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Os bons alunos portam-se mal

31 | 03 | 2008 17.07H

Sobre as agressões nas escolas, Eduardo Sá,

psicólogo e professor, deixa aos leitores do Destak
o olhar de quem se habituou a ver para lá das
aparências.
EDUARDO SÁ

1 Tem sido notícia, desde há alguns dias, a disputa

física, pela posse de um telemóvel, entre uma aluna
e uma professora de um liceu do Porto.

2 Em primeiro lugar, a função de um professor é

COMENTAR
ENVIAR
demasiado preciosa para que possa merecer maus
IMPRIMIR tratos. Maltratar um professor é um atentado contra
o direito à educação.

Em segundo lugar, é importante que se estabeleça opinião

uma diferença entre o direito à má educação (com
maneiras), própria da insolência adolescente, e a EDUARDO SÁ
violência verbal e o mau trato físico a um professor. Os bons alunos
Se a primeira merece a condescendência que, acto portam-se mal
a acto, deve merecer, a segunda e a terceira não.
J.L. PIO ABREU
Aliás, só há dois tipos de crianças que assumem
LUISA CASTEL-BRANCO Manifs
estes últimos comportamentos: aquelas que Falsos "bons selvagens"
reproduzem na escola a ausência de regras JOÃO MALHEIRO
familiares ou as que, sendo tiranizadas pelos pais, Toutakitoutapoulos
se vingam, pela tirania, junto dos professores. Em
quaisquer circunstâncias, violência verbal e mau pergunta do dia
trato físico sobre um professor merecem que as
crianças que protagonizam tais actos sejam AP IT O D OU RADO
consideradas, de imediato, em perigo, e os seus O FC Porto corre o risco de descer à II Liga, caso Pinto
pais responsabilizados, e punidos (judicialmente, se da Costa seja considerado culpado.
for o caso) por isso. Mas sejamos razoáveis: não há Devem os adeptos e sócios do clube responsabilizar
crianças sensatas que vandalizem uma relação o seu presidente, se a punição se confirmar?
pedagógica, unicamente, por influência de um
grupo. Por outras palavras: os bons alunos
portam-se mal (porque aprendem com os erros). Os
inquérito passatempos
maus alunos são exemplares, porque não podem Considera justo que o
errar. E aqueles que acham acima dos alunos FC Porto desça de
(porque terão acumulado maus tratos) vandalizam o divisão caso Pinto da
direito de todos a aprender. Costa seja considerado
culpado no caso Apito
Em terceiro lugar, se a aluna que assumiu uma luta
corpo-a-corpo foi justamente punida, os colegas Dourado?
que a presenciaram merecem-no mais (já que, pela Destak Santiago Foods
Sim
sua passividade cúmplice, privaram de ajuda a
professora e a colega). E aquele que as terá Não
filmado mais ainda, porque maltratou, com a sua Não sei
cobardia, e violou o direito à privacidade da turma e VOTAR

da sua professora (extensa aos seus momentos

mais infelizes) que, a partir da difusão pública das
fotos da semana
imagens recolhidas, terá consequências
irreparáveis, para sempre, para as duas.

Em quarto lugar, o exercício da autoridade de um

professor não comportará, nem em desespero, uma
luta corpo a corpo. Por mais tentador que seja,
reagir à violência com violência faz ruir o sentido de
justiça, já que a autoridade se legitima com bons top notícias da semana
exemplos. Depois dos pais e da família, um
professor é o bem mais precioso para o 1 | «Descida de impostos só é desprezível para
desenvolvimento humano. Desprezá-lo é atentar quem é rico»
contra os direitos de todas as crianças. E se é 14 comentários
verdade que a escola é a primeira comissão de 2 | Dois minutos

http://www.destak.pt/artigos.php?art=9557
Destak.pt | Os bons alunos portam-se mal 2 de 2

protecção de crianças em perigo, diante de cada 10 comentários

uma delas são os órgãos da escola que devem
3 | As mulheres espertas só vão pelas escadas
fazer a mediação entre uma família e um tribunal
9 comentários
(se for o caso). Sempre que o deixa entregue à sua
sorte, uma escola atenta contra o direito à
educação.

3 Há processo educativo sem autoridade? Não!

Mas a autoridade também se conquista. E, por mais
que sejam necessárias regras que a estruturem, a
autoridade é uma consequência da sabedoria e do
sentido de justiça de um professor. Começando
pelas regras de boa educação que, a pretexto de
uma incompreensível tolerância, são maltratadas
no dia-a-dia de uma escola. E, sendo assim, não é
o estatuto do aluno nem a autoridade do professor
que devem ser esclarecidos, mas a função da
escola (que devia ser o lugar onde se constroem
pessoas melhores e não uma "linha de montagem"
de jovens tecnocratas razoavelmente instruídos e
mal educados). Receio que seja por isso que
muitas crianças, famílias e escolas se repartam
entre a exigência do exemplar e a iminência do
violento, à margem da humildade de aprender com
os erros dos que se portam mal.

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