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Clássicos Históricos 266

A Noiva Prisioneira - Susan Spencer

A Noiva Prisioneira
Susan Spencer
Clássicos Históricos 266
2001

Ele a aprisionou…
Ela roubou seu coração!

Inglaterra, 1440

Todas as mulheres sucumbiam aos encantos de Kiernan… Pelo


menos até então, pensava ele, intrigado. Glenys Seymour parecia
imune ao seu charme. Era possível que o fato de ele a ter raptado
tivesse alguma influência nisso… mas alguma coisa estava
ocorrendo, para um homem experiente e endurecido como ele
sentir-se tão envolvido por uma donzela virgem e simplória como
ela.

Se realmente possuísse poderes mágicos, Glenys eliminaria todos


os vestígios daquela paixão, estranha, porém arrebatadora, que
sentia por Kiernan FitzAllen. O homem era um fora-da-lei, um
aventureiro, um trapaceiro. No entanto, era o lendário “escolhido”
que a ajudaria a realizar o desejo secreto de seu coração!

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PRÓLOGO

Londres, Maio de 1440

— Não, não vou matar a jovem, se é isso que você

está me pedindo. Não sei se lhe disseram, mas eu não

costumo violentar mulheres.

— Claro que não — garantiu imediatamente sir

Anton Legasse, no intuito de tranqüilizar seu convidado.

— Você entendeu tudo errado. Eu amo Glenys, e ela

nutre o mesmo amor por mim. Jamais gostaria que

qualquer coisa de ruim lhe acontecesse. Quero apenas

mantê-la a salvo até que a família concorde com o nosso

casamento. Ninguém falou em morte.

Sir Anton olhou para os inúmeros vilões depravados

da taverna, torcendo para conseguir resolver logo aquele

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assunto. Não lhe agradava nem um pouco ficar naquele

lugar sombrio. O Black Raven não era o tipo de

estabelecimento que costumava freqüentar. Entretanto,

era o antro favorito de ladrões, prostitutas e assassinos,

que se reuniam para beber e jogar, enquanto esperavam

por alguma oportunidade para fazer serviços sujos. Em

troca de dinheiro, claro.

Tirando um elegante lenço de seda do bolso de sua

túnica, ele limpou o suor da testa antes de se voltar para

o homem sentado à sua frente. Diferentemente de sir

Anton, o sujeito mostrava-se bastante confortável em

meio àquele tipo de gente.

— Contra a vontade dela, você está insinuando —

deduziu o bandido, colocando a caneca em cima da mesa

com movimentos lentos e comedidos. — Uma mulher

apaixonada seria capaz de se esconder até da própria

família para conseguir se casar com o homem dos seus

sonhos. Eu o admiro por ser tão amado por uma mulher,

mas existe mesmo a necessidade de trancafiá-la?

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Sir Anton estudou aquele homem com cuidado.

Kieran FitzAllen era famoso pela grandeza de seu caráter

quando se tratava de negócios, uma pessoa a quem se

podia confiar tarefas das mais sigilosas em troca de uma

boa gratificação em dinheiro. Por outro lado, também era

conhecido pelo tipo de trabalho que aceitava. Furtava,

roubava e lutava contra quem fosse preciso, mas se

recusava terminantemente a prejudicar o sexo oposto. O

que era de se admirar, pois FitzAllen era um homem

muito bonito, e as mulheres, jovens e velhas, casadas e

solteiras, puras e impuras, não hesitavam em se jogar

nos braços dele. Tal adoração era recompensada com

igual estima, em especial no que dizia respeito à parte

física.

Diziam os rumores que, em seus vinte e nove anos

de idade, Kieran FitzAllen tinha se deitado com mais

mulheres do que a maioria dos homens podia esperar

simplesmente conhecer durante toda uma vida. Não, ele

jamais prejudicaria uma mulher, nem mesmo em troca

de uma fortuna em ouro. Sir Anton sabia que precisava

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encontrar a maneira certa de convencer aquele homem

da veracidade de suas intenções.

— A família da jovem nos separa — falou ele,

inclinando o corpo para a frente —, e é o que a impede

de se entregar a mim. Não é nada fácil entrar para uma

família tão tradicional quanto a dos Seymour. Além disso,

ela não tem coragem de abandonar os parentes por

acreditar que eles não sobreviverão sem seus cuidados. E

também teme morrer caso os abandone.

— Morrer? — perguntou Kieran FitzAllen, cheio de

suspeitas. — Como assim? Está insinuando que eles

teriam coragem de matá-la se ela se casasse com você

em segredo?

Sir Anton suspirou e balançou à cabeça em sinal de

concordância.

— E o que Glenys acha, por mais que eu me esforce

para lhe provar o contrário. Os Seymour já lhe

escolheram um pretendente e não permitem que nós nos

encontremos ou conversemos. Mas nosso amor é tão

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grande que ela se opôs à resolução da família de casá-la

com um estranho.

— Não me parece uma boa decisão vocês manterem

um romance em segredo — comentou Kieran FitzAllen,

tomando mais um gole de sua bebida. — Principalmente

por a família ter recusado seus galanteios.

— Você não entende! Eles só não me entregaram a

mão de Glenys porque eu ainda não recebi a minha

herança. Todavia, meu tio, o duque d'Burdeux, está

muito doente e não lhe resta muito mais tempo. Ele me

chamou na Normandia para lhe fazer companhia nesses

últimos momentos. E quando eu receber o título e as

terras que me são de direito, tenho certeza de que os

Seymour concordarão com o nosso casamento.

— E por que não tenta dizer tudo isso a eles? —

sugeriu Kieran. — Peça-lhes para esperar um pouco. Não

vejo motivos para você raptar a jovem e mantê-la

prisioneira. Ela não recusou o pedido do outro homem?

Não faltam apenas algumas semanas para você alcançar

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seus objetivos? Para que a pressa?

— A família de Glenys a obrigará a se casar com

esse outro homem — insistiu sir Anton. — Você nem

imagina como eles são. A pobrezinha morre de medo do

irmão e dos tios, e eu não consigo convencê-la de que

posso lhe oferecer segurança. Ninguém saberá por onde

começar a procurá-la quando você a levar daqui.

— Se eu a levar — corrigiu Kieran, levantando a mão

direita para chamar uma das garçonetes para encher sua

caneca mais uma vez. A jovem, como todas as outras

mulheres da taverna, não tinha tirado os olhos dele e

correu para atendê-lo. Como recompensa, recebeu um

sorriso preguiçoso e um afago em seu amplo quadril, o

que quase a fez derrubar a pesada jarra que carregava.

Sir Anton sentiu um embrulho no estômago ao

testemunhar aquela cena. Kieran FitzAllen

provavelmente levaria a mulher para um dos quartos do

andar de cima tão logo a conversa de negócios

terminasse. Como alguém em sã consciência poderia se

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deitar com uma mulher daquele tipo?

— Você ainda não me explicou por que a sua amada

precisa ser capturada contra a própria vontade — insistiu

Kieran, assim que a jovem desapareceu. — Se eu disser à

srta. Seymour que recebi a incumbência de levá-la a um

lugar seguro, ela concordará na mesma hora, se tudo que

você me contou realmente for verdade.

Sir Anton franziu a testa sem tirar os olhos do

homem à sua frente.

— Está me chamando de mentiroso?

— De forma alguma — respondeu ele, sem vacilar,

em tom irônico. — E você, acha que sou tonto? Só um

completo idiota aceitaria essa história sem discutir.

Quero saber quais são os verdadeiros motivos para você

manter essa mulher em cativeiro.

— Eu já lhe disse que Glenys morre de medo da

família — repetiu sir Anton, lutando para conter a raiva

diante de tamanha insolência. — Mesmo que você lhe

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diga que a está levando a mando de sir Anton Lagasse,

ela nunca acreditará que ficará a salvo dos parentes.

Todavia, devo admitir que existe outra razão. Glenys

está… digamos que esteja em busca de algo.

— Em busca de algo? — repetiu Kieran, nem um

pouco surpreso. A história não era tão simples quanto

parecia.

— Sim. A família dela, o clã Seymour, é galesa e tem

como ancestrais uma nobre linhagem celta. É o grande

orgulho de todos, mas eles são fiéis a muitas crenças

antigas, por mais estranhas e profanas que possam

parecer. O chefe da família, Aonghus Seymour, tio de

Glenys, alega possuir certos poderes. — Sir Anton

aproximou-se do outro homem e baixou um pouco a voz.

— Poderes místicos, se é que você me entende.

Kieran FitzAllen não se impressionou com o

comentário.

— E ele possui mesmo esses poderes?

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— Claro que não! — respondeu sir Anton, de certa

forma frustrado. — Dizem que o homem é meio louco. Na

verdade, todos são um pouco esquisitos, os tios e tias de

Glenys. Ela é a única pessoa normal daquela família,

apesar de insistir em recuperar a Pedra Greth. Daria,

inclusive, a vida em troca da Pedra.

— Pedra Greth? — repetiu Kieran. — Greth é uma

palavra antiga para "graça", não é?

— Sim, e é exatamente o que significa. Pedra da

Graça. Trata-se de um anel que pertence aos Seymour há

muitas gerações. É uma linda jóia com uma grande safira

azul-escura no centro. Eu mesmo já vi anéis bem mais

bonitos e valiosos, mas eles insistem em dizer que a

Pedra da Graça possui poderes especiais. É tanta tolice

junta…

Sir Anton limpou mais uma vez o suor da testa.

— A jóia foi roubada da família alguns meses atrás

por um sujeito chamado Caswallan e levada de volta para

Gales. Glenys está determinada a encontrar esse homem

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e recuperar o anel, mas ninguém nunca mais soube dele.

Ninguém sabe onde se escondeu, ou o que fez com o

anel. E uma busca sem sentido, além de perigosa, porém

nada tira a idéia da cabeça dela. E eu me sinto na

obrigação de manter a minha amada a salvo. Contudo,

confesso que Glenys não aprovará a minha maneira de

conduzir essa história.

Depois de esvaziar a caneca pela terceira vez desde

que chegara ao Black Raven, Kieran FitzAllen colocou-a

de lado. Então limpou a boca com a manga da camisa.

— Pois bem. Você quer que eu capture a srta.

Glenys e a leve para…

— Para uma pequena fortaleza que mantenho em

York. Está desabitada há anos, mas é sólida o suficiente

para que minha Glenys fique bem e segura. Além do

mais, a família dela jamais a encontrará ali.

— E eu devo manter a jovem nessa fortaleza contra

a própria vontade, apesar do sofrimento que a família

enfrentará? Até quando?

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— Até que eu possa ir buscá-la — respondeu sir

Anton. — Serão somente alguns meses, talvez semanas,

pois o estado de saúde do meu tio não é nada animador.

Ele está nas últimas. Você terá ouro suficiente para se

manter durante um ano inteiro, se for o caso, oferecendo

o máximo de conforto a Glenys.

Olhando ao redor da taverna para ver se alguém

acompanhava seus movimentos, sir Anton enfiou a mão

no bolso da túnica e pegou uma pequena sacola de

couro.

— Como você pode perceber, eu já vim preparado

para o primeiro pagamento. Cinqüenta moedas de ouro

agora, cinqüenta no dia em que você capturar Glenys, e

mais cem quando eu for buscá-la.

Sir Anton esperava que Kieran FitzAllen no mínimo

arregalasse os olhos diante da chance de receber tanto

dinheiro, mas ele continuou imóvel.

— Um ano é tempo demais para manter uma mulher

presa, independentemente da quantia de dinheiro

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envolvida. Na verdade, acho que uma atitude dessas é

um pouco exagerada. Essa família deve ser estranha

mesmo para não querer esperar algumas semanas até

você se tornar um pretendente à altura da srta. Glenys,

após a morte de seu tio.

— Como eu lhe disse antes, eles são meio loucos —

falou sir Anton, começando a demonstrar sinais de

desespero. Se aquele homem não aceitasse seqüestrar

Glenys, ele teria de encontrar alguém bem menos

decente. E a idéia de ter outra experiência naquele lugar

não o agradava nem um pouco.

— Até sir Daman, o irmão dela, é um lunático. Ele

tentou me matar duas vezes, simplesmente por ter me

encontrado escondido com Glenys.

As últimas palavras despertaram a atenção de

Kieran.

— Sir Daman Seymour? Ele é irmão de sua amada?

— Sim. Você o conhece?

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— De certa forma. — O sorriso nos lábios de Kieran

FitzAllen aos poucos foi se tornando felino. — Então é a

irmã dele que devo seqüestrar? De repente ficou bem

claro por que você não quer essa responsabilidade.

Daman matará o homem que encostar um só dedo na

irmã. Ou que ouse fazê-lo.

Ele deu uma sonora risada, deixando sir Anton

arrepiado.

— Por que não mencionou o nome dele antes?

Nosso negócio se resolveria bem mais depressa.

Inclinando-se para a frente, Kieran tirou a bolsa de

couro das mãos trêmulas do outro homem.

— Decidi aceitar o serviço. Mas será rápido, ainda

esta semana. Meu criado, Jean-Marc, lhe informará o dia.

Deixe a segunda parcela preparada, conforme o

combinado, e dê-lhe indicações sobre a localidade de sua

fortaleza em York. Se tudo sair de acordo com os meus

planos, a srta. Seymour estará confinada em menos de

quinze dias.

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CAPÍTULO I

— Tio Aonghus?

Glenys abriu um pouco mais a porta do porão,

tentando enxergar melhor o que acontecia no aposento

abaixo. Uma fumaça azul aromática, cheia de faíscas,

certamente devido à mistura de produtos químicos

preparada por seu tio, invadiu o corredor. Ela balançou a

mão na frente do rosto, tentando se livrar da substância

que ameaçava sufocá-la.

— Tio Aonghus?

— Espero que não tenha bebido uma de suas

poções outra vez. — Dina, a criada de Glenys, arregalou

os olhos só de pensar na hipótese. — Você lembra o que

aconteceu da última vez? Não gosto nem de tocar no

assunto. Não sei por que suas tias permitem que o

mestre Aonghus fique enfurnado nesse porão por tanto

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tempo!

— Ah, meu Deus! — exclamou Glenys, recordando-

se perfeitamente do incidente, bem como de todos os

outros. — Segure a porta para que eu possa descer.

Os degraus que levavam para o esconderijo

subterrâneo eram estreitos e curtos, e Glenys tomava o

máximo cuidado para não cair, puxando a saia para cima.

— Tio Aonghus? Você está bem? — Assim que os

degraus terminaram, ela seguiu na direção da longa

mesa onde o tio mantinha todos seus pós e poções.

Empurrando vigorosamente a fumaça para longe do

rosto, Glenys tentava enxergar algo. — Você me

prometeu que nunca mais ia beber uma de suas

experiências. E, por sorte, dessa vez produziu apenas

fumaça, não causando nenhuma explosão.

Quando conseguiu enxergar alguma coisa, Glenys

deparou-se com o tio deitado no chão de braços abertos,

como se tivesse sido nocauteado.

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— Tio! — gritou Glenys, ajoelhando-se ao lado dele.

— Tio Aonghus, fale comigo!

O velho tossiu e, com a ajuda dela, sentou-se no

chão.

— Estou bem — insistiu. — Não aconteceu nada. Foi

só um susto.

— Fique sentado — ordenou Glenys, vendo que

Aonghus queria se levantar. — Vou buscar um copo de

vinho. Descanse um pouco até conseguir se restabelecer.

Com movimentos ágeis, Glenys ficou em pé, mas

notou que a fumaça estava mais densa do que antes, e

brilhando com mais intensidade. Algumas faíscas

atingiram-lhe o rosto e as mãos, irritando a pele, porém

sem machucá-la. Uma breve busca foi suficiente para

revelar a fonte da travessura: um pequeno pote de vidro

em cima da bancada de trabalho. Bem depressa, Glenys

tampou o recipiente, acabando com a fonte da fumaça.

Então, tateando a mesa às cegas, ela procurou um pote

do mesmo tamanho e o abriu. Pegando um pouco da

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mistura gelada e cristalina, a jovem deu um passo para

trás e jogou-a no ar. Mais faíscas inundaram o porão,

dessa vez vermelhas e brancas. Quase que

imediatamente, a fumaça começou a se dissipar, e

minutos depois havia desaparecido. Aonghus suspirou,

aliviado.

— Cheguei tão perto dessa vez — disse ele. —

Gostaria de saber qual elemento ficou faltando. Já tentei

tantas vezes…

Glenys já tinha ido até outra mesa para servir uma

taça de vinho ao tio.

— Quando você menos esperar, a solução

aparecerá, tio — falou ela, ajoelhando-se. — Tenha mais

cuidado. Se alguém contar para o xerife que viu fumaça

colorida saindo da chaminé outra vez, nós enfrentaremos

grandes problemas. Não sei se conseguirei convencê-lo

mais uma vez.

O velho bebeu todo o vinho do copo e devolveu-o

para a sobrinha.

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— Você é uma garota tão boa, Glenys — disse ele,

afagando-lhe a mão. — Se não fosse por você, todos nós

já teríamos sido queimados na fogueira como bruxos.

— Não, não é assim, tio — assegurou ela, mesmo

sabendo, no fundo do coração, que Aonghus falava a

verdade.

Aos vinte anos de idade, Glenys já salvara os tios e

tias dos mais diversos apuros. Nenhum deles

representava qualquer tipo de perigo, porém tinham

costumes considerados estranhos para a sociedade, o

suficiente para mandá-los para a fogueira.

Gostaria de poder mantê-los durante o ano todo na

propriedade da família em Gales, pois lá estavam sempre

a salvo. Entretanto, eles insistiam em acompanhá-la a

Londres nos seis meses que ficava na cidade cuidando

dos inúmeros negócios dos Seymour. E em Londres, seus

tios e tias tornavam-se vulneráveis a hábeis falcões de

caça como pequeninos coelhos recém-nascidos.

Glenys tinha apenas duas defesas para mantê-los a

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salvo em Metolius, a habitação palaciana da família em

Londres. Em primeiro lugar, os Seymour contribuíam

financeiramente com a Igreja e a Coroa, o que lhes dava

segurança diante de qualquer problema mais sério. Além

disso, Daman, irmão dela, era um renomado cavaleiro do

reino, e cavalgava pelo país com seu exército,

angariando a simpatia do povo e propagando o sobre-

nome da família.

Enquanto a fama e os feitos de Daman

continuassem a existir, os Seymour estavam a salvo, mas

a própria Glenys tinha de admitir que não era uma tarefa

fácil. Sempre sonhava em poder se livrar desse fardo,

mas sabia que isso jamais aconteceria. Fazia muito

tempo que ela e o irmão se dedicavam ao bom nome da

família, tendo abdicado de muitas outras coisas.

— Basta — disse Aonghus, com a energia renovada.

— Não posso ficar sentado o dia inteiro. — Apoiando-se

no braço oferecido pela sobrinha, ele se levantou. —

Temos muito o que fazer antes de você partir. Ah, minha

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filha, será tão difícil e estranho para nós quando você se

for…

Soltando-a, Aonghus voltou para sua mesa de

experimentos, onde começou a arrumar seus frascos e

potes.

— Metolius não será a mesma. Na verdade, nem sei

como suportaremos. Entretanto, não há nada a fazer —

falou ele, prático. E você, minha filha, não precisa se

preocupar conosco. Eu cuidarei para que Mim e Wynne se

comportem bem enquanto você estiver em busca da

Pedra da Graça. E proibirei terminantemente que seu tio

Culain saia de Metolius, a não ser para ir à missa.

Glenys sorriu para o velho.

— Eu vou apenas até o banco falar com o sr.

Fairchild, tio Aonghus, como faço todas as quintas-feiras.

Quero acertar os últimos detalhes sobre nossa próxima

aventura marítima, e voltarei para casa dentro de duas

horas. Quanto à Pedra da Graça, você sabe muito bem

que não partirei para Gales enquanto Daman não

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retornar com seus homens. Já combinamos que ele me

acompanhará.

— Sim, minha filha, eu sei que está combinado —

disse Aonghus, pegando um pouco do pó que ela utilizara

para acabar com a fumaça e colocando-o em uma

pequenina bolsa de couro —, mas mesmo assim você

precisa estar preparada. Amarre-a no seu cinto e tome o

máximo cuidado para não perdê-la. — Ele apertou as

tiras de couro e entregou a bolsa à sobrinha.

Glenys olhou para o tio franzindo a testa.

— Tio, eu não preciso desse pó para ir até a cidade.

Você realmente acha que é seguro permitir que uma de

suas experiências saia de nossa casa? Ainda mais esta?

Sei que não é mágica, mas se, de alguma forma, a bolsa

se perder e cair em mãos alheias… — O pensamento era

muito desagradável para ser dito em voz alta.

— Não tenha medo, Glenys — falou ele, entregando-

lhe o pequeno embrulho e sorrindo calorosamente. —

Você precisará desse pó no futuro. Confie em mim,

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querida. Agora vamos subir. Faço questão de

acompanhá-la até a porta.

Aonghus seguiu na frente pelos degraus estreitos,

subindo com extrema graça. Como sempre, Glenys se

admirou com a elegância com que seu tio mais velho se

movia. Era um homem alto e magro, bem como seus

outros irmãos e irmãs, lembrando-a não de um ser

humano comum, mas sim de uma criatura semi-humana,

semi-animal. O tipo de animal que Glenys não sabia

especificar. Seus tios e tias eram ágeis como as cabras

das montanhas, delicados e cuidadosos como os cervos e

desobedientes como um bando de gatos independentes.

A cor da pele e as feições de todos também eram

muito parecidas, embora não fosse algo tão anormal,

ainda mais por Mim e Wynne serem gêmeas. Todos

tinham cabelos brancos como a neve e olhos azuis e

continuavam lindos, sim, lindos. Algumas vezes, ao

observá-los, Glenys achava quase impossível ser parente

de criaturas tão maravilhosas e incomuns quanto seus

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tios e tias. Nem ela nem o irmão possuíam características

deles, e Glenys tinha plena consciência de que não

herdara a beleza daquele ramo da família.

— Venha, minha filha — chamou Aonghus,

apressando-a.

— Não se demore tanto assim. Outra oportunidade

como essa não surgirá tão cedo.

— Só vou me encontrar com o banqueiro — repetiu

ela, seguindo-o.

— Aqui está Dina, segurando a porta para nós. —

Aonghus sorriu e limpou os resquícios de pó do longo

manto púrpura que vestia. — Você precisará de um

manto mais quente, minha querida — disse ele,

segurando a porta para a sobrinha passar.

— Vá pegar o mais pesado, e pegue um para Glenys

também.

— Mas, senhor… Não está tão frio assim. Ainda

estamos em maio.

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— O frio chegará com a noite, quando menos se

espera — insistiu ele, afagando-lhe o braço. — Vá

depressa. Pegue seu manto mais pesado, e não seja

teimosa.

Dina olhou para Glenys, que suspirou e assentiu.

Antes de sair correndo, a jovem fez uma breve mesura.

— Você também precisará de roupas mais quentes,

Glenys, só que Mim já cuidou disso. Vá até o grande

salão despedir-se de todos. E amarre a bolsa de couro na

cintura. Não quero que você corra o risco de perdê-la.

— Tio Aonghus, eu vou apenas ao banco. Não sei

para que tantas recomendações. Você sabe que todas as

quintas-feiras são assim.

— Sim, sim, claro que sim. O que também é muito

bom. Gosto de ver você passeando por aí.

O grande salão de Metolius era um aposento

espaçoso, aconchegante e convidativo. As paredes eram

recobertas por cerejeira e o chão adornado com tapetes

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italianos coloridos. Em uma das paredes, janelas altas

iluminavam o ambiente nos dias ensolarados, e uma

série de luminárias dinamarquesas dispostas em

intervalos nas outras paredes cumpriam a mesma função

à noite. Seis fogões grandes e bonitos aqueciam o salão

durante o ano todo, especialmente com a chegada do

frio.

A família se reunia todas as noites no grande salão,

e também ao longo do dia. Cada um tinha seu lugar

predileto. Aonghus gostava de ficar ao lado de uma

estante para ler seus manuscritos, que eram guardados

ali. Glenys ficava ao lado da lareira, bordando ou

costurando qualquer roupa que precisasse de reparos. O

tio Culain sentava-se bem perto, à mesa de xadrez,

mudando de uma cadeira para outra, pois gostava de

jogar consigo mesmo, como fazia naquele momento. Mim

e Wynne se acomodavam próximo às janelas, para

poderem olhar para os jardins e o pátio enquanto

conversavam. Entretanto, nunca perdiam de vista sua

caixa especial, sempre rindo e discutindo cada

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descoberta. Agora as duas estavam sentadas em suas

cadeiras, olhando dentro da caixa de madeira, para os

objetos que apareciam.

— O que é isso? — perguntou Mim, pegando um

pequeno e fino embrulho e segurando-o contra a luz. — O

que você acha, Wynne?

A outra mulher observou o pedaço de papel com

atenção, apertando os olhos para ler as letras vermelhas

impressas ao longo do objeto.

— B-a-n-d-a-i-d — repetiu ela, lentamente. — Tenho

certeza de que já vi isso antes… o que quer que seja esse

pedaço de papel embrulhado.

— Não, minha querida — interveio Mim, devolvendo

o objeto para a caixa e fechando-a. — A caixa nunca

mostra o mesmo objeto duas vezes. Você está cansada

de saber. — Ela levantou a tampa outra vez. — Olhe! Não

são lindas?

— Sim, Mim, são maravilhosas — concordou Wynne,

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pegando um belo colar de pérolas com sua mão delicada.

— É uma pena que não possamos dá-lo a Glenys. A pele

dela tem a coloração perfeita para pérolas. — Ela

devolveu a jóia para a caixa e suspirou. — Quando

encontraremos a chave?

Mim e Wynne passavam horas e mais horas todos

os dias procurando essa chave. A caixa de madeira

oferecia mistérios nos quais Glenys não gostava nem de

pensar. De todos os acontecimentos estranhos de

Metolius, esse era o mais desconcertante, mas o

verdadeiro propósito daquela caixa era revelar uma

chave antiga que, como a Pedra da Graça, fora perdida

pela família Seymour. Havia centenas de anos que a

chave fora colocada na caixa e enviada… bem, tudo que

entrava naquela caixa desaparecia, e fazia muito tempo

que as duas tentavam encontrá-la.

A caixa era aberta e fechada inúmeras vezes por

dia, mostrando pequenos e intrigantes objetos, mas

nunca a chave. Glenys não fazia a menor idéia da

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utilidade daquela chave, ou o que deveria abrir, e

também não tinha plena certeza de que seus tios e tias

soubessem, mas a busca era uma maneira agradável de

diverti-los durante a tarde, e a antecipação de um dia

deparar-se com o objeto nunca desaparecia.

— Mim — disse Aonghus, quando a irmã levantou a

tampa da caixa pela terceira vez. — Glenys vai nos

deixar.

Mim, Wynne e Culain pararam suas atividades e se

levantaram ao mesmo tempo.

— Ah, Glenys, minha querida — choramingou Mim,

caminhando na direção da sobrinha com os braços

abertos. — Você precisa ir agora? Queria que você não

demorasse tanto para voltar…

Glenys tomou a mão da tia entre as suas, sentindo,

como sempre acontecia, a grande diferença entre sua

robustez e a delicadeza de seus parentes.

— Não precisa se preocupar tanto assim, tia Mim.

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Vou apenas ao banco, e Dina me acompanhará. Devo

voltar dentro de duas horas.

Wynne juntou-se às duas, com seus olhos azuis

cheios de lágrimas. Nas mãos, ela segurava o manto

mais quente de Glenys.

— Sentiremos tanto a sua falta — falou ela,

ajeitando o pesado manto nos ombros da jovem. — Você

precisa tomar o máximo cuidado, minha filha, e nunca se

esqueça de que é uma Seymour. Uma verdadeira

Seymour, mesmo que sua mãe tenha sido do povo do

norte e, como é costume deles, extremamente prática.

Apesar disso, ela foi uma excelente esposa para nosso

irmão Arian. — Todos os tios assentiram, sustentando as

palavras de Wynne.

— Mas… — começou Glenys, logo interrompida por

Mim, que aproximou-se para ajeitar-lhe a gola do manto.

— Sua tia Wynne tem razão — afirmou ela,

enxugando uma lágrima no canto do olho, esforçando-se

para não chorar. — Não há a menor dúvida de que você e

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Daman têm o sangue dos Seymour, apesar de você ser

teimosa demais para aceitar esse fato — ralhou Mim,

esticando o braço para ajeitar a tiara prateada que

enfeitava os cabelos avermelhados da jovem. — Porém

você não pode fugir eternamente da verdade. Ah,

Wynne, onde está a pedra? Ela não deve partir sem a

pedra.

— Aqui no meu bolso — respondeu a outra mulher,

tirando uma pequena pedra branca do bolso de seu

avental. Glenys a reconheceu na mesma hora.

— Ah, não — murmurou ela. — Eu não posso levá-la

comigo. Por favor, não me peçam para fazer isso. Vou

apenas ao banco, e assim que terminar a conversa com o

sr. Fairchild, volto para casa. Juro que estarei aqui na

hora do jantar. Além disso, vocês sabem muito bem

como me preocupa levar algo… especial… para fora de

Metolius. Eu não me sinto nem um pouco à vontade.

Tudo que menos precisava era ter uma das pedras

de Mim e Wynne reluzindo à sua volta. Apesar do

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tamanho reduzido, as pedras brancas produziam uma

quantidade surpreendente de luz. Glenys até costumava

revistar suas tias antes que elas saíssem de casa para se

certificar de que as duas não as tinham escondido em

algum lugar. Não gostava nem de imaginar o que poderia

acontecer se um dos bolsos delas de repente começasse

a brilhar no meio da Igreja St. Paul durante a missa.

— Eu jamais me perdoaria se perdesse uma pedra

dessas.

— Nós não nos importamos — disse Wynne,

sorridente, inclinando-se para guardar a pedra no bolso

do manto de Glenys.

— Temos várias, e você precisará dessa enquanto

estiver longe.

— Em seguida, ela beijou a sobrinha na testa. — Ah,

minha querida, é um momento tão excitante, mas nós

ficaremos tão preocupados! Volte logo para casa. E tome

muito cuidado.

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— Sim, filha — concordou Mim, beijando-a no rosto e

abraçando-a. — Volte o mais depressa possível.

— Estarei de volta daqui a duas horas no máximo —

murmurou Glenys, envolvida pelo abraço. — Talvez nem

isso. Pretendo ser bem rápida no banco.

— Solte-a um pouco, Mim — reclamou Culain,

aproximando-se da sobrinha. — Glenys não pode partir

sem o meu presente.

Mais um regalo? O coração da jovem se contraiu no

peito, ainda mais ao ver o que o tio pretendia lhe dar: seu

bem mais estimado, uma peça de um antigo jogo de

xadrez, a rainha.

Tratava-se de um jogo bastante antigo, a julgar pelo

estado da peça. Era uma rainha de madeira vermelha,

escura, e parecia muito mais uma deusa paga do que

uma verdadeira rainha, com os cabelos soltos

combinando com os longos trajes druidas. Os pés

estavam descalços e, na cabeça, havia uma coroa de

flores e folhas entrelaçadas. Os olhos, feitos de âmbar,

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brilhavam como se houvesse uma vela acesa por trás.

Era uma peça de extrema beleza.

Culain carregava a peça para todos os lados,

conversando com a rainha como se ela pudesse escutá-

lo. Durante o sono, deixava-a sob seu travesseiro, o que

impedia Glenys de acreditar que ele estivesse disposto a

se separar de seu amuleto, mesmo que apenas por

algumas horas.

— Não, tio Culain — disse ela, quase desesperada.

— Eu jamais aceitaria levar sua rainha. Em hipótese

alguma. Tenho muito medo de perdê-la. Sei o quanto

essa peça é importante para você.

— Mas é preciso — insistiu ele. — Ela é o único

tesouro pelo qual Caswallan barganhará. Aquele homem

não lhe entregará a Pedra da Graça por nada, mas

quando vir a rainha… — Culain colocou a peça na mão da

sobrinha e apertou os dedos relutantes em se fechar.

— Caswallan? — repetiu Glenys, confusa. — Tio

Culain, estou indo apenas ao banco. Eu não irei a Gales

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por pelo menos um mês. Combinei esperar por Daman e

seus homens. Você sabe disso. — Ela olhou para cada um

dos rostos delicados de seus tios. — Todos vocês sabem.

Eles assentiram e sorriram, então a acompanharam

até a entrada do grande salão, onde Dina a aguardava.

Depois de receber abraços e beijos de todos os quatro,

ela saiu da casa acompanhada pela criada. Com a ajuda

de um dos empregados, subiu na carruagem que já a

aguardava. Ao olhar para trás, viu seus tios chorando e

acenando pela janela aberta.

Depois de tantos anos, Glenys achava que estava

acostumada ao comportamento estranho dos familiares,

mas cada dia era uma nova surpresa. Os itens que

carregava consigo pareciam mais fardos do que mimos,

embora no fundo de seu coração ela soubesse que lhe

tinham sido confiados como regalos.

Ela olhou para a peça de xadrez que aquecia sua

mão. Como de costume, os olhos cor de âmbar

brilhavam, fato que sempre a incomodara.

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— Meu Deus! — exclamou ela, guardando depressa

a rainha no bolso, junto com a pedra da luz, rezando para

que nenhum dos dois objetos lhe causasse problemas no

banco. — Talvez devamos esperar até amanhã cedo para

ir ao encontro do sr. Fairchild, Dina. Estou tão confusa…

— Não se preocupe, milady. As pedras da luz nunca

brilham quando há tanta luminosidade. Quanto à outra

peça, mantenha-a escondida. Tudo sairá bem. — A

convicção na voz da criada era tamanha que Glenys

quase acreditou. Quase.

Elas atravessaram os portões da propriedade e logo

entraram na estrada principal que as levaria ao centro de

Londres.

— Espero que você esteja certa, Dina — sussurrou

ela, encostando no assento. — Tenho a sensação de que

devemos resolver nossos negócios bem depressa e voltar

imediatamente para casa.

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CAPÍTULO II

— Tive a impressão de você ter dito que Glenys

significava "linda" — comentou Kieran, cruzando os

braços e recostando-se com displicência contra a parede

da taverna. O vento soprava forte, fazendo com que as

dobras de seu pesado manto de lã batessem contra suas

pernas. Olhando para cima, ele observou que as nuvens

estavam mais pesadas, mais escuras. O dia nascera

ensolarado e quente, porém a tempestade não tardaria a

chegar.

— Exatamente — respondeu Jean-Marc, colocando a

caneca vazia no parapeito da janela aberta. — É uma

jovem interessante, mas não se pode dizer que seja uma

mulher linda. Talvez tenha sido um belo bebê.

Kieran sorriu.

— Depois de um filho como Daman? Acho difícil. —

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Ele analisou a figura esbelta e imponente da srta.

Seymour, que entrava no banco. — Apesar de ter a pele

um pouco mais clara, não se pode dizer que essa dama é

irmã de um brutamontes.

— E os cabelos dela brilham como os raios de sol da

manhã — comentou Jean-Marc.

— Não, são de um vermelho mais suave, como o do

pôr-do-sol — corrigiu Kieran —, embora as outras

qualidades da jovem me pareçam bem mais formidáveis.

Não consigo nem imaginar um sujeito como sir Anton

enfrentando essa fortaleza de mulher. Ele deve ser um

cordeirinho!

Jean-Marc riu.

— O que você está querendo dizer é que não

consegue imaginar uma mulher com tanta personalidade

permitindo que um tolo como sir Anton tente enfrentá-la.

Seria uma ousadia!

— É verdade. Ela não é uma beldade, mas suas

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feições não são nem um pouco desagradáveis. E o corpo

tem curvas perfeitas, longilíneas, que se realçam com a

altura. Acho que a srta. Seymour merecia um

pretendente mais interessante do que um lorde tão

delicado quanto sir Anton.

— Duvido que ele se preocupe com a beleza da

jovem — declarou Jean-Marc. — A srta. Seymour é rica e

possui muitos bens, e é isso que realmente importa para

aquele canalha. Você não acreditou nem por um instante

na história absurda que aquele homem lhe contou, não

é? Não acredito que ele o tenha convencido.

Kieran balançou a cabeça.

— De forma alguma. Não acreditei em uma única

palavra. Quando pus os olhos nele, percebi que se

tratava de um grande mentiroso. E um covarde sem

tamanho.

— E ainda assim está determinado a capturar a srta.

Seymour e mantê-la prisioneira em York até que sir

Anton vá buscá-la?

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— Sim.

Jean-Marc cuspiu no chão e emitiu um som que

demonstrava seu descontentamento.

— Que tolice! Você está arriscando a sua vida, e a

minha, apenas para se vingar de sir Daman. E qual o

motivo? Nada do que você lhe fizer trará de volta o que a

sua irmã perdeu, ou devolverá a alegria que ele lhe tirou.

— Pode ser que não — concordou Kieran, sem

desviar os olhos da carruagem da srta. Seymour, mais

especificamente do cocheiro e do ajudante, que já

mostravam sinais de cansaço de tanto esperar —, mas

posso fazer com que sinta na pele todo o sofrimento por

que Elizabeth passou. E ele também saberá o que é ter a

irmã sob o poder de outro homem. Não se preocupe,

Jean-Marc, eu não tenho a menor intenção de causar

qualquer mal à srta. Seymour, e você sabe muito bem

disso. O coração e o corpo dessa mulher permanecerão

intocados e puros… Pelo menos até que sir Anton venha

buscá-la. Depois disso, acho que Daman pode começar a

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se inquietar.

Jean-Marc deu outra risada.

— Você? Entregar uma mulher a um cavalheiro que

possa machucá-la ou lhe tirar a virtude? Jamais! Nem

mesmo uma mulher determinada e forte o suficiente para

acertar a cabeça desmiolada de sir Anton. Por favor,

camarada, conte-me uma história melhor.

Kieran FitzAllen riu para seu criado e amigo, mas

não disse nada. Jean-Marc o conhecia bem demais. Só a

idéia de entregar a srta. Glenys para um homem como sir

Anton o incomodava. Entretanto, fazia questão de levar a

cabo o acordo que fizera com o sujeito. A chance de se

vingar de Daman Seymour era muito atraente para fazê-

lo mudar de idéia.

Havia poucas pessoas que ele realmente amava na

vida, mas entre as mais queridas estavam seus pais,

irmãos e irmãs. Ele se considerava um homem de muita

sorte, apesar de ter nascido de uma família simples.

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Seus pais o haviam reconhecido de braços abertos,

bem como os avós, tios, tias e primos. Na realidade,

Kieran se considerava amado por ambas as partes da

família e fora criado pelo padrasto como um filho

legítimo.

Sim, ele era um homem de sorte. De muita sorte,

ainda mais depois de todos os anos de andanças e

arruaça. Várias vezes a família o impedira de ser preso,

enforcado, ou pior. Várias vezes eles tinham lhe pedido

para sossegar, para se estabelecer na pequena

propriedade que ganhara de presente. E por várias vezes

Kieran os desapontara com seu comportamento, mas to-

dos continuavam de braços abertos, sempre dispostos a

ajudar e a lhe oferecer carinho.

Kieran sabia que não era digno de uma família como

a sua, e que eles não mereciam tanto sofrimento e

preocupação. Havia apenas uma maneira de Kieran

demonstrar sua dignidade: por meio da lealdade e do

amor que sentia por eles.

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E foi essa devoção à família que o levara a buscar

vingança contra Daman Seymour. Sir Daman, um homem

bonito e famoso por suas conquistas, deixara a irmã mais

nova de Kieran, Elizabeth, perdidamente apaixonada, a

ponto de ela deixar de lado todo o bom senso.

A pobre moça acreditara que o cavalheiro se casaria

com ela.

Kieran, na qualidade de exímio conquistador, sabia

como era fácil fazer com que uma moça ingênua

acreditasse em algumas palavras doces. Em sua

inocência, amor e confiança, Elizabeth se entregara a

Daman, e Daman, o maldito cavalheiro, a abandonara

logo em seguida, mesmo sabendo que ela concebera um

filho. Nem mesmo o medo do poderoso padrasto de

Kieran, o lorde Randall, o tinha levado a assumir qualquer

tipo de compromisso com a jovem.

Elizabeth, por sua vez, apesar de todo o ocorrido,

implorara ao pai que não ordenasse a prisão de seu

amado. Envergonhado, lorde Randall concordara em

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deixar o assunto de lado para preservar a honra da

família. A gravidez de sua filha fora bem escondida, mas

nem teria sido necessário. O sofrimento pelo abandono

de seu desleal amante fora suficiente para que a jovem

caísse de cama, perdendo o bebê poucos meses depois

da concepção.

Cinco meses haviam se passado, e Elizabeth

continuava inconsolável. Durante os dias que Kieran

tinha estado com a irmã na propriedade do padrasto, ela

não fizera outra coisa além de chorar. Diante do

desespero da jovem, ele jurara a si mesmo que se

vingaria de Daman Seymour de qualquer maneira. Sendo

assim, a proposta de sir Anton fora uma verdadeira

dádiva. A oportunidade perfeita para aquele homem

pagar, e caro, por ter feito sua querida Elizabeth sofrer

tanto.

— Sim, você jamais permitirá que sir Anton leve a

srta. Seymour — declarou Jean-Marc. — Ainda mais

depois que ela se apaixonar e implorar para que você

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não a abandone.

— Eu abandonei muitas outras, apesar da

insistência delas — respondeu Kieran, sem contestar o

fato de que a srta. Seymour, bem como sua criada, Dina,

se apaixonariam por ele. As mulheres,

independentemente da idade e condição social, sempre

se apaixonavam por ele, e isso acontecia desde seus

quinze anos. Sim, sabia que era um homem bonito,

porém não compreendia o fascínio que exercia sobre o

sexo oposto, mesmo quando não tinha a intenção de

conquistar.

Não havia como evitar, portanto, Kieran aprendera a

lidar com a situação. Ao selar o acordo com sir Anton, ele

já sabia que a srta. Glenys se apaixonaria, o que de certo

complicaria seus planos. E como Jean-Marc dissera, ela

agiria como as outras, implorando para não ser

abandonada, principalmente se permanecesse prisioneira

em York por alguns meses. Todavia, seu coração, apesar

da intensa admiração por mulheres em geral, nunca se

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encantara por nenhuma em especial, a não ser pela mãe

e irmãs.

Kieran estava bem acostumado a dispensar fêmeas

ardentes que cruzavam seu caminho. Seria uma grande

falsidade dizer que evitara despedaçar mais do que

alguns corações durante seus anos de andanças, porém

ele tomava o máximo cuidado para não agir como sir

Daman Seymour, deixando uma grávida ou desesperada,

a ponto de a morte parecer melhor do que a vida. E a

irmã do cavalheiro não era nenhuma exceção.

Não, a vingança deveria recair apenas sobre sir

Daman. Quanto à srta. Glenys, Kieran a manteria a salvo

e confortável durante sua estada na fortaleza de sir

Anton em York. Depois cuidaria para que ele a tratasse

bem, não obrigando-a a se casar contra a vontade, nem

mantendo-a longe da família. No que dizia respeito a si

mesmo, Kieran repeliria as declarações de amor da moça

com toda a educação e faria o possível para não incitar

tais sentimentos desde o início.

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Por sorte, a srta. Glenys não dificultaria a tarefa. Se

tivesse sentido qualquer tipo de atração pela jovem,

Kieran enfrentaria sérios problemas para não seduzi-la.

Nunca se apaixonara por nenhuma, mas as mulheres

eram seu ponto fraco. Aquela jovem, entretanto, tinha o

olhar de uma mulher determinada, e não fazia

exatamente seu tipo. Podia-se dizer que era esbelta. E

apesar da evidência de curvas deliciosas por baixo do

manto de lã, ela era bem magra. A não ser que os trajes

da jovem possuíssem algum tipo de poder mágico que

escondesse o que havia por baixo, Kieran não conseguia

detectar nenhum sinal da abundância de curvas que

tanto o encantava no sexo oposto.

Não, a srta. Glenys era alta e magra, uma mulher

graciosa e saudável, capaz de desconcertar muitos

homens. Kieran, todavia, não estava entre eles.

— Ela sairá logo do banco.

— Sim, dentro de alguns minutos — concordou Jean-

Marc. — A srta. Seymour costuma ser bastante pontual.

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Era verdade. Os dois a observavam havia alguns

dias, apenas três, colhendo informações com aqueles

dispostos a ganhar algumas moedas de ouro, porém

tinham descoberto muitas coisas a respeito da vida dela.

Entretanto, nada de muito excitante. Aos vinte anos,

quase tendo passado da idade de se casar, Glenys

morava com os tios em um dos imponentes palácios

construídos à beira da praia. Todas as manhãs, ela

assistia à missa com os tios e tias, e todas as tardes ia

até o centro de Londres para cuidar dos inúmeros

negócios da família Seymour, sempre reservando um dia

da semana, quinta-feira, para conversar com o

banqueiro, o sr. Fairchild. Todas as noites Glenys voltava

para a residência da família, e os pesados portões se

fechavam logo atrás, trancando todos até a manhã

seguinte.

Nesse período nenhum visitante, pretendente,

vizinho ou conhecido entrara na propriedade. Em três

dias, nada de interessante acontecera na vida dela. Na

verdade, tudo era tão rotineiro que Kieran não conseguia

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imaginar como uma mulher jovem, mesmo tão séria

quanto a srta. Seymour, conseguia suportar um cotidiano

tão monótono. Além disso, não era nem um pouco

sensato para uma jovem de tantas posses ter um horário

tão regular. Seria extremamente fácil seqüestrá-la. O fato

de ninguém ainda ter tentado o surpreendia, pois certa-

mente a família pagaria um bom resgate. E é claro, havia

o irmão, sir Daman, para dissuadir a maioria dos

criminosos de ousarem tal façanha. O pensamento trouxe

um sorriso aos lábios dele.

— Chegou a hora — anunciou Kieran, olhando para o

céu cada vez mais escuro.

Jean-Marc assentiu e começou a desamarrar o

manto que vestia.

— Vou ficar esperando na esquina, pronto para

trocar de roupa com o cocheiro.

— E eu vou buscá-lo, junto com o criado —

respondeu Kieran, andando. — Não bata com muita força

dessa vez, Jean-Marc. Não quero nenhum dos dois

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machucados. Não tenha pressa. Tempo é o que não nos

falta. Tudo dará certo. Confie em mim.

A risada baixa de Jean-Marc cortou o ar cada vez

mais frio, e ele seguiu seu mestre para fora da taverna.

— Rápido, Dina — apressou Glenys,

insistentemente, saindo do edifício onde o sr. Fairchild

mantinha seu banco. Um empregado segurou a porta

aberta para as duas, fazendo uma mesura assim que elas

passaram. — Quero voltar para casa bem depressa.

Levantando as saias, ela correu pela rua até a

carruagem, com Dina logo atrás. Sua ansiedade era tanta

que Glenys nem olhou para o criado que lhe abriu a

porta, John, e baixou a cabeça.

Apesar da breve troca de olhares, Glenys soube que

havia algo de errado. Porém, já entrara na carruagem

quando seu corpo respondeu à informação recebida por

seu cérebro: John não era tão alto, nem tão musculoso.

— Dina — chamou ela, virando-se para descer. Mas

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sua criada foi empurrada para dentro da carruagem e

caiu no assento. Desesperada, Dina agarrou-se a Glenys,

piorando ainda mais a situação.

Tudo tinha acontecido tão depressa que, no

momento em que Glenys se endireitou, ajudando Dina a

fazer o mesmo, já era tarde demais. O impostor que

capturara John entrou com facilidade na carruagem e

fechou a porta em seguida.

— O que…

O homem sentado no assento em frente tirou um

longo e brilhante punhal das dobras do manto de John,

que usava sobre suas próprias roupas, e o apontou para

as duas jovens.

— Fique quieta, senhorita — ordenou ele, com a voz

calma, porém desafiadora. — Não tenham medo. Se você

e sua criada me cumprirem minhas ordens, nada lhes

acontecerá. Agora, se começarem a me causar

problemas, serei obrigado a tomar medidas mais

drásticas.

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Naquele instante, Dina emitiu um som esquisito e

desmaiou no colo de Glenys.

— Nós não temos dinheiro — explicou ela, puxando

Dina para cima, evitando que a criada caísse no chão da

carruagem. — Eu não trouxe nada do banco.

O inimigo simplesmente sorriu, de uma maneira tão

encantadora que Glenys sentiu-se mais confusa ainda.

— Não quero o seu dinheiro, srta. Glenys —

respondeu ele.

— Quero apenas que me obedeça ficando quieta.

Dentro de poucos instantes alcançaremos os portões da

cidade, então você poderá voltar a falar. Assim que

estivermos fora de Londres, eu lhe explicarei tudo.

— Nos portões da cidade, você já estará preso —

disse Glenys, por entre os dentes. — O que você fez com

John e Willem? Sei que não é Willem que está conduzindo

a carruagem. Ele nunca…

O estranho levantou a mão.

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— Os dois estão bem. Um golpe na cabeça foi tudo

que eles sofreram. Já cuidei para que os dois sejam

encontrados e levados de volta para Metolius. Não tema

por eles, mas sim por si mesma e por sua criada. A idéia

de machucar mulheres não me agrada, porém saiba que

o farei, se necessário. Nós atravessaremos os portões da

cidade, com ou sem a sua ajuda, embora eu sugira que

coopere conosco. Preste muita atenção no que vou lhe

falar, srta. Glenys, pois é sério. Eu já matei muitos

homens na vida, e dois guardas londrinos não farão a

menor diferença. Todavia, imagino que você prefira não

testemunhar um derramamento de sangue. — A lâmina

afiada do punhal reluziu. — Agora fique quieta. Depois

você poderá falar o quanto quiser.

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CAPÍTULO III

Glenys cruzou os braços e levantou os olhos, fitando

seu seqüestrador sem piscar. Ele a olhava de volta com o

mesmo sorriso encantador nos lábios, mostrando-se

contente por ficar em silêncio, desafiando-a a uma

competição de forças.

Aquele homem era exatamente o tipo que ela mais

desprezava. Bonito e ciente de seus encantos, julgava

que um simples sorriso era capaz de seduzir uma mulher.

Ainda mais uma mulher sem muitos atrativos, como era o

seu caso. Sim, ele era bonito, admitiu Glenys, talvez o

homem mais bonito que já vira na vida. E com certeza o

mais sedutor. Mas isso não importava. Se acreditava que

ela cairia em suas garras, estava enganado. E como!

Glenys aprendera a proteger seu coração havia bastante

tempo. Jovens desprovidas de beleza aprendiam cedo. E

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depressa.

Os olhos dele eram de um azul estonteante,

bastante claros, contrastando com os cabelos loiros e

compridos. O rosto aristocrático revelava um nariz

aquilino e as maçãs altas. Os lábios… bem, Glenys

preferia não se prolongar naquele traço em especial. Era

uma boca muito sensual, especialmente sorrindo daquele

jeito. Um sorriso que devia ter assolado muitos corações

no passado.

Que tolice a dele achar que ela seria tão ingênua

quanto as outras a ponto de… Mas Glenys tinha de

admitir que era desconcertante ser olhada daquele jeito.

Nunca recebera um sorriso assim, não de um homem,

muito menos de um homem tão bonito como aquele

bandido.

Agora já estavam bem longe de Londres, pelo

menos várias milhas. Ah, como quisera gritar por socorro

nos portões da cidade! Entretanto, Dina continuava

desmaiada, completamente vulnerável, e o seqüestrador

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mostrara que não hesitaria em usar seu punhal, se

preciso fosse. Portanto, achou melhor obedecer as

ordens dele naquele momento. Depois encontraria uma

maneira de se livrar dele.

Quando o bandido percebesse que ela não tinha

dinheiro e que seus parentes não saberiam o que fazer

para resgatá-la, pois tinham pouco conhecimento do

mundo e nenhum acesso à fortuna da família, o sujeito

certamente as soltaria. Não havia nada mais que pudesse

querer, a não ser que fosse de Dina. Glenys sabia que

não era uma mulher atraente, apesar dos sorrisos

sensuais que o homem lhe dirigia.

Sendo assim, resignada a obedecer até que

pudessem discutir, Glenys repetiu o que ele lhe instruíra

a dizer para os guardas. Reconhecendo-a, os homens

abriram os portões e eles passaram. Pouco depois, Dina

recobrou os sentidos, e Glenys passou a meia hora

seguinte tentando tranqüilizar sua criada e fazer com que

ela parasse de chorar. A pobre, atordoada e assustada,

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ficou sentada em silêncio, com os dedos entrelaçados no

colo, engolindo o choro e o pânico que a consumia.

Preparada para lidar com seu captor, Glenys cruzou

os braços e esperou que ele se pronunciasse. Irritada

com a insolência do homem, que se manteve em silêncio,

ela cedeu.

— Eu lhe garanto que você não receberá um único

centavo com esse plano — começou Glenys. —

Entretanto, terá muita sorte se sua única recompensa for

escapar da punição do rei, que, no mínimo, será o

enforcamento. Porém, você só se livrará desse destino se

parar com essa brincadeira agora, meu caro. Caso

contrário, terá o que merece. Eu mesma vou cuidar para

que isso aconteça.

O homem pareceu se divertir com as palavras de

Glenys, pois continuou a olhá-la, apenas assentindo com

a cabeça.

— Quanta bondade em se preocupar com o meu

bem-estar, senhorita — disse ele, algum tempo depois —,

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mas temo não poder acabar com essa… brincadeira, nem

pela minha própria vida nem pela do meu companheiro.

Eu já aceitei uma parte do pagamento pelo serviço e,

desse modo, não posso dar prioridade à minha honra, por

menor que seja. Glenys arregalou os olhos, surpresa.

— Alguém lhe pagou para me seqüestrar? Quem foi?

E com que objetivo? Estou lhe dizendo que não haverá

nenhum resgate, mesmo que você ameace me matar.

Diante dessas palavras, o captor franziu as

sobrancelhas.

