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Apresentação

do volume do curso de Física


B em-vindo ou bem-vinda! Este é o seu segun-
Física! Apresentamos os principais conceitos estudados
em Física. A maioria deles aparece em situações que podem ser observadas no
seu dia-a-dia, em casa, na rua, no trabalho, no céu...
Com isso, buscamos mostrar a você que os fenômenos físicos ocorrem em
todo lugar e a todo momento
momento, e que os conhecimentos da Física estão acessíveis
a todas as pessoas que têm curiosidade em relação a eles, mesmo as pessoas que
estejam fora das universidades ou dos laboratórios científicos.
Essa maneira de expor idéias - por meio de situações comuns, observando
o que ocorre ao nosso redor - facilita a compreensão dos conceitos científicos,
muitas vezes abstratos, e ajuda a explicar os mais diversos fenômenos que
ocorrem na natureza.
Seu livro de Física está dividido em dois volumes. No primeiro, você
aprende um pouco mais sobre os fenômenos físicos e de que modo essa ciência
estuda tais fenômenos. Observar fenômenos relacionados aos movimentos
movimentos,
analisa forças
forças, verifica que existem diferentes formas de energia na natureza,
descobre fenômenos que ocorrem, por exemplo, quando mergulhamos objetos
em líquidos, e muitas outras questões. Nesta parte da Física, a maioria dos
fenômenos estudados são macroscópicos
macroscópicos, isto é, são visíveis para todos nós.
No segundo volume, você aprende mais coisas sobre o calor e a temperatu-
ra
ra, sobre o som
som, sobre a luz e como ela se comporta, e estuda fenômenos
relacionados à eletricidade
eletricidade. Além disso, vê alguns temas de Física Moderna
Moderna,
como a tão falada Física Nuclear
Nuclear. Nessa parte, você estuda a interpretação
microscópica dos fenômenos, isto é, interpretação daquilo que não é diretamente
observado a olho nu.
Os livros estão organizados da seguinte maneira.

Cada aula abre com a seção Para começar


começar. Ali você vai
encontar uma introdução ao principal assunto tratado na
aula. Apresentamos uma situação, ou uma pergunta, re-
lacionada aos conceitos que serão discutidos.

A aula, propriamente dita, tem início na seção Fique li-


gado. Aí é bom ficar bem atento, pois serão discutidos e
gado
explicados os conceitos novos.
Outras duas seções vão aparecer com freqüência:

Com a mão na massa


massa, na qual sugerimos atividades
ou exercícios para serem feitos no decorrer da aula.

Passo-a-passo
Passo-a-passo, em que apresentamos exemplos ou
exercícios resolvidos detalhadamente.

No final da aula existem mais duas seções importantes:

Para terminar
terminar, na qual apresentamos, de forma reduzi-
da, os principais conceitos discutidos.

Finalmente, na seção Mãos à obra


obra, você vai encontrar
alguns exercícios que vão ajudar a fortalecer seus estu-
dos.

Esperamos que, a partir deste estudo, você, caro aluno ou cara aluna, passe
a observar de outra forma a natureza que o[a] cerca, e mais do que isso, saiba que
a ciência é uma maneira mais organizada de estudar o que acontece na natureza,
e que o conhecimento - que vem sendo acumulado durante séculos e milênios
- é fruto da curiosidade de várias gerações de homens e de mulheres.
Compreendendo melhor a ciência, é possível observar o mundo com outros
olhos, com os olhos não apenas de um simples observador, mas de um cidadão
ou de uma cidadã que compreende muitas coisas e que pode participar da
construção das transformações que ocorrem no mundo de hoje e na nossa
sociedade!

Desejamos a você bons estudos!

AUTORIA
Alberto Gaspar
Cristiano Rodrigues de Mattos - coordenador
Ernst W. Hamburger - supervisor
Norberto Cardoso Ferreira
Roberta Simonetti
APOIO
Universidade de São Paulo
A UA UL L AA

22
22
Estou com febre?

T riiiimmm!! Toca o despertador, é hora de


acordar. Alberta rapidamente levanta e se prepara para sair de casa.

- Vamos, Gaspar, que já está na hora! Você vai se atrasar!


Gaspar se move na cama, afundando mais entre os lençóis:
- Acho que estou com febre... Hoje vou ficar na cama...
Alberta se aproxima. Põe a mão na testa de Gaspar e, depois, na sua. Repete
a operação e arrisca um diagnóstico:
- Você está quentinho, mas não acho que tenha febre... Vamos deixar
de onda!

O objetivo desta aula não é discutir o que é febre, tampouco as suas causas.
Queremos discutir o que fazer para descobrir se estamos com febre, isto é, qual
o aparelho usado para esse fim e que conhecimentos da física estão por trás do
seu funcionamento.
É bem conhecido o fato de que o corpo humano mantém a sua temperatura
em torno de 36ºC, salvo quando estamos com febre.
Quando alguém menciona a palavra temperatura
temperatura, nós a compreendemos,
mesmo sem jamais tê-la estudado. Por exemplo: quando a previsão do tempo
afirma que “a temperatura estará em torno de 32ºC”, sabemos que o dia será bem
quente e que é bom vestir roupas leves! Em outras palavras, sabemos que a
temperatura está relacionada a quente e frio.

Vamos voltar ao assunto da febre!

Quando uma pessoa acha que está com febre, a primeira coisa que nos ocorre
é colocar a mão na testa dela, ou em seu pescoço, e arriscar um diagnóstico. Às
vezes também colocamos a mão na nossa própria testa, para fazer uma
comparação
comparação.
Quando fazemos isso, podemos afirmar, no máximo, que a pessoa está mais
ou menos quente que nós. Mas isso não basta para dizer se ela está com febre!
Gaspar acha que está com febre. Alberta acha que não. E aí, como resolver
a questão?
Será o nosso tato um bom instrumento para medir temperaturas
temperaturas?
Vamos fazer uma experiência.
Testando o nosso tato... A U L A

Para esta atividade você vai precisar de quatro recipientes. Eles devem ser
suficientemente grandes para conter água, gelo e a sua mão. 22
a) Coloque os recipientes 1, 2, 3 e 4 enfileirados sobre uma mesa, como indica
a figura.
b) Aqueça um pouco de água e coloque no recipiente 1. Cuidado para não
aquecer demais e se queimar!
c) Nos outros recipientes, coloque água da torneira. Acrescente gelo ao reci-
piente 4.

água + vapor água à temperatura água + gelo


(quente) ambiente (fria)

Agora estamos prontos para iniciar as observações.

d) Coloque a mão esquerda no recipiente 2 e a direita, no recipiente 3. Aguarde


alguns instantes.
e) Mude a mão esquerda para o recipiente 1 (com água aquecida) e a direita
para o recipiente 4 (com gelo). Aguarde alguns instantes.
f) Coloque as mãos onde elas estavam anteriormente (item d).

Agora responda: o que você sentiu?


Você deve ter tido a sensação de que a água do recipiente 2 está mais fria do
que a água do recipiente 3. Mas elas estão à mesma temperatura, pois ambas
foram recolhidas da torneira!
Como você pôde ver, o nosso tato nos engana e por isso nós podemos
concluir que o tato não é um bom instrumento para medir temperaturas
temperaturas!

Equilíbrio: uma tendência natural

O que acontecerá se deixarmos os quatro recipientes da experiência acima


sobre a mesa, por um longo período de tempo?
Quantas vezes ouvimos dizer: “Venha se sentar, a sopa já está na mesa, vai
esfriar!” Quantas vezes conversamos distraidamente e, quando percebemos, a
cerveja que está sobre a mesa ficou quente?
Isso ocorre pois, quando dois ou mais objetos estão em contato, suas
temperaturas tendem a se igualar e, ao final de um certo tempo, os dois objetos
terão a mesma temperatura.
Nessa situação, isto é, quando dois objetos estão à mesma temperatura,
dizemos que eles estão em equilíbrio térmico
térmico.
A sopa ou a cerveja sobre a mesa estão em contato com o ar, que tem uma
certa temperatura - chamada temperatura ambiente
ambiente. Depois de certo tempo,
A U L A todos estarão em equilíbrio térmico
térmico, à temperatura ambiente! A sopa, que
estava mais quente que o ar, vai esfriar, e a cerveja, que estava mais fria, vai

22 esquentar.

Medindo temperaturas

Já que não é possível descobrir se há febre usando apenas o tato, precisamos


recorrer a um instrumento de medida mais preciso: o termômetro
termômetro. O termômetro
utilizado para medir a temperatura do corpo humano é conhecido como
termômetro clínico (Figura 1). Seu princípio de funcionamento é semelhante ao
de outros tipos de termômetro.

Esse termômetro é for-


mado por um tubo de
vidro oco no qual é de-
senhada uma escala: a
escala termométrica
termométrica.
No interior desse tubo
existe um outro tubo,
muito fino, chamado de
tubo capilar
capilar. O tubo
capilar contém um lí-
Figura 1
quido, em geral mercú-
rio (nos termômetros clínicos) ou álcool colorido (nos termômetros de parede
usados para medir a temperatura ambiente).

Quando colocamos a extremidade do termômetro clínico em contato com o


corpo, o líquido no interior do tubo capilar se desloca de acordo com a
temperatura do corpo.
É importante notar que, após colocar o termômetro sob o braço, precisamos
esperar alguns minutos. Esse tempo é necessário para que se estabeleça o
equilíbrio térmico entre o corpo e o termômetro. Assim, o termômetro vai
indicar exatamente a temperatura do corpo. Para “ler” a temperatura, basta
verificar a altura da coluna de mercúrio, utilizando a escala termométrica.
Podemos refletir agora sobre algumas questões importantes:
· Como funciona o termômetro, isto é, por que o líquido se desloca?
· Como se constróem as escalas termométricas
termométricas?
O objetivo das seções seguintes é responder a essas duas questões.

Aquecendo objetos

O funcionamento do termômetro se baseia num fenômeno observado nas


experiências: em geral, os objetos aumentam de tamanho quando são aquecidos.
Este aumento de tamanho é chamado de dilatação
dilatação. Por exemplo: nas constru-
ções que utilizam concreto armado, como pontes, estradas, calçadas ou
mesmo edifícios, é comum deixar um pequeno espaço (as chamadas juntas de
dilatação) entre as placas de concreto armado. A razão é simples: as placas estão
expostas ao Sol e, quando aquecidas, dilatam-se. As juntas servem para impedir
que ocorram rachaduras.
Outro exemplo é encontrado nos trilhos dos trens: entre as barras de ferro A U L A
que formam os trilhos existem espaços. Eles permitem que as barras se dilatem
sem se sobrepor uma à outra, como mostra a figura abaixo.
22

Mais um exemplo do nosso dia-a-dia: quando está dificil remover a tampa


metálica de um frasco de vidro, basta aquecê-la levemente. Assim, ela se dilata
e sai com facilidade. Mas resta agora uma dúvida:

Por que os objetos aumentam de tamanho quando aquecidos?

Para responder a essa questão, precisamos saber um pouco sobre a estrutura


dos objetos. Não vamos aqui entrar em detalhes, pois este será o tema de uma
outra aula. Por enquanto, basta saber que todos os objetos, independentemente
do tipo de material de que são feitos, são formados por pequenas estruturas
chamadas de átomos.
Sabemos que esses átomos estão em constante movimento.
Você já aprendeu que existe uma energia associada ao movimento de um
objeto: a energia cinética
cinética. Aprendeu também que ela é maior quanto maior é
a velocidade do objeto em movimento.
Ao ser aquecido, um objeto recebe energia, que é transferida aos seus
átomos. Ganhando energia, os átomos que formam o objeto passam a se mover
mais rapidamente. Nós já sabemos que, quando aquecemos um objeto, sua
temperatura aumenta.
Isso nos faz pensar que a temperatura de um objeto está relacionada ao
movimento de seus átomos. Assim chegamos a uma conclusão importante:

A temperatura de um objeto
é uma grandeza que está associada
ao movimento de seus átomos.

Tendo mais energia, os átomos tendem a se afastar mais uns dos outros.
Conseqüentemente, a distância média entre eles é maior. Isso explica porque
os objetos, quando aquecidos, aumentam de tamanho, isto é, dilatam-se.
Então, aprendemos outro fato importante:

Dilatação é o aumento de tamanho de um objeto,


quando ele é aquecido, em conseqüência do aumento
da distância média entre os átomos que o formam.
A U L A Como calcular a dilatação de um objeto?

22 Vamos imaginar uma barra de ferro de trilho de trem. Suponha que ela tem,
inicialmente, um comprimento L0.
Ao ser aquecida, a barra aumenta de tamanho: aumentam seu comprimen-
to, sua largura e sua altura. Mas, inicialmente, vamos analisar apenas a variação
do comprimento da barra, que é bem maior do que a variação das outras
dimensões, isto é, a largura e a altura. Veja a ilustração abaixo.

As experiências mostram que a variação do comprimento (DL) é


diretamente proporcional à variação da sua temperatura (Dt) e ao seu
comprimento inicial (L0), isto é:
DL µ Dt
DL µ L 0

Matematicamente, podemos escrever da seguinte maneira:

DL = L 0 · a · Dt

onde a é a constante de proporcionalidade.

Portanto, a variação do comprimento de um objeto é diretamente propor-


cional à sua variação da temperatura.
As experiências mostram também que a constante de proporcionalidade
(a) depende do tipo de material de que é feito o objeto. No caso da nossa barra,
esse material é o ferro.
A constante de proporcionalidade (a) recebe o nome de coeficiente de
dilatação linear
linear, e seu valor pode ser calculado experimentalmente para cada
tipo de material. Para isso, basta medir L0, DL e Dt.
∆L
α =
L 0 ⋅ ∆t

Unidade

Observe que DL e L0 têm unidade de comprimento, que se cancela. Assim,


resta a unidade do Dt, isto é, da temperatura.
Portanto, a unidade do coeficiente de dilatação linear é o inverso da unidade
da temperatura, que veremos na próxima seção.
O que vimos não se aplica apenas ao comprimento de um objeto: serve
também para as outras dimensões do objeto, isto é, a largura e a altura.
Em vez de falar na variação de cada uma das dimensões do objeto separa- A U L A
damente, podemos falar diretamente da variação de seu volume, isto é, da
dilatação volumétrica, que matematicamente pode ser escrita como:
22
DV = V0 · g · Dt

onde g é chamado de coeficiente de dilatação volumétrica


volumétrica, e seu valor é três
vezes o coeficiente de dilatação linear, isto é, g = 3a .

Essas “leis” que descrevem a dilatação de sólidos servem também para os


líquidos. A diferença é que os líquidos não têm forma definida: eles adquirem
a forma do recipiente que os contém, que também podem se dilatar.

Agora é possível entender como funciona o termômetro: o líquido que está


no interior do tubo capilar se dilata à medida que é aquecido; assim, a altura da
coluna de líquido aumenta.
A variação da altura da coluna é diretamente proporcional à variação da
temperatura, e esse fato é muito importante. Isto quer dizer que as dimensões
dos objetos variam linearmente com a temperatura. Graças a esse fato, é possível
construir os termômetros e suas escalas, como descreveremos a seguir.

O termômetro e sua escala

Quando medimos uma temperatura, o que fazemos, na realidade, é compa-


rar a altura da coluna de líquido com uma escala. Por isso, a escala é muito
importante.
Para construir uma escala é necessário estabelecer um padrão. Lembre-se de
que na Aula 2 falamos sobre alguns exemplos de padrões: o metro padrão e o
quilograma padrão
padrão. As escalas são construídas com base nos padrões.
A escala de temperatura adotada em quase todos os países do mundo,
inclusive no Brasil, é chamada de escala Celsius
Celsius, em homenagem ao sueco
Anders Celsius, que a inventou.
Já sabemos que a altura da coluna de líquido varia de acordo com a
temperatura: quanto maior a temperatura, maior a altura da coluna. Sabemos
também que a altura varia linearmente com a temperatura.
A escala termométrica é formada por um conjunto de pon-
tos, cada um associado a um número que corresponde ao valor
da temperatura.
Então, para construir uma escala, é preciso determinar esses Figura 2
pontos e estabelecer a sua correspondência com o valor da
temperatura.
A escala Celsius utiliza a temperatura da água para definir
seus pontos. Ela é construída da seguinte maneira: inicialmente,
são definidos dois pontos, o inferior e o superior.
Para determinar o ponto inferior da escala, coloca-se o
termômetro numa mistura de água com gelo e aguarda-se o
equilíbrio térmico (Figura 2). Neste momento, a coluna atinge
uma determinada altura, onde se marca o primeiro ponto,
definido como zero grau Celsius, que corresponde à tempera-
tura de fusão do gelo (passagem do estado sólido para o
líquido).
A U L A
O ponto superior da escala é definido colocando-se o

22 Figura 3 termômetro num recipiente com água em ebulição (fervendo).


Quando o equilíbrio térmico é atingido, a coluna de líquido
atinge uma altura que determina o ponto superior da escala.
Esse ponto é definido como 100 graus Celsius, que corresponde
à temperatura de ebulição da água (Figura 3).

Em seguida, a escala é
dividida em 100 p artes
iguais, de modo que cada
uma corresponda a um grau
Celsius. Por isso a escala
Celsius é também chamada
de escala centígrada (cem
graus), e dizemos graus CelCel--
sius ou graus centí grados
centígrados
(Figura 4).Nessa escala, a tem-
Figura 4
peratura normal do corpo é
de aproximadamente 36°C.

Gaspar pediu um termômetro emprestado a Maristela. Era um termômetro


um pouco estranho. Nele estava escrito “graus F”; o menor valor indicado era
32°F e o maior, 212°F.
Gaspar colocou o termômetro embaixo do braço e esperou alguns minutos.
Após esse período, verificou a altura da coluna de mercúrio: ela indicava 100 dos
tais graus F.
E agora? Gaspar, afinal, tinha febre ou não? Qual seria a relação entre os
“graus F” e os já conhecidos graus Celsius? Tudo o que Gaspar sabia era que na
escala Celsius, em condições normais, sua temperatura deveria estar em torno
dos 36°C.
Gaspar telefonou para Maristela, pedindo explicações. E a moça explicou:

- A tal escala F é pouco utilizada e se chama escala Fahrenheit


Fahrenheit, em
homenagem ao seu inventor. Essa escala também utiliza a água para determinar
seus pontos. Mas atribui à temperatura de fusão do gelo o valor 32°F (que
corresponde a 0°C), e à temperatura de ebulição da água atribui o valor 212°F
(que corresponde a 100°C).

É simples relacionar uma mesma temperatura medida nessas duas escalas,


isto é, estabelecer a correspondência entre a temperatura Fahrenheit e a tempe-
ratura Celsius.
Observe este esquema:
A U L A
Seja tF a temperatura de Gaspar medida na escala Fahrenheit. Qual será a
temperatura Celsius (tC ) correspondente?
Os segmentos A e A’ são proporcionais, assim como B e B’, de modo que 22
podemos escrever:
A B
=
A' B'

(t C − 0o ) 100 o -
((100º − 0o )
0º)
o
= o
(t F − 32 ) 212 -
((212º − 32o )
32º)

5
tC = (t F − 32o )
9

Essa expressão relaciona a temperatura medida nas duas escala. Assim,


conhecendo a temperatura de Gaspar, medida na escala Fahrenheit, podemos
saber qual a sua temperatura em Celsius. Basta substituir o valor medido (100°F)
na expressão acima. Assim, concluiremos que:

tC é aproximadamente 37,8°C

Gaspar tinha razão. Estava realmente com febre!

Absolutamente zero?

Gaspar passou o dia na cama, com a questão da temperatura na cabeça.


Pensou no seguinte:

- A temperatura de um objeto está associada ao movimento de seus átomos.


Se baixarmos a temperatura do objeto, esse movimento diminui. Qual será a
menor temperatura que um objeto pode ter? Será possível parar completamente
seus átomos?

Gaspar foi investigar. Descobriu que sua pergunta foi o que deu origem a
uma outra escala termométrica, chamada de escala absoluta ou escala Kelvin,
em homenagem ao inglês Lord Kelvin.
Em grandes laboratórios científicos buscou-se a temperatura mínima que
um corpo poderia ter. Cientistas concluíram que não é possível obter tempera-
tura inferiores a 273°C negativos, isto é, - 273°C!
Essa temperatura é conhecida como zero absoluto ou zero Kelvin
Kelvin. Essa
escala é adotada em laboratórios, mas não no nosso dia-a-dia, pois as tempera-
turas com que estamos habituados são bem maiores! Normalmente utilizamos
um T maiúsculo para indicar temperaturas absolutas. Sua unidade é o Kelvin
(K). A relação entre a temperatura absoluta e a temperatura Celsius é simples:

T = tC + 273
A U L A Nesta aula você aprendeu que:

22 · a temperatura de um objeto está relacionada às nossas sensações de quente


e frio;
· o nosso tato não é um bom instrumento para medir temperaturas;
· a temperatura de um objeto está associada ao movimento de seus átomos e
que, quanto maior for a velocidade dos átomos, isto é, quanto mais agitados
eles estiverem, maior será a temperatura do objeto;
· dilatação é o aumento das dimensões de um objeto, em conseqüência do
aumento de sua temperatura, e que as dimensões variam linearmente com
a temperatura;
· para medir temperaturas, utilizamos instrumentos chamados termômetros
termômetros.
· o funcionamento dos termômetros se baseia no fenômeno da dilatação e na
sua propriedade de linearidade;
· existem várias escalas termométricas, sendo a mais utilizada a escala Celsius;
· há correspondência entre as diferentes escalas (Kelvin, Celsius e Fahrenheit).

Exercício 1
Explique por que, quando queremos tomar uma bebida gelada, precisamos
aguardar algum tempo depois de colocá-la na geladeira.
Exercício 2
Numa linha de trem, as barras de ferro de 1 metro de comprimento devem
ser colocadas a uma distância D uma da outra para que, com a dilatação
devida ao calor, elas não se sobreponham umas às outras. Suponha que du-
rante um ano a temperatura das barras possa variar entre 10°C e 60°C. Con-
siderando que o coeficiente de dilatação linear do ferro é 1,2 · 10-5 ºC -1 ,
calcule qual deve ser a distância mínima D entre as barras para que, com a
dilatação, os trilhos não sejam danificados.
Exercício 3
Maristela mediu a temperatura de um líquido com dois termômetros: um
utiliza a escala Celsius e o outro, a Fahrenheit. Surpreendentemente, ela
obteve o mesmo valor, isto é, tC = tF. Descubra qual era a temperatura do
tal líquido.
Exercício 4
Lembrando o conceito de densidade que discutimos na Aula 19, responda:
o que acontece com a densidade de um objeto quando ele é aquecido?
Exercício 5
Gaspar estava realmente com febre: sua temperatura era de tF = 100°F.
Descubra qual é o valor normal da temperatura do corpo humano na escala
Fahrenheit.
Exercício 6
Gaspar encheu o tanque de gasolina e deixou o carro estacionado sob o sol
forte de um dia de verão. Ao retornar, verificou que o combustível havia
vazado. Explique o que ocorreu.
A UU
A L AL A

23
23
Água no feijão, que
chegou mais um!

