
Comentário
Sl 125. Canto de confiança com exortação profética à perseverança na fidelidade a
Deus nos difíceis tempos de dominação estrangeira. Quem encontrar Deus na vida
se torna inabalável e firme como as montanhas que não desmoronam.
Salmo 126
Comentário
Sl 126. Canto, em ritmo de elegia, manifestando a confiança coletiva do povo
repatriado, que exulta com o fim do exílio mas, ao mesmo tempo, sofre duras
provações e anseia pela restauração política e econômica da nação, como nos
tempos passados. A lembrança do passado, das coisas que Deus realizou, dá
coragem para semear na dor a fim de colher o futuro.
Salmo 127
A bênção de Deus dá prosperidade
Comentário
Sl 127. Salmo sapiencial, com duas sentenças de ensinamento moral dirigidas à
família recém-constituída, para prevenir que a excessiva ansiedade pelo trabalho a
faça prescindir da bênção divina: só Deus dá o êxito nos empreendimentos
humanos; os filhos são um dom de Deus e valiosa ajuda na velhice dos pais. Para
evitar qualquer neurose ou esgotamento nervoso, convém ter uma consciência
viva da relatividade das coisas.
Salmo 128
Comentário
Sl 128. Salmo sapiencial, que celebra a felicidade concedida aos homens de
integridade e devoção a Deus. A felicidade que Deus nos promete, só poderá ser
obtida como fruto do nosso próprio trabalho.
Salmo 130
Comentário
Sl 130. Lamentação individual, de conteúdo penitencial. Com sentimentos de
profunda humildade, o penitente reconhece seus pecados e implora o perdão de
Deus. Cada peregrinação significava também um caminho de purificação e
libertação interior. Os peregrinos, levando consigo o fardo de suas culpas, iam ao
encontro do Deus de misericórdia, para reconciliar-se espiritualmente com ele e
com a comunidade de fé e reencontrar-se pessoalmente no espírito da aliança
entre Deus e os homens. Quando, às vezes, sentimos o pedo da consciência,
devemos procurar a palavra amiga que nos liberta.
Salmo 131
Confiança filial
Comentário
Sl 131. Este cântico de confiança reflete o estado de ânimo de alguém que,
certamente não sem conflitos internos, se entrega com humildade e sem reserva à
providência divina. A maturidade diante de Deus é fruto de uma longa luta do
homem que soube encontar-se consigo mesmo.
Salmo 137
Comentário
Sl 137. Lamentação coletiva dos exilados na Babilônia. Este salmo é obra-prima
da lírica de todos os tempos: expressões profundas e pungentes da dor humana,
pranto amargo de quem perdeu o que lhe era mais caro ao coração, indignação
violenta contra os causadores de tanto sofrimento. É a expressão do drama de todo
um povo, erradicado de sua terra, pisoteado em seus afetos mais íntimos, aviltado
em sua honra por deportadores, que tripudiam sobre a desgraça deles, e insultado
no que tem de mais sagrado: os sentimentos íntimos de sua alma, apegada a Sião.
A lembrança da destruição de Jerusalém e da profanação do templo provoca
invectivas e imprecações contra os devastadores de Israel, buscando vingança na
mais terrível maldição. Saudades e ressentimentos podem causar insônias, mas
podem igualmente ajudar a descobrir os vedadeiros valores da vida.
Salmo 138
Cântico de agradecimento
Graças te darei, de todo o coração;
celebrar-te-ei perante os deuses.
Prostrado ante o santo templo,
darei graças a teu nome
por teu amor e tua fidelidade,
pois tuas promessas superam teu renome.
Quando te invoquei, tu me respondeste,
tornando-me afoito, com desejos audazes.
Graças te dêem, Senhor , todos os reis da terra,
quando ouvirem as promessas de tua boca!
Celebrem eles as sendas do Senhor:
“Grande é a glória do Senhor;
o Senhor é excelso, mas vê os humildes
e de longe reconhece o soberbo!”
Quando caminho entre perigos, tu me conservas a vida;
estendes a mão contra a fúria dos inimigos,
e tua destra me salva.
O Senhor irá até o fim em meu favor.
Senhor , tua misericórdia é eterna:
não abandones a obra de tuas mãos!