— Sua família a tem em alta estima, senhorita.

Tenho certeza de que eles pagariam muito bem para

garantir sua volta ao lar, e principalmente para mantê-la

viva. Todavia, você não foi capturada com essa intenção,

por um resgate. Eu fui contratado por seu amante, sir

Anton Lagasse, para mantê-la a salvo em um local

onde…

— Sir Anton! — gritou Glenys, interrompendo-o.

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— Ah, não! — exclamou Dina.

O estranho olhou para as duas sem entender nada.

— Ele não é seu amante?

Glenys, incrédula, levou a mão à testa e fechou os

olhos por alguns instantes.

— Claro que não, seu tolo! — berrou ela, pouco

depois. — Ele é o meu maior inimigo! O homem que quer

arruinar e levar minha família à miséria!

Por fim, o sorriso sumiu do rosto do seqüestrador.

— Nesse caso, sinto muito, pois está claro que ele

ocultou suas verdadeiras intenções. Mas eu bem que

desconfiei, pois ele me pareceu um sujeito covarde e

inseguro. Mesmo assim, concordei em seqüestrá-la, e a

manterei minha prisioneira até que ele venha buscá-la.

— Prisioneira? Até que ele venha me buscar para

quê? Quais foram as mentiras que sir Anton lhe contou?

— Em primeiro lugar, ele me disse que é seu

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amante, mas que sua família se recusa a concordar com

o casamento de vocês, pois não o consideram um

pretendente adequado. Todavia, como está prestes a

enriquecer e a elevar seu título, ele acredita que, assim,

seus parentes o aceitarão. Por outro lado, sir Anton teme

que você seja obrigada a casar-se com outro homem

antes que ele atinja seus objetivos, e é aí que eu entro.

Ele me contratou para mantê-la escondida na fortaleza

de York, longe da sua família até que, no auge de sua

glória, possa voltar para pedi-la em casamento.

Em um gesto cheio de charme, Kieran passou as

mãos nos cabelos.

— Eu já disse que achei essa história absurda —

admitiu ele, sem a menor vergonha —, porém tenho

meus próprios motivos para ter aceitado a tarefa. E é por

essas razões que pretendo ir até o fim.

— Você deve ter sido muito bem pago — falou

Glenys, com desgosto. — Na realidade, sir Anton tem

inúmeros motivos para me querer fora de seu caminho. E

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que brincadeira absurda dizer que somos amantes. Ele

decerto imaginou que você descobriria a verdade assim

que deitasse os olhos em mim.

Para seu próprio mérito, o bandido não riu, o que

Glenys esperava que acontecesse. Ele continuou a fitá-la

com toda a calma, sem demonstrar qualquer tipo de

reação.

— Se esse realmente foi o pensamento de sir Anton,

ele não faz idéia de como se enganou. Compreendo o

que você está insinuando, senhorita, e isso apenas prova,

mais uma vez, que você sabe muito pouco sobre a

verdade.

— Eu sei perfeitamente que nenhum homem diria

que é meu amante a não ser que fosse por brincadeira —

respondeu Glenys, nervosa por estarem discutindo sobre

beleza. — Muitos, entretanto, talvez o dissessem por

dinheiro, e imagino que seja esse o caso. Portanto, peço

que discutamos o assunto agora. Com clareza e sem

rodeios. Sir Anton lhe pagou muito bem, mas eu posso

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pagar mais. Quanto você quer para nos soltar e parar

com essa tolice? Eu juro, em nome da minha honra, que

lhe entregarei o dinheiro e o deixarei partir em paz. Não

comentarei o assunto com ninguém, e cuidarei para que

John e Willem também se mantenham calados. Mande

parar a carruagem para acertarmos os termos do acordo.

— Sinto muito, srta. Glenys, por ser tão descortês —

disse ele. — Saiba que nenhuma quantia em ouro me

faria desistir dessa tarefa. Além do acordo com sir Anton,

tenho meus próprios motivos para seqüestrá-la e mantê-

la presa. Talvez devamos recomeçar. Permita que me

apresente. Meu nome é Kieran FitzAllen, e é um prazer

conhecê-las, srta. Glenys e srta. Dina. Ele inclinou-se

para a frente e fez uma mesura com a cabeça. Glenys

desejou saber como reagir em um momento tão vul-

nerável, mas tudo que fez foi elevar as mãos em sinal da

fúria que a acometia.

— Não me interessa saber quem você é! Como

posso fazer você compreender? Sir Anton não virá me

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buscar! Ele jamais virá me buscar, pois quer me ver

longe de seu caminho. De preferência morta.

A expressão de Kieran tornou-se mais séria.

— Então para que ele me contratou? Pelo menos

para forçá-la a um casamento indesejado. Mesmo que

vocês não sejam amantes, você acha provável que sir

Anton queira sua fortuna?

— Não é ouro que ele quer — explicou Glenys —, e

sim um tesouro que pertence há gerações aos Seymour.

Ele pretende encontrar esse tesouro, que saiu de nosso

poder, antes de mim.

— Ah… — murmurou o seqüestrador,

compreendendo. — A Pedra da Graça. É esse o tesouro?

A surpresa em saber que ele conhecia o segredo de

sua família a deixou momentaneamente muda.

— Ele sabe de tudo, milady! — sussurrou Diana,

assustada. — Ele é cúmplice de sir Anton!

— Não, não sou — defendeu-se imediatamente

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Kieran, voltando a atenção para a criada. — Os motivos

que levaram sir Anton a querer a captura de sua senhora

não significam nada para mim, embora eu deva admitir

que eles me deram a oportunidade de agir. Eu sei sobre a

Pedra da Graça porque ele me advertiu que a srta.

Glenys resistiria em ser capturada por estar em busca

desse suposto tesouro. — Ele olhou para a jovem. — Pelo

menos sobre esse assunto sir Anton não mentiu.

— Não é bem a verdade, porém o suficiente —

respondeu ela, perdendo um pouco de sua costumeira

vivacidade. A cada frase proferida, eles se afastavam

mais e mais de Londres. A carruagem seguia depressa, e

o céu escurecia com nuvens carregadas. Seus tios e tias

começariam a se preocupar se não voltasse logo para

casa. Ou talvez não, concluiu Glenys, pois eles pareciam

saber que a sobrinha não retornaria tão cedo a Metolius.

A lembrança de sua partida a fez emitir um gemido.

Por que não a avisavam quando coisas desse tipo

iam acontecer? Por que tudo sempre tinha que ser um

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mistério?

— Por favor — implorou ela —, escute e compreenda

o que eu tenho a lhe dizer. A Pedra da Graça é um antigo

anel, que passou por várias gerações da minha família,

desde a época dos romanos. E um objeto de grande valor

para os Seymour, apenas sentimental. Entretanto,

algumas pessoas acreditam que o anel possui poderes

místicos, o que não passa de uma grande tolice. E sir

Anton está entre elas. O anel foi roubado de nossa resi-

dência em Londres, Metolius, enquanto estávamos

passando uma temporada na propriedade da família em

Gales. O homem que o roubou é… bem, isso não

interessa. O que importa é que sei quem foi, e eu

pretendia sair atrás desse ladrão no início do próximo

mês. Sir Anton conhecia os meus planos e decidiu me

impedir.

— Ele quer encontrar Caswallan antes de você, não

é? — perguntou Kieran.

Mais uma vez, Glenys ficou espantada.

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— Sir Anton lhe contou sobre Caswallan? Esse

homem é bem mais tolo do que eu imaginava! —

exclamou ela, fixando os olhos no captor. — Você é

cúmplice dele! Só pode ser, caso contrário não estaria

insistindo em um assunto tão infrutífero.

— O único acordo que fiz com sir Anton foi para

seqüestrá-la, senhorita. Nada mais. Não tenho o menor

interesse na Pedra da Graça, se é que ela existe ou tem

poderes mágicos.

— Claro que não tem poderes mágicos. Trata-se

apenas de um velho anel sem nenhum valor. Só que não

permitirei que sir Anton se apodere de um tesouro que

pertence à minha família. Ele acredita ser um feiticeiro

dotado de grandes habilidades, e acha que a Pedra da

Graça o tornará ainda mais poderoso.

Com essas palavras, Kieran finalmente riu,

inclinando a cabeça para trás e mostrando seus dentes

brancos e perfeitos. Naquele momento, Glenys notou,

para piorar seu agastamento, que ele era um homem

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extremamente bonito, com traços fortes e marcantes,

ainda mais quando sorria.

— Sir Anton? Feiticeiro? Você só pode estar

brincando — disse Kieran, sem conseguir conter a risada.

— Desculpe, mas é demais para mim. — Ele me parece

mais um rato bem vestido do que um homem dotado de

poderes mágicos.

— Não me importa o que pareça — interveio Glenys

—, mas sim que ele conseguiu me impedir de chegar

antes até Caswallan. Preste atenção, sir Anton não pode

ter a Pedra da Graça nas mãos. Se isso acontecer, minha

família jamais terá a chance de recuperá-la. Você precisa

parar com essa bobagem agora mesmo e nos deixar ir

embora!

Kieran respirou fundo e parou de rir.

— Não posso.

— Por quê? Agora que você já sabe que sir Anton

não irá me buscar, não há razão para seguir adiante com

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esse plano! E eu já disse que lhe pago bem mais!

Imagino que você já tenha percebido que não receberá

mais nada dele. Na realidade, é provável que sejamos

surpreendidos por bandidos bem mais perigosos do que

você em algum momento dessa viagem. E eles não

hesitarão em nos matar.

Incrédulo, Kieran FitzAllen não desgrudou os olhos

de Glenys.

— Como assim? Sir Anton não tem nenhum motivo

para matá-la, mesmo que tudo que você me contou seja

verdade. Além do quê, ele não tem o perfil de um

assassino.

— É aí que você se engana. Sir Anton sabe que não

vou parar de acusá-lo de traidor, e isso já é suficiente

para ele querer a minha morte. E mataria outras pessoas

que interferissem em seu caminho, incluindo você.

A julgar pela expressão no rosto de Kieran FitzAllen,

ele não tinha acreditado em uma única palavra do que

ela dissera.

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— Sir Anton teria grandes dificuldades em tentar me

matar, e você também, enquanto estiver sob os meus

cuidados. Não sou um cavalheiro da realeza, mas já

enfrentei alguns em batalhas e saí vencedor. Não tenho

medo de homem nenhum, muito menos de tipos como sir

Anton Legasse.

Apesar de desejar que não fosse assim, Glenys teve

de admitir que o homem sentado à sua frente seria

perfeitamente capaz de acabar com um bando de hábeis

lutadores sozinho. Kieran era musculoso e se

movimentava com extrema graça e desenvoltura, o que

poderia lhe colocar em vantagem diante de outros

homens.

— Talvez não tenha medo de sir Anton — disse ela

—, mas seria uma grande tolice não considerar que,

entre meus parentes, há alguns que o enfrentariam sem

medo. Meu irmão em primeiro lugar, sir Daman Seymour.

Duvido que você nunca tenha escutado falar dele, ou de

suas habilidades. Em caso negativo, gostaria de lhe

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informar que Daman é um exímio cavalheiro do reino,

capaz de impor justiça a homens da sua laia.

O sorriso charmoso voltou aos lábios carnudos de

Kieran FitzAllen.

— Eu sei muito bem quem é seu irmão, srta. Glenys.

— Então também deve saber que ele e seus homens

virão atrás de mim no instante em que souber o que você

fez. Daman encontrará essa fortaleza e o castigará sem

piedade, obrigando-o a implorar por salvação.

Mais uma vez, Kieran soltou uma sonora risada.

— Você fala em amor e honra, senhorita, mas

certamente tais palavras não lhe soam tão tolas quanto

para mim. Na realidade, espero que sir Daman siga nosso

rastro e nos encontre. E logo. Será um prazer enfrentá-lo

cara a cara.

Glenys entreabriu os lábios, cada vez mais pasma.

— Você não pode estar falando a sério — murmurou

ela. — Meu irmão lhe matará quando o encontrar. Não é

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brincadeira.

— Ele pode tentar. E saiba que não vai conseguir. É

bem capaz que eu o mate antes.

Glenys balançou a cabeça.

— Então essa história toda não tem nada a ver com

sir Anton, como você afirmou. É por causa de Daman que

está agindo assim. Mas por quê? Você tem algum tipo de

rivalidade com meu irmão? Não, não pode ser. Daman

não tem inimigos, a não ser aqueles que também são

inimigos da família, como sir Anton e Caswallan. E já que

não é cúmplice deles, por que quer atrair a ira de

Daman?

— Meus motivos são particulares, senhorita, e

continuarão sendo. Agora pelo menos você compreendeu

que eu não a deixarei partir, portanto é melhor aceitar e

resignar-se. Meu criado, Jean-Marc, que está conduzindo

a carruagem, e eu não lhe causaremos nenhum mal, e

nem à srta. Dina. Pretendo mantê-la cativa até que seu

irmão, ou sir Anton, ou ambos, venham buscá-la. Até lá,

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peço-lhe que não me cause qualquer tipo de problema.

Tenha em mente que não conseguirá escapar e que

permaneceremos algumas semanas debaixo do mesmo

teto. Sendo assim, sugiro que tente ficar o mais à

vontade possível.

— Senhor — começou Glenys, exasperada. — Você

não pode estar achando que minha criada e eu ficaremos

à vontade na condição de prisioneiras. Sua sugestão é

um verdadeiro absurdo, um disparate!

Kieran a olhou fixamente com seus olhos azuis, tão

cheios de sensualidade que toda a pele de Glenys se

arrepiou.

— Mesmo a situação mais desagradável do mundo

pode tornar-se divertida e prazerosa, srta. Glenys — falou

ele, com a voz baixa e sedutora. — Eu já passei várias

vezes por experiências do tipo. Na verdade, é um jogo

muito interessante.

O sentido daquelas palavras foi óbvio, provocando

um rubor imediato no rosto da jovem. Se não tivesse

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absoluta certeza de que não passava de uma

provocação, Glenys teria se derretido toda. Por Deus!

Além de bandido, aquele homem era um hábil sedutor. O

temor não era por si, mas sim pela criada. Dina era

jovem e bonita, com os cabelos loiros e olhos azuis que

tanto encantavam o sexo oposto. Seria um alvo perfeito

para Kieran FitzAllen, apesar de ele ter olhado apenas

duas vezes na direção da moça. Teria de tomar o máximo

cuidado para que nada acontecesse com Dina, a quem

considerava como uma irmã caçula.

A criada, por sua vez, parecia nem ter prestado

atenção no seqüestrador, o que deixou Glenys bastante

aliviada. A última coisa que precisava era que Dina se

apaixonasse por aquele homem. E sem dúvida era o que

acontecia com a maioria das mulheres que o conheciam.

— Ah, meu Deus… — murmurou Dina, cabisbaixa. —

O que será do mestre Aonghus, do mestre Culain e de

suas tias? O que lhes acontecerá se você não voltar para

Metolius? Não há mais ninguém para cuidar deles.

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Glenys pensava o mesmo, agora que estava bem

claro que não conseguiriam fazer o captor mudar de

idéia.

— Sim, o que será dos meus parentes idosos? Eles

não estão acostumados a ficar sozinhos, sem alguém que

cuide deles.

— Mas você não pretendia deixá-los quando partisse

em busca da Pedra da Graça? — perguntou Kieran.

— De forma alguma. Eu já havia combinado com

minha prima Helen para ficar com eles na minha

ausência. Todavia, ela só deverá chegar dentro de três

semanas, no mínimo. Agora eles ficarão sozinhos, sem

saber o que fazer.

— Humm…

Kieran colocou um longo e belo dedo no queixo e

ficou em silêncio por um momento, analisando a questão.

Glenys surpreendeu-se por ele estar considerando seu

problema.

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— Se eu conseguir encontrar uma maneira de você

mandar uma carta para sua prima pedindo-lhe para ir

antes para Metolius, você me promete que não revelará

quem a capturou e para onde estamos indo? — disse ele,

por fim.

— Não — respondeu Glenys imediatamente, antes

que pudesse pensar. — Não vou fazer nenhum tipo de

promessa.

— Como não? — gritou Dina. — Você precisa fazer

isso para que nada aconteça a seus tios. Infelizmente,

não há outra saída.

Glenys sabia, mas sentia-se uma grande tola.

— Está bem — concordou ela, apertando a mão que

Dina colocara sobre a sua. — Eu prometo, apesar de

duvidar que você consiga encontrar uma forma de

mandar essa carta.

— Eu tenho muitos amigos, senhorita — disse ele,

com um sorriso sedutor. — Você logo descobrirá. Não

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tenho dificuldades em conseguir o que quero.

— E eles são tão fiéis a ponto de se rebaixarem e

ajudá-lo em um crime atroz como esse?

— Sim. A maioria deles é como eu.

— Muito bem — respondeu Glenys.

Irritada, ela cruzou os braços e olhou para fora.

Estava escuro e caía uma chuva fina, que respingava

ligeiramente no interior da carruagem. Se piorasse,

seriam forçados a fechar as cortinas, e ficariam cerrados

na escuridão. Era um pensamento infeliz, mas não havia

como impedi-lo. Nada daquilo podia ser evitado,

infelizmente. Tudo que tinha a fazer era aceitar seu

destino e rezar para que a pedra branca em seu bolso

não começar a brilhar. Glenys não queria dar explicações

ao perverso seqüestrador. Ele já sabia demais sobre a

sua vida.

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CAPÍTULO IV

Kieran sabia que não deveria ter usado de ar-

timanhas com sua prisioneira, ainda mais depois de ter

jurado que não a seduziria. Na verdade, agira por hábito,

o que não era uma desculpa plausível. Não precisava ter

conversado com ela em tom de flerte, e faria o possível

para que o incidente não se repetisse.

Mas a srta. Glenys só dificultava.

O rosto dela, agora que o observava mais de perto,

era bastante angular. Talvez não tão quadrado quanto

parecera a princípio, mas possuía os mesmos ângulos

intrigantes e linhas delicadas de um diamante

perfeitamente lapidado. Kieran não conseguia parar de

olhá-la. Era como se estivesse magnetizado. As emoções

se misturavam nos olhos acinzentados e inteligentes. E

que emoções! Raiva, frustração, irritação… Até mesmo

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desprezo, sentimento com o qual ele não costumava se

deparar.

Sim, a srta. Glenys era uma jovem que valia a pena

ser observada. Bem mais interessante em expressão, no

modo de agir e na conversa do que a maioria das

mulheres que Kieran conhecera. Era uma pena que a

criada, Dina, tivesse uma beleza tão comum, caso

contrário ele teria se interessado pela jovem. Mas ela se

assemelhava demais às inúmeras loiras de olhos azuis

com as quais flertara durante os últimos anos. Nenhuma

apresentava nada de especial.

Já com a srta. Glenys era diferente. Mesmo agora

que ela olhava para fora, a preocupação estampada em

cada traço de sua expressão, a parca iluminação

brincava com os ângulos de seu rosto, trazendo vida a

sombras efêmeras e fazendo com que seus olhos

parecessem quase negros. Os lábios generosos, deli-

cados, estavam pressionados em uma linha contraída, e

algumas mechas dos cabelos dourados como o pôr-do-sol

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se soltavam das tranças que lhe prendiam os cabelos,

roçando ligeiramente contra suas faces.

— Não falta muito para que paremos — disse ele,

desejando ter algo mais a dizer. A chuva, que caía com

suavidade, tornaria a viagem daquela noite bem mais

desagradável do que Kieran imaginara. Por um lado

positivo, a água apagaria os rastros que deixavam para

trás.

— Ótimo — respondeu ela, sem dirigir-lhe o olhar. —

Parece-me que logo teremos de abaixar as cortinas. E a

parada nos dará a oportunidade de fazê-lo.

— E verdade — concordou ele. — Acho uma boa

idéia, pois não me agradaria nada devolver uma

carruagem tão elegante arruinada.

Kieran passou o dedo pelo veludo vermelho que

cobria os assentos. Era uma bela carruagem, confortável

para passeios na cidade, porém não para longas

distâncias. Não havia vidro nas janelas, mas as pesadas

cortinas enceradas manteriam os ocupantes secos em

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uma tempestade.

— Devolver a carruagem? — perguntou Glenys,

fitando-o da maneira singular que o fizera durante a

última hora, indicando que o achava insano. — O que

está querendo dizer?

Enquanto Glenys falava, Jean-Marc desviou a

carruagem para a margem da estrada, aproximando-se

de algumas árvores. Inclinando-se na janela, Kieran

assobiou para cumprimentar um homem que apareceu,

trazendo dois cavalos de um esconderijo.

Mesmo antes de Jean-Marc parar, Kieran abriu a

porta e saltou para fora, olhando primeiro para cima,

certificando-se de que seu amigo estava bem.

— Ninguém nos seguiu — disse Jean-Marc,

amarrando as rédeas em um tronco. — Tivemos

companhia, mas é normal quando se segue por uma

estrada principal.

Ele desceu de seu assento e parou ao lado de

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Kieran.

— É melhor corrermos se quisermos chegar logo a

Bostwick.

— Sim, e sem sermos encontrados — concordou

Kieran. Um trovão retumbou no céu escuro,-e no

momento seguinte a chuva se intensificou. Ainda não era

um dilúvio, mas logo seria. — Vamos, depressa — disse

ele, estendendo a mão.

Glenys o olhou sem acreditar no que estava prestes

a acontecer.

— Você não pode estar insinuando que

continuaremos a viagem a cavalo debaixo dessa chuva!

— Exatamente — respondeu ele, impaciente. —

Venha, por favor. Temos de continuar até estarmos

seguros. Coloque seu capuz e desça. Vocês duas.

— Minha capa não tem capuz! — gritou ela, furiosa.

— Nós não pretendíamos viajar para longe!

— Então você terá de ser corajosa nessa chuva. Por

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sorte alguém as aconselhou a usar capas pesadas.

Atrás dele, Jean-Marc e Tom Postleleth selavam os

animais para a cavalgada.

— Dê o dinheiro a Postleleth e deixe-o partir —

ordenou ele, dirigindo-se a Jean-Marc antes de se virar

para Glenys. — Desça da carruagem, senhorita, caso

contrário terei de ser mais drástico.

Cumprindo a promessa, Kieran inclinou-se para

pegar o braço da jovem, que o empurrou com violência

antes que ele pudesse tocá-la.

— Não ouse tocar em mim ou na minha criada —

esbravejou ela, em um tom tão autoritário que Kieran

não se atreveu a dar uma contra-ordem. — Jamais!

Segurando a saia, ela virou-se para Dina, a quem se

dirigiu no mesmo tom.

— Vamos, Dina. Pelo visto não temos outra

alternativa a não ser descer nessa chuva torrencial. O

máximo que pode acontecer é pegarmos uma gripe e

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morrer.

Glenys desceu da carruagem com elegância,

sozinha, ignorando a mão de Kieran. Ele não percebeu

que a olhava intensamente até que sentiu a pequena e

delicada mão de Dina sobre seu antebraço. Voltando a si,

ele ajudou-a a descer.

Demorou apenas alguns instantes para que os

homens baixassem as cortinas da carruagem, depois

Kieran explicou o plano a Tom. Ele deveria deixar a

carruagem à beira da estrada, perto de Londres, para

que fosse encontrada por alguém. Os dois criados, John e

Willem, de certo já haviam sido encontrados e voltado a

Metolius. Portanto, a família Seymour já devia ter avisado

o delegado de Londres. Um grupo de busca poderia estar

no encalço deles, mas o seqüestrador acreditava que

conseguiria despistá-los e chegar a Bostwick, onde

estariam seguros e a salvo.

— Há apenas dois cavalos — observou a srta.

Glenys, ao som dos trovões cada vez mais fortes. Ela

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fechou mais a capa, porém, como não tinha capuz, seus

cabelos já estavam ensopados, grudados no rosto. A

criada estava em condições um pouco melhores, pois

Jean-Marc tirara sua capa para protegê-la. Kieran teria

feito o mesmo por Glenys, apesar de saber que ela

recusaria.

— Sim, só dois — concordou ele, segurando-a com

força pelo ombro, impedindo-a de se soltar. — Você

cavalgará comigo. Venha.

Glenys não protestou, sabendo que de nada

adiantaria, e se deixou guiar até o grande garanhão que

os esperava.

— É um animal muito bonito para um bandido —

declarou ela, colocando a mão na sela para se apoiar e

montar sem qualquer ajuda.

— Pode ser, mas ele é meu — respondeu Kieran,

que, sem hesitar, colocou-a em cima do animal. —

Chama-se Nimrod. Foi meu pai quem escolheu o nome. —

Momentos depois, o captor estava atrás de Glenys. Por

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sorte ela não tentou escapar, sabendo que de nada

adiantaria.

— Isso significa que seu pai o reconhece como filho?

— perguntou ela, em um tom que demonstrava mais

desdém do que curiosidade. O "Fitz" no sobrenome de

Kieran indicava que era filho ilegítimo ou que descendia

de um, declarando o fato com todas as letras. Pelo

menos era o que ele achava, mas as circunstâncias de

seu nascimento sempre fora seu ponto fraco. E Glenys o

acertara em cheio.

— Eu sou muito bem reconhecido — informou ele,

tenso, aguardando Dina e Jean-Marc montarem o outro

cavalo. — Por toda a minha família. Às vezes isso pode

ser mais um fardo do que uma bênção.

Glenys soltou uma alegre risada.

— É verdade.

Kieran envolveu-a firmemente com um braço e

segurou as rédeas com a outra mão. Eles então seguiram

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viagem, afastando-se da estrada e adentrando a floresta.

A água pingava das folhas, inundando-os, e o vento

começava a soprar cada vez mais frio.

— Aonde estamos indo? — perguntou Glenys,

mantendo-se tão rígida quanto uma estátua sob o braço

de Kieran.

Apesar da pesada capa e das roupas que vestia, ela

era bastante feminina, quente e perfumada. Ele segurou-

a com mais força, e sentiu-a respirar fundo.

— Para um lugar a milhas daqui.

Um galho baixo e molhado acertou o rosto de

Glenys, que o empurrou para o lado demonstrando sua

irritação.

— Não há nenhuma estrada decente por onde

possamos cavalgar? E realmente necessário seguirmos

por um caminho tão afastado da civilização?

O tom de voz de Glenys trouxe um sorriso aos lábios

de Kieran. Ele se lembrou de um dos muitos sermões que

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costumava levar da mãe nos últimos anos.

— Estamos indo para um lugar quente e seco, e é o

que mais me preocupa no momento. Não, não vamos

pegar estrada por um bom tempo. A chuva cobrirá nosso

rastro, mas prefiro não me arriscar.

Mais um galho os atingiu, e outro trovão ecoou no

céu. A chuva aumentou ainda mais, e o final da tarde

parecia noite. A situação não era nem um pouco

agradável, e Kieran sentiu uma ponta de culpa por estar

fazendo duas inocentes passarem por tudo aquilo.

Quando a srta. Glenys afastou as mechas de cabelo que

grudavam em seu rosto, a culpa aumentou ainda mais.

— É a taverna de um amigo meu, Bostwick —

explicou ele, sem saber por que dera a explicação. — Não

é um ambiente dos mais refinados, porém é seco e

aquecido. Se tivermos sorte, você e sua criada poderão

ficar em um quarto e descansar por algumas horas,

embora eu admita…

— O quê? — interrompeu ela, virando-se na mesma

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hora.

— Bem… É que Bostwick é uma taverna bastante

animada, e não o lugar mais apropriado para se

descansar. Vamos torcer para que hoje seja diferente.

— Ah, meu Deus — murmurou ela, esfregando os

olhos. — Não pode ficar pior do que está. Não pode.

Mas ficou. Muito pior. Glenys estava parada no meio

da espelunca para a qual Kieran as tinha levado, não

acreditando no que seus olhos lhe mostravam. Era uma

casa grosseira, suja, mal-construída, que dava a

impressão de que desabaria a qualquer momento. O

ambiente, uma mistura de fumaça, odores desagradáveis

e pessoas bêbadas, não lhes dava espaço para se

movimentar, quanto mais para se acomodar em uma

mesa.

Glenys nunca vira nada parecido em toda a vida. Em

um dos cantos, um homem e uma mulher demonstravam

um grau de intimidade que a igreja permitia apenas a

marido e mulher legalmente casados. O fato de o casal

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não se incomodar deixou bem claro que os

freqüentadores daquela taverna estavam acostumados a

cenas daquele tipo. Na verdade, a repentina chegada de

Kieran FitzAllen e seu companheiro chamou a atenção de

todos.

Todos começaram a gritar e a levantar suas canecas

para brindar, batendo umas contra as outras. Eles

ignoraram Glenys e Dina, empurrando-as para o lado a

fim de abraçá-los.

O cheiro de suor, misturado ao de álcool, quase fez

com que Glenys desmaiasse. Ela olhou para Dina, que

apertava sua mão com força, e viu a palidez da jovem.

Então puxou-a para perto, no intuito de protegê-la

daqueles bandidos.

No meio da gritaria, a voz de Kieran FitzAllen se

destacava, retribuindo cada cumprimento como se

aquelas criaturas imundas fossem seus melhores amigos,

todos. As mulheres, em especial, eram mais atiradas,

com seus vestidos decotados e surrados, cabelos soltos e

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maquiagem carregada. Glenys sabia que eram

prostitutas, e nem foi preciso olhar para saber que o

seqüestrador estava adorando as demonstrações de

carinho.

— Olhem só — disse uma voz vigorosa, fazendo com

que toda a construção tremesse. — Finalmente meus

amigos chegaram! Saiam da frente! Saiam!

— Que Deus nos ajude — murmurou Dina, com a

voz trêmula. — É um gigante.

— Calma, minha querida. Não é um gigante —

respondeu Glenys, sabendo que não falava a verdade. O

homem era um gigante. Um negro enorme, com braços

tão musculosos a ponto de abraçar uma árvore e parti-la

em pequenos pedaços.

— Bostwick! — chamou Kieran, desvencilhando-se

de todos para abraçar o gigante. — Há quanto tempo!

Como é bom revê-lo, meu amigo!

— Sim, e você, seu patife! — Bostwick bateu com

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tanta força nas costas de Kieran que ele quase se curvou.

Depois foi a vez de Jean-Marc. — E aqui estão as

adoráveis prisioneiras.

— E agora? — choramingou Dina, cada vez mais

desesperada.

— Acalme-se — tranqüilizou Glenys, fitando o

gigante nos olhos. — Eu lhe juro que esse homem não

encostará um só dedo em você. — Era verdade, apesar

de também estar morrendo de medo do gigante. Ele se

aproximava das duas de braços abertos, como se

pretendesse levantá-las ao mesmo tempo.

— Vá com calma, Bostwick — interveio Kieran,

colocando-se na frente delas. — Essas são as

prisioneiras, e espero que você tenha lhes preparado um

quarto adequado. Elas são de uma boa família e, como

ficou claro, não estão acostumadas a pessoas tão rudes.

Se você as cumprimentar de perto, elas podem desmaiar

ao sentir seu cheiro. — Ele riu de sua brincadeira, e todos

fizeram o mesmo, incluindo o próprio Bostwick.

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— Você tem razão, Kieran. Imaginem só o bem que

essas duas nos proporcionariam, desmaiadas.

Foi uma brincadeira até amável, a julgar pelo estado

das duas, pensou Glenys. Estavam molhadas da cabeça

aos pés depois de quase três horas de cavalgada sob a

pesada chuva. Estavam fracas, famintas e com frio. E tão

atraentes quanto dois cachorros molhados.

— Elas me parecem bastante cansadas — comentou

Bostwick, estudando-as. — É uma pena que sejam de boa

família. Elas lhe causarão muitos problemas durante a

viagem.

— Não tenho a menor dúvida — concordou Kieran,

suspirando.

— Mas não há nada que se possa fazer, não é, meu

amigo?

Todos nós precisamos aceitar qualquer fortuna que

caia em nossas mãos — comentou Bostwick.

A multidão riu da observação, divertindo-se mais do

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que o normal devido às inúmeras canecas de cerveja

consumidas. Duas das mulheres mais atraentes da

taverna tinham se agarrado a Kieran FitzAllen, uma de

cada lado, observou Glenys, e outra estava abraçada a

Jean-Marc. Nenhum dos dois se mostrava incomodado

com o fato. Aliás, pareciam estar gostando.

— Vamos para perto da lareira, assim elas se

aquecem e nós podemos vê-las melhor — sugeriu

Bostwick. — A aparência delas melhorará depois de se

aquecerem um pouco e se alimentarem.

As duas foram empurradas para perto da grande

lareira.

— Calma, meus amigos — disse Bostwick. — Elas

não estão acostumadas a ser tratadas com grosseria.

Margie, deixe Kieran em paz e vá buscar um pouco de

cerveja para elas.

Apesar das palavras de Bostwick, Glenys sentiu um

forte puxão na pequena bolsa de couro que Aonghus lhe

dera, que agora estava presa em seu cinturão. Sem

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pensar duas vezes, ela se virou e acertou um tapa no

rosto do homem que se atrevera a tocá-la. O sujeito

cambaleou para trás, com a mão na face vermelha, e

arregalou os olhos, chocado com o que acabara de

acontecer. Então, furioso, ele avançou na direção dela.

No mesmo instante, Kieran colocou-se entre ambos.

— Acalme-se, Hiram, e não me cause problemas —

ordenou ele, em tom de advertência, à medida que a

gritaria na taverna começava a diminuir. — Essas

mulheres não carregam ouro, nem nada de valor. Todos

vocês, prestem muita atenção. — Kieran levantou a voz e

olhou à sua volta. — Elas estão sob os meus cuidados e

nada pode lhes acontecer. Se eu escutar alguma coisa, a

menor das reclamações, juro que o culpado terá de se

entender comigo.

De repente, ele se virou e apontou para outro

homem.

— Coll, venha aqui. Imediatamente!

O homem obedeceu, enfiando a mão no bolso da

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túnica que vestia. Quando Kieran estendeu a mão, ele lhe

entregou o que roubara: a pequena pedra branca

brilhante.

Ao vê-la, Glenys levou a mão ao bolso, sentindo um

grande alívio ao verificar que sua valiosa peça de xadrez

continuava intacta.

— E apenas uma pedra — disse o homem. — Nada

mais.

— Uma pedra! — gritou Bostwick, rindo. — E

verdade, Kieran, meu amigo. Elas não podem ter nada de

valor se carregam uma pedra no bolso. Uma pequena

pedra! — Ele caiu na risada, e a multidão voltou a se

divertir.

Kieran virou-se para Glenys e colocou o objeto em

sua mão trêmula. Por sorte, a pedra não começara a

brilhar, e ela a enfiou rapidamente no bolso. O que teria

acontecido se alguém tivesse visto a pedra brilhando, ou

a antiga peça de xadrez, com seus olhos vivos? Como

explicar para todos aqueles ladrões, em especial a Kieran

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FitzAllen, o que significavam e por que pareciam

mágicas?

Glenys olhou para cima ao sentir a mão quente de

Kieran em sua bochecha. Ele a fitava com seus olhos

azuis, revelando uma ponta de preocupação.

— Você está tremendo — declarou. — Não há o que

temer. Ninguém lhes fará mal.

— A não ser você — disse ela, arrependendo-se na

mesma hora. Ele era um bandido e inimigo, mas era a

única proteção das duas naquele antro. — Estamos com

frio e fracas — admitiu Glenys, dessa vez com mais

calma. — O fogo solta mais fumaça do que aquece, e

essas pessoas… Esses seus amigos…

— Sim? — Kieran ergueu as sobrancelhas.

— Não há um lugar onde Dina e eu possamos ter um

pouco de sossego? — perguntou ela, vendo que Bostwick

se aproximava para escutar a conversa. — Você

comentou que talvez pudéssemos ter um quarto… Não

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podemos ir para lá, Dina e eu? — Glenys imploraria, se

preciso fosse.

— Sugiro que se aqueçam na lareira para que suas

roupas sequem. E que comam alguma coisa.

— Seria melhor se pudéssemos nos deitar, e se

tivéssemos algumas mantas para nos cobrir. Não

podemos comer no quarto? Por favor — pediu Glenys,

procurando compreensão no rosto dele. — Eu lhe

imploro. Você não pode achar que estamos confortáveis

aqui.

Ele olhou para os companheiros, incapaz de

compreender tal sentimento. Então ocorreu a Glenys que

ele e seu criado, Jean-Marc, não viam a hora de começar

a beber, comer e se divertir com aquelas pessoas.

— Não precisa vir conosco — disse ela, tocando-lhe

o braço. Kieran olhou para os dedos longos. — Dina e eu

ficaremos bem sozinhas. Você e Jean-Marc podem se

divertir tranqüilamente com seus amigos.

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Por um longo instante, Kieran ficou olhando para a

mão em seu braço.

— Eu não sei se posso confiar em você, srta. Glenys

— disse ele, momentos depois. — Aposto como tentará

escapar enquanto Jean-Marc e eu relaxamos. Entretanto,

saiba que seria uma grande tolice, pois vocês não sabem

onde estamos e as condições das estradas são péssimas,

como você mesma notou.

Ele estava certo, é claro. Glenys planejava escapar

assim que tivesse uma chance, mas jamais o faria no

meio da noite e debaixo da forte tempestade.

— Se eu jurar que não tentarei escapar durante a

noite, você permite que nós nos retiremos?

— Você faria tal juramento? — perguntou Kieran,

considerando o assunto.

— Claro. Agora mesmo.

— O que tanto conversam, Kieran? — perguntou

Bostwick, aproximando-se. — Você terá muitos dias para

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conversar com suas prisioneiras. A cerveja chegou!

Vamos até a lareira.

— Espere, Bostwick!

— O que houve? — perguntou Jean-Marc,

aparecendo se repente. O jovem criado segurava uma

caneca de cerveja e ofereceu-a a Dina, que recusou.

— Nada — respondeu Kieran, sustentando o olhar de

Glenys. — Vá dizer a Bostwick que nossas prisioneiras

querem se recolher e que as levaremos para o quarto se

ele nos mostrar qual é.

Glenys suspirou aliviada.

— Muito obrigada, FitzAllen.

— Não me agradeça antes de ver o quarto, srta.

Glenys — advertiu Kieran. — Se eu conheço Bostwick, ele

preparou o pequeno quarto usado pelas prostitutas.

Talvez vocês prefiram ficar perto da lareira.

— Não pode ser pior do que isso — disse ela,

envergonhando-se por já ter dito aquelas palavras.

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— Reze para que não seja — falou Kieran,

segurando-lhe o cotovelo. — Vamos ver o que as espera.

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CAPÍTULO V

O quarto era bem melhor do que Kieran esperava.

Jamais poderia imaginar que Bostwick tivesse um

aposento tão limpo e bem-cuidado em sua taverna, e tão

escondido. Ficava do outro lado do salão principal, e

quase não se conseguia escutar a gritaria.

Era um dormitório pequeno, porém limpo e

preparado para a chegada das duas mulheres, com duas

camas, duas cadeiras, uma mesa e três velas, que

Bostwick acendeu depressa. A lareira, que ficava ao lado

da janela, brilhava, afastando o frio da noite.

— Esse fogo não as aquecerá tanto quanto o fogo da

taverna — disse Bostwick, observando as duas tremendo

—, mas há algumas mantas na cama. Vocês podem tirar

a roupa e se aquecerem como quiserem.

Dina arregalou os olhos.

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— Coloquem as roupas perto da lareira que elas

estarão um pouco mais secas ao amanhecer. Entretanto,

seria mais interessante se vocês o fizessem na taverna.

Kieran olhou para Glenys a fim de testemunhar a

reação da jovem diante daquele comentário, e não se

desapontou com o que viu.

O rosto dela, pálido de cansaço, frio e fome, se

iluminou com duas manchas vermelhas.

— Nós preferiríamos nos jogar no fogo a entregar

nossas roupas a vilões tão vergonhosos, ainda mais neste

estabelecimento horroroso — disse ela, com o tom de voz

digno de uma rainha. — No caso, o seu estabelecimento,

sr. Bostwick, que não nos agrada nem um pouco.

As últimas três palavras foram tão frisadas que não

restou nenhuma dúvida sobre a desaprovação de Glenys.

— Além disso, sr. Bostwick, nossas roupas estariam

defumadas pela manhã, o que nos impediria de usá-las.

Não tenho a menor dúvida, entretanto, de que você e seu

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povo não se importam com o odor — disse ela,

finalizando a frase com um olhar de desdém.

Kieran teve de segurar o riso ao ver a expressão de

espanto no rosto de seu amigo. Por Deus, que língua

afiada! O pobre Bostwick decerto jamais escutara algo

parecido.

— Pelo amor de Deus, Kieran — murmurou ele,

olhando espantado para Glenys, como se ela realmente

fosse uma rainha. — Você trouxe verdadeiras damas para

minha humilde taverna. Nós nunca tivemos hóspedes tão

ilustres. — Bostwick esfregou o queixo, pensativo. —

Então, milady, você terá de se contentar em usar roupas

molhadas pela manhã, se esse é o seu desejo.

— É sim — respondeu Glenys, com indiferença.

Bostwick ficou ainda mais impressionado. Ele se afastou

e fez uma mesura.

— Eu as deixarei em paz, milady. Pedirei a uma das

garotas para lhes trazer comida e bebida. Eu garanto que

lhes será servido o melhor que temos aqui. — Agora

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Bostwick parecia querer ganhar a aprovação de Glenys.

— E nenhum dos homens, a não ser Kieran e Jean-Marc,

entrarão neste quarto sem permissão. Não admitirei que

ninguém moleste damas tão finas na minha taverna.

Pode descansar sossegada, milady.

Tendo dito essas palavras, Bostwick fez mais uma

mesura e se retirou, batendo na parede antes de

encontrar a porta.

— Olhe como você assustou o pobre Bostwick, srta.

Glenys — brincou Kieran. — Que vergonha!

— Por favor, saia, FitzAllen — pediu ela, ignorando a

brincadeira. — E leve seu criado junto. Nós estamos

cansadas, e vocês querem a companhia de seus amigos.

E das amigas…

Kieran assentiu, sabendo que era a verdade. As

duas estavam exaustas.

— Vocês estarão a salvo, como Bostwick prometeu.

Não permitirei que nenhum homem entre neste quarto, a

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não ser nós. Você e a srta. Dina podem descansar

sossegadas.

— Não haverá necessidade de vocês entrarem —

disse ela, soltando Dina, que sentou-se na cama.

Jean-Marc desamarrou sua capa e ofereceu-a à

jovem, que tremia sem parar. Dina recusou, claramente

não querendo aceitar ajuda de um dos seqüestradores.

— Eu já lhe prometi que não tentaremos escapar

durante a noite.

Kieran colocou as mãos no encosto de uma das

cadeiras a fim de determinar a resistência das mesmas.

— Nós também precisamos dormir — disse ele. —

Você não nos negaria o conforto dessas camas, que

foram preparadas para nós.

Com habilidade, Kieran levantou ligeiramente o

olhar no momento em que proferiu a última palavra,

tornando sua expressão perfeita. Durante muitos anos,

ele tinha praticado os melhores métodos de derreter o

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coração de uma mulher. A srta. Glenys poderia provar ser

uma de suas presas mais difíceis, porém não resistiria

àquele olhar sensual. Kieran usou seu melhor tom de voz,

uma mistura de inocência e malícia, que conquistara a

maioria dos corações femininos na Inglaterra e na

França. Mesmo sua mãe, uma mulher bem-nascida e

elegante como sua prisioneira, não conseguia resistir.

Entretanto, a srta. Glenys Seymour resistiu.

Para consternação de Kieran FitzAllen, ela franziu o

nariz como se estivesse diante do ser mais desprezível

da face da terra, ignorando-o completamente.

— Não vejo motivo para você não ficar na taverna

com os seus amigos, seja divertindo-se, seja dormindo.

Aposto como daqui a algumas horas eles se acalmarão. E

duvido que as mulheres permitam que você as deixe tão

cedo, ainda mais para dormir. Você e seu criado estarão

muito ocupados esta noite para voltarem a um quarto

humilde como este, Kieran FitzAllen. Saiba que aqui você

não fará nada além de dormir.

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Pela primeira vez depois de muitos anos, Kieran

experimentou uma sensação de irritação na presença de

uma mulher. Era algo além de raiva ou derrota. Ele

sentiu-se… feio. Sem atrativos. Desprezado. Tais

emoções não lhe eram desconhecidas. Longe disso.

Desde o dia de seu nascimento, Kieran soube como não

fora desejado, o único bastardo em uma família de filhos

legalmente reconhecidos, apesar de todo o amor que

seus pais demonstravam. Mesmo seu sobrenome era

diferente do dos irmãos: FitzAllen e não apenas Allen.

Estava além de suas forças mudar ou controlar aquela

situação.

Por outro lado, com as mulheres… Se nunca

conseguira controlar nada em sua vida, Kieran pelo

menos conseguia controlar as mulheres.

Menos aquela.

— Você tem uma língua bem afiada, srta. Glenys —

disse ele antes de se dar conta, tão irritado que nem

sabia direito o que falava —, e a usa demais. Não é de se

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espantar que ainda seja solteira. E não tenho a menor

sombra de dúvida que continuará assim por muito

tempo.

Foram as palavras mais cruéis que ele poderia ter

dito a uma mulher. Mais dolorosas do que qualquer golpe

de adaga. Kieran se arrependeu de sua grosseria no

mesmo instante.

Ele olhou para a srta. Glenys, que tinha os olhos

arregalados e a face pálida. Jean-Marc, ajudando a srta.

Dina, virou-se para Kieran, incrédulo.

— Milorde! — exclamou o criado, incapaz de se

conter, revelando todo seu espanto. Jean-Marc era um

órfão que fora educado pelos mais cruéis bandidos e

assassinos que existiam na terra, portanto, não tinha

sentimentos, a não ser nos raros momentos em que

Kieran exagerava.

Como ele acabara de fazer, atacando uma mulher

vulnerável. E não importava que a jovem fosse briguenta

e adorasse discutir.

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— Perdão — desculpou-se Kieran, incapaz de

encará-la. — Eu não deveria ter sido tão… — Ele

blasfemou, sabendo que não havia como se desculpar

por seu péssimo comportamento. — Boa noite — foi tudo

que Kieran disse antes de se retirar.

Jean-Marc saiu correndo atrás, e segurou o mestre

pelo braço antes que ele alcançasse a escada que os

levaria de volta à taverna.

— Pelo amor de Deus! O que foi aquilo? — ordenou

ele.

— Nada! — resmungou Kieran, soltando-se. — Ela

me irritou. Você escutou muito bem a nossa conversa.

— Eu escutei o que você disse.

— Então. Ela me irritou.

— As mulheres não costumam irritá-lo — comentou

Jean-Marc. — Nunca. Você não se incomoda com o que

elas dizem, a não ser quando se trata de sua mãe ou

irmãs. Entretanto, um dia na companhia da srta. Glenys

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Seymour alterou completamente seu comportamento.

Não estou gostando nada disso. Nem um pouco.

Kieran passou a mão pelos cabelos, exasperado.

— Nem eu. Não estou acostumado a lidar com

mulheres perspicazes — admitiu ele. — Vamos descer.

Quero uma bebida.

— Eu preciso de uma — falou Jean-Marc, seguindo-o.

No quarto, Dina olhava para sua senhora com os

olhos arregalados.

— Ele não sabe o que diz — comentou ela. — Pelo

visto, Kieran FitzAllen está acostumado a ter as mulheres

a seus pés.

— Também acho — respondeu Glenys, engolindo a

dor que as palavras lhe tinham causado. Mas era tolice se

magoar. Ela sabia que não possuía nenhum atrativo. E

também não se importava com o que Kieran FitzAllen

pensava a seu respeito. Ele era um bandido, mau-caráter

e canalha. Nenhuma pessoa de valor se preocuparia com

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as palavras ou pensamentos de um homem como aquele.

Os tremores de Dina a trouxeram de volta à

realidade, e ela começou a tirar sua capa ensopada.

— Tire a roupa. Depressa — ordenou ela. — A porta

não tem chave, mas eu ficarei de guarda até que você

tenha se enrolado em uma manta. — Com um

movimento rápido, Glenys jogou a capa em cima da

cadeira e encostou-se contra a pesada porta do quarto.

Dina levantou-se e começou a desamarrar sua capa,

que colocou em cima da outra cadeira.

— Essa pequena lareira jamais secará nossas roupas

até o amanhecer — disse ela, abrindo os botões de seu

vestido com os dedos gelados. — O sr. Bostwick tem

razão. Ah, meu Deus, eu não consigo tirar meu vestido.

Está muito molhado e pesado.

— Venha até aqui para que eu a ajude — instruiu

Glenys. — Precisamos ser rápidas, antes que nos tragam

a comida e bebida que prometeram. Juro que não

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conseguirei comer enquanto não estivermos secas e um

pouco aquecidas. — Ela auxiliou a criada a baixar as

mangas compridas do vestido, liberando-lhe os braços.

— Que frio! — reclamou Dina, arrepiada. — Como

vamos conseguir nos aquecer?

Glenys apontou para uma das camas.

— Tire suas roupas íntimas, depressa, e enrole-se

em uma das mantas. Vou secar suas roupas primeiro, e

quando você estiver vestida de novo, será a minha vez.

— Mas como nos aqueceremos milady? —

perguntou Dina, despindo-se o mais rápido possível e

envolvendo-se com a manta.

— Espero que isso funcione — murmurou Glenys,

desamarrando a pequena bolsa de couro presa em sua

cintura. — Eu vi meu tio usando este pó em uma situação

parecida, embora admita que gostaria de ter prestado

mais atenção. Não sei ao certo quanto usar, nem se

adiantará, mas precisamos tentar. Estenda suas roupas

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aqui no chão. Depressa, Dina!

— Acho que é só uma pitada — falou ela, momentos

depois, enfiando a mão na bolsa para pegar uma

pequena quantidade dos grãos brilhantes.

Inspirando devagar, ela abriu a palma da mão sobre

as roupas à sua frente e soprou com calma. Os grânulos

foram caindo, brilhantes, como se estivessem vivos.

Glenys sabia que se tratava apenas de ilusão. Logo uma

fumaça púrpura se formou e se espalhou pelo quarto.

Tossindo, Glenys afastou-a, inclinando-se para tocar

o vestido de Dina. Percorreu os dedos por toda a

extensão do tecido, certificando-se de que não se

enganara. Por fim, ela ergueu o rosto e sorriu para a

criada.

— Está seco!

Dina abaixou-se no mesmo instante para confirmar.

— É mesmo! — exclamou ela, verificando suas

roupas íntimas e sapatos. — Está tudo seco! Funcionou!

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Que Deus e seu tio sejam louvados! Eu sempre soube

que a magia dele era poderosa, mas é bem mais do que

eu imaginava.

— Não é magia, Dina — falou Glenys. — É alquimia,

uma combinação benéfica de alguns elementos da

natureza. Não há nenhum tipo de mágica.

— É o que a senhora diz, milady — respondeu Dina,

levantando-se com suas roupas —, mas é a única a

pensar assim.

Glenys não se incomodou em discutir. Estava com

muito frio e molhada para se preocupar naquele

momento sobre a opinião do mundo a respeito de magia.

— Eu nem acredito — murmurou ela, aliviada, dez

minutos depois, terminando de abotoar seu vestido. —

Juro que nunca mais brigarei com tio Aonghus por passar

tanto tempo em sua sala de trabalho.

Uma batida na porta anunciou a chegada da comida

que o sr. Bostwick prometera. Era simples, porém quente

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e bem preparada. Glenys teve a impressão de que jamais

comera algo tão saboroso em toda a vida. Havia pão

quente com sementes de erva-doce, uma sopa rala de

legumes, fatias de queijo forte e, o mais surpreendente

em uma taverna tão tosca quanto aquela, deliciosos

bolinhos de amêndoa. O vinho que acompanhava a

comida estava um pouco ácido, mas a jovem também

lhes trouxera cerveja. E embora não estivessem

acostumadas a beber, Glenys e Dina secaram suas

canecas.

Pouco depois, as duas decidiram se deitar,

contentes e aconchegadas. Glenys se esqueceu

completamente da pedra brilhante e da peça de xadrez

em sua capa, agora seca, pendurada na cadeira. Ela

pegou no sono assim que se deitou e nem se mexeu

quando Kieran entrou no quarto, minutos depois da meia-

noite.

O seqüestrador ficou imóvel ao ver algo brilhando

entre as dobras da capa de Glenys.

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— Santo Deus! — murmurou ele. — Acho que bebi

demais. Ele fechou os olhos e balançou a cabeça, mas

não adiantou nada. Quando reabriu os olhos, a capa

continuava a brilhar, com menor intensidade.

— Mas o que significa isso? — Kieran foi até a capa

e tocou-a com cuidado. — Está seca! Como pode ser? E

impossível!

Olhando depressa para a cama onde Glenys dormia,

Kieran pegou a capa e enfiou a mão nos bolsos. Não

demorou muito para encontrar alguns objetos, afinal de

contas era um excelente ladrão.

— Minha nossa! — sussurrou Kieran, olhando para

sua mão. A pequena pedra que Coll roubara de Glenys,

aquela pequena e insignificante pedra, brilhava mais do

que a lua. E brilhava tanto que todo o quarto estava

iluminado. Entretanto, a pedra estava tão fria quanto

antes, reluzindo sem emanar calor.

Feitiçaria.

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Só podia ser feitiçaria.

Sir Anton comentara que os rumores sobre a família

Seymour eram falsos, e Glenys dissera o mesmo, mas

com certeza aquilo era magia. Com cuidado, ele encostou

na peça de xadrez ao lado da pedra, imaginando qual

seria o poder daquele objeto. Talvez a rainha falasse, ou

fizesse profecias. A simples idéia o arrepiou todo.

— Ladrão!

De repente, a pedra e a peça de xadrez não

estavam mais em sua mão. Kieran sentiu um golpe no

ombro e se virou para deparar-se com a srta. Glenys. O

golpe doeu mais nela, o que a enfureceu ainda mais.

— Como você se atreve a mexer nas minhas coisas?