S ábado! Cristiana passou a manhã toda na


cozinha, preparando uma feijoada! Roberto tinha convidado sua vizinha,
Maristela, para o almoço.
Logo cedo, Cristiana perguntou a Roberto se ele tinha colocado as cervejas
e os refrigerantes na geladeira. Ela estava preocupada porque, na última festa,
Roberto se esquecera de colocar as bebidas para gelar.
Mas, dessa vez, Roberto se antecipou a Cristiana e logo cedo encheu a
geladeira com muitas cervejas e refrigerantes!
Quase meio-dia. A campainha toca. Roberto vai atender a porta e, quando
abre, toma um grande susto: o filho, Ernesto, entra correndo pela porta com mais
três amigos.
- A gangue do Lobo veio almoçar!
Cristiana, que conhecia muito bem Ernesto e suas surpresas, logo gritou:
- Quantos são a mais?
Logo que soube que eram três, Cristiana rapidamente colocou mais água no
feijão.
De novo a campainha! Roberto vai atender a porta, achando que era sua
convidada, Maristela.
Quando abre a porta, Roberto toma mais um susto. Maristela estava com um
casal!
- Salve, Roberto! Estes são Gaspar e Alberta, que vieram me visitar esta
manhã. Como eu tinha este almoço aqui, achei que poderia convidá-los para
almoçar conosco!
Roberto, que conhece a fama de distraída de Maristela, não tem dúvidas e
grita:
- Cristiana, mais água no feijão!
Roberto convida todos a sentar na sala e pega uma cerveja na geladeira.
Quando abre a porta, mais um susto. As cervejas ainda estavam quentes
quentes!

Calor

Quente e frio são palavras normalmente usadas para expressar uma sensa-
ção. Associamos a palavra quente a situações em que um objeto está com
temperatura alta. À palavra frio associamos a situações em que um objeto, ou
mesmo a atmosfera, está com temperatura baixa.
A U L A Esse modo de falar sobre o “calor” de um corpo não é muito preciso: uma
pessoa que vive na região sul do Brasil pode dizer que o verão do Nordeste é

23 muito quente; já um morador do Nordeste diria que é muito agradável!


Quem está com a razão? Ambos, pois estão expressando uma sensação.
Mas, em ciência, é necessário usar termos mais precisos.
Na Física, calor é uma forma de energia que está associada ao movimento
das moléculas que constituem um objeto. Ou seja, uma cerveja quente ou fria
tem calor. Quando dizemos que uma cerveja está com temperatura alta, quere-
mos dizer que suas moléculas apresentam alto grau de agitação, que a energia
cinética média dessas moléculas é grande - ou seja, que a quantidade de energia
na cerveja é grande!
Dizemos também que a propagação do calor pode ser entendida simples-
mente como a propagação da agitação molecular. Quando esquentamos o feijão
numa panela, percebemos claramente que a superfície esquenta somente alguns
minutos depois de termos colocado a panela no fogo. Isso acontece porque as
moléculas no fundo da panela começam a se agitar primeiro, e demora um pouco
até que essa agitação chegue à superfície.
Também é possível compreender o resfriamento de uma substância como a
diminuição da agitação molecular. Por exemplo: quando colocamos uma cerveja
na geladeira, nossa intenção é retirar parte de sua energia térmica, ou seja,
diminuir a agitação molecular na cerveja.
Na próxima aula veremos como se processam as trocas de calor, ou seja,
como ocorre a condução do calor
calor.

Capacidade térmica

Cristiana, na cozinha, fica desesperada. Mais água no feijão?


Cozinheira de mão cheia, ela sabe que esquentar aquela enorme panela de
feijão levaria, no mínimo, uma hora. Resolve então pegar outras duas panelas
menores e esquentar uma quantidade menor de feijão em cada uma delas.
Maristela, que estava procurando Roberto para oferecer ajuda, vê o que
Cristiana estava fazendo e fica bastante curiosa. Volta para a sala e começa a
pensar no assunto:

- É verdade! Quando coloco muita água para fazer café, ela demora mais
tempo para esquentar do que quando coloco pouca água! Que dizer: se coloco
um litro de água numa panela e meio litro de água em outra panela, e deixo as
duas no fogo pelo mesmo período de tempo, provavelmente a que tem menos
água deverá ter uma temperatura mais alta! Será que isso é verdade
verdade?

Enquanto Maristela pensava no assunto, Alberta já estava na cozinha,


ajudando Cristiana. Gaspar e Roberto tinham saído para comprar gelo.
Maristela se levanta do sofá e vai até o quarto de Ernesto. Vê a gangue do
Lobo e pergunta se eles sabiam onde havia um termômetro. Rapidamente
Ernesto vai ao banheiro e traz dois termômetros. Maristela dá pulos de alegria.
Era justamente o que ela estava precisando: dois termômetros!
Maristela corre para a cozinha, com a gangue do Lobo atrás. Nesse momento
Cristiana e Alberta já estavam na sala, em plena conversa. Maristela entra na
cozinha e pega duas panelas. Coloca um litro de água em uma e dois litros de
água na outra. Mede a temperatura de cada uma e verifica que os termômetros
estavam marcando 23º Celsius. Imediatamente, coloca as duas panelas no fogo
e marca três minutos no relógio: com isso, garante que a quantidade de calor A U L A
cedida pela chama do fogão seja a mesma para as duas panelas.
Ao final dos três minutos, Maristela mede novamente as temperaturas. Na
panela com dois litros de água, o termômetro indicava 38°C; na panela com um 23
litro de água, o outro termômetro indicava 53°C. Ou seja: a temperatura da
primeira panela tinha variado 15°C; a da segunda panela variou 30°C.

23 C 23 C

3 minutos

53 C
∆t = 30 C 38 C
∆t = 15 C
23 C 23 C

Temperatura
Final

1 Litro de água 2 Litros de água


Ao ver os resultados, Maristela lembra-se imediatamente do conceito que
representa essa propriedade dos corpos.
É a capacidade térmica
térmica.
É claro que, para agitar as moléculas de dois litros de água, será necessária
muito mais energia do que para agitar as moléculas de um litro de água.
Podemos representar matematicamente essa dificuldade usando o conceito de
capacidade térmica:
∆Q
C =
∆t
Com esta definição matemática podemos calcular o calor necessário que
deve ser cedido a um corpo, se queremos que ele aumente sua temperatura de
Dt, ou mesmo a quantidade de calor que deve ser retirada do corpo, se quisermos
que sua temperatura diminua de Dt. Ou seja:

Capacidade térmica é a quantidade de calor necessária


para variar de 1ºC a temperatura de um corpo.

∆t ( C)
1 litro de água
30 C
No caso da experiência
de Maristela, podemos ex-
pressar, por meio de um grá- 2 litros de água
fico, o que ocorreu: 15 C

0 ∆Q cedido ∆Q (cal)
A U L A Podemos ver nesse gráfico que a panela com dois litros de água teve um
aumento de temperatura duas vezes menor que o aumento de temperatura da

23 panela com um litro de água.


Assim, rapidamente Maristela concluiu:

- Ah! É por isso que as cervejas não ficaram geladas: tinha muita cerveja
dentro da geladeira e todas estavam quentes, assim demora mais para resfriar
todas, ou seja, para retirar energia térmica de todas as cervejas!

Unidades do calor

Ernesto fica curioso com toda aquela confusão armada por Maristela, e
pergunta:

- Como você sabe que foi dada a mesma quantidade de calor para as duas
panelas?

Maristela responde que, se a chama do gás fosse constante e tivesse a mesma


intensidade, ela podia considerar que a quantidade de calor transmitida para as
duas panelas tinha sido a mesma.
Como o calor é uma forma de energia, sua unidade no Sistema Internacional
(SI) é o joule (J), mas é comum usarmos outra unidade de calor, a caloria (cal),
que tem a seguinte equivalência com o joule:

1 cal = 4,18 J

Uma caloria é definida como a quantidade de calor


necessária para elevar, em 1ºC, um grama de água!

O calor específico

Maristela volta para sala, satisfeita com suas conclusões, quando ouve
Cristiana comentar com Alberta, a caminho da cozinha, que a panela de cobre
esquenta a comida muito mais rápido do que a panela de alumínio. Maristela
não acredita: achava que já tinha a conclusão final sobre o assunto.
Nesse momento, Ernesto, que estava atrás de Maristela, dá um palpite.

- Se você sabe que uma caloria é a quantidade de calor necessária para


elevar, em 1ºC, um grama de água, pode saber quanta energia foi fornecida para
as panelas!

Era exatamente o elemento que faltava! Maristela puxa seu caderninho e


começa a fazer anotações:

® Se a densidade da água é 1 kg/l, então um litro de água tem uma massa de


1 kg, ou seja, 1.000 gramas.
® Se a variação de temperatura em um litro de água foi de 30 ºC, podemos fazer A U L A
o seguinte raciocínio: a capacidade térmica de um litro de água é a quanti-
dade de calor que um litro de água recebe para ter determinada variação de
temperatura! 23
∆Q
C =
∆t

® Se dividirmos a capacidade térmica pela massa de água:


C ∆Q
=
m m ⋅ ∆t
temos a quantidade de calor necessária para aumentar a temperatura de
cada grama de água de 1°C, e isso eu sei quanto vale!!!
∆Q 1 cal cal
= =1
m ⋅ ∆t 1g ⋅ 1o C goC
Assim, podemos escrever que:
DQ = m · Dt · 1 cal/gºC

DQ = 1000g · 30ºC · 1 cal/gºC

DQ = 30000 cal = 30 Kcal

Essa foi a energia térmica cedida à panela com um litro de água!

® No caso da panela com os dois litros de água, temos que:


C ∆Q
=
m m ⋅ ∆t
∆Q
1 cal/1ºC · 1g =
m ⋅ ∆t
Assim, podemos escrever que:
DQ = m · Dt · 1 cal/gºC

DQ = 2000g · 15ºC · 1 cal/gºC

DQ = 30000 cal = 30 Kcal

que é exatamente o mesmo resultado, ou seja, a mesma quantidade de


energia térmica foi dada às duas panelas!

Mas o que isso tem a ver com as panelas de diferentes materiais?

Será que, se tivermos a mesma massa de água e óleo, e fornecermos a mesma


quantidade de calor para cada uma, as duas substâncias “esquentarão” no
mesmo tempo? Sabemos que não! Essa conclusão vem do fato de que cada
material tem uma estrutura própria. E é devido a essa diferença que a panela de
cobre esquenta mais rápido do que a de alumínio. A essa propriedade dos
corpos chamamos de calor específico
específico.

Calor específico é a quantidade de calor necessária para que um


grama de uma substância aumente sua temperatura em 1º Celsius.
A U L A Podemos escrever o calor específico em termos da capacidade térmica, ou
seja:

23
C
c=
m
O calor específico é uma propriedade específica de cada substância
substância, como
podemos ver na tabela abaixo:
CALORES ESPECÍFICOS

SUBSTÂNCIA CALOR ESPECÍFICO SUBSTÂNCIA CALOR ESPECÍFICO


(cal/g ºC) (cal/g ºC)
Gelo 0,55
Água 1,00 Latão 0,094
Alumínio 0,22 Mercúrio 0,033
Carbono 0,12 Prata 0,056
Chumbo 0,031 Tungstênio 0,032
Cobre 0,093 Vapor d’água 0,50
Ferro 0,11 Vidro 0,20

Podemos também calcular o calor cedido ou retirado de um corpo se


soubermos o valor da sua massa, de seu calor específico e da variação de
temperatura:
DQ = m · c · Dt

Voltando às panelas

Maristela, então, conclui que, se as panelas de cobre e de alumínio têm a


mesma massa, essa grandeza - o calor específico - nos mostra que o alumínio
necessita de 0,22 cal para elevar em um grau Celsius cada grama da panela,
enquanto o cobre necessita de apenas 0,093 cal para isso. Por isso, a panela de
cobre, com uma mesma quantidade de calor, aumenta sua temperatura de modo
mais rápido!
Maristela, enfim, fica satisfeita com suas conclusões. Ernesto e a gangue do
Lobo voltaram para o quarto e continuaram a bagunça, enquanto Cristiana e
Alberta estavam na cozinha, às gargalhadas, como se fossem amigas íntimas de
muitos anos.
A campainha toca. Entram Roberto e Gaspar, com caras muito desanimadas.
Maristela pergunta o que aconteceu. Eles explicam que tinham ido comprar gelo
para gelar as cervejas, já que a geladeira não estava dando conta do serviço. Mas,
em vez de comprar gelo em barra, resolveram comprar gelo picado, colocando-
o na mala do carro. Quando chegaram ao prédio e abriram a mala, o gelo havia
derretido quase todo!
Maristela imediatamente fala:

- Se vocês tivessem comprado o gelo em barra, ele demoraria mais a


derreter!

Nesse momento, Cristiana e Alberta voltam da cozinha, tomando cerveja.


Roberto e Gaspar ficam chocados! Cristiana então explica que tinha colocado
algumas cervejas no congelador, e elas já estavam geladas.
Foi o suficiente para começar o almoço.
Nesta aula você aprendeu: A U L A
· que os conceitos de “quente” e “frio” não são adequados nem precisos para
expressar uma medida de temperatura; 23
· que calor é uma forma de energia que está relacionada à “agitação”
molecular da matéria;
· o conceito de capacidade térmica:
∆Q
C =
∆t
que mede a quantidade de calor que deve ser fornecida ou retirada de um
corpo para que sua temperatura aumente ou diminua em 1° Celsius;
· o conceito de calor específico:
C
c=
m
que mede a quantidade de calor necessária para aumentar ou diminuir em
1° Celsius a temperatura de um grama de uma substância. É uma proprie-
dade específica das substâncias.

Exercício 1
Explique por que uma pedra de gelo derrete mais lentamente que a mesma
quantidade de gelo moído.
Exercício 2
Uma geladeira que está cheia de alimentos e recipientes, que já estão com
temperatura baixa, consome menos energia. Explique essa afirmação.
Exercício 3
Normalmente, o motor de um automóvel trabalha a uma temperatura de
90ºC. Em média, o volume de um radiador é de 3 litros. Calcule a quantidade
de calor absorvida pela massa de água pura que foi colocada a uma
temperatura ambiente de 20ºC. Supondo que o dono do carro colocasse um
aditivo na água e que o calor específico desta mistura fosse 1,1 cal/g ºC,
calcule novamente a quantidade de calor absorvida pelo conjunto, despre-
zando a alteração da massa.
∆t ( C)
Exercício 4
B A
No gráfico ao lado, vemos como varia a tem-
peratura de dois blocos de metal de mesma 50 C
massa (10 g). Com auxílio da tabela desta
aula, identifique os metais A e B.
Exercício 5 0 55 110 ∆Q (cal)
Um bloco de cobre, cuja massa é de 100 gramas, é aquecido de modo que sua
temperatura varia de 20°C até 70°C. Qual foi a quantidade de calor cedida
ao bloco, em joules?
Exercício 6
No processo de pasteurização do leite, são aquecidos aproximadamente
200 kg de leite, elevando-se sua temperatura de 20°C para 140°C. Essa
temperatura é mantida por três segundos e, em seguida, o leite é resfriado
rapidamente. Calcule a capacidade térmica do leite, supondo que seu calor
específico seja de 0,97 cal/g ºC .
A UA UL L AA

24
24
A brisa do mar
está ótima!

M ais um fim de semana. Cristiana e Roberto


vão à praia e convidam Maristela para tomar um pouco de ar fresco e de sol, e
tirar o mofo!
É verão e o sol já está bem quente. Mas
essa turma vai bem preparada: levam
guarda-sol, chapéu, protetor solar, óculos
escuros, chinelos e, é claro, uma cervejinha
bem gelada, acomodada entre grandes
pedras de gelo no interior de um isopor.
Ao chegar à praia, Maristela advertiu:
- É melhor vocês calçarem os chine-
los. Caso contrário, correm o risco de quei-
mar a sola dos pés. A esta hora, a areia está
muito quente, não brinquem com isso!
De fato, a areia estava muito quente,
e bastou dar o primeiro passo para que o
casal seguisse o conselho da experiente
vizinha!

Já sabemos que, quando os objetos estão em contato, depois de um certo


tempo eles terão a mesma temperatura, isto é, eles atingem o equilíbrio térmico:
um dos objetos cede energia térmica (calor) e o outro recebe, de modo que, no
equilíbrio térmico, a energia térmica e a temperatura dos dois objetos serão
iguais.
Mas como é que a energia térmica se move? Como ela passa de um objeto
para outro? Em outras palavras, como é que o calor se propaga?

Descalço? Nem pensar!


Ao colocar o pé na areia quente, Cristiana “viu estrelas”!
- Uau! Essa areia está mesmo quente, acho que queimei o pé!
Cristiana queimou o pé por uma razão simples: a temperatura do pé estava
mais baixa que a temperatura da areia. Quando Cristiana colocou o pé na areia,
parte da energia térmica contida na areia passou para seu pé, que sofreu um
aumento rápido de temperatura, daí a sensação de queimadura.
Esse modo de propagação de energia térmica é chamado de condução, e A U L A
ocorre sempre que dois corpos de diferentes temperaturas são colocados em
contato. Essa é uma maneira muito comum de propagação de calor, que ocorre
freqüentemente no nosso dia-a-dia. 24
Por exemplo: quando colocamos uma
panela com água para aquecer, a chama
do fogo (lembre-se do feijão da Aula 23!)
fornece energia térmica para o metal da
panela. O metal, por sua vez, conduz o
calor para o interior da panela, aquecendo
a água que lá se encontra. Materiais como
o metal, que conduzem o calor, isto é, que
permitem a sua passagem, são chamados
de condutores térmicos.
Portanto, a condução ocorre quando dois materiais de diferentes tempera-
turas estão em contato. Outro exemplo é o resfriamento da própria água, quando
ela é tirada do fogo: sua energia térmica é aos poucos transferida para o ar que
está ao seu redor, aquecendo-o.
Existem certos tipos de materiais que dificultam a passagem do calor: esses
materiais são chamados de isolantes térmicos.
O isopor, no qual Cristiana colocou a cerveja, é um material isolante. Ele
dificulta a passagem do calor de fora para dentro. Desse modo, o ar no interior
do isopor (que está frio, por causa do gelo) permanece resfriado por determina-
do período, mantendo fria a cerveja.
Pela mesma razão, o cabo das panelas é feito de material isolante, que evita
a passagem do calor do metal da panela para a nossa mão.
Sabemos que, quanto mais quente um material, mais os seus átomos
vibram. O calor (energia térmica) é transferido por meio dessas vibrações. Então,
para que haja condução de calor é preciso que existam átomos, e, portanto, um
meio material!

Condução é uma forma de propagação de calor


que necessita de um meio material para ocorrer.

Vermelha, feito um pimentão


Chinelos nos pés, cervejinha na mão. Papo vai, papo vem, e aquele dia
agradável foi passando.
Maristela tem a pele muito branca e, por isso, ficou o tempo todo debaixo do
guarda-sol. Assim mesmo, no final do dia, ela estava vermelha feito um
pimentão! Como isso aconteceu?
Antes de responder a essa pergunta, há outra que precisamos discutir.
Sabemos que a energia que ilumina nosso dia e nos aquece (bronzeia!) vem
do Sol. Mas como essa energia chega até nós?
No espaço entre a Terra e o Sol existe muito pouca matéria, quase nada.
Dizemos que nesse espaço existe o vácuo, isto é, o vazio - um grande espaço
vazio... Se não há átomos (matéria), não pode haver condução de calor. Então,
como é que a energia térmica do Sol chega até nós?
Existe uma segunda forma de propagação de calor que é chamada de
radiação: nesse caso, a energia térmica se propaga sem a necessidade de um
meio material.
A U L A Assim, os raios de Sol “caminham” pelo espaço carregando energia. Ao
incidir sobre a areia, esses raios podem ser absorvidos, cedendo energia para os

24 átomos da areia, esquentando-a.

Esses raios podem também ser


refletidos e, por exemplo, atingir a pessoa
que está embaixo do guarda-sol. Desse
modo, transferem energia para os áto-
mos da pessoa, fazendo com que ela fi-
que vermelha! Foi o que aconteceu com
Maristela.

Ao final da tarde, uma brisa refrescante...

Finalmente o Sol se pôs. Maristela já não agüentava mais tanta claridade!


Quando já estava escuro, começou a soprar uma leve brisa em direção ao mar.
- Vocês estão sentindo o vento? Acho que o tempo vai mudar...
- Não vai não, Cristiana! Essa é apenas uma brisa terrestre - afirmou
Maristela.
E explicou:
- O calor específico da areia é menor que o da água. Isso significa que, para
variar sua temperatura é preciso fornecer menos calor do que para variar a
temperatura da água (para que ocorra a mesma variação de temperatura). Além
disso, a areia é um material mau condutor: veja que, um pouco mais abaixo, ela
está fresquinha... Isso porque o calor não é conduzido para as camadas inferiores.
Já a água é transparente e permite que os raios solares cheguem até camadas
mais profundas do mar. Com isso a areia esquenta mais, e mais depressa do que
a água. Também perde calor com mais facilidade e esfria mais rapidamente.
Durante o dia, a praia e o mar recebem calor do Sol na mesma quantidade. Mas
a areia se aquece mais rapidamente. Por isso, a camada de ar que está sobre ela,
por condução, fica mais quente do que a camada de ar que está sobre o mar.

Você já aprendeu que, de modo geral, quando um corpo é aquecido, ele se


dilata. Com o ar ocorre o mesmo: ele se expande e ocupa um volume maior. Por
isso, fica menos denso e sobe. No caso do ar frio, ele fica mais denso e desce.

Assim, o ar que está sobre a


areia sobe e “abre um espaço” que é
rapidamente ocupado pelo ar mais
frio, aquele que está sobre o mar.
Forma-se assim uma corrente de ar
que chamamos de “brisa marítima”,
pois sopra do mar para a terra.
Depois que o Sol se põe, a água A U L A
e a areia deixam de receber calor e
começam a esfriar. Mas a areia es-
fria rapidamente (à noite ela fica 24
gelada!), e a água do mar demora a
esfriar. Por isso, à noite, o mar fica
quentinho.
O ar que está sobre o mar fica
mais quente do que o ar que está
sobre a areia. Mais aquecido, fica
menos denso e sobe. Assim, o ar
que está sobre a areia se desloca em
direção ao mar: é a brisa terrestre.
Esta é uma terceira forma de propagação de calor conhecida como convecção.
Para ocorrer convecção é preciso que exista matéria, e que “suas partes” estejam
a diferentes temperaturas, de modo que haja deslocamento de matéria, que, ao
se deslocar, conduz o calor. Esses deslocamentos são chamados correntes de
convecção.
A convecção ocorre até que seja atingido o equilíbrio
térmico, isto é, quando todas as partes estiverem à mesma
temperatura. Por causa da convecção o congelador é
colocado na parte superior da geladeira e os aparelhos de
ar refrigerado devem ficar na parte superior dos cômodos.
Na parte superior, o ar é resfriado, torna-se mais denso e
desce, empurrando para cima o ar que está mais quente.
Este encontra o congelador, é resfriado e desce. O proces-
so continua até que seja atingido o equilíbrio térmico, isto
é, até que todo o ar esteja à mesma temperatura.