Comentário
Sl 138. Cântico de agradecimento, que o salmista entoa em nome do povo,
libertado do exílio babilônico. A liturgia de ação de graças, no templo
reconstruído, se reveste de singular solenidade pelo fato de o salmista relatar sua
experiência pessoal de salvação na presença de Deus e dos líderes do povo,
designados “deuses”. Como eles agora, pela libertação do povo israelita, têm
ocasião de testemunhar o poder de Deus, assim todos os reis da terra, ao verem o
cumprimento das antigas promessas, hão de reconhecê-lo como Deus único e
salvador. É necessário renovar e assumir cada dia o compromisso da nossa fé
diante de Deus.
Salmo 139
Comentário
Sl 139. Meditação sobre a onisciência divina, em forma de reflexão teológica,
amadurecida na vivência da fé, e desenvolvida com pensamentos profundos e
intuições poéticas. Deus, que conhece os segredos do homem, está presente em
toda a parte, e é inútil querer fugir de sua presença. Esse conhecimento íntimo
procede da própria ação criadora de Deus: o homem que quer entender algo da
misteriosa atividade criadora, encontra-se diante do mistério supremo: Deus.
Outro mistério insondável, a sensibilidade religiosa do salmista o encontra no
enigma da existência do mal e a aparente tolerância de Deus, suplicando por sua
orientação no reto uso da liberdade, no espírito da aliança. Vivendo a vida,
devemos ter os olhos abertos para a beleza e o mistério das coisas. Têm sempre
uma mensagem.
Salmo 142
Oração de um perseguido
Comentário
Sl 142. Lamentação individual, solidária com todos os que, oprimidos pela solidão
e abandonados a si mesmos nos momentos dolorosos da vida, se encontram em
situação desesperadora, para que busquem em Deus conforto e libertação. Os
justos, reconhecendo a intervenção salvífica de Deus, render-lhe-ão o tributo da
gratidão. Pode acontecer que fiquemos completamente abandonados por todos.
Deus jamais abandona.
Salmo 143
Súplica na aflição
Comentário
Sl 143. Salmo penitencial para a liturgia matinal, como vigília pela expectativa da
pronta manifestação da salvação divina. Pronunciada a invocação, o penitente
reconhece sua culpa e apela a Deus por seus atributos, manifestados na história de
Israel: sua fidelidade e sua justiça defensora do oprimido. No extremo da aflição,
a lembrança da ação de Deus na história reanima-lhe a confiança de que a liturgia
matinal será o momento propício para Deus lhe manifestar sua lealdade, já
demonstrada na aliança com o povo eleito. Considerar-se amigo de Deus, e tocar a
vida para frente, com coragem.
Salmo 146
Aleluia!
Louva, minha alma, o Senhor!
Louvarei o Senhor , enquanto eu viver,
cantarei a meu Deus, enquanto eu existir.
Não confieis nos príncipes,
no filho do homem, que não pode salvar!
Ao esvair-se seu alento, ele volta ao pó;
no mesmo dia seus planos se apagam.
Feliz a quem socorre o Deus de Jacó,
quem espera no Senhor seu Deus,
que fez o céu e a terra,
o mar e tudo quanto ele contém,
que guarda fidelidade para sempre,
que faz justiça aos oprimidos,
que dá o pão aos famintos!
O Senhor liberta os prisioneiros,
o Senhor abre os olhos aos cegos,
o Senhor soergue os combalidos,
o Senhor ama os justos,
o Senhor protege os forasteiros,
ampara o órfão e a viúva,
mas subverte o caminho dos ímpios.
O Senhor reinará eternamente;
teu Deus, ó Sião, de geração em geração.
Aleluia!
Comentário
Sl 146. Hino de ação de graças, cuja idéia central é a confiança em Deus, de quem
unicamente o homem obtém seguro auxílio. Ao recordar ao homem sua miséria e
impotência, o hino assume o tom de exortação à confiança em Deus, que se
revelou na história por sua providência salvadora. Deus mantém a sua palavra.
Nós devemos ser o reflexo deste sol, promovendo os irmãos e imitando Deus.
Salmo 147
Aleluia!
Cantar para nosso Deus é salutar:
agrada o louvor condigno.
O Senhor reconstrói Jerusalém,
reúne os deportados de Israel;
cura os corações atribulados
e pensa-lhes as feridas.
Ele conta o número das estrelas
e chama cada uma pelo nome.
Grande é nosso Senhor e muito poderoso;
é infinita sua inteligência.