— berrou ela, alto o suficiente para que toda a taverna

escutasse, mesmo com a barulheira.

Kieran levou o dedo aos lábios.

— Fale baixo para não acordar sua criada.

— Eu não me importo se ela acordar! — exclamou

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Glenys, segurando a pedra e a rainha contra seu peito. —

O que quer com as minhas coisas? Você me deu sua

palavra de honra, jurou que estaríamos a salvo neste

quarto, que não havia o que temer.

— E é verdade — respondeu Kieran, irritado por ter

sua honra questionada. Era um bandido, mas mantinha

seus juramentos como qualquer cavalheiro da realeza o

faria. — Eu não roubei nada, e só vim até aqui para ver

se vocês estavam bem e confortáveis. — Ele chegou mais

perto, encontrando o olhar furioso de Glenys. — E quando

abri a porta, deparei-me com sua capa brilhando, por

causa da pedra que lhe tinha sido roubada. Pensando

bem, agora compreendo o motivo do seu nervosismo

naquele momento. Não era a fraqueza que fazia sua mão

tremer quando eu lhe devolvi a pedra, mas o pavor de ter

um objeto tão precioso roubado.

— Não, foi a alegria de recebê-lo de volta. — Ela

abriu a palma da mão, estendendo-a. — Você queria que

alguém encontrasse isto? Uma pedra brilhante? Queria?

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Não, não queria, admitiu Kieran em silêncio, porém

em sua família não havia feiticeiros.

— É algum tipo de mágica — disse ele. — Não há

como negar.

— Nego. E com veemência. Essa pedra brilha

apenas por possuir os elementos certos. Não é diferente

do carvão que brilha com o fogo, ou de diamante, que

reflete luz colorida.

Kieran balançou a cabeça.

— Não é só isso — disse ele, esfregando um pedaço

do tecido da capa de Glenys entre os dedos. — Suas

roupas estão secas. Sua capa está seca. E não faz nem

duas horas que você estava ensopada. — Kieran tocou-

lhe os cabelos. — Seus cabelos ainda estão molhados. Eu

ainda estou molhado, apesar de ter ficado na frente da

lareira. E aposto como as roupas da srta. Dina também

estão secas. Se não se trata se magia, srta. Glenys, então

peço que me explique o que é.

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A face tão expressiva de Glenys, iluminada pela

pedra brilhante, encheu-se do desdém que o deixara tão

nervoso horas atrás.

— Eu sou sua prisioneira, Kieran FitzAllen. A não ser

que você ameace me bater, não pretendo lhe dar

nenhum tipo de explicação.

Ela se abaixou, pegou a capa no chão, e enfiou

imediatamente a pedra brilhante e a rainha de volta em

um dos bolsos. A iluminação no quarto diminuiu, e a capa

voltou a reluzir.

Glenys levou-a consigo para a cama e não disse

mais nenhuma palavra a Kieran.

Ele ficou parado dentro do quarto por mais alguns

instantes, escutando o barulho da taverna, os gritos e as

risadas. A srta. Glenys estava de costas, com o rosto

virado para a parede, mas o brilho da pedra iluminava-

lhe as feições.

Kieran suspirou, sabendo que enfrentaria grandes

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dificuldades nos meses seguintes. Lembrou-se da

brincadeira de Jean-Marc, que dissera que a srta. Glenys

se apaixonaria no momento em que o visse, e ele

concordara. Como tinham se enganado… E agora tinham

uma preocupação a mais com aquelas duas prisioneiras.

Uma pedra que brilhava e a misteriosa rainha de xadrez,

além de magia.

Ele não esperava por isso, o que o deixou confuso.

Estava preparado para enfrentar a ira do irmão da srta.

Glenys, mas como poderia se defender de feitiçaria?

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CAPÍTULO VI

— Shh! — Glenys levou um dedo aos lábios e olhou

para Dina. — Precisamos ser o mais discretas possível.

Você pegou todas as suas coisas? A criada assentiu com

a cabeça, olhando para a janela.

— Não podemos ir por aqui? Não deve ser muito

alta, e ninguém nos verá.

Glenys balançou a cabeça enquanto amarrava sua

capa.

— Não precisamos nos dar esse trabalho. Eles estão

dormindo pesadamente na taverna. E nenhum daqueles

homens é sensível o suficiente para nos escutar

passando, se formos discretas. Agora vamos. Não tenha

medo — disse ela, tocando o ombro de Dina para

tranqüilizá-la. — O pior que pode nos acontecer é sermos

pegas, e o melhor é conseguirmos escapar. — Glenys se

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endireitou e respirou fundo, levando a mão ao bolso para

verificar se a pedra brilhante e a peça de xadrez

continuavam ali. O saquinho com o pó de tio Aonghus

estava bem preso a seu cinturão. Determinada, ela

seguiu até a porta do quarto.

— Só espero que encontremos os cavalos depressa.

Senão, teremos de voltar andando para Londres.

Com cautela, Glenys abriu a porta, alegrando-se por

as dobradiças não rangerem. Enfiando a cabeça para

fora, ela olhou em todas as direções antes de sair e

indicar para que Dina a seguisse. Três passos as

conduziram até o topo da pequena escadaria que levava

ao canto mais afastado da taverna. A escada ficava

escondida atrás de uma surrada tapeçaria, e foi aí que

ela parou de novo, afastando-a para espiar o salão.

Glenys surpreendeu-se com o que encontrou, mas

continuou em silêncio diante da cena repulsiva. Uma

grande festa acontecera durante a noite e o início da

manhã, e todos aqueles que tinham participado agora

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pagavam o preço. Corpos estavam espalhados pelo

grande salão, deitados nas mesas, cadeiras, e até no

chão. Vários homens dormiam de boca aberta, roncando

alto, mas ninguém nem se mexia. Alguns estavam nus ou

seminus, homens e mulheres, e nem o frio da manhã os

despertava. Havia canecas por todas as partes, e o cheiro

de bebida, fumaça e suor era suficiente para qualquer

pessoa desacostumada àquilo desmaiar. Ela respirou

fundo para afastar a náusea e desejou estar fora da

taverna, respirando o ar fresco, puro. Esquivando-se do

medo que ameaçava fazê-la voltar para o quarto, Glenys

atravessou a tapeçaria e olhou a taverna à sua volta, em

busca de algum sinal de movimento. Tudo em silêncio.

Então deu mais alguns passos, sempre seguida pela

criada.

— Onde está Kieran FitzAllen? — sussurrou Dina.

— Não o estou vendo — respondeu Glenys,

procurando os cabelos dourados por todos os lados.

Kieran FitzAllen era um homem muito marcante para não

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ser notado, mesmo entre todos aqueles corpos caídos.

Nem ele nem seu criado Jean-Marc estavam na taverna,

ou mesmo Bostwick, cujo tamanho o tornava

inconfundível.

— Talvez eles tenham partido sem nós — sugeriu

Dina.

— De jeito nenhum. Devem estar enfiados em

algum quarto com prostitutas. Vamos logo.

Elas seguiram em silêncio, passando em meio aos

corpos espalhados por todos os lados, cuidando para não

pisar em alguma mão ou pé. De vez em quando alguém

resmungava e se virava de repente, assustando-as, mas

ninguém acordava, permitindo-lhes continuar com a

fuga.

Quando alcançaram a porta da taverna, Glenys

parou.

— Não pode ser — murmurou ela, tocando o trinco

aberto. — Duvido que eles tenham ficado tão bêbados a

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ponto de esquecer a porta destrancada. — Ela se virou e

olhou para o salão desordenado. — Kieran deve estar

acordado, escondido em algum lugar esperando para nos

pegar em flagrante. Não acredito que deixaria a porta

aberta se já não estivesse lá fora, nos aguardando. É

uma armadilha, pode ter certeza!

— Mas, milady — sussurrou Dina —, talvez a porta

tenha ficado destrancada porque todos na taverna

estavam bêbados demais para se preocupar em trancá-

la. Por que ladrões pensariam em trancar uma porta? Por

medo de ser roubados? Duvido.

— E por que não? — Glenys colocou a mão na

tranca. — Bem, se FitzAllen estiver nos esperando lá fora,

não vamos deixá-lo irritado. O mínimo que temos a fazer

é lhe dizer bom-dia.

Ela abriu a porta e saiu, esperando deparar com

Kieran FitzAllen e Jean-Marc esperando-as com sorrisos

no rosto.

Mas não havia ninguém à vista. Em nenhum lugar.

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O pátio da taverna estava vazio, e as duas foram

recebidas apenas pelo vento frio e pelo sol que começava

a nascer. As árvores ainda estavam molhadas da chuva

do dia anterior, mas o dia prometia ser claro e

ensolarado.

Glenys respirou fundo o ar puro e fresco, contente

por não estar mais dentro da taverna. Dina fechou a

porta com cuidado, deixando os homens embriagados e o

mau cheiro para trás.

— Quem sabe não é a nossa chance — murmurou

Glenys, pegando a mão de Dina e puxando-a para o que

imaginou ser a estrebaria. — Por favor, meu Deus,

permita que seja verdade. Permita que consigamos

escapar desses bandidos.

Foi tudo tão simples que Glenys não acreditava que

estavam quase conseguindo. Os dois cavalos, em meio

aos outros animais do abrigo, foram selados

rapidamente. A égua de Jean-Marc deixou bem claro seu

desconforto por estar sendo tocada por um estranho,

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porém o garanhão preto, Nimrod, manteve-se em

silêncio. O cavalo era tão bonito como seu dono, mas tão

grande que ela teve de subir em um banquinho para

conseguir passar as rédeas por cima das orelhas dele.

Para montá-los, entretanto, a dificuldade foi maior,

principalmente por a égua de Jean-Marc não aceitar Dina

como amazona. Depois de algum tempo, as duas

conseguiram sair da estrebaria. Então começaram os

problemas de Glenys.

— Vamos lá! — disse ela, esporeando os flancos de

Nimrod. O cavalo nem se mexeu. Glenys puxou as rédeas

para o lado, a fim de guiá-lo até o pátio, mas ele se

recusou a obedecer. Com muita calma, acompanhado

pela égua de Jean-Marc, Nimrod começou a seguir para a

lateral da taverna, exatamente para o lugar onde seu

mestre, Kieran FitzAllen, se encontrava.

Entretidos em uma agradável conversa debaixo da

janela do quarto onde as duas tinham dormido, Kieran e

Jean-Marc arregalaram os olhos ao ver seus cavalos,

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comandados pelas prisioneiras.

Kieran gritou, surpreso, e Jean-Marc correu em

direção à égua. Glenys, sem pensar duas vezes, jogou-se

da sela, caindo graciosamente na lama. Nimrod, por sua

vez, continuou a andar até seu mestre.

O grande animal era como uma parede entre Glenys

e o seqüestrador. Tudo que ela enxergava eram as

pernas de Kieran FitzAllen. Quando aquelas pernas

começaram a vir em sua direção, ela afastou o choque

momentâneo que a mantivera imóvel e se levantou.

Então puxou a saia para cima e saiu correndo o mais

depressa que conseguiu.

Kieran FitzAllen gritou de novo, correndo atrás dela,

enquanto Jean-Marc tentava pegar as rédeas de sua égua

descontente.

Mesmo correndo, Glenys sabia que era tolice. Teria

muita sorte se conseguisse alcançar o portão do pátio

antes que Kieran FitzAllen a pegasse, mas o som das

pesadas botas se aproximando fizeram-na correr ainda

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mais. As saias pesavam cada vez mais em suas mãos, e

o ar frio da manhã queimava-lhe a garganta cada vez

que ela inspirava.

— Senhorita! — chamou ele, logo atrás. Glenys

sentiu a mão em seu ombro.

— Não! — Ela parou na mesma hora, mas Kieran

não conseguiu controlar o peso de seu corpo e os dois

caíram no chão enlameado.

Glenys quase foi esmagada pelo peso do corpo dele.

— Saia! Saia de cima de mim! — gritou ela,

debatendo-se. No instante em que sentiu-se aliviada,

Glenys virou-se depressa e o empurrou para a lama ao

lado.

— Brutamontes! — ralhou ela, empurrando-o

novamente quando Kieran tentou sentar-se. Jogando-se

em cima dele, Glenys o impediu de se levantar. —

Maldito!

— Como você conseguiu sair da taverna? —

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perguntou ele, furioso.

— Pela porta da frente! — gritou ela.

— Pela… — Kieran segurou-a pelos ombros,

puxando-a para perto até que estivessem se olhando nos

olhos. — Impossível!

— Não foi impossível! Eu só me arrependo de ter ido

à estrebaria atrás daqueles malditos cavalos!

Deveríamos ter fugido correndo! A esta hora já

estaríamos bem longe daqui! — Glenys soltou-se das

mãos de Kieran e sentou-se na lama.

Kieran ficou deitado, olhando-a e balançando a

cabeça.

— Você saiu pela porta da frente… e eu tinha

certeza absoluta de que tentaria escapar pela janela. Que

tipo de mulher é você, saindo pela porta da frente como

se pudesse não ser pega?

Glenys tentou, em vão, tirar a lama de sua mão,

depois o olhou com desdém.

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— Uma mulher esperta o suficiente para saber que

seria pega se tentasse escapar por um lugar tão óbvio

quanto a janela. Eu não sou tão tola assim.

— Nem eu — respondeu ele, nervoso. — E me

enganei, achando que você tentaria escapar pela janela,

mas sabia que tentaria de alguma maneira, apesar do

juramento que fez.

— Eu jurei que não tentaria escapar durante a noite

— respondeu ela. — O dia já amanheceu.

— Eu entendi perfeitamente o que você quis dizer

quando fez a promessa. Mas eu passei as últimas três

horas parado nesse frio, esperando que você escapasse

pela janela.

Ao contemplar aquela cena patética, Glenys não

conseguiu conter a risada. Um homem daquele tamanho

deitado na lama, enfurecido por ter sido passado para

trás por uma mulher, era quase ridículo.

— Não ria, srta. Glenys — advertiu ele, apontando-

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lhe o indicador. — Eu não serei motivo de zombaria

depois de quase ter congelado por sua causa. E Jean-

Marc também.

Era impossível. Glenys começou a rir, pensando nos

dois parados debaixo da janela por tanto tempo,

esperando e planejando de antemão como seria capturar

as duas prisioneiras quando elas tentassem escapar por

aquela mesma janela. E as duas tinham saído pela porta

da frente. Era muita tolice. Sem conseguir se conter, ela

caiu na risada.

— Não vejo graça — disse Kieran. — Você não tem

sentimentos. Eu a tratei tão bem e é assim que você me

paga?

Glenys quase não tinha fôlego para respirar de tanto

que ria.

— Pela janela! — disse ela, entre risadas. — Você

ficou parado embaixo da janela! Esperando por nós. —

Glenys ria tanto que seus olhos se encheram de lágrimas.

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— Você é cruel — ralhou Kieran. — Cruel e sem

coração. Glenys riu ainda mais. Jean-Marc e Dina se

aproximaram dos dois, e as perguntas murmuradas

foram motivo de mais risadas. E então, quando ela

começava a se acalmar, foi a vez de Kieran. A princípio,

um riso calmo e contido, mas depois vieram as

gargalhadas. E assim ficaram os dois, incontroláveis.

— Meu Deus! — exclamou Dina. — Eles

enlouqueceram. Ao escutar essas palavras, Glenys teve

um novo acesso, e achou que jamais conseguiria parar.

Algum tempo mais tarde, os dois se acalmaram,

deitados na lama, suspirando. Glenys sentiu-se fraca e

quando foi se levantar, notou que estava sentada de

maneira nada elegante.

Horrorizada, ela descobriu estar sentada sobre a

parte mais íntima do corpo de Kieran FitzAllen, e saiu de

cima dele o mais depressa possível, como se estivesse

sentada em brasas. Os dois pararam de rir e se

entreolharam por um longo instante… e recomeçaram a

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rir.

Com a ajuda de Dina e Jean-Marc, ela se levantou.

— Precisamos de um banho — comentou Kieran,

olhando para seu estado lastimável.

— É verdade — concordou Glenys.

Eles caíram na risada outra vez, mas logo foram

interrompidos por Dina que, impaciente, puxou Glenys

pelo braço. Jean-Marc fez o mesmo com seu mestre.

— Vamos voltar para a taverna antes que o estrago

seja maior — falou Jean-Marc. — Olhe o que elas fizeram.

Toda a taverna acordou.

Era verdade. Glenys e Kieran avistaram os

ocupantes da taverna, todos do lado de fora, que os

olhavam espantados. Bostwick, o que mais se destacava,

tinha os olhos arregalados.

— Bostwick! — gritou Jean-Marc, conduzindo seu

mestre para dentro. — Precisamos de dois banhos!

Urgente!

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— Mas eu não tenho nada preparado!

— Não me interessa! Acorde alguns homens e

mande-os buscar água. Esses dois vão tomar banho frio,

mas vão tomar banho. — Ele empurrou Kieran para a

cadeira mais próxima, então o encarou com irritação. —

Qualquer um que o visse nesse estado acharia que você

está bêbado. Agora terá de viajar molhado, bem mais

molhado do que já estava.

— Não, eu vou viajar bem seco — respondeu Kieran

FitzAllen, com um belo sorriso.

Jean-Marc balançou a cabeça.

— Você está imundo. Suas roupas precisam ser

lavadas. Todas. E suas botas também.

— Pode lavar tudo — disse ele, começando a tirar os

sapatos. — Elas estarão secas antes de partirmos. A srta.

Glenys cuidará de tudo, não é?

Ele olhou para a jovem, que entendeu perfeitamente

o recado. Glenys sabia não ter outra escolha a não ser

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usar o pó de seu tio se não quisesse ter sua 'magia'

revelada. Não que o culpasse por isso. Ela mesma

também não queria vestir roupas molhadas o dia todo.

E apesar de não dever nada para aquele

seqüestrador, Glenys lhe faria esse favor pela diversão

que ele lhe proporcionara ao esperá-la debaixo da janela.

— Sim, Kieran FitzAllen — disse Glenys, já

saboreando o banho que tomaria. — Eu cuidarei para que

suas roupas fiquem secas.

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CAPÍTULO VII

É uma mágica maravilhosa! Kieran passou a mão

pela manga de sua túnica, encantado por estar

completamente seca. Glenys não quisera fazer magia,

mas levara as roupas lavadas para o quarto que dividira

com Dina e voltara alguns minutos mais tarde com as

mesmas roupas, secas. Todos na taverna ficaram

pasmos, e um pouco assustados, o que fez com que ele

compreendesse o motivo de a jovem ter negado seus

poderes e querer mantê-los em segredo.

— Não se trata de mágica — explicou ela algum

tempo depois, mexendo-se na sela à frente de Kieran. —

Mágica não existe. Não é uma prática considerada

correta, especialmente perante a igreja. Se não acredita

em mim, pergunte ao arcebispo. Todos os acusados de

praticar esses atos malignos foram queimados vivos ou

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enforcados.

— Não há nada de maligno na mágica que você

pratica — respondeu Kieran. — A capacidade de secar

roupas molhadas, e a pedra brilhante… Duvido que

alguém considere essas práticas como nocivas.

— Você não faz idéia do que poderia ser dito a

respeito dessas práticas, ou de mim e da minha família.

Você não sabe o que é viver com pessoas esquisitas, ou

fazer com que os outros compreendam que essas

mesmas pessoas, meus parentes, não fazem mal a

ninguém.

— Entendo. Foi por isso que a srta. Dina falou

daquele jeito quando se referiu à sua prima Helen? Ela é

uma bruxa de verdade?

Glenys virou a cabeça, olhando-o com desdém.

— Claro que ela não é bruxa! Pelo amor de Deus, eu

imaginei que você tivesse entendido o assunto! Não é

possível que realmente acredite em tais criaturas.

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— Você com certeza acredita — respondeu ele, com

a mesma rapidez. — É você que tem tantos parentes

estranhos, e não eu. Além disso, você possui poderes

sobrenaturais, pois secou a minha roupa. Todo mundo

sabe que roupas demoram para secar. E eu também vi a

pedra brilhante com meus próprios olhos. O que aquela

pequena coisa faz?

— A rainha — disse Glenys, entre dentes cerrados

—, trata-se apenas de uma peça de um antigo jogo de

xadrez, nada mais. Ela não faz nada.

Kieran não acreditou nem um pouco.

— Ela deve ter algum tipo de poder, caso contrário

você não a teria escondido com tanto cuidado junto com

a pedra da luz. Posso estar enganado, mas a noite

passada, quando a vi junto da pedra brilhante, seus olhos

pareciam brilhar.

Embora Glenys estivesse se esforçando para não se

apoiar muito em Kieran FitzAllen na sela, ele sentiu o

corpo dela se retesar depois daquelas palavras, o que o

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levou a acreditar que acertara em cheio. A peça de

xadrez também era mágica, porém não adiantaria insistir

no assunto. Pelo menos não naquele momento. Era

evidente que ela queria negar o que estava tão claro,

mas Kieran sabia que as mulheres tornavam-se mais

difíceis quando pressionadas. E sendo um homem

versado no sexo oposto, ele decidiu deixar a questão de

lado, mudando para um tema mais ameno.

— Está claro que você não quer falar da peça —

comentou Kieran, ajeitando a mão que a segurava pela

cintura. — Então conte-me sobre sua família. Conte-me

sobre a sua prima, Helen, que não é bruxa, apesar de a

srta. Dina achar o contrário.

Fora um momento interessante na taverna, quando

Glenys sentou-se para escrever a prometida carta para

sua prima, Dina resmungou que gostaria que um parente

mais confiável recebesse a missiva. Não havia mais

ninguém presente, além de Kieran e Jean-Marc, mas a

jovem não conseguiu esconder o nervosismo.

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— Quieta, Dina! — ordenou ela, com a pena imóvel

na mão. — Não diga mais nada!

— Eu não tenho nada contra a srta. Helen —

respondeu a criada, desobedecendo-lhe. — E fico muito

contente por ela poder ir para Londres cuidar de seus tios

e tias, porém todos acham que sua prima é uma bruxa.

Não gosto nem pensar o que acontece quando Helen se

junta com o mestre Aonghus.

— Uma bruxa! — A exclamação escapou dos lábios

de Jean-Marc, e Kieran deu-lhe uma cotovelada para que

ficasse em silêncio.

— Sim, sim — explicou Kieran, em um tentativa de

acalmar os ânimos. — A srta. Helen é da família dos

Seymour, e como é de se esperar, possui alguns poderes

mágicos. E claro que tais habilidades não foram

corretamente compreendidas, e acabaram difamando-a

como bruxa. Não pode ser outra coisa.

Glenys tinha baixado a pena e o olhava com tanta

gratidão que, por um instante, Kieran ficou perplexo.

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Como acontecera uma vez, na taverna, quando ela

sorrira pela primeira vez, depois rira com tanta alegria. O

sorriso intrigante lhe transformara as feições, deixando-a

linda. E ele se encantara, como agora.

— Foi mais ou menos isso que aconteceu — disse

ela. — Você entendeu muito bem o assunto, Kieran

FitzAllen. Tudo não passou de um grande mal-entendido

que acabou por difamar a minha prima Helen.

O fato de ele não ter acreditado em nenhuma de

suas palavras não fazia a menor diferença. Glenys tinha

acreditado, e era o que importava, pois ela sorria. E os

sorrisos daquela jovem eram tão raros quanto ouro.

— Você disse antes que compreendia como minha

prima foi acusada de ser bruxa — comentou Glenys

naquele momento, cruzando os braços.

— E compreendo — respondeu Kieran, pensando na

feminilidade daquele peito que ficara pressionado contra

o seu de manhã, quando os dois caíram na lama. Fora um

instante de desejo intenso, e a simples lembrança

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suscitava todas as reações sentidas. — Entretanto, eu

gostaria de saber por que ela passou a ser chamada de

bruxa e também o motivo de sua família ter a reputação

de praticar feitiçaria. Se é que você quer conversar sobre

o assunto.

Glenys ficou quieta por um longo momento, porém

foi relaxando aos poucos, até descruzar os braços. Kieran

achou até que ela se soltou um pouco mais apoiando-se

contra seu corpo.

— Minha prima Helen é bem mais inteligente e

espirituosa do que os homens consideram aceitável para

uma mulher. E também é muito bonita. — Essas últimas

palavras foram ditas com tanto anseio que Kieran chegou

a sentir pena da jovem. Era evidente que Glenys não se

considerava uma mulher atraente.

— Helen é filha de um primo de meu pai, e nasceu

em uma pequena aldeia próxima à fronteira da Escócia.

Foi uma grande falta de sorte, pois, se tivesse nascido

em Gales, como a maioria dos Seymour, ela jamais teria

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sido chamada de bruxa. — Glenys olhou para trás. — Os

gauleses são mais sensíveis com as pessoas diferentes.

Certamente eles não tentariam queimar uma jovem só

por ela gostar de passear à noite sem companhia.

Kieran arregalou os olhos.

— Eles tentaram queimar sua prima?

— Sim. E só porque ela gosta de sair sozinha à

noite. Na verdade, eu não acho tão difícil assim de

entender, apesar de não ter coragem de fazer o mesmo.

Entretanto, Helen prefere a noite ao dia. É o jeito dela.

Ela sempre foi assim, desde criança. Às vezes, os pais

acordavam no meio da noite e a encontravam passeando

pelo jardim.

— E esse jeito de ser pode causar sérios problemas

à sua prima. Principalmente se ela é tão bonita quanto

você diz. Muitos homens não hesitariam em se aproveitar

de uma mulher assim, ainda mais se a encontrarem

perambulando pelas ruas à noite e sozinha.

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— Nenhum homem se atreveria a encostar um dedo

em Helen — disse Glenys, voltando a olhar para a frente.

— Na realidade, acho que nenhum homem conseguiria.

— Como assim? Glenys suspirou.

— Não há explicação lógica. É simplesmente o jeito

de muitos dos meus familiares. Não há nenhum tipo de

mágica, mas alguns deles conseguem escapar do perigo.

— E mesmo assim sua prima quase foi morta.

— Sim. Helen foi pega durante o dia, e seus pais

estavam em uma das propriedades da família. Ela e os

criados não conseguiram se defender dos sujeitos que

vieram buscá-la. A pobre tinha apenas treze anos na

época.

— Ah, meu Deus — disse Kieran, imaginando a

terrível experiência para uma menina. — E como

conseguiu escapar com vida?

Glenys hesitou antes de responder.

— Ela… Helen desapareceu. Quero dizer, ela

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escapou.

— Escapou?

— Sim — reafirmou Glenys, em um fio de voz. —

Eles esperaram até o fim do dia para executá-la. Quando

preparavam o fogo, a sol começou a se pôr, e eles só

conseguiram acendê-lo ao cair da noite. Foi quando

Helen conseguiu escapar. E ninguém a achou.

Um arrepio percorreu a espinha de Kieran.

— Entendo. Ela não devia estar bem presa —

comentou ele.

— É verdade — concordou Glenys.

— Imagino que a fuga tenha sido bastante fácil —

continuou Kieran. — Na verdade, uma tarefa bem

simples. E você disse que o resto de sua família é como

ela?

— Você não acredita em mim! — acusou Glenys,

irritada. — Acha que Helen fez algum tipo de mágica para

escapar?

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— Creio que tenha sido muita sorte o fato de uma

garota que gosta de passear sozinha à noite ter

conseguido escapar de uma morte tão cruel. — Kieran

estava sendo sincero.

Glenys endireitou-se e cruzou outra vez os braços.

— Você acredita que Helen é uma bruxa, como Dina.

Duvido até que você tenha enviado a carta que eu lhe

escrevi. Aliás, duvido que você cumpra o que fala ou

promete.

— Claro que a carta chegará às mãos de sua prima

— disse ele, rindo, tentando soltar-lhe os braços. — Se é

impossível acreditar que eu seja um homem de honra,

pelo menos confie em Bostwick. Ele ficou perplexo ao vê-

la escrevendo a carta, pois nunca tinha visto uma mulher

escrever mais do que seu próprio nome, portanto,

cuidará da missiva como se fosse uma jóia. Ora, Glenys,

não fique brava — sussurrou Kieran, com um certo humor

na voz. — Conte-me sobre seus tios e tias, depois sobre a

peça de xadrez.

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— Não há muito o que contar sobre a minha família

— disse ela. — É uma família como outra qualquer,

porém são pessoas muito sábias e conhecedoras dos

antigos costumes.

— Antigos costumes?

— Os costumes do povo que vivia em Gales muito

tempo atrás, de quem os Seymour descendem. Meus tios

conhecem muito bem os elementos da terra e da água, e

minhas tias são versadas na arte da cura e medicina

natural. Há explicações coerentes para tudo que eles

fazem, mas poucos compreendem. A pedra da luz é

prova do que eu digo. Você acha que é mágica, como

todo mundo, só porque não conhece nada sobre os ele-

mentos que a fazem brilhar. Elementos da terra, Kieran

Fitz-Allen, criados por Deus, que não têm nenhum tipo de

relação com qualquer tipo de magia.

— Você está cansada de lutar contra esse tipo de

mal-entendido. — Não era uma pergunta.

— Sim. E muito. Eu me lembro de fazer isso desde

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criança, mas principalmente depois da morte do meu pai.

— Ele era irmão de seus tios e tias?

— Não, meio-irmão, mas bem mais jovem. Meu pai

era filho da segunda esposa do meu avô. De todos os

filhos do meu avô, ele foi o único que se casou. E foi

muito bom, porque senão Daman e eu não teríamos

nascido e não haveria ninguém para cuidar dos meus

tios.

— E você o faz muito bem — murmurou Kieran,

puxando-a mais para perto. Glenys não mostrou

resistência. — O que aconteceu com seus pais?

— Minha mãe morreu de parto, quando eu tinha oito

anos, e a criança também morreu. Meu pai faleceu

quatro anos mais tarde, acometido por uma gripe que

nem minhas tias conseguiram curar. Foi uma época

muito triste para a minha família.

Kieran tentava evitar conversas tão íntimas e

assuntos tão dolorosos com as mulheres que conhecia.

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Não se sentia à vontade e, pior, sentia-se péssimo por

não poder fazer nada para ajudá-las. Na verdade, não

costumava ter esse tipo de aspiração, porém, com a srta.

Glenys era diferente. A vontade de confortá-la era

incontrolável, apesar de não saber como, muito menos

de uma maneira que a agradasse.

— Eu imagino — murmurou ele. — Foi quando você

começou a cuidar dos seus tios e tias.

— Sim. E Daman não podia me ajudar, pois estava

sendo criado em Gales. Mas não pense que eles foram

um fardo para mim, pois não é verdade. São apenas os

rumores e os absurdos que as pessoas imaginam a

respeito deles que tornam a tarefa difícil. Eu jamais

admitirei que algum membro da minha família seja

chamado de feiticeiro ou mágico. E jamais permitirei que

alguém os capture e faça-os passar pelos mesmos apuros

que minha prima passou.

— Seu irmão, sir Daman… Ele pensa da mesma

maneira? Acha que não se trata de feitiçaria e que sua

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família deve ser preservada dos rumores que a

envolvem?

— Claro que eles precisam ser poupados — falou

ela. — Daman sabe muito bem disso, como qualquer

homem são. Em relação à feitiçaria… — Glenys baixou a

cabeça. — Eu gostaria que ele não acreditasse nessa

tolice. Foi o que lhe arruinou a vida.

— Quer dizer que ele tem fé? — perguntou Kieran,

incrédulo. — Não é o Daman Seymour que eu conheço.

Glenys virou-se imediatamente para trás, mas os

olhares de ambos não se encontraram.

— Como você conhece o meu irmão? E por que

deseja provocar a ira dele? Deve haver algum tipo de

inimizade entre vocês dois, mas eu não me lembro de o

ter ouvido mencionar seu nome.

— Não, ele não o faria — disse Kieran sem esconder

o desdém. — Não seria nobre para um cavaleiro da

realeza mencionar um ladrão bastardo. Por que ele o

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faria?

— Por você nutrir um certo ódio por ele? — sugeriu

ela, com tanta franqueza que Kieran até se espantou.

Glenys Seymour podia ter relaxado um pouco, a ponto de

falar abertamente sobre a família, mas era uma mulher

muito inteligente e esperta para se calar em um

momento como aquele.

— Talvez isso se deva ao fato de ele ter me

insultado de certa maneira, e mesmo uma pessoa mais

simples não admitiria o ocorrido.

— Mas planejar vingança e unir-se a um homem

como sir Anton é agir sem cuidado. Na verdade, foi uma

atitude de extrema imprudência.

— Seria imprudente permitir que uma chance como

essa escapasse — discordou ele. — Quem poderá me

dizer quando terei a oportunidade de atrair sir Daman

para a minha rede? Nada melhor do que ter a irmã desse

homem como prisioneira. Ele virá atrás de você.

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— E daí? Daman o matará, embora você se mostre

tão contente com esse possível encontro. Meu irmão está

entre os mais habilidosos lutadores da Inglaterra.

Ninguém nunca o venceu em uma luta de espadas.

Kieran sabia perfeitamente, porém não se afligiu

com o comentário.

— Eu não sou um cavaleiro, muito menos uma

criança indefesa. Minhas habilidades com a espada são

dignas de um exímio lutador, e como seu irmão, nunca

perdi uma batalha.

— Daman o vencerá — prometeu Glenys. — Você

morrerá se chegar a enfrentá-lo. Entretanto, se esse é

seu desejo, não farei nada para incentivá-lo a mudar de

idéia. Estou bem mais preocupada com o pacto que você

fez com sir Anton. Lutar com Daman é uma coisa… mas

como pôde se envolver com um homem que o está

usando para atingir seus objetivos?

— Eu também o estou usando para atingir os meus.

Por esse ponto de vista, nossos pecados são iguais.

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— Mas ele é um homem sem caráter — insistiu

Glenys. — Você não o conhece tão bem quanto eu. Preste

atenção, sir Anton não hesitará em matá-lo para chegar

onde quer. Eu juro que raspo a minha cabeça se não

enfrentarmos algum tipo de perigo quando chegarmos a

York. Tenho certeza de que ele está nos armando uma

cilada. Kieran riu alto.

— Seria uma pena, senhorita. Seus cabelos são

lindos, e eu não gostaria de vê-los no chão.

Mesmo sentado atrás de Glenys, Kieran viu as faces

dela enrubescerem de alegria, o que o deixou bastante

contente.

— Ora, que asneira — disse ela, tentando mostrar-se

inflexível.

— É verdade — disse Kieran, pegando uma mecha

dos cabelos entre seus dedos. Depois do banho, ela os

deixara soltos para secarem ao vento. A brisa agradável

do dia ajudara, e agora os gloriosos fios castanho-

avermelhados estavam quase secos e tão macios quanto

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seda pura.

— Acho que nunca vi um cabelo tão bonito, em

nenhuma das minhas viagens. Sei de muitas mulheres

que venderiam a própria alma para ter um cabelo como o

seu. — Ele soltou-lhe os cabelos e voltou a se concentrar

em guiar Nimrod. — Você o herdou de seu pai?

— Da minha mãe — respondeu Glenys. — Ela era do

norte, bem diferente do resto da minha família. Daman

tem o cabelo preto como o do nosso pai.

— Que bom, pois seria um grande desperdício um

homem ser abençoado com uma cabeleira dessas. Do

norte, você disse. Da Escócia? Sua mãe era escocesa?

— Sim.

— Ah — disse Kieran. — Agora entendo.

— O que você entende?

— Muitas coisas. Conte-me sobre a peça de xadrez.

Ela me parece uma pequena escultura de Boadicea.

Trata-se de uma réplica da antiga rainha?

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Antes de começar a responder, Glenys ficou calada

por um longo instante, então começou a falar.

A tarde estava agradável e quente, bem diferente

do frio e umidade do dia anterior. Kieran guiava Nimrod,

mantendo um passo confortável e constante. Eles

cavalgavam por estradas alternativas, longe das

principais, passando por bosques de carvalho e campos

cheios de lama. Com o tempo, Glenys começou a bocejar.

Sem se dar conta do que fazia, ela relaxou o corpo,

recostando-se no de Kieran.

Algum tempo depois, quando ele parou de fazer

perguntas, percebendo o cansaço da jovem, Glenys

adormeceu com o rosto contra o peito de Kieran. E só foi

acordar duas horas depois, quando pararam no local

onde passariam aquela noite.

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CAPÍTULO VIII

Glenys não imaginava que fosse possível, mas

Kieran FitzAllen conseguira encontrar uma hospedaria

pior do que a taverna de Bostwick.

Na realidade, duvidava que a construção para a qual

olhava pudesse ser chamada de hospedaria. Parecia mais

um galpão abandonado, um abrigo de animais. Não havia

porta de entrada, apenas uma grande abertura, e a

escuridão no interior era tanta que não se podia precisar

o que havia lá dentro.

O lugar era tão sinistro e com aparência de

abandonado que não parecia ser possível alguém morar

ali, pelo menos não uma pessoa normal. Mais parecia um

esconderijo de bandidos e, a julgar por Kieran FitzAllen e

seu criado, não era de se duvidar.

— Veja se consegue encontrar Xander, Jean-Marc —

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ordenou Kieran, desmontando de seu cavalo. — Ele e

seus homens devem estar escondidos em algum lugar,

caso contrário já teriam aparecido.

Jean-Marc já estava no chão, ajudando Dina a

descer.

— Prefiro enfiar a mão em um ninho de cobras, mas

vou obedecer-lhe, milorde.

Glenys notou que o criado tirou o punhal da cintura

antes de se aproximar da entrada do galpão.

Ao sentir mãos quentes em sua cintura, ela olhou

para baixo e encontrou Kieran FitzAllen pronto para

ajudá-la a descer de Nimrod. O belo rosto apresentava

linhas de cansaço, e os olhos azuis indicavam

preocupação.

— Não temos alternativa — disse ele, esperando

que Glenys apoiasse as mãos em seu ombro —, mas

saiba que eu realmente gostaria que houvesse.

— Na floresta? — sugeriu ela, já no chão. — Dina e

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eu não nos incomodamos. Acho que é até melhor. E mais

seguro, pelo que pude perceber.

Kieran balançou a cabeça.

— O chão está muito úmido por causa da chuva de

ontem. Eu esperava estar mais longe antes do anoitecer,

e não tardará a escurecer. Além disso, sua criada quase

não consegue manter os olhos abertos. Eu lhe peço

desculpas, senhorita. — Ele sacou a espada da bainha,

que estava pendurada na sela de Nimrod. — Acho que

nossos anfitriões vieram nos receber.

Ele brandiu a pesada arma com graça, levantando-a

no exato momento em que vários homens empunhando

adagas apareceram de detrás das árvores. Eram cinco

deles, observou Glenys, bem morenos e rudes. O líder

era mais alto do que os outros, muito bonito e

interessante, apesar de suas roupas estarem mais do que

surradas. Ele sorria para Kieran, e ergueu a mão para

indicar a espada apontada em sua direção.

— É assim que cumprimenta os velhos amigos, Kie?

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— perguntou ele com calma, como se também não

estivesse apontando uma arma tão perigosa para seu

companheiro.

Glenys atreveu-se a olhar para o rosto de seu

seqüestrador. Estava implacável, como se fosse de

pedra. Nos últimos dias, testemunhara várias expressões

de Kieran FitzAllen, mas aquela em especial causou-lhe

arrepios por todo o corpo. Ele podia ser um bandido

arrogante, mas não era mentiroso. Dissera ser um exímio

lutador e, vendo-o, poderoso e imponente, pronto para

atacar se necessário, ela teve essa certeza.

— E assim que cumprimento inimigos, Xander —

respondeu Kieran. — Entre meus amigos há uma série de

ladrões e mentirosos, mas nenhum assassino.

Xander sorriu com sarcasmo, mostrando os dentes

brancos que contrastavam com a pele morena.

— Pena que você seja tão exigente, Kie. É uma

característica estranha para um bastardo, mas você

sempre foi assim. Jean-Marc teria ficado comigo se fosse

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diferente. Imagino que tenha trazido o pequeno traidor.

— Os olhos escuros se moveram para Glenys, que

chegou mais perto de Kieran. — E mais alguém. —

Xander deu um passo para frente, mas a espada de

Kieran em seu pescoço o impediu de se aproximar.

— Essa mulher e sua criada estão sob os meus

cuidados. Toque nelas e você será um homem morto,

Xander. O mesmo vale para os seus homens.

Devagar, o moreno se afastou, sem tirar os olhos

brilhantes de Glenys.

— E você fala de assassinos com tanto desdém. Ela

é sua prostituta? Não é tão bonita quanto a última, mas o

corpo é perfeito. — Xander a olhou como se a fosse

devorar inteira, se tivesse a chance. Glenys começou a

tremer. — Temos bastante ouro, se quiser levar um

pouco — acrescentou ele. — Faz mais de um mês que

não aparece nenhuma mulher para dormir aqui. Nós

pagaremos bem pelas habilidades dela.

— Não — respondeu Kieran, nervoso. — Queremos

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apenas abrigo para a noite. Nada mais. E não pense que

irá me convencer.

— Está bem — concordou Xander. — Além de

amparo, eu lhe darei ouro. Deixe-nos ficar com a mulher

por uma hora, e você pode pedir o que quiser. Nós não a

prejudicaremos. Um de cada vez, não é? — Ele olhou

para seus homens, que assentiram murmurando.

Glenys descobriu, aterrorizada, que agora todos a

olhavam. Ela foi para trás de Kieran e colocou a mão na

cintura dele, escondendo-se atrás do corpo forte.

— Ela não é prostituta — declarou o seqüestrador,

calmo —, e falei a sério. Se você encostar um só dedo

nessa mulher, considere-se um homem morto.

— Então nos dê a outra. — Ele apontou para Dina,

parada ao lado da égua de Jean-Marc, pálida de tanto

medo. — Ela será perfeita para nos satisfazer.

— Xander!

O grito veio de um de seus homens que, de repente,

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encontrou a adaga de Jean-Marc em seu pescoço. O

jovem apareceu atrás deles sem ser notado, o que

Glenys atribuiu à experiência em lidar com homens

daquele tipo.

— É um prazer reencontrá-lo, Roald — disse Jean-

Marc, pressionando mais a lâmina contra o pescoço do

bandido. — Você continua feio como sempre. Da última

vez que nos encontramos, quebrei seu nariz. O que será

dessa vez?

— Chame seu cachorrinho de estimação, Kie — falou

Xander.

— Nós não faremos nada contra as mulheres.

— Quero a sua palavra de honra — insistiu Kieran. —

E tudo que você possui de valor. E também quero escutar

juramentos de seus homens. Não confio muito neles, mas

você dará a palavra final. Caso contrário, sua fama de

traidor se espalhará e você será banido até pelo pior dos

bandidos.

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— Ele é o pior deles — resmungou Jean-Marc,

apertando ainda mais sua adaga.

— Xander!

— Está bem — concordou ele, baixando a espada ao

perceber que Kieran não sossegaria enquanto não

escutasse um juramento. — Você terá a minha palavra de

honra, e também a de meus homens. Falem alto! —

ordenou ele e, obedecendo, todos concordaram.

Roald foi solto e empurrado para o chão, e Jean-

Marc caminhou para o lado de Dina, que se deixou

abraçar em busca de conforto.

Aos poucos, Kieran foi baixando sua espada e

relaxando.

— Passaremos a noite aqui e partiremos logo ao

amanhecer — disse ele. — Não nos cause problemas, que

você também os não terá. Se as mulheres não

estivessem cansadas da viagem, pode ter certeza de que

Jean-Marc e eu jamais teríamos parado aqui.

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— Mas vieram — comentou Xander —, e agora serão

nossos convidados de honra. Todos vocês. — Ele olhou

para Jean-Marc.

— Até mesmo o traidor.

— Você tem comida? — perguntou Kieran.

— Comida e bebida — respondeu Xander. —

Acabamos de voltar da caça. Trouxemos apenas coelhos,

mas há o suficiente para todos.

— Vocês serão bem pagos.

— Discutiremos esse assunto amanhã cedo — falou

ele, indicando para que entrassem na casa. — Venham se

aquecer um pouco. O fogo apagou, mas logo estará

queimando outra vez. E o vinho já está na mesa.

Ele foi na frente, e seus homens o seguiram.

— Como você pode confiar nele? Esse sujeito nos

matará enquanto dormimos! — disse Glenys, puxando

Kieran pelo braço.

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Ele sorriu, cansado.

— Não se preocupe, srta. Glenys. Eu ficarei

acordado para protegê-la. Não há o que temer.

— Você está tão cansado quanto Dina e Jean-Marc.

Eu ficarei acordada de guarda.

Kieran pareceu chocado, depois deu uma sonora

risada.

— Glenys, por favor, não é hora para brincadeiras.

— Estou falando a sério! — insistiu ela. — Dormi

bastante durante a viagem, e não há nada mais justo do

que eu ficar acordada, atenta a qualquer movimento em

falso de… de Xander — terminou Glenys, sem saber

como se referir ao homem.

— Não é a Xander que eu temo. — Kieran

embainhou a espada. — Existe uma certa honra entre

bandidos, por mais difícil que seja de acreditar. Se ele

não cumprir com sua palavra e nos atacar, todos nossos

conhecidos o desprezarão. E uma atitude dessas é tão

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ruim quanto a morte entre pessoas da minha laia. Não,

eu não me preocupo com Xander, ou com um de seus

homens. O meu medo é que você ou a srta. Dina tentem

escapar.

— Você acha que seríamos tolas a ponto de fugir

agora? Não temos nenhum tipo de proteção, muito

menos como voltar a Londres. E o pior é que nem

imagino onde estamos, muito menos como encontrar

uma estrada decente para fugir. Não fantasie demais.

Segurando as rédeas de Nimrod, Kieran o levou até

um pequeno estábulo.

— Não posso correr o risco de perder vocês — falou

ele, olhando para seu criado abraçado a Dina. — Leve-a

para dentro, Jean-Marc. Encontre o canto mais limpo da

casa e procure deixá-la confortável. Eu tomo conta de

Meretriz.

— Meretriz? — repetiu Glenys, vendo Dina

desaparecer com Jean-Marc. — É esse o nome da égua

dele?

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Kieran achou graça do espanto da jovem.

— Sim. Você não lhe daria o mesmo nome, vendo

como ela se comporta? Qualquer pessoa que monte nela

conseguirá fugir para bem longe.

— Kieran FitzAllen! Eu lhe dou minha palavra de

honra. Dina e eu não tentaremos escapar durante a

noite. Não digo que o mesmo não acontecerá quando

estivermos mais seguras. Eu seria mentirosa se lhe

dissesse o contrário. Entretanto, não faremos nada

enquanto não chegar a hora. — Ela olhou para a pobre

moradia. O sol começava a desaparecer, deixando-a

ainda mais sinistra. — Nós dois sabemos que nada

acontecerá esta noite. Tenho medo até de dormir neste

lugar, imagine só andar sozinha pelas redondezas. E se a

minha palavra não é suficiente, eu lhe peço que fique

com isto.

Depois de certificar-se de que não havia ninguém

olhando, Glenys enfiou a mão no bolso de seu manto e

tirou a peça de xadrez.

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— Tome — murmurou ela, colocando a rainha na

palma da mão de Kieran. — Eu lhe disse que meu tio me

confiou essa peça que tanto estima para tentar recuperar

a Pedra da Graça. Você sabe que não partirei sem ela.

Kieran ficou olhando para a pequena figura

entalhada.

— Glenys, não é necessário — disse ele, balançando

a cabeça.

— É sim, pois minha palavra não é suficiente. — Não

lhe agradava nem um pouco entregar a peça a outra

pessoa, mas mesmo assim Glenys fechou a mão dele ao

redor da rainha. — Amanhã cedo você me devolve. Eu

lhe confiarei meu mais precioso bem para ter a sua

confiança.

Kieran tentou lhe devolver a peça.

— Eu aceito a sua palavra, Glenys. Pegue-a de volta.

— Não. — Ela sentiu-se tola e, como conseqüência,

suas faces enrubesceram. Se Kieran lhe devolvesse a

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rainha, ela cairia em pratos, e não sabia explicar o

porquê. — Só ao amanhecer, quando partirmos deste

lugar.

Convencido, ele apertou a peça na mão e levou-a

até o peito.

— Eu lhe juro que a manterei a salvo.

Sem coragem de encará-lo, Glenys ficou olhando

para baixo.

— Então ficarei de guarda?

— Sim, você ficará de guarda — consentiu ele. — E

se Xander ou qualquer um de seus homens se atreverem

a olhar para você, acorde-me na mesma hora. Prometa-

me.

— Eu lhe dou a minha palavra. — Por fim, Glenys

levantou o rosto e deparou-se com um olhar perturbado.

— Você não confia em mim?

— Confio sim, Glenys — respondeu ele, enfiando a

peça de xadrez em seu bolso —, mas Xander e seus

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homens são muito espertos. Eles prometeram que nos

deixariam em paz, só que passarão a noite tentando

cumprir a promessa e ainda assim fazer alguma

travessura. Temo que você não saiba o que pediu quando

se ofereceu para ficar de vigília. Porém, será como de-

seja. Assunto encerrado.

A comida que Xander e seus homens

providenciaram foi simples, porém serviu para matar a

fome de todos. Kieran e Jean-Marc cortaram os dois

coelhos assados que receberam, dando as melhores

partes para Dina e Glenys. Apesar de o vinho estar

amargo e velho, eles o beberam para matar a sede e

aquecer o estômago.

A decrépita moradia tinha duas partes, uma sala

principal com uma lareira no centro, e uma área que era

separada por uma pesada cortina de veludo, certamente

roubada de alguma vítima rica. Xander ofereceu-lhes

essa área menor, e Kieran aceitou-a de bom grado.

O pequeno quarto era bastante escuro, uma vez que

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a cortina praticamente impedia a entrada de qualquer

iluminação, bem como do calor, mas era um pouco mais

limpo do que o resto da casa. Com as capas estendidas,

eles improvisaram camas para dormir. Dina e Jean-Marc

adormeceram assim que fecharam os olhos, mas Kieran,

apesar da evidente exaustão, sentou-se ao lado de

Glenys.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — perguntou

ele. — Pretendo lhe fazer companhia durante a vigília.

Glenys até teria aceitado a oferta se ele não

parecesse tão cansado. Kieran tinha o rosto pálido e os

olhos vermelhos. Se não se deitasse, era bem capaz que

dormisse sentado mesmo, antes de perceber.

— Não, você precisa descansar para que possamos

partir ao amanhecer. Na verdade, estou pensando em

mim, pois não vejo a hora de estar longe daqui.

— Sinto-me honrado — disse ele, rindo —, por você

preferir a minha companhia à de Xander. Não é bem um

elogio, mas aceitarei mesmo assim. Olhe, a pedra está

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brilhando. — Kieran tocou-lhe a capa, que emanava uma

luz suave, iluminando-lhes os rostos. — Posso vê-la?

— Se eu a tirar do bolso, Xander e seus homens

poderão ficar curiosos com a claridade.

— Talvez, porém é melhor que tenhamos um pouco

de luz. Xander nos deu privacidade com a esperança de

que dormíssemos, oferecendo-lhe a possibilidade de agir.

— Mas se ele entrar…

— Ele não entrará aqui — garantiu Kieran. — Se vir o

brilho atrás da cortina, Xander certamente ficará curioso.

Entretanto, ele jamais demonstrará essa curiosidade

diante de seus homens. E então, posso ver a pedra?

Glenys hesitou, desejando que a pedra parasse de

brilhar.

— É um grande inconveniente — disse ela. — Como

gostaria que meus tios não tivessem me confiado essa

pedra!

Naquele momento, a pedra parou de brilhar,

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deixando-os novamente na escuridão.

— Oh! — exclamou ela, sentindo a mão de Kieran

procurando a pedra em sua capa.

— Que vergonha, senhorita. Você magoou os

sentimentos da pobre pedra — brincou ele,

movimentando suas mãos hábeis até encontrar o bolso

da capa de Glenys. Os rostos deles estavam tão próximos

que ela sentia a respiração quente contra seu rosto, tão

perto que ela soube dizer quando os lábios de Kieran se

curvaram em um sorriso ao encontrar o que procurava.

Glenys soltou a respiração que estivera prendendo

sem perceber, e se espantou ao observar que seu

coração batia mais depressa do que o normal.

— Ela não acenderá — disse Glenys, com a voz

ligeiramente trêmula. — Essa pedra é cheia de truques e

só as minhas tias conhecem o comportamento desses

objetos.

Kieran a ignorou e começou a murmurar com a

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pedra, como se ela pudesse compreender suas palavras.

— Vamos lá, pequena criatura. Minha linda pequena

criatura.

— Não se trata de uma criatura — falou Glenys. — É

uma pedra irracional.

— Não preste atenção no que ela está dizendo, meu

amor. Vamos lá. Mostre-nos sua linda luz.

Ao abrir a boca para repetir o que acabara de dizer,

Glenys engoliu as palavras. A pedra estava brilhando!

Não era uma luz forte, mas tímida, ainda fraca.

A mão de Kieran se iluminou primeiro, a palma,

onde a pedra se encontrava, e os longos dedos. Os lábios

dele se mexiam com delicadeza, sussurrando palavras

dóceis para o objeto, como se estivesse conversando

com uma criança.

— Sim, minha linda. Minha linda criatura. Isso

mesmo. É assim que eu gosto. Mostre-nos como você

emana sua esplendorosa luz. Agora um pouco mais. Sim,

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um pouco mais forte.

Em resposta, a pedra brilhou com maior

intensidade, aos poucos, como Kieran tinha pedido,

iluminando-lhe o rosto e depois o resto, até que toda a

área encerrada pela cortina estivesse clara.

— Assim está ótimo, minha pequena criatura. Não

brilhe mais, pois não queremos ser descobertos. Você é

uma pedra muito bonita e inteligente. Aposto como não

se importará em nos manter a salvo durante a noite,

apesar do que a sua dona diz, não é?

A luz da pedra diminuiu um pouco, respondendo à

pergunta de Kieran.

— Muito bem! — exclamou Glenys, sentindo-se

insultada até se lembrar de que era apenas de uma

pedra.