Três em um!

Existe um aparelho capaz de manter a tem-


peratura de líquidos, por um bom tempo: a
garrafa térmica.
Ela é capaz de manter um líquido quente ou
frio, graças à combinação de três fatores: ela
evita a condução, a radiação e a convecção de
calor. Observe, ao lado, o esquema de uma
garrafa térmica.
Abaixo do invólucro plástico existe uma garrafa formada por duas camadas
de vidro. Entre as duas camadas quase não existe ar (vácuo). Sem ar não existem
átomos, ou moléculas, de modo que se evita a propagação de calor por
condução.
Além disso, a superfície do vidro é espelhada, interna e externamente. Desse
modo, quando há líquido quente no interior da garrafa, o calor que seria
irradiado para fora é refletido para dentro; caso o líquido seja frio, o calor de fora
não penetra na garrafa, pois é refletido pela superfície do vidro. Isso evita a
propagação de calor por radiação. E todas as partes do líquido dentro da garrafa
estarão à mesma temperatura, de modo que também não ocorre convecção.
Por isso, é possível conservar líquidos no interior de uma garrafa térmica,
por um bom tempo, praticamente à temperatura em que foi colocado, pois ela
diminui ao máximo as trocas de calor entre o líquido e o meio ambiente.
A U L A Nesta aula você aprendeu que:

24 · o calor pode se propagar de três formas: por condução, por convecção e por
radiação;

· para haver condução ou convecção de calor é necessária a presença de um


meio material, o que não ocorre com a radiação;

· existem certos tipos de material que permitem a passagem de calor: são os


chamados condutores térmicos; outros impedem ou dificultam a passagem
do calor: são os chamados isolantes térmicos.

Exercício 1
Ao anoitecer, a temperatura ambiente baixou bastante. Cristiana começou
a sentir frio e colocou seu agasalho. Por que ela fez isso? É correto afirmar
que os “agasalhos nos aquecem”?

Exercício 2
Chegando em casa, Roberto ficou à vontade: tirou os sapatos e ligou a
televisão. Foi descalço até a cozinha fazer um lanche. Ao pisar no chão da
cozinha sentiu um “frio” subir pela espinha! Correu para o tapete e, lá, teve
uma agradável sensação: o frio passou! Explique por que isso acontece,
lembrando que ambos, o chão e o tapete, estão em equilíbrio térmico, isto é,
à mesma temperatura (a do ambiente).
Dica: o mesmo fenômeno ocorre quando tocamos a parte metálica e o cabo
de uma panela.

Exercício 3
Observe ao seu redor, na sua casa, no trabalho, na rua, e procure objetos (ou
materiais) que sejam isolantes e outros que sejam condutores de calor. Cite
alguns exemplos.

Exercício 4
Explique por que as prateleiras das geladeiras não são placas inteiras, mas
sim grades.
A UU
A L AL A

25
25
Ernesto entra numa fria!

S egunda-feira, 6 horas da tarde, Cristiana e


Roberto ainda não haviam chegado do trabalho. Mas Ernesto, filho do casal,
já tinha voltado da escola. Chamou a gangue do Lobo para beber um
refrigerante em sua casa.
Ernesto colocou refrigerante em copos para os amigos. Mas, quando foi
encher o próprio copo, o refrigerante acabou. Ernesto ficou furioso, mas
fingiu que nada tinha acontecido e encheu seu copo com água e gelo. Foi para
a sala, onde a televisão já estava ligada, e serviu os amigos.
Para impressioná-los, Ernesto pegou um termômetro para mexer o gelo
em seu copo. Mas teve uma decepção: a gangue do Lobo não tirava os olhos
da televisão. Chateado, ele começou a prestar atenção ao que ocorria com o
termômetro.
Inicialmente, a observação confirmou sua expectativa: a marca da tempe-
ratura no termômetro estava baixando, ou seja, a temperatura da água estava
diminuindo. Por alguns instantes Ernesto se distraiu com a televisão, en-
quanto mexia o gelo na água com o termômetro. Quando voltou a observar
a marca do termômetro, percebeu que ela estava bem perto de zero grau
Celsius. Alguns minutos mais tarde, voltou a observar o termômetro e a
marca não tinha se alterado! Ernesto achou curioso que a temperatura não
tivesse baixado mais. Tentou falar aos amigos sobre esse curioso fenômeno,
mas não recebeu nenhuma atenção.
Ernesto não deu bola para o resto da turma e começou a se perguntar:
“Por que a temperatura da água não continua a diminuir?”

Estrutura da matéria

Desde a Antigüidade, os gregos já se perguntavam de que era feita a


matéria. Demócrito, por exemplo, acreditava que a matéria era feita de
pequenas partes indivisíveis, que chamou de átomos. Só no início do século
XX é que essa “hipótese atômica” foi confirmada experimentalmente. Ou
seja, descobriu-se, por meio de experiências científicas, que a matéria é
realmente feita de átomos. Depois disso, modelos que descreviam a organi-
zação desses átomos no interior da matéria começaram a ser desenvolvidos.
A figura da próxima página mostra uma das formas de representar a
estrutura atômica da matéria nas diversas fases.
A U L A Modelos da estrutura interna de um
sólido, um líquido e um gás.

25
sólido líquido gás

Os pontos redondos representam os átomos; os traços representam as


ligações entre eles. Podemos ver que, no modelo de cristal (sólido), todos os
átomos estão organizados de forma que cada átomo está ligado a seus
vizinhos. No estado líquido a estrutura está mais desorganizada, os átomos
não estão ligados de forma tão rígida quanto no cristal. Finalmente, no gás
não há mais uma estrutura bem definida, e as ligações entre os átomos
ocorrem em número muito pequeno.

Mudança de estado

Já sabemos que, quando fornecemos calor a um corpo, sua temperatura


aumenta. Esse aumento de temperatura está associado ao aumento da ener-
gia cinética média das partículas que constituem o corpo, ou seja, a energia
cinética dessas partículas aumenta quando fornecemos calor ao corpo.
Na Aula 23 definimos o conceito de calor específico, que nos revela
quanto calor é necessário para elevar em um grau Celsius a temperatura de
um grama de determinado material. Sabemos, por exemplo, que, para a
temperatura de um grama de água (líquida) subir um grau Celsius, é preciso
fornecer-lhe 1 cal, de modo que:

c água = 1 cal/g ºC

que é o calor específico da água (c água). Sabemos também que é necessária 0,55
cal para que a temperatura de um grama de gelo suba 1ºC, isto é:

c gelo = 0,55 cal/g ºC

O que não sabemos, ainda, é a quantidade de calor necessária para


transformar um grama de gelo a zero grau Celsius em um grama de água a
zero grau Celsius!
Até agora, sabemos apenas a quantidade de calor necessária para au-
mentar a temperatura de uma substância num mesmo estado ou fase fase.
Chamamos de estado de uma substância o seu estado físico, que pode ser
sólido, líquido ou gasoso.
Chamamos de mudança de estado a passagem de um estado físico para
outro.
Por exemplo: quando o gelo derrete e se transforma em água líquida,
dizemos que sofreu uma mudança de fase, à qual chamamos de fusãofusão. Da
mesma forma, quando transformamos uma quantidade de água (líquida) em
gelo, temos uma mudança de fase, à qual chamamos de solidificação
solidificação.
Quando a água se transforma em vapor, chamamos essa mudança de
estado de vaporização
vaporização.
A U L A
sublima•‹o

25
(cristaliza•‹o)

solidifica•‹o condensa•‹o
Cada substância tem seus
pontos de fusão e de vaporiza-
ção bem definidos, ou seja, cada
substância muda de estado numa
s—lido l’quido gasoso determinada temperatura, a uma
determinada pressão.
fus‹o vaporiza•‹o

sublima•‹o

Calor latente

Ernesto estava tão animado com sua observação que não teve duvidas:
foi para cozinha e resolveu fazer um teste.
Pegou uma panela pequena, pesou e colocou nela 100 gramas de gelo e
juntou 100 ml de água, até quase cobrir os cubos de gelo. Mexeu bem, até que
o termômetro marcasse perto de 0°C. Colocou a panela no fogão, com fogo
bem baixo, e foi anotando, a cada minuto, o valor da temperatura indicado
pelo termômetro.
Ficou assustado e achou que o termômetro estava quebrado, pois obteve
os seguintes resultados:

TEMPO TEMPERATURA
(minutos) (ºC)

0 0,1
1 0,2
2 0,1
3 0,2
4 0,9
5 2,8

Mas, a partir do quinto minuto, Ernesto percebeu que todo gelo havia
derretido. Então, a temperatura da água começou a subir.
Confiante, Ernesto chegou à seguinte conclusão: enquanto havia gelo na
água, sua temperatura não variou. Mas, quando todo o gelo derreteu, a
temperatura começou a aumentar.
Como é possível que, quando cedemos calor ao conjunto água-gelo, a
temperatura não varie? Para compreender esse fenômeno, precisamos ana-
lisar a estrutura da matéria.
Para fundir o gelo é necessário aumentar a energia cinética média das
moléculas (conjunto de átomos). Mas, quando chegamos à temperatura de
mudança de fase, precisamos de energia para quebrar a ligação entre as
moléculas. Isso significa que a energia que está sendo fornecida ao gelo é,
em sua maior parte, usada para quebrar as ligações químicas entre as
moléculas
moléculas, e não para aumentar a energia cinética média delas!
A U L A O conceito de calor latente é usado para representar esse fenômeno.

25 Calor latente (L) é a quantidade de calor necessária para


fazer uma certa massa m de uma substância mudar
de fase sem alterar a sua temperatura.

Esse conceito pode ser definido matematicamente como:


∆Q
L =
m
Abaixo temos o valor do calor latente para diversas substâncias e a
temperatura na qual ocorre a mudança de estado.

CALOR LATENTE DE FUSÃO


PONTOS DE FUSÃO OBTIDOS À PRESSÃO DE 1 atm
SUBSTÂNCIA TEMPERATURA DE FUSÃO (ºC) CALOR LATENTE DE FUSÃO (cal/g)

Água 0 80
Álcool etílico -115 25
Chumbo 327 5,8
Enxofre 119 13
Mercúrio -39 2,8
Nitrogênio -210 6,1
Platina 1775 27
Prata 961 21

CALOR LATENTE DE VAPORIZAÇÃO


1 atm
PONTOS DE EBULIÇÃO OBTIDOS À PRESSÃO DE

SUBSTÂNCIA TEMPERATURA DE EBULIÇÃO (ºC) CALOR LATENTE DE EBULIÇÃO (cal/g)

Água 100 540


Álcool etílico 78 204
Bromo 59 44
Hélio -269 6
Iodo 184 244
Mercúrio 357 65
Nitrogênio -169 48

Como podemos observar, essas tabelas foram construídas medindo-se as


temperaturas em situação em que a pressão vale 1 atmosfera. Na próxima
aula, veremos a influência da pressão sobre os pontos de mudança de estado
das substâncias.

Passo a passo

1. Se considerarmos somente os 100 gramas de gelo, podemos calcular


quanto calor seria necessário para que se tornassem 100 gramas de água.
Basta olhar na tabela e ver que o calor latente de fusão do gelo é:
Lfusão = 80 cal/g

Assim, o calor necessário será:

DQ = m · L
DQ = 100g · 80 cal/g = 8000 cal
Só o gelo precisaria de 8000 calorias para derreter. Sabemos que Ernesto A U L A
usou mais energia térmica do que calculamos, pois em parte ela se perdeu
pela parede da panela para a atmosfera. Isto justifica em parte porque o valor
da temperatura variou um pouco acima de zero grau na tabela em que 25
Ernesto anotou suas medidas.

Isolamento térmico

Já sabemos que dois corpos com diferentes temperaturas trocam calor.


E, se estão isolados do ambiente em volta, só trocarão calor entre si até que
atinjam o equilíbrio térmico, isto é, até que ambos estejam com a mesma
temperatura!
Na experiência de Ernesto, o sistema não está isolado do ambiente, ou
seja, a água está em contato com a panela, que por sua vez está em contato
com a atmosfera. Parte do calor cedido pela chama de gás se perde diretamente
na atmosfera, e outra parte do calor cedido é transmitida para o alumínio da
panela. O calor cedido para a panela é conduzido, em parte, para o sistema
água-gelo. O restante vai para a atmosfera.
Para isolar um sistema é necessário que ele seja envolvido por um
material isolante, isto é, por um mau condutor de calor, a exemplo do isopor.
Com isso, garantimos que não haverá trocas de energia entre o sistema que
estamos querendo estudar e o ambiente externo a ele. Chamamos esses
recipientes isolantes de calorímetros
calorímetros.

Conservação de energia

Ao isolar um sistema, podemos calcular quanta energia é necessária para


que uma substância mude de fase, ou mesmo para analisar qual foi a troca de
energia térmica entre duas substâncias.
Por exemplo: se misturarmos 100 g de água a 20°C e 100 g de água a 80°C
num calorímetro, podemos calcular qual será a temperatura final da mistura,
ou seja, a temperatura de equilíbrio térmico.
Como o sistema está isolado, todo calor cedido pela água que está a uma
temperatura mais alta será recebido pela água que está a temperatura mais
baixa. Em outras palavras, a quantidade de calor cedida será igual e de sinal
contrário à quantidade de calor recebido, ou seja:

DQ cedido = - DQ recebido

Assim, podemos escrever a conservação de energia da seguinte forma:

DQ cedido + DQ recebido = 0

Na Aula 23 vimos que:

DQ = m · c · Dt
DQ = m · c · (t f - t i)

Essa é a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de uma


substância de calor específico c e massa m de t i para t f .
A U L A Passo a passo

25 2. Como quem cede energia térmica é o corpo com maior temperatura,


podemos escrever:
DQcedido = 100 · 1 · (tf - 80)

E, como quem recebe a energia térmica é o corpo de menor temperatura,


temos que:
DQrecebido = 100 · 1 · (tf - 20)

Usando, então, a forma da conservação da energia


100.1.(tf - 80) + 100.1.(tf - 20) = 0

temos uma equação com uma incógnita que é a temperatura final, ou seja, a
temperatura de equilíbrio térmico:
100 · tf - 8000 + 100 · tf - 2000 = 0

200 · tf = 10000

tf = 50°C

50ºC será a temperatura de equilíbrio térmico!

3. Outro exemplo que envolve mudanças de fase ocorre quando colocamos


100 g de gelo a -10°C dentro de 200 g de água a 80°C. Podemos nos
perguntar: qual será a temperatura de equilíbrio térmico?
Provavelmente todo o gelo vai derreter (fusão) e, no final, a mistura
estará à mesma temperatura (tf), ou seja, o calor cedido pela água quente
deverá ser necessário para:
· aumentar a temperatura do gelo de -10°C para 0°C:
DQ1 = mgelo · cgelo · [0 - (- 10)]

· provocar a mudança de fase dos 100 g de gelo para 100 g de água (calor
latente de fusão):
DQ2 = mgelo · Lgelo

· e elevar a temperatura desses 100 g de água a 0ºC até a temperatura final


de equilíbrio térmico (tf):
DQ 3 = mgelo · cágua · (t f - 0)
Podemos escrever a conservação de energia como:
DQcedido + DQrecebido = 0
Como quem cede calor é o corpo com temperatura mais alta:
DQcedido = 200 · 1 · (tf - 80)
Quem recebe calor é o gelo, e a quantidade total de calor recebido é:
DQrecebido = DQ 1 + DQ 2 + DQ 3
DQ recebido = m gelo · c gelo · 10 + m gelo · L gelo + m gelo · c água · (t f - 0)
DQ recebido = 100 · 0,5 · 10 + 100 · 80 + 100 · 1 · (t f - 0) = 500 + 8000 + 100 t f
DQ recebido = 8500 + 100 t f A U L A

Usando a conservação de energia:


200 · 1 · (tf - 80) + 8500 + 100 tf = 0 25
200 t f - 16000 + 8500 + 100 tf = 0

300 tf = 7500

tf = 25°C

25ºC é a temperatura de equilíbrio térmico do sistema!

Enquanto Ernesto estava entretido com suas experiências na cozinha, a


gangue do Lobo continuava em frente à televisão, como se o resto do mundo
não existisse. Nesse momento chegam Cristiana e Roberto. Encontram
aquela confusão na sala, refrigerante para todo lado e, na cozinha, uma
tremenda bagunça, panelas espalhadas, todas as fôrmas de gelo vazias e
Ernesto, todo molhado, sentado no chão da cozinha, mexendo, com um
termômetro, gelo e água numa panela!
Foi então que aconteceu uma “mudança de estado” dentro da casa: a
gangue do Lobo saiu rapidinho pela porta e Ernesto foi direto para o quarto...
de castigo! Mas, no caminho para o quarto, ainda gritava:
- A água e o gelo, juntos, não mudaram de temperatura até que o gelo
derretesse todo!!!
Mas Cristiana não deu ouvidos...

Nesta aula você aprendeu que:

· podemos representar a estrutura da matéria como átomos ligados entre si;

· uma mudança de estado ocorre quando uma substância muda de uma


fase para outra (sólida, líquida ou gasosa);

· a temperatura de uma substância que está mudando de fase não varia,


pois a maior parte da energia térmica cedida ao corpo é utilizada para
quebrar as ligações químicas entre as moléculas, e não para aumentar a
agitação molecular;

· calor latente (L) é a quantidade de energia necessária para que uma


substância de massa m mude de estado (L = DQ/m);

· podemos usar a conservação de energia para calcular a temperatura final


de equilíbrio térmico entre corpos que foram colocados em contato com
diferentes temperaturas.
A U L A Exercício 1
Calcule a quantidade de calor necessária para que um litro de água a

25 100ºC se torne vapor a 100ºC. Lembre-se de que a densidade da água é


dágua = 1kg/l (utilize a tabela de temperaturas de ebulição).

Exercício 2
Quantas calorias 10g de água a 0ºC devem perder para se transformar em
gelo a 0ºC?

Exercício 3
Um ferreiro quer esfriar um bloco de ferro de 100 g que está a uma
temperatura de 200ºC. Qual será a temperatura final (equilíbrio térmico),
se o ferreiro mergulhar o bloco em um litro de água que está a 20ºC?
Considere que não há perdas de energia para o ambiente. Lembre-se de
que o calor específico do ferro é igual cferro = 0,11cal/g ºC.

Exercício 4
Cristiana resolveu fazer gelo, já que Ernesto tinha acabado com todo o
gelo da casa. Colocou um litro de água a 20ºC no congelador. Calcule a
quantidade de energia térmica que deve ser retirada da água para que ela
se torne gelo a - 20ºC.
A UU
A L AL A

26
26
Hoje, a torcida está
“esquentada”!

É domingo. Fim de tarde, dia de futebol.


Gaspar e Maristela foram ao jogo no estádio. A fila era muito grande, mas os
dois, torcedores fanáticos, não desistiram. Multidão imensa, verdadeiro tumul-
to, grande empurra-empurra. Os portões do estádio ainda estavam fechados e
mais gente chegava. Gaspar começou a ficar nervoso. Maristela, com seu jeito
desligado, nem percebia que os torcedores estavam cada vez mais agitados.
Então, Gaspar disse: - Isso aqui está parecendo uma panela de pressão!
Nesse momento, os portões se abriram, e foi aquela correria. Quem estava
mais perto da entrada pegou os melhores lugares. Maristela e Gaspar estavam
mais atrás. Finalmente, começaram a andar. A sensação de “aperto” foi dimi-
nuindo. Em pouco tempo eles estavam bem aliviados com a redução da
“pressão”. Todos conseguiram se sentar, pois o estádio era grande e tinha lugar
sobrando para todos. Isso deixou a torcida bastante calma e animada para o jogo.
De repente, Maristela se levanta, com os olhos arregalados, e grita:
- Nós somos como as moléculas de um gás!!!
Gaspar não acreditou no que viu e ouviu. Rapidamente, puxou Maristela
para fazê-la sentar-se novamente. Mas já era tarde: as gozações começaram a vir
de todos os lugares
Maristela não teve dúvidas: puxou seu caderninho de anotações e começou
a escrever: “Panela de pressão, alívio de pressão, diminuir agitação...”
O jogo começou. Maristela voltou ao seu estado de torcedora convicta,
gritando e reclamando do juiz. Ela e Gaspar saíram satisfeitos do estádio, com
a vitória do seu time e voltaram para casa. Gaspar deu carona a Maristela, que
o convidou para tomar um refresco em sua casa. Gaspar aceitou imediatamente.
Quando chegaram à casa de Maristela, Gaspar finalmente perguntou sobre
o grito que Maristela tinha dado no estádio:
- O que você quis dizer quando nos chamou de moléculas de um gás?

O modelo atômico da matéria

Como vimos na aula passada, podemos representar a matéria como um


conjunto de átomos. A maneira pela qual os átomos se ligam uns aos outros
caracteriza os estados em que essa matéria se encontra, isto é, sólido, líquido ou
gasoso. Vimos também que todas as substâncias mudam de estado numa
determinada temperatura.
A U L A A água, por exemplo, quando se encontra sob pressão de 1 atm (atmosfera),
tem temperatura de fusão a 0ºC e de ebulição a 100ºC.

26 Na Aula 22, estudamos o comportamento de sólidos e líquidos quando


aquecidos. Sabemos que a maioria dos materiais se dilata, quando aquecida, e
se contrai, quando resfriada.
Nesta aula estudaremos o comportamento dos gases, quando são aquecidos
ou resfriados

Os gases

Maristela começou a explicar a Gaspar a analogia que estava fazendo


quando comparou os torcedores às moléculas de um gás. Levou Gaspar até a
cozinha, colocou uma panela de pressão vazia no fogão e começou a aquecê-la:
- Veja bem: o modelo que fazemos de um gás é o de um conjunto de
moléculas (ou átomos) que tem ligações muito fracas entre si, e grandes
velocidades. O que ocorre quando fechamos uma panela de pressão apenas com
ar dentro e a colocamos no fogo é que, ao fornecer calor (energia térmica) às
moléculas, elas se agitam mais rapidamente (aumento de temperatura) e se
chocam mais intensamente contra a parede da panela (aumento de pressão).
À medida que fornecemos calor, a pressão aumenta até ser suficiente para
levantar a válvula de segurança da panela.
- Dessa forma, o gás começa a escapar pela válvula. Isso ocorre porque a
pressão externa à panela é menor que a pressão no seu interior, e isto permite que
o gás escape do interior da panela, e impede que a pressão aumente ainda mais.
- Com a torcida se deu quase a mesma coisa. O “calor”, nesse caso, é a
impaciência das pessoas que começam a ficar irritadas pelo fato de o portão do
estádio não abrir. A agitação entre as pessoas vai aumentando de tal forma que,
se não abrem o portão, a multidão “explode”. O mesmo ocorre como a panela
de pressão: se não tivesse a válvula de segurança, ela explodiria.
- Muitas pessoas colocam a panela de pressão debaixo da torneira d’água
para que ela esfrie mais rápido e possa ser aberta sem risco. Isso porque, quando
o gás é resfriado, a agitação molecular diminui até que não seja mais suficiente
para levantar a válvula de segurança.
Neste momento, Gaspar interrompe Maristela e diz:
- A gente pode dizer, então, que a pressão é diretamente proporcional à
temperatura?
- Exatamente! - gritou Maristela. - Sempre que aumentamos a temperatu-
ra de um gás que está num recipiente rígido, isto é, que não muda de volume,
sua pressão irá aumentar! Matematicamente podemos escrever que:
P µ T
ou seja, a pressão é diretamente proporcional à temperatura.