O Senhor soergue os humildes,
mas rebaixa os ímpios até o chão.
Entoai ao Senhor ação de graças,
cantai ao nosso Deus com a cítara!
Ele cobre os céus de nuvens
e prepara a chuva para a terra;
faz brotar a erva sobre os montes,
dá o alimento ao gado
e aos filhotes do corvo que crocitam.
Ele não se compraz no vigor do cavalo,
nem dá valor às pernas do homem;
o Senhor aprecia aqueles que o temem,
os que confiam em sua misericórdia.
Glorifica o Senhor , Jerusalém!
Louva teu Deus, Sião!
pois ele reforçou as trancas de tuas portas
e abençoou teus filhos em teu meio.
Ele estabelece a paz em tuas fronteiras,
sacia-te com a flor do trigo.
Ele envia suas ordens à terra;
veloz, corre sua palavra.
Ele faz cair a neve como lã,
espalha a geada como cinza;
lança o granizo aos punhados:
diante das geadas quem pode resistir!
Ele envia sua palavra e as derrete;
faz soprar o vento, e correm as águas.
Ele proclamou a Jacó sua palavra,
a Israel suas prescrições e decretos.
A nenhuma outra nação tratou assim,
dando-lhe a conhecer seus decretos.
Aleluia!
Comentário
Sl 147. Hino de louvor a Deus pela restauração de Sião e pela demonstração de
sua onipotência como Criador e Soberano do mundo; ação de graças pelas
magníficas manifestações da Providência nas criaturas, pela paz e prosperidade da
nação e pelo maior benefício concedido ao povo eleito: a revelação da lei divina.
A ação de Deus na natureza suscita nos fiéis louvor e ação de graças, por estarem
a serviço da humanidade redimida. Temos uma obrigação de louvar este Deus que
devemos imitar se quisermos melhorar o mundo.
Salmo 148
Aleluia!
Louvai o Senhor , do alto dos céus,
louvai-o nas alturas!
Louvai-o vós todos, seus anjos,
louvai-os vós todos, seus exércitos!
Louvai-o, sol e lua,
louvai-o vós todas, estrelas brilhantes!
Louvai-o, espaços celestes,
e vós, águas que estais acima dos céus!
Louvem eles o nome do Senhor ,
porque ele mandou, e foram criados!
Ele os estabeleceu pelos séculos sem fim,
ao promulgar sua lei, que não passará.
Louvai o Senhor , da face da terra:
dragões e todos os oceanos,
fogo e granizo, neve e neblina;
vento tempestuoso, dócil à sua palavra;
montanhas e todas as colinas,
árvores frutíferas e todos os cedros;
feras e todos os animais domésticos,
répteis e pássaros a voar;
reis da terra e todos os povos,
príncipes e todos os chefes da terra;
jovens e também moças,
velhos e crianças!
Louvem eles o nome do Senhor ,
o único nome sublime!
Sua majestade, sobre a terra e o céu,
suscita o vigor de seu povo,
o louvor de todos os seus fiéis,
dos israelitas, do povo que lhe é próximo. Aleluia!
Comentário
Sl 148. Hino de louvor ao Criador, em coro uníssono das esferas celeste e
terrestre. O salmista associa ao júbilo do povo eleito toda a natureza, tanto o
mundo orgânico e inorgânico, como o irracional, racional e espiritual angélico,
para glorificar a Deus, que colocou Israel no centro do círculo de interesses do
mundo e do cosmo. A alegria interior que assim nasce no homem, transforma o
mundo num hino de louvor em que todos participam.
Salmo 150
Sinfonia universal
Aleluia!
Louvai a Deus em seu santuário,
louvai-o no seu majestoso firmamento!
Louvai-o por seus grandes feitos,
louvai-o por sua imensa grandeza!
Louvai-o ao som de trombeta,
louvai-o com harpa e cítara!
Louvai-o com pandeiro e dança,
louvai-o com instrumentos de corda e flautas!
Louvai-o com címbalos sonoros,
louvai-o com címbalos vibrantes!
Tudo que respira louve o Senhor!
Aleluia!
Comentários
Sl 150. Este salmo articulado em doxologia apresenta, para o grande final de todo
o Saltério, uma grandiosa sinfonia, executada pela orquestra do templo, com o
acompanhamento de todas as criaturas nos acordes do Aleluia - louvai o Senhor !