— Não ligue, minha querida. Ela não sabe o que está

falando — disse ele, fingindo acalmar a pedra.

— Pare com isso, Kieran FitzAllen! — ordenou

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Glenys. — É apenas uma pedra.

A claridade diminuiu um pouco mais.

— Glenys, por favor, fique quieta e deixe-me cuidar

desse assunto.

Ofendida, ela cruzou os braços e sentou-se para

observar Kieran seduzir a pequena pedra até seu brilho

voltar a reluzir.

— Pronto. — Ele olhou satisfeito para Glenys. — Ela

só queria um pouco de carinho e atenção. Todas as

criaturas precisam disso.

— Já que você insiste em dizer que essa pedra é

uma criatura, não tenho a menor dúvida de que se trata

de uma mulher.

Kieran riu e, com cuidado, colocou a pedra no meio

do pequeno aposento. Ela brilhava como uma vela suave,

fornecendo luz suficiente para que os dois enxergassem

um ao outro.

— O problema, Glenys Seymour, é que a magia a

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rodeia, mas você insiste em não acreditar — afirmou

Kieran, sorrindo.

— Não é mágica — respondeu ela, apontando para a

pedra. O seqüestrador não se perturbou, continuando a

olhar e tratar o objeto como se fosse humano.

— Eu já lhe expliquei como a pedra produz luz. É

uma combinação de elementos naturais, da terra…

Kieran balançou a cabeça para os lados e deu uma

risadinha.

— Por que você insiste em dar uma explicação

prática para tudo? É impossível. A idéia de magia a

incomoda tanto? E de se espantar que seus parentes não

tenham conseguido convencê-la depois de todos esses

anos. Você vai me mostrar esse pó espetacular que seu

tio lhe deu ou não?

— Não — respondeu ela. — Você está muito

cansado. Quem sabe, amanhã cedo. O pó serve para

apagar fogo e dissipar uma nuvem de fumaça de um

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ambiente fechado. E não é mágica.

— Como quiser, senhorita. Então depois você me

explica como funciona direito, por favor.

Os dois se distraíram com Jean-Marc que, dormindo

pesadamente, virou-se de lado e colocou o braço em

volta de Dina. A criada suspirou de leve, mas não

acordou.

— Vou conversar com ele logo ao amanhecer —

disse Kieran, antes que Glenys pudesse falar qualquer

coisa. — Não se preocupe com o assunto. Jean-Marc se

apaixona com a mesma facilidade com que a chuva cai

do céu. Você nunca conhecerá um homem mais

romântico. Seu coração se despedaça a cada quinze dias.

— Você me surpreende, Kieran FitzAllen — disse

Glenys, com honestidade. — Ele não me parece uma

pessoa sujeita a esse tipo de emoções. Ainda mais depois

de o ter visto interagindo com Xander e seus homens.

Imagino que Jean-Marc tenha vivido algum tempo com

eles.

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Kieran endireitou as costas, virando o rosto de um

lado para o outro e mexendo os ombros, na tentativa de

aliviar os músculos doloridos. Seu cansaço tornava-se

mais evidente a cada momento que passava.

— Jean-Marc nasceu e foi criado em Londres e

passou a maior parte nas ruas e becos da cidade. Nunca

conheceu a mãe ou o pai. Quando o conheci, ele tinha

apenas onze anos. Fiquei surpreso ao saber que um

garoto daquela idade conseguira sobreviver por tanto

tempo em circunstâncias tão precárias, mas depois

descobri que isso só aconteceu porque ele era muito

esperto e espirituoso para morrer, e também por ter sido

adotado por um bando de ladrões.

— Xander e seus homens?

— Xander estava entre eles, mas era apenas um

aprendiz. Não, o homem que manteve Jean-Marc vivo

chamava-se Trigere. Japhet Trigere. Deus que me perdoe,

mas se tratava de um bandido desalmado. Mil vezes pior

do que Xander. Entretanto, ele logo percebeu o valor de

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Jean-Marc e lhe ensinou tudo que sabia, tratando-o como

um verdadeiro filho. Escolheu até um nome francês,

como Trigere, para batizá-lo.

Kieran sorriu, depois deu uma gostosa risada.

— E desde então, Jean-Marc se acha o verdadeiro

francês, e conhecedor de todos os assuntos gauleses,

apesar de ser tão inglês quanto você e eu. Foi a sorte

que nos colocou frente a frente, no dia em que ele tentou

roubar minha carteira. Se eu não fosse tão esperto, Jean-

Marc bem que teria conseguido. — Os olhos de Kieran se

encheram de lágrimas diante da lembrança. — Meus pais

sempre se desesperaram com meus talentos peculiares,

mas eles me foram bastante úteis durante os anos. Em

outras circunstâncias, eu poderia nem ter ficado com

Jean-Marc.

— Como assim?

— O único motivo de Jean-Marc ter largado sua

família de ladrões para ficar comigo foi por ter me

reconhecido como um bandido superior. E naquela

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época, eu esvaziava várias carteiras para manter minha

barriga cheia e minha… para ser mais delicado, minha

cama aquecida.

— Estou surpresa com o fato de você precisar pagar

por isso — comentou Glenys sem pensar duas vezes.

Imediatamente seu rosto enrubesceu. — Desculpe pela

minha grosseria. Não tenho nada a ver com esse assunto.

Kieran riu, mas seu cansaço era tanto que Glenys

sentiu pena.

— Não se preocupe, senhorita. Embora eu tenha

conhecimento dos meus dotes, já estou me aproximando

dos trinta anos.

— Ele respirou fundo. — Não vou negar que sempre

fui abençoado com as mulheres, porém as mulheres cuja

companhia eu busquei precisavam de dinheiro, como

qualquer pessoa, e por isso eu pagava. Todavia, trata-se

de um assunto inadequado para uma dama como você.

Não se preocupe com a sua criada. Amanhã cedo vou

conversar com Jean-Marc. Não é nossa intenção agir

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como sedutores enquanto as mantemos cativas,

Glenys franziu a testa e desviou o olhar, imaginando

que um homem como aquele jamais a seduziria, nem

mesmo que tivesse sido pago por sir Anton para agir

assim.

— Claro, poderíamos tentar seduzi-las — disse

Kieran, o que a fez voltar os olhos imediatamente para

seu seqüestrador. — Seduzi-la, quero dizer. Não tenha a

menor dúvida. E você estaria muito desamparada para

resistir.

Surpresa, Glenys arregalou os olhos. Não sabia o

que pensar a respeito daquelas palavras. Será que Kieran

FitzAllen estava se divertindo com sua falta de atrativos?

Um homem tão bonito, que podia ter todas as mulheres

que desejasse com apenas um olhar, em hipótese

alguma perderia seu tempo com alguém como ela.

O silêncio de Glenys pareceu exasperá-lo. Ele

ergueu a mão e apontou para o aposento imundo atrás

da cortina.

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— Xander e seus homens queriam me pagar em

ouro para possuí-la por apenas uma noite. Você e não a

sua criada.

— Eles têm medo de machucá-la — sussurrou ela.

— E você acha que esses homens se preocupam

com o bem-estar de uma mulher? Eles são assassinos,

Glenys. Respeitam apenas aqueles que são mais hábeis e

mais rápidos com uma arma. Não, Xander queria você.

Você tem pouca experiência sobre o assunto, estando

acostumada com homens tão fracos quanto sir Anton. Era

desejo que havia nos olhos de Xander. Desejo, minha

cara. Por você.

Glenys piscou para afastar as lágrimas que surgiram

de repente em seus olhos. Por que Kieran FitzAllen se

tornara tão cruel de uma hora para outra?

— Entendo o que você está querendo dizer —

murmurou ela, com a voz trêmula. — Um homem, ou

melhor, um assassino, que deve estar há semanas sem a

companhia de uma mulher pode se interessar por alguém

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como eu.

Kieran deitou a cabeça para trás e ficou olhando o

teto, como se estivesse pedindo por paciência.

— Não foi isso o que eu quis dizer — explicou ele,

algum tempo depois, encontrando os olhos de Glenys. —

Se eu não estivesse tão cansado e se não tivesse

prometido que a deixaria em paz, eu lhe mostraria o que

estou querendo dizer, senhorita, para que não restasse

nenhum tipo de dúvida. — Tome — disse Kieran,

desembainhando sua espada e colocando-a entre ambos.

— Espero que não precise usá-la, todavia é mais

garantido deixá-la aqui. E me acorde imediatamente se

alguém se atrever a atravessar a cortina.

Calada, Glenys assentiu e observou o seqüestrador

murmurar algumas palavras antes de se deitar. Ele

fechou os olhos, mas continuou resmungando algo sobre

mulheres e tolices. Momentos depois, Kieran ficou em

silêncio e logo adormeceu.

Se seu cansaço não fosse tão grande, Kieran disse a

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si mesmo algum tempo depois, ele teria acordado no

instante em que escutara Glenys falando seu nome.

Certamente quando ela começara a sacudi-lo. E

definitivamente quando sentira o cheiro de fumaça.

Por fim, Kieran despertou e deparou-se com Glenys

quase em cima dele, empunhando a espada contra

Roald, que não se mostrava nada calmo.

— Kieran! — gritou ela furiosa, brandindo a espada

para frente e para trás. — Jean-Marc!

De algum lugar atrás de si, Kieran escutou a

resposta de Jean-Marc, seguida por um grito histérico de

Dina. Ele ficou imóvel onde estava, observando,

estupefato, Glenys lutar contra Roald com a bravura de

uma amazona. Se preciso fosse, ela decerto mataria o

homem. Não havia sinal de lágrimas no rosto anguloso,

muito menos de medo, apenas determinação.

As mãos de Jean-Marc puxaram Kieran pelo pescoço,

despertando-o do torpor.

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— O que houve, meu amigo? Acho que você está

ficando velho, surdo e cego! — berrou ele, sacudindo-o.

— Levante-se!

A letargia que o mantinha enfeitiçado desapareceu

na mesma hora, e Kieran se levantou. O lugar estava

todo enfumaçado, e ele logo compreendeu o que

acontecia. Xander prometera não tocá-los. Fisicamente.

Entretanto, encher a casa de fumaça e confusão e tentar

roubá-los não fazia parte do combinado. E se não

saíssem de lá o mais depressa possível, todos corriam o

risco de morrer sufocados. Glenys já tossia e respirava

com dificuldade, o que atrapalhava seus movimentos

com a espada.

— Deixe-me lidar com este safado! — resmungou

Kieran, tirando a espada da mão de Glenys e encostando-

a no pescoço de Roald. — Glenys! Fique perto de Jean-

Marc e ele… Glenys?

Kieran tentou enxergá-la em meio à fumaça e a viu

passar pela cortina, na direção da sala.

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— Glenys! Não faça isso!

Tarde demais. Kieran escutou-a tossir e saiu

correndo, empurrando Roald para o lado.

Tentando enxergar em meio à fumaça cada vez

mais densa, ele ouviu um grito feminino a sua esquerda.

— Xander, deixe-a em paz! Eu lhe juro que acabarei

com a sua vida se você ousar encostar um só dedo nessa

mulher!

Uma explosão clara de luzes brilhantes inundou o

ambiente, produzindo faíscas púrpura. Momentos depois,

a fumaça sumiu. Simplesmente desapareceu. Não foi

levada pelo vento, nem saiu pelas janelas. Desapareceu.

As faíscas caíram no chão, reluzindo como centenas de

estrelas brancas e púrpura antes de se apagarem ao

mesmo tempo. A parca claridade foi suficiente para que

Kieran visse Xander e seus homens ao lado de Glenys,

com as adagas em mãos e os rostos cheios de pânico. A

jovem olhava para seu seqüestrador, segurando a

pequena bolsa de couro com a mão esquerda e com a

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direita estendida. Quase toda cor sumira do rosto dela.

— U-uma bruxa! — gaguejou Xander. — Você

colocou uma bruxa dentro da minha casa!

— Ela não é bruxa — disse Kieran, sabendo que

ninguém acreditaria. Glenys parecia uma verdadeira

feiticeira, toda imponente com a mão direita elevada, os

cabelos avermelhados soltos, caindo-lhe nas costas. Além

disso, a fumaça desaparecera como em um passe de

mágica. E a despeito do que ela lhe contara sobre os tios,

Kieran ainda não se convencera da inexistência de magia

naquela família.

— Deixem-nos em paz! — implorou Xander,

encostando-se na parede com seus companheiros. —

Saiam daqui! Kieran, eu lhe imploro que parta. Pegue sua

bruxa e siga seu caminho!

As cortinas se abriram e Jean-Marc e Dina

caminharam para a sala, levando a pedra brilhante

consigo. Ele colocou-a sobre a palma de sua mão,

iluminando todo o ambiente.

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— Era só o que me faltava — resmungou Xander,

fazendo o sinal da cruz. — Isso é coisa do demônio.

— Sim — disse Kieran, perdendo a paciência. — E

esta é a minha espada, afiada e pronta para atacar quem

for preciso. — Ele se aproximou de Xander e segurou a

arma contra a garganta do inimigo. — Diga-me, Xander,

por que eu não devo mandar sua alma cigana para o

inferno por você não ter cumprido com sua palavra?

— Eu não faltei com minha palavra! Nós não lhes

fizemos nenhum mal!

— Ah, não? Você quase nos matou com a fumaça, e

mandou Roald roubar nossos pertences!

— Mas não encostamos um dedo em vocês —

argumentou Xander, unindo as mãos. — Kieran, eu lhe

peço que pegue a bruxa e saia daqui, ou saímos nós. Eu

lhe juro que não apareceremos mais até amanhã cedo,

quando vocês estiverem bem longe.

— O que o leva a crer que eu seria tolo a ponto de

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acreditar duas vezes na sua palavra? Não, Xander, tenho

uma idéia bem melhor, e você me obedecerá caso não

queira que essa mulher se revele. Ela ainda não mostrou

nem a metade dos poderes que possui, mas tenha

certeza de que eu a autorizarei a proferir as mais

horrendas maldições se você nos causar mais problemas.

Jean-Marc — chamou ele, sem tirar os olhos do inimigo,

que começara a tremer —, encontre uma corda. Eu lhe

juro que teremos uma noite decente de descanso.

Meia hora depois eles se deitaram de novo, dessa

vez ao redor do fogo.

Kieran conseguira convencer Glenys a se deitar,

mas ela se recusava a fechar os olhos.

— Você acha que eles não conseguirão se soltar?

Xander é tão esperto…

Kieran bocejou e se espreguiçou.

— Se eu os tivesse amarrado, essa possibilidade

existiria. Entretanto, foi Jean-Marc que os prendeu. Eles

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não se soltarão até que nós o soltemos. Se é que vamos

fazê-lo.

Do outro lado, onde dormia, Jean-Marc resmungou

algo e se virou.

— Eles pensam que eu sou uma bruxa — disse

Glenys. — Não falei que era assim?

— Pense que foi algo positivo, pelo menos essa

noite. Enfiando a mão no bolso, Kieran pegou a peça de

xadrez e estendeu-a para Glenys. Ela inclinou-se para

pegá-la, mas não entendeu nada.

— Você descansará melhor se a rainha estiver em

seu poder. — falou ele, bocejando outra vez. — Tente

dormir, Glenys. Amanhã teremos um longo dia pela

frente.

Ela ficou em silêncio e imóvel. Kieran também,

prestando atenção nos movimentos da jovem. Um longo

tempo se passou antes que Glenys se deitasse e

conseguisse adormecer. Só então ele pôde descansar

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sossegado.

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CAPÍTULO IX

Quando chegaram a York, alguns dias depois,

Glenys já perdera toda a paciência com seus

seqüestradores. Kieran se recusava a escutá-la. Jean-

Marc a ignorava da mesma maneira. E Dina também não

ajudava. A criada desistira de tentar convencer os dois

homens de que era melhor se esquecerem daquela

missão. Em vez disso, preferia ficar seguindo Jean-Marc

de um lado para o outro.

Glenys notara a atração de Jean-Marc por Dina, e

cada vez ficava mais claro que esse sentimento era

recíproco. Ela tentara conversar duas vezes com a criada,

aconselhando-a a não se deixar envolver com um homem

daqueles, e a jovem lhe garantira, suspirando, que

tomaria o máximo cuidado. No instante seguinte,

entretanto, lá estava ela contando os feitos de Jean-Marc,

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falando de sua gentileza, atenção, consideração e beleza,

entre outras características. O fato de tratar-se de um

bandido parecia não ter a menor importância.

Essa era a maior preocupação de Glenys no

momento. Depois de tantos dias de viagem, estava suja,

com os cabelos secos e embaraçados, a roupa e os

sapatos cheios de lama. Além do cheiro de suor de

cavalo, que impregnara em seu corpo. Além disso, a

fome a atormentava, e todos os músculos de seu corpo

doíam em conseqüência da cavalgada ininterrupta. Seu

único consolo era que todos se encontravam nas mesmas

condições deploráveis.

E agora tinham chegado à fortaleza de sir Anton em

York. A construção era exatamente como Glenys

imaginara: um lugar abandonado, quase em ruínas, no

qual nenhum ser humano são se atreveria a morar. Os

animais ficariam muito bem alojados na torre redonda,

apesar do buraco na parte da frente e das paredes

prestes a cair.

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— Eu não lhe disse que seria assim? Sir Anton nunca

o enviou até aqui para me manter cativa com Dina. —

Sentada à frente de Kieran em Nimrod, Glenys observava

as árvores que os rodeavam. — Os homens dele devem

estar escondidos nos observando, esperando que nos

aproximemos para nos atacar e matar.

Kieran suspirou, cansado.

— E eu já lhe repeti inúmeras vezes que isso é

impossível. Por que sir Anton quereria você ou um de nós

morto? Se ele a quer fora do caminho, seria melhor que

nos mantivesse vivos, principalmente você. Sua família

com certeza já está a sua procura, e se por acaso você

fosse encontrada morta, todas as suspeitas recairiam

sobre esse homem. Só um grande tolo não perceberia os

problemas que causaria em sua vida com essa atitude.

— Sir Anton é um grande tolo —— disse Glenys.

— Mas não insano, espero eu. — Kieran olhou para

Jean-Marc, aguardando aprovação. — E então?

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— Está tudo bem — respondeu ele. — A fortaleza

não está ocupada. Vamos entrar sem problemas.

— Ótimo. E apesar dos buracos nas paredes,

poderemos acender um belo fogo para nos aquecer. E

fazer um bom jantar — comentou ele, apertando o braço

que envolvia a cintura de Glenys. — Deve haver vários

coelhos nessas terras, e também temos pão fresco que

compramos hoje cedo.

— E uma garrafa de vinho — acrescentou Jean-Marc,

batendo na sacola pendurada na sela de seu cavalo. —

Com sorte, encontraremos alguns galhos macios para

fazer nossas camas, pelo menos para esta noite. Amanhã

um de nós pode ir até a cidade comprar mantimentos.

— É uma armadilha — insistiu Glenys. — Vocês se

recusam a acreditar em mim, mas eu estou falando a

verdade.

Ignorando-a, Kieran instigou Nimrod a prosseguir,

descendo a montanha em cujo topo estavam parados,

seguindo em direção ao vale onde se localizava a

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fortaleza em ruínas.

— Sir Anton nos deu dinheiro suficiente para

vivermos com conforto — falou ele, ávido por abraçar o

descanso e comodidade que via pela frente. — Teremos

queijo fresco e cerveja, e mantas extras para todos.

Aveia para os cavalos. Só Deus sabe como eles merecem

esse consolo depois de viajar tantos quilômetros entre…

De repente, uma fecha passou ao lado da orelha de

Kieran, atirada de um lugar bem próximo, logo atrás

deles. Glenys sentiu a pena roçar em seu rosto. Ela

arregalou os olhos em pânico, e Kieran esporeou seu

cavalo.

— Corra! — gritou ele.

Os dois animais desceram correndo, lado a lado, em

direção à fortaleza, enquanto mais setas eram lançadas.

— Eu não lhe disse? — gritou Glenys, segurando-se

na sela e em Kieran.

— Sim, pode ficar se gabando — falou ele,

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inclinando-se para a frente a fim de protegê-la de mais

uma flechada. Com movimentos ágeis, Kieran guiou seu

cavalo até a fortaleza —, mas espere até estar a salvo.

A construção era exatamente o que parecia de

longe, um espaço desabitado e abandonado com

escadarias que levavam ao andar superior.

Os dois homens pararam seus cavalos de repente,

pulando depressa para o chão. Em seguida, ajudaram

Glenys e Dina a desmontar. Kieran empurrou-as na

direção das escadas e logo desembainhou sua espada.

Do lado de fora, os sons dos cavalos se aproximando

aumentava, o ataque tornando-se cada vez mais

iminente.

— Subam! — gritou ele. — Fiquem lá em cima e não

se atrevam a descer!

Ele se virou para enfrentar o primeiro invasor com

um golpe letal. O homem, que nunca soube o que o

acertou, caiu do cavalo com um corte profundo no peito,

que sangrava profusamente.

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Glenys encostou-se à parede ao ver os inúmeros

cavaleiros entrando, prontos para atacar Kieran e Jean-

Marc. Nimrod e Meretriz, relinchando nervosamente,

fugiram para um dos cantos da fortaleza e quase pisaram

em Dina, que estava encolhida no chão desde a entrada

do primeiro invasor, cobrindo a cabeça com as mãos.

Glenys correu para socorrer a criada, empurrando os

animais com toda a força que possuía e ajudando-a a se

levantar.

— Fique ali no canto com os cavalos — ordenou ela,

empurrando-a para junto dos animais.

Kieran gritou o nome dela, e Glenys se virou,

deparando-se com um cavaleiro pronto para atacá-la,

empunhando ferozmente espada. Sem saber o que fazer,

ela ficou paralisada pelo medo, incapaz de se mexer ou

de gritar, os olhos refletindo o brilho prateado da lâmina

que a ameaçava. Então ela sentiu o peso de um corpo, o

de Jean-Marc, e caiu no chão. O cavalo passou ao lado

deles, quase pisoteando-lhe a cabeça. O momento pas-

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sou e ele rolou para o lado e se levantou depressa,

pronto para enfrentar o inimigo que voltava.

Jean-Marc brandiu a espada com exímia habilidade e

seu rosto estampava a fúria de um lutador demoníaco.

Quase como que chamando a morte, ele postou-se à

frente do cavalo que corria em sua direção, mas no

momento em que o animal estava a meio metro de

distância, ele pulou para o lado com extrema leveza. Em

seguida, ergueu sua espada e acertou o pescoço do

cavalo, que relinchou e caiu, esmagando o cavaleiro que

o montava.

Glenys se afastou, testemunhando, horrorizada,

Jean-Marc atacar o sujeito e cortar-lhe a garganta com

um golpe certeiro. Ela continuou imóvel, sentindo uma

forte náusea, enquanto sua visão começava a ficar turva

e um desagradável suor frio indicava que estava prestes

a desmaiar, até que Jean-Marc pegou-a pelo braço e

empurrou-a para a parede.

— Saia daqui! Depressa!

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Glenys seguiu para o canto onde Dina estava,

protegida pelos dois cavalos, mas os gritos furiosos que

escutou a fizeram virar-se.

Havia pelo menos quatro homens avançando na

direção deles, e apesar de Kieran e Jean-Marc lutarem

com extrema habilidade e rapidez, era evidente que os

dois seriam dominados. Jean-Marc acabara de lhe salvar

a vida, arriscando a sua própria. Poderia simplesmente

ficar parada, observando os seqüestradores morrerem

sem tentar ajudá-los?

Mas o que fazer?

Ela olhou a sua volta à procura de algum tipo de

arma e respirou fundo quando seu olhar deparou-se com

uma pilha de madeira queimada, onde alguém um dia

tentara acender uma fogueira. Sem pensar duas vezes,

Glenys correu até a pilha, pegou o pedaço mais pesado

que conseguiu carregar e entrou na briga.

Espadas, adagas e punhais vieram em sua direção,

junto com cavalos poderosos, assustados e nervosos. De

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algum lugar próximo, ela escutou a voz irritada de Kieran

gritando seu nome, mas não deu a menor atenção.

Levantando a tora, Glenys abaixou-a com toda sua força,

acertando a cabeça do cavalo mais próximo, como Jean-

Marc fizera. Os relinchos do animal a afligiram, e logo ele

caiu de joelhos, jogando seu cavaleiro longe.

Kieran apareceu segundos depois, com a espada

erguida. Glenys repetiu o movimento, acertando mais um

dos pobres cavalos.

Os minutos seguintes pareceram durar uma

eternidade, repletos de confusão e medo, até que os dois

atacantes sobreviventes viraram seus cavalos e fugiram

para não acabar como seus companheiros.

Um momento se passou. Kieran, Jean-Marc e Glenys

ficaram se olhando, com as armas abaixadas, ofegantes.

Cavalos assustados se agitavam nervosamente, e pelo

menos quatro corpos jaziam ensangüentados no chão.

Pressionada contra a parede, Dina segurava as rédeas de

Nimrod e Meretriz, com os olhos arregalados.

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Kieran correu até a entrada da fortaleza para olhar

os dois cavaleiros que fugiam.

— Eles se foram — disse ele, com a voz rouca em

virtude de tanto esforço. — Mas podem ter certeza de

que voltarão, se não atrás de nós, atrás dos

companheiros. — Ele observou os corpos caídos no chão,

sem vida. — Vamos tirá-los daqui. Glenys, cuide de Dina

enquanto Jean-Marc e eu acalmamos os cavalos. — Ele

passou o braço pela testa suada. — Não tente ajudar.

Eles estão ensandecidos.

Glenys concordou em silêncio e deixou o pedaço de

madeira no chão. Então seguiu para o lado de Dina, que

chorava e tremia incontrolavelmente. Ela abraçou a

criada, confortando-a com ternura.

Kieran e Jean-Marc conseguiram levar os animais

para o estábulo abandonado. Depois arrastaram os

corpos para fora, um a um, colocando-os lado a lado na

frente da fortaleza.

— Glenys — chamou ele algum tempo depois. —

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Saia, por favor. E traga a srta. Dina junto.

Estendendo a mão assim que a viu, ele auxiliou-as a

passar para fora. Glenys se surpreendeu ao ver o sol

brilhando, pois parecia que mais de meia hora se

passara. Sentia-se grata pela vida, por sentir o calor do

sol, por ver o verde das árvores. Seus olhos se encheram

de lágrimas.

— Sente-se aqui — falou Kieran, guiando-as para um

canto onde parte da parede despencara durante a briga.

— Jean-Marc e eu precisamos cuidar de Nimrod e

Strumpet, depois limparemos o sangue do chão. Fiquem

aqui. Não se preocupem, pois eles não voltarão tão cedo.

Se o fizerem, será durante a noite.

As duas se sentaram, contentes por a situação ter

se normalizado pelo menos por hora. Glenys dobrou os

joelhos e apoiou a cabeça nas mãos, cuidando para não

cair no choro como sua criada. Sentiu a mão forte de

Kieran em seu ombro por alguns instantes, um toque

caloroso e reconfortante que durou apenas um momento.

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Eles sumiram dentro da fortaleza, aparecendo de

tempos em tempos à procura de objetos necessários,

ramos de árvore para tentar limpar o sangue, se é que

era possível, capim para alimentar os cavalos e uma capa

de um dos mortos para cobrir os corpos.

Aos poucos, tudo foi se acalmando, bem devagar,

até que Glenys sentiu suas forças voltando.

Kieran desapareceu atrás da fortaleza, voltando

alguns minutos depois. Primeiro chamou Jean-Marc,

depois aproximou-se de Glenys e Dina com um sorriso no

rosto.

— Encontrei o poço da fortaleza. A água está velha,

mas limpa o suficiente para que nos limpemos um pouco

e para os animais beberem. Venham se refrescar.

— Não é melhor dar água para os cavalos primeiro?

Eles precisam mais do que nós — disse Glenys,

levantando-se.

— Acho que você vai gostar de limpar suas roupas

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— contrapôs Kieran, com ternura na voz.

Desde que a luta terminara, foi a primeira vez que

Glenys olhou para si mesma, notando que sua saia

estava rasgada e suja de sangue.

— Ah, meu Deus — murmurou ela, incapaz de

afastar o terror da voz. Glenys começou a tremer,

lembrando-se de tudo que acontecera e de sua

participação na morte de quatro homens. — Ah, meu

Deus, o que eu fiz?

Kieran colocou as mãos sobre os ombros dela.

— Quando a vi pela primeira vez, Glenys —

começou Kieran —, não imaginei que você pudesse ser

irmã de Daman Seymour, pois vocês dois não se

parecem. Mas agora o parentesco está claro. Você é a

mulher mais corajosa que já conheci em toda a minha

vida, Glenys Seymour, e se seu irmão estivesse aqui teria

ficado muito orgulhoso com o seu comportamento. Não

há motivo para se envergonhar por ter nos ajudado, e eu

não permitirei que isso aconteça. Não queira ignorar seu

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mérito.

— Concordo com ele, milady — disse Dina,

levantando e aproximando-se. — Se não fosse por você,

Kieran e Jean-Marc certamente teriam sido dominados

por aqueles homens, e nossas vidas não teriam sido

poupadas. Todos estaríamos mortos.

Glenys ergueu a cabeça para encontrar os olhos do

seqüestrador. Havia neles uma determinação contra a

qual não conseguiria lutar.

— Muito bem — disse ela com voz fraca,

evidenciando seu cansaço. — Eu não me sentirei culpada

com o que aconteceu com esses homens, mas quero

saber se machuquei algum dos cavalos.

Os olhos de Kieran se arregalaram um pouco,

revelando surpresa. Então ele abriu um belo sorriso e

balançou a cabeça.

— Não, Glenys, não se preocupe. — Ele soltou uma

gostosa risada. — Nenhum deles está ferido.

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— Tem certeza? Eu os acertei com tanta força que

devo ter ferido algum.

Ainda rindo, Kieran inclinou-se e envolveu-a em um

breve porém caloroso abraço.

— Se quiser, eu lhe mostro os cavalos quando os

levarmos até o poço, mas eu lhe juro, Glenys, que nada

aconteceu aos animais. Antes, porém, venha se limpar e

se refrescar um pouco. Ainda temos muito a fazer antes

do cair da noite.

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CAPÍTULO X

Os dois homens levaram os cavalos para beber água

pouco antes de o sol se pôr. Eles passaram mais de meia

hora discutindo se deveriam permitir ou não que Glenys

e Dina seguissem viagem em dois dos animais, mas

acabaram decidindo que o cuidado extra e mais duas

bocas para alimentar só lhes traria mais problemas. Além

disso, a criada não gostava de cavalgar, e Glenys admitiu

que, embora soubessem montar, não era tão experiente

quanto seu irmão.

Kieran sentiu um grande alívio, apesar de não ter

expressado seus pensamentos em voz alta. Em seguida,

eles se preocuparam em preparar a fortaleza para a

chegada da noite e os perigos que poderiam surgir, e só

então Kieran teve tempo para pensar em tudo que

acontecera, e no que significava.

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Glenys estivera certa em todos os aspectos, e ele

fora cego teimoso por se recusar a enxergar a realidade

que estava diante de seus olhos. Pior ainda, não se

permitira acreditar, pois, se tivesse acreditado, seus

planos de vingança contra Daman Seymour não seriam

mais os mesmos, e seu orgulho não aceitaria, em

hipótese alguma, tal comportamento. Ele era o culpado

por estarem passando por tudo aquilo, quase causando a

morte de todos.

E a jovem prisioneira, que estivera sob seu poder

até então, fora a responsável pelo equilíbrio entre o bem

e o mal. Dina tinha razão. Se Glenys não os tivesse

ajudado a derrubar os animais, Kieran sabia que ele e

Jean-Marc não teriam conseguido vencer sozinhos.

Agora, entretanto, tudo mudara. Kieran não sabia ao

certo como, porém a certeza estava ali, deixando-o infeliz

e desconfortável. A verdade era que não queria que as

coisas mudassem entre Glenys e ele. Não a queria em

outro cavalo. Queria mantê-la sob controle, por perto.

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Bem perto. No dia anterior chegara a pensar na hipótese

de Daman Seymour não encontrá-los, o que os manteria

juntos por mais tempo.

E já tomara uma decisão bastante importante: não

entregaria Glenys Seymour aos cuidados de sir Anton.

Kieran a libertaria, é claro, em algum momento futuro.

Todavia, ainda não tinha uma data específica em mente.

E agora esses pensamentos haviam desaparecido.

Tudo mudara.

Eles tiraram as selas, deram água e comida para os

cavalos, deixando-os soltos para caminhar um pouco

pelos arredores. Nimrod e Meretriz ficaram dentro da

fortaleza, ao lado de seus donos, observando os outros

animais saírem. Jean-Marc, com a ajuda de Dina,

ajoelhou-se no chão e começou a abrir as sacolas que

estavam presas às selas, em busca de algo que lhes

pudesse ser útil nos dias seguintes.

Glenys ficou ao lado de Kieran, observando os

cavalos se afastarem.

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— Será que os homens voltarão para buscá-los? —

perguntou ela.

— Podem até tentar, pois são animais de grande

valor, mas será um pouco difícil sem as selas e rédeas.

Está claro que não tinham preparo nenhum para a

batalha. Nimrod, sim. Ele odeia o cheiro de sangue, como

todos os cavalos, mas não tem medo da morte.

Glenys não disse nada, apenas olhava. Depois de

alguns instantes, os cavalos começaram a desaparecer

no meio do mato.

— Eles deverão passar a noite por ali, se nenhum

perigo aparecer — murmurou Kieran.

— Ou aqueles homens podem voltar — comentou

ela, passando as mãos nos braços para se aquecer.

Apesar de a fortaleza estar parcialmente em ruínas,

o andar de cima estava bem mais conservado,

oferecendo-lhes um pouco mais de proteção. Os cavalos

permaneceram no térreo, e no andar superior eles

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fizeram uma fogueira e camas com galhos e capim. Dois

ficariam de vigília no telhado, enquanto os outros

dormissem. Com as defesas preparadas para o ataque,

Kieran acreditava que teriam uma noite sossegada, a

salvo. Com apenas uma entrada na fortaleza, ele e Jean-

Marc poderiam render quaisquer invasores, porém era

pouco provável que tentassem uma nova investida.

Seu maior medo era pelos cavalos, que não podiam

ser levados para cima, mas era um risco que teriam de

correr. Dificilmente Nimrod e Strumpet seriam roubados,

afinal não era uma tarefa simples. Dina e Glenys tinham

tentado e falhado. Um era muito bem treinado para dar

atenção a estranhos, e o outro, muito malvado.

Pouco antes de o sol se pôr, os quatro estavam

reunidos ao redor da lareira, exaustos e famintos,

comendo e bebendo o pouco que lhes restava. Na

verdade, a refeição não era das piores. Pão, queijo,

algumas frutas e um pouco de vinho. Depois de terminar

de comer, todos estavam bem mais animados.

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— Glenys e eu faremos a primeira vigília — disse

Kieran, levantando-se e vestindo a capa. — Tentem

dormir. Nós os acordaremos por volta da meia-noite.

Glenys segurava a gola da capa contra o pescoço,

tentando proteger-se da brisa fria que soprava. No céu,

as estrelas e a lua brilhavam com intensidade, perdendo-

se de vez em quando atrás das nuvens escuras que se

movimentavam no céu.

— Choverá de manhã — comentou Kieran,

encostado à parede e olhando para Glenys, segurando a

peça de xadrez na mão. — O que ela faz além de os olhos

brilharem?

— Eles dão a impressão de brilhar — explicou ela,

suspirando. — Trata-se de um tipo de truque.

— Mas não é mágica. É um pouco estranho, pois a

cor muda. De vez em quando os olhos da rainha ficam

dourados, outras verdes. E agora quase ficaram azuis.

São bonitos como os olhos de uma mulher de verdade.

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Glenys nunca vira os olhos da peça ficarem azuis, e

a curiosidade fez com que ela se aproximasse para

examinar melhor. Parou ao lado de Kieran, que segurava

a rainha como se fosse um ser vivo.

— Já percebi o que aconteceu — disse ela, rindo. —

Você a seduziu, como fez com a pedra.

Ele tirou a pedra do bolso da túnica com um

movimento rápido e cuidadoso, segurando-a na palma de

sua mão estendida, ao lado da rainha de xadrez. A

pequenina pedra acendeu no mesmo instante, emitindo

uma luz suave.

— Parece que ela gosta bastante de mim — brincou

Kieran, trazendo o objeto para perto do rosto a fim de

observá-lo melhor. Minha doce criatura… Você brilha

tanto para mim, não é, pequenina?

O brilho da pedra aumentou, como se as faces de

uma mulher estivessem enrubescendo.

— Eu jamais testemunhei uma demonstração tão

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pecaminosa de vaidade em toda a minha vida — disse

Glenys, com desdém. — Não sei como permiti que você

me convencesse a deixá-lo cuidar da pedra. É

vergonhosa a maneira como você a trata.

— E agora ela brilha só para mim, não é, querida?

— Por que você a trata como se fosse uma mulher?

— Claro que é uma mulher — afirmou ele. — Você

duvida do meu conhecimento sobre esse assunto?

— Não, de forma alguma. — Glenys suspirou. — Não

tenho a menor dúvida sobre sua experiência com o sexo

oposto. Nenhum homem na face da terra pode dizer que

seduziu uma pedra. E agora uma peça de xadrez.

Kieran ergueu um pouco a rainha, virando-a de um

lado para o outro.

— Não, eu não a conquistei com tanta facilidade. O

coração dela já tem dono. Talvez seja o seu tio.

— Você só pode estar louco — disse Glenys. — Sim,

ela é muito querida por meu tio Culain, mas não é nada

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além de um pedaço de madeira. Não há uma vida para se

amar.

— Ah — murmurou Kieran, virando a peça para que

ela pudesse vê-la. — Agora os olhos da rainha estão

cinzentos. Cinza-escuros. Não prateados, como os seus.

Você a ofendeu.

Glenys pegou a peça de xadrez e guardou-a no

bolso.

— Então vamos deixá-la em paz para que ela possa

arquitetar sua vingança. Meu tio só podia estar louco

quando a confiou a mim.

— A Pedra da Graça deve realmente ser muito

importante para a sua família, para seu tio ter lhe dado a

rainha.

— Sim, é. Nem sei como lhe explicar. Agora, a peça

de xadrez… Não consigo imaginar meu tio sem ela.

— Então precisamos pegá-la de volta de Caswallan

assim que conseguirmos a Pedra da Graça.

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Glenys ficou boquiaberta.

— Pegá-la de volta? — repetiu ela. — De Caswallan?

— Sim, pois eu não gostaria de ver seu tio sem a

rainha de xadrez. E acredito que ela só ficará contente

quando voltar para o lado dele.

Não era possível que Kieran estivesse lhe dizendo o

que ela estava entendendo.

— Você decidiu me levar até Gales para encontrar

Caswallan? — Glenys colocou a mão no braço dele, quase

temendo acreditar na verdade. — Eu lhe pago a quantia

que você quiser. Bem mais do que sir Anton lhe ofereceu

e…

— Glenys — interrompeu ele, segurando-lhe a mão.

— Eu não quero nenhum dinheiro, e não toque mais

nesse assunto a não ser que queira me irritar. Você

salvou a minha vida e a de Jean-Marc também.

— Nesse caso, estamos quites. Você salvou a minha

vida e a de Dina. E eu devo muito a Jean-Marc, pois ele se

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colocou na frente do que seria a minha morte.

— Se não fosse por mim e Jean-Marc, nenhum de

nós estaria neste lugar arriscando nossas vidas. — Kieran

olhou para baixo, onde suas mãos se encostavam. —

Não, Glenys, eu errei ao prendê-la a pedido de sir Anton,

e errei ainda mais ao usá-la para satisfazer meu desejo

de enfrentar seu irmão. Você não me deve nada. Sou eu

que lhe devo.

— Está abrindo mão de lutar com Daman?

Kieran levantou os olhos, oferecendo-lhe o sorriso

ao qual ela já estava se acostumando.

— Não. E mesmo que estivesse, agora já seria tarde

demais. Seu irmão viria atrás de mim de qualquer

maneira, mesmo que fôssemos para Londres neste

instante. Não há como evitar o que acontecerá entre mim

e Daman. Irritada, Glenys puxou a mão.

— Suas palavras não fazem o menor sentido. Não

seria melhor se você ficasse em paz com meu irmão? Eu

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não quero ver você morto pelas mãos de Daman. Seria o

início de uma grande inimizade entre nossas famílias, e

eu não quero que isso aconteça.

Kieran riu.

— Minha família de certo sentiria a minha falta, mas

é bem pouco provável que comecem uma guerra por

minha causa.

— Como pode ter tanta certeza? — desafiou Glenys.

— Está claro que, de certa forma, você foi reconhecido

por seus pais. Foi você mesmo quem me disse.

— Sim, eu tenho muita sorte por ter sido

reconhecido por ambos os lados da minha família, mas

nada mudará as circunstâncias do meu nascimento. Nem

o amor nem laços sangüíneos podem apagar esse

pecado, e por mais que meus familiares me amem, eles

jamais permitiriam que seu sobrenome fosse alvo de

tamanha humilhação. E eu nunca consentiria com tal

atitude. Isto é, se eu estiver vivo para fazê-lo. É bem

capaz que o seu irmão me despache para outro mundo

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apesar das minhas tentativas de impedi-lo. — Kieran

falou as palavras em tom de brincadeira, mas Glenys não

conseguiu achar engraçado.

— Duvido que sua família o deserdasse pelas

circunstâncias do seu nascimento. Muitos dos que

nasceram sem tantas posses tornaram-se poderosos e

ricos. Olhe só para o falecido rei Henrique e seus irmão,

entre eles o duque de Exeter.

— Mas o pai deles, John de Gaunt, casou-se com a

amante e exigiu que todos seus filhos bastardos fossem

reconhecidos tanto pela igreja quanto pela coroa. Isso

jamais acontecerá comigo. Minha mãe é uma mulher

nobre, descendente de uma família numerosa e muito

importante, casada com um grande lorde e, a não ser por

seu único pecado cometido em um momento de

embriaguez, o meu pai, lorde Allen, é extremamente

devotado à esposa e aos filhos legítimos.

Glenys notou que Kieran se esforçava para manter o

sorriso nos lábios.

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— Dentre todas essas pessoas bem-nascidas e

confiantes — murmurou ele, baixando os olhos —, eu sou

o único deslize.

Kieran deu de ombros, como se não se importasse,

entretanto, o gesto não apagou a dor que Glenys viu em

seus olhos e escutou em sua voz.

— São pessoas boas. Eu fui amado e bem tratado, e

não tenho nenhum motivo para me queixar. Duvido que

qualquer outra criança nascida nas mesmas condições

tenha tido tanta sorte. Fui criado com os filhos legítimos

do primeiro casamento de minha mãe e também com

aqueles que ela deu mais tarde ao meu padrasto.

Quando fiquei mais velho, fui morar com meu pai, que

me criou junto com seus outros filhos. Eu tive bem mais

do que merecia, e retribuí levando uma vida desregrada

e infrutífera. — Kieran respirou fundo e ergueu os olhos

para o rosto de Glenys. — Tenho motivos de sobra para

ser considerada a ovelha negra na minha família. Eles me

salvaram de várias situações desastrosas no passado.

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Não espero que o façam outra vez.

Antes de se dar conta de seus movimentos, Glenys

tocou-lhe o rosto.

— Eu os obrigaria a ajudá-lo — disse,

envergonhando-se em seguida da declaração. Ela afastou

a mão, porém Kieran segurou-a.

— É mesmo, Glenys?

— Sim — respondeu ela, soltando-se e virando-se

para esconder o rubor que lhe cobria a face. O que ele

pensaria escutando-a falar assim? Glenys já sabia. Kieran

FitzAllen decerto acharia que ela se apaixonara, como

acontecia com todas as outras mulheres.

Nervosa, ela deu alguns passos, rente à parede.

Para seu alívio, ele não a seguiu. Houve um silêncio tenso

por alguns instantes. E quando Kieran falou, foi como se

estivesse respondendo às perguntas que a

assombravam.

— Minha mãe casou-se pela primeira vez aos treze

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anos de idade. Ela fora prometida a esse homem desde o

momento de seu nascimento, portanto, não podia opinar

a respeito. Tratava-se de um lorde importante, bem mais

velho do que ela, mas era uma pessoa extremamente

boa e generosa. Pelo menos foi o que minha mãe sempre

me contou. Ele adotou várias crianças, e entre elas

estavam meu padrasto e o primo dele… que é o meu pai.

A perturbação de Glenys desapareceu no mesmo

instante. Com os olhos arregalados, ela virou-se para

Kieran, que estava encostado à parede alguns passos à

frente. Ele tinha os braços cruzados diante do peito

musculoso, protegendo-se da brisa fria da noite, que

fazia sua capa esvoaçar. O sorriso sumiu do rosto

formoso, tornando-lhe a expressão sombria.

— Eles são primos — murmurou Glenys, sem

esconder a surpresa. — Como isso é possível?

— Não é comum que parentes sejam criados juntos

em casas que não sejam as suas — admitiu Kieran. — Os

dois agiam mais como amigos do que como parentes.

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Minha mãe era mais nova do que eles, e muito bonita.

Ela e meu pai eram amigos, mas meu padrasto se

apaixonou perdidamente por ela. Vários anos se

passaram. Minha mãe cumpriu seu dever dando três

filhos ao marido, meu irmão mais velho e duas irmãs,

também mais velhas do que eu. Ele respirou fundo antes

de continuar.

— Meu pai e meu padrasto terminaram o

treinamento e foram embora. Meu pai voltou para casa e

casou-se com a moça que lhe fora prometida desde a

infância, mas meu padrasto recusou-se a se casar com a

mulher escolhida por sua família, alegando que não

poderia entregar sua afeição a outra mulher que não

fosse a esposa de seu pai de criação. Ele assumiu a

administração da propriedade do pai, que um dia seria

sua, e então, alguns anos mais tarde, ingressou no

exército e foi para a França servir ao rei. Meu pai, que

teve três filhos, foi logo depois com seu próprio exército.

— E sua mãe? — perguntou Glenys, apertando a

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capa contra o peito para se proteger do vento frio.

— Ela passou os seis anos seguintes à partida do

meu padrasto cuidando do marido, que ficou muito

doente, bem como da propriedade e dos filhos. Minha

mãe tinha acabado de completar vinte e quatro anos

quando ele morreu, deixando-a uma viúva muito rica e

bonita. Os pretendentes não tardaram a aparecer,

implorando para se casar com ela. E ameaçando

também.

— Ameaçando? — repetiu Glenys, imaginando todas

as implicações possíveis da palavra. Ouvira falar de

mulheres forçadas a se casar com homens poderosos e

ricos o suficiente para comprar a aprovação do rei a

respeito do assunto. Ela arrepiou-se diante da idéia de

tudo que a mãe de Kieran deveria ter passado na mão

daqueles homens gananciosos.

— Sim, e embora minha mãe fosse uma mulher de

muita fibra, ela sentiu necessidade de apoio. Tentou

entrar em contato com meu padrasto, mas descobriu que

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ele estava na França, então mandou uma carta para meu

pai, pedindo-lhe que fosse ajudá-la. Meu pai tinha

retornado da França um ano antes por ter se acidentado

na batalha. Depois de curado, voltou a administrar sua

propriedade, e engravidou mais uma vez a esposa. Por

mais estranho que possa parecer, a criança nasceu e

morreu, no mesmo dia em que o marido de minha mãe

faleceu. Meu pai, abalado com a morte da única filha e de

seu pai de criação, estava emocionalmente abalada

quando viajou para atender ao pedido de minha mãe. Ele

jamais poderia ter lhe negado ajuda naquele momento,

mesmo se quisesse, pois ela era esposa de seu pai de

criação, portanto, devia-lhe muito por tantos anos de

treinamento.

Glenys imaginava perfeitamente o que tinha

acontecido. Uma mulher e um homem tristes com a

perda de uma pessoa querida… buscando conforto onde

não o teriam feito em outras circunstâncias.

Kieran fez uma pausa e desviou os olhos do rosto de

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Glenys, fitando o horizonte.

— Minha mãe e meu pai eram grandes amigos, mas

foi um grande erro terem se encontrado em um momento

daqueles. Ela estava muito abalada com todo o ocorrido

e ficou extremamente agradecida quando meu pai

despachou todos os pretendentes indesejados. E ele, com

saudade da esposa e lamentando a perda da filha,

passava as noites bebendo para afogar as mágoas. Em

uma dessas noites, eles se entregaram um ao outro em

busca de conforto. Na manhã seguinte, os dois não

sabiam o que fazer para se livrar do remorso que

sentiam. Na verdade, acho que eles nunca mais teriam

se encontrado se minha mãe não tivesse engravidado.

Como era de se esperar, meu pai partiu o mais depressa

possível, e só mais tarde, através de uma carta enviada

por minha mãe, ele descobriu o terrível fato de minha

existência.

— Não fale assim! — exclamou Glenys, incapaz de

conter as lágrimas que lhe inundaram os olhos. — Não foi

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terrível! Não admitirei que você, nem qualquer outra

pessoa, fale assim!

— Mas essa é a realidade, minha cara Glenys —

disse ele, ainda sem lhe dirigir o olhar. — A dura

realidade. Imagine a situação constrangedora de minha

mãe por ter cometido um adultério tão grave. Na

verdade, ela poderia ter mentido e dito que eu era filho

de seu falecido marido, porém todos duvidariam que um

homem tão doente fosse capaz de conceber um filho

naquelas condições.

— Seu pai mostrou muita honra ao reconhecê-lo

como filho — afirmou ela. — Foi uma atitude bastante

arriscada, que poderia lhe trazer conseqüências

indesejáveis.

Kieran suspirou e assentiu.

— Sim, é verdade, ainda mais pela devoção que a

esposa lhe dedicava. Eles foram, e ainda são, um casal

completamente apaixonado. A sorte é que minha

madrasta sempre foi uma mulher muito compreensiva. —

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Por fim, Kieran olhou para Glenys, lançando-lhe um

sorriso tímido. — Eu sou rodeado pela bondade e pela

compreensão da minha família. Houve momentos em que

eu quase enlouqueci.

Glenys sabia o que ele queria dizer com aquelas

palavras. Ela também se sentia uma estranha entre seus

parentes, porém todos lhe demonstravam muito amor e

carinho para que ela fizesse qualquer tipo de queixa.

— E o que seu pai fez quando recebeu a carta de

sua mãe?

— Na verdade, ele não pôde fazer muito por ela.

Meu padrasto soube da morte de seu pai de criação e

voltou depressa para a Inglaterra, na esperança de

conseguir casar-se com minha mãe.

— E ele se aborreceu quando a encontrou grávida?

Kieran deu uma sonora risada.

— Não, mas estava pronto para matar o próprio

primo, meu pai. Quanto a minha mãe, não. Ele a amava

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demais para ficar bravo. Ele a pediu em casamento e

disse que me daria seu sobrenome e me trataria como

um verdadeiro filho. Só que minha mãe é uma mulher

extremamente orgulhosa e teimosa. Como você, creio eu.

— Como assim? — perguntou ela, franzindo a testa.

— Ela não entregaria facilmente seu coração a

qualquer homem, como você. Você entregaria, Glenys?

— Não, acho que não — respondeu ela, apesar de

não ter certeza absoluta. A grande verdade era que seu

coração já não lhe pertencia mais. Já o entregara àquele

homem. Sem pensar duas vezes. Sem tentar controlar

seus sentimentos.

Kieran deixou os braços pender para os lados.

— Minha mãe não amava meu padrasto da mesma

maneira que ele a amava, e não foi nada fácil convencê-

la a se casar apenas por minha causa. Como uma mulher

de extrema coragem, ela estava disposta a enfrentar a

ira da igreja e da coroa, certa de que meu pai não a

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deixaria sozinha em um momento como aquele. E foi

exatamente o que aconteceu. Ele lhe garantiu que me

reconheceria como filho e que me daria seu sobrenome.

Mesmo assim, minha mãe poderia passar por grande

vergonha, e até ser punida, por ter concebido um filho

bastardo tão pouco tempo após a morte do marido. A

sorte foi que meu padrasto conseguiu persuadi-la a se

casar com ele, o que lhe garantiu proteção.

— E ela chegou a se apaixonar?

— Graças a Deus — respondeu Kieran, enfático. —

Ela nunca tinha amado antes, amado de verdade, apesar

de ter um carinho muito grande pelo primeiro marido. E

quando se apaixonou… foi algo avassalador. Entretanto,

esse amor não aconteceu logo. Eu devia ter uns cinco

anos quando notei a mudança. Posso dizer que os

esforços e a paciência do meu padrasto não foram em

vão. É uma dádiva conquistar o amor de uma mulher

como minha mãe. Ou como você.

Glenys enrubesceu novamente, mas a escuridão da

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noite escondeu sua perturbação. Kieran também tinha o

olhar distante, perdido no horizonte.

— Eu não sou tão perfeita quanto sua mãe deve ser

— disse ela com voz trêmula.

— Bem mais do que você imagina — falou Kieran,

olhando-a.

— E a prova disso é que eu nunca contei essa

história para ninguém. Nem mesmo para Jean-Marc.

Afastando-se da parede, Kieran caminhou na

direção dela com passos lentos, determinados. Glenys

tentou se mover, mas sentiu as pedras contra suas

costas. Ele parou na frente dela, sem tocá-la, porém tão

perto que o calor do corpo másculo a contagiou.

— Tudo mudou entre nós, Glenys — murmurou

Kieran. — Você não é mais minha prisioneira.

Devagar, ele ergueu a mão, acariciando-lhe o rosto

frio com seus dedos quentes, um toque tão delicado e

suave que Glenys suspirou de prazer. Nunca fora tocada

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por um homem antes, não assim. Seu coração palpitava

aceleradamente à medida que as carícias de Kieran

continuavam.

Eu prometi que não faria isso… que não me

permitiria ter sentimentos por você… Todavia, pela

primeira vez na vida, não sei como me controlar.