Relação P-V

Gaspar se animou.
- Nossa sorte foi que o estádio era grande, pois mesmo com a torcida
agitada não houve muitos problemas. Se o estádio fosse menor, certamente seria
bem pior!
- Sem dúvida! Se o estádio fosse menor não teríamos tantos lugares, e a
agitação pela disputa de cadeiras seria grande. Com os gases acontece quase o
mesmo fenômeno. Ou seja: se pegamos um cilindro com um gás dentro e com A U L A
temperatura constante, isto é, com a mesma agitação molecular, e começamos a
comprimi-lo, diminuindo seu volume, conseqüentemente a pressão vai aumen-
tar, pois o numero de moléculas que vão se chocar num espaço menor será 26
maior. Veja este desenho...

Quando comprimimos
o gás, seu volume
diminui.

- Da mesma forma, - disse Gaspar - se o estádio fosse muito grande


praticamente não haveria problema entre as torcidas, pois sobraria espaço!
- Claro! A respeito do gás poderíamos dizer quase a mesma coisa. Se
deixamos o gás se expandir com temperatura constante, a pressão vai diminuir,
ou seja, as moléculas vão ter bastante espaço para se mover, e mais raramente
vão se chocar contra as paredes do cilindro.
Gaspar continuou, com ar de quem já estava dominando o assunto:
- Então, podemos dizer que o volume do gás é inversamente proporcional
à sua pressão!
Maristela quase não acreditou no que o amigo havia dito! Fantástico! Era
exatamente o que ocorria, e ela rapidamente anotou no seu caderninho:
1
P µ V
Gaspar, pelo jeito, estava numa noite inspirada. Depois de um gole de
refresco, disse:
- Mas, Maristela, imagine que estivéssemos no estádio e que as pessoas
estivessem igualmente agitadas, mas que o número de pessoas fosse muito
maior. Nesse caso, poderíamos dizer que a pressão aumenta?
- Você, hoje, está afiado! Sem dúvida você está correto, mas tome muito
cuidado com as comparações
comparações, pois estamos usando as pessoas num estádio de
futebol só como uma comparação. Na verdade, as pessoas não formam um gás.
Por isso, quando você usa a palavra “pressão”, tem de lembrar que esse conceito
está bem definido para os fenômenos da natureza, mas não está bem definido
para os fenômenos da sociedade humana!
Gaspar acenou com a cabeça e continuou:
- Tudo bem, mas imagine um gás num recipiente fechado, à temperatura
constante. Se aumentarmos o número de moléculas dentro do recipiente, sua
pressão não irá aumentar?
- Sem dúvida! - respondeu Maristela. - E, assim, podemos dizer que a
pressão também é diretamente proporcional ao número de moléculas que estão
presentes naquele volume de gás, ou seja, podemos escrever que:

P µ n
A U L A Lei dos gases

26 Finalmente, Maristela colocou na mesma folha de papel todas as conclusões


tiradas:
PµT
1
P µ V
Pµn

Se a pressão é proporcional a cada um dos termos acima, ela é proporcional


ao produto de todos eles, ou seja:
nT
P µ V
A proporcionalidade pode se tornar um modelo matemático, ou seja,
podemos reescrever essa expressão como:
nT
P = R
V
onde R é uma constante de proporcionalidade, que pode ser medida! Podemos
finalmente reescrever essa equação como:
PV
= nR
T
Essa expressão é muito importante, pois nos permite fazer algumas
previsões!

Equação de estado de um gás ideal

Na expressão acima, o número de moléculas n é representado pelo número


de moles do gás. Sabe-se, por experiências, que 1 mol de qualquer gás contém:

n0 = 6,02 · 1023 moléculas do gás

Esse valor é chamado de número de Avogadro


Avogadro. A unidade mol serve para
representar o número de moléculas de um gás, de forma simples, em vez de se
usar números enormes como o número de Avogadro.
A constante R pode ser obtida experimentalmente. Por exemplo: um mol de
qualquer gás, a uma temperatura de 0ºC, ou seja, a 273 Kelvin, a uma pressão de
1 atm, ocupará o volume de 22,4 litros. Essa condição do gás é chamada de
CNTP
CNTP, isto é, condições normais de temperatura e pressão pressão, que é uma
convenção.
Com essas informações, podemos calcular a constante R :
PV
R =
nT
1atm ⋅ 22,4 l
R=
1mol ⋅ 273K
atm ⋅ l
R = 0,082
mol ⋅ K
Essa constante é chamada de constante universal dos gases
gases. Isto significa A U L A
que ela tem o mesmo valor para todos os gases da natureza.

26
Transformações gasosas: como prevê-las?

Depois que começou a entender o comportamento os gases, Gaspar deu asas


à imaginação e começou a usar a equação de estado dos gases em várias
situações diferentes.
- Então podemos prever como vai se comportar a temperatura, a pressão
ou o volume de um gás depois que ele foi aquecido, ou resfriado, ou, ainda,
comprimido!
- É verdade. Suponha que um gás num recipiente fechado sofra uma
variação nas suas condições. Podemos escrever que, inicialmente:
P 1V 1
= nR
T1
E, depois da transformação, escrevemos:
P 2V 2
= nR
T2
Como n é constante, pois o recipiente está fechado e não entra nem sai gás,
podemos escrever que:
P 1V 1 P 2V 2
=
T1 T2
Assim, dados a pressão, a temperatura e o volume do gás no estado 1 e a
temperatura e a pressão no estado 2, podemos calcular qual será o volume no
estado 2, isto é, após a transformação. De modo geral, para um gás que está num
estado inicial (i) e que sofre uma transformação e altera seu estado para um
estado final (f), podemos escrever:
P iV i PfVf
=
Ti Tf
Três tipos de transformações gasosas podem ser expressas com a equação
acima.

· Isotérmica é a transformação que ocorre à temperatura constante, ou seja,


T i = T f. Podemos expressá-la do seguinte modo:
P iV i = P fV f

· Isobárica é a transformação em que a pressão se mantém constante, ou seja,


P i = P f. Podemos escrever:
Vi Vf
=
Ti Tf
· Isovolumétrica é a transformação em que o volume é constante, V i = V f .
Podemos então escrever:
Pi Pf
=
Ti Tf
A U L A · Há ainda outra forma de transformação gasosa, que chamamos de transfor-
mação adiabática
adiabática. Esse tipo de transformação ocorre quando o gás sai do

26 seu estado inicial e vai para o seu estado final sem que hajam trocas de calor
com o ambiente que o cerca.

Gaspar, satisfeito por compreender várias coisas sobre os gases, acabou seu
refresco e disse que precisava ir para casa, pois Alberta devia estar preocupada.
Quando Gaspar chegou em casa, Alberta estava uma fúria.
- Como você não avisa aonde vai depois do jogo? Achei que tinha se
perdido na multidão!
Gaspar explicou a situação. Isso acalmou um pouco Alberta.
- Vi na televisão como a torcida estava inflamada antes do jogo. A entrada
do estádio parecia um caldeirão. Pelo menos abriram os portões antes que a
multidão provocasse um estrago. Já imaginou o trabalho que ia dar?
Alberta foi dormir, mas Gaspar ficou curioso com a observação de Alberta
e logo pensou: “Será que um gás realiza trabalho?”

Nesta aula você aprendeu:

· a hipótese atômica da matéria, ou seja, a hipótese de que a matéria é


constituída de átomos;

· as relações entre pressão, volume e temperatura nas transformações


gasosas;

· como trabalhar com a equação de estado de um gás ideal (ou seja, de um


modelo de gás);

· os tipos de transformações de gases que existem: isobárica, isotérmica,


isovolumétrica e adiabática.

Exercício 1
Em testes com pneus, as fábricas verificam qual é a variação de pressão que
ocorre após uma viagem. No início de uma dessas viagens, por exemplo, o
pneu foi calibrado com uma pressão de 30 lb/pol2, a uma temperatura de
27ºC . Ao final da viagem a temperatura do pneu é 57ºC.
Supondo que a variação do volume do pneu seja desprezível, responda:

a) que tipo de transformação ocorreu com o ar dentro do pneu;


b) qual será a pressão do ar no pneu ao final da viagem? (Cuidado com a
unidade da temperatura!)
Exercício 2 A U L A
Numa fábrica de válvulas, um técnico suspeita de vazamento numa delas,
provavelmente devido a um ajuste mal feito no êmbolo, que permite a saída
do gás. Para testar sua hipótese, tomou algumas medidas. Primeiro, verifi- 26
cou o estado inicial do gás no interior da válvula. A pressão era de 70cmHg
e seu volume era de 20 cm3. Quando o gás chegava ao novo estado, com a
mesma temperatura, tinha uma pressão de 120 cmHg e volume de 10 cm3.
Verifique a hipótese do técnico, e diga se ela estava correta.

Exercício 3
Um mergulhador solta uma bolha de ar, cujo volume é de 2,5 cm3, a uma
profundidade de 30 metros. Pode-se considerar desprezível a variação da
temperatura da água, ou seja, podemos considerar que a bolha e a água têm
temperatura constante e que estão em equilíbrio térmico. À medida que a
bolha sobe, a pressão diminui (lembre-se de que a cada dez metros de
profundidade, aproximadamente, a pressão aumenta 1 atm; na superfície,
a pressão atmosférica é de 1 atm). Calcule o volume da bolha ao atingir a
superfície.

Exercício 4
Calcule o número de moléculas de um gás contido num recipiente de 44,8
litros, a 27ºC de temperatura e pressão de 1 atm. (Sugestão: primeiro calcule
o número de moles do gás, depois use a relação entre um mol e o número
de Avogadro).
A UA UL L AA

27
27
Águas passadas não
movem moinho!

F oi uma semana de trabalho bastante dura,


mas finalmente chega a sexta-feira. Gaspar chama a amiga Maristela e os novos
amigos, Roberto e Cristiana, para jantar em sua casa.
Alberta, que gosta de receber amigos, preparou uma boa refeição. Carne
assada com batatas, um verdadeiro quitute.
Às oito horas chegam os convidados, todos juntos: Maristela, Cristiana e
Roberto, que deixaram Ernesto com a mãe de Roberto.
Gaspar recebeu os convidados, que logo lhe deram uma má notícia.
- O pneu do seu carro está vazio! - disse Roberto. Gaspar ficou bastante
chateado, pois pretendia sair bem cedo para a praia no dia seguinte.
Maristela deu a solução:
- Vamos até o posto de gasolina no carro de Roberto e consertamos o pneu.
Afinal, o jantar não está pronto!
Alberta concordou na hora, pois também queria sair cedo no dia seguinte.
E foram os três até o posto de gasolina.
Lá, o borracheiro rapidamente achou o furo e selou o pneu. Mas havia um
problema: a bomba de ar comprimido estava quebrada e ele só tinha uma bomba
manual, parecida com as de encher pneus de bicicleta.
Sem outro jeito, o borracheiro começou a bombear ar, manualmente, para
dentro do pneu do carro.
Depois de cinco minutos já estava cansado, obrigando Gaspar, Roberto e
Maristela a fazer um rodízio para bombear o ar para dentro do pneu.
Quando chegou a vez de Roberto, ele fez uma observação:
- Nossa! Como a bomba de ar está quente! Parece que foi colocada no fogo!
Nesse momento Gaspar e Maristela olharam um para o outro, como se
tivessem tido o mesmo pensamento.
- Santo gás! - gritou Maristela, seguida pelo grito de Gaspar: - É o trabalho!
Roberto e o borracheiro ficaram paralisados: não estavam entendendo nada.
Maristela pegou seu caderninho e começou a anotar algumas idéias.

A energia interna de um gás

Já estudamos que o aumento da temperatura de um gás está associado ao


aumento da velocidade média de suas moléculas, ou seja, ao aumento da energia
cinética média das moléculas.
Mas, para saber a energia total desse gás, não basta levar em consideração A U L A
a energia cinética de translação das moléculas: é preciso considerar as outras
formas de energia que as moléculas possuem. Além de ir de um lado para o outro
(translação), as moléculas podem girar. Nesse caso, elas têm uma energia 27
cinética de rotação
rotação. Também se deve levar em conta a energia de ligação entre
os átomos que formam as moléculas. A soma de todas essas energia recebe o
nome de energia interna do gás (U U ).
Levando sempre em consideração a energia interna do gás não precisamos
mais nos preocupar com cada um dos tipos de energia das moléculas, pois a
energia interna representa a soma de todos os tipos de energia que as moléculas
podem ter.
Então, se a energia interna inclui a energia cinética, ao variar a temperatura
do gás, varia também sua energia interna. Observe o quadro abaixo:
RELAÇÃO ENTRE T1 E T2 VARIAÇÃO DE TEMPERATURA VARIAÇÃO DE ENERGIA INTERNA ENERGIA INTERNA

T2 > T1 DT > 0 DU > 0 AUMENTA


T2 >T 1
DT > 0 DU > 0 AUMENTA
T2 < T1 DT < 0 DU < 0 AUMENTA
T2 <T 1
DT < 0 DU < 0 AUMENTA
T2 = T1 DT= 0 DU > 0 NÃO VARIA
T2 =T 1
DT= 0 DU > 0 NÃO VARIA

O trabalho de um gás

Gaspar passou a semana fazendo a si mesmo uma pergunta: “Como o gás


realiza trabalho?” Desde o jogo de futebol da semana anterior ele andava com
isso na cabeça. Estava aprendendo com Maristela e já tinha seu próprio caderninho,
no qual fazia anotações.
Lembrando do que aconteceu à bomba de ar, teve uma idéia de como o gás
produz trabalho.
Escreveu a equação de estado dos gases perfeitos e percebeu que, quando
um gás com um número de moles constante recebe calor, sua tendência é de
expandir-se. Assim, variam seu volume, sua pressão e sua temperatura, segun-
do a relação:
P iV i PfVf
=
Ti Tf
Gaspar fez um desenho simplificado do pistão da bomba de ar do borracheiro.

SITUAÇÃO SITUAÇÃO FINAL


INICIAL GÁS COMPRIMIDO
A U L A “Se o gás, quando recebe calor, se expande, ele pode realizar um trabalho”,
pensou Gaspar, já fazendo outro desenho.

27 O gás recebe calor que é transmitido às suas moléculas. Com isso a


velocidade das moléculas aumenta, de modo que elas buscarão mais espaço para
se movimentar (lembre-se da dilatação, Aula 22). Para conseguir isso, o gás terá
de empurrar o pistão, aplicando uma força sobre o mesmo! Logo, o gás é capaz
de realizar trabalho!

Quando
fornecemos
calor ao gás ele
Pistão se expande,
podendo realizar
trabalho

- Claro! - gritou Gaspar. - Se cedemos calor para o gás, sua energia interna
aumenta, assim como sua temperatura, sua pressão e seu volume! E o trabalho
realizado poderá ser o de levantar um objeto, como por exemplo o pistão, uma
pedra, ou mesmo a válvula de segurança da panela de pressão!
- Mas o que está acontecendo com a bomba de encher pneu é exatamente
o contrário! - concluiu. - Roberto está realizando um trabalho sobre o gás,
comprimindo-o. Esse trabalho está aumentando a energia interna do gás; com
isso, sua temperatura também está aumentando! É fácil perceber o aumento da
temperatura, pois a bomba ficou quente!
Mas isso tudo era demais para Gaspar. Ele sentou num pneu que estava no
chão e, com os olhos arregalados, perguntou a Maristela:
- Trabalho pode virar calor, calor pode virar trabalho. Isso quer dizer que
calor e trabalho são a mesma coisa?

Primeira lei da termodinâmica

- É, amigo Gaspar, você realmente está se tornando um perguntador de


primeira! - disse Maristela.
André, o borracheiro, tinha se apresentado para Roberto. Os dois haviam
desistido de esperar Gaspar e Maristela, sentaram no bar ao lado do posto e
decidiram tomar uma cerveja enquanto a discussão se prolongava.
- Gaspar, você chegou ao ponto central do que chamamos de
termodinâmica
termodinâmica, que é o estudo de como os corpos trocam calor entre si. Essa
pergunta que você está fazendo é a mesma que vários cientistas do século
passado fizeram, ou seja: qual é a equivalência entre calor e trabalho?
- Foi um inglês chamado James Prescout Joule quem respondeu a essa
pergunta, fazendo uma experiência que ficou muito famosa. É a chamada
experiência de Joule
Joule. Ele mediu a energia necessária para aumentar 1ºC a
temperatura de um grama de água.
- Já sei. 4,18 joules!
- Exatamente - respondeu Maristela. - Uma versão moderna da experiên-
cia de Joule seria esquentar o café num liquidificador. É óbvio que ele não tinha
liquidificador, mas tinha um aparelho com o qual podia medir o trabalho
realizado por pás que giravam dentro d'água. Joule relacionou o valor desse
trabalho com o calor cedido, medindo a variação de temperatura da água e A U L A
obtendo o valor que você acabou de dizer, 4,18 joules!
Na verdade, essa equivalência representa uma forma de expressar a conser-
vação de energia
energia, ou seja: a energia cedida pelas pás à água se transforma em 27
energia interna da água! Quando as pás se movem, realizam um trabalho sobre
o líquido. Isso provoca o aumento da energia interna do líquido. Ou seja,
observamos que o trabalho se transforma em energia interna, da mesma forma
que o calor cedido a um gás provoca sua expansão, podendo então se transfor-
mar em trabalho!
Gaspar ficou pensativo.
- Podemos, então, usar o calor para realizar um trabalho, ou seja, basta uma
pequena quantidade de calor para realizar muito trabalho!
- Calma, você já está exagerando! Veja, não é possível usar toda a energia
térmica cedida, pois parte dela é usada para aumentar a energia interna do gás.
A outra parte é utilizada para realizar trabalho! - respondeu Maristela, escrevendo
no seu caderninho:

DQ = DU + t

- Essa equação expressa a primeira lei da termodinâmica


termodinâmica. Ela mostra que
o calor cedido a um gás (DQ) é usado em parte para aumentar a energia interna
desse gás (DU). Outra parte é usada para realizar um trabalho (t).”
- Isso quer dizer que nem todo calor pode se transformar em trabalho
trabalho,
trabalho? - perguntou
ou seja, existe um limite na transformação de calor em trabalho
Gaspar.
- Gaspar, meu caro! Isso que você disse, em forma de pergunta, é a
segunda lei da termodinâmica
termodinâmica!

Segunda lei da termodinâmica

Gaspar estava satisfeito com sua conclusão. Maristela então disse que
muitos já haviam feito a mesma observação, sem dar a ela o nome de segunda
lei da termodinâmica.
- Essa lei tem o seguinte significado: há um limite na transformação de
calor em trabalho. É possível transformar todo trabalho em calor, mas não
é possível transformar todo calor em trabalho!
- Você quer dizer que, quando usamos calor para gerar trabalho, nem
sempre aproveitamos totalmente a energia térmica?
- Exatamente! Parte dessa energia se transforma em energia inutilizável,
que acaba dispersa no ambiente. Lembre-se do exemplo do automóvel.
A energia química que o combustível possui só é utilizada em parte para
movimentar o automóvel. O resto se perde em energia térmica ou sonora, que
são irrecuperáveis!!
Outra forma de expressar a segunda lei é dizer que o calor só se transfere
espontaneamente de corpos de maior temperatura para os de menor tempe-
ratura
ratura. Isso significa que o frio que sai de nossa geladeira, quando está aberta,
não vai retornar espontaneamente para dentro dela. O mesmo ocorre num dia
frio: quando deixamos a janela aberta, dificilmente o calor que estiver fora da
casa vai entrar espontaneamente para nos aquecer!
- Maristela, o que você está querendo me dizer é que essas transformações
são irreversíveis
irreversíveis?
A U L A Ovo frito não gera galinha!

27 Foi um cientista chamado R. Clausius quem, pela primeira, vez deu forma
matemática à segunda lei da termodinâmica. Para isso ele criou uma nova
grandeza, um novo conceito que pudesse expressar esse limite da transforma-
ção de calor em trabalho. Clausius deu a essa grandeza o nome de entropia
entropia, cuja
variação pode ser expressa matematicamente como:
∆Q
DS =
T
Vê-se que a unidade da entropia é Joule dividido por Kelvin (J/K).
A entropia é uma forma de calcular, no caso de sistemas gasosos, se a
transformação que ocorreu com o gás é reversível ou não.
Por exemplo: quando pegamos uma seringa (sem agulha), tapamos o
orifício menor e, em seguida, pressionamos o êmbolo de forma muito leve,
percebemos que o ar (que é um gás) no interior da seringa sofre uma pequena
compressão. Mas, ao soltarmos o êmbolo, ele volta à situação inicial, isto é, o gás
volta às mesmas condições de volume, temperatura e pressão. Nessa transfor-
mação reversível, dizemos que a variação da entropia do sistema foi nula, pois
não houve dissipação de energia. Ou seja: nenhuma parte da energia do sistema
se transformou em energia irrecuperável.
Se apertarmos fortemente o êmbolo, de modo que o gás seja muito compri-
mido, podemos sentir seu aquecimento. Isso significa que a temperatura do gás
aumentou. Como a seringa não é um isolante térmico, parte do calor do gás se
perde na atmosfera, conduzido pelas paredes da seringa. Quando soltamos o
êmbolo, parte da energia do sistema já se perdeu de forma irrecuperável, de
modo que o gás não volta exatamente às condições iniciais. Dizemos então que
a entropia do sistema aumentou
aumentou.

