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MINISTÉRIO PÚBLICO

DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E ACÇÃO PENAL e-'~


DISTRITO JUDICIAL DE COIMBRA ;)

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e humanos muito superior à do Hospital de Seia, para sua estabilização estudo e

tratamentooptimizado1617.

Deve, pois, concluir-se que houve por parte da arguida a violação de "Ieges-artis"
\

médicasem termos e com consequênciasque, a nossover, permitem a sua responsabilização

criminal.

Na verdade, não parece restar dúvida que, sendo a arguida uma médica

especializada,a exercer funções, com elevado mérito18, há largos anos num hospital central,

também ele de (justa, diga-se) referência a nível nacional e internacional, com amplos

recursosmateriais, técnicos e humanos que permitiram um melhor atendimento ao doente,

estavaperfeitamenteao seu alcance ter adoptado uma outra conduta, mais cuidadosa, que

nestecaso seria ter ordenado que o doente permanecessenos HUC, de modo a respeitar

não só as prescrições decorrentes dessas "Ieges-artis", mas também o dever genérico de

cuidado que sobre todos impende. 1~f

Ora, ao não adoptar essaconduta mais 'cuidadosa,a arguida "lançou" o doente - ao

qual, recorde-se,a própria tinha diagnosticado uma pneumonia e alterações analíticas

compatíveiscom enfarte sem Supra-SI, acompanhadasda constataçãoda existência vómitos

e de queixas (dominantes) do foro digestivo19- num crescendo de risco, completamente

16Cfr. as respostas aos quesitos n° 2 e n° 7.


17Exactamenteno mesmo sentido, de que a Dra Maria da Graça Calado Oliveira Castro não deveria
ter dado alta ao doente, ordenado o seu regresso ao Hospital de Seia, concluiu a Sra. Dra. Isabel
Maria Moura Marcão, Assistente Graduada de Medicina Interna, em parecer emitido no âmbito do
processode averiguaçõesinstaurado pela IGS a propósito da mesma situação.
18Veja-seo depoimento das testemunhas por ela indicadas.
19Se o agente se apercebe que o estado do doente já por si é débil, sobre ele impende não só o
deverde actuar segundo as "leges-artis" médicas mas também segundo a regra geral "concretizada
na contextualidadeem que o agente actua, de um cuidado acrescido ou potenciado de não causar o
resultadoproibido, quando algum dos membros da comunidade de perigo se apresentafragilizado no
seio dessa precisa comunidade" - J. de Faria Costa, in "O Perigo em Direito Penal", 1992, pág.
554.

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