Glenys engoliu em seco, esticando o braço para

segurar a mão que estava prestes a tocar-lhe os cabelos.

— Por favor, não — implorou ela, envergonhada por

sua fraqueza. — Faz alguns dias que você não tem a

companhia de uma mulher, por isso alguém tão sem

graça como eu lhe atrai. Por favor, Kieran… Não me torne

o alvo de suas brincadeiras. Sei perfeitamente que não

sou o tipo de mulher que o atrai. E jamais poderia ser. —

A voz de Glenys tremia, e ela sabia que estava a ponto

de chorar. Tomada pela humilhação, fechou os olhos.

— E isso que você pensa de mim? — perguntou ele,

interrompendo os carinhos no mesmo instante. — Que eu

teria coragem de usá-la para satisfazer meus desejos?

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Kieran afastou-se e voltou para perto da parede,

apoiando as mãos nas pedras frias.

— Sim, só pode ser isso. E por que seria diferente?

Afinal de contas, eu a capturei e a tornei minha

prisioneira. Todas as minhas atitudes servem para

demonstrar o tipo de homem que eu sou. E até a pior

delas seria verdadeira. Por Deus! — Ele se endireitou,

passando a mão nos cabelos desgrenhados. Então virou-

se para Glenys outra vez. — Agora você, Glenys… Como

pode se desprezar dessa maneira? Você é uma mulher

mais do que desejável.

— Claro que sou — zombou ela, com um riso

choroso. Glenys abriu as mãos ao lado do corpo. — Olhe

bem para mim. Olhe como sou atraente e feminina. Não

faltam pretendentes para pedir a minha mão em

casamento. — Ela cerrou os dentes e fechou os punhos,

levando-os ao estômago. Em seguida, sentiu as mãos de

Kieran envolvendo-lhe os ombros, puxando-a para perto

de seu corpo quente e forte.

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— Ah, Glenys — murmurou Kieran, aninhando-a em

seus braços. — Se eu tivesse coragem… eu lhe provaria a

veracidade das minhas palavras.

De repente, ele levantou a cabeça e seus braços

penderam.

— Eles chegaram.

Glenys fungou e enxugou os olhos, virando-se para

onde Kieran apontava, próximo ao celeiro.

— Você está vendo?

— Onde? — perguntou ela, aproximando-se. — Sim.

Ah… estou vendo.

Os dois homens que se salvaram tinham voltado

para buscar os corpos dos companheiros mortos, como

Kieran previra. Tinham apenas dois cavalos, e colocavam

dois corpos em cada uma das selas. Minutos depois, eles

desapareceram de volta na floresta.

Glenys soltou a respiração e tentou acalmar os

nervos.

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— Será que eles voltarão depois de enterrarem os

amigos?

— Acho pouco provável. Somos quatro contra dois, e

eles já sofreram bastante em um dia. Depois de enterrar

os corpos, eles seguirão por estradas mais calmas. E

evitarão encontrar sir Anton como se ele fosse um

leproso.

Glenys o encarou com preocupação.

— Se não receber notícias de seus homens, dizendo

que estamos mortos, sir Anton poderá mandar mais

alguém atrás de nós. Ele fará de tudo para evitar que eu

recupere a Pedra da Graça.

— Então ele terá de se esforçar muito, pois você a

terá de volta, e logo. Mas não tenha medo de sir Anton.

Eu cuidarei dele — jurou Kieran. — Por ora, vamos nos

concentrar em seguir até Gales, em busca de Caswallan.

Partiremos quando o dia amanhecer.

— Ah, Kieran, estou tão contente…

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— Ainda é cedo para comemorar. Teremos um longo

dia de viagem, depois outros mais. Amanhã à noite,

porém, teremos cama quente, comida gostosa e um teto

decente sobre nossas cabeças.

— Aonde iremos? — perguntou Glenys, sem poder

acreditar naquelas palavras. Nenhuma das tavernas nas

quais tinham se hospedado se aproximava daquele luxo.

— Vou levá-la para a casa de uma das minhas

irmãs, que fica a um dia de cavalgada daqui. Não é

caminho para Gales, mas perto o suficiente para que

possamos fazer o desvio. Você e Dina se alegrarão com a

companhia e conforto a que estão acostumadas, mesmo

que por pouco tempo.

— Mas o que sua irmã achará de nos receber assim,

tão de repente?

— O de sempre, eu diria. Que o irmão é um

andarilho que não se dá ao luxo de avisar de sua

chegada. — Kieran riu ao ver a expressão de espanto no

rosto de Glenys. — Não tenha medo, senhorita. Eunice

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ficará mais do que contente com a nossa visita. E vocês

se entenderão muito bem. Na realidade, antes de nossa

estada em Hammergate terminar, você ficará surpresa

ao imaginar que ela e eu tenhamos algum tipo de

parentesco.

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CAPÍTULO XI

— Acho que estou no paraíso — murmurou Glenys,

feliz da vida, deliciando-se com a água quente e

perfumada. — Ou pelo menos bem perto do que se pode

chegar.

— É verdade — concordou lady Eunice, a senhora de

Hammersgate, testando um balde de água limpa antes

de assentir para a criada indicando que a temperatura

estava boa. — Quando meu marido e eu nos casamos —

continuou ela, reclinando-se na confortável poltrona

aveludada —, esse foi o primeiro mimo que lhe pedi. Uma

sala de banho para mim e para as outras mulheres do

castelo. A princípio, ele achou a idéia um pouco absurda,

mas depois acabou cedendo. Agora acho que ele até tem

um pouco de ciúme só de imaginar o quanto

aproveitamos dessa maravilhosa privacidade. Aceita

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mais uma taça de vinho, Glenys? É você, Dina?

— Sim, por favor — respondeu Dina, observando

uma das criadas encher de novo a taça de cristal apoiada

em cima da pequena mesa ao lado da banheira de

madeira. A deliciosa bebida cintilava com sua cor

majestosa, iluminada pela luz da lareira e das inúmeras

velas que enfeitavam o luxuoso aposento.

Glenys nunca vira algo tão suntuoso quanto aquela

sala de banho de lady Eunice. Ficava no segundo andar

da torre oeste do Castelo de Hammersgate, onde várias

janelas altas permitiam a entrada do sol do final do dia,

inundando o ambiente com calor e luz. Em um dos

cantos, rodeada de baldes de madeira, havia uma bomba

especial, que fornecia água como em um passe de

mágica, de um poço escondido abaixo. As grandes

lareiras tinham sido especialmente construídas para

esquentar os caldeirões de água e mantê-los aquecidos.

A sala de banho era toda decorada em veludo

vermelho e dourado, com cortinas de seda em cada uma

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das imponentes janelas de vidro, e acarpetada com

tapetes italianos, a não ser nos lugares onde ficavam as

quatro banheiras de madeira. Também havia várias

poltronas confortáveis, como a que lady Eunice ocupava,

enfileiradas próximo às lareiras, perfeitas para pequenas

reuniões para relaxar e agradáveis conversas. Em outro

canto do aposento um closet com algumas túnicas de ba-

nho e biombos de madeira entalhada para proporcionar

privacidade a quem se trocava.

Espalhados pela sala ficavam vários armários, mas

Glenys só sabia o que havia dentro de dois deles. Um

continha a seleção particular de vinhos de lady Eunice,

junto com elegantes copos de cristal. O outro abrigava

loções, óleos e sabões perfumados.

Quando as levou para a sala de banho, a primeira

coisa que lady Eunice fez foi perguntar-lhes quais aromas

as agradavam mais. Glenys escolheu uma mistura de

rosas, e Dina optou por um óleo de lilás. Agora as duas

fragrâncias se misturavam no ambiente, criando uma

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atmosfera mais agradável e relaxante.

Rodeada por um conforto que jamais esperava ter

outra vez, Glenys suspirou e recostou a cabeça na toalha

que fora colocada sob seus cabelos recém-lavados.

Estava tão confortável e feliz que poderia ter ficado

naquela posição para sempre.

Eles tinham sido muito bem recebidas em

Hammersgate, tanto por lady Eunice quanto por seu

marido, o lorde Belvoir, e também por todas as crianças,

que cumprimentaram o tio com saudosos abraços. Os

mais novos pularam com igual entusiasmo em cima de

Jean-Marc, que não se importou em ser tratado como um

brinquedo humano.

Glenys e Dina, mesmo imundas e com as roupas

rasgadas, foram acolhidas pelo senhor e senhora do

castelo com grande alegria. Até a explicação direta de

Kieran, dizendo como e por que trouxera aquelas duas

estranhas para a casa da irmã sem prévio aviso, foi

aceita sem a menor surpresa. Estava claro que lady

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Eunice, principalmente, conhecia bem o irmão mais novo

e seu criado, sabendo como os dois gostavam de se

meter em encrencas. Quando escutou a confissão sobre

o seqüestro, ela franziu as sobrancelhas para Kieran e

pegou na mão de Glenys, garantindo-lhe que as duas

estariam a salvo enquanto fossem hóspedes daquele

castelo. O lorde Belvoir, por sua vez, foi mais severo,

pedindo que o cunhado e Jean-Marc o acompanhassem

até o escritório para discutirem o assunto mais

detalhadamente. Relutantes, os dois o seguiram.

Glenys e Dina ficaram sob os cuidados de lady

Eunice, que, compreendendo o constrangimento das

duas mulheres por estarem naquelas condições, levou-as

logo para a sala de banho, proporcionando-lhes

momentos de conforto.

— Imagino que você deva passar bastante tempo

aqui — comentou Glenys, contente. — Eu passaria, se

tivesse uma sala de banho como essa.

— Peça ao mestre Aonghus para construir uma para

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você em Metolius — sugeriu Dina, pouco antes de uma

criada jogar-lhe um balde de água para enxaguar-lhe os

cabelos.

— É uma boa idéia — concordou Glenys,

bebericando mais um gole de seu vinho. — Você está

sendo adorável conosco, lady Eunice. Nem sei como lhe

agradecer.

— É verdade, milady — disse Dina, enxugando os

olhos. — Tudo que eu mais queria era um banho.

Lady Eunice sorriu.

— É um grande prazer tê-las como hóspedes. Na

verdade, sou eu quem deve agradecer, pois vocês

trouxeram meu irmão a Hammersgate pela primeira vez

depois de muitos anos. — Ela suspirou. — Kieran não tem

o costume de visitar a nossa família. Mesmo minha mãe

fica meses e meses sem ter uma única notícia. O fato de

você o ter trazido até aqui é um presente sem tamanho,

lady Glenys, e eu lhe sou muito grata.

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— Mas não fui eu quem o trouxe — respondeu ela.

— Kieran determinou que passássemos por aqui.

Lady Eunice colocou o copo de lado com um gesto

elegante. Era uma mulher jovem e muito bonita e, como

Kieran mesmo lhe dissera, não se parecia muito com ele.

— Eu conheço bem o meu irmão. Embora goste

muito de mim, ele não teria passado em Hammersgate

se pudesse evitar. Kieran está se sentindo culpado por as

ter capturado e as trouxe até aqui para tentar minimizar

um pouco esse sentimento. Em outra situação, ele não

teria parado. Kieran nunca se sentiu confortável dentro

destas paredes confinantes.

Glenys observou a bela sala de banho. Era apenas

uma pequena amostra de todo o castelo, um lar

aconchegante e acolhedor. Ela imaginou o que seria o

grande banquete que a anfitriã tinha mandado preparar

às pressas em honra dos convidados repentinos, em

especial o irmão.

— Mas este castelo não é nenhum pouco confinante.

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E um lugar maravilhoso.

— Você é muito amável, querida — respondeu lady

Eunice, sorrindo. — Só que Kieran sempre foi assim.

Quando ele era criança, minha mãe tinha grande

dificuldade para mantê-lo em casa. E o mesmo aconteceu

quando ele foi morar com o pai, o lorde Allen. Costumava

desaparecer durante semanas, e não tinha o menor

medo das reprimendas do pai. Ele não gosta de sentir-se

preso. E parece que não pensa nas conseqüências que

suas atitudes podem causar.

Glenys lembrou-se de como Kieran desejava

encontrar-se com seu irmão, da misteriosa inimizade que

ele nutria por Daman.

— Imagino que seja verdade — disse Glenys, em um

fio de voz.

— Eu só gostaria de tentar encontrar uma maneira

para livrá-lo da punição que ele sofrerá quando você for

devolvida para sua família. — A tristeza de lady Eunice

era evidente. — Entretanto, ele está acostumado a pagar

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por seus pecados levando-a até Gales. Na realidade, eu

ficaria muito decepcionada se Kieran não fizesse de tudo

para tentar ajudá-la, mas gostaria que, em primeiro

lugar, ele não tivesse sido tolo a ponto de capturá-la.

— Eu também — concordou Glenys, com

sinceridade.

— Espero que vocês tenham sucesso nessa missão.

O anel que você procura deve ser muito importante para

sua família. Ou de grande valor.

Glenys notou a curiosidade na voz de lady Eunice, e

não podia culpá-la por estar imaginando quais motivos

levariam uma pessoa a arriscar a vida por um simples

anel, a não ser, é claro, que fosse um anel muito

especial. Kieran, ao dar explicações para a irmã e o

marido, não mencionara nada a respeito de magia, o que

a alegrava bastante. Detestaria se lady Eunice escutasse

qualquer tipo de bobagem, e pior, acreditasse ser

verdade.

— Não é que seja um anel valioso — começou ela,

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cautelosa —, mas a Pedra da Graça pertence há anos à

minha família. É um bem muito estimado por todos nós,

em especial por meus tios, que já têm certa idade. E eu

farei de tudo para que o anel retorne aos Seymour

enquanto eles ainda estiverem vivos. É por eles que

estou tentando recuperá-lo.

O olhar de lady Eunice revelava simpatia.

— Claro. Eu entendo como deve ser difícil ter um

objeto tão precioso roubado. Agora vamos, a água deve

estar ficando fria. Não quero que vocês se resfriem. As

criadas vão ajudá-las a se enxugar e a se vestir. Eu as

esperarei aqui perto da lareira. Conversaremos mais

quando vocês estiverem aquecidas e confortáveis.

Quinze minutos mais tarde, Glenys sentou-se na

frente da anfitriã em uma aconchegante poltrona, com os

cabelos soltos. Eunice lhe emprestara roupas íntimas, e

por cima ela vestira uma túnica de algodão. Logo que se

vestiu, Dina pediu licença para se retirar e se deitar antes

do jantar, pois o cansaço a consumia. Lady Eunice

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concordou de imediato, dizendo-lhe que poderia

descansar o quanto quisesse e que não precisava se

preocupar com horários. Acompanhada por uma criada,

ela saiu da sala de banho, deixando as duas sozinhas.

Os pés descalços de Glenys estavam apoiados em

uma almofada de veludo e seu copo de vinho acabara de

ser completado. Uma das criadas trouxera uma bandeja

cheia de iguarias da cozinha: amêndoas condimentadas,

biscoitos doces, quadrados de queijo amarelo e figos

caramelados. Uma agradável sensação de bem-estar a

envolvia. As duas se deliciaram com a leve refeição,

comentando sobre a leveza dos doces e a delicadeza do

sabor do queijo.

— Você tem sorte de contar com uma cozinheira tão

habilidosa — comentou Glenys, admirada. — Eu tive uma

certa dificuldade em encontrar uma boa cozinheira para

a minha casa.

Em Londres há muitas residências, porém poucos

criados capacitados.

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— Sim, temos muita sorte com essa cozinheira, mas

acho que devemos agradecer a Kieran e a Jean-Marc por

essa comida maravilhosa. A presença deles tende a

animar todos no castelo.

— Eunice bebeu um gole de vinho e olhou para

Glenys. — Principalmente as mulheres.

Glenys sentiu as faces arderem.

— Posso imaginar.

— Sempre tenho esse tipo de problema quando

Kieran aparece — disse ela. — As visitas dele me trazem

grande alegria, é claro, mas todas as minhas criadas

ficam meio abobalhadas. Às vezes, a beleza e o charme

do meu irmão podem ser uma verdadeira maldição. Não

sei como ele agüenta.

— Pelo visto ele não sofre com esse verdadeiro

encanto que exerce sobre as mulheres — Glenys disse,

sem olhar para lady Eunice. — Acredito que Kieran gosta

da atenção que recebe do sexo oposto.

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— Nem sempre é assim — discordou Eunice. — Nem

sempre — repetiu ela, colocando o copo de lado. — Ele

sempre buscou a aprovação de todos, principalmente o

tipo de aprovação que jamais poderá ter.

— Você está se referindo ao fato de ele ser filho…

ilegítimo? Eunice assentiu em silêncio.

— Kieran é muito amado por todas as pessoas que o

conhecem, e sempre foi o filho favorito dos pais, e sem

dúvida é o irmão predileto de todos seus irmãos, mas

creio que isso não seja suficiente. Eu entendo os

sentimentos dele, e me lembro como enfrentou

dificuldades quando criança, sempre sendo deixado para

trás.

Lady Eunice respirou fundo para afastar as lágrimas

que lhe inundaram os olhos.

— Uma vez, quando Kieran tinha apenas dez anos

de idade, nós fomos até a corte para ser formalmente

apresentados ao rei. Um de cada vez, todos davam um

passo à frente e tinham seu nome proferido com toda a

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pompa. Menos Kieran. Ele ficou parado, olhando todos os

irmãos se inclinarem perante o rei. Minha mãe e meu

padrasto tentaram lhe explicar o problema, mas ele ficou

inconsolável. O pai nunca o levara à corte, pois não podia

envergonhar ainda mais sua esposa em público. Além

disso, já tinha feito bastante por Kieran, reconhecendo-o

como filho e criando-o. Apesar de compreender, não foi o

suficiente para meu irmão. Nem quando ele era criança,

nem agora. E temo que jamais será.

— Kieran preza muito a família — disse Glenys,

comovida com as palavras de lady Eunice. — Uma vez

nós estávamos conversando a respeito e ele me contou

que é uma mancha negra em meio a tantas almas

nobres. — Ela balançou a cabeça.

— E uma pena ele sentir-se tão rejeitado. Seu irmão

é um dos homens mais nobres que já conheci na vida. Há

uma grande bondade em seu coração.

— Você acha mesmo, Glenys?

Como baixara os olhos, ela não notou o súbito

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interesse na expressão da outra mulher.

— Sem a menor dúvida — respondeu Glenys de

imediato.

— Devo admitir, entretanto, que não foi assim desde

o início. Como eu não poderia ficar furiosa por ter sido

capturada à força? Depois eu só pensava em encontrar

uma maneira de fugir dele.

— É mesmo? — perguntou Eunice, cada vez mais

curiosa.

— Eu nunca soube de uma mulher que quisesse

fugir de Kieran. Glenys riu.

— Eu não apenas queria, como tentei. E foi um

grande desastre. — Ela contou o breve incidente para

lady Eunice, e as duas se divertiram com a história.

— E depois você desistiu de fugir?

— Não — respondeu ela, envergonhada. Todavia,

não queria mentir para a irmã de Kieran. — É claro que o

fato de ter sido raptada e afastada de minha família não

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me deixou nem um pouco contente, mas eu sempre

soube que estaria a salvo ao lado dele. Apesar de insistir

no contrário, seu irmão é um homem honrado. Na

verdade, acho que ele quer que todos o vejam como um

bandido. Um fora-da-lei. E embora eu mal o conheça, sei

que Kieran é um homem tão honrado quanto qualquer

cavaleiro da coroa. Um pouco imprudente, mas…

Mais uma vez, Glenys baixou os olhos e fez uma

pequena pausa.

— Kieran e Jean-Marc salvaram a minha vida e a de

Dina mais de uma vez. A primeira de um bando de

ladrões, e a segunda foi ontem, como ele lhe contou, dos

homens que sir Anton enviou para nos matar. — Ela fixou

os olhos no rosto de lady Eunice. — Eu duvido que um

homem sem honra agisse de tal maneira. Ele nos tratou

muito bem… apesar de todas as circunstâncias.

— E as trouxe até minha casa — murmurou Eunice,

com um olhar estranho. — Sim, Glenys, eu acho que você

entende bem o meu irmão. Talvez até melhor do que eu.

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— Não é bem assim, milady — respondeu ela,

enrubescendo. — Faz apenas alguns dias que conheci

Kieran FitzAllen.

— E creio que foi o bastante — disse Eunice. — É

verdade, acho que foi mais do que o suficiente. Agora

vamos. Minhas criadas a ajudarão a se vestir, depois

desceremos para nos juntar aos homens. Está chegando

a hora do jantar, e quero verificar se tudo está sob

controle na cozinha. Se a terei como hóspede aqui em

Hammersgate por apenas uma noite, pois sei que Kieran

não concordará em ficar mais, faço questão de tornar sua

estada o mais confortável possível. Eu trouxe um vestido

para você usar enquanto o seu está sendo lavado e

arrumado, e gostaria que me honrasse usando algumas

das minhas jóias.

— Ah, lady Eunice, eu não posso… — protestou

Glenys.

— Eu faço questão, minha querida. Ficarei muito

contente se puder vê-la bem-vestida e enfeitada. E

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Kieran também. A julgar pela sua expressão, estou vendo

que não concorda comigo, mas dentro em breve você

verá com seus próprios olhos que estou falando a

verdade.

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CAPÍTULO XII

Kieran sabia que não devia estar ali, parado na

varanda do dormitório em que Glenys fora instalada,

escondido na escuridão, observando-a através das corti-

nas de seda. Ela estava sentada diante de um espelho,

penteando lentamente os cabelos longos e sedosos. Duas

criadas a tinham ajudado a tirar o vestido verde-escuro

que sua irmã lhe emprestara para usar durante o jantar,

bem como o delicado colar de esmeraldas e as pérolas

que usara nos cabelos, enfeitando-lhe as tranças. Podia-

se dizer que era uma perfeita rainha.

Durante todo o jantar, ele não conseguira desviar os

olhos de Glenys. Além disso, praticamente não tocara na

comida, nem prestara atenção no que diziam a sua volta.

Ficara apenas olhando para o rosto fascinante da jovem,

encantado com a delicadeza dos traços e a maciez da

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pele. Ah, como queria deslizar os dedos por aquele rosto,

pelas curvas delicadas das orelhas… pressionar as mãos

sobre o pescoço adorável, depois descer para os

ombros… gestos lentos, movimentos comedidos com a

intenção de provocar-lhe arrepios. E então continuar o

sensual percurso, até que ela sentisse o mesmo desejo

que o consumia naquele momento.

O vento frio soprou as cortinas para dentro, abrindo-

as de tal forma que ele pôde enxergá-la melhor por um

instante. Com a escova nas mãos, Glenys observava sua

imagem no espelho. As criadas a tinham deixado

sozinha, usando uma camisola de algodão e um penhoar

de seda azul-marinho.

Kieran respirou fundo e sentiu a chuva se

aproximando. Sim, seria uma forte tormenta, como a que

se formava dentro de seu peito. Ele nunca sentira algo

parecido por uma mulher. Era uma sensação

completamente desconhecida, estranha, e até chocante.

Como algo assim podia acontecer a um homem

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daquela idade e com tanta experiência com o sexo

oposto? Jamais se importava com alguém, a não ser com

seus familiares e Jean-Marc. Era verdade que nutrira

grande afeição pela maioria das mulheres com as quais

se relacionara, mesmo com aquelas que não chegara a

dividir a cama, porém nunca conhecera o amor.

Até encontrar Glenys.

Vários amigos tinham lhe contado inúmeras

histórias sobre o terrível e doloroso sentimento, mas

Kieran acreditava que o amor não chegaria até seu

coração… Ah, como fora tolo! E ingênuo.

Sim, havia maneiras de se libertar daquele tormento

que passara a lhe assombrar os dias. Podia deixar Glenys

e Dina sob os cuidados de sua irmã e fugir com Jean-Marc

para algum lugar bem escondido e distante, onde jamais

seria encontrado. Eunice faria com que as duas jovens

voltassem a salvo ao seio da família Seymour. Desse

modo, entretanto, Glenys não chegaria tão depressa a

Gales, mas Daman a levaria assim que possível.

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Sim, era melhor que escapasse agora para evitar o

transtorno que seria no momento em que fossem

obrigados a se separar. Kieran não era presunçoso a

ponto de acreditar que pudesse existir algo de

permanente entre os dois, pois era impossível. Glenys

jamais se uniria a um homem nascido ilegítimo. O desejo

podia até existir, e ele já o notara nos olhos de Glenys,

mas ela era uma mulher sensata demais para permitir

que seus sentimentos superassem o que era correto.

Esse era um comportamento muito diferente do das

outras mulheres que tinham passado por sua vida. E era

o que o encantara. A confiança, força e inteligência, e

talvez até sua inatingibilidade. E dentro em breve

chegaria o momento, depois de Gales e de Caswallan,

depois que Daman e ele se encontrassem e lutassem, em

que ambos se separariam para sempre.

Kieran podia poupar-se dessa dor e tristeza se a

deixasse agora… porém descobriu que era algo que não

estava a seu alcance. Pela primeira vez na vida, ele não

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conseguia fugir.

Porque o amor, como descobrira tarde demais, era

um sentimento muito poderoso, mais forte do que a

razão, e a idéia de afastar-se da mulher amada, mesmo

que por um instante, estava fora de cogitação.

Simplesmente não havia como. Ele fora capturado.

Capturado por seu próprio desejo e também pelo de

Glenys, pois ela o desejava, e muito, apesar de ainda não

ter se dado conta.

Encantado, ele a observou colocar a escova na

penteadeira e afastar os cabelos dos ombros. Depois

Glenys apoiou os cotovelos e colocou o rosto entre as

mãos, virando-o de um lado para o outro para ver como

estava. Kieran conhecia o suficiente sobre mulheres para

saber o que se passava pela cabeça daquela jovem, o

que ela desejava ver refletido no espelho.

Ele nunca fora muito bom em dar, apenas em

receber, especialmente quando se tratava de algo vindo

das mãos de uma mulher. Contudo, agora chegara a sua

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vez de dar um presente, um presente para Glenys. E o

faria de livre e espontânea vontade, sem prendê-la a ele,

se possível fosse. Kieran lhe devia tal atitude.

Antes de partir e deixá-la para sempre, ele

garantiria a Glenys que ela era uma mulher muito

atraente, pelo menos aos olhos de um homem. Não era

bem um presente, pois uma jovem com tantas virtudes

não se importaria com o elogio de um homem como

Kieran FitzAllen, mas ele o faria mesmo assim.

Uma rajada de vento repentina e violenta levantou

as cortinas, apagando várias das velas que iluminavam o

quarto. Glenys virou-se para as portas abertas da

varanda, sem avistar Kieran, que se escondia nas

sombras, e levantou-se do banco. Assim que ela se

aproximou para fechar as portas, ele tirou a pedra

brilhante do bolso e estendeu a palma da mão. No

mesmo instante, a luz começou a brilhar, revelando-o.

A surpresa cruzou-lhe as feições por um momento,

então Glenys deu um passo para trás e apertou o roupão

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com as mãos no intuito de esconder sua semi-nudez.

— Kieran — murmurou ela, olhando-o como se

estivesse diante de um fantasma. — O que você faz aqui?

Como chegou até aqui? — Glenys arregalou os olhos,

aflita. — Há quanto tempo você está nessa varanda?

— Faz apenas alguns minutos que cheguei —

mentiu ele. Estava ali havia mais de uma hora,

observando-a ser despida pelas criadas e depois colocar

o roupão que usava agora. — Eu vim pela varanda do

meu quarto, que fica bem abaixo desta. Não foi difícil.

Quer sair um pouco? — Kieran estendeu a mão,

incitando-a a aceitar o convite. — O vento está frio.

Choverá dentro de pouco tempo.

Glenys deu mais um passo para trás, continuando a

apertar o tecido do roupão.

— Está frio. Quero fechar as portas. Por que você

veio até aqui?

— Não, não está tão frio assim — discordou ele,

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ainda com a mão estendida. — A brisa é bastante

agradável. Pense em como será gostoso deitar-se em

uma cama quentinha com lençóis perfumados depois de

o vento ter resfriado sua pele.

— Eu não quero que o vento resfrie a minha pele.

Não estou com calor, Kieran.

— Então eu a manterei aquecida. Venha.

Glenys hesitou, olhando-o com desconfiança, porém

logo começou a dar alguns passos para frente, até

alcançá-lo. Kieran tomou-lhe uma das mãos, depois de

guardar a pedra brilhante no bolso, e puxou-a para perto.

Ela não resistiu ao abraço, mas também não se moveu.

— Não é melhor assim? — perguntou ele,

aninhando-a em seus braços. — O vento sopra a nossa

volta, porém estamos confortáveis e quentes. Você se

lembra da viagem a York, das noites em que dormíamos

no chão frio, e eu mantinha meus braços ao redor do seu

corpo para aquecê-la?

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— Você está querendo dizer para que eu não

tentasse fugir. Eu teria preferido dormir abraçada com

Dina, mas você não permitiria.

— É verdade, em parte — admitiu ele, pressionando-

lhe a cintura com mais intensidade, a fim de mantê-la

mais perto. — Nós aquecíamos um ao outro. Era uma

situação parecida com esta, não acha?

— Por que você está aqui? — repetiu ela, levantando

um pouco o rosto a fim de enxergá-lo.

Kieran baixou os olhos e tocou-lhe levemente as

têmporas com a ponta dos dedos, afastando-lhe os fios

de cabelo que o vento lhe jogara no rosto.

— Eu vim ver você — respondeu ele.

— Para conversar comigo? — perguntou Glenys,

confusa. — Sobre Gales?

— Não exatamente. Mas se é isso que você quer…

— Então qual é o motivo de sua… visita? Achei

que…

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— Que… — incentivou Kieran, afagando os cabelos

castanhos, deliciando-se com as mechas que lhe

acariciavam a pele. — Que eu iria em busca da

companhia de outra mulher? Talvez de uma das criadas?

Mesmo na escuridão, ele notou o rubor na face de

Glenys e soube que acertara em cheio. E o pior era que

não podia culpá-la por pensar assim. Se ela não estivesse

ali, e se não fosse o motivo de tamanho encantamento,

Kieran certamente estaria nos braços de outra mulher. As

criadas de Eunice sempre encontravam uma maneira de

demonstrar seus sentimentos, deixando seu interesse

bem claro, todas as vezes que aparecia em

Hammersgate. Ele poderia passar a noite com qualquer

uma que escolhesse.

Entretanto, naquele momento, entregar-se aos

braços de outra mulher de nada adiantaria, apesar de

toda a necessidade que o atormentava. Apenas uma

mulher seria capaz de atenuar aquele desejo. Kieran

sabia o suficiente sobre prazeres físicos para perceber

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que o que estava sentindo naquele momento era bem

diferente de qualquer sentimento que já experimentara

antes.

— Não, nenhuma delas me interessa — disse ele,

encantado com a beleza dos olhos de Glenys, escuros e

lindos como o céu turbulento. — Eu já lhe disse que a

situação entre nós mudou, agora que você não é mais

minha prisioneira.

Percebendo o rumo que aquela conversa poderia

tomar, ela enrijeceu nos braços de Kieran e tentou

desvencilhar-se do abraço.

— Vá embora — implorou ela. — Não quero fazer

parte de suas brincadeiras.

Kieran a impediu de se afastar, segurando-a com

mais força.

— Foi por esse motivo que vim até aqui, Glenys.

Pare de tentar me afastar e escute o que tenho a lhe

dizer, pois não pretendo ir embora enquanto não lhe falar

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tudo.

Alguns momentos depois, Glenys se acalmou e

baixou a cabeça, como se não pudesse suportar ouvia o

discurso dele.

— Eu poderia ter quase todas as mulheres desse

castelo na minha cama — começou Kieran, falando

baixinho bem perto do ouvido dela. — E você sabe que é

verdade. Entretanto, eu vim até aqui. E não pense que foi

com a intenção de desonrá-la. Eu quero apenas lhe

provar que prefiro a sua companhia à de qualquer outra

jovem. Também sei perfeitamente que não poderei saciar

minha necessidade com você. — Ele sorriu. — E olhe que

não costumo ficar muito tempo longe dos carinhos de

uma mulher.

— Então vá procurar uma companhia — respondeu

ela, rabugenta. — Você não precisa provar

absolutamente nada para mim.

— Não? — murmurou ele, fechando os olhos quando

uma forte rajada de vento soprou. Kieran adorou a

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sensação de frio, aproveitando para envolver Glenys

ainda mais em seus braços, protegendo-a. Precisaria de

muito empenho para convencê-la de sua sinceridade.

— Vamos entrar. Senti um pingo, e creio que a

tempestade não tardará a chegar. Ficaremos mais

confortáveis dentro do quarto.

— Kieran… — sussurrou ela, com a voz trêmula. —

Por favor, vá embora. Estou com medo.

— Eu sei, minha querida. — Kieran beijou-lhe o

lóbulo da orelha. — Eu sei. Entretanto, se eu sair daqui

agora, você ficará deitada em sua cama, acordada e

imaginando coisas terríveis. Não tenha medo de mim,

Glenys. Eu jamais farei qualquer coisa que possa

prejudicá-la ou desonrá-la. Só quero o seu bem. E dar-lhe

prazer.

Todo o corpo de Glenys tremia quando ele a

conduziu para dentro do quarto e fechou as pesadas

portas de madeira, distanciando-os do vento cortante. As

cortinas, que até então esvoaçavam com violência, se

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acalmaram na mesma hora, bem como as chamas do

fogo, que eram a única fonte de luz do aposento. Todas

as velas tinham se apagado com a intensidade do vento.

Glenys se abraçou à medida que Kieran foi se

aproximando, os passos lentos e comedidos. Ele

desamarrou a capa e tirou-a, deixando-a cair no chão. Em

seguida, começou a abrir a túnica.

— Kieran! — exclamou ela, em pânico, ao vê-lo

despir-se, revelando o peito e os braços musculosos e

perfeitos. Quase não conseguia continuar a olhá-lo,

lutando entre o fascínio com a beleza das formas do

corpo dele e o medo de vê-lo tão exposto. Glenys baixou

os olhos para o chão e arregalou-os ao ver que Kieran

não usava sapatos. Como conseguira escalar as paredes

do castelo descalço?

Ele continuou a caminhar na direção dela, e Glenys

continuou a andar para trás.

— O que você tanto teme, minha querida? —

murmurou ele, com a voz suave como uma brisa quente.

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— Está com medo de mim ou de si mesma? Ou quem

sabe apenas descobrindo a verdade de tudo que eu falei?

O que temia?, pensou Glenys. A dor. E a

humilhação. Ou que seus sentimentos por ele viessem à

tona e se tornassem motivo de chacota. Kieran era tão

bonito, tão perfeito! E ela, por sua vez…

Minutos atrás olhava seu reflexo no espelho e a

realidade que vira a magoara. Não era uma mulher

bonita, com traços perfeitos e harmoniosos. Mas por que

Kieran a olhara com tanta intensidade durante o jantar?

Será que… Não, era a sua imaginação que estava lhe

pregando peças. Os homens não costumavam sentir-se

atraídos por ela, muito menos um homem como Kieran

FitzAllen. E o espelho era honesto o suficiente para não

lhe permitir pensar o contrário.

Mas… ele estava ali, e com os olhos cheios de

desejo. E Glenys o amava e o desejava com todas as

suas forças.

Do que estava com medo?

~LUV~
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Ah, como conhecia pouco sobre a natureza

masculina… Qual seria a sensação de ser acariciada e

beijada por um homem, tornar-se um único ser com

alguém? Glenys sempre soubera que jamais teria chance

de responder a essas perguntas, de saciar sua

curiosidade, nem mesmo levando sua riqueza em

consideração.

Kieran, todavia, apesar de não amá-la, parecia

desejá-la. Se o expulsasse dali agora, correria o risco de

perder sua única oportunidade de estar com um homem.

De estar com Kieran FitzAllen. Não lhe importava perder

a virgindade, pois sabia que nunca seria abençoada por

um casamento. Ganharia, porém, algo maravilhoso. Uma

lembrança eterna. Recordações daquele homem

encantador que a acompanhariam até o fim da vida. E

então, o que tanto temer?

Glenys ficou imóvel. Kieran parou na frente dela,

com um lindo sorriso nos lábios. Então levantou o braço e

afagou-lhe o rosto, provocando-lhe arrepios.

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— Não precisa tremer, Glenys. Não há nenhum

motivo para tanto receio. Você realmente acredita que eu

possa lhe fazer algum mal?

— Não — respondeu ela em um fio de voz —, mas…

é que… eu não conheço nada. Eu não sei nada.

— E eu sei tudo — disse Kieran, acariciando-lhe os

lábios com a ponta dos dedos. — Só gostaria de ser como

você agora, mas isso não será possível. — Ele levou a

outra mão à nuca de Glenys. — Você já foi beijada?

— Não — respondeu ela, experimentando um misto

de terror e antecipação.

— Pode ser uma atitude egoísta, mas devo admitir

que fico muito contente em saber que sou o primeiro.

Aos poucos, Kieran foi de aproximando do rosto

dela, até ficar bem perto. Então murmurou o nome dela,

quase tocando-lhe os lábios. Glenys fechou os olhos e

apenas esperou que suas bocas se encontrassem.

Entretanto, ele continuou a provocação por mais alguns

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instantes, murmurando palavras doces, até que ela não

suportou mais e diminuiu o espaço entre eles.

Pelo visto, era o que Kieran esperava. O beijo, de

início suave, foi se aprofundando aos poucos,

acompanhando o compasso do desejo crescente que os

acometia.

Glenys envolveu-lhe o pescoço com os braços,

entrelaçando os cabelos entre seus dedos, sentindo a

textura da pele suave contra a sua.

— Eu adoro sentir suas carícias — murmurou Kieran.

Aos poucos, Glenys foi se soltando, copiando os

movimentos dele, percebendo que, além de agradá-lo,

seu próprio prazer também aumentava. Entregou-se

completamente às carícias daquele homem hábil e

experiente, deixando-se levar por aquele sonho.

Nunca imaginara que pudesse existir uma sensação

tão maravilhosa. Seu roupão escorregara para o chão, e

os dedos de Kieran tocavam os pontos mais sensíveis de

sua pele, provocando-lhe sensações totalmente

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desconhecidas. Jamais concebera que as pessoas

pudessem se beijar daquela maneira… Decerto era algo

totalmente pecaminoso. Ah, mas era tão bom…

— Vamos nos deitar — convidou ele, com a voz

trêmula de desejo. — Quero lhe dar prazer, minha

querida. E não precisa ter medo, pois juro que sua

virgindade permanecerá intocada. Você é capaz de

confiar em mim?

Incapaz de proferir um som, Glenys respondeu com

um gesto da cabeça. Kieran inclinou-se e pegou-a no

colo, levando-a até a imponente cama que ficava no meio

do quarto. Apesar da lareira acesa, o ar ao redor deles

estava frio, penetrando pelas frestas das portas fechadas

da varanda. Os trovões ecoavam à distância, e o cheiro

de chuva era forte.

Glenys sentiu a maciez dos lençóis contra sua pele

quando Kieran a deitou na cama. Um momento depois

ele também se deitou.

Ela sentiu a força daquele belo corpo contra o seu

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quando Kieran recomeçou a beijá-la, tocando-lhe o rosto,

o pescoço, até alcançar os botões de sua camisa de

baixo. Ele foi abrindo um por um, com cuidado,

presenteando-a com sensações desconhecidas e cada

vez mais prazerosas. Cada nervo do corpo dela se

deliciava com aquele novo prazer. Não conseguia pensar

em mais nada, a não ser nas revelações que cada toque

dos lábios e das mãos de Kieran lhe proporcionavam.

— Linda — murmurou ele, olhando-a sob a parca

iluminação do aposento. — Você é tão linda, Glenys!

Deslizando o corpo para baixo, ele tomou-lhe um

dos mamilos na boca, sugando-o com gentileza. Glenys

quase explodiu de tanto prazer.

— Ah… — gemeu ela, engolindo em seco, deixando-

se levar por inteiro, sem pensar nas possíveis

conseqüências daquela intimidade.

Mais tarde, Glenys se espantaria com a facilidade

com a qual se entregara àquele homem, quase um

desconhecido. Ele poderia ter feito tudo, inclusive lhe

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tirado a virgindade, o que sem dúvida também lhe traria

prazer. Mas Kieran não o fez. Tocou-a apenas com as

mãos, com seus dedos experientes, acariciando-lhe a

parte mais íntima do corpo até que ela atingisse o

êxtase.

Depois Glenys se aninhou nos braços dele,

tremendo e respirando com dificuldade, esperando

conseguir voltar ao normal e raciocinar direito.

Entretanto, o membro dele continuava ereto, rígido. O

que faria para satisfazê-lo?, pensou aflita.

Com cautela, ela roçou os dedos na masculinidade

de Kieran. A resposta foi um gemido, um gemido quase

de dor.

— Por favor, Glenys, não faça isso — pediu ele,

segurando-lhe o pulso.

— Eu não posso lhe dar prazer como você me deu?

Kieran beijou-lhe a ponta dos dedos.

— Sim, minha querida, mas eu tenho motivos de

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sobra para que isso não aconteça. Bem, pelo menos até o

amanhecer.

— Como assim?

— Eu lhe disse que não vim aqui com essa intenção.

Na noite de hoje, o prazer era só para você, e não para

mim. Gostaria que este momento ficasse marcado para

sempre na sua memória.

Glenys o fitou com espanto, imaginando o esforço

que lhe custara sucumbir ao próprio prazer. Não, não

podia deixá-lo sofrer tanto. A expressão de Kieran

revelava toda sua tensão.

— Não — insistiu ele quando Glenys tentou sentar-

se na cama. — Não tente discutir esse assunto comigo.

Não quero nem conversar a respeito. Deixe-me apenas

abraçá-la enquanto você dorme. Quando o dia

amanhecer, prometo que deixarei você fazer o que quiser

para me satisfazer. Na verdade, será um prazer ensinar-

lhe o que quer que você queira saber.

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CAPÍTULO XIII

Os dias que se seguiram foram os mais felizes da

vida de Kieran, o que era um grande feito, pois já tivera

muitos bons momentos no decorrer de sua existência.

Pelo menos bem mais do que a maioria dos homens

poderia pensar em imaginar.

Entretanto, o fato de estar com Glenys lhe

transmitia uma segurança que nunca sentira antes.

Kieran tinha aprendido a conviver com as condições de

seu nascimento, algo que no passado o incomodara bem

mais, e com o fato de que nada mudaria os

acontecimentos, porém nunca imaginara que amar uma

pessoa e, melhor, ter esse amor retribuído, pudesse

preencher aquele vazio em seu ser.

Seus relacionamentos com as mulheres sempre

terminavam com a mesma rapidez com que começavam,

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mas não dessa vez. A viagem para Gales parecia não ter

fim, e Jean-Marc piorava a cada instante, apesar da

alegria de sua situação com Dina. Tanto ele quanto

Glenys sabiam que os dois haviam se deitado juntos em

Hammersgate, mas não ousaram fazer nenhum tipo de

comentário. Claro, não haveria nenhum empecilho para

uma união entre eles, afinal Dina não era de família

nobre, e Jean-Marc guardara dinheiro suficiente durante

seus anos de andanças na companhia de Kieran para

aproveitar o resto de sua vida como um rico lorde. Além

disso, Dina também não tinha família para se opor a um

casamento, enquanto a família de Glenys… Mas Kieran

procurava não pensar no assunto, nem na certeza de que

Daman Seymour estava cada vez mais próximo de

alcançá-los.

Kieran conhecia aquela região de Gales, pois ele e

Jean-Marc tinham o hábito de ir para lá uma vez por ano.

Que ironia do destino as terras da família de Glenys

serem tão perto de um dos bordéis favoritos de Kieran,

mas o mais estranho era pensar que algum dia os dois

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poderiam ter estado tão próximos um do outro. Talvez

até já tivessem se cruzado durante uma das viagens de

Glenys com a família para Cardigan.

Assim que atravessaram a fronteira de Gales,

Glenys relaxou, como se tivesse chegado em seu

verdadeiro lar. Foi quando Kieran se deu conta de como

ela honrava sua herança gaulesa, não apenas a língua e

os costumes, mas a plena crença em tudo que se

relacionava a Gales. O resto da Inglaterra poderia não

existir, ou mesmo o mundo inteiro. Aquele era o único

lugar com o qual ela se importava, o lugar onde ficava

em paz.

Kieran não a tinha escutado falar em seu idioma

nativo até chegarem nas montanhas Berwyn, onde

passaram a noite. Glenys ficou mais de uma hora

conversando com os aldeões, perguntando-lhes sobre

Caswallan, sir Anton e a Pedra da Graça. Ele ficou atrás,

apenas observando, admirando. O rosto dela se tornara

extremamente expressivo, bem como suas maneiras, e

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todos perceberam que se tratava de uma nativa, de uma

pessoa nobre, apesar de suas condições de viagem e de

suas roupas.

Kieran, conforme combinado antes, seria

apresentado como o marido, enquanto Jean-Marc e Dina

já faziam as vezes de um verdadeiro casal. Ele cumpriu

bem seu papel de lorde inglês, uma vez que os aldeões o

olhavam com desdém, e para Glenys com pena e

compreensão. Não era comum as damas da sociedade

gaulesa se casarem com lordes ingleses, ainda mais

quando se tratava de uma jovem com classe e fortuna.

Ela terminou a conversa satisfeita por estar com a

razão sobre o paradeiro de Caswallan, porém

desapontada por não ter descoberto nada sobre sir

Anton. Ninguém soubera lhe dar nenhuma informação

sobre o inglês.

— É claro que ele está em Gales — disse ela,

naquela noite, enquanto comiam um delicioso cozido de

alho-poró. — Ele não teria retardado sua busca a

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Caswallan uma vez que você concordou em tirar a nós

duas de Londres.

— Pode ser que sim — respondeu Kieran, afastando

o prato.

— Para saber se eu manteria a palavra depois de ter

recebido o dinheiro.

— Mesmo assim, ele teria partido imediatamente

para Londres. Sir Anton deve estar aqui há algumas

semanas, mas como ninguém ouviu nada a respeito

dele? É o tipo de pessoa que causa má impressão.

— Se sir Anton ficou no sul de Gales, como você

acredita, então não podem ter ouvido nada a respeito

dele por aqui. Ainda mais em um lugar tão pequeno,

onde as notícias distantes demoram a chegar. Com

Caswallan é diferente, pois, além de ele ser um feiticeiro

gaulês, está com a Pedra da Graça faz alguns meses. As

notícias sobre ele se espalham com mais rapidez do que

sobre um inglês desconhecido.

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— Eu concordo. Talvez ao nos aproximarmos de

Aberteifi seja diferente. Não conseguirei ficar tranqüila

enquanto não souber onde ele está. Você o considera um

homem fraco e tolo, mas sir Anton é extremamente

dissimulado, e você mesmo sabe que matar não é um

problema para ele.

— Devo admitir que, nesse aspecto, ele me

surpreendeu. Entretanto, acho que qualquer dissimulação

foi encoberta pelo desespero. Ele agiu sem cuidado no

que diz respeito a nós, e provavelmente fará o mesmo ao

tentar roubar a Pedra da Graça de Caswallan. Ele cairá

em sua própria armadilha. — Depois — prometeu Kieran,

afagando-lhe o rosto no intuito de afastar as linhas de

preocupação —, prometo que lidarei com sir Anton

Lagasse.

Naquela mesma noite, na cabana que os aldeões

lhes deram para dormir, Glenys ficou caminhando de um

lado para o outro, aflita, murmurando sem parar palavras

em gaulês. Kieran ficou tão excitado que não conseguiu

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se conter e tomou-a nos braços. Havia algo de mágico

em escutar o idioma, que ela chamava de cymraeg, que

o enlouquecia. Glenys pareceu perceber, e começou a

seduzi-lo não apenas com toques, mas também com

palavras. Desde então, todas as noites eram assim, e

Kieran, a despeito de sua vasta experiência, não

conhecia algo melhor.

Para uma mulher que ainda era virgem, Glenys

tinha grande habilidade na arte da sedução. Desde a

manhã quando tinham acordado em Hammergate, ela

vinha se mostrando uma ardente aprendiz, e Kieran um

dedicado tutor. Todavia, Glenys o surpreendera com seu

desejo de aprender, querendo saber tudo de uma vez,

todos os segredos e habilidades que ele passara anos

aperfeiçoando.

Era um milagre ela se manter pura para o

casamento. Nos anos que estavam por vir, Kieran olharia

para trás e se maravilharia com o fato de ter conseguido

se controlar para não possuí-la. Deus era testemunha de

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que Glenys não ajudava em nada. Ela insistia em dizer

que jamais se casaria, e fez de tudo para fazer com que

Kieran perdesse todo o bom senso e a possuísse. A

tentação era grande, mas ele se ateve à determinação de

não arruinar a reputação de uma mulher tão especial

como aquela. Talvez fosse a lembrança da vergonha e

desgraça de Elizabeth que lhe dava força de vontade.

Não suportava pensar em deixá-la sofrendo apenas por

um momento de paixão. Não, seria cauteloso com

Glenys. A companhia dela lhe era suficiente.

Cardigan estava entre uma das mais antigas

cidades gaulesas, bem como uma das mais prósperas.

Seu movimentado porto trazia imponência e inúmeros

estrangeiros para o local, além de riqueza para os

ingleses, que dominavam todas aquelas terras. Nenhum

homem, mulher ou criança gaulesa podia morar nas

redondezas, contou Glenys, enquanto seguiam pela

estrada principal, uma punição remanescente devido à

rebelião de Owain Glyndwr. A voz dela deixava

transparecer toda a raiva que sentia em relação ao

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tratamento injusto dado pelos ingleses aos gauleses…

até Kieran relembrá-la de que a família dela possuía

muitas terras na Inglaterra, não apenas em Gales, e

Metolius, em Londres, era uma das maiores

preciosidades.

Glenys, acomodada à frente dele em Nimrod,

endireitou-se.

— Não há alternativa para nós a não ser viver em

Londres durante grande parte do ano, pois os negócios

da família exigem. Mas Gales é nosso lar, nosso

verdadeiro lar. É aqui que sempre estará o coração dos

Seymour.

— Qual a distância de Cardigan até as suas terras?

Você disse que a propriedade ficava em Dyfed?

— Sim, perto de Presili. Chama-se Glain Tarran, a

jóia na pedra. Nós passaremos por lá quando estivermos

seguindo para as colinas.

Kieran não perguntou se ela pretendia parar no

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caminho, seria muito perigoso fazê-lo. Entretanto,

precisava saber onde poderia deixá-la, a salvo, quando

encontrasse Caswallan. Pretendia ir atrás de sir Anton

sozinho, e também acertaria as contas com Daman em

particular, se conseguisse. Seria perfeito se pudesse

deixá-la em Glain Tarran.

— Você precisa me mostrar quando passarmos por

lá. O castelo é muito antigo?

— Sim, muito — respondeu ela, suspirando —, mas

não lhe garanto que você conseguirá vê-lo. Glain Tarran

nem sempre é visível para todas as pessoas.

— Não é visível? — repetiu Kieran, sem ter certeza

de que queria escutar a resposta.

— Não é muito fácil de explicar. Normalmente, o

castelo pode ser visto de longe, mas algumas vezes… é

mais difícil encontrá-lo. Digamos que o tempo é estranho

em algumas partes. A neblina vai e vem sem avisar.

— Neblina que esconde todo o castelo?

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— Sim.

— Talvez por isso Glain Tarran seja tão antigo —

sugeriu ele. — É muito conveniente tornar-se invisível de

vez em quando, não? Ainda mais durante uma guerra.

— Não existe nenhum tipo de magia por trás —

explicou Glenys, com calma. — Simplesmente acontece.

— Não, claro que não há magia — concordou Kieran,

divertindo-se com a irritação que notou na voz dela. Era

sempre assim quando Glenys percebia que ele não

acreditava nas explicações que lhe dava sobre os

mistérios relacionados a sua família. Ela insistia em não

acreditar no óbvio, que a magia era real. Kieran gostaria

de encontrar uma forma de convencê-la, porém não

sabia se teria êxito. Se a própria família não conseguia,

como um estranho o faria? — Tenho certeza de que toda

a propriedade desaparece, como você diz, em virtude do

tempo. Você já percebeu que sempre está ventando

perto das colinas Presili? A neblina deve ter problemas

em esconder os castelos.

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Glenys empurrou o cotovelo para trás, acertando-o

com força. Kieran caiu na risada e puxou-a para beijá-la.

— Eu vou fazer com que você acredite em mágica —

sussurrou ele.

— Nunca!

O bom humor de Glenys durou até eles chegarem

ao destino final. Kieran escolheu o que considerava o

melhor lugar para escondê-los de sir Anton e de Daman

Seymour, mas ela pareceu não ser da mesma opinião.

— Não, de jeito nenhum — esbravejou Glenys,

olhando-o com desconfiança. — Aqui, não.

— Sim — respondeu ele, descendo de Nimrod. —

Não existe lugar melhor. — Kieran estendeu os braços

para ajudá-la a desmontar. — Este é o único lugar em

que estaremos a salvo. Em Londres, ele conseguiu ficar

apenas quinze minutos no Black Raven. Mas seria uma

ótima idéia vê-lo rodeado pelas meninas de Berte.

— Eu não vou colocar meus pés aí dentro — jurou

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ela, apontando para o bordel, bastante conhecido

naquela parte de Gales. — Eu me recuso

terminantemente. Você nos levou para os piores lugares

enquanto nos manteve prisioneiras, porém não dormirei

em um bordel!

Antecipando a recusa de Glenys, Kieran começou a

desamarrar a bagagem do cavalo, ignorando-a.

— Não há outro lugar melhor — insistiu ele. — E não

é tão ruim quanto você imagina. Eu passei várias noites

aqui, portanto, conheço bem o bordel. E limpo e seco, e

as camas são confortáveis.

— Eu imagino que você já deve ter estado em todas

— disse Glenys, colocando as mãos na cintura.

Kieran sorriu diante do ciúme que notou na voz dela

e abraçou-a, puxando-a para perto.