De volta à borracharia
Roberto e o borracheiro André voltaram do bar. Gaspar e Maristela ainda
estavam falando sobre transformações gasosas, irreversibilidade e entropia.
Roberto, ao ouvir toda aquela discussão, disse:
- Acho que Alberta e Cristiana devem estar num estado irreversível de
irritação profunda pela nossa demora. Sei que não adianta chorar sobre o leite
derramado
derramado, ou mesmo que águas passadas não movem moinho moinho, mas vamos
nos apressar!
Gaspar levou um susto, pois Roberto pegara o espírito da conversa! Olhou
o relógio e tomou outro susto, ao perceber que já estavam ali há mais de uma
hora. Gaspar e Maristela guardaram seus caderninhos; a conta foi paga e todos
se despediram de André.
Ao chegarem ao carro de Roberto, perceberam que os dois pneus da frente
estavam furados. Roberto não acreditou! Gaspar e Maristela, empolgados com
a discussão, não perderam tempo: foram tomar uma cerveja no bar, enquanto
Roberto e André voltavam para consertar os dois pneus.
Foi quando Roberto pensou em voz alta:
- O ar sempre sai do pneu. Por que nunca entra no pneu? Isso facilitaria
tanto a vida... Será possível essa transformação?
André não teve dúvidas:
- Tão possível quanto o café que eu tomo pela manhã se separar sozinho
do leite!
Nesta aula você aprendeu: A U L A
·
·
o conceito de energia interna de um gás (U);
que um gás pode realizar trabalho (t); 27
· que a primeira lei da termodinâmica representa a conservação da energia
nas transformações gasosas;
· que existe uma equivalência entre o trabalho mecânico e a energia térmica
(calor);
· que há um limite para a transformação de calor em trabalho;
· que esse limite é expresso pela segunda lei da termodinâmica;
· que à segunda lei da termodinâmica está associado o conceito de entropia
S ), que determina se uma transformação gasosa é reversível ou irreversível.
(S

Exercício 1
Escreva a primeira lei da termodinâmica para o caso das transformações:
a) isotérmica (DT = 0);
b) isovolumétrica (DV = 0);
c) adiabática (DQ = 0).
Escreva suas conclusões.
Exercício 2
Numa transformação isovolumétrica, um gás recebe uma quantidade de
calor igual a 1.000 joules. Qual será a variação da energia interna desse gás
e qual será o trabalho por ele realizado?
Exercício 3
Um farmacêutico está fazendo experiências com dois gases. O gás A sofre
uma transformação isovolumétrica e o gás B sofre uma transformação
isotérmica. Cada um dos gases recebeu uma quantidade de calor DQ.
Escolha a alternativa que descreve corretamente como se deu a variação da
energia interna de cada gás. Explique sua resposta.

ALTERNATIVA GÁS A GÁS B


TRANSFORMAÇÃO ISOVOLUMÉTRICA TRANSFORMAÇÃO ISOTÉRMICA

a) DU > 0 DU < 0
b) DU < 0 DU > 0
c) DU = 0 DU > 0
d) DU > 0 DU > 0
e) DU > 0 DU = 0
A UA UL L AA

28
28
Dá um tempo, motor!

Depois de passar quase a noite toda no borracheiro, Roberto voltou pra casa
com Cristiana e Maristela, que ainda fazia anotações no seu caderno. O silêncio
de Maristela despertou a curiosidade de Cristiana, que perguntou:
- Maristela, o que você tanto escreve nesse caderno?
- Na realidade, estou tentando compreender como podemos usar um gás
para construir um motor que transforme a energia térmica em trabalho, ou
mesmo em energia de movimento!
Cristiana, que já tinha escutado esse assunto durante todo o jantar na casa
de Alberta e Gaspar, desistiu de continuar a conversa com Maristela. Roberto,
por sua vez, se interessou pelo assunto, pois tinha pensado em fazer um curso
de mecânica para não precisar mais levar o carro ao conserto e economizar um
dinheirão. Ele perguntou para Maristela:
- Você já falou tanto na expansão de um gás realizando trabalho. Por que
você não usa isso?
- Essa é a idéia! - disse Maristela. - Só que, para que um motor funcione
continuamente, precisamos de uma quantidade enorme de gás, de forma que
seria muito caro montar um recipiente que abrigasse todo esse volume!
Cristiana, que estava ouvindo a conversa, lembrou da panela de pressão e
disse, com ar de entendida:
- Por que não usa uma panela de pressão? Se você conseguisse controlar
o vapor que sai pela válvula de segurança, poderia usá-lo para alguma coisa.
Maristela quase não acreditou no que ouviu. Era a solução! Rapidamente,
disse:
- Sem dúvida é uma boa idéia, mas usar uma panela de pressão para fazer
um motor é muito perigoso! Mas, como a idéia é boa, pelo menos vamos fazer
um pequeno projeto de máquina a vapor!

Projetando a máquina a vapor


Sábado pela manhã, Roberto e Cristiana estavam na casa de Maristela.
Como Ernesto tinha ido passar o fim de semana com a avó, o casal estava com
o tempo mais livre.
Maristela pesquisou numa enciclopédia que tinha em casa e descobriu que
a máquina a vapor é uma das máquinas mais antigas. Heron, um grego, já havia
construído uma máquina a vapor. Só que, naquela época, ela não era usada como
máquina, mas como curiosidade a ser observada.
- Eu construí um modelo da máquina de Heron com um material bem A U L A
simples. Vejam aqui: quando esquentamos o fundo da lata, ela começa a se
movimentar!
28
vapor
vapor

água
água

- É impressionante - falou Roberto -, poderíamos usar uma máquina


dessas, um pouco maior, para puxar o jornal lá da portaria!
- Falou o preguiçoso! Assim você não vai emagrecer nunca! - observou
Cristiana.
Maristela puxou, então, uma grande folha de papel, começou a desenhar e
falou:
- Você tem razão, Roberto. Para puxar um peso como o de um jornal, a
máquina teria de ser bem maior, ou pelo menos teria de ser uma máquina mais
eficiente
eficiente! Você já viu como é a roda de uma locomotiva? É mais ou menos assim:

Roda Pistão

Eixo

- Também sabemos que um gás se expande quando aquecido. É o que


acontece na panela de pressão, como nos lembrou ontem a Cristiana - comple-
tou Maristela.
- Exato! - disse Roberto. - Numa locomotiva, ao aquecermos o gás no
interior do êmbolo ele se expande, empurrando o eixo que gira a roda um quarto
de volta. Quando o gás se expande completamente, a roda gira meia volta.
Quando o gás resfria, se contrai, diminuindo seu volume e puxando o eixo de
volta, e fazendo com que a roda gire mais um quarto de volta. Finalmente,
quando o gás está totalmente comprimido, o pistão e o eixo voltam à situação
inicial.

Etapas de expansão
3
e compressão do Expansão
gás em um pistão,
numa roda de ¬ Direção do
¬
locomotiva ® movimento do eixo

1 4
Situação inicial Compressão

®
5
2 Volta à
Expansão situação inicial

¬ ®
A U L A O rendimento de uma máquina

28 - É claro que queremos uma máquina eficiente, ou seja, que a energia que
fornecemos a ela seja quase toda transformada em trabalho - disse seriamente
Maristela. - Podemos até escrever de forma matemática o rendimento de uma
máquina, como: τ
η=
∆Qquente

- Portanto, o rendimento é a razão entre o que é utilizado pela máquina


energia útil
(energia útil), ou seja, o trabalho (t) realizado pela máquina, e o calor
fornecido pela fonte quente (DQquente ). Vamos fazer um esquema da máquina
térmica.
Fonte Quente
Q quente

τ τ Q quente Q frio

Q frio

Fonte Fria
Roberto, ao ver o esquema, comentou:
- Do jeito que está aí, o trabalho realizado pela máquina é igual à diferença
entre o calor que entra na máquina (DQquente) e o calor que sai da máquina (DQfria)!
Veja só...
t = DQquente - DQfria
- Por que você não substitui essa equação na que Maristela escreveu? —
disse Cristiana, completamente envolvida no assunto. Assim teremos uma
relação entre o rendimento e as trocas de calor envolvidas:
τ ∆Q quente − ∆Q fria ∆Q fria
η= = = 1 -
∆Qquente ∆Q quente ∆Q quente
∆Q fria
h = 1 -
∆Q quente
- Fantástico! - gritou Maristela. - Agora fica fácil entender o rendimento!
Prestem atenção: se todo calor cedido pela fonte quente for recebido pela fonte
fria (DQquente = DQfria), significa que não vai sobrar nenhuma energia para
realizar o trabalho (t), e somente haverá uma troca de calor entre a fonte quente
e a fonte fria, ou seja, a razão
∆Q fria
= 1
∆Q quente

E o rendimento é nulo: h = 1 - 1 = 0
- Isso significa que a máquina não vai funcionar! A U L A
- É verdade! - falou Roberto. - A melhor situação é aquela em que a razão
entre o calor que sai e o calor que entra é bem pequena! Nessa situação quase
todo o calor cedido pela fonte quente irá se transformar em trabalho! 28
- Sem dúvida - aprovou Maristela. - Precisamos então de duas fontes
térmicas com temperaturas bem diferentes para aumentar o rendimento da
máquina térmica! Vamos dar uma olhada na minha enciclopédia!

A máquina a vapor e a segunda lei da termodinâmica


Uma das conseqüências da segunda lei da termodinâmica aplicada à
construção de máquinas térmicas é o estabelecimento de uma fonte “quente” e
de uma fonte “fria” para que se consiga obter trabalho da máquina.
Os motores utilizados lá pela metade do século XVIII eram construídos
sem o conhecimento da teoria termodinâmica, que estava sendo elaborada na
mesma época. James Watt foi a primeira pessoa a projetar uma máquina a
vapor para realizar trabalho. Esse foi o princípio que levou à construção das
locomotivas a vapor.
Outro cientista, Sadi Carnot, estabeleceu o limite da eficiência de uma
máquina térmica, isto é, Carnot definiu como obter o máximo de trabalho com
o mínimo de energia, criando assim o ciclo de Carnot
Carnot. Esse ciclo nada mais é que
uma receita de como construir um motor ideal. Na realidade, é um motor teórico,
mas serve para nos dizer o que é possível contruir e o que não é!
Carnot demonstrou que a quantidade de calor cedida pela fonte quente é
diretamente proporcional à sua temperatura, assim como a temperatura da
fonte fria é diretamente proporcional à quantidade de calor recebida ao final da
transformação, isto é:
DQ quente µ T quente

DQ fria µ T fria

O que nos permite escrever:


∆Q fria T fria
=
∆Q quente T quente
Ou, ainda, em termos do rendimento da máquina térmica:
T fria
h = 1 -
T quente
- É claro! - anunciou Maristela. - Se a fonte fria estivesse a uma
temperatura de 0 Kelvin, todo calor da fonte quente se transformaria em
trabalho e o rendimento seria de 100%, ou seja:
h = 1
- Mas 0 Kelvin, o zero absoluto, não pode ser alcançado! - disse
Roberto. - Eu me lembro de você ter dito isso uma vez.
- É verdade! Isso significa que é impossível obter o rendimento igual a
1. Esse é o significado da segunda lei da termodinâmica. O calor passa
espontaneamente do corpo quente para o corpo frio. Nessa passagem,
podemos aproveitar para obter algum trabalho se tivermos uma máquina,
mas há sempre uma parte de calor que vai para a fonte fria e não pode ser
utilizada pela máquina térmica.
A U L A - Ah! Isso é o que chamam de processo irreversível - gritou Cristiana, que,
apesar de calada até aquele momento, estava prestando muita atenção.

28
Enfim, a máquina

- Já sabemos que nossa máquina terá um rendimento menor que 1 - disse


Maristela. - Sabemos que precisamos de uma fonte fria e de uma fonte quente
para obter trabalho do gás, e sabemos também que, quanto maior a diferença de
temperatura entre as duas fontes, maior será o rendimento da máquina térmica.
Agora só falta o desenho final!
Maristela, então, pegou o papel e fez um desenho da sua máquina térmica
movida a vapor:

válvula válvula

Vapor

çgua
Fonte
Fria
Fonte
Quente

Com o desenho, todos ficaram satisfeitos. Depois se entreolharam, até que


Cristiana perguntou:
- Quem vai construir essa máquina?
Roberto ainda fez uma brincadeira:
- É... Acho que, para construir essa máquina, vamos ter de trabalhar muito
mais do que ela!
Todos riram, mas ninguém disse que não construiria.

Aquecer é fácil, difícil é esfriar!

Uma das máquina mais utilizadas hoje em dia é o refrigerador


refrigerador. Sua
invenção foi realmente de grande ajuda para as pessoas, que passaram a
preservar seus alimentos por mais tempo.
O refrigerador parte um princípio muito simples: se o calor não sai espon-
taneamente de um corpo frio para um corpo quente, nós vamos forçá-lo a sair!
Em vez de o gás realizar trabalho, nós realizaremos trabalho sobre ele!
Como isso é feito? Trata-se de outro processo em que ocorrem transforma-
ções gasosas.
Sabemos que, quando expandimos um gás, sua pressão diminui, assim
como sua temperatura. Por um cano fino que passa pelo interior da geladeira,
um gás é solto e se expande a baixa pressão. Nessa expansão, a temperatura do
gás diminui. Com isso, o gás retira calor do ambiente que está a sua volta, ou seja,
do interior da geladeira. Um compressor que está na geladeira comprime o gás A U L A
(freon, em geral) que se encontra numa câmara.
Você pode observar que atrás de sua geladeira existe outro cano, fino e
comprido, por onde o gás sai do interior da geladeira. Ele libera o calor para a 28
atmosfera, para novamente repetir o processo.

Fonte Fria
fonte fria
Fonte
fonteQuente
quente

v‡lvula
válvula Q quente
de expansão
de expans‹o

Q frio

fonte fria
Fonte Fria

compressor
compressor Fonte
fonte quente
Quente

E como funciona?

O motor a gasolina é mais eficiente do que a máquina a vapor. Isso significa


que a energia térmica cedida pela gasolina é maior.
Esse tipo de motor é chamado de motor de quatro tempos
tempos, pois segue
basicamente as quatro etapas seguintes:

1. Compressão
Compressão: uma mistura de gasolina e ar é injetada, pela válvula de
admissão, no interior da câmara de combustão. Quando a válvula de
admissão é fechada, o pistão sobe, comprimindo a mistura, o que aumenta
sua pressão e temperatura.

2. Ignição
Ignição: o dispositivo chamado vela solta uma faísca e inflama a mistura,
que está extremamente comprimida, provocando uma explosão. Essa ex-
plosão gera gases residuais a uma pressão muito maior.

3. Expansão
Expansão: com o aumento da pressão e da temperatura, os gases residuais
da explosão se expandem rapidamente, impelindo o pistão para baixo.

4. Exaustão
Exaustão: neste momento, a válvula de escape está aberta e a de admissão
está fechada, permitindo que os gases residuais saiam da câmara de
combustão para que o ciclo se reinicie.

Vários tipos de motores foram construídos em busca de melhor rendimento,


alguns com quatro cilindros, outros com seis. Mas, mesmo assim, o rendimento
de motores a combustão ainda é muito baixo.
A U L A Depois de todo esse estudo, Cristiana, Roberto e Maristela resolveram
almoçar na casa da mãe de Roberto, para ver como estava Ernesto. Quando

28 Roberto tentou ligar o carro, esse não deu sinal de vida. Imediatamente,
Cristiana disse:
- Está sem bateria...
E Maristela emendou:
- Sem bateria a vela não pode soltar a faísca. Por isso, a mistura de ar e
gasolina não pode explodir!
Roberto ficou irritado.
- Pois bem. Já que a bateria não quer trabalhar, as duas sabidonas podem
começar a empurrar o carro!
Maristela e Cristiana caíram na gargalhada e desceram para empurrar.

Nesta aula você aprendeu:

· como funciona uma máquina térmica;

· os princípios de uma máquina a vapor;

· que existe um limite máximo para a transformação de calor em trabalho;

· que esse limite pode ser mostrado pelo rendimento h da máquina;

· que é necessário uma fonte quente e uma fonte fria para que se possa obter
trabalho de uma máquina térmica;

· que o limite do rendimento de uma máquina térmica está contido na


expressão da segunda lei da termodinâmica;

· os princípios básicos de funcionamento de um refrigerador;

· os princípio básicos de funcionamento de um motor a gasolina de quatro


tempos.

Exercício 1
Calcule o trabalho realizado pelo motor de geladeira que retira 1.000 cal do
congelador e joga no ambiente 1.200 cal.

Exercício 2
Qual é o rendimento máximo de uma máquina térmica que opera entre a
temperatura de 27ºC e 227ºC? (Dica: para usar a equação de rendimento, a
temperatura deve estar em Kelvin)

Exercício 3
Um motor térmico realiza 20 ciclos por segundo. A cada segundo, ele
retira 800 J da fonte quente e cede 500 J à fonte fria. Calcule:
a) o rendimento de cada ciclo;
b) a temperatura da fonte quente, sabendo que a fonte fria está a 27ºC.
A UU
A L AL A

29
29
Como uma onda
no mar...

C erta vez a turma passou férias numa peque-


na cidade do litoral. Maristela costumava ficar horas a fio admirando a imensidão
azul do mar, refletindo sobre coisas da vida e, principalmente, sobre fenômenos
que vinha observando diariamente na natureza.
Uma tarde, ela convidou Ernesto para dar uma volta. Subiram uma encosta
e ficaram um bom tempo observando um tronco de árvore que boiava na
superfície do mar. O tronco estava numa parte funda. As ondas passavam por
ele e percorriam um longo caminho até encontrar a areia da praia.
Maristela e Ernesto fizeram observações cuidadosas e verificaram que,
quando as ondas passavam pelo tronco, este subia e descia, mas não se
aproximava nem se afastava da praia. Os dois ficaram em silêncio, até que
Ernesto perguntou...

- Afinal, o que é uma onda?


É a primeira dúvida que nos ocorre.
- Bem, Ernesto, sabemos que há uma onda porque a superfície do mar fica
diferente, ela fica deformada. Além disso você pode observar dois fatos impor-
tantes: o primeiro é que essa deformação se desloca; o segundo é que o tronco
sobe e desce, mas sua distância em relação à praia não muda (Figura 1).

Onda Tronco
do mar

Direção de
propagação
da onda

Figura 1
A U L A - Essas duas características nos ajudam a definir:

29 Onda é uma perturbação num meio material


que se desloca de um ponto a outro.

Esse tipo de onda é chamado de onda mecânica


mecânica, e sobre ela vamos falar
nesta aula.

- Ernesto, é importante notar que a deformação (perturbação) passa sem


que o material do meio se desloque. É possível verificar esse fato pelo movimento
do tronco: ele sobe e desce, mas não se desloca horizontalmente, e a água
também não se desloca.
Vamos explorar mais esse fato. Inicialmente, o tronco estava parado. À
medida que a onda passa, ele se movimenta, isto é, ganha velocidade, subindo
e descendo. Isso acontece porque a onda transferiu energia ao tronco. Assim,
dizemos que:

Uma onda transfere energia de um ponto a outro do meio,


sem que haja transporte de matéria.

- Existem vários exemplos de ondas à nossa volta. Por exemplo, uma


toalha presa a um varal num dia de vento: as ondas provocadas pelo vento se
propagam pelo tecido (meio material), mas as porções do tecido voltam às suas
posições depois que as ondas passam.
Ernesto, começando a entender mais sobre o assunto, lembrou animado de
outro exemplo:
- Ah! E quando eu arrumo a minha cama pela manhã: segurando o lençol,
levanto e abaixo rapidamente o braço, forma-se uma perturbação que se propaga
pelo tecido... isso é uma onda?
- Sim! Mas essa onda é produzida e acaba logo em seguida. Esse tipo de
onda é chamado de pulso .

Um pulso é uma perturbação que


se propaga por um meio.
É, portanto, uma onda, mas de curta duração.

Ernesto, agora, estava mais curioso:


- Existem outros tipos de ondas, isto é, ondas que não sejam como os
pulsos que terminam logo depois que começam?
- Existem, Ernesto. Pense, por exemplo, no movimento de um relógio, ou
do Sol... São tipos de movimentos que se repetem depois de um certo tempo. Por
exemplo: o ponteiro grande de um relógio volta à mesma posição a cada doze
horas. O Sol nasce a cada dia, isto é, a cada 24 horas...
- Já sei! Doze horas é o período do ponteiro grande e 24 horas é o período
do Sol - concluíu Ernesto com entusiasmo.
- Muito bem! Esses movimentos que se repetem após um certo tempo
(período) recebem o nome de movimentos periódicos
periódicos. Da mesma forma, uma
série de pulsos que se repetem formam o que chamamos de onda periódica
periódica.
- E, nesse caso, - completou Ernesto - o movimento do material se repete,
isto é, os pontos do meio se deslocam, voltam à posição original, e esse
movimento se repete muitas vezes. Maristela, agora me surgiram duas dúvidas:
as ondas do mar são periódicas? E o que determina o período de uma onda?
- Você está ficando muito esperto, Ernesto! Mas vamos com calma. Uma A U L A
coisa de cada vez! O período é uma característica da onda
onda. E o que determina
o período é a fonte
fonte, isto é, o que produz a onda. Por exemplo: quando você
arruma sua cama e produz um pulso ao levantar e abaixar a mão, a mão é a fonte, 29
pois seu movimento produziu o pulso.
- Entendo. E o que produz a onda do mar? - perguntou Ernesto.
- Bem, esse é não é um assunto fácil, pois o processo de formação de ondas
no oceano é complexo. Isto é, não é uma fonte única, como a sua mão, mas uma
combinação de fatores que levam ao aparecimento dessas ondas. Vamos estudar
os casos mais simples? Vamos até a minha casa brincar um pouco!

Produzindo e observando ondas

Na casa de Maristela, o estudo das ondas continuou.


- Uma maneira muito simples de estudar ondas mecânicas é utilizar uma
corda com uma das extremidades presa.
- Ernesto, você será a fonte que produz as ondas. Segurando a outra
extremidade da corda, levante e abaixe rapidamente a mão, como você faz com
o lençol.

- Levantando a mão só uma vez eu produzo um pulso - disse Ernesto. -


E se eu levantar e abaixar a mão continuamente?
- Vá em frente! Tente, experimente! É assim que aprendemos, é assim que
se descobrem coisas novas! — incentivou Maristela.
- Veja, uma série de pulsos! Epa! Isso não é uma onda periódica?
- Sim! Observe que os pontos da corda sobem e descem sucessivamente.
Temos, portanto um movimento periódico, uma onda periódica! Experimente
movimentar sua mão mais rápido ou mais devagar. O que acontece?
- Os pontos da corda vão subir e descer mais rápido ou mais devagar, de
acordo com a minha mão, que é a fonte que produz a onda. Exatamente como
você disse lá na praia! - concluiu Ernesto. - Por isso esses pontos vão demorar
mais ou menos para voltar ao mesmo lugar.
Então, podemos dizer que:

O período (T) é uma característica da onda


e depende da fonte que a produz.

Dizemos que uma onda é periódica porque os pontos da corda, após um


certo tempo (período), retornam à posição anterior. Esse movimento de ir e
voltar ao ponto de partida recebe o nome de ciclo
ciclo.
Maristela sugeriu:
- Para continuar a estudar as características da onda, vamos fazer um
desenho, como se alguém, num dado momento, tirasse uma foto da corda.
A U L A A Figura 2 ilustra a corda de Ernesto num dado momento. Para facilitar seu
estudo, desenhamos um par de eixos x e y . As setas indicam o deslocamento dos

29 pontos da corda em relação à horizontal.