— Não nego a verdade do que você está dizendo,

porém juro que, desta vez, ficarei em uma única cama,

com uma única mulher. — Ele beijou-a, impedindo-a de

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se desvencilhar.

— Kieran!

— E quem sabe você não ensina algumas coisinhas

para as meninas de Berte — brincou ele.

— Você é terrível, Kieran FitzAllen. Não vou entrar

neste bordel com você.

— É o que veremos, srta. Glenys.

De alguma maneira, Kieran convenceu-a a entrar no

bordel. Glenys não sabia explicar ao certo como cedera,

a não ser, talvez, pelo fato de estarem no meio da rua,

debaixo do sol do meio-dia, beijando-se como se não

houvesse ninguém em volta. Como não queria ser

confundida com uma das garotas de vida fácil, ela achou

melhor sair dali.

Assim que eles entraram, o bordel entrou em

polvorosa. Mulheres seminuas soltando gritinhos

histéricos e risadas escandalosas correram na direção de

Kieran e Jean-Marc. Dina e Glenys foram empurradas

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para o lado, ignoradas, enquanto os dois homens eram

beijados e acariciados. E nenhum dos dois parecia

pretender colocar um ponto final naquele

comportamento obsceno. Na verdade, pareciam estar

gostando bastante da atenção.

— Kieran, estou tão contente por… Jean-Marc, não

posso esperar até… Faz tanto tempo que vocês não

aparecem por aqui. Por que…

— Silêncio!

Não havia como ignorar aquela voz feminina tão

imponente. Todo o salão ficou no mais profundo silêncio,

e todos se viraram para a mulher parada no meio da

escada. Era uma mulher de incrível beleza, um pouco

mais velha do que as jovens histéricas que gritavam ao

redor de Kieran e Jean-Marc. Seus cabelos longos e

cacheados caíam-lhe nas costas como um manto negro,

e seus lábios carnudos ostentavam um batom vermelho.

Vestia apenas uma camisola vermelha, transparente,

como se tivesse acabado de sair da cama naquele

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momento. Seus olhos azuis, muito claros, estudaram a

cena a sua frente, parando, por fim, em Kieran. Glenys

arregalou os olhos diante de tamanho desejo. A mulher

parecia pronta para pular nos braços dele, sem se

importar com a platéia.

Com o coração disparado, Glenys olhou para Kieran.

Ele também a olhava, porém com o carinho e amizade de

quem não via um antigo conhecido há muito tempo.

Mesmo assim ela sentiu-se confusa. Era evidente

que os dois um dia tinham sido amantes. Ou melhor, pelo

visto Kieran fora amante de praticamente todas as

mulheres daquele lugar. Ele era assim e sempre seria,

apesar de tudo que acontecera entre ambos.

Percebendo a preocupação de Glenys, ele se virou,

lançou-lhe um sorriso tranqüilizador e começou a se

desvencilhar das mulheres que o agarravam. Quando

conseguiu se livrar de todas, a da escada estava parada

a sua frente.

— Kieran, meu amor — murmurou ela, afagando-lhe

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o rosto com seus longos dedos. — Que surpresa

maravilhosa! Eu estava imaginando que você e Jean-Marc

logo viriam. É sempre na mesma época do ano, não? —

Ela chegou mais perto, pressionando o corpo contra o

dele. — Teremos de lhe dar as boas-vindas esta noite.

Antes, porém, quero você só para mim. Vamos subir um

pouco para você relaxar.

— Hum, Berte… — disse ele, pegando-lhe a mão. —

Desta vez eu vim por outro motivo… Glenys!

Glenys puxou Dina pelo braço e correu em direção à

porta aberta. A criada seguiu-a sem resistência, incrédula

com tudo que vira até aquele momento. Ela passara por

momentos bastante difíceis nos últimos dias, e Glenys se

culpava por não a ter protegido mais.

— Vamos até o mestre Tremayne — disse ela. —

Será um choque ele nos ver nesta situação, mas não há

alternativa. Sendo o banqueiro da família Seymour há

mais de quarenta anos, duvido que nos negará ajuda. —

Isso mesmo. — Glenys seguia pela rua sem saber ao

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certo aonde ia. — Não sei como não pensei nisso antes. E

assim nos livraremos desses bandidos.

Dina respondeu com um soluço.

— Glenys!

Kieran estava logo atrás.

— Dina!

Ao escutar a voz suplicante de Jean-Marc, Dina

diminuiu os passos.

— Não escute esse monstro! Você viu quantas

mulheres o rodeavam!

— Por Deus! Você é a mulher mais teimosa que já

conheci! — exclamou ele, quase as alcançando. —

Glenys, pare!

— Você vai voltar para lá comigo, querendo ou não

— disse Kieran, segurando-a pelo braço.

Ela soltou-se e virou-se para ele, furiosa.

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— Não vou, não! Você realmente acredita que vou

ficar assistindo a você e a srta. Berte se esfregando um

no outro?

Pela primeira vez desde que haviam se conhecido,

as faces de Kieran enrubesceram, como se estivesse

envergonhado.

— Não se atreva a tocar em mim! — gritou Dina,

acertando um tapa no rosto de Jean-Marc. — Depois de

tudo que você me falou… depois de tudo que fizemos…

especialmente a noite passada! — Ela cobriu o rosto com

as mãos e desabou em lágrimas.

— Dina, por favor, escute-me. Tudo que eu disse é

sério. Ela o empurrou, e chorava cada vez mais alto.

Uma multidão começou a se formar ao redor deles.

—Sir Anton não precisará perguntar por nós —

resmungou Kieran, irritado. — Toda a Gales falará a

nosso respeito.

Sabendo que não teria outra saída, ele pegou-a no

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colo e voltou para o bordel.

— Kieran FitzAllen!

— Fique quieta, mulher! — ordenou ele, aplicando-

lhe um tapa no traseiro. — Essas duas novas garotas de

Berte ainda não aprenderam a se comportar — explicou

Kieran, ignorando os gritos de Glenys. — Imaginem só,

não gostaram dos aposentos. Venha, companheiro,

vamos levá-las de volta para a casa de nossa amiga.

— Dina, por favor, não fique brava comigo — pediu

Jean-Marc, fazendo o mesmo que Kieran.

Ao entrar no bordel, Kieran seguiu para a escada,

ignorando as expressões de espanto.

— Aonde você está indo? — perguntou Berte.

Glenys ergueu a cabeça e viu-a parada com as

mãos na cintura, os olhos cintilando. Atrás dela, Jean-

Marc entrava carregando Dina, que continuava a chorar.

— Vou tomar seu quarto emprestado por alguns

minutos — explicou ele. — Nós não atrapalharemos, eu

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prometo.

— Kieran!

— Eu peço desculpas, Berte — disse Kieran,

continuando a subir. — Daqui a pouco eu desço para lhe

explicar tudo. Até então, peço-lhe a gentileza de nos

deixar em paz.

Chegando ao quarto de Berte, ele colocou Glenys no

chão e trancou a porta.

— Você pode gritar o quanto quiser comigo, mas

antes escute o que tenho a lhe dizer.

Glenys respirou fundo, olhou para os lados… e de

repente silenciou.

— Minha nossa! — exclamou ela, estarrecida com a

visão diante de seus olhos. Nunca estivera nos aposentos

de uma prostituta, portanto era uma grande revelação.

As paredes ostentavam tapeçarias com cenas picantes às

quais nunca fora exposta. Homens e mulheres, nus, em

todos os tipos de posições. Como alguém poderia ter

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criado tudo aquilo sem o menor pudor? E quem teria

bordado tudo aquilo?

— O gosto de Berte é um tanto inusitado — explicou

Kieran.

— No mínimo — concordou ela, virando-se para

apreciar todo o resto.

A cama ficava no centro do quarto e era enorme,

com lençóis, colcha e almofadas vermelhas. Glenys

imaginou Kieran ali, deitado nos braços de Berte, como

fizera com ela nas noites passadas.

— Tudo que você está pensando é verdade —

começou ele —, e pior ainda. Eu nunca disse que era um

homem correto, Glenys, ou que não havia me deitado

com outras mulheres.

— Com muitas outras!

— É verdade. E nem tenho como enumerá-las. E

também não posso fazer nada para apagar meu passado.

Está tudo ali, junto com meus outros pecados, crimes e

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desfeitas. E o pior é que eu me permiti amar você. E esse

pecado, creio eu, não poderá ser perdoado, quer por

você, quer por Deus. — Ele caminhou lentamente e parou

ao lado de Glenys. — Mas não encontrei uma maneira de

controlar meus sentimentos. Não há desculpa, Glenys.

Sei que sou o pior homem do mundo por não ter

conseguido me controlar e por ter cedido aos meus

desejos. Eu só agradeço por não ter tirado sua

virgindade. Só Deus sabe como as minhas palavras são

verdadeiras. — Kieran tocou-lhe o braço, sem saber qual

seria a reação dela. — Eu te amo — sussurrou ele. — Não

tenho mais o que fazer além de lhe pedir desculpas.

Glenys… será que algum dia você voltará a falar comigo?

— Você me desrespeitou na frente de todas aquelas

pessoas, fazendo com que acreditassem que Dina e eu

somos prostitutas. Deste bordel.

— E o que mais eu poderia fazer? — perguntou ele,

quase em desespero. — Preferia que eu tivesse proferido

seu nome em bom tom, tratando-a como uma verdadeira

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dama? Sir Anton está a sua procura e não pode nem

desconfiar que você passou por aqui.

— E se alguém tiver me reconhecido? — perguntou

ela, escondendo o rosto entre as mãos. — Minha família é

muito conhecida em Aberteifi.

— Não, Glenys, eu duvido que alguém a tenha

reconhecido. Não nesse estado, com o vestido sujo, os

cabelos despenteados. Só espero que ninguém tenha

reparado na cor, senão sir Anton saberá que você está

em Cardigan. Mas não precisa ter medo, mesmo que ele

descubra a verdade. Como já lhe disse uma vez, eu farei

de tudo para mantê-la a salvo.

Ela assentiu e fixou os olhos na tapeçaria a sua

frente. Não conseguia imaginar como uma mulher e um

homem podiam ficar naquela posição. As costas dela

extremamente curvadas para trás e as pernas dele… Não

era possível! Glenys virou a cabeça para tentar entender

melhor a cena.

— Glenys, imagine o que seu irmão pensará quando

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souber que você fica olhando para essas imagens. E eu

mesmo contarei para ele!

Glenys o ignorou e foi até a penteadeira, encantada

com a caixa de madeira cravejada de pedras preciosas.

— Não faz diferença. Ele não terá piedade conosco

quando descobrir o que aconteceu entre nós.

— Daman não precisa saber a verdade. Se você

quiser, eu prometo que não abrirei minha boca.

— É isso que você quer? — perguntou ela, passando

o dedo na tampa da caixa. — Fingir que não aconteceu

nada, que não nos deitamos juntos?

— Ora, Glenys, você sabe que eu farei qualquer

coisa para protegê-la. E você quem decide.

Ela ficou em silêncio por alguns instante, buscando

coragem para falar.

— É tudo muito difícil para mim, você não imagina

quanto. Você é um homem muito bonito, e eu nunca fui

bonita. Nem quando criança. E eu nunca me senti tão feia

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quanto agora, diante de tantas mulheres bonitas… e

nuas.

— Seminuas — corrigiu Kieran, sem humor na voz.

— Você tem razão. Seminuas.

Ele ficou parado, olhando-a por alguns instantes,

depois caminhou até a janela, resmungando. Abriu a

cortina vermelha e observou a rua, calado. Por alguns

instantes, nenhum dos dois se atreveu a falar, e Glenys

continuou passando o dedo na caixa, sentindo um nó no

estômago. Agora era a hora de Kieran lhe dizer a

verdade, apesar das declarações de amor que lhe fizera

momentos atrás. Ele lhe diria que era feia e que não

queria nada de mais sério com uma mulher petulante e

infantil. Nenhum homem preferiria uma mulher feia com

tantas beldades se atirando em seus braços. Como era

tola! Passaria o resto de seus dias se remoendo por ter

estragado tudo de mais lindo que acontecera em sua

vida.

— Eu sei o que é sentir-se feio — disse Kieran de

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repente, forçando as palavras a saírem de sua boca.

Glenys ficou surpresa com a emoção na voz dele e virou-

se. Ele estava de costas, cabisbaixo, olhando para fora.

— Eu me senti feio durante grande parte da minha vida,

comparado ao resto da minha família. Se eu fiz você

sentir-se assim, então…

Glenys continuou calada, dando-lhe tempo para

continuar.

— Não sei nem como lhe dizer o quanto eu a acho

bonita, mais do que qualquer outra mulher. Peço que

Deus tenha piedade de mim, pois o amor é como uma

maldição do inferno! Eu preferiria terminar meus dias

sem conhecer o sentimento, mas não era para ser. Nunca

declarei meu amor a mulher nenhuma, e entendo o fato

de você sentir-se feia diante dessa confissão.

— Você não pode estar falando a sério! Você não

pode me amar! Eu não sou digna do seu amor!

— E nem eu do seu — respondeu Kieran, virando-se.

— Glenys, não sei o que fazer para que você acredite nas

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minhas palavras. Eu queria que você se sentisse especial,

que percebesse como é importante e bonita para mim,

mas acho que foi tudo em vão. Eu te amo! — gritou ele,

irritado. — Você nunca me disse o mesmo, apesar de eu

ainda ter a esperança de escutar as palavras saindo de

seus lábios. O que mais posso dizer, ou fazer, para

convencê-la de que meu amor é verdadeiro? Se pudesse,

eu me casaria com você sem pensar duas vezes, mas

nem me atrevo a ter esse tipo de pensamento. Sei que

nunca teremos nada sério, e que você me rejeitaria. Por

mais bonito que eu seja — terminou Kieran, com a voz

cheia de amargura.

— Você se casaria comigo? — repetiu ela, incrédula.

— Sim, e com muita alegria. Mas não faz diferença,

pois não sou um bom partido, nem para você, nem para

qualquer mulher.

Glenys deu um passo na direção dele.

— Claro que é — murmurou ela. — Não conheço

uma mulher que não daria a vida para ser esposa de

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Kieran FitzAllen.

— Ora, Glenys, por mais bonito e simpático que eu

seja, não há como mudar ou apagar o meu passado. Eu

não pertenço a uma família nobre. Sou o filho bastardo

de um grande lorde. Você afirma que eu não posso amá-

la, mas é o contrário. Você está muito acima de mim, em

vários aspectos. Eu nem tenho esperança de alcançá-la.

Ela tocou-lhe o braço.

— Achei que você já soubesse que eu te amo.

Imagino que todas as mulheres sintam o mesmo só de

olhar para você. E por que comigo seria diferente? Eu te

amei quase desde o primeiro instante.

— Não é amor. E desejo, afinal de contas eu a iniciei

na arte do prazer. Você se esquecerá de tudo no

momento em que nos separarmos. E esse tipo de amor

que eu conheci com as outras mulheres. E não quero o

mesmo de você.

— Ah, Kieran — sussurrou Glenys, envolvendo-lhe a

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cintura com os braços e apoiando a cabeça nas costas

musculosas. — Nós somos um casal desencontrado. Você

não consegue me convencer do seu amor e eu não

consigo convencê-lo do meu. E eu te amo tanto que nem

sei como expressar meus sentimentos em palavras. Sim,

seu rosto e corpo são lindos, bem como suas maneiras,

mas, para mim, nada disso importa. Nem as condições de

seu nascimento, nem a sua posição social. Para mim

seria uma grande honra me casar com você. Eu

agradeceria a Deus todos os dias por ter me concedido

tal felicidade.

Kieran apertou as mãos em sua cintura com tanta

força que quase as machucou.

— É mesmo, Glenys?

— Juro que é a mais pura verdade. Se não fosse, por

que eu teria tanto ciúme da srta. Berte e das outras

mulheres? E de todas as outras mulheres que já se

deitaram em seus braços?

De repente, Kieran se virou e segurou-a pelos

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ombros, fitando-a com intensidade.

— Eu gostei de quase todas as mulheres com as

quais estive, porém jamais amei alguma como amo você.

Você acredita em mim, Glenys? Apesar de tudo que sabe

a meu respeito, de todos os meus pecados? Acredita?

— E você também acredita que eu te amo? Apesar

de todos os meus erros?

— Sim — respondeu ele, abrindo um belo sorriso. —

Eu me atrevo a acreditar em você.

— Então eu também acredito.

— Quero que você compreenda que não haverá

nada de mais sério. Temos pouco tempo juntos. Quando

Daman chegar…

Glenys tocou-lhe os lábios, impedindo-o de

continuar falando.

— Eu entendo, mas não quero que pense nisso

agora. Nenhum de nós sabe o que o futuro nos reserva.

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— Glenys…

Ela ficou na ponta dos pés e beijou-o com ternura.

— Eu te amo e você me ama. Se milagres como

esse acontecem, então tudo pode acontecer.

CAPÍTULO XIV

Berte os acomodou em um quarto privado, embora

antes tivesse expressado sua incredulidade por Glenys

ser a companhia escolhida por Kieran. Ela não escondeu

seu desdém quando os dois retornaram para o salão,

principalmente pela jovem.

— Kieran, meu amor — disse ela. — Você não passa

de um grande brincalhão, querendo que acreditemos em

uma história tão boba. Ainda bem que eu o conheço

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muito bem e sei que ela não é o tipo de mulher que você

escolheria como sua, mesmo que somente por uma noite.

Kieran segurou a mão de Glenys e apertou-a com

força, impedindo-a de responder ao desaforo. Para seu

alívio, ela não parecia ter se abalado lhe entregara sua

confiança. Nunca mulher alguma lhe dera presente como

esse. O amor que sentia por ela era tão grande que sua

única vontade naquele momento era levantá-la e beijá-la

até tirar-lhe o fôlego.

Berte, notando a comunicação silenciosa entre o

casal, aproximou-se, lançando um olhar nada amigável

para Glenys.

— Posso até entender uma atitude como essa vinda

de Jean-Marc — falou Berte, olhando para o canto onde

ele abraçava a chorosa e pálida Dina —, mas de você

nunca. Vamos, meu querido, pague essa mulher e deixe-

a partir. — Ela chegou ainda mais perto e passou um

dedo sedutor no peito de Kieran. — Eu senti muito a sua

falta, e não vou suportar esse tipo de joguinho. Não

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vamos perder tempo com tolices.

Kieran pegou-lhe a mão e colocou-a de lado com

firmeza.

— Eu a conheço melhor do que você me conhece,

Berte, e foi por isso que Glenys conseguiu conquistar

meu coração e você não. Todavia, como somos amigos

há muitos anos, eu ignorarei os insultos que fez à srta.

Glenys, desde que não se repitam.

Berte deu um passo para trás e olhou para Kieran

com uma expressão ameaçadora. Estava prestes a

perder o controle e fazer um escândalo que toda a

Cardigan escutaria. Sabendo bem como impedi-la, Kieran

tirou um pequeno saco de feltro do bolso e estendeu-o

para ela.

— É ouro. — A palavra teve um efeito milagroso, e o

humor de Berte se transformou de imediato.

— Você nunca teve mais do que algumas moedas

para aquecer seu bolso, Kieran FitzAllen.

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Ele abriu o saco e deixou-a olhar para dentro.

— Nós lhe pagaremos muito bem se nos hospedar

aqui por alguns dias e não comentar com ninguém sobre

nossa presença. Eu tinha plena certeza de que, quando

Jean-Marc e eu trouxéssemos a srta. Glenys e sua criada

para cá, você e suas meninas nos receberiam muito bem.

O comportamento dela mudou na mesma hora, e

Berte até esboçou um sorriso para Glenys.

— Claro, Kie. Afinal de contas, para que servem os

amigos? Eu lhe darei os melhores aposentos, e mandarei

uma das garotas buscar pão fresco e vinho. Fique quanto

tempo quiser e saiba que ficará seguro em minha casa.

Meia hora depois, Kieran e Glenys estavam em um

quarto bem menor que o de Berte, mas com a mesma

decoração extravagante. Kieran conhecia o aposento,

como todos os outros daquele bordel, e ficou contente

com o fato de que ficariam juntos durante o tempo que

demorasse para encontrar Caswallan. Ou pelo menos até

que Daman os descobrisse, o que ele torcia para não

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acontecer. Mesmo que tivessem apenas alguns dias

juntos, valia a pena correr o risco.

Estavam sentados juntos em um dos tanques de

banho de Berte, a maioria dos quais ela fizera para

acomodar duas pessoas, alguns até três. Kieran pediu

que colocassem um em seu quarto e enchessem com

toda a água quente que houvesse disponível. Por sorte,

os clientes do bordel gostavam muito das banheiras,

então ela mantinha sempre um caldeirão de água no

fogo.

Um lavou o corpo do outro em um ritual silencioso,

tocando e sentindo cada parte, como se quisessem se

conhecer por inteiro. Depois Glenys aninhou-se no peito

de Kieran, relaxada.

— Sinto muito pelas palavras de Berte. Ela está

acostumada a ter tudo do seu jeito e, se não for assim,

faz o possível e o impossível para conseguir — disse ele.

— Não precisa se desculpar — murmurou Glenys,

sonolenta, movimentando-se para ficar mais confortável.

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Kieran descansou as mãos na pele sedosa no abdome de

Glenys. — Ela não o conhece como acreditava que

conhecia. Você é um homem de muita honra para mentir

sobre um assunto sério como o amor.

Kieran beijou-lhe a testa, imaginando se algum dia

sentira tamanha alegria.

— Você me conhece bem melhor, mesmo depois de

apenas alguns dias. Esperei a minha vida toda para

encontrar uma mulher como você. E já estava

começando a acreditar que ela não existia.

— E não existe. — Glenys riu, divertindo-se com a

situação. — Duvido que seja possível compreender um

homem como você, Kieran FitzAllen, mas eu te amo

mesmo assim.

Kieran acariciou-lhe os seios, o estômago, o ventre,

em um ato de carinho, e não para excitá-la. Glenys

estava fraca demais para fazer amor novamente.

Todavia, ele não se cansava de tocar aquele corpo

delicioso, e a água espumante tornava a sensação ainda

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mais agradável.

Esperaria um pouco mais para amá-la. Um bom

jantar, o conforto e o calor da grande cama que estava

no centro do quarto, e uma manhã cheia de prazeres.

— Amanhã cedo começaremos a procurar por

Caswallan — disse Kieran.

— Está bem.

— Estou falando a sério, Glenys. Por mim, você

ficaria semanas e semanas aqui neste confortável quarto,

mas temo que seu irmão nos encontre se demorarmos

demais. E pretendo mantê-la a salvo das garras de

Daman. Amanhã partiremos para as montanhas, onde

você acha que Caswallan está.

— Não, amanhã, não — discordou ela, bocejando. —

Amanhã vamos para Pentre Ifan, nas colinas Presili. Será

um dia inteiro de viagem de ida e volta, porém teremos

certeza de onde Caswallan está quando retornarmos.

— Quer dizer que vamos para o cemitério sagrado?

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— Tenho de ir sozinha até as colinas quando

chegarmos lá — explicou ela. — Caso contrário não

saberei.

O sorriso sumiu dos lábios de Kieran na mesma

hora.

— De jeito nenhum! Você não irá a lugar nenhum

sozinha. Nem que seja daqui até a esquina. Como

poderei saber onde sir Anton está, ou se colocou homens

a nossa espreita, como fez antes? O que quer que você

tenha de descobrir nas colinas Presili, será na minha

companhia.

Devagar, Glenys levantou-se da água e olhou para

ele.

— Eu preciso estar sozinha para que a resposta

venha até mim.

— Mais uma das mágicas da sua família?

— Não há mágica — disse ela, firme. — É que…

algumas coisas podem ser sentidas em locais sagrados,

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não apenas em Presili, mas em qualquer outro lugar… se

a pessoa souber escutar.

— E você possui esse dom da escuta?

— Suponho que sim. Quando criança, sempre que

minha família ia aos lugares sagrados em Gales, eu

escutava coisas que as outras pessoas não escutavam.

Acredito que se trata de um truque do vento, mas meus

parentes, alguns deles, achavam que eram os espíritos

falando comigo. — Ela ficou vermelha.

— É tudo bobagem, mas vou até lá para ver o que

acontece. Imagino que Caswallan esteja por perto e,

além disso, há outras descobertas a serem feitas.

Kieran sorriu, passando o dedo molhado no rosto

dela.

— Você sabe mais do que supõe sobre mágica. Só

gostaria de saber por que tamanha determinação em não

acreditar.

— Porque a magia — começou Glenys, olhando-o

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nos olhos —, é ter uma família que a segue me separa do

resto do mundo. Meu irmão e eu. Você deve saber bem o

que é isso.

— Sim, eu sei o que é ser excluído — concordou

Kieran, beijando-lhe os lábios entreabertos. — Todavia, o

dom da magia não se compara a um nascimento

ilegítimo. E para ser sincero, não imagino algo que possa

fazer sir Daman Seymour sentir-se rejeitado. Ele é bem

quisto pela coroa, pela igreja e pelos semelhantes. Mas

vamos deixar esse assunto de lado. A água está

começando a esfriar. — Pegando-lhe a mão, Kieran saiu

da banheira. — Vamos ficar na cama até nos aquecemos

e depois que você dormir um pouco voltaremos a falar de

Caswallan e dessa viagem às colinas Presili. Falando a

sério, não posso permitir que você vá sozinha até lá.

— Eu não escutarei nada se houver outra pessoa

comigo — teimou Glenys.

— Fique tranqüila, eu encontrarei uma maneira de

seduzir os espíritos. Será que algum deles é mulher? —

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perguntou ele, deitando-a na cama.

Pentre Ifan, o antigo cemitério sagrado celta nas

colinas Presili, era um lugar sombrio, porém Glenys

nunca sentira medo. Quando criança, adorava o período

em que a família dedicava a visitar os locais santos de

Gales, e aquele era seu favorito. Sentia-se familiarizada e

à vontade, como se estivesse em uma parte de sua casa.

E fora ali, naquele mesmo lugar, que escutara vozes pela

primeira vez. A princípio não compreendera as palavras,

todavia, as escutara. Ao contar o ocorrido aos tios e tias,

eles se mostraram bastante contentes, bem como seu

pai, mas sua mãe e Daman não. A mãe a proibira de

comentar o assunto com qualquer pessoa, e o irmão

insistira que se tratava do vento constante da região e da

imaginação. Nada além disso.

Glenys tinha seis anos de idade na época e

acreditava em magia. Fora a partir desse incidente que

começara a ter receio, até a questionar se era real ou se

seu pai e seus tios fingiam que era. A única certeza que

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tinha, a julgar pelo comportamento da mãe e do irmão,

era que a magia, real ou não, era algo perigoso.

Tendo isso em mente, Glenys aprendera bem

depressa que não podia comentar sobre as vozes que

costumava ouvir nos lugares sagrados, ou das palavras

que compreendia cada vez com mais clareza. O problema

era que, normalmente, previam o futuro, algo difícil de

ignorar. Por exemplo, que sua mãe ficaria grávida, mas

não que morreria no parto. Ou que seu pai lhe seria

tirado, embora ela não tivesse compreendido que seria

para sempre. E fora em Pentre Ifan, meses atrás, com a

neve sob seus pés, que descobrira que a Pedra da Graça

fora roubada de sua família. Por Caswallan.

Pela primeira vez ela quebrara o silêncio imposto e

contara aos tios e tias o que escutara. Sentira um grande

alívio, apesar de toda a consternação que lhes causara.

Todos acreditaram sem questionar, como acontecera

quando Glenys era criança.

E lá estava ela mais uma vez, sob a brisa fria da

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tarde, sentindo o cheiro de mar. Acima, as nuvens

corriam pelo céu, escurecendo à medida que a chuva de

verão se aproximava.

O cemitério já não era mais o mesmo, pois a terra

fora levada para longe pelo vento, deixando nada além

das grandes pedras, como em Stonehenge. Os celtas as

haviam colocado ali centenas de anos atrás, e ainda

continuavam intactas, revelando a mesma importância

para a família Seymour.

— Não é lindo? — murmurou ela, olhando para os

lados, deleitando-se com o vento frio em seu rosto.

— Sim — respondeu Kieran, de cima da pedra onde

estava sentado, segurando a rainha nas mãos. — Muito

lindo. E frio. Boadicea parece contente — acrescentou

ele, olhando fixamente para a peça de xadrez. — Os

olhos dela brilham como fogo, está vendo?

Com passos lentos, Glenys se aproximou.

— É verdade. Você não imagina como é estranho

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vê-lo sentado aí, com essa peça nas mãos. Meu tio Culain

costumava trazê-la no bolso a Pentre Ifan, e sentava-se

nesse mesmo lugar. Ele acreditava que era bom para as

fadas. Sei que é tolice, mas lhe dava um imenso prazer.

— Fadas? Aqui? Achei que elas escolheriam um

lugar um pouco mais acolhedor do que essas colinas

frias.

— Claro, eu também, se é que elas existem. Dizem

que aparecem em Pentre Ifan tarde da noite, embora eu

nunca tenha visto.

— Duvido que você tenha estado aqui tarde da

noite.

— Eu não, mas minha prima Helen costumava vir

quando ia visitar Glain Tarran. Todavia, nunca viu

nenhuma fada.

Kieran levantou-se e balançou a cabeça.

— Quanto mais escuto sobre sua prima Helen, mais

estranha a acho. — Ele beijou-lhe a testa. — Quer que eu

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a deixe sozinha por alguns instantes?

— Sim. Dez minutos apenas.

— Cinco. E nem um minuto a mais. E ficarei perto o

suficiente para socorrê-la, caso precise de mim.

Kieran se afastou, deixando-a sozinha. Ela ficou

olhando até não enxergá-lo mais, com o coração cheio de

amor e admiração por aquele homem tão especial.

Suspirando, Glenys apertou a capa contra o peito e olhou

para o céu.

Não tinha a menor idéia de quanto tempo se

passara quando escutou os gritos furiosos de Kieran.

Momentos depois viu-o correndo.

— Pegue-o! Faça-o parar!

Glenys olhou ao redor e não viu nada.

— Pegue-o! Depressa! — Kieran apontou para a saia

de Glenys. — Ele está bem aí! Maldito!

Assustada, ela arregalou os olhos, procurando por

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algo que justificasse todo aquele nervosismo.

— O que foi? Não estou vendo nada!

— Ele fugiu de novo! — gritou Kieran, correndo na

direção dos arbustos. — Ele pegou a rainha!

Mais uma vez Kieran desapareceu, deixando-a

completamente confusa, imaginando se deveria

continuar ali parada ou segui-lo. Conseguia ouvi-lo, como

se lutasse com alguém, o que a levou a crer que talvez

tivesse enlouquecido.

— Seu monstrinho! Vou arrancar a sua cabeça!

Arghhh!

— Kieran! — gritou ela, correndo em direção às

vozes. Dina e Jean-Marc apareceram naquele instante,

trazendo Nimrod. Jean-Marc desceu de seu cavalo e

desembainhou a espada.

— O que houve? Onde está Kieran?

— Aqui — respondeu ele, saindo do meio dos

arbustos apertando o dedo. — Aquela coisa me mordeu!

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Olhem só, está sangrando!

— Ah, meu Deus! — Glenys tirou um lenço do bolso

e foi até Kieran. — Permita-me fazer uma atadura. — Ela

arregalou os olhos ao ver a pequena mordida. — Como

isso aconteceu?

— Foi aquele homem pequeno!

— Onde posso encontrá-lo? — perguntou Jean-Marc,

pronto para ir em busca do sujeito. — Como ele é?

— Um elfo, usando uma capa vermelha -—

respondeu Kieran. — Mas não adianta procurá-lo. Ele já

foi embora.

— Um elfo? — repetiu Jean-Marc, fitando-o

incrédulo.

—. Sim. Pelo menos ele me devolveu a rainha. Foi

ordem dela, caso contrário o elfo teria desaparecido

levando-a consigo. Ai!

— Desculpe — murmurou Glenys, beijando o dedo

ferido. — Pronto. O sangramento parará dentro de alguns

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instantes. O que você disse para enfurecê-lo tanto assim?

— Você acredita em mim? — perguntou Kieran. —

Era um elfo. Ou uma dessas fadas.

— Não sei mais no que acreditar, mas eu não teria

coragem de falar sobre isso com qualquer pessoa sã.

Enfim, conte-nos o que aconteceu.

— Eu não sei direito — respondeu Kieran, olhando

para os três companheiros. — Eu estava encostado em

uma árvore, olhando para a peça de xadrez e contando o

tempo, quando um homem pequeno usando uma capa

vermelha apareceu do nada. Eu soube imediatamente

que se tratava de um elfo ou de algum tipo de fada.

— Ora, Kieran, não me venha com tolices. Era

apenas um homem pequeno, um caçador ou pastor.

— Não, não era. Ele fez uma mesura e se dirigiu a

mim como "milorde". Eu lhe disse que não era lorde,

então ele fez outra mesura e me chamou de lorde

Eneinoig.

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— Como? — exclamou Glenys, atordoada. — Lorde

Eneinoig? Impossível.

— Eu lhe disse o mesmo, mas ele sorriu, arrancou a

rainha da minha mão e saiu correndo. Fui atrás e, quando

tentei tomá-la de volta, o elfo me mordeu. Eu estava

prestes a torcer-lhe o pescoço, e foi quando a rainha

falou.

— Ela falou? Meu tio dizia que ela falava, mas eu

nunca escutei.

— Na verdade não sei se foi a rainha, mas escutei a

voz de uma mulher. O elfo olhava para a peça de xadrez

como se a voz estivesse vindo dela. Ela lhe disse para me

obedecer e para me pedir desculpas. Ele obedeceu no

ato, curvou-se diante de mim e pediu-me desculpas,

depois entregou-me a peça. Então desapareceu.

— Ora, Kieran! — ralhou Jean-Marc.

— É sério! E tem mais — continuou ele, virando-se

para Glenys. — Ela… a voz também me disse que…

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— Fale…

— Caswallan está em Frenni Fawn, perto de

Cardigan, e sir Anton está com ele. Eles uniram forças,

Glenys. Se pretendemos recuperar a Pedra da Graça,

teremos de tirá-la dos dois.

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CAPÍTULO XV

Jean-Marc preferia usar a força bruta. Kieran, o bom

senso. Dina preferia não ter nada a ver com o assunto,

embora tivesse se disposto a fazer tudo que sua senhora

lhe pedisse. Glenys se recusava a ser dominada. Tinha de

enfrentar Caswallan sozinha e usar a rainha para tentar

recuperar a Pedra da Graça.

Kieran discordava de tal atitude, mas Glenys era

extremamente teimosa.

— Você não entende que preciso conversar a sós

com ele? — teimou ela, durante o jantar no bordel de

Berte. — Como poderei barganhar se você ou sir Anton

estiverem presentes? Não. De jeito nenhum. Vou falar

sozinha com Caswallan, e você cuidará para que sir

Anton ou qualquer outra pessoa não nos interrompa.

— Mas eu jurei que não deixaria Caswallan ter

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Boadicea — disse Kieran. — Seu tio a quer de volta.

— Esse já é outro assunto. E deixarei que você e

Jean-Marc resolvam. Com suas habilidades, vocês não

terão dificuldade para recuperá-la, se for o caso. A

presença de sir Anton não me preocupa mais. Não

consigo acreditar que persuadiu Caswallan a juntar-se a

ele para terem a Pedra da Graça, mas lhe foi dito assim.

— As vozes não lhe disseram nada? — perguntou

ele, enchendo outra vez seu copo de vinho.

— Não. E não é a primeira vez que elas me

abandonam, porém é a primeira que o fazem em prol de

outra pessoa que nem mesmo é da família. É muito

estranho — comentou Glenys, observando-o com

atenção. — Há alguém da sua família que possui poderes

mágicos ou que pelo menos tenha conhecimento sobre

magia?

— Não. Todos são tão práticos e sensatos quanto

você, minha querida. Meus parentes são conquistadores

da terra, e não amigos dela.

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Glenys ficou insatisfeita com a resposta e recostou-

se na cadeira, suspirando.

— Deve haver um motivo para você ter escutado as

vozes, e não eu.

— Espero que não esteja com ciúme, meu amor —

brincou Kieran, esperando que não fosse esse o caso.

Não queria vê-la triste de jeito nenhum. -— Acredito que

tenha ocorrido um engano pelo fato de eu estar

segurando a rainha. Não vejo outro motivo.

Pensativa, Glenys passou o dedo na borda do copo,

olhando para Kieran.

— Pode haver outro motivo, sim, mas não quero

conversar a respeito agora. Em vez disso, vamos fazer

nossos planos para amanhã cedo, quando enfrentaremos

nossos inimigos e recuperaremos o que pertence a minha

família.

— Suponho que Caswallan não esteja sozinho e que

seus seguidores farão de tudo para proteger a vida de

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seu mestre.

— Não tenho medo. O nome de meu tio Aonghus é

bastante conhecido entre aqueles que seguem os antigos

costumes, e minha família é mais conhecida ainda.

Duvido que eles nos prejudicassem em nome de

Caswallan, apesar do que ele conseguiu com o anel. Há

mais mistério do que magia por trás dele.

— Caswallan não é um renomado feiticeiro?

— Se é que um homem pode ser chamado assim,

Caswallan é um feiticeiro, mas ninguém pode fazer com

que um simples anel tenha poderes se não tiver

inclinação para as artes. Qualquer mágica que tenha sido

feita nos últimos tempos com a Pedra da Graça é apenas

ilusão de ótica, e não algum tipo de poder do anel.

— Então ele é um simples mágico? — perguntou

Jean-Marc, colocando seu copo de vinho na mesa. — Se

for assim, não temos o que temer. Você cuida de sir

Anton e a srta. Glenys se entende com Caswallan. Dina e

eu tomaremos conta do resto.

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O acampamento de Caswallan deixou Kieran cheio

de desconfiança sobre sua promessa de permitir que

Glenys encontrasse o homem e falasse com ele a sós.

Não que houvesse muitos seguidores, porém os poucos

que o idolatravam eram bastante estranhos. Vestiam-se

de branco e não falavam quase nada. Todavia, quando os

dois se aproximaram das tendas e cabanas, todos se

reuniram à volta dela.

Quando Glenys colocou os pés no chão, virou-se

para o grupo sem esconder sua urgência.

— Onde ele está?

Nenhum deles abriu a boca, mas todos se viraram e

apontaram para a maior tenda do grupo, que parecia

uma capela de madeira desabitada ou abandonada.

Frenni Fawr era um lugar frio onde ventava bastante, e

os vilarejos próximos, pequenos. Só pessoas bem fortes

conseguiam viver naquelas colinas.

— E sir Anton?

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As mãos mudaram de direção, onde fora montada

uma cabana muito elegante, cuja seda branca que a

protegia voava com o vento. Sim, é claro que sir Anton

escolheria um abrigo como aquele, apesar de toda a falta

de praticidade. Combinava bem com seu estilo de vida.

— Vou falar com Caswallan — informou Glenys aos

espectadores, falando devagar e em inglês, para alívio de

Kieran. — E sozinha. Sou Glenys Seymour, sobrinha de

Aonghus Seymour. A Pedra da Graça pertence a minha

família e, embora esteja sob os cuidados de Caswallan há

alguns meses, vim buscar o anel para levá-lo de volta ao

local ao qual pertence.

Glenys não comentou nada sobre o fato de

Caswallan ter roubado o anel, uma decisão sábia,

considerando que aquelas pessoas tinham o suposto

feiticeiro em alta estima.

— Este homem é Kieran FitzAllen, um grande

lutador que foi reconhecido por aqueles que habitam

Pentre Ifan. — Depois dessas palavras, um suave

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murmúrio começou, obrigando-a a erguer a voz. — Eles o

enviaram para me proteger e me ajudar neste assunto.

Entretanto, ele tem um ressentimento com sir Anton

Lagasse. É apenas um ressentimento, sobre o qual os

dois conversarão em breve. Não tentem impedi-lo, nem a

mim, a não ser que queiram irritar aqueles que nos

enviaram. Só assim poderemos garantir que nada

acontecerá a vocês. Combinado?

O murmúrio aumentou, alguns concordando, outros

não. Kieran compreendia como era difícil para os devotos

de Caswallan abandoná-lo, mesmo que pela Pedra da

Graça, ainda mais por ordem de uma mulher.

Glenys também entendia a dificuldade, e por isso

decidiu provar sua importância.

— Vocês precisam de um sinal?

— Sim — responderam várias vozes. — Um sinal.

— Está bem. — Ela caminhou até uma das pequenas

fogueiras espalhadas pelo acampamento, protegidas do

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vento por pedras empilhadas.

Kieran foi atrás, seguido pela pequena multidão.

— O que você pretende fazer? — sussurrou ele.

— Realizar magia.

Glenys enfiou a mão no bolso, fazendo-o adivinhar

seu plano.

— Eles não perceberão que é apenas um pó?

— Eles verão o que quiserem ver. Se não funcionar,

precisaremos de outra tática. Imagino que Caswallan já

tenha lhes mostrado muitos de seus poderes.

Ela parou diante da fogueira e levantou as mãos e o

rosto para o céu.

— Espíritos da Terra, provem que tudo que eu disse

diante destas pessoas, seus serventes, é a mais pura

verdade. Enviem-nos um sinal para justificar que nos

mandaram até aqui para recuperar a Pedra da Graça e

levá-la de volta ao lugar ao qual pertence.

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Em seguida Glenys baixou as mãos rapidamente,

soltando o pó. Foi um gesto muito bem realizado, pensou

Kieran, observando-a com atenção. Se não soubesse da

existência do pó, jamais teria percebido que ela o jogara

no fogo.

Como de costume, o pó apagou as chamas,

causando uma grande fumaceira, bem como faíscas que

se espalharam pelo ar. Depois de um tempo, tudo

desapareceu.

Então, quando todos a olhavam com ar de espanto e

admiração, Glenys, satisfeita com seu feito, notou que

algo que não tinha nada a ver com o pó acontecera.

Um brilho bem diferente do produzido pelo pó

mágico se formara junto às brasas. Era branco, brilhante,

como milhares de pequenas estrelas, porém redondo e

frio como uma bola de cristal cigana. O objeto levantou-

se das cinzas, cintilando com tanta intensidade que todos

tiveram de proteger os olhos ou virar de lado.

A multidão se afastou, e Kieran abraçou Glenys,

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puxando-a para trás. Estupefatos, eles ficaram

observando o que ocorria.

A bola ergueu-se um pouco mais, como uma lua

cheia, e continuou subindo na direção do céu.

Lentamente, ela começou a rodopiar. Cada vez mais

depressa, a bola girava, tão reluzente que parecia ser

feita de fogo.

De repente, ela explodiu em inúmeras partículas,

caindo como estrelas em miniatura na terra. As pessoas

gritaram e saíram correndo, temendo que as faíscas

fossem quentes, mas Kieran e Glenys não se moveram,

encantados com o brilho daquelas micro-partículas. Eram

geladas ao toque e provocavam uma sensação de

formigamento quando caíam sobre a pele. Junto com elas

vinha um delicioso perfume floral. Kieran esticou o braço

no intuito de tentar pegar algumas, porém elas desapa-

reciam assim que encostavam em algum lugar, como

brilhantes flocos de neve. Nunca vira algo parecido.

— O que aconteceu? — perguntou ele, à medida que

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os outros foram voltando para perto, esticando os braços

para tentar pegar as estrelas. — O que é isso?

— Nosso sinal — murmurou Glenys, maravilhada. —

Não podemos ficar nem mais um segundo aqui, pois

Caswallan e sir Anton logo ouvirão sobre o ocorrido.

Venha. — Ela o puxou e os dois se afastaram da multidão

estupefata. — Eles não nos impedirão agora. Olhe como

estão maravilhados.

— É verdade.

— Vamos depressa. Você cuida de sir Anton e eu de

Caswallan. Se Jean-Marc e Dina fizerem seus papéis,

estaremos de volta à casa de Berte antes do anoitecer.

A decrépita capela estava às escuras quando Glenys

entrou.

As velas, cujas chamas sopravam com o vento que

entrava pela porta aberta, facilitavam a visão.

Caswallan estava lá, vestindo uma túnica branca,

sentado em uma cadeira ridícula que imitava um trono.

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Era um homem alto e magro, idoso, como seu tio

Aonghus, com uma longa barba branca.

Ele se levantou assim que Glenys entrou na capela,

apoiando-se em um comprido pedaço de madeira. A

Pedra da Graça brilhava no dedo magro da mão direita. A

medida que se aproximava de Caswallan, ela pôde

enxergar o temor nos olhos azuis.

— Eu sabia que você viria — disse ele, com a voz

trêmula. — Alguém da sua família, embora eu tenha

torcido para que não fosse Aonghus.

— Ele não sabia onde encontrá-lo — respondeu

Glenys, falando em gaulês. — Eu sabia.

— Você veio buscar o anel, mas não o terá. Ele não

pode ser tirado à força da mão de quem o usa, apenas

por quem o usa.

Glenys parou bem na frente do homem,

sustentando seu olhar.

— Você jamais deveria ter roubado esse anel,

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Caswallan. Não foi somente uma atitude errada, pois

sabe tanto quanto eu o que diz a lenda da Pedra da

Graça. Só o herdeiro legítimo pode exigir seus poderes.

— Está enganada, minha filha. O anel em si não

possui poderes e, além disso, não preciso deles, pois sou

um mágico habilidoso, como seu tio. Entretanto, preciso

do anel para reunir as pessoas a minha volta. Sem o anel,

todos irão embora.

— E por que você quer mantê-los aqui? Não é um

poderoso exército, mas sim um bando de pessoas que

seguem os antigos costumes. Você não tem nada aqui, a

não ser seu orgulho tolo. É muito divertido.

— Essa pode ser a sua opinião, porém não será

sempre assim. Com o tempo, a notícia de que um

verdadeiro sacerdote voltou à casa se espalhará por toda

a Gales, então todos me seguirão.

— E qual é o seu objetivo? — perguntou ela. —

Imagina que um dia conseguirá reunir tanta gente para

fazer outra rebelião? É Owain Glyndwr que você deseja

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ser? Gales já não viu vingança e sangue suficientes? Foi

por isso que se uniu a sir Anton?

Por ele ter o dinheiro que vocês precisam para se

armarem e provocarem uma guerra?

— Não, não é isso — respondeu o velho. — Sir Anton

é meu discípulo. Ele quer aprender tudo que eu sei e

continuar com os antigos costumes. E ao contrário da sua

ameaçadora família, que tomou terras e riqueza por toda

a Inglaterra, ele é fiel apenas a Gales.

— É uma grande mentira — respondeu Glenys, com

toda a calma. — Conheço muito bem sir Anton. Ele não é

fiel a nenhum país e a nenhum homem, a não ser a si

mesmo. Ele jurou conseguir a Pedra da Graça para seu

próprio benefício e é essa sua verdadeira intenção. Juro

pelo nome de minha família. Pergunte-me o que quiser

sobre esse homem que eu lhe responderei na hora.

Depois, peço para que conversemos a respeito da Pedra

da Graça. Eu trouxe algo que talvez você queira trocar

pelo anel.

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— O que é?

Glenys balançou a cabeça.

— Primeiro, quero saber se você acredita no que eu

lhe disse sobre sir Anton, pois quando eu sair daqui,

quero ter a certeza de que você não terá mais nenhum

tipo de contato com ele. Para sempre.

Caswallan ficou pensativo e Glenys esperou,

paciente, apesar de saber que tinha de ser rápida. Ainda

assim, preferia não insistir, pois queria que ele se

sentisse destemido na futura barganha.

Na tenda de sir Anton, a negociação era feita de

maneira bem diferente.

Kieran o surpreendeu adentrando na imponente

moradia com a espada em punho, gritando para seu

inimigo aparecer. Sir Anton, sentado à mesa e sendo

tratado por dois de seus serventes, levantou-se tão

depressa que virou a mesa, derrubando no chão tudo que

estava em cima.

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Ao avistar Kieran, que vinha em sua direção sem a

menor intenção de parar, sir Anton saiu correndo,

enquanto seus criados saíram, esbaforidos, desesperados

para todos os lados. Cerca de dez soldados comiam e

bebiam na tenda de seu senhor, mas foram pegos tão de

surpresa que não tiveram tempo de pegar suas armas e

impedir Kieran de agir. Dois deles tentaram se jogar em

seu caminho, em vão. Ele sabia que tinha pouco tempo

antes que eles se armassem, porém precisava distrair sir

Anton pelo menos até que Glenys terminasse seu

assunto com Caswallan.

— Trapaceiro! — berrou ele, fazendo sir Anton correr

de um lado para o outro. — Bandido! Mentiroso!

Assassino!

— Peguem-no! — implorou sir Anton, dirigindo-se

tanto a seus soldados quanto a seus criados. — Matem-

no! Depressa!

— O quê? Você acha que esses sujeitos conseguirão

me pegar?

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— Ele acertou um atrás do outro, derrubando três

homens em questão de segundos. — Eu prefiro ser

comido vivo por um bando de porcos do que ser morto

por esses idiotas. Agora venha receber o que lhe é de

direito, Anton Legasse. — Kieran avançou até o covarde,

pronto para desferir um golpe com sua espada. Atrás,

escutou os soldados restantes se preparando para

atacar. Sabia que não conseguiria controlá-los por muito

tempo e torceu para que Glenys terminasse depressa sua

conversa com Caswallan.

Na escuridão da capela, Caswallan estava com os

olhos arregalados, fitando a rainha de xadrez, que Glenys

segurava na mão.

— Eu tinha escutado rumores sobre a existência da

peça, mas nunca alimentei a esperança de que um dia a

veria. Você está mentindo, garota. Jamais daria algo tão

valioso em troca da Pedra da Graça. Esta rainha de

xadrez, com centenas de anos de existência, possui

poderes que nem imaginamos existir.

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— Não, eu não a entregaria a você — admitiu ela —,

porém foi meu tio Culain que se separou do objeto que

mais estima para ter de volta o que é de direito da minha

família.

Caswallan chegou mais perto, estendendo a mão

para a peça de xadrez. Seus olhos haviam se tornado

sombrios, notou Glenys. Sentiu um calor na mão, como

se a rainha estivesse criando vida. Não poderia ser mais

perfeito.

— Ela é tão linda… — murmurou Caswallan,

abobalhado.

— Se eu a possuísse, meus poderes seriam infinitos.

Ela me sussurraria todos os seus segredos e me guiaria

pela vida. Nada me impediria de…

Glenys deu um passo para trás, afastando a peça da

ganância daquele homem.

— Você também acha? Eu exigiria um juramento de

que você nunca mais faria nenhum tipo de aliança com

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sir Anton Lagasse e que me devolvesse a Pedra da Graça.

— Está bem — concordou ele, estendendo a mão. —

Você tem a minha palavra. Vou mandar sir Anton Lagasse

embora o mais depressa possível. Dê-me a rainha. Deixe-

me apenas segurá-la por alguns instantes.

— O anel — lembrou Glenys. — Tire-o antes do

dedo, então eu lhe entregarei a peça de xadrez.

Logo que Caswallan lhe entregou o anel, ela o

colocou no dedo sem pestanejar, temendo perdê-lo

novamente.

— E linda — comentou ele, como se tivesse recebido

o maior prêmio existente sobre a terra. — Maravilhosa.

Eu a sinto quente na minha mão. Quase como se fosse

queimar meus dedos. Ela é sempre assim?

— Você não sabe? — perguntou Glenys, fingindo-se

de inocente. — Ela se aquece quando está feliz, como

deve estar agora por ter encontrado um verdadeiro

crente. Entretanto, você deve guardá-la em algum bolso

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até o momento em que quiser mostrá-la a seus

seguidores, quando estará pronta para atender seus

pedidos. Leve-a imediatamente a eles, pois estou

levando a Pedra da Graça embora e seus seguidores

precisam ter a confiança reafirmada.

— É verdade — concordou Caswallan, satisfeito. —

Vou apresentar a rainha a eles agora, mas peço-lhe que

fique a meu lado. Será muito importante saber que há

um membro da família Seymour aqui e que você lhes deu

um presente.

Glenys pressionou os lábios para não lhe dizer que

sua família jamais presentearia um ladrão com algo tão

precioso. Todavia, achou melhor atender ao pedido de

Caswallan, principalmente depois de vê-lo colocar a

rainha no bolso.

— Será um grande prazer.

Kieran esperou até o momento certo para erguer

sua espada e fazer uma abertura na seda atrás de si. No

instante em que dois dos homens de sir Anton tentaram

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encurralá-lo, ele escapou pela abertura, fazendo com que

tropeçassem e caíssem. Depressa, aproveitando a

confusão, ele rodeou a tenda, soltando todas as cordas

que a prendiam. Os gritos assustados de seu inimigo

trouxeram-lhe um sorriso aos lábios.

— Tolo — murmurou ele, olhando os homens se

debatendo sobre a seda.

Glenys e Caswallan tinham acabado de sair da

capela e, junto com a multidão que os seguia,

observavam, estupefatos, o caos que se instalara ali.

Perfeito.

— Eles enlouqueceram! — gritou Kieran, tentando

parecer o mais assustado que podia. Então saiu correndo

em direção à multidão. — Eles querem nos pegar! Todos

estão insanos! Segurem as crianças e corram! Depressa!

Sem conseguir conter o riso diante daquela cena tão

bizarra, Glenys cobriu a boca com a mão. Jean-Marc, por

sua vez, fazia a sua parte em toda aquela encenação,

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beirando a perfeição. Vestido todo de branco em meio

aos seguidores de Caswallan, ele ergueu os braços e

começou a gritar:

— Eles estão armados! Vão nos matar! Corram!

Corram! As pessoas começaram a sair correndo em todas

as direções, sem saber o que fazer, sem saber ao certo

aonde ir. Como era fácil armar uma confusão, pensou

Kieran.

— Acalmem-se! — pediu Caswallan, parado ao lado

de Glenys no meio de todos. Ela não se mexeu, apenas

aguardava a chegada de Kieran, que vinha em sua

direção.