Figura 2

- Ernesto, uma onda é caracterizada por várias grandezas: uma delas é o


período. Mas existem outras. Por exemplo, observe que existem pontos da corda
que estão mais afastados da posição de equilíbrio (horizontal) do que os outros.
- Sim! E são vários! Alguns estão acima da horizontal e outros estão
abaixo...
- Esses pontos têm um nome especial. Os que estão acima da posição de
equilíbrio se chamam cristas da onda...
Ernesto interrompeu:
- Agora eu já sei por que, quando alguém está se dando bem no que faz,
dizemos que ele está na crista da onda
onda!
— Isso mesmo, Ernesto! Você percebe como as coisas do dia-a-dia e os
fenômenos da natureza podem ser relacionados? Às vezes usamos uma mesma
linguagem para expressar coisas diferentes, que no fundo são semelhantes.
Fazendo essas ligações fica muito mais fácil entendê-las!
- E como se chamam os pontos que estão abaixo da posição de equilíbrio?
- Vales da onda - respondeu Maristela. - Os pontos que estão nas cristas
e nos vales, como vimos, estão mais afastados da horizontal do que os outros.
Essa distância máxima recebe o nome de amplitude
amplitude.
- Então, a amplitude é outra característica da onda. Ela também está
relacionada com a fonte?
- Perfeito, Ernesto! Experimente levantar e abaixar mais o braço, isto é, dê
uma amplitude maior ao movimento do seu braço. Observe o resultado na
figura abaixo.

Ernesto observou:
- As cristas ficam mais altas e os vales ficam mais fundos! Isso quer dizer
que esses pontos, agora, estão mais afastados da horizontal, ou seja, a amplitude
aumentou!
Portanto, dizemos que: A U L A

29
A amplitude (A) é uma característica da onda
que depende da amplitude do movimento da fonte.
- Agora você pode brincar de produzir ondas e, com os conhecimentos que
adquiriu, é capaz de produzir ondas com características diferentes, isto é, com
diferentes períodos e amplitudes! - disse Maristela. - Enquanto isso, eu tiro uma
soneca. Quando eu acordar, vamos à cidade para tomar sorvete!

Mas que ônibus demorado!

Maristela e Ernesto foram para o ponto esperar o ônibus que os levaria até
o centro da cidade. Estavam lá havia uns vinte minutos e nada de o ônibus
passar. Ernesto já estava impaciente e perguntou a um senhor:
- Por favor, o senhor saberia me dizer de quanto em quanto tempo esse
ônibus passa aqui?
- Bom, filho, isso eu não posso responder, porque ele não tem um período
certo. Só posso dizer que ele não passa com muita freqüência, não! Se estiver com
muita pressa, é melhor ir a pé!
Ernesto olhou espantado para Maristela, menos pela possibilidade de ter
que ir andando até a cidade, mais pela palavras que acabara de ouvir... Período?
Freqüência? Após todas as discussões da tarde, as idéias estavam frescas na sua
cabeça.
- Sim! - gritou Ernesto. - O período do ônibus é o tempo que ele leva para
passar novamente por esse lugar. Quer dizer, é o tempo que ele leva para sair
daqui, dar a volta pela cidade e retornar para dar mais outra volta! Certo?
- Certíssimo - afirmou Maristela, orgulhosa do rapaz.
- Mas, do modo como aquele senhor falou, período e freqüência devem
estar relacionados! - arriscou Ernesto.
- Sim, vá em frente! - encorajou-o Maristela.
- Me ajude!
- Vamos lá: suponhamos que o período do ônibus seja de duas horas.
Quantas vezes num dia (24 horas) esse ônibus passará por aqui?
- Ah, essa é fácil! Ele passará doze vezes num dia! - respondeu Ernesto,
confiante.
- Então você sabe o que é freqüência: é o número de ciclos (neste caso, as
doze voltas do ônibus) por unidade de tempo (neste caso, um dia ou 24 horas).
Isso significa que a freqüência do ônibus é de doze voltas em 24 horas, ou, se
preferir, meia volta a cada hora. Observe que o período é de duas horas e a
freqüência é de uma volta a cada duas horas. Portanto: o período é o inverso da
freqüência. E o mais interessante, Ernesto, é que isso tudo também vale para as
nossas ondas!
- Maristela, vamos esquecer o sorvete e voltar para casa. Eu quero continu-
ar com as experiências na corda!

Mais lento! Mais rápido!

Ernesto segurou a corda e começou a levantar e abaixar o braço cada vez


mais rápido. Viu que a corda obedecia aos seus movimentos. Quanto mais rápido
era o movimento da sua mão, mais rápido os pontos da corda subiam e desciam.
A U L A Sua conclusão foi:

29 A freqüência (f) é uma característica da onda,


e é igual à freqüência da fonte que a produz.

- Vamos fazer um cálculo! - sugeriu Maristela. - Suponha que um ponto


qualquer da corda sobe e desce quatro vezes a cada segundo. Portanto, sua
freqüência é de quatro ciclos por segundo. Essa unidade ciclos por segundo
recebe o nome de hertz (Hz
Hz
Hz). E qual é o seu período, que é o tempo que leva para
realizar um ciclo? Basta fazer uma regra de três:

1 segundo 4 ciclos
x segundos 1 ciclo

1
Portanto, x = 0,25 segundos, isto é, T = 0,25 segundos, que é igual a .
4
Com isso confirmamos que período é o inverso da freqüência:
1
T =
f
É o movimento da mão (fonte) que provoca o surgimento da onda na corda.
Portanto, é ele que determina as características da onda. A rapidez com que
movemos a mão (a freqüência com que a fonte vibra) determina a freqüência e
o período da onda. Sua amplitude depende de quanto levantamos e abaixamos
a mão, isto é, da amplitude desse movimento.
Note, na Figura 2, que a onda se desloca ao longo da corda (direção indicada
pelo eixo x), enquanto os pontos da corda se deslocam numa direção perpendi-
cular a ela (indicada pelo eixo y). Devido a essa característica, esse tipo de onda
é chamado de onda transversal
transversal. O nome transversal significa que o desloca-
mento dos pontos e o deslocamento da onda não têm a mesma direção. Existe
outro tipo de onda, chamada longitudinal
longitudinal, que estudaremos na próxima aula.

Um, dois, três, já!

Ernesto fez a Maristela uma proposta muito estranha: uma competição entre
pulsos! Sua idéia era a seguinte:
- Cada um de nós segura uma corda, que vai estar com a outra extremidade
presa. Quando eu disser ‘já’ nós produzimos um pulso. O pulso que chegar
primeiro na outra extremidade da corda ganha! - propôs o menino, animadíssimo.
- Aceito o desafio!
Eles então se prepararam e, ao sinal de Ernesto, produziram os pulsos...
Mas os pulsos chegaram praticamente juntos. Foi impossível conhecer o
vencedor e, assim, os dois declararam o empate!
- Podemos fazer uma coisa interessante, Ernesto: vamos medir quanto
tempo o pulso leva para percorrer a corda. Depois mediremos seu comprimento,
para saber qual foi a distância percorrida pelo pulso. Assim calcularemos a
velocidade de propagação do pulso! O que você acha?
Foi o que fizeram. Com um relógio, eles verificaram que o pulso demorou
cinco segundos para percorrer os dez metros da corda (Figura 3).
Figura 3 A U L A

29

Portanto, a velocidade de propagação do pulso foi de:


10,0 m
v = = 2,0 m/ s
5s
Isto é: em um segundo, o pulso percorreu uma distância de 2,0 metros.
A velocidade de propagação não é uma característica da onda, mas sim do
meio no qual a onda se propaga. Na corda, por exemplo, ela vai depender da
tensão aplicada à corda (isto é, de quanto ela está esticada) e da sua espessura.
Uma pergunta que podemos fazer é: quanto é que o pulso caminha durante
um período (T)? Pela definição de velocidade, temos:
distância percorrida
v =
T
Ao se propagar em um meio, um pulso tem velocidade constante. Assim, a
distância percorrida em determinado período também será constante. Por isso
damos um nome especial a essa distância: comprimento de onda onda. Ela é
representada pela letra grega lambda (l). Portanto:
l = v · T
Já que se trata de uma distância, suas unidades são as de comprimento, isto
é, metro, centímetro, milímetro etc. Observe a figura abaixo:

Ela representa uma série de pulsos produzidos por uma mesma fonte:
é, portanto, uma onda periódica. Veja como o desenho se repete: uma crista e um
vale, uma crista e um vale...
A distância indicada na figura pela letra l equivale ao comprimento de
onda. Observe que a distância entre dois vales ou entre duas cristas corresponde
ao comprimento de onda. Portanto, o comprimento de onda pode ser obtido
tanto pela equação (se conhecermos a velocidade de propagação e o período)
como pelo gráfico.
Agora que já conhecemos o conceito de onda mecânica e as suas caracterís-
ticas... vamos voltar à praia!
A U L A Uma onda + uma onda = uma onda
Uma onda + uma onda = zero onda! (Como pode?)
29 No dia seguinte, Maristela e Ernesto voltaram à praia e foram andar até a
encosta. O mar estava calmo. As ondas vinham bater de encontro à parede
formada pelas rochas. Os dois observaram que, ao encontrar a parede, as ondas
voltavam, isto é, eram refletidas.
Maristela e Ernesto começaram a observar o que acontecia com o tronco
nesse caso:
- Ele sobe e desce, como antes! - observou Ernesto.
Num desses movimentos, o tronco subiu muito mais do que o de costume.
Numa outra vez, não saiu do lugar!
- Preste atenção, Ernesto. Ao encontrar as rochas, a onda muda de sentido:
como não pode seguir em frente, ela volta. Isso é o que chamamos de reflexão
reflexão.
Então, existem duas ondas: a que vem do fundo do mar e a que vai para o fundo
do mar, depois de ter sido refletida pelas rochas. E aí está a chave do mistério!
- exclamou Maristela.
- Continue! - pediu Ernesto
- As ondas são formadas por cristas e vales. As cristas levantam os pontos
do meio e os vales abaixam esses pontos. Quando duas ondas se encontram,
várias situações podem ocorrer. Duas, em especial: a crista de uma onda
encontra a crista da outra e, neste caso, os vales também coincidem, ou a crista
de uma encontra o vale da outra e vice-versa.
Ela continuou o raciocínio:
- Na primeira situação, isto é, quando o encontro é entre duas cristas,
ambas levantam o meio naquele ponto, por isso ele sobe muito mais! Ao mesmo,
tempo dois vales se encontram, tendendo a baixar o meio naquele ponto. Por isso
o vale que resulta fica mais fundo! Por isso vimos o tronco subir muito mais!
(Figura 4)

Figura 4

- Isso acontece porque, quando duas ou mais ondas se encontam, o efeito


é uma onda resultante
resultante, cujas características dependem não só das característi-
cas das ondas que se superpõe, mas também de como ocorre esse encontro.
- A outra situação ocorre quando o encontro é entre um vale e uma crista:
um deles quer puxar os pontos para cima e o outro quer puxá-los para baixo. Se
a amplitude das duas ondas for a mesma, o resultado que é não ocorre
deslocamento, pois eles se cancelam e o meio não sobe e nem desce naquele
ponto! Por isso não vimos o tronco se mover! (Figura 5)
A U L A

29

Figura 5

- Esse é um princípio que descreve o que acontece quando duas ou mais


ondas se encontram e é conhecido como princípio da superposição de ondas
ondas.
Mas agora vamos, Ernesto. Já está ficando tarde e nós precisamos nos
preparar para a seresta que vai acontecer lá em casa, hoje à noite!

Nesta aula você aprendeu que:

· onda mecânica é uma perturbação num meio material que se propaga de


um ponto a outro do meio;

· as ondas podem ser de curta duração, isto é, acabar rapidamente: neste caso,
chamam-se pulsos
pulsos; quando a perturbação se repete, teremos uma onda
periódica
periódica;

· fontes; algumas características das ondas - como


as ondas são geradas por fontes
período (T), amplitude (A) e freqüência (f) - dependem da fonte;

· a velocidade de propagação (v v ) de um pulso é constante num meio, e


depende das características desse meio; v é a distância percorrida pelo pulso
numa unidade de tempo;

· outra característica das ondas é o seu comprimento de onda (l), que é a


distância percorrida pela onda durante um período (T);

· o princípio da superposição de ondas descreve o que acontece quando


duas ou mais ondas se superpõe, isto é, se encontram.
A U L A Exercício 1
A figura abaixo mostra uma corda num dado momento. Sabe-se que ela se

29 desloca com uma velocidade de 4cm/s. Com a ajuda da figura, sabendo que
o lado de cada quadrado corresponde a 1 cm, determine:

a) a amplitude da onda;
b) o comprimento de onda;
c) seu período e freqüência.

Exercício 2
Ernesto fez uma experiência num laguinho perto de sua casa. Agitando a
mão na água ele produziu uma série de pulsos, isto é, uma onda periódica.
Verificou que elas percorriam 200 cm em 4 segundos e que a distância entre
duas cristas sucessivas era de 10 cm. Determine:
a) a velocidade de propagação da onda;
b) o comprimento de onda;
c) a freqüência com que Ernesto agitava a mão.

Exercício 3
Maristela e Ernesto amarraram dois pedaços de corda diferentes, uma fina
e uma grossa, como mostra a figura a seguir.

Então, produziram pulsos,


movimentando a mão para
cima e para baixo duas ve-
zes a cada segundo. Os
pulsos eram produzidos
num pedaço da corda e
transmitidos ao outro. Eles
anotaram os seguintes va-
lores para as velocidades
de propagação:

CORDA VELOCIDADE
parte fina vf = 6 cm/s
parte grossa vg = 4 cm/s

Lembre-se de que a freqüência dos pulsos é a mesma da fonte. Responda:


a) qual o período da fonte (e dos pulsos na corda);
b) qual o comprimento de onda quando ela se propaga no meio mais fino
e no meio mais grosso.
c) Escreva suas conclusões a partir dos resultados que você obteve.
AUU
A L AL A

30
30
Um papinho, um violão
e a bendita construção!

A pós o passeio pela praia, Maristela e Ernesto


voltaram para casa. Tomaram um banho e esperaram os amigos que iam chegar.
O Sol já estava se pondo quando eles finalmente apareceram.
Eram dois seresteiros: Nelson tocava violão e Nestor tocava flauta. Não
perderam tempo: prepararam um refresco e começaram a tocar. Tocaram várias
canções, até bem tarde: afinal, estavam de férias!
Como não podia deixar de ser, Ernesto, que é um garoto muito interessado
e curioso, quis saber mais sobre o som e sobre aqueles instrumentos... Como se
produzia um som, ele já sabia.
- Basta bater um material no outro. Por exemplo, bater
uma colher numa panela, deixar cair um jornal no chão. Ou
bater uma porta. O indesejável pino metálico do despertador
bate nas campânulas, nos tirando de manhã cedo do sono
gostoso! Às vezes a bola de futebol atinge uma vidraça e é aquele
barulhão, sem contar a gritaria do dono furioso da vidraça!
- O mesmo acontece quando vibramos a corda de um Figura 1
violão! - completou Nelson.
- E o que todos esses exemplos têm em comum? - indagou Nestor.
- É que todos esses materiais são duros... - arriscou Ernesto.
- Nem todos eles. A corda do violão, por exemplo, é feita de um material
bem flexível! - observou Nelson, como quem conhece bem o seu instrumento.
- Aliás, podemos deixar a corda mais esticada ou menos esticada, e isso
determina que tipo de som será produzido quando a corda vibrar.
- É verdade... Então, o que eles têm em comum deve ser o fato de que todos
vibram de alguma maneira. E, ao vibrar, produzem sons! - concluiu Ernesto.

O que é som?
Há mais de dois séculos a questão do som vem agitando o homem. No século
XVIII, algumas pessoas definiam o som como uma sensação, e diziam que,
portanto, para existir, o som precisaria de um ouvinte, de alguém para escutá-
lo. Quem defendia essa idéia eram os filósofos da época.
Os físicos, por outro lado, combatiam essa idéia, pois acreditavam que o som
existia mesmo quando não havia ninguém para ouvi-lo.
Mas o que é o som?
A U L A Você já sabe que toda matéria no Universo é formada por átomos que se
agrupam, formando moléculas. Já sabe também que as moléculas estão em

30 constante movimento.
Ao bater com uma colher na superfície de uma panela, como no exemplo de
Ernesto, estamos fornecendo energia para as moléculas do metal. Conseqüen-
temente, elas vibram mais intensamente (Figura 2). Uma vez que as moléculas
do material estão ligadas umas às outras, essa vibração é
transmitida de uma molécula à outra, atravessando assim
o material. E isso nada mais é do que o som: uma vibração
que se propaga num meio material.

Isso nos faz lembrar as ondas que estudamos na aula


passada. Será que o som é uma onda?
Antes de responder a essa pergunta, vamos pensar na
Figura 2 questão dos filósofos do século XVIII, isto é, a sensação sonora que é a sensação
que nos fornece o ouvido, órgão responsável pela audição, quando ouvimos um
som.
Quando Cristiana diz: “Desligue a TV e venha para a mesa que a sopa vai
esfriar”, aquelas palavras, isto é, aqueles sons, produzidos por suas cordas
vocais, atravessaram o ar até atingir os ouvidos de Ernesto (Figura 3). Aí está
uma dica importante: o ar.
Ao vibrar, as cordas vocais transmitem essa vibração às moléculas de ar
que estão em contato com elas. Essa vibração é transmitida, de molécula em
molécula, até atingir o nosso ouvido. O que acontece
depois disso são vários processos que não iremos estu-
dar neste curso. Basta saber que essas vibrações são
transmitidas e interpretadas pelo cérebro, de modo que
Ernesto capta a mensagem e vai sentar à mesa para
tomar a sopa quentinha!

Nosso objetivo aqui é descrever o som fisicamente e


estudar algumas grandezas que o caracterizam.

Um verdadeiro empurra-empurra
Figura 3

Você já deve ter tido a experiência de entrar num ambiente lotado de gente
(um estádio, uma feira etc.). Imagine que as pessoas são moléculas. De repente,
alguém começa a empurrar. A pessoa que está à frente empurra a seguinte, a
seguinte empurra a outra e assim por diante: é aquele empurra-empurra. Uma
pessoa pressionando a outra.
É isso o que ocorre com as moléculas de ar.
Figura 4
A figura ao lado mostra, esquematicamente, o que acontece quando vibra-
mos um material - neste caso, uma régua (Figura 4). Poderia ser a corda de um
violão, o metal de uma panela... Mesmo que não se possam ser observadas, as
vibrações realmente ocorrem!
Quando a régua vibra, provoca o deslocamento das moléculas de ar que
estão ao seu redor: elas vão para a frente e para trás, seguindo o movimento da
régua.
Observe que existem regiões em que há um acúmulo de moléculas e outras
regiões nas quais há um número menor de moléculas. Isso ocorre porque,
quando a régua vai para o lado, ela empurra as moléculas, aumentando a
densidade de moléculas. Portanto, a pressão fica maior.
A régua retorna à posição inicial, mas nem todas as moléculas voltam. A U L A
Assim, surge uma região em que há menor número de moléculas, menor
densidade do ar e menor pressão. A Figura 4 ilustra essas situações.
Nas regiões em que o ar está mais denso e a pressão é maior, dizemos que ocorre 30
compressão (ar comprimido). Nas áreas em que o ar está menos denso e a pressão
é menor dizemos que ocorre rarefação (ar rarefeito).
Como as vibrações da régua se repetem, o processo de compressão e rarefa-
ção do ar também se repete, propagando-se de um ponto a outro. Podemos dizer
assim que as compressões e rarefações do ar se propagam como ondas.
Observe que as moléculas de ar (meio) se deslocam na mesma direção em
que a onda se desloca, isto é, “ao longo” da onda. Esse tipo de onda recebe o
nome de onda longitudinal. Portanto,

numa onda longitudinal, os pontos do meio se deslocam na mesma


direção de propagação da onda
e
o som é uma onda longitudinal.

A velocidade do som

Já estava ficando meio tarde.


- A noite está muito agradável, mas nós precisamos ir embora para pegar
o trem das onze e meia - disse Nelson.
Antes de sair, Nestor lembrou-se de uma cena que vira num filme de TV. Era
um filme de bangue-bangue, com muitos bandidos, mocinhos, tiros para todos
os lados, cavalos e coisas assim. Ele se lembrou de uma cena, em especial, que o
deixara muito curioso.
- Os mocinhos estavam a cavalo perseguindo os bandidos, que estavam
bem à frente. Durante a fuga, um dos bandidos se abaixou, encostou o ouvido
no chão e disse: “Eles ainda estão bem longe!”
E Nestor confessou:
- Mas eu não entendi muito bem por que ele fez isso!
Vamos ver se conseguimos descobrir.
Como discutimos na seção anterior, o som é uma onda longitudinal, produ-
zida por uma vibração e que se propaga num meio material.
Os mocinhos corriam em seus cavalos. A batida dos cascos faz com que o chão
vibre: isso produz um som. Veja que o som precisa de um meio para se propagar,
qualquer um. Portanto, ele pode se propagar tanto pelo ar como pelo chão!
A vibração se propaga pelas moléculas do meio. Isso quer dizer que quanto
mais moléculas o meio tem, e quanto mais próximas elas estiverem umas das
outras, mais facilmente o som irá se propagar.

Você percebe onde queremos chegar?


Aquele bandido era mesmo muito esperto. Sabia que o som produzido pelo
trote dos cavalos chegaria até ele muito mais rápido pelo solo do que pelo ar. Assim,
encostando o ouvido no chão, poderia saber se os mocinhos estavam por perto!
Portanto, nos meios mais densos a velocidade de propagação do som é
maior. Nos meios menos densos, o som se propaga mais lentamente. Ela é,
portanto, maior nos sólidos, menor nos líquidos e ainda menor nos meios
A U L A gasosos. A tabela abaixo mostra a velocidade do som para diferentes tipos de
meios materiais:

30 MEIO
ar (20ºC)
VELOCIDADE
0.340
(m/s)

água 1.450
ferro 5.500
granito 6.000

Observe que no granito, que é um tipo de rocha, o som se propaga quase


dezoito vezes mais rápido do que no ar!
Nas aulas anteriores nós aprendemos que quanto maior a temperatura de
um material, mais agitadas estão as suas moléculas. Devido a essa grande
agitação, o som pode ser transmitido com mais facilidade. Assim, a velocidade
de propagação do som também depende da temperatura do meio no qual se
propaga! A tabela abaixo mostra os valores da velocidade de propagação (v) do
som no ar a diferentes temperaturas:

TEMPERATURA DO AR (ºC) V (m/s)


0 (fusão do gelo) 326
20 (ambiente) 340
100 (ebulição da água) 379

λ
Para os sons também valem as relações: v = λ ⋅ f ou v =
T

Uma outra forma de energia

Perto da casa de Maristela havia uma construção. Acabara de começar e


ainda estava nas fundações. Para fazer as fundações utiliza-se o chamado bate-
estacas, que nada mais é do que um objeto muito pesado (pêndulo) preso a um
guindaste. O guindaste ergue o pêndulo a grande altura e o solta em seguida, de
modo que, ao cair, o pêndulo empurra a estaca que se encontra no solo.