Ele pegou-lhe a mão e guiou-a até as árvores onde

Dina os esperava.

— Achei que você nunca mais voltaria — disse a

criada, passando as rédeas do cavalo para Kieran. — E

quando toda aquela barulheira começou…

— Agora está tudo bem, Dina — garantiu Glenys. —

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Olhe, eu consegui o anel de volta.

— Não acredito! Seus tios ficarão tão contentes!

Nosso bom Deus seja louvado. Mas onde está Jean-Marc?

Por que não veio com vocês?

— Estou aqui, meu amor — respondeu uma voz do

outro lado da clareira onde eles estavam parados.

Jean-Marc apareceu com um belo sorriso no rosto,

tirando as roupas brancas e jogando-as longe.

— Olhem o que vocês estavam esperando — disse

ele, tirando a rainha de xadrez do bolso e segurando-a na

palma da mão. — Ela estava quente como fogo quando

eu a peguei, mas agora já esfriou. Caswallan não

desconfiou de nada. O velho foi carregado por seu povo,

que queria mantê-lo a salvo. Queria que vocês tivessem

visto. Foi engraçado. Eu nunca tinha visto um homem

daquela idade gritando como uma menina histérica.

Todos riram, num misto de alegria e alívio.

— Jean-Marc, nem sei como lhe agradecer — disse

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Glenys, vendo-o passar a rainha para a mão de Kieran.

Os olhos da peça estavam dourados, o que a deixou

bastante contente. — E meu tio Culain fará o mesmo

quando souber que você recuperou o que lhe é mais

precioso.

Jean-Marc fez uma mesura.

— Estou contente por ter sido útil, milady. Se estiver

pensando em me dar uma recompensa, não pensarei

duas vezes em lhe pedir para escolher sozinho.

— Peça o que quiser. Ele olhou para Dina.

— Agora não temos tempo, mas, se conseguirmos,

conversaremos à noite, quando estivermos a salvo na

casa de Berte.

Glenys sabia muito bem o que ele tinha em mente e

quando abriu a boca para dizer "tudo menos isso", Kieran

puxou-a pelo braço, impedindo-a de se pronunciar.

— A srta. Glenys terá enorme prazer em recebê-lo e

ouvir o que tem a dizer, Jean-Marc — disse ele. — Por ora,

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vamos sair daqui antes que sir Anton, estúpido como é,

decida que precisa recuperar a Pedra da Graça ou a

rainha de xadrez.

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CAPÍTULO XVI

— Eles estão vindo nos pegar! — gritou Glenys,

rindo, enquanto Kieran a perseguia em volta da cama. —

Corra!

— Claro… Ai! — Ele chutou o pé da cama e começou

a pular para amenizar a dor. Glenys não conseguiu conter

as risadas.

— Não estou achando graça nenhuma.

— Foi engraçado — disse ela, deitada na cama,

enxugando as lágrimas dos olhos. — Se você tivesse se

visto correndo como um lunático… Eu nunca vou me

esquecer dessa cena. Foi muito engraçado!

— E eu também nunca me esquecerei do seu

comportamento terrível. Rindo de mim como se tudo

fosse uma piada. Eu tentei ser o mais convincente

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possível na minha tentativa de assustar a todos.

— Ah, você não imagina o quanto foi convincente,

Kieran — garantiu ela, sorrindo. — Eu estava tremendo

de medo quando o escutei gritando para que saíssemos

correndo. Posso lhe assegurar que nunca passei tanto

medo em toda a minha vida — zombou Glenys.

Kieran puxou-a para debaixo de seu corpo.

— Você é a mulher mais cruel que já conheci —

brincou ele, fazendo-lhe cócegas. — Sim, cruel. Como

ousa zombar de mim depois de tudo que passei para

recuperar seu precioso anel e a rainha de xadrez?

— Paz! — pediu ela, tentando prender-lhe as mãos

para esquivar-se das cócegas. — Por favor, eu lhe

imploro, pare! Vamos fazer um acordo.

— Está bem — disse Kieran, aproximando-se. —

Saiba, entretanto, que você magoou meus sentimentos

rindo de mim dessa maneira, e eu exijo uma reparação.

— Será um prazer. Que tal uma massagem nas

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costas? É suficiente?

— Não.

— Deixe-me ver, então… — Quer que eu lhe compre

uma capa nova, feita da mais fina lã e tingida de

vermelho?

— De jeito nenhum, senhorita. Acho bom pensar em

algo muito melhor.

— Melhor? — perguntou ela, franzindo as

sobrancelhas. — Devo amarrá-lo nesta cama por um dia

e uma noite e fazer tudo que estiver ao meu alcance para

satisfazê-lo?

— Misericórdia! De capas a idéias depravadas! Sua

mente é um espetáculo, Glenys. Acho que ficarei com a

última opção.

Ele inclinou-se para beijar-lhe os lábios, e logo a

atmosfera de brincadeira se desvaneceu, cedendo

espaço à atenção de um pelo outro. Kieran deslizou a

mão pela fina camisola que ela usava, enquanto Glenys

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lhe acariciava o peito nu.

Apesar de todo o bom humor devido ao sucesso do

plano, havia um certo desespero para o ato de amor,

principalmente para Kieran. Assim que chegaram na casa

de Berte, ele a levara para o quarto que lhes fora

reservado, possuído por uma incontrolável urgência de

passar cada momento possível ao lado da mulher amada.

Aquela seria a última noite dos dois juntos, uma vez

que a Pedra da Graça e a rainha de xadrez estavam a

salvo. Não havia como fingir que teriam mais tempo

sozinhos, por mais sedutora que fosse a idéia. Já fazia

muito tempo que Glenys estava longe da família, e

Daman certamente não tardaria a aparecer.

Kieran já tinha decidido o que fazer. Ao amanhecer,

quer ela concordasse ou não, eles iriam para Glain Tarran

e seguiriam caminhos diferentes. Para sempre.

Glenys já não vestia mais sua camisola, nem Kieran

sua calça. Ele a tocava em todos os lugares possíveis,

proporcionando-lhe prazer e deliciando-se com as

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carícias que recebia em troca.

— Quero que você me possua — sussurrou ela,

puxando-lhe os cabelos enquanto sentia os beijos

molhados em seus mamilos intumescidos. — Por favor,

Kieran…

— De jeito nenhum. Por tudo que é sagrado, Glenys,

pare de me tentar desse jeito.

— Por favor — suplicou ela mais uma vez. — Só uma

vez. Quero estar por inteiro com você, ser sua, senti-lo

dentro de mim.

Com um gemido, Kieran se virou para silenciá-la

com os lábios, beijando-a longa e intensamente.

— É tudo que eu mais quero — admitiu ele, com a

voz áspera. — Mas eu não ousarei tirar sua virgindade.

Eu te amo, Glenys — sussurrou, beijando-lhe a testa. —

Não me peça para arruiná-la dessa maneira. Eu jamais

poderia me perdoar.

— Então você se casaria comigo e me aceitaria

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como esposa? — perguntou ela. — Como eu o aceitaria

como marido? Nesse caso, poderíamos estar juntos sem

qualquer tipo de preocupação.

Kieran procurou-lhe os olhos, tentando controlar os

batimentos acelerados de seu coração. Não sabia se

conseguiria falar sem revelar como aquelas palavras lhe

eram dolorosas. Ele abriu a boca, mas nenhum som saiu.

Então respirou fundo e levantou-se da cama, caminhando

até a pequenina janela do quarto. Apoiou as mãos no

parapeito, no intuito de tentar acalmar os nervos. Atrás,

escutou Glenys sentando-se na cama.

— Você não quer mais se casar comigo? —

perguntou ela, com uma certa hesitação na voz.

— Eu já lhe disse que a faria minha esposa se

pudesse, porém é algo impossível. E um grande suplício

falar no assunto, ainda mais sabendo que nos

separaremos ao amanhecer e que nunca mais nos

veremos.

— Eu até concordava que era impossível — admitiu

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ela. — Até ontem. Entretanto, agora vejo que não é. Nós

podemos nos casar, se quisermos.

— Sua família jamais permitiria que você se casasse

com um homem como eu — falou Kieran, balançando a

cabeça. — Como pode começar a acreditar que um

milagre como esse é capaz de acontecer?

— Não sei se você compreenderá, mas mesmo

assim tentarei explicar. É que… o nome pelo qual o

homenzinho o chamou em Pentre Ifan, lorde Eneinoig,

muda tudo. Kieran soltou uma sonora risada.

— Não muda nada, minha querida. Um pequeno

estranho, travesso e com dentes afiados, pode me

chamar do que quiser, porém nada mudará o que eu sou,

o que eu tenho sido desde o dia em que nasci. Se

acredita que seus tios e tias não se chocarão com a

simples idéia de uma união como a nossa, imagine só

como seu irmão receberia uma novidade dessas. Garanto

que ele preferiria vê-la morta pelas próprias mãos a

permitir que você se casesse com um homem como eu.

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Glenys ficou em silêncio por alguns instantes,

cabisbaixa.

— Pode ser que sim, Kieran, mas prefiro não pensar

assim E não teria o menor problema em me arriscar. Eu

nunca pensei… ou melhor, eu sabia que nunca me

casaria, que nenhum homem me amaria. E…

— Glenys — suplicou ele, com a voz rouca —, não

diga mais nada, por favor. Prefiro que você me mate.

Você sabe o quanto eu te amo. Eu faria tudo que

estivesse ao meu alcance para me casar com você, até

mesmo para mantê-la perto de mim. Entretanto, não me

atrevo a arruinar a sua vida em nome de minha

reputação. Você não sabe o que é ser um excluído, o que

certamente aconteceria se nos casássemos.

— Sabe, Kieran, eu preferia ser desprezada por todo

mundo, se é que isso aconteceria, do que viver o resto da

minha vida como vivi até hoje. E não acredito que você

tenha muita escolha nesse assunto. Depois do que você

foi chamado em Pentre Ifan, tenho plena convicção de

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que nosso destino é ficar juntos. Apesar de tudo que

possam tentar fazer para evitar.

Por fim Kieran virou-se, encontrando Glenys sentada

na cama, nua, os cabelos longos da cor do pôr-do-sol

caindo-lhe pelo ombros. Ela o fitava com olhos brilhantes,

o que o fez descobri que não havia o que fazer contra o

desejo e o amor que lhe inundavam o peito.

— Eu… Eu tenho uma propriedade — disse ele,

tentando fazer sua oferta de modo a não parecer ridículo.

— É pequena, bem pequena. Ganhei do meu pai.

Glenys, em vez de parecer chocada, como ele

imaginara que aconteceria, mostrava-se encantada.

— Uma pequena propriedade? — repetiu ela,

sorrindo. — E onde fica?

— Em Derbyshire. Há uma criação de ovelhas. Já

estive lá inúmeras vezes, porém não o suficiente para

conhecer muito sobre o lugar. Meus criados cuidam da

casa principal, das ovelhas e do gado. Ganhei do meu pai

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muitos anos atrás, quando completei dezoito anos.

Chama-se Greenvale. Nunca dei atenção para a

propriedade, deixando-a sempre nas mãos dos outros.

— Pode ser, mas já é um bom começo, meu lorde

Eneinoig. Eu o ajudarei a colocar Greenvale em ordem, se

desejar.

— Glenys…

— Não será muito difícil. Você nunca mais fará nada

sozinho. Eu ficarei ao seu lado, Kieran. Quero dizer, se

essa for a sua vontade.

O coração dele batia como um tambor. Não sentia

tanta esperança desde criança, quando conhecera a

tolice de tal emoção.

— Claro que é essa a minha vontade. É o que mais

quero na vida.

— Perfeito. Então assim será.

— Glenys, você não está raciocinando direito —

disse ele, dando um passo na direção da cama.

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Glenys estendeu-lhe a mão.

— Estou. Pela primeira vez, estou.

As palavras dela faziam com que tudo soasse

possível. Fácil demais.

— Você perderia tudo o que tem, além de tornar-se

uma excluída da sociedade, a esposa de um bastardo.

Pior, esposa de um criminoso.

— A esposa de Kieran FitzAllen — respondeu ela. —

E o que eu seria. Bem mais do que sempre sonhei. Não

tenho nem palavras para lhe dizer como eu ficaria

orgulhosa por ser chamada de sua esposa.

— Glenys… — Kieran foi até ela e ajoelhou-se no

chão, segurando-lhe a mão estendida entre as suas. —

Você está falando a sério?

— Sim, do fundo do meu coração.

Kieran não sabia se ria ou se chorava.

— Você se casaria comigo? — perguntou ele,

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atônito. —, sabendo de tudo que eu sempre fiz? As

mulheres… todos os meus crimes… meus inúmeros

pecados?

— Sim, Kieran. Eu me casaria com você porque te

amo e porque preciso de você assim como você precisa

de mim.

— E Deus sabe como — murmurou ele, puxando-a

para seus braços em um apaixonado abraço. Fechou os

olhos e pressionou o rosto contra o pescoço de Glenys,

na maciez daqueles cabelos.

— Espero conseguir ser um marido digno de uma

mulher tão especial, tão encantadora. Se algum dia eu

lhe causar tristeza por algum motivo, ou

arrependimento…

— Não me arrependerei — disse Glenys, afagando-

lhe os cabelos. — Eu lhe prometo.

— Está bem — respondeu ele, abrindo um belo

sorriso. — Combinado. Eu jamais me permiti tamanho

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atrevimento, Glenys, porém você me transformou em um

homem corajoso, bem mais do que eu imaginava ser.

Filhos bastardos costumam se conhecidos por sua

ousadia, mas não a mesma com que os h mens honestos

nascem. Você parece não se importar. — Kiera a olhou,

esperando uma resposta negativa. — Importa-se?

— Claro que não, meu querido. Você é Kieran

FitzAllen, e se tivesse nascido rei ou mendigo, não faria a

menor diferença para mim.

Ele beijou-lhe a testa.

— Quem disse que mágica não existe? — Existe sim,

e você a possui dentro da alma.

Glenys começou a deslizar as mãos pelos braços de

Kiera: porém uma forte batida na porta fez com que ela

se afastasse.

— Quem nos interromperia a esta hora? —

perguntou ela.

— Jean-Marc — respondeu Kieran, entregando-lhe a

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camisa.

— Imagino que tenha vindo pedir a mão de Dina em

casamento. Vista-se depressa antes que ele fique

impaciente. Onde está minha calça? E o seu roupão?

Houve outra batida, dessa vez mais furiosa.

— Um momento, Jean-Marc! Ainda não terminamos

de nos vestir para…

Ele levantou a cabeça, demorando demais para

perceber quem estava à porta. Como um bandido tão

hábil não reconhecera o perigo iminente? Será que o

amor o cegara àquele ponto?

Momentos depois a porta veio abaixo, e sir Daman

Seymour, seguido por seus homens, entrou no quarto

empunhando a espada.

Glenys, do outro lado, tentava fechar o roupão. Ao

avistar o irmão, ela ficou imóvel e arregalou os olhos por

encontrá-lo tão enfurecido.

— Daman! Como você…

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Foi tudo que ela conseguiu dizer antes que a ira de

Daman viesse à tona.

— Vagabunda! Prostituta! Vou matar vocês dois!

Em um piscar de olhos, Kieran colocou Glenys atrás

de seu corpo, disposto a protegê-la com a própria vida,

se preciso fosse. Estava sem armas, quase sem defesas,

e sabia que sentiria a mesma raiva de Daman se

encontrasse a irmã em circunstâncias semelhantes.

— Não é o que você está pensando, Seymour —

disse ele com voz firme, mesmo sabendo quão ridículas

soavam suas palavras. Estava seminu diante daqueles

homens, e não havia como tentar explicar que nada

acontecera naquele quarto. Nem um idiota acreditaria. —

Peço-lhe que nos escute antes de agir. Glenys é inocente!

— Ela é uma prostituta! — berrou Daman com a voz

trêmula, como se estivesse prestes a chorar por

encontrar a irmã naquele estado. Ele avançou para cima

dos dois com toda sua fúria. — E traidora. Deitou-se com

um bastardo sem se preocupar com a reputação da

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família!

Kieran percebeu que Daman estava prestes a

cometer um homicídio. Pulou para frente, agarrando a

espada dele, tentando ganhar tempo para controlar a

situação. Os dois lutaram furiosamente, de igual para

igual.

— Parem! — suplicou, Glenys, começando a se

desesperar. — Daman, não!

— Escute o que tenho a lhe dizer, Daman! — pediu

Kieran, tentando se esquivar dos golpes dele. — Por

Elizabeth, por Glenys, escute.

Aquelas palavras fizeram com que Daman se

afastasse no ato. Ele desviou o olhar da irmã e

concentrou-se em Kieran.

— Por que está falando de Elizabeth agora? Como se

atreve a tocar no nome dela em um momento desses?

— Seu tolo! — disse Kieran, com a voz cheia de

amargura. — Se você me matar, é bem provável que

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também mate Elizabeth. Se você realmente se

importasse com ela…

— Não se atreva a falar dela! — Com um golpe

violento, Daman jogou Kieran no chão.

Glenys gritou o nome de seu amado e correu até

ele, mas o irmão a impediu, acertando-lhe um forte tapa

no rosto. Ela caiu na mesma hora, inconsciente, e os dois

foram acudi-la.

— Deixe-a em paz! — Kieran segurou Daman pela

gola da cota de malha, levantando-o.

Não mediu seus atos e, sem pensar nas

conseqüências, acertou-lhe um soco no maxilar. Sua

única intenção era manter Glenys a salvo daquele irmão

brutamontes.

Daman cambaleou para trás, com os olhos

arregalados, porém Kieran não se importou. Ajoelhou-se

no chão ao lado de Glenys para tentar despertá-la.

— Glenys — chamou ele. A face em que levara o

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golpe estava vermelha e começava a inchar. — Ah, meu

Deus, Glenys…

Kieran estendeu o braço para tocá-la, mas foi

impedido por uma forte pancada.

— Não se atreva a tocar em minha irmã!

A última coisa que Kieran viu foi a espada na mão

de Daman vindo na direção de sua cabeça.

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CAPÍTULO XVII

— Glenys, você não quer nem falar comigo? Eu já

lhe disse mais de mil vezes o quanto estou arrependido

por ter lhe batido. Eu estava fora de mim, agi sem

pensar, guiado pela fúria que me consumia. Você sabe

que eu jamais teria agido assim se estivesse em meu

estado normal. Nunca levantei a mão para você antes,

nem quando éramos crianças. Por favor, apenas olhe

para mim.

Glenys manteve os olhos fixos no fogo que aquecia

o principal quarto da casa de Berte. Ela despertara

deitada na cama, e Daman estava a seu lado,

desculpando-se sem parar pelo ocorrido. Kieran e Jean-

Marc haviam sido levados para um vagão, e todos foram

obrigados a sair, apesar de todos os protestos, deixando

os dois irmãos sozinhos.

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— Você permitirá que eu veja Kieran?

Daman segurou no encosto da cadeira, atrás da

qual ficara parado durante a última hora, implorando-lhe

para que o perdoasse.

— Não! De jeito nenhum. Ele a envergonhou e…

— Você me envergonhou — interrompeu ela,

falando em gaulês com o irmão. — Diante de todos os

seus homens e da metade das mulheres desta casa.

Diante do povo de Aberteifi. Você me acusou de algo que

eu não fiz, e saiba que não foi por falta de vontade

minha, mas sim por Kieran ter se recusado a me sujeitar

a tamanha exposição. Eu continuo sendo uma mulher

pura, Daman. Você insiste em me acusar de prostituta e

mentirosa, mas está muito enganado a meu respeito.

— Conheço muito bem Kieran FitzAllen para

acreditar que as coisas sejam assim, minha irmã — disse

Daman, tentando ser gentil. — Ele é famoso por suas

conquistas, e com você não seria diferente. Eu não a

culpo, Glenys. Sei que agi sem pensar, mas agora

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percebo que você é muito inocente para ter enxergado o

verdadeiro Kieran FitzAllen. E também muito… inexpe-

riente com os homens.

— Daman, eu lhe juro pela minha alma que não

estou mentindo! Ainda sou virgem. Chame um médico

para me examinar e ele lhe dirá que estou dizendo a

verdade.

— Eu jamais deveria ter permitido que você

passasse por tudo isso — disse Daman, afrontado. —

Ouça, minha querida. Eu a compreendo perfeitamente.

Ele lhe contou doces mentiras, claro, deve até ter dito

que a amava, e você nem sonhava que pudesse ser

mentira. Suponho que você tenha se encantado com a

declaração, ainda mais por nunca ter escutado algo

parecido. Mesmo achando que você nunca se casaria,

não permitirei que o nome da nossa família caia na boca

do povo. E se por algum triste infortúnio você estiver

grávida, não haverá nada a fazer a não ser escondê-la

até criança nascer, depois encontrar algum lugar onde

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possa ser criada.

Glenys nunca ficara tão furiosa em toda sua vida.

Nunca fora tão insultada por alguém, muito menos por

um irmão. Ela o amava, mas no momento o renegaria por

estar agindo com tamanha ignorância.

— Saia daqui — disse ela, entre dentes cerrados. —

Deixe-me em paz!

— Glenys — implorou ele —, eu não posso. Não até

você me desculpar por ter lhe batido. Ainda assim eu não

me perdoarei. Eu poderia ter matado você com toda a

fúria que sentia naquele momento.

Glenys cruzou os braços na frente do peito e não

disse uma única palavra.

Daman ajoelhou-se ao lado da irmã, ficando na

mesma altura que ela.

— Glenys, eu lhe suplico que me perdoe. Eu juro por

tudo que é mais sagrado que jamais encostarei um só

dedo em você, minha irmã.

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— Não posso perdoar uma pessoa que não acredita

em mim, Daman. Você nunca me desacatou assim antes.

Se acredita que estou mentindo, faça o que achar

melhor. Leve-me à igreja mais próxima. Pise nos degraus

e me desonre por ser uma prostituta.

— Você acha que eu teria coragem de fazer algo tão

cruel? Você é minha irmã, Glenys, e eu a amo mais do

que tudo. Será que é tão difícil entender o choque que foi

para mim encontrá-la com Kieran FitzAllen em um lugar

como esse? E você vem me dizer que nunca dividiu uma

cama com ele?

Ela descruzou os braços e o fitou nos olhos.

— Sim, eu dividi a cama com Kieran, e foi por livre e

espontânea vontade. Mas nós não… Eu ainda sou virgem,

Daman. E tenho certeza, caro irmão, que não preciso lhe

explicar como isso aconteceu. Você, que já se deitou com

inúmeras mulheres, sabe muito bem o que pode

acontecer em uma cama além do ato em si.

Daman enrubesceu e levantou-se, irritado.

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— Aquele bastardo! Eu quebrarei seu pescoço por

ter-lhe ensinado tais coisas!

— De jeito nenhum! Saiba que nós vamos nos casar,

e ele será seu cunhado. Não seja hipócrita, Daman

Seymour, você agiu da mesma maneira e tem a coragem

de se comportar como se pudesse descontar seus

ressentimentos em outro homem.

— Claro, quando a minha irmã é a arruinada! —

gritou ele. Glenys se levantou, encarando-o com toda a

fúria que sentia.

— Sim, sua própria irmã, que se entregou a esse

homem de livre e espontânea vontade! Eu amo Kieran

FitzAllen e o escolhi como marido. E não me importa se

você ou a nossa família não aceitarem. — Ela se colocou

bem à frente do irmão. — Você pode me bater o quanto

quiser — desafiou Glenys, oferecendo o rosto inchado. —

Vá em frente! Tente ganhar a minha submissão com a

força bruta!

— Pare com isso! Você sabe que não vou lhe bater!

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Nunca mais! Mas não posso permitir que você continue

com essa tolice. Kieran FitzAllen não a ama, Glenys. Ele a

raptou e seduziu apenas para se vingar de mim.

— Não é assim. Sei que existe algum tipo de

inimizade entre vocês, mas Kieran me raptou a mando de

sir Anton Lagasse, que queria me ver bem longe

enquanto procurava a Pedra da Graça. O desejo de

atingi-lo vinha em segundo lugar.

— Não, Glenys, não vinha. Kieran FitzAllen não

precisa do dinheiro de sir Anton. Ele é rico, tão rico

quanto um grande lorde.

— Rico? — repetiu ela, arregalando os olhos.

— Sim. Kieran só aceita as tarefas que lhe agradam,

pois não precisa do dinheiro. Seus anos de vida ilícita

foram bem recompensados.

Glenys olhou para o irmão, tentando conter sua

surpresa. Refletiu que fizesse sentido ele ter enriquecido

durante os anos, mas por que nunca lhe dissera nada?

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— Não faz diferença — disse Glenys, mais para

convencer a si mesma do que ao irmão. — Se for

verdade, ele se torna mais aceitável. Pelo menos você

não vai achar que Kieran quer se casar comigo por causa

do meu dinheiro. Pela beleza é que não pode ser…

— Você mudou, Glenys. Está encantadora,

cativante. Eu quase não a reconheci, minha irmã. Claro,

deve ser mais uma safadeza daquele maldito! Mas agora

que tudo acabou, sua vida voltará ao normal.

— Daman…

— Nada o tornará aceitável! Você não compreende,

Glenys, que ele a raptou de propósito? Kieran FitzAllen

sabia que eu viria atrás de você, dando-lhe a chance de

me enfrentar.

— Ele admitiu que nutria essa esperança — contou

Glenys —, porém não me disse o motivo. O que você fez,

Daman, para Kieran agir assim?

Daman sempre fora atrevido, desde garoto, mas

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agora, pela primeira vez, parecia envergonhado.

— Eu me apaixonei pela irmã dele.

— Como? — Glenys procurou a cadeira mais

próxima e sentou-se. — Pela irmã de Kieran? Você?

— Nós nos conhecemos em um torneio, e eu me

apaixonei no instante em que a vi. Não tenho palavras

para descrever sua beleza e educação. Ela se chama

Elizabeth — disse ele, com reverência. — Eu a amava,

Glenys, aliás, eu a amo. Você nem imagina quanto. Estou

vivendo um grande tormento durante todos esses meses

em que estamos separados.

— Não estou acreditando — murmurou Glenys,

surpresa. — Você nunca me contou nada, nenhuma

palavra. Ah, Daman… Você a deixou por causa do

sobrenome de nossa família, da magia.

— Sim — respondeu ele, cabisbaixo. — Eu não

poderia ter pedido a mão dela, nem de qualquer outra

mulher, em casamento. A decisão já havia sido tomada

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há muito tempo. A loucura deve parar conosco, Glenys.

Como presentear nossos filhos com a mesma maldição

que nos atormentou todos os dias das nossas vidas? E

como eu poderia explicar a Elizabeth? Ela teria me

desprezado, ou ficaria com medo. Eu não suportaria ver

aqueles olhos azuis cheios de medo. E assim eu… eu a

deixei.

Daman respirou fundo, buscando forças para

controlar a emoção.

— Foi melhor assim. Ela encontrará um homem

digno para amar e se casar. Às vezes acho que vou

enlouquecer de tanto que penso em Elizabeth, mas

espero que ela tenha se esquecido de mim para poder

encontrar outra pessoa.

— Você se divertiu com ela?

— Eu não a desonrei, se é isso que você quer saber.

Eu a deixei pura para se casar com outro homem, pelo

menos de corpo, se não de coração, pois ela disse que

também me amava.

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— E você acha tão impossível que Kieran FitzAllen

sinta o mesmo por mim?

— Acho — respondeu Daman, sem pestanejar. —

Não se pode dizer que ele seja um homem de honra, mas

sim um mentiroso e um bandido de grande reputação. E

suas conquistas com as mulheres são incontáveis. Por

que ele não se aproveitaria da irmã de um homem que

deseja ver morto? Não existiria melhor maneira para se

vingar, envergonhando-a perante toda a nossa família,

fazendo-a se apaixonar por ele.

— Não acredito que você seja tão obtuso, Daman.

Eu não sou digna de ser amada? O que preciso fazer para

você acreditar em mim? Kieran não ousaria mentir para

mim.

— Glenys, eu acabei de lhe dizer que ele a raptou

para se vingar de mim! — protestou Daman. — As

palavras de amor que ele lhe disse não passaram de

mentiras, de doces tentativas para ganhar sua confiança.

— Pode até ser que, no início, essa tenha sido sua

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intenção — admitiu Glenys. — Todavia, a situação

mudou. Ele me ama, Daman. E eu acredito em Kieran.

— Não pode ser! Ele passou a vida toda tecendo

mentiras, não se importando com quem as escutava. Por

que uma mulher como você acreditaria nele?

— Porque ninguém mais acredita — respondeu ela.

— Porque ele precisa de alguém, mesmo que seja uma

única pessoa, que lhe dê credibilidade.

— Então você é uma grande tola. Fico muito triste

em saber que chegou a esse ponto, minha irmã. Você

sempre foi a pessoa mais sensata e digna de confiança

entre nós. Agora, entretanto, vejo que se esqueceu de

todos os valores… inclusive da segurança de nossa

família. Só falta me dizer que também começou a

acreditar em magia, deixando-me sozinho para proteger

nossos tios e tias.

— Acho que sim — murmurou ela. — Quando

estávamos em Pentre Ifan, um pequeno homem usando

uma capa vermelha apareceu para Kieran e o chamou de

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lorde Eneinoig, o prometido.

Daman arregalou os olhos, incrédulo.

— Lorde Eneinoig? Kieran FitzAllen? Não pode ser!

Tudo isso não passa de uma lenda tola.

— Uma lenda que está há anos na nossa família —

relembrou Glenys. — E nós a escutamos durante toda a

vida. Kieran FitzAllen, por sua vez, jamais poderia ter

escutado algo a respeito. Pensei em todas as

possibilidades, o que me levou a crer que só pode ser

verdade. E se for, Kieran FitzAllen é digno de ser meu

marido.

— Você ainda não entendeu, Glenys? — perguntou

Daman, por entre dentes cerrados. — Você nunca mais

verá esse homem! Não existem argumentos que me

façam mudar de idéia. Eu o levarei, junto com seu

cúmplice, para Londres, onde serão presos por rapto e

enforcados.

Glenys se aproximou do irmão, olhando-o bem nos

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olhos sem o menor temor.

— Não, isso não acontecerá. Assim que chegarmos

em Londres, eu contarei tudo para tio Aonghus, que o

impedirá de continuar com essa loucura. E se ele não o

fizer, eu mesma vou até o rei implorar-lhe pela vida de

Kieran e de Jean-Marc. E não se esqueça, meu caro

irmão, de que a chave da riqueza de nossa família está

nas minhas mãos. Sou eu quem presenteio a igreja e a

coroa com generosas contribuições todos os anos, e sei

perfeitamente quais mãos aquecer com ouro para

conseguir a liberdade desses dois homens. Seus esforços

para vê-los mortos terão sido em vão.

— Ele a enlouqueceu — murmurou Daman. — Como

não sei se você voltará à razão antes de chegarmos em

Metolius, precisarei mantê-la a salvo de sua própria

loucura. Você não irá conosco para Londres, Glenys. De

jeito nenhum. Eu não escutarei nenhum tipo de

argumento, não até você recuperar o juízo. Você e Dina

ficarão em Gales, em Glain Tarran, até que Kieran

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FitzAllen e seu criado estejam mortos. Meus homens as

levarão até lá. Vocês ficarão presas, sob guarda, até que

eu volte para buscá-las. Sinto muito, minha irmã, mas

precisa ser assim. Se eu não a amasse tanto, meus

cuidados não seriam tão excessivos. Você pode me odiar

agora, mas me agradecerá um dia, quando se der conta

do que eu a salvei.

Durante os dez minutos seguintes, Glenys teve um

acesso de descontrole. Discutiu, chorou, jogou tudo o que

podia em Daman, além de ameaçá-lo de todas as

maneiras possíveis. Ele não se abalou, na verdade ficou

ainda mais convencido de que a irmã enlouquecera por

ter passado tantos dias na companhia de Kieran FitzAllen.

Por fim, Glenys se calou, cansada de tanto discutir.

Seu rosto doía muito, e ela sentou-se na cadeira ao lado

da lareira, afagando-o com cuidado.

— Pelo menos permita que eu lhe envie um bilhete

— pediu ela, fechando os olhos. — Um bilhete de

despedida.

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Daman ajoelhou-se ao lado dela.

— Se isso a deixar mais tranqüila, então escreva o

bilhete que eu o entregarei a FitzAllen. Está doendo

muito, Glenys? Eu preferia ter cortado a minha mão ao

invés de ter lhe batido.

Glenys gemeu e pressionou a mão contra a

bochecha inchada.

— A dor é terrível. Quase não consigo suportar.

Gostaria que Dina entregasse o bilhete, para que ela me

dissesse como Kieran e Jean-Marc estão.

— Não. Eu o levarei.

— Ai! — gritou ela, pressionando as mãos no rosto.

— Que dor insuportável! E saber que foi meu próprio

irmão que me bateu dói ainda mais. Eu ficaria bem mais

aliviada se soubesse que Dina esteve com eles. Por favor,

Daman. Significaria muito para mim.

Ele suspirou e se levantou. Glenys esperou em

silêncio.

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— Está bem. Mas eu lerei o bilhete, e Dina não

poderá ficar mais do que cinco minutos no vagão. Haverá

guardas na porta o tempo todo.

— Está bem — disse ela, abrindo os olhos. —

Obrigada, Daman. Agora, por favor, veja se consegue um

pedaço de papel e tinta nesse bordel para que eu possa

escrever o bilhete. Se puder mandar Dina antes, eu lhe

agradeço.

O bilhete continha apenas três palavras: Vá com

Deus!

Não havia nem a assinatura de Glenys, apesar de

Dina lhe ter entregado o papel dizendo que era de sua

senhora. Kieran imaginou que Daman não permitiria que

a irmã escrevesse muito mais. Na verdade, surpreendeu-

se com aquela nota.

Kieran estava deitado de costas no chão do vagão,

com pés e mãos amarrados. Sua única esperança de

liberdade era o pequeno pedaço de papel guardado no

bolso de sua túnica. Seus dedos, que chegavam apenas

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ao início do bolso, sentiram o calor da pedra da luz.

Estava quente e confortante, sendo algo familiar a lhe

fazer companhia naquele momento tão desagradável.

No outro canto do pequeno e escuro vagão em que

estavam confinados, ele podia escutar fragmentos da

conversa inflamada entre Dina e Jean-Marc. A jovem

parecia tentar convencê-lo a escapar, mas ele não queria

abandonar seu mestre. Entretanto, Kieran cuidaria para

que Jean-Marc fugisse antes que chegassem a Londres.

Não seria muito difícil, afinal os dois já haviam escapado

de inúmeras prisões, e Daman não perderia tempo

procurando um criado.

— Você precisa vir comigo — murmurou Dina,

olhando para o guarda que os vigiava do lado de fora. —

Precisamos da sua ajuda. E essa é a única maneira de

você salvar o seu mestre.

— Não posso deixá-lo sozinho, Dina. Por favor, não

me peça uma coisa dessas.

— Pode sim — disse Kieran, com a voz fraca. Sua

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cabeça latejava de dor, devido ao golpe que levara de

Daman. — Não tenha medo, Dina. Jean-Marc a encontrará

onde você quiser.

— Quieto! — Jean-Marc levou o dedo aos lábios. —

Ele está ouvindo — disse o jovem, apontando para o

guarda que realmente estava escutando a conversa.

— Já chega, senhorita! — ordenou ele. — Está na

hora de sair.

— Jean-Marc! — implorou Dina, segurando-lhe as

mãos.

— Dina, eu te amo, mas não posso…

— Fique quieto e beije-a — ordenou Kieran. — Minha

cabeça está doendo demais. Ele irá ao seu encontro,

Dina. Diga isso a Glenys.

Jean-Marc sentou-se ao lado do mestre quando Dina

se foi, olhando-o com desaprovação.

— Não vou deixá-lo sozinho — declarou ele. — Nem

pense que vou fugir. Vamos sair disto juntos, como

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sempre.

— Você sabe que não será possível — disse Kieran,

sentindo-se tonto e fraco. — Daman nos perseguiria até o

fim do mundo, se preciso fosse, e o nome de Glenys, bem

como o da família Seymour, ficaria manchado para

sempre. E os rumores sobre o nosso paradeiro nunca a

deixariam em paz. Não posso fazer isso com ela. De jeito

nenhum, ainda mais por ela sempre ter feito o máximo

para proteger a família dos curiosos. Acabou, Jean-Marc.

Tivemos bons momentos juntos, e fico muito grato pela

sua companhia durante todos esses anos, porém chegou

a hora de você continuar sozinho. E eu devo pagar por

todos os pecados que cometi nesta vida.

— Diabos! — blasfemou Jean-Marc, pegando a gola

da túnica de Kieran e levantando-o. — Eles o matarão se

conseguirem levá-lo até Londres. Você não terá a menor

chance de escapar de Newgate, e eles o enforcarão!

Vamos fugir juntos!

— Eu sei que coloquei nossas vidas em risco quando

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cedi ao desejo e demorei mais do que o necessário. Não

foi por falta de aviso. Meu único consolo é que você não

terá dificuldade em escapar. Quero que você continue

vivo, Jean-Marc, e seja muito feliz ao lado de Dina. Quero

que construam uma linda família, cheia de filhos, e que

vivam como rei e rainha em uma bela casa. E talvez, de

tempos em tempos, procurem saber como anda a minha

Glenys. Em nome da nossa amizade, é tudo que lhe peço.

— Não vou permitir que o meu mestre seja

enforcado — falou Jean-Marc, sacudindo-o.

Kieran suspirou e soltou-se.

— Se eu morrer, Glenys terá a chance de viver em

paz. Haverá rumores de tempos em tempos, mas eles

logo desaparecerão. Daman cuidará de tudo.

Kieran, você não sabe o que está dizendo. — Jean-

Marc não acreditava no que ouvia. — Você não seria tolo

a ponto de morrer por uma mulher, por mais fortes que

fossem seus sentimentos. Eu o conheço há muito tempo

para acreditar em uma insanidade dessas.

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Kieran sorriu.

— O amor é uma força assustadora, meu amigo.

Não se esqueça disso quando se casar com sua querida

Dina. — Kieran estendeu os braços algemados e tocou

Jean-Marc. — Todo cuidado é pouco. Depois que escapar,

concentre-se em manter Dina e Glenys a salvo. Não ouse

pensar em mim.

Jean-Marc puxou o braço, resmungando.

— Se acha que vou abandoná-lo depois de todos

esses anos, está muito enganado — disse ele, insultado,

mas não magoado. — Se sua vontade é essa, eu escapo,

mas apenas para ajudar Dina e a srta. Glenys a salvá-lo.

E por não suportar ficar na companhia de um fraco.

— Como quiser. Eu nunca consegui convencê-lo a

fazer as minhas vontades. Você é um criado terrível, mas

um grande amigo.

Jean-Marc cruzou os braços e desviou o olhar,

fingindo não se importar.

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— Vou lhe pedir mais uma coisa — disse Kieran. —

Daman contará a Glenys sobre Elizabeth, e ela achará

que esse foi o motivo de eu a ter raptado, que eu menti…

Diga-lhe, por favor, que tudo que eu falei é a mais pura

verdade, que eu a amo mais do que tudo nessa vida, e

que nunca fui tão feliz como nos poucos momentos em

que estivemos juntos. E que será uma boa lembrança

para levar para a prisão, sabendo que ela me aceitaria

como marido. Você me faz esse favor?

— Eu? Diga você mesmo, quando vocês se

encontrarem em Londres, depois que o libertarmos.

Aposto como ela prefere ouvir as palavras da sua boca, e

não da minha!

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CAPÍTULO XVIII

— Levante-se!

A ponta de uma lança afiada despertou Kieran. Uma

segunda espetadela fez com que ele se sentasse

rapidamente, apesar de ter de lutar contra as correntes

que o mantinham preso.

Ainda era noite, e a neblina cobria o céu. A cabeça

de Kieran latejava de dor, e seu estômago roncava de

fome. Fazia muito tempo que não comia. Desde a partida

de Cardigan, nem ele nem Jean-Marc tinham recebido

alimento, apenas alguns goles de água. Seu corpo todo

doía de ficar confinado em um lugar tão apertado, e as

algemas em suas mãos haviam deixado seus pulsos em

carne viva. As correntes nos pés não machucavam tanto,

pois Daman lhe permitira calçar as botas antes de

aprisioná-lo.

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— Depressa! — Mais uma pontada. — Saia!

Kieran despertou quando olhou para a pequena

porta aberta, onde o homem estava parado. Jean-Marc

não estava em nenhum lugar. Será que conseguira

escapar com a carroça em movimento? Sem ao menos se

despedir? Isso não era o que o incomodava. Seu

companheiro já ficara furioso várias vezes, mas nunca

tanto assim. E não tinha como culpá-lo. Havia muitos

anos que viviam juntos, como se fossem dois irmãos, e o

fato de Kieran lhe ter ordenado que fugisse sozinho devia

ter soado como uma forma de abandono.

Ele se ajoelhou devagar, escorregando aos poucos

pela manta que lhe fora oferecida como uma pequena

medida de conforto, puxando as pesadas correntes

consigo.

— Chegou a hora de os prisioneiros tomarem um

pouco de ar? — perguntou ele, colocando os pés no chão.

— Creio que terá de me ajudar, caso contrário… Oh!

O soldado o arrancou pela pequena abertura com

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um violento puxão, deixando-o cair no chão.

— Obrigado pela gentileza — ironizou Kieran,

levantando-se com dificuldade. Contudo, era melhor do

que ser auxiliado pelos homens de Daman Seymour. —

Você foi muito amável.

Havia vários soldados ao seu redor, e um deles

segurava Jean-Marc, que lançou um sorriso impiedoso na

direção do companheiro. Kieran o conhecia bem demais

para saber o significado daquele olhar. A fuga ocorreria

em breve. Em silêncio, desejou-lhe boa sorte, e Jean-Marc

entendeu, agradecendo com um discreto movimento da

cabeça.

— Ande — disse o soldado que o despertara. — Sir

Daman deseja lhe falar.

— Olhem só que grande coincidência! — respondeu

Kieran, ao ser empurrado na direção de uma tenda. —

Também quero falar com ele. Só espero que sirva uma

taça de vinho ao seu convidado. Minha garganta está

seca depois dessa viagem tão agradável e longa.

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— Cale-se! — ordenou o homem. — Sir Daman

mandou que permanecesse em silêncio até chegarmos.

O quê? Será que Daman achava que ele tentaria

convencer o soldado a soltá-lo? Não que não o tivesse

feito em outras ocasiões, porém sempre havia uma bela

mulher presente que lhe permitia partir. Mulheres eram

bem mais fáceis de se convencer do que soldados

severos. E Daman era um dos soldados mais implacáveis

de toda a Inglaterra, um título merecido, e servia a um

cavaleiro da realeza que possuía as mesmas qualidades.

Kieran tinha conhecimento do fato, mesmo quando fler-

tara com a irmã desse mesmo homem. Ah, Glenys… Ele

não teria conseguido evitar o que acontecera entre

ambos, mesmo que Daman fosse o todo-poderoso rei.

Havia apenas uma tenda no acampamento, que

ainda estava sendo presa ao chão.

Kieran escutou a voz de Daman e o murmúrio de

outros homens.

— O prisioneiro está aqui, milorde — anunciou o

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soldado.

O silêncio na tenda foi imediato, e Kieran sentiu

uma grande vontade de rir.

A porta da tenda se abriu e três lutadores saíram,

sem tirar os olhos de Kieran. Ele sorriu para cada um dos

homens.

— Traga-o até aqui, Hubert — ordenou Daman

Seymour. Daman estava sentado em uma cadeira, diante

de uma mesa, analisando mapas e alguns documentos.

Vestia sua cota de malha e luvas de esgrima, porém

tirara o elmo. Kieran deparou-se com o rosto que ficara

em sua memória durante tantos meses, desde que vira

Elizabeth pela última vez. Encontrara-o apenas duas

vezes, mas a expressão sombria e aristocrática daquele

homem se mantivera gravada em sua mente. Era bonito,

e por esse motivo não tinha como culpar a irmã.

Daman Seymour tinha cabelos lisos e bem escuros,

e os olhos acinzentados eram adornados por longos

cílios, que lhe conferiam uma expressão pensativa. A não

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ser pelos olhos, Kieran não via nenhuma semelhança

dele com a irmã.

— Solte e espere-o lá fora com as correntes. Prenda-

o de novo antes que retorne à carroça.

Kieran endireitou-se e sentiu um grande alívio por

poder esticar os músculos do corpo. Agradeceu ao

soldado com um resmungo antes que ele saísse levando

as correntes junto.

— Estarei aqui fora se precisar de mim, milorde,

junto com os outros guardas. — Ele fez uma mesura e se

retirou da tenda.

Daman riu e colocou a papelada de lado,

levantando-se para encarar Kieran.

— Meus soldados temem pela minha vida por sua

causa — comentou ele, divertindo-se com o cuidado de

seus homens. — Acredito, todavia, que deveriam temer

pela sua vida.

— É você que tem o poder — admitiu Kieran. — Não

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tenho muitas opções de ação. Além do mais, decidi que

não quero causar mais nenhum tipo de aborrecimento ou

vergonha para Glenys. Ela está bem? Aonde você a

levou?

— Não direi uma só palavra sobre minha irmã. Saiba

apenas que ela passa muito bem e que está longe de seu

alcance. Você nunca mais a verá. Eu a manterei fora de

Londres até que você seja punido por seus atos.

O coração de Kieran disparou ao ouvir aquelas

palavras, mas estava feliz por saber que Glenys não

testemunharia seu enforcamento.

— Obrigado — disse ele. — tenho um pedido a lhe

fazer.

— Fale.

— Minha família… Tanto a do meu pai quanto a da

minha mãe… gostaria que eles não soubessem de meu

destino até que tudo tenha sido feito. Eu não quero

preocupá-los dessa maneira.

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Daman mostrou-se surpreso.

— Imaginei que você gostaria que eles soubessem.

Acredito que seus familiares possam salvá-lo, afinal seu

pai e seu padrasto são bem mais poderosos do que eu.

— Pelo visto você não sabe nada a meu respeito. Eu

jamais incluiria qualquer um dos dois na minha desonra.

Trata-se de uma questão de dignidade.

— Mas você já não agiu assim no passado?

— Infelizmente, sim — admitiu Kieran. — Porém não

pretendo repetir o erro. E por um bom motivo. Minha

irmã morreria de desgosto se soubesse que o homem a

quem ela entregou seu amor foi o responsável pela

morte de seu irmão. Na verdade, prefiro que ela não

saiba que você participou disso tudo, se não for pedir

demais.

A iluminação no interior da tenda não era das mais

fortes, porém o rubor no rosto de Daman foi evidente.

— Sente-se — ordenou ele, apontando para uma das

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cadeiras. Então virou-se para o criado. — Traga-nos vinho

e comida, se é que temos algo.

Daman tirou as luvas, colocando-as com cuidado em

cima da mesa. Em seguida sentou-se ao lado de Kieran e

olhou-o com seriedade.

— Quero saber a verdade. Você raptou Glenys por

causa do que aconteceu entre mim e Elizabeth?

— Sim. Não tenho como mentir. Eu queria chamar a

sua atenção e me vingar por você ter abandonado

Elizabeth daquele jeito. Sempre soube que você era um

homem honrado, mas depois do que aconteceu com

minha irmã, vi que não era bem assim. — Kieran não

podia evitar a amargura em seu tom de voz, depois do

ódio que nutrira por Daman Seymour durante tanto

tempo. — Queria que você soubesse como é ter uma

pessoa querida em poder de outro homem, depois

espancá-lo em uma batalha a dois.

Naquele momento, o criado entrou na tenda

carregando uma bandeja.

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— Não imaginei que pudesse ser pego em ação. Não

sei se acreditará em mim, mas eu jurei que não seduziria

sua irmã.

Daman levantou a mão para que ele se calasse

enquanto o criado estivesse ali. Havia um prato com

queijo e pedaços de pão, uma garrafa de vinho e dois

copos.

— Saia — ordenou ele. — E vocês dois também. —

Daman dirigiu-se aos homens que estavam atrás de sua

cadeira.

Sem contestar, os três fizeram uma mesura e se

retiraram.

— Coma. Estou tentando encontrar um motivo para

não acabar com a sua vida. Eu sempre soube o tipo de

homem que você é. Por que deveria acreditar que você

não tinha a intenção de desonrar minha irmã, se foi

justamente isso que aconteceu?

— Talvez você morra antes — disse Kieran, irritado.

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— Não admitirei que fale assim de uma mulher tão

correta quanto Glenys. Ela não foi desonrada, e não

permitirei que ninguém, nem mesmo você, a trate como

tal.

— Já se esqueceu de como eu encontrei vocês dois,

meu caro? Vai ter coragem de me dizer que não

compartilharam a mesma cama?

— Você é muito idiota, Daman Seymour! Sim, nós

dormimos na mesma cama, e não negarei que tivemos

momentos de prazer, mas Glenys ainda é virgem, como

ela mesma deve ter lhe dito. Por que um homem de

reputação tão sombria quanto a minha insistiria nesse

assunto se não fosse verdade? Sabendo que bastaria a

palavra de um médico para confirmar o fato? Pense bem,

meu caro.

— Fique quieto por um instante e deixe-me pensar.

Coma em paz, enquanto isso. Não sei se conseguiremos

acampar outra vez antes de chegar a Londres, e você

sairá o menor número de vezes possível da carroça.

~LUV~
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Agradecido, Kieran bebeu um gole de vinho e pegou

um pedaço de pão.

— Gostaria de saber o que aconteceu com meu

cavalo, Nimrod. Queria lhe pedir a gentileza de devolvê-lo

ao meu pai, o lorde Allen.

Daman colocou seu copo de volta na mesa e olhou

para Kieran, evidentemente confuso.

— Sinto muito, porém não sei de nada sobre seu

cavalo. Lembro-me bem de Nimrod. E um grande

garanhão preto, não é? Um belo animal.

— Sim. Ganhei-o de presente do meu pai. Decerto

deve estar com um de seus homens. E meu bem mais

valioso, e não terá nenhum valor a quem pegá-lo.

— Vou mandar procurá-lo — prometeu Daman. —

Imagino, todavia, que tenha ficado em Cardigan. Se

Nimrod não estiver aqui, vou pedir para que um dos

meus homens vá buscá-lo onde estiver. Concordo que ele

deva ser devolvido a lorde Allen. Não é conforto pela

~LUV~
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perda de um filho, mas creio que seu pai não se

surpreenderá nem um pouco com seu destino.

— Também acho que não.

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes,

comendo e bebendo, até que Daman olhou para cima.

— Você não me deve nada. — Kieran teve a

impressão de que Daman estava um pouco nervoso. — E

sei que serei o responsável pela sua morte, mas gostaria

de lhe pedir que me contasse um pouco sobre Elizabeth.

Kieran recostou-se na cadeira e o fitou por um longo

momento.

— Você a amava? Pelo menos um pouco?

— Muito — respondeu ele, com sinceridade. — Achei

que fosse morrer quando a deixei, só que não havia outra

escolha. Não havia como… — Daman ficou em silêncio.

Em outra ocasião, Kieran não hesitaria em cuspir-lhe

no rosto. Agora, entretanto, depois de ter descoberto

como o amor podia ser doloroso, sentiu um pouco de

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pena de seu inimigo.

— Glenys me contou que o comportamento peculiar

de sua família arruinou-lhe a vida. Foi por esse motivo

que você deixou Elizabeth sem nenhuma explicação?

Nunca prometeu se casar com ela?

— Sim, foi por isso. Só que fiz questão de deixar

tudo bem claro. Ela chorou até não poder mais, porém

não havia outra solução. Era a melhor saída, pois eu não

poderia envergonhá-la daquela maneira.

Kieran respirou fundo, por entre os dentes cerrados.

— Mentiroso! Você me acusou de ter tirado a

virgindade da sua irmã, mas eu jamais a deixaria como

você deixou Elizabeth. Eu sei o quanto ela sofreu quando

você partiu. Achei até que fosse morrer. Eu nunca faria

isso com a mulher que amo. Você sabia que Elizabeth

estava grávida? Ou partiu sem se importar em saber as

conseqüências dos momentos de prazer?

Daman arregalou os olhos.

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— Um bebê? — repetiu ele, em um fio de voz. —

Não é possível. Eu lhe disse… Eu não teria coragem de

desonrá-la. Eu não a desonrei.

— Tenha piedade, Daman. Como consegue ser tão

dissimulado? Você soa tão sincero que eu quase acredito

em suas palavras. Eu estava ao lado de minha irmã

quando ela contou a novidade a nossa família. Ela me

disse que a criança era sua.

Daman se levantou, furioso.

— Não é possível! Eu nunca me deitei com

Elizabeth! Nós apenas nos beijamos e trocamos algumas

carícias. Juro por tudo que é mais sagrado que… — Ele

parou de falar e levou a mão à cabeça. Então sentou-se

devagar. — Ah, meu Deus! Aquela noite, quando nos

despedimos… depois que ela foi embora, eu comecei a

beber para aliviar a minha dor… então fui para a minha

cama e sonhei com… não, não pode ser! — Ele olhou

horrorizado para Kieran. — Ela deve ter voltado para o

meu quarto. O que eu pensei ter sido sonho foi realidade.

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Será que Elizabeth pensou que eu me lembraria? Ah,

meu Deus!

Daman se levantou, andando de um lado para o

outro.

— Será que ela pensou que eu lhe tirei a inocência e

depois a deixei sem nenhuma explicação? Eu parti antes

que ela acordasse na manhã seguinte, achando melhor

ela não me ver outra vez. Saiba, contudo, que eu jamais

teria ido se tivesse me dado conta do que acontecera

entre nós.

— Elizabeth acha que você a abandonou. Ela ficou

doente de saber que você teve a coragem de deixá-la

naquele estado.

— Eu jamais teria agido assim! — insistiu Daman. —

Eu juro! Eu teria me casado com ela, apesar de todos os

meus receios. Quer você acredite, quer não, sou um

homem de muita honra. Você precisa acreditar no que

estou lhe dizendo.

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— Sim. Vou acreditar, pois é evidente que você

amava Elizabeth. Antes de ter conhecido Glenys, eu não

acreditaria em você, mas agora compreendo bem o que é

o amor. Quem me preocupa é minha irmã. Ela sofreu

demais por ter confundido a realidade com um sonho.

— Eu sei, e é por isso que pretendo falar com ela o

mais depressa possível. Elizabeth deve estar no final da

gravidez, se é que o bebê ainda não nasceu. Precisamos

nos casar com urgência. Onde ela está?

— Acredito que esteja com minha mãe e meu

padrasto — respondeu Kieran. — Lorde Randall o matará

antes de perguntar o que você quer com ela. Saiba que

ele o deixou em paz só porque Elizabeth lhe implorou, e

por não querer que você soubesse que estava grávida.

Se você for até lá…

— Eu sei muito bem os riscos que corro. Entretanto,

Elizabeth precisará de mim em um momento tão difícil.

Pode deixar que eu me entendo com lorde Randall.

— Daman — disse Kieran, levantando-se. — Preciso

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lhe contar algo. Sobre a criança.

— Ainda não nasceu? — perguntou ele, preocupado.

— Por favor, diga-me que é mentira. Um filho ilegítimo?

Não, não é possível. Não faz nove meses que nós nos

separamos. — Daman se aproximou de Kieran. — Ele

nasceu antes do tempo? É um bebê doente? Ah, meu

Deus, preciso correr e…

— Não. — Kieran segurou o braço dele, impedindo-o

de sair. — Elizabeth ficou muito doente quando você a

abandonou. Foi um período difícil, principalmente nos

três primeiros meses. Ela… Ela perdeu o bebê.

Toda a cor sumiu do rosto de Daman. Ele olhou para

Kieran por um momento, então se virou e cobriu o rosto

com as mãos.

Kieran imaginava como aquele momento devia estar

sendo doloroso, pois lembrava-se perfeitamente do

sofrimento de sua irmã. Não tinha a menor dúvida de que

Daman sentia a mesma dor inconsolável diante de tão

triste notícia.

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— Como fui tolo! Estou pagando por meus pecados.

Deus me puniu com justiça. Gostaria apenas que

Elizabeth e o bebê tivessem sido poupados.

— Você realmente foi um tolo, como eu. Jogou fora a

chance de um verdadeiro amor por não ter fé em

Elizabeth e em sua própria família. Saiba que eu quase fiz

o mesmo com Glenys.

— Ela deve estar me odiando — murmurou Daman.

— Mesmo assim, terá de se casar comigo. Vou lhe

implorar que… não, simplesmente vou informá-la de que

vamos nos casar. Com o tempo, ela saberá me perdoar. E

se Deus quiser, teremos muitos filhos juntos. — Ele se

virou para Kieran. — Não vou mais lutar por seu

enforcamento, agora que vamos ser parentes. Mas você

terá de ser julgado pelo crime que cometeu, e pode ser

condenado à morte. Espero que compreenda.

— Entendo perfeitamente. Estou aliviado, todavia,

em saber que você não atormentará Elizabeth com sua

vingança. Deixe-a pensar que outro homem me capturou

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e me levou para Londres. Será melhor.

— Obrigado — disse Daman. — Estou começando a

pensar que o julguei mal, Kieran FitzAllen. Gostaria, de

verdade, que tudo pudesse ser diferente entre nós.

Kieran sorriu.

— Eu não mudaria de opinião tão depressa, milorde.

Não está escutando a comoção do lado de fora da tenda?

Acredito que meu criado tenha colocado seu plano de

fuga em prática.

— O quê?

— Sim, e se eu não estiver enganado, um de seus

homens deverá entrar aqui para lhe contar que Jean-Marc

sumiu e não foi encontrado em nenhum lugar.

Kieran sentou-se e pegou seu copo de vinho.

— Jean-Marc é um homem difícil de se apanhar.

Sugiro que avise seus homens para não perder tempo à

procura dele, mas você pode agir como bem entender,

claro.

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— Ele não pode ter escapado! — declarou Daman,

incrédulo. — Seria impossível, com todos os homens que

o vigiavam.

— Você não conhece os talentos de Jean-Marc. De

uma forma ou de outra, ele encontraria uma maneira de

escapar. — Kieran começou a encher o copo com

movimentos lentos. — E tem mais, se o conheço bem, ele

foi atrás de Glenys e Dina para ajudá-las a me libertar.

Daman caiu na risada.

— Que tolo! Minha irmã e sua criada estão seguras

em Glain Tarran, protegidas por alguns de meus

melhores cavaleiros. Eles não conseguirão se encontrar.

Kieran tomou um gole de seu vinho. Uma voz do

lado de fora da tenda pediu licença para entrar. Era

Hubert, evidentemente nervoso.

— Milorde, sinto informar que as notícias não são

nada agradáveis. O outro prisioneiro, o criado,

desapareceu. Procuramos por todo o acampamento, mas

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não o encontramos em nenhum lugar.

Daman olhou para Kieran, que sorriu.

— Como ele escapou?

— Não sei, milorde. Ninguém sabe. Perguntamos

para todos os homens que ficaram de guarda, e todos

disseram o mesmo, que ele simplesmente desapareceu.

— Eu não lhe disse? — falou Kieran, orgulhoso. —

Ele é um bandido de renome, tido em grande estima por

seus companheiros. É assim que surgem os melhores

ladrões.

— Não preciso de seus comentários irônicos agora.

Cale-se, Kieran FitzAllen!

— Milorde, temo lhe dizer que tenho notícias piores

— murmurou Hubert.

— Não me diga que minha irmã e sua criada

escaparam de Glain Tarran?

— S-sim. Um cavaleiro acabou de chegar da

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propriedade e nos trouxe a notícia. Sinto muito, milorde.

— Como elas escaparam?

— Não faço a menor idéia. Só se sabe que elas

fugiram em um grande garanhão preto…

— Ah! Nimrod! — exclamou Kieran.

— E uma égua cinza.

— Meretriz. — Kieran pegou um pedaço de pão. —

Fico contente em saber que os cavalos estão bem.

— Seus homens saíram à procura delas

imediatamente, milorde, mas a neblina os impediu de

prosseguir com a busca — contou Hubert. — Muitos

homens se perderam e não conseguiram encontrar Glain

Tarran durante horas. Por isso demoraram em mandar

alguém com a notícia.

Em silêncio, Daman cerrou os punhos ao lado do

corpo.

— Que problema, não? — ironizou Kieran. — Ir atrás

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de Glenys ou de Elizabeth? Não gostaria de estar no seu

lugar.

— Como estará na prisão, que é o lugar mais

adequado para alguém como você, não se preocupe com

a decisão.

— Como quiser, porém eu tenho uma vaga idéia de

onde você as encontrará.

Daman mandou Hubert embora.

— Não fará a menor diferença se você me contar.

Seu destino é a prisão.

— Eu sei. E com Glenys que me preocupo. Não

quero vê-la machucada.

Daman enrubesceu e blasfemou em voz alta,

impressionando Kieran com seus xingamentos. Depois

olhou para Kieran, fuzilando-o.

— Você ama Glenys?

— Sim.

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— Pois saiba que nunca terá minha irmã.

— Não precisa me dizer, Daman. Você poderá se

casar com minha irmã, pois possui nome e família para

tanto. Eu não terei o mesmo privilégio, mas saiba que, se

eu fosse um homem livre, passaria por cima de tudo e de

todos para me casar com Glenys. Veja como é o destino.

— É mesmo. E minha irmã insiste em dizer que o

ama e que o terá de qualquer jeito. Maldito!

— O amor parece não se importar com as leis e a

igreja. Não se pode fazer nada contra.

— Diga-me onde poderei encontrar minha irmã,

para que pelo menos eu possa cuidar de sua segurança

— pediu Daman, um pouco mais calmo.

— Tente procurar em Hammersgate, a propriedade

onde minha irmã, lady Eunice, vive com a família. Aposto

como as duas foram em busca da ajuda de minha mãe.

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CAPÍTULO XIX

A prisão em Newgate não estava sendo uma

experiência tão monstruosa como Kieran imaginara.

Havia alguns conhecidos, e ele passou os dois primeiros

dias sabendo como cada um estava, embora lhe fossem

permitidas apenas algumas horas na área comum para

os prisioneiros. O resto do tempo passava em uma

pequena cela, pois era considerado muito perigoso para

ficar junto com outros homens. Sendo assim, Kieran

ficava praticamente o dia todo sentado ou andando de

um lado para o outro no cubículo escuro, na companhia

de seus pensamentos e arrependimentos.

Na verdade, não estava bem sozinho. Durante a

primeira hora de confinamento, ele enfiou a mão no bolso

e, para sua total surpresa, notou que a pedra brilhante

tinha companhia. A rainha de xadrez, que não tinha

~LUV~
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estado em seu poder até então, encontrava-se em seu

bolso.

— Como você apareceu aqui? — perguntou ele,

olhando para a peça com a ajuda da pedra brilhante. A

rainha respondeu com um brilho em seus olhos dourados.

— Não foi uma atitude sábia, milady. Se os guardas a

descobrirem, bem como à pedra, eles a levarão, e não

terei como salvá-la. Mas torçamos para que isso não

aconteça, pois admito que estou bastante feliz por tê-la

outra vez comigo.

Os olhos dela mudaram do dourado para o azul, e

Kieran sorriu.

— Também precisamos torcer para que Daman

volte o mais depressa possível para Londres, assim posso

devolvê-la a ele e então ao mestre Culain. Você não vê a

hora de estar com seu senhor, não?

O azul se intensificou, o que indicava estado de

alegria, característica que Kieran já percebera havia

algum tempo.

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— Sim, sei muito bem como você se sente. Também

sinto muito a falta da srta. Glenys. — Ele passou o dedo

na cabeça da rainha. — Você acha que ela está bem? E a

salvo? Que besteira dela tentar vir ao meu socorro! Mas

Glenys é assim, uma mulher muito corajosa, porém tola.

Os olhos azuis voltaram para o dourado.

— Acha que estou sendo duro demais? — perguntou

ele, estendendo as pernas no estrado sujo que lhe servia

de cama. — Não foi a minha intenção, mas você deve

admitir que Glenys e eu fomos tolos em acreditar que um

dia pudéssemos ficar juntos. Mesmo assim foi um belo

sonho, não? Se for o último da minha vida, ficarei

bastante contente.

Cansado, Kieran recostou a cabeça na parede,

tentando encontrar uma posição um pouco mais

confortável. Não se atrevia a deitar-se, temendo que os

ratos e outros animais daquela prisão imunda

passeassem sobre seu corpo durante a noite. Não que

fosse conseguir descansar caso tentasse pegar no sono.

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O barulho na prisão era infernal. Homens, mulheres,

crianças gritando, resmungando, chorando, apertados em

celas fétidas e minúsculas. Guardas raspando seus

bastões nas grades, trocando de turno ou bebendo pelas

escadarias.

Além disso, o pensamento de que seria executado

não lhe saía da cabeça, por mais que tentasse esquecer o

assunto. Havia poucas chances de sair dali, de ser

resgatado por Glenys. A família dela com certeza estaria

furiosa com o rapto e, portanto, pressionaria todas as

autoridades possíveis para que pagasse com a vida por

aquele crime. Sim, Kieran sabia que merecia a punição,

principalmente por todos os delitos que cometera, mas

não podia negar que temia o laço da forca ou o machado

do carrasco. Ele torcia, porém, para que seu

comportamento fosse mais digno no momento de sua

morte, para não causar mais nenhum tipo de

constrangimento para sua família, e também para

Glenys.

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— Preciso me certificar de que você volte para as

mãos do seu senhor antes de a minha hora chegar —

repetiu ele para a rainha, que parecia observá-lo com

atenção através de seus olhos reluzentes. Ele não

gostaria de saber que consegui recuperá-la de Caswallan

apenas para perdê-la em um lugar tão repugnante

quanto Newgate. Mas não precisa ter medo, milady. Vou

pensar em uma maneira de tirá-la daqui, se tiver tempo

suficiente. Se Deus me ajudar, eu terei.

Os olhos dourados brilharam mais uma vez. Kieran

bocejou e enfiou-a em seu bolso, procurando mantê-la a

salvo.

— Eu teria o maior prazer em ficar a noite inteira na

sua companhia — disse ele, dessa vez dirigindo-se à

pedra da luz —, porém receio que os guardas vejam o

seu brilho e a levem embora. Não precisa ter medo.

Quando eu encontrar uma maneira de tirar a rainha

daqui, você também irá embora.

A pedra parou de brilhar naquele exato momento, e

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Kieran alisou a fria superfície por alguns segundos antes

de colocá-la no bolso ao lado da rainha.

Ele bocejou outra vez. Então fechou os olhos e

concentrou seus pensamentos em Glenys para manter o

desespero afastado. Como todo mundo, não gostava de

estar preso. Aquela era sua mais longa temporada na

prisão, mas antes sempre houvera a companhia de Jean-

Marc. A lembrança do amigo lhe trouxe uma série de

novas preocupações à mente. Estaria bem sozinho? Fazia

tantos anos que os dois viviam juntos em uma vida de

falcatruas. Um completava o outro, porém havia oca-

siões, com certa freqüência, em que a educação e

criação de Kieran serviam para serenar situações em que

o comportamento de Jean-Marc não lhe permitia agir da

melhor maneira. Em todos os negócios deles, Kieran era

o responsável, comandando as ações, investindo o

dinheiro e… Ele abriu os olhos e se levantou. Jean-Marc

não sabia nem como pegar seu dinheiro, pois não sabia

ler nem escrever. O que seria daquele homem?

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Kieran ficou com os olhos abertos, fitando a

escuridão durante um longo tempo, tomado pelo medo

incontrolável de que Jean-Marc ficasse perdido sem sua

ajuda, até que conseguiu raciocinar com mais clareza e

admitir que seu companheiro era uma pessoa

extremamente capaz. Era melhor ladrão e muito mais

malandro do que ele. Na verdade, a situação era bem

diferente. Kieran precisava de Jean-Marc, e não Jean-Marc

de Kieran. Se Jean-Marc quisesse tomar posse de seu

dinheiro, ele simplesmente entraria no banco e o

roubaria. E depois, pensou Kieran, fechando os olhos

outra vez, ele se estabeleceria em alguma parte distante

da Inglaterra e construiria uma bela casa. Sim, Jean-Marc

tinha extremo bom gosto e saberia fazer uma bela

mansão para viver com a esposa. Então os dois viveriam

na mais perfeita paz, criando pequenos moleques, todos

parecidos com o pai. Talvez um até se chamasse Kieran.

A idéia o fez sorrir. Ele virou a cabeça para o lado,

procurando uma posição mais confortável e adormeceu

alguns minutos mais tarde.

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Kieran se enganara ao achar que não conseguiria

dormir. Ele dormiu profundamente. Até sonhou. E foi um

sonho bastante agradável.

Glenys e ele estavam casados, vivendo em uma

bela propriedade localizada no topo de uma montanha

com vista para o mar. Tinham muitos filhos, meninos e

meninas, lindos, com cabelos dourados. Todos corriam de

um lado para o outro, brincando sem parar. De repente, a

rainha de xadrez surgiu, e todo o resto desapareceu.

Estava bela e majestosa… e lhe fez uma mesura,

chamando-o pelo nome que Glenys lhe dissera. Lorde

Eneinoig. Ela apontou para o mar, porém não havia mais

água, mas sim uma multidão de pessoas. Seus filhos com

Glenys, os filhos deles e, Kieran quase não acreditava no

que via, uma série de seus descendentes. A visão lhe

proporcionou um grande orgulho.

Ao nascer do sol, Kieran despertou, notando que

estava deitado. Olhou para o teto por alguns instantes,

tentando compreender o sonho.

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— O que foi isso? Um sonho de Abraão? Devo estar

ficando louco.

— É mesmo? — disse uma outra voz. — O que é

isso? Abraão? Kieran abriu os olhos e viu que era

observado por alguém.

O rosto tinha olhos azuis extremamente brilhantes e

uma longa barba. E sorria.

Ele esfregou os olhos e sentou-se.

— Quem é você?

O homem se endireitou e continuou a olhá-lo com

um sorriso nos lábios. Era alto e magro, com feições

delicadas, e vestia um elegante manto púrpura.

— Sou Aonghus Seymour — disse ele. — E você é

Kieran FitzAllen, e não Abraão.

— Aonghus Seymour — repetiu Kieran, imaginando

se havia algo de errado com sua mente. Com certeza não

escutara direito. — Glenys está bem? A salvo? Onde ela

está, em Londres?

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— Ainda não — respondeu Aonghus, sempre

sorrindo. — Entretanto, eu vim buscá-lo a pedido dela.

Você deve voltar comigo para Metolius.

— Não, eu serei enforcado — contou Kieran. — Ou

executado de qualquer outra maneira. Eu a seqüestrei.

Todavia, fico contente por tê-lo encontrado, pois tenho

algo que pertence ao seu irmão, tio de Glenys. — Ele

enfiou a mão no bolso e tirou a rainha, estendendo-a

para o homem. — Está em perfeito estado. Cuidamos

muito bem dessa preciosidade.

— Muito bem — disse Aonghus Seymour, satisfeito.

— Cullain ficará muito contente quando você lhe devolver

a rainha. Mas você precisa entregá-la pessoalmente para

que ele possa lhe agradecer. Agora vamos, FitzAllen, pois

deixei minha sobrinha, a srta. Helen, me esperando na

sala de guarda. Só Deus sabe os problemas que ela pode

causar se ficar muito tempo sozinha. — Ele virou-se e

saiu da cela, fazendo um sinal para os dois guardas que o

aguardavam do lado de fora.

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Tentando compreender o que acontecia, Kieran

balançou a cabeça, depois se levantou e seguiu Aonghus

Seymour.

— Milorde, temo que o senhor não tenha

compreendido direito. — Ele colocou a mão no braço de

Aonghus para fazer com que parasse e o escutasse. — Eu

seqüestrei Glenys, sua sobrinha. Eu a levei contra sua

vontade e a mantive prisioneira. E um crime passível de

pena de morte.

— Sim, é verdade — concordou o homem, afagando-

lhe a mão —, mas sei que Glenys ficará muito brava

comigo se eu permitir que algo tão cruel lhe aconteça. E

não se preocupe, porque o que aconteceu entre vocês

dois era para ter acontecido. Nós sabíamos de tudo

desde o princípio. E agora que finalmente o encontrei,

pretendo levá-lo a Metolius. Eu juro, minhas irmãs não

vêem a hora de conhecê-lo. Não imagina como foi difícil

convencê-las a não vir buscá-lo sozinhas. Tínhamos,

porém, que esperar pela carta de Glenys — disse ele, em

~LUV~
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tom mais confidencial. — Precisamos tomar muito

cuidado para que ela pense que foi tudo idéia dela.

Glenys não gosta de saber que descobrimos as coisas

antes de acontecerem. Tenho certeza que você concorda,

conhecendo-a tão bem.

— Ah… sim — balbuciou Kieran, ainda confuso. —

Com certeza.

— Muito bem. Agora vamos subir para tentar tirá-lo

daqui. Imagino que Helen já tenha cuidado de tudo

sozinha. — Ao pisar no primeiro degrau da escada, ele

olhou para trás. — Ela é muito parecida com Glenys. Tem

um bom coração, mas gosta de resolver tudo sozinha.

— Obrigado pelo aviso, senhor — disse Kieran,

rindo.

Os dois seguiram até o salão de guarda, onde, ao

avistar a srta. Helen, Kieran teve a certeza de que, se

havia alguém que pudesse convencer o diretor de

Newgate a libertar um prisioneiro, essa pessoa era

aquela mulher.

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Loira, com olhos verdes brilhantes e toda vestida de

preto, Helen era o tipo de mulher difícil de não se olhar.

O tipo de mulher estonteante, e tinha plena consciência

dessa qualidade. O tipo de mulher que exalava

sensualidade com grande convicção. Os olhos verdes

eram cativantes, mal escondendo a promessa de prazer.

Kieran, menos suscetível ao poder que algumas mulheres

exerciam sobre os homens, conseguiu se libertar daquele

olhar hipnotizante. Os outros homens no salão, com

exceção de Aonghus Seymour, não tiveram a mesma

sorte. Rodeavam-na como um bando de idiotas,

boquiabertos, prontos a fazer tudo que lhes fosse

ordenado.

Ignorando-os, a srta. Helen puxou sua elegante capa

preta, fechando-a sobre o peito, e caminhou para frente,

movendo-se como se estivesse flutuando, e não

andando.

— Aqui está você, mestre FitzAllen. Eu estava

pensando que não viria mais. Sargento — chamou ela,

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dirigindo-se a um dos homens, que a atendeu

prontamente. — Meu tio assinará a documentação

necessária. Depressa, por favor.

Tudo foi feito com tamanha facilidade que Kieran,

tendo vivido uma série de escapadas em sua vida, não

conseguia acreditar que, momentos depois, encontrava-

se dentro da mesma carruagem de onde seqüestrara

Glenys, conduzida por John e Willem, os dois criados que

ele e Jean-Marc tinham deixado amarrados.

Sua incredulidade aumentou quando chegaram em

Metolius e ele se viu parado à entrada da suntuosa

propriedade, rodeado pela família de Glenys, duas tias e

mais um tio, todos o abraçando como se fosse um filho

voltando para casa depois de muito tempo. Não houve

uma única palavra de reprimenda sobre o que ele fizera

com Glenys e sua criada, apenas boas-vindas e alegria.

Ainda atordoado, Kieran foi levado por uma grande

escadaria até um amplo quarto, onde havia uma

banheira cheia de água ao lado da lareira. Criados o

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aguardavam para atendê-lo. Foi banhado, depois vestido

com uma túnica de seda. Após a refeição, um verdadeiro

banquete, Kieran foi guiado até uma grande cama de

dossel, onde se deitou e adormeceu assim que fechou os

olhos.

Já era noite quando Kieran despertou, sentindo-se

um novo homem depois de ter comido e descansado.

Sabia que estava em Metolius, com a família de Glenys.

O motivo de estar ali ainda era um mistério, porém fazia

muito tempo que ele aprendera a não questionar a sorte.

Suas roupas tinham sido lavadas e secas, mas o

criado que o esperara acordar implorou-lhe para que

aceitasse as novas vestimentas que sir Aonghus

trouxera. Kieran concordou, imaginando que não fossem

servir. Para sua surpresa, a calça e a túnica de veludo lhe

caíram como uma luva, quase como se tivessem sido

confeccionadas para ele.

O criado lhe confidenciou que assim que a srta.

Glenys partira, sir Aonghus mandara preparar um

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guarda-roupa completo. Fazia vários dias que as roupas

estavam ali. Kieran olhou para o jovem com descrença,

mas ele lhe garantiu que era a mais pura verdade.

— Sir Aonghus deseja lhe falar, sir FitzAllen — disse

o criado, assim que Kieran terminou de calçar as botas,

tão confortáveis quanto seu antigo par.

— Um momento, sim? — pediu Kieran, penteando os

cabelos com os dedos e enfiando a mão no bolso da

túnica antes de seguir o criado para fora do aposento. —

Antes eu gostaria de falar com sir Culain, por favor.

Preciso lhe devolver algo, e é urgente.

Culain, bem como as tias de Glenys, estavam

sentados na elegante sala de estar, pela qual ele passara

ao entrar em Metolius. Todos se levantaram para

cumprimentá-lo. Culain estava sentado diante de uma

mesa de xadrez, e as duas mulheres perto da fogueira,

olhando para uma pequena caixa de madeira.

— Finalmente você veio! — exclamou uma delas,

com expressão de alegria. — Esperávamos que você

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acordasse para jantar conosco.

— Não será um grande prazer sentarmos todos

juntos? — perguntou a outra, sorrindo. — Ele não é lindo,

Mim? Nossa Glenys escolheu muito bem.

— Muito, muito bonito — respondeu ela. — Não será

uma honra ter a companhia de um homem tão bonito

quando sairmos para passear? Todas as mulheres nos

invejarão!

As duas caíram na risada e o abraçaram, uma de

cada lado.

— Deixem-no em paz, meninas — pediu Culain,

tomando a mão de Kieran entre as suas. — Ele acabou de

chegar. Precisa descansar e recuperar suas forças antes

da chegada de Glenys. — Ele olhou esperançoso para

Kieran. — Por acaso você gosta de jogar xadrez?

— Gosto — respondeu ele —, e será uma grande

honra disputar uma partida com o senhor. Agora devo ir

falar com sir Aonghus, mas antes queria lhe devolver

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isto. — Ele tirou a rainha de xadrez do bolso, segurando-a

na palma da mão. — Não vou negar que sentirei sua

falta, Boadicea. Saiba que estou muito contente por tê-la

trazido de volta para casa. Agora você está a salvo.

Ele entregou a rainha ao outro homem, que a pegou

com as mãos trêmulas.

— Ah, meu Deus! — exclamou Culain com os olhos

cheios de lágrimas. — Achei que nunca mais fosse vê-la.

Que bom que você a trouxe de volta para mim, Kieran

FitzAllen. Muito obrigado. — Os olhos azuis da rainha

brilhavam. — Obrigado. — Culain virou-se e saiu da sala,

conversando com a peça, sem ao menos se despedir das

irmãs e de Kieran.

— Não é maravilhoso — disse Mim, enxugando os

olhos. — Não é?

— É uma grande alegria saber que Culain recuperou

seu mais estimado bem — concordou Wynne. — Ele

sentiu muito a falta da rainha.

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— Acho que também tenho algo que lhes pertence,

minhas senhoras — contou Kieran, revelando a pedra da

luz. — Também sinto muito por ter de me separar desta

pedra, pois essa dócil criatura me deu enorme prazer

durante minhas viagens com Glenys, iluminando nossas

noites escuras.

— Ah, Mim, não temos muita sorte por ter Kieran

conosco? Ele tem um coração tão bom! Não, meu

querido, a pedra fica com você. Ela tornou-se sua, e não

mostrará sua luz a mais ninguém.

— É verdade, Kieran — concordou Mim. — Fique

com a pedra, caso contrário ela sofrerá por você, o que

será uma grande tristeza. Você quer ficar com ela, não

quer?

— Muito — respondeu ele de imediato. — Eu lhes

agradeço do fundo do meu coração.

— Mas que homem maravilhoso — suspirou Mim. —

Ele será tão bom para Glenys. É exatamente do que ela

precisa.

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— É mesmo. É perfeito. Nós não poderíamos ter

escolhido melhor. E nem tão bonito!

Kieran guardou a pedra no bolso, deliciando-se com

a adulação das duas senhoras.

— Aonghus o aguarda, Wynne. É melhor que ele vá

logo. — Mim ficou na ponta dos pés para beijar-lhe o

rosto. — Vá depressa, meu querido — disse ela, como se

estivesse falando com seu sobrinho predileto. — Nós nos

encontramos no jantar.

— Sim. — Wynne também o beijou. — Teremos

tanto que conversar! Corra para se encontrar com

Aonghus. Aposto que ele está muito ansioso para falar

com você.

Aquelas eram as mulheres mais adoráveis que

Kieran já conhecera. Ele beijou a mão de ambas e pediu

licença para se retirar antes de virar-se para o criado que

o aguardava à porta.

O homem o levou por um longo corredor, depois por

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outro, e finalmente desceram uma escadaria até chegar

ao porão. O criado se inclinou, puxou um anel de ferro e

abriu a porta. Uma nuvem de fumaça vermelha,

cheirando a pólvora, inundou o ar.

— Sir Aonghus o aguarda lá embaixo — anunciou o

criado, balançando a mão na frente do rosto.

A fumaça se dispersou o suficiente para Kieran

enxergar os pequenos degraus que seguiam até o

aposento subterrâneo.

— Muito bem. — Respirando fundo, ele começou sua

descida. A escada parecia ter sido feita para uma criança,

de tão peque nos que eram os degraus. Kieran foi

obrigado a pisar de lad para não cair e rolar até o final.

— Milorde? — chamou ele, tentando enxergar

através d fumaça cada vez mais densa e pungente. — Sir

Aonghus?

— É você, sir FitzAllen? Kieran começou a tossir.

— Sim!

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— Um momento, milorde. Essa fumaça sumirá

dentro de um instante.

Houve um brilho familiar de minúsculas estrelas

púrpura, e a fumaça vermelha se dispersou

imediatamente, desaparecendo de uma vez. Kieran se

viu no centro de uma câmara estranha e cavernosa,

iluminada por milhares de pedras brilhantes como a que

tinha em seu bolso. Aonghus Seymour, parecendo um

mago com suas roupas roxas, estava atrás de uma mesa

de madeira cheia de pequenos vidros, frascos e potes co-

loridos. Ganchos de madeira na parede atrás dele

sustentavam inúmeros sacos de couro, cheios de pó e

outras substâncias secas, imaginou Kieran.

— O senhor deseja falar comigo, sir Aonghus? —

perguntou ele, fazendo uma ligeira mesura.

— Sim. Sente-se aqui. Há uma mesa e algumas

cadeiras ali — falou Aonghus, seguindo para um canto

escuro e distante do aposento. Entretanto, à medida que

eles se aproximavam, pedras da luz colocadas em

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conchas se iluminavam, enquanto as que ficavam para

trás se apagavam. Kieran parou para olhar para trás.

— Você se incomoda, sir FitzAllen? Elas ficarão

contentes em acender de novo se você assim desejar.

— Não, de jeito nenhum — garantiu Kieran, pegando

sua pedra da luz e colocando-a em cima da mesa. Ela se

iluminou de imediato, unindo-se às irmãs. — Estou

acostumado com as pedras. Veja só, essa é minha. É um

tipo de amuleto.

— Que ótimo. — Aonghus pegou dois copos e uma

garrafa de vinho. — Mim e Wynne adoram as pedras e as

mimam até não poder mais.

— Agora eu compreendo. Eu me sinto muito

apegado à minha.

— Aposto que Glenys teve certa dificuldade em ficar

à vontade com a pedra durante a viagem, não? — Ele

indicou uma cadeira. — Sente-se, por favor. É um vinho

espetacular. Glenys nos trouxe da Itália da última vez

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que esteve lá. Várias garrafas. Eu não sou entendido no

assunto, mas Glenys tem uma natureza tão prática e

capaz… Não sei o que seria de nós sem a nossa querida

sobrinha. — Ele fechou a garrafa e olhou para Kieran,

ainda em pé. — Ela torna nossa vida possível, se é que

você compreende.

— Sim, compreendo perfeitamente. — O coração de

Kieran disparou. — Não precisa dizer mais nada, sir

Aonghus.

— Ah, preciso, sim. Eu nem comecei… Por favor,

Kieran, sente-se para eu poder fazer o mesmo. Meus

joelhos já não são tão fortes quanto antes.

Kieran obedeceu ao tio de Glenys e esperou que ele

se sentasse para dar um gole em seu vinho. Era de uma

boa safra, mas não conseguiu desfrutar a bebida devido

ao nervosismo que o consumia. Preferia estar em

Newgate, aguardando a morte, e não ali, na casa dela. O

que seria de sua vida quando fosse expulso de Metolius,

da vida de Glenys para todo o sempre? Imaginou que

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talvez pudesse procurar Jean-Marc e voltarem à antiga

vida, mas não. Era tarde demais. Jean-Marc não preci-

saria de seu antigo mestre como sombra em sua nova

vida com Dina.

— Você ama Glenys? — perguntou Aonghus, de

repente.

— Sim. — Kieran respondeu seu hesitar. — Demais.

Pelo menos acredito que seja amor. Se não, é algum tipo

de doença enlouquecedora que parece ter me roubado

toda a razão. Um tormento sem tamanho.

— Nunca escutei uma melhor descrição para o

amor. Mas como isso aconteceu? Helen me disse que

você é o tipo de homem que tem as mais adoráveis

mulheres a sua disposição.

— Ela disse? — Desde o primeiro encontro com

Helen, Kieran nutrira simpatia pela jovem, percebendo

que eram pessoas bastante parecidas. — Na verdade,

não sei como me apaixonei por Glenys. Entretanto,

aconteceu e não há como mudar esse sentimento. Saiba

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que tentei ao máximo tirá-la da minha cabeça, pois sei

que não podemos ficar juntos, de acordo com a lei. E eu

não lhe pediria para ficar comigo de outra maneira.

— Você não pode me dar uma explicação melhor? —

pediu Aonghus.

Kieran deu um longo gole em seu vinho e colocou o

copo a sua frente. Então limpou a boca e respirou

profundamente, ficando pensativo por alguns instantes.

— Glenys tem uma característica que me encanta.

Ela não é fútil ou convencida como as outras mulheres. É

uma pedra preciosa em meio a tantas jóias comuns.

Como a Pedra da Graça, creio eu.

Kieran sorriu, sentindo-se tolo. Aonghus o encorajou

a continuar, com o olhar.

— Até hoje, a minha vida foi muito simples, milorde.

É provável que eu seja o homem mais desprezível sobre

a face da terra. Mas as mulheres se encantam comigo

graças aos meus traços e simpatia. Eu sempre tive todas

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que desejei, sem precisar fazer o menor esforço. E elas

sabiam que eu era um homem do qual podiam se

aproveitar e depois ir embora. Mulher alguma quis ficar

comigo para sempre. Sendo bastardo e ladrão, ninguém

me recomendaria como marido, apesar da nobreza de

meus pais. Sempre fui procurado como amante, e como

tal fui considerado valioso. Um objeto de desejo. Só que

com Glenys não foi assim. — Ele soltou uma risada

amarga. — Ela não encontrou uma característica em mim

que a agradasse, por mais que eu tenha tentado mostrar.

Na verdade, ela me desprezou de início, e admito que foi

merecido, pois a raptei. Sim, ela me odiou.

— E com o tempo esse ódio foi passando? —

pressionou Aonghus, enchendo o copo de Kieran.

— De certa forma. Eu já tinha me apaixonado. O

rosto anguloso, os olhos expressivos… Eu conseguia ler

todos os seus pensamentos só de olhar para ela. Fiz

questão de lhe contar que não era um homem digno, e

mesmo assim Glenys se importava comigo. Ela se

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apaixonou por mim — disse ele, maravilhado com o

simples pensamento. — Foi quando descobri que não

conseguia ficar longe dela.

Kieran desviou o olhar, franzindo a testa.

— E era o que eu deveria ter feito. Meu único

consolo é não a ter desonrado. Eu lhe imploro que

acredite em mim, sir Aonghus. O homem que se casar

com Glenys terá uma mulher intacta. — As palavras eram

extremamente dolorosas de proferir, pois Kieran não

conseguia suportar a idéia de imaginá-la com outro.

— Disso eu tenho plena certeza — disse Aonghus. —

Diga-me, Kieran, você fala gaulês?

— Não, mas gostaria. Glenys fala tão bem. Eu acho

muito… — sensual, ele quase disse, mas se conteve,

terminando a frase com "lírico".

— Acredita nos antigos costumes? — perguntou

Aonghus.

— Em magia?

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— É uma forma de dizer o que consideramos

natural, mas concordarei com a palavra.

Kieran ficou pensativo por um instante.

— Sim. Acho que sim. Quando estávamos em Pentre

Ifan, eu vi um elfo… ou alguma criatura do tipo. Ele

tentou roubar a rainha de xadrez e me mordeu quando

tentei pegá-la de volta. Ainda tenho a cicatriz. — Kieran

levantou a mão para mostrar o ferimento. — E ele me

chamou por um nome esquisito.

— Eu sei. Lorde Eneinoig. Glenys lhe contou o que

isso significa para nossa família?

— Não sei nem o que o nome significa para os

outros — confessou Kieran, desculpando-se.

— Você será obrigado a aprender cymreag, Kieran.

Esse é o seu destino, meu filho. Aceita mais um pouco de

vinho? — Aonghus encheu o copo de Kieran, depois

recostou-se na cadeira e bebeu o seu. — Eneinoig

significa promessa. Há uma lenda muito antiga na nossa

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família dizendo que um "lorde prometido" surgiria para

guiar e dar poder às gerações futuras. E não seria um

Seymour. Ele seria nomeado pelas criaturas em que hoje

acreditamos, entre elas as fadas de Pentre Ifan. Esse ho-

mem seria chamado lorde Eneinoig, batizado por aqueles

que o escolhessem.

Kieran endireitou-se na cadeira.

— Milorde, temo que esteja equivocado. Não sou o

homem de quem está falando.

Aonghus o fitou com simpatia.

— Sinto muito se você não gosta, mas você é o tal

homem. Os Seymour não questionam a determinação

daqueles que têm maior sabedoria.

— Glenys lhe contou? — perguntou Kieran. — Ela lhe

escreveu?

— Não, não escreveu. Eu soube do ocorrido de outra

maneira, antes de você ter partido de Gales. As

evidências de que você é o escolhido são fortes. Você

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pode não aceitar, porém, agindo assim, estará rejeitando

muita coisa.

Kieran tentou não rir, mas não conseguiu.

— Eu sou um bandido, um ladrão. Essa escolha só

pode ter sido um erro.

— Foi o que você pensou quando descobriu que

Glenys o amava?

— Sim, com certeza.

— Então, meu filho, acho que você se enganou,

tanto em relação ao amor de Glenys quanto à escolha do

lorde prometido. Diga-me, você gostou de Glain Tarran?

— Eu nunca vi.

— Como assim? Glenys não o levou até lá?

— Ela disse que nem sempre aparecia.

— Você deveria ter visto! — protestou Aonghus,

indignado. — Agora é a sua propriedade, o trono de seu

poder. Você é o chefe da família, sendo digno de todos os

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poderes. E um direito seu ver a propriedade que lhe

pertence. Bem como todo o resto.

Kieran olhou para o velho, imaginando se sofreria de

alguma doença mental, pensando em como toda aquela

história aborreceria Glenys.

— Sir Aonghus, não se exalte. Eu farei tudo que me

pedir, mas peço-lhe que mantenha a calma.

— Meu caro, você deseja ter Glenys como esposa?

— E tudo que eu mais desejo na vida — confessou

ele. — Sei, contudo, que é um sonho impossível.

— Não é, meu lorde Eneinoig. Tudo que você tem a

fazer é aceitar o seu destino. E simples como parece.

Charme e habilidades não lhe faltam. São essas as

qualidades mais importantes em um líder. Não se

preocupe, Glenys cuidará de todo o resto.

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CAPÍTULO XX

Como poderia dizer não? Mesmo sabendo per-

feitamente que não servia para ser senhor de coisa

alguma, a tentação de ter Glenys era irresistível demais

para um homem naquele estado: fraco, desesperado e

desejando-a com todas suas forças.

E então Kieran concordou em ser o lorde Eneinoig

dos Seymour, o senhor prometido da família. Também

aceitou dar o sobrenome da família aos filhos que teriam,

abrindo mão do próprio. Entretanto, continuaria a usá-lo

em homenagem ao pai.

Para si mesmo, ele prometeu que faria tudo que

estivesse ao seu alcance para cumprir o papel que lhe

haviam designado. E Deus o ajudaria nessa missão. O

resto, aconselhou Aonghus, ficaria nas mãos capazes de

Glenys.

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Pelo que podia dizer, Kieran tinha a impressão de

que os tios e tias de Glenys queriam que ele fosse

encantador e charmoso. E como era um assunto que

dominava, não estava sendo nem um pouco difícil

agradá-los. Estava sendo ele mesmo, e todos o

adoravam, em especial as tias Mim e Wynne. As duas o

escoltavam de um lado para o outro por Metolius, uma de

cada lado, nos jardins, no grande salão, na sala de jantar.

Já tinham inclusive ido algumas vezes à missa na Igreja

St. Paul.

Mim e Wynne apresentaram-lhe a caixa especial, o

que intrigou e preocupou Kieran. Vendo os vários objetos

que surgiam cada vez que a caixa era aberta, ele

compreendeu a preocupação de Glenys em manter a

família afastada de olhares mais curiosos. Qualquer

pessoa que visse aquela caixa e a alegria das duas

senhoras concluiria, sem a menor sombra de dúvida, que

se tratava de bruxaria, e as levaria para a fogueira mais

próxima.

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Depois de muita insistência de ambas, Kieran abriu

a caixa. Uma chave velha e muito antiga apareceu. Mim

arregalou os olhos e abafou um gritinho histérico, e

Wynne desmaiou na hora. Diante da reação das

senhoras, ele recolocou a chave na caixa e fechou-a bem

depressa. Foi o suficiente para Mim também desmaiar.

Assim que voltaram a si, elas logo quiseram abrir a

caixa. Mim pegou um brinquedo de criança, feito de

ferro. A colher de prata que Wynne tirou também as

desapontou.

— Sinto muito — desculpou-se Kieran. — Eu não

sabia se vocês queriam ou não a chave, pois percebi que

as duas ficaram muito incomodadas. E agora vejo que

estão aborrecidas com o sumiço da chave. Deixe-me

tentar abrir a caixa outra vez.

— Não adianta — respondeu Mim. — Ela só aparece

uma vez a cada cem anos e…

Kieran abriu a caixa e lá estava a chave.

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— Olhem aqui — disse ele, pegando-a e colocando-a

nas mãos ansiosas das duas senhoras. — Acho que a

chave aparece várias vezes ao dia, uma vez a cada cem

anos. Hoje deve ser esse dia. O que ela abre?

Levando em consideração a reação causada pela

aparição da chave, Kieran não se espantou com o fato de

ninguém, nem mesmo Aonghus se lembrar para que,

exatamente ela servia. Sabia apenas que várias gerações

de Seymour a tinham procurado sem sucesso, até aquele

dia. Portanto, concluiu ele, aquele era mais uma das

lendas daquela curiosa família.

Depois de uma longa discussão, que terminou com a

decisão de guardá-la na caixa, a chave desapareceu. Por

um tempo. Todas as vezes que Kieran abria a tampa, a

chave estava lá. Dia após dia. Sempre ali, mas apenas

para ele. As tias se encantavam, porém ele preferia

descobrir algo mais interessante.

A srta. Helen aparecia ao final das tardes, pois

costumava dormir até tarde. Era educada com Kieran e

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seus parentes, sempre disposta a conversar ou auxiliar

os criados, mas passava grande parte do tempo distante.

Helen cuidara de grande parte dos negócios da

família durante a ausência de Glenys, e passava a maior

parte da tarde em Londres, conversando com banqueiros,

mercadores e capitães dos vários navios dos Seymour.

Estava sempre vestida de preto, sempre parecia

entediada e sempre desaparecia quando a noite

chegava. O fato parecia não incomodar nenhum dos

parentes, porém a curiosidade de Kieran foi aguçada,

principalmente diante das aparições de um gato preto de

olhos verdes que surgia de repente ao cair da noite e

perambulava pela casa na escuridão. Durante o dia, não

havia sinal do animal. Ele tinha suas suspeitas, mas havia

alguns assuntos que estavam além de seu conhecimento,

portanto, não se atinha muito a eles. Também ficava o

mais longe possível do gato, pois todo seu corpo se

arrepiava só de olhar para o bichano.

Quando não estava ocupado acompanhando as

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senhoras, Kieran passava horas e horas jogando xadrez

com tio Culain, reservando sempre um lugar de honra ao

lado do tabuleiro para a rainha. Ela nunca lhe parecera

tão contente por receber tamanha atenção, apesar de

todo o absurdo da situação.

De vez em quando, Kieran também tentava ajudar

Aonghus em suas experiências no porão, tarefa que

adorava, em especial quando aprendia a criar explosões.

Mais de uma vez os dois desceram as escadas cobertos

de pó, rindo sem parar e muito contentes com seus

feitos. Aonghus acreditava que o jovem levava jeito para

a arte da magia, mas o avisou que Glenys ficaria

possessa se colocassem fogo em qualquer parte da casa.

Kieran, que ficava mais impaciente a cada dia que

passava, não estava preocupado com a reação de

Glenys, apenas queria vê-la novamente e assegurar-se

de que ainda o amava. Não que estivesse infeliz em

Metolius; longe disso. Era mimado, paparicado e tratado

como um príncipe por todos, até mesmo por John e

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Willem, que o tinham perdoado, bem como a Jean-Marc,

pelo ocorrido. Todavia, por mais agradável que fosse,

faltava algo. Queria saber como sua amada estava, a

reação de Daman, se depois de tudo Glenys ainda queria

estar ao seu lado.

— Quando Glenys virá? — perguntou ele, olhando

pela janela do grande salão em um final de tarde. — Algo

deve ter dado errado para ela estar demorando tanto.

Aonghus afagou-lhe o ombro com sua mão

enrugada.

— Ela voltará logo, meu filho. Não se preocupe tanto

assim. Além do mais, quanto mais tempo Glenys ficar

fora, mais delicioso será o reencontro de vocês.

— Gostaria que o tempo fosse mais generoso

comigo — resmungou ele, suspirando.

Dois dias mais tarde começaram a chegar cavaleiros

em Metolius, deixando Mim e Wynne em alvoroço. Havia

uma grande quantidade de convidados chegando, elas

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contaram, porém ninguém sabia precisar quem eram,

nem quantos.

A srta. Helen recebeu a notícia e não fez nenhum

comentário a respeito. Tratou apenas de acalmar as tias

e de dar ordens para os criados.

Kieran, por sua vez, tentava manter-se distante para

não atrapalhar, e passava as tardes caminhando pelo

pátio e olhando para o portão, ou parado à janela do

grande salão, observando e esperando. Era grande a

tentação de escapar de Metolius na calada da noite e

correr para um de seus antigos refúgios em Londres, o

tipo de lugar onde se podia comprar e vender

informações. Decerto alguns dos sujeitos que freqüen-

tavam lugares daquele tipo teriam escutado, durante

suas viagens, algo sobre Glenys ou, mais provável, sobre

Jean-Marc. Entretanto, ele decidiu não colocar seu plano

em ação. Seria uma desfeita para com a família Seymour

arrumar qualquer tipo de problema. Além disso, tinha

plena certeza de que o misterioso gato o seguiria, o que

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não queria de forma alguma, um sentimento que lhe

deixava um peso na consciência.

Quando Glenys finalmente apareceu, foi tão de

repente, que Kieran não conseguiu sair de perto da

janela. Ela chegou montada em Nimrod, galopando pelo

pátio, com os cabelos soltos. Sua expressão exalava

alegria e exuberância. Ao descer do cavalo, dispensou a

ajuda dos criados e saiu correndo para as escadarias.

No instante em que Glenys abriu as portas, Kieran já

a esperava, e recebeu-a com um forte e apaixonado

abraço.

— Que saudade! — exclamou ele, girando-a em seu

colo. — Nem posso acreditar que você chegou.

— Ah, Kieran, foi tão… — começou Glenys, mas

assim que levantou o rosto, ele a beijou.

— Sinto muito por ter demorado tanto — disse ela,

após ter recuperado o fôlego. — Eu tive vários afazeres.

— Verdade? Espero que tenha resolvido tudo, pois

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não tenho a menor intenção de me separar de você outra

vez. Nós vamos nos casar. E o que seus tios e tias

querem. Até mesmo sua prima Helen.

— Eu sei. — Glenys abriu um belo sorriso. — Seu pai

também quer nos ver juntos. E sua mãe. E seu padrasto.

E todos os seus irmãos e irmãs… Meu Deus, como a sua

família é grande! Eu quase desisti de tentar reuni-los.

— Reunir a minha família?

— Sim. Eles devem estar chegando. Eu vim antes,

pois não agüentava mais ficar um minuto longe de você.

— Glenys ficou na ponta dos pés e beijou-o.

Com certa dificuldade, Kieran se desvencilhou dela.

— Eles estão vindo para cá? Todos?

— Sim. Não é maravilhoso? Eles vêm para o nosso

casamento. E porque eu não tinha certeza se tio Aonghus

conseguiria libertá-lo de Newgate. Até então eu não sabia

que Daman desistira de insistir em sua execução. Seu pai

mandou dez dos melhores cavaleiros para Newgate para

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impedir que você fosse enforcado. Ele queria ir

pessoalmente, mas eu o impedi, pois precisava de sua

ajuda em outros assuntos. Quando os homens voltaram

informando que você havia sido libertado e que estava

em Metolius, sentimos um grande alívio. Ah, Kieran… —

continuou ela, sem deixá-lo falar. — Foi tão horrível

quando Daman chegou à propriedade de seu padrasto!

Ele quase o matou. Quero dizer, seu padrasto quase

matou meu irmão. Todavia, sua adorável irmã, lady

Eunice, postou-se à frente de Daman e esperou que seu

padrasto recuperasse a razão. E agora… estou tão feliz

com o noivado dele com sua irmã Elizabeth! Meus tios

não vão acreditar.

A cabeça de Kieran girava sem parar. Ele teve de

segurar-se em Glenys para não perder o equilíbrio.

— Daman e Elizabeth, noivos? Mas…

— E Jean-Marc e Dina também. Fiquei muito triste

por você não ter estado conosco para escutar os votos

deles. Seu padrasto fez questão de agir corretamente,

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pois disse que não agüentava mais as estripulias de

vocês. O melhor de tudo, porém, é que conseguiremos

assistir aos dois casamentos. Ah, Kieran, estou tão

contente por tudo ter dado certo, que você nem

imagina… Nós somos as pessoas mais sortudas do

mundo.

— Eu sou — enfatizou Kieran —, mas você tem

certeza de que quer se arriscar unindo-se a mim? Não sei

se serei um bom marido. — Ele levantou-lhe o rosto. —

Não quero que um dia você se arrependa de ter se

entregando de corpo e alma a mim, minha querida.

Minha reputação não é das melhores, o que você deve

ter descoberto conversando com minha família.

Ela levantou a mão para afagar-lhe o rosto.

— Eles só me disseram que o amam muito, e que eu

sou uma mulher de muita sorte por ter sido escolhida

para ser sua esposa. Seu pai me contou como é a

propriedade que lhe deu, bem como toda a herança que

lhe cabe. Por que me deixou pensar que era tão pobre

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quando, na verdade, você possui tanto terras quanto

dinheiro?

— Lembra-se do último dia no Berte? Foi quando

tentei lhe dizer que era tudo o que eu tinha a oferecer de

valor. Acreditei que, dessa forma, você não acharia que

seria a esposa de um ladrão, ainda mais depois de ter

entrado comigo em lugares como o Berte ou Bostwick.

— Deus que me perdoe por ter pensamentos desse

tipo — disse Glenys. — Com você, meu amor, eu viveria

contente em qualquer lugar, mas saiba que jamais criaria

nossos filhos em bordéis e tavernas.

Kieran soltou uma sonora e contente risada.

— Sendo assim, creio que teremos de continuar a

fazer como você sempre fez. Passaremos parte do ano

em Metolius e a outra parte em Glain Tarran.

— Mas e a sua propriedade em Derbyshire?

— Estive pensando em dá-la de presente a Jean-

Marc e Dina, se meu pai não se importar demais.

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— Não acredito que ele se oponha. Seu pai ficou

muito contente em saber que vamos nos casar. É

estranho termos achado que não concordariam com

nosso casamento, porém todos que nos amam estão

muito contentes com a novidade. É como um milagre.

— Não — descordou Kieran, beijando-a. — Trata-se

de mágica. Quem diria que um sujeito como eu

encontraria uma dama tão elegante? Você está prestes a

se casar com um miserável, mas eu te amo, e para

sempre.

— Eu também te amo — murmurou ela. — E não

ouse dizer que é um miserável, Kieran FitzAllen. Você não

chega nem perto disso. Apesar de me ter feito sua

prisioneira, você me ensinou coisas maravilhosas, sem

contar toda a felicidade que me proporcionou. Aprendi a

acreditar na magia, fato que tentei negar durante tanto

tempo. Não, você não é um miserável, mas sim um

moleque, tratante e… todo meu!

O ardente abraço na porta de entrada foi

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atentamente observado pelos tios e tias de Glenys, bem

como por Helen, que tinha um de seus raros sorrisos nos

lábios. Do lado de fora, o barulho de cavalos e

carruagens indicava a chegada dos convidados. E os dois

continuavam abraçados, desfrutando daquele momento

único, como se fossem as únicas pessoas ali presentes.

— Eles formam um casal maravilhoso — disse Mim,

suspirando. — Foram feitos um para o outro.

— E mesmo — concordou Wynne. — A nossa Glenys

não poderia encontrar um homem melhor do que Kieran.

Os dois serão muito felizes juntos. Só espero que Daman

não se importe com o fato de ser a irmã que continuará

com a linhagem da família.

— Essa responsabilidade não poderia ter sido de

Daman — descordou Aonghus. — Ele é um jovem muito

bom, e certamente nós lhe teríamos confiado essa

função, mas sua praticidade atrapalha um pouco. Daman

jamais honraria os antigos costumes com a mesma

dedicação de Kieran. Na realidade, Kieran é a pessoa

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exata. Se ele acha que já viveu inúmeras aventuras, é

bom que se prepare para as que estão por vir.

— Minha rainha o aprovou — disse Culain. — É um

detalhe muito importante.

— Glenys o aprovou — interveio Helen. — Esse é o

detalhe mais importante. Ele será um bom marido. Só

espero que eu também encontre alguém assim para

passar o resto dos meus dias.

— Você encontrará um excelente marido — garantiu

Aonghus. — Com o tempo, minha querida. Tenha

paciência.

— Eu tenho de sobra. Bom, mas vamos deixar essa

conversa para outra hora. Os convidados estão chegando

e parece que Glenys e seu noivo perceberam. É incrível

como eles conseguem respirar se abraçando com

tamanha intensidade. Os parentes de Kieran se

assustarão ao entrar em Metolius e encontrá-los assim.

— Dê-lhes mais um momento de tranqüilidade —

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pediu Mim. — É tão lindo ver os dois juntos. Mas que final

feliz, não é, Wynne?

Wynne assentiu, limpando as lágrimas dos olhos.

Aonghus, por sua vez, abriu um belo sorriso.

— Não é um final, meus caros, afinal de contas

Kieran e Glenys são da nossa família. — Trata-se de um

começo. E um excelente começo!

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