Figura 5

Quando erguido, o pêndulo ganha energia potencial gravitacional em


relação ao solo e à estaca. Ao ser solto, perde altura e ganha velocidade. Nesse
processo, sua energia potencial gravitacional se transforma em energia cinética.
Ao colidir com a estaca, o pêndulo transfere parte da sua energia à estaca,
empurrando-a. Dessa maneira ela é enterrada no solo. Mas esse processo não é
elástico, isto é, durante a colisão, parte da energia se perde no ambiente. Na A U L A
verdade, a energia se transforma em outros tipos de energia.
Quando o pêndulo colide com a estaca, ouve-se um barulhão, certo? Esse
barulho nada mais é do que o resultado das vibrações produzidas pela colisão, 30
isso é, parte da energia que se perde! Portanto, podemos concluir que

o som é uma forma de energia conhecida como energia sonora.

Na manhã seguinte à seresta, Maristela teve de se levantar muito cedo -


não por causa da energia sonora do seu despertador, mas por causa da bendita
construção!

Um bate-estaca incomoda muita gente.


Dois bate-estacas incomodam muito mais!

Maristela acordou mal-humorada naquela manhã. Também, não era para


menos: foi acordada, em plenas férias, por um barulhento bate-estacas!
Por que um bate-estacas incomoda tanto, e o canto de um passarinho não?
Parece uma pergunta boba, mas vamos ver o que há por trás dela.
Vimos que o som é uma forma de energia que se propaga pelos meios
materiais. Para ser ouvida, essa energia precisa ser transportada até nossos
ouvidos. Como você já sabe, no interior do ouvido existe uma membrana muito
sensível, o tímpano, que vibra quando atingida pela energia sonora.

Se o som é muito forte, isto é, se a


energia emitida pela fonte é grande, temos
uma sensação desagradável no ouvido, pois
a grande quantidade de energia transmitida
exerce sobre o tímpano uma forte pressão
(lembre-se da Aula 19!).
A energia sonora depende da vibração
da fonte: quanto maior a vibração, maior a
energia. Portanto,
Figura 6

a intensidade do som é maior quanto maior for a amplitude da onda.

Imagine a vibração das cordas vocais de um passarinho!


Agora dá pra entender por que um bate-estacas incomoda muita gente e um
passarinho, não!
Para medir a intensidade sonora, que está relacionada à energia transporta-
da pela onda sonora, utilizamos uma unidade conhecida como bel, em homena-
gem ao cientista inglês Graham Bell, que se dedicou ao estudo de questões
relacionadas ao som, à fala e à audição e foi o inventor do tão útil telefone!
É muito comum a utilização de um submúltiplo do bel, o decibel (db), que
é um décimo de bel, assim 10 db = 1 bel.
Apresentamos na tabela da página seguinte a intensidade aproximada de
alguns sons comuns.
A U L A TIPO DE SOM INTENSIDADE SONORA

30
limiar da audição 0 db
respiração normal 10 db
folhas balançadas pela brisa 20 db
TV ou rádio (fraco volume) 30 db
rua tranqüila à noite 40 db
conversa entre duas pessoas 60 db
tráfego intenso de automóveis 70 db
aspirador de pó 80 db
perfuratriz 100 db
buzina de automóvel 110 db
avião a hélice na decolagem 120 db
limiar para a dor 130 db
avião a jato na decolagem 140 db
foguete espacial 150 db

Os sons muito intensos são desagradáveis ao ouvido humano. Acima de


120 db o som pode ser percebido como uma sensação de cócega no ouvido. A
partir de 130 db começa a sensação dolorosa.
É preciso tomar muito cuidado com a intensidade sonora à qual nos
submetemos (e aos nossos tímpanos!): sons da ordem de 160 db podem causar
surdez total devido a ruptura do tímpano ou a danos provocados em outras
partes do ouvido.
Nas grandes cidades é comum falar em poluição sonora, devido aos altos
níveis de ruídos produzidos pelas mais diversas fontes (tráfego intenso de
automóveis, aviões e caminhões, buzinas, sirenes, construções etc.). Isso faz com
que as pessoas percam ao longo dos anos sua capacidade auditiva.
Embora não percebam, pessoas expostas a ruídos intensos várias horas por
dia, durante anos, correm o sério risco de perder permanentemente a audição
por lesões no órgão auditivo. Mas não é só o ouvido que sofre com sons intensos:
sofremos mentalmente, e também sofre o nosso coração.
Certas atividades exigem proteção no ouvido: o uso de tampões internos de
espuma ou de borracha, protetores externos ou capacetes. Além disso, é
necessário tomar medidas para diminuir os níveis de intensidade sonora dos
ambientes.

Toda vibração produz um som?

Essa é uma pergunta que você pode estar se fazendo neste momento. “Se eu
agitar a minha mão lentamente, não ouço som algum!”
É verdade. Agora experimente agitá-la com força, rapidamente e bem perto
do ouvido. O que aconteceu?
Você deve ter sentido um ventinho no rosto: é o ar deslocado pela mão. Além
disso, deve ter ouvido um som. Na verdade, a definição de som está associada
à sensação sonora. Portanto,

todo som é produzido por uma vibração,


mas nem toda vibração produz um som.
Novamente a fonte entra em cena. Quando agitamos a mão lentamente, não A U L A
somos capazes de produzir som algum. Mas, ao aumentar a velocidade desse
movimento, produzimos um som.
Vamos recordar a aula passada: quanto mais rápido é o movimento da 30
fonte (mão), menor é o seu período e maior é a sua freqüência! Vale também
aqui a relação:
1
T =
f
Assim podemos definir a freqüência da onda sonora, como fizemos com as
ondas na corda.
Um som, para “ser” som, deve ser audível pelo homem. Para que isso
ocorra, a freqüência deve estar acima de um certo um valor, que pode variar de
pessoa para outra, mas gira em torno de 20 Hz. Sons que têm freqüências
inferiores a essa são chamados infra-sons.
O homem só é capaz de ouvir sons até um certo valor de freqüência, que varia
em torno de 20.000 Hz. Sons com freqüências maiores são chamados ultra-sons.
É importante notar que a definição de som se baseia na capacidade auditiva
do homem. Essa capacidade varia entre os animais. Veja a tabela abaixo:

ANIMAL MÍNIMA FREQÜÊNCIA (Hz) MÁXIMA FREQÜÊNCIA (Hz)


rã 50 10.000
homem 20 20.000
cão 15 50.000
gato 60 65.000
morcego 1.000 120.000
mariposa 3.000 150.000

Abaixa esse rádio, Ernesto!


Foi o que pediu sua mãe, Cristiana. Mas sabem o que Ernesto fez? Colocou
o rádio no chão. Engraçadinho, não?
Vamos ver adiante qual o significado da altura de um som. Não tem nada
a ver com a distância entre o rádio e o chão!
O som possui algumas qualidades. Já falamos sobre intensidade e
freqüência. De acordo com sua freqüência, um som pode ser classificado de
agudo ou grave. Essa é a qualidade conhecida como altura do som.
Em geral as mulheres tem a voz mais aguda, isto é, emitem sons de maior
freqüência. É comum utilizar o termo “fina” quando nos referimos à voz
feminina. Os homens, por sua vez, têm a voz mais grave, emitem sons de
freqüência menor. Dizemos que os homens têm voz “grossa”.

Altura é a qualidade do som relacionada à sua freqüência.


Sons com grandes freqüências são chamados de agudos
e sons com baixa freqüência, de graves.

É preciso tomar cuidado com esses nomes, pois freqüentemente comete-se


o erro de relacionar a altura do som com intensidade sonora, e não com a sua
freqüência. Quando solicitamos a alguém para “abaixar o som”, a rigor estamos
pedindo à pessoa que diminua freqüência do som! Mas, na verdade, o que
queremos é que seja diminuída a intensidade sonora, isto é, o volume. Por isso,
o correto seria pedir para a pessoa diminuir o volume do rádio!
A U L A Nesta aula você aprendeu que o som:

30 · é um tipo de onda mecânica e que, portanto, necessita de um meio material


para ser produzido e se propagar;
· é produzido a partir das vibrações das moléculas (ou átomos) que formam
o meio;
· é um tipo de onda chamada de onda longitudinal, porque a propagação da
onda e as vibrações das moléculas do meio têm a mesma direção;
· se propaga com velocidades diferentes em diferentes meios: dependendo da
sua densidade e da sua temperatura;
· é uma forma de energia (sonora) e uma de suas qualidades é a intensidade
sonora, cuja unidade é o bel, que se relaciona com a amplitude da onda;
· é definido como tal de acordo com a capacidade auditiva do homem;
· é classificado em agudo e grave de acordo com a sua freqüência.

Exercício 1
Qual é a diferença fundamental entre ondas longitudinais e ondas
transversais (Aula 29)? O que elas têm em comum?

Exercício 2
Ernesto pegou o violão e emitiu um som. Segundo Nestor, o som emitido foi
um lá, cuja freqüência é 440Hz. Considerando que a velocidade do som no
ar é 340 m/s, determine o comprimento de onda do som emitido.

Exercício 3
Nelson e Nestor estavam na estação, esperando o trem que se aproximava.
Ouviram o som do apito e, nesse instante, começam a contar quanto
tempo, depois do apito, o trem demorou a chegar. Resultado: 170 segun-
dos! Eles perguntaram ao maquinista, então, a que velocidade o trem
vinha: 20 m/s. Com essas informações, descubra:

a) a que distância o trem se encontrava da estação quando apitou;


b) em quanto tempo o som do apito foi ouvido na estação (considere que a
velocidade do som no ar é 340 m/s)

Exercício 4
O som se propaga no vácuo (ausência de matéria)? Explique a sua resposta.
AUU
A L AL A

31
31
Assim caminha a luz

para dar uma volta.


L ogo após o jantar, Roberto e Ernesto saem

- Olha, pai, como a Lua está grande! - diz Ernesto.


- É, aparentemente isso é verdade. Mas pegue essa moeda de 1 centavo,
coloque-a entre dois dedos e aponte para a Lua. Você vai ver que a moeda pode
cobrir a Lua toda.
Ernesto não acredita, mas faz a experiência. Por mais que estique o braço, a
Lua permanece oculta.
- É verdade! A moeda barrou a luz da Lua.
- Luz da Lua que é do Sol! - diz Roberto.
- O quê?
- É, na realidade a Lua não tem luz própria. Ela reflete a luz do Sol. A Lua,
o Sol e todos objetos que vemos são fontes de luz
luz. Alguns têm luz própria, como
o Sol, as estrelas, o filamento de uma lâmpada etc. Outros refletem essa luz. É o
caso da Lua e de praticamente todos objetos que nos rodeiam.
Roberto e Ernesto voltam para casa e, ao entrar, Ernesto grita para a mãe:
- Acabo de ver a luz do Sol!
- O quê?
- Refletida na Lua, é claro!

Em linha reta...

Roberto pega dois pedaços de cartão e faz um furo em cada um, usando, para
isso, um prego pequeno. Dá um dos cartões a Ernesto e diz:
- Tente tapar, com esse cartão, a luz que vem dessa lâmpada no teto.
Ernesto faz o que o pai pede e, imediatamente, responde:
- Ô, pai, a luz vai passar pelo buraquinho...
- É isso - diz o pai. - Mas, agora, tente com dois cartões
Ernesto se esforça até conseguir.
- Veja, pai! Quando eu ponho os dois furos bem na mesma direção, eu
consigo ver a luz da lâmpada!
- É exatamente isso. Quando os dois furos, a lâmpada e o seu olho
estiverem alinhados, você consegue ver a lâmpada porque a luz caminha em
linha reta
reta.
A U L A Os princípios da ótica geométrica

31 O que Roberto e Ernesto discutiam - o fato de a luz caminhar em linha


reta - constitui um dos princípios da ótica geométrica
geométrica. Quando a luz sai de
uma fonte, como uma lâmpada, ela vai para todas direções, mas sempre
caminhando em linha reta. Quando Ernesto segurou os dois cartões,
direcionou-os para a lâmpada e conseguiu ver a luz, isso aconteceu porque
um pouco da luz atravessou os dois furos que estavam alinhados com seu
olho. Em ótica geométrica, essa luz que está passando pelos dois furos é
denominada feixe de luz luz. Pode ser considerada, mesmo, como um raio
luminoso
luminoso. Cada raio luminoso seria, simplificando, cada direção na qual a
luz é emitida.
A ótica geométrica estuda o comportamento dos raios luminosos quando
estes encontram diferentes materiais. Estuda, por exemplo, o que vai acontecer
quando um feixe de luz atinge um espelho, ou quando passa por uma lente. Para
explicar tais fenômenos, foi necessário criar um conjunto de regras que são os
princípios da ótica geométrica.
Em nosso estudo, além da propagação retilínea da luz, vamos utilizar,
freqüentemente, dois princípios: as leis da reflexão e da refração
refração. Essas leis vão
nos ajudar a compreender como os raios de luz têm sua trajetória modificada
quando encontram pela frente um espelho, um bloco de vidro, uma lente etc...
Esses objetos que modificam a trajetória dos raios luminosos são denominados
sistemas óticos
óticos.

Vamos fazer um experimento que vai nos permitir entender um pouco das
leis da reflexão e da refração. Para isso você vai necessitar de uma lâmpada de
lanterna de 1,5 V, dessas que são chamadas pingo d’água. Elas têm uma espécie
de lente na sua parte da frente. Vai precisar também de uma pilha e de um
pedaço de fio para poder acender a lâmpada. Existem lanternas que já fazem
tudo isso. Além disso, serão necessários uma bacia com água e um cartão.
Num ambiente escuro, dirija a lanterna contra a água dentro da bacia. Você
notará uma pequena mancha luminosa no fundo da bacia. Se agora você colocar
um pedaço de cartão, fora da bacia, numa posição semelhante à que está na
Figura 1, você verá uma segunda mancha.
Temos aqui, ao mesmo tempo, dois fenômenos: a refle- Figura 1
xão e a refração da luz. Parte da luz saiu da lanterna e chegou
ao cartão sem penetrar na água. Essa é a luz refletida. Ela
muda seu trajeto mas está sempre andando no ar. Outra
parte muda sua direção penetrando em um novo meio, a
água. Essa passagem da luz, de um meio que é transparente (no nosso caso, o
ar) para um segundo meio transparente (a água) é chamada refração.
Um fato interessante, neste experimento, é que não podemos ver a luz da
lanterna. A lanterna não está dirigida para nossos olhos, então não podemos ver
sua luz. É claro que, indiretamente, vamos ver, pois a luz que sai da lanterna bate
no fundo da bacia e forma uma mancha luminosa que podemos enxergar. O
mesmo vai acontecer com a luz que bate no cartão.
Mas como saber que percurso a luz percorreu? Qual o
trajeto percorrido pelo feixe que não conseguimos enxer- Figura 2
gar? Para resolver esse problema, precisamos saber onde a
luz está tocando a água. Vamos então sujar um pouco a
água. Isso pode ser feito colocando-se um pouco de pó de
giz, ou farinha, na superfície da água. Ficaremos então com A U L A
uma situação análoga à da Figura 2.
Nessa situação, podemos saber exatamente onde chega
o feixe que vem da lanterna, que é denominado feixe 31
incidente
incidente, o feixe que bate na água e chega ao cartão, que é
chamado feixe refletido e, finalmente, o feixe que penetra
na água: o feixe refratado
refratado. Se, em vez de falarmos em feixes
luminosos, usarmos o termo raios luminosos, ficaríamos
com uma situação semelhante à da Figura 3. O ponto I, onde Figura 3
o raio incidente toca a água, é chamado
ponto de incidência
incidência.
Para completar o estudo das duas leis, precisamos de
mais alguns conceitos. Nós vamos precisar medir os ângu-
los que fazem os raios incidentes, refletidos e refratados.
Para isso, temos de traçar uma perpendicular à superfície da
água, que passe pelo ponto de incidência. Essa perpendicu-
lar é chamada normal (Figura 4).
O raio incidente e a normal definem um plano que é
Figura 4 chamado plano de incidência. A normal é que vai nos servir
de referência para a medida dos ângulos.

Agora já podemos falar das leis:

Leis da reflexão
1. O raio refletido está no plano de incidência.
2. O raio refletido forma, com a normal, um ângulo igual ao que a normal forma
com o raio incidente.
I$ = R$

Leis da refração
1. O raio refratado está no plano de incidência.
2. Se chamarmos de I$ o ângulo de incidência e de R$ ′ o ângulo de refração,
teremos: sen I$
$ = constante que depende dos meios
sen R′

Uma parte dessas leis que pode trazer alguma dúvida é a segunda lei da
refração . No fundo, ela está dizendo que um raio luminoso, ao passar do ar para
a água, é desviado de uma certa maneira. Se passasse do ar para o vidro, teria
um desvio diferente. Mas tudo isso será objeto de mais estudos posteriormente.

O que estamos vendo?

Quando olhamos um lápis, somos capazes de vê-lo porque ele é, como


afirmamos, uma fonte de luz. A luz não é própria do lápis. Provavelmente, ela
veio do Sol, bateu nas paredes de nossa casa, foi refletida por elas, bateu no lápis,
foi refletida e chegou aos nossos olhos, permitindo que pudéssemos ver o lápis.
Isso, é claro, se estivermos observando o lápis durante o dia. Durante a noite, o
processo é parecido, mas a luz, agora, é a de uma lâmpada.
A U L A Portanto, podemos ver os objetos quando eles são capazes de enviar luz aos
nossos olhos. Em ótica geométrica, esses objetos que são fontes de luz são

31 denominados objetos reais


reais. Mas nós somos capazes de ver outras coisas.
Coloque o lápis dentro de um copo de vidro contendo água e observe o que
aparece dentro do copo (Figura 5).
Parecem existir dois lápis: um acima da água e outro
mergulhado nela, o que dá a impressão de que o lápis está
quebrado dentro da água. Esse “segundo” lápis aparece assim
porque a luz emitida pelo lápis passou pela água e pelo vidro
do copo, sofrendo refração.
Ao passar pela água, os raios luminosos emitidos pelo
lápis sofrem desvios e chegam aos nossos olhos dando-nos
a impressão de que o lápis está em outra posição e tem
tamanho diferente. Essa parte do lápis que vemos distorcida
é o que denominamos, em ótica geométrica, a imagem do Figura 5
lápis formada pela refração da luz ao passar pela água e pelo
vidro do copo.

Vamos supor que a luz que parte de um objeto incida num sistema ótico -
uma lente, por exemplo. Essa lente vai formar uma imagem do objeto. A ótica
geométrica vai determinar as características dessa imagem: se ela está mais
próxima ou mais distante que o objeto, se é maior que o objeto etc. Já que, para
nossos olhos, tanto faz ver o objeto ou sua imagem, podemos usar os sistemas
óticos como uma extensão de nossa visão. Assim como uma alavanca nos
permite aumentar a força de nossos braços, os sistemas óticos podem ampliar
nosso sentido da visão. Daí a importância de seu estudo.

Conseqüências da propagação retilínea da luz

Sombras e penumbras

Existem alguns fatos que são conseqüência imediata do princípio da propa-


gação retilínea da luz: a formação de sombras sobre um objeto e as sombras que
esse objeto é capaz de projetar.
Se, com auxílio de uma pequena lâmpada, iluminarmos uma bola de futebol
dentro de um quarto escuro (ver Figura 6), vamos constatar o aparecimento de
uma sombra da bola projetada na parede e também de uma região de sombra
sobre a bola.
A luz parte da lâmpada L e se propaga
em todas direções. Incide sobre a bola, dei-
xando uma parte da mesma iluminada. A
região da bola que está do lado oposto à
lâmpada fica escura. Se a luz fosse capaz de
realizar curvas durante seu trajeto, podería-
mos ver iluminadas regiões da bola que
estão do lado oposto à lâmpada. Mas isso,
evidentemente, não acontece. Figura 6
Se, por outro lado, a lâmpada utilizada fosse de maiores dimensões, pode-
ríamos apreciar, além das sombras, a formação de penumbra. A penumbra é uma
região parcialmente iluminada.
Veja a Figura 7. Podemos imaginar que A U L A
a lâmpada L é formada por pequenas lâm-
padas: A,B, C... Uma dessas pequenas lâm-
padas imaginárias (A, por exemplo) vai pro- 31
jetar na parede e formar sobre a bola uma
sombra. Outra pequena lâmpada imaginá-
ria (B) vai também formar e projetar suas
sombras. Então, sobre a parede, vão existir
regiões que A e B iluminam, regiões ilumi-
nadas somente por A ou somente por B
(região da penumbra), e regiões que nem A
nem B iluminam (região da sombra).
Figura 7

Eclipses

O mesmo fenômeno que ocorre na formação das som-


bras e penumbras dos objetos aparece nos eclipses do Sol
e da Lua. Num eclipse do Sol, quem faz o papel da
parede do exemplo anterior é a Terra (Figura 8). O Sol
faz o papel da lâmpada e a Lua faz o papel da bola de
futebol.
Sobre a Terra vão aparecer regiões de sombra,
regiões de penumbra e regiões iluminadas.
As pessoas da Terra que estiverem na
região T1 não conseguem receber os
raios luminosos da parte B do Sol, mas Figura 8
conseguem ver a parte A do Sol. Elas
estão vendo o Sol parcialmente encoberto
pela Lua. Elas estão na região de penumbra.
Da mesma maneira, as pessoas que estiverem na região T2 da Terra não
conseguem ver A, mas vêem B. Elas também estão numa região de penumbra.
Finalmente, quem estiver em C não consegue ver nenhum ponto do Sol. Para
essas pessoas, o eclipse é total.
Os eclipses da Lua são explicados de maneira semelhante. Fazendo sempre
a comparação com o exemplo da bola de futebol, nesse caso a Terra será a bola,
a Lua será a parede e a lâmpada continua sendo o Sol (Figura 9).
A Lua, no seu movimento ao redor da Terra, atravessará regiões nas quais
sofrerá eclipses parciais ou totais.

Figura 9
A U L A A câmara escura

31 É uma caixa dentro da qual podemos projetar a imagem de um objeto sobre


uma folha de papel. Seu funcionamento baseia-se no princípio da propagação
retilínea da luz. Você pode construir uma câmara escura com uma caixa de
sapatos, papel vegetal, um pedacinho de papel de alumínio, guache preto ou
tinta preta, uma agulha de costura, cola e fita adesiva. Inicialmente, pinte de
preto a parte interna da caixa. Em seguida, faça dois
furos com um diâmetro de um lápis comum na parte
central das faces menores da caixa (Figura 10).
Na parte central da caixa é colado o papel
vegetal (que pode ser substituído por papel branco
sobre o qual se tenha passado óleo de cozinha; assim
o papel fica translúcido, ou seja, meio transparente).
Um dos furos é coberto por papel de alumínio.
Em seguida, com uma agulha, faça outro furo no Figura 10
alumínio (um furo dentro do outro). Para terminar,
basta tapar bem a caixa e vedar bem a entrada de luz
pela tampa, utilizando a fita adesiva.
Se apontarmos a caixa (o lado que tem o
papel de alumínio) para um objeto bem claro,
notaremos, pelo outro furo, que sobre o papel
vegetal será projetada uma imagem do objeto que
estamos tentando ver. O interessante desse expe-
rimento é que a imagem está invertida (Figura
11). Isso acontece porque a luz caminha em linha
reta. Um raio de luz que sai da parte inferior do
objeto, após passar pelo furinho no papel de
alumínio, baterá na parte superior do papel vege-
tal. Isto é: o que está em cima vai para baixo, o que
Figura 11 está à esquerda vai para a direita e vice versa.

Passo a passo

1. Uma lâmpada pequena está a 20 cm de um disco de


10 cm de diâmetro e projeta sombra sobre um ante-
paro situado a 80 cm, como mostra a figura. Qual o
diâmetro da sombra formada no anteparo?

Os triângulos FAB e FA’B’ são semelhantes, então


teremos:

AB A′ B′
=
FC FC′

10 cm A′ B′
=
20 cm 80 cm

A′ B′ = 40 cm Figura 12
2. Suponha que, no problema anterior, a fonte fosse um disco luminoso de 4 A U L A
cm de diâmetro. Quais seriam os raios da sombra e da penumbra projetadas
no mesmo anteparo?
31
Na figura, os triângulos ABD e DGH são semelhantes. Portanto,
suas bases são proporcionais às suas alturas. Então:

AB GH
= Figura 13
20 cm 60 cm

4 cm GH
= então,
20 cm 60 cm

GH = 12cm

Da mesma maneira, os triângulos ACD e AFH são semelhantes


e suas bases são proporcionais às suas alturas. Então:

CD FH
=
20 cm 80 cm

10 cm FH
= então,
20 cm 80 cm

FH = 40cm

O diâmetro da sombra é FG = FH - GH = 28 cm.


O diâmetro da penumbra é EH = FH + EF. Como EF = GH, teremos:

EH = 52 cm.

Nesta aula você aprendeu:

· que a luz anda em linha reta;

· que a luz pode sofrer refrações e reflexões;

· que podemos explicar as sombras dos objetos e os eclipses usando o


princípio da propagação retilínea da luz;

· a construir uma câmara escura.


A U L A Exercício 1
Uma câmara escura tem profundidade de 50 cm. Ela é dirigida para uma

31 árvore a uma distância de 10 m. Uma projeção de 5 cm de altura forma-se no


fundo da caixa. Qual a altura da árvore?

Exercício 2
Um lustre circular de 40 cm de diâmetro está embutido no teto de uma sala
de 3 m de altura. Queremos colocar, abaixo do mesmo, um disco opaco de
36 cm, de modo que a sombra do mesmo fique reduzida a um ponto. A que
altura deve ser colocado esse disco? Qual o diâmetro da penumbra nessa
situação?

Exercício 3
Um prédio tem 40 m de altura. Calcular o tamanho de sua sombra
sabendo-se que a direção do Sol forma um ângulo de 60º com o horizonte.

Exercício 4
A moeda de 5 centavos tem 2 cm de diâmetro. A Lua tem 3 mil km de
diâmetro e sua distância da Terra é 380 mil km (valores aproximados). A
que distância devemos colocar a moeda para que ela cubra totalmente o
disco lunar?
A UA UL L AA

33
33
Atira mais em cima!

O pessoal está reunido na casa de Gaspar e


Alberta. O almoço acabou e todos conversam em torno da mesa.
- Eu soube que você está interessado em ótica - diz Gaspar a Ernesto. -
Então vou mostrar uma coisa interessante.
Gaspar pega um copo de plástico e coloca uma moeda no fundo. Faz um
canudo com uma folha de papel e o prende no gargalo de uma garrafa. Ao mesmo
tempo, diz para Ernesto:
- Coloque esta garrafa diante do copo de maneira que você, olhando pelo
canudo, não possa ver a moeda no fundo do copo, mas quase!
Ernesto faz o que Gaspar pediu e pergunta:
- E daí? Não aconteceu nada! (Figura 1) Figura 1
- Certo! - diz Gaspar. - Mas, agora, vou
colocar água no copo lentamente, para que a
moeda não mude de lugar. Enquanto isso,
você fica observando pelo canudo.

À medida que Gaspar vai colocando água


dentro do copo, Ernesto começa a falar:

- Ih, estou começando a ver o fundo do


copo! Olha lá a moeda! Estou vendo a moeda!
Agora não estou entendendo mais nada! A
luz não está andando em linha reta? Eu já fiz
um experimento para provar que a luz anda
em linha reta e agora parece que estou pro- Figura 2
vando que ela não anda! Dessa vez ela não
está andando em linha reta?
- É verdade - diz Gaspar. - Aqui a luz
não está andando uma vez em linha reta. Ela
está andando duas vezes em linha reta. Uma
vez na água e outra vez no ar. O princípio da
propagação retilínea diz que em um meio
transparente a luz anda em linha reta. Nesse
caso, a luz parece não estar andando em
linha reta, pois temos um par de meios
meios: a
água e o ar!
Cada par entorta de uma maneira A U L A

Roberto e Cristiana aproximam-se, curiosos. Gaspar, sentindo-se prestigiado,


pega um papel, desenha os dois esquemas da figuras 3a e 3b e começa a explicar, 33
com ar de professor:
- A luz sai da água e, ao atravessar a superfície que
separa a água do ar, é desviada (Figura 3a). Para cada
ângulo de incidência $i temos um ângulo de refração r$ .
Se aumentarmos o ângulo de incidência, vamos aumen-
tar o ângulo de refração. Mas sempre vai valer sempre a
lei da refração.
sen $i
= cons tan te
Figura 3a
sen r$
- Essa constante é chamada índice de refração do segundo meio com
relação ao primeiro. No caso de a luz estar passando da água (primeiro meio)
para o ar (segundo meio), o índice de refração vale 34 . Então o índice de refração
do ar com relação à água vale 34 . Se a luz estivesse passando do ar para a água,
a constante iria valer 43 , ou seja, o inverso de 34 .
- Quando um raio luminoso passa do ar para a água, ele se aproxima da
normal. Diremos então que a água é mais refringente do que o ar. Quando passa
da água para o ar, o raio luminoso se afasta da normal. Se o raio luminoso incidir
perpendicularmente à superfície, ele não vai sofrer desvio algum. Mesmo assim,
a lei da refração continua valendo.
- Em geral o índice de refração é representado pela letra n. Para indicar se
o índice é o da água com relação ao ar ou vice versa, escrevemos:
3 4
nar, água = e nágua, ar =
4 3
- A lei da refração para um raio luminoso que passe de um meio 1 para um
meio 2 ficará com o seguinte aspecto:
sen $i
= n 2, 1
sen r$
- Note que o índice de refração que aparece é o do segundo meio com
relação ao primeiro.
Mas, se a luz estivesse passando de um bloco de vidro em direção ao ar
(Figura 3b), ou do ar para o vidro, esses valores seriam aproximadamente 23 e 32 .
Ou seja, para cada par de meios que a luz atravessa, temos um índice de refração.
E Gaspar termina:
- Comparando esses dois desenhos que fiz, dá para ver que, mesmo que os
ângulos de incidência sejam iguais, os ângulos de refração podem ser diferentes
se o par de meios for diferente. Cada par entorta de uma maneira. E tenho dito! Figura 3b
Os presentes aplaudem.
- É, eu tinha estudado um pouco para poder responder a todas perguntas
que o Ernesto pudesse fazer e, agora, ele nem está aqui. Parece que saiu com o
Maristela.
- E eu vou ter de saber todos os valores de índices de refração para saber
como a luz se comporta em cada caso? - pergunta Roberto, interessado.
- Vai! Mas não é preciso decorar isso. Ninguém sabe o índice de refração de
todas substâncias. Para isso exixtem tabelas.
A U L A Deu zebra!

33 Roberto pede os esquemas para Gaspar e começa a analisá-los. Ao mesmo


tempo, Gaspar vai fazendo um novo desenho.
- Veja, quando a luz sai da água e vai para o ar, o ângulo de incidência
é menor que o ângulo de refração. Quando eu vou aumentando o ângulo de
incidência, o ângulo de refração aumenta ainda mais. Vai chegar uma hora
em que o ângulo de refração vai valer 90º, e o ângulo de incidência é menor
que 90º. Se eu aumentar o ângulo de incidência, como para esse raio 4, o que
vai acontecer?
- Ih! Deu zebra! Não tenho idéia! - diz Gaspar.
Nesse instante chegam Ernesto e Maristela, que tinham repetido o experi-
mento da moeda dentro do copo. Roberto explica a situação e pergunta:
- Você sabe como vai ser refratado esse raio? Parece que ele vai acabar
voltando para dentro da água.
- É isso mesmo! Ele volta para dentro da água! - diz Maristela. - E, como
Figura 4a está voltando para o mesmo meio do qual saiu, trata-se de um raio refletido e que
vai seguir as leis da reflexão. Mais ainda: como nenhuma parte da luz é refratada,
trata-se de uma reflexão total
total. Toda luz é refletida! Esse fenômeno aparece nas
fibras óticas que são utilizadas para transmissão de informações. A luz penetra
na fibra ótica e não consegue sair, pois é constantemente refletida pelas paredes
da fibra. Enquanto nas transmissões comuns as informações são transportadas
por meio de impulsos elétricos, nas fibras óticas usa-se a luz como meio de
Figura 4b transporte das informações (ver Figura 4b).

Ângulo limite

Vamos considerar raios luminosos como aqueles que Roberto desenhou (ver
Figura 5). Vai existir um raio luminoso que entra com um ângulo l e sai com um
ângulo de refração igual a 90º. Outros raios que incidam com ângulos maiores,
serão refletidos. Esse ângulo l é chamado ângulo limite de incidência
incidência, pois, a
partir dele, não teremos mais raios refratados.
Podemos calcular o valor do ângulo limite para o caso no qual a luz passa do
vidro para a água. Sabemos que o índice de refração do ar com relação ao vidro
vale 2 . Então, utilizando a lei da refração para o caso da Figura 5, teremos:
3

sen λ 2
= n ar, navio =
sen 90o 3

sen λ 2
=
1 3
Figura 5

2
sen λ =
3

Procurando numa tabela ou usando uma calculadora, podemos ver que o


ângulo que tem seno igual a 23 vale aproximadamente 42º. E esse é o ângulo
limite para o caso da luz que passa do vidro para a água.
O dióptro plano A U L A

Agora já estamos em condições de explicar o que aconteceu com a moeda que


estava dentro do copo e, aparentemente, subiu. Os raios luminosos, ao passar de 33
um meio para outro, sofrem desvios. Dessa maneira, se tivermos um objeto
dentro d’água, os raios luminosos que são emitidos por ele vão ter suas trajetó-
rias modificadas ao passar da água para o ar, formando uma imagem num ponto
diferente daquele em que se situa o objeto. Um conjunto de dois meios separados
por uma superfície plana, como a água dentro do copo e o ar, é chamado de
dióptro plano.
Vamos tentar explicar como é formada
a imagem da moeda dentro do copo. Se
considerarmos dois raios luminosos que
partem de um ponto M da moeda, podemos
dizer que esse ponto M é um ponto objeto
(Figura 6a).
Onde estará o ponto imagem? Ora, os
raios luminosos, ao atingir a superfície da
água, sofrem refração, mudando de direção.
Para um observador do lado de fora, os raios
parecem estar vindo de um ponto M’. Esse
Figura 6a ponto é a imagem de M.

A posição dessa imagem depende de que ponto estamos olhando. Isto é:


dependendo de como olharmos, ela vai parecer mais ou menos elevada. Se
olharmos numa direção aproximadamente perpendicular à superfície da água,
vai existir uma relação entre a distância do objeto e a distância da imagem. Essa
relação é:
distância da imagem até a superfície
= n2,1 = nar, água
distância do objeto até a superfície

Por exemplo, vamos supor que a moeda está no fundo do copo e que a água
atinja a altura de 12 cm. A que altura alguém que observe a moeda numa direção
aproximadamente perpendicular vai vê-la?

Vamos ter: x 3
=
12 cm 4

x = 9cm
Então, a moeda vai ser vista a uma distância de 9 cm.

Nós construímos a imagem da moeda do mesmo tamanho que a moeda


propriamente dita. Isso é um fato e podemos prová-lo facilmente, obtendo a
posição do ponto situado do lado oposto da moeda. A água não aumenta o
tamanho de um objeto mergulhado nela, mas aproxima esse objeto de quem está
olhando, dando assim a impressão de que ele é maior.

Roberto, Gaspar e Ernesto foram fazer uma visita ao Mundo Submarino, o


aquário da cidade.
- Olhem esses peixes - diz Roberto. - Assim como a moeda dentro do
copo, eles devem estar mais longe do que parece!
A U L A Gaspar concorda.
- Mas como será que eles estão nos vendo? Mais próximos ou mais longe

33 do que realmente estamos? - pergunta Gaspar. E ele mesmo responde.


- Eu acho que mais longe! Veja, vou seguir o mesmo raciocínio usado para
o caso da moeda. Quem está nos observando é o peixe. A luz parte da gente e
entra no aquário.
Gaspar começa a fazer um desenho, seguido com
atenção por Roberto e Ernesto (Figura 6b).
- Os raios luminosos saem da gente, do ponto
N, e se aproximam da normal. Então, nossa imagem
vai ficar mais longe, no ponto N’! O peixe vai nos ver
mais longe do que estamos!
Figura 6b

As lentes

As aplicações mais importantes dos dióptros, na vida cotidiana das pessoas,


estão nas lentes. Nós as utilizamos nos telescópios, para estudar o Universo, nos
projetores dos cinemas, em aparelhos fotográficos, até na observação de seres
muito pequenos, com o microscópio. Elas nos ajudam também a corrigir defeitos
de visão, em óculos, por exemplo.
As lentes, em geral feitas de vidro, possuem duas
faces. Uma das faces é, necessariamente, uma super-
fície curva. A outra pode ser outra superfície curva ou
uma superfície plana. Dependendo das superfícies
que compõem a lente, temos denominações como
plano-cônvexa, biconvexa, bicôncava, plano-côncava
(ver Figura 7). As superfícies curvas das lentes que
Figura 7
estudaremos são superfícies esféricas.
As lentes podem ser também classificadas em convergentes ou divergentes
divergentes.
Na Figura 8 temos dois exemplos de lentes, uma convergente e uma divergente.

Figura 8

A lente da esquerda é uma lente plano-côncava. Ela é divergente. Se fizermos


dois raios paralelos incidirem nessa lente, eles vão se comportar da seguinte
maneira: em primeiro lugar, encontram a face plana e penetram na lente sem
desvio, pois estão incidindo perpendicularmente a essa face da lente. Em
seguida, penetram no vidro e encontram a segunda face. Ao sair, vão se afastar
da normal (reta pontilhada na figura), pois o vidro, como vimos, é mais
refringente que o ar. Assim, raios luminosos que entram paralelamente saem
divergindo. Daí o nome lentes divergentes
divergentes.
Você poderá agora analisar a lente que está à esquer-
da da figura e, da mesma maneira, descobrir por que ela
é uma lente convergente
convergente.

As lentes são representadas, simbolicamente, por


um traço vertical com duas pontas de flecha nas suas
extremidades, como pode ser visto na Figura 9.
Figura 9
Construção geométrica de imagens dadas por lentes A U L A

Assim como fizemos para os espelhos esféricos, podemos obter as imagens


de objetos dadas por lentes esféricas. Como nos espelhos, as lentes têm focos, 33
um vértice e um eixo principal. Aqui também existem construções geométricas
que nos permitem construir as imagens de objetos formadas pelas lentes. As
construções que nos auxiliam a obter as imagens dos objetos estão nas Figuras
10a, 10b e 10c.

Figura 10a Figura 10b Figura 10c

Mas de que lado da lente estão os focos?

Essa noção é apenas uma referência e vai nos servir para determinar as
posições das imagens dos objetos. Para isso, devemos saber de que lado
da lente está vindo a luz do objeto em questão. No caso de uma lente
convergente, o foco objeto está do lado em que a luz está incidindo. O
foco imagem está do lado pelo qual a luz está saindo. No caso de uma
lente divergente, as posições são invertidas.

Na primeira construção (Figura 10a), um raio luminoso que incide parale-


lamente ao eixo da lente sai passando pelo foco imagem da lente. Na segunda
(Figura 10b), um raio que caminhe numa direção que passe pelo foco objeto sai
da lente paralelamente. Finalmente, um raio luminoso que incida no vértice da
lente não sofre desvio em sua trajetória (Figura 10c).
Utilizando duas dessas construções, podemos obter as imagens dos objetos
gráficamente. Note que, no caso de uma lente, os focos objeto e imagem não estão
no mesmo ponto, como aconteceu com os espelhos. Eles estão um em cada lado
da lente.
Os focos das lentes podem ser melhor entendidos se considerarmos o
seguinte exemplo: uma lâmpada colocada a grande distância de uma lente forma
sua imagem no foco imagem. Se, por outro lado, colocarmos a lâmpada no foco
objeto, sua imagem vai se formar a uma distância muito grande: no infinito,
diríamos. Tanto o foco objeto como o foco imagem estão à mesma distância da
lente. Essa distância é chamada distância focal da lente
lente.

Vamos utilizar essas contruções


auxiliares para obter a imagem de ob-
jetos colocados diante de algumas len-
tes. Inicialmente, vamos supor que te-
nhamos uma lâmpada diante de uma
lente convergente e que ela esteja além
do foco objeto FO, como está represen-
tado na Figura 11. Figura 11
A U L A
Um raio luminoso que parta de um ponto da lâmpada e incida paralelamen-

33 te ao eixo será refratado, passando pelo foco imagem FI . Um raio que parta da
lâmpada e incida na lente, passando pelo foco objeto FO , sairá da lente
paralelamente ao eixo da mesma. Na intersecção desses dois raios, temos a
imagem daquele ponto do filamento. Os raios, ao sair da lente, convergem para
um ponto: logo, a imagem será real. Usamos um processo parecido quando
queremos queimar um pedaço de papel utilizando uma lente para concentrar a
luz do Sol. Você pode constatar, a partir dessa construção, que a imagem L’ tem
posição invertida com relação à do objeto.
Se, por outro lado, a lâmpada estivesse en-
tre o foco objeto e a própria lente, como é o caso
da Figura 12, poderíamos utilizar, por exemplo,
um raio que incidisse paralelamente ao eixo e
outro que passasse pelo vértice da lente. O
primeiro seria refratado de maneira análoga à
anterior. O segundo passaria sem desvio. Nesse
Figura 12
caso, os raios saem da lente de maneira diver-
gente. Logo, a imagem é virtual.
Uma lente convergente, usada nessas condições, produz uma imagem L’
que está com orientação igual à do objeto, porém aumentada. Dessa maneira, ela
pode nos auxiliar a observar os objetos com maiores detalhes: é o que chamamos
de lente de aumento
aumento. Note que uma lente convergente também pode produzir
um feixe divergente, como foi esse caso, em particular.
Vamos ver o que acontece quando a lente é
divergente. Nesse caso, os focos estão em posi-
ção trocada com relação ao que falamos acima.
Mas as construções são idênticas, como pode ser
visto na Figura 13. Um raio luminoso que entre
paralelamente ao eixo da lente sai passando pelo
foco imagem. Um raio que passe pelo vértice não
sofre desvio. Pode-se notar que a imagem da
lâmpada aparece menor e com a mesma orienta-
ção da lâmpada. Como os raios que estão saindo
Figura 13 são divergentes, a imagem é virtual.

Calculando a posição das imagens e seu tamanho

Assim como no caso dos espelhos, existe uma equação que serve para
determinar a posição da imagem de um objeto. Outra equação nos permite
calcular o tamanho da mesma. Como no caso dos espelhos, chamamos de p a
distância do objeto à lente, e de p ’ a distância da imagem à lente. A equação
também é muito parecida. Se a distância focal for indicada pela letra f , a equação
que relaciona a posição do objeto com a da imagem é:
1 1 1
+ =
p p′ f
Se chamarmos de o a altura do objeto e de i a altura da imagem, a equação
que nos dá o tamanho da imagem em função do tamanho do objeto é:
i p′
=−
o p
A U L A
Para resolver problemas que envolvam lentes, usamos um sistema de
referência similar ao da Figura 14. Nele representamos uma lente convergente.
Seu foco objeto está, como já mencionamos anteriormente, do lado de onde vem 33
a luz, ou seja, do lado direito da figura. O foco imagem dessa lente encontra-se
à esquerda da lente. Para lentes divergentes, a situação dos focos é inversa. O
foco objeto de uma lente divergente é virtual.

Figura 14

A lente divide o espaço em duas partes. De um lado temos o espaço das


imagens reais e dos objetos virtuais (à esquerda na figura) e, do outro, as
imagens virtuais e os objetos reais (à direita na figura). Para localizar objetos
utillizamos um eixo e para localizar as imagens, outro. Se orientarmos o eixo dos
objetos na direção contrária à da luz e eixo das imagens na direção da luz,
veremos que tudo que for real será representado por uma distância positiva e
tudo que for virtual será representado por uma distância negativa
negativa.

Passo a passo

1. Um objeto de 12 cm de altura está colocado a 80 cm de distância de um


espelho esférico cuja distância focal vale 40 cm. Em que ponto vai ser
formada a imagem? Qual a altura da mesma e qual a sua natureza (real ou
virtual)?
A equação de conjugação nos dá:
1 1 1
+ =
p p′ f

1 1 1
+ =
80 p′ 40

1 2−1 1
= =
p′ 80 80

p' = 80cm
A U L A Como o valor de p’ é positivo, p’ está na região das imagens reais. Já o
tamanho da imagem será dado por:

33 i
o
= −
p′
p
i 80
=−
12 cm 80

i = - 12 cm

Nesse caso, o tamanho da imagem é igual ao do objeto. O sinal negativo


indica apenas que objeto e imagem têm orientação oposta.

2. Vamos supor que, no exercício anterior, o objeto estivesse a uma distância


de 20 cm da lente. Em que ponto seria formada a imagem? Qual a sua altura
e qual a sua natureza?
1 1 1
+ =
p p′ f
1 1 1
+ =
20 p′ 40

1 1− 2
=
p′ 40

p' = - 40 cm

Como p’ tem valor negativo, essa imagem é virtual. Da mesma maneira,


podemos saber o tamanho da imagem. Teremos:
i p
=−
o p′
1 − 40
=−
12 20
i = 24 cm

O valor de i é positivo. Isso indica que o objeto e a imagem têm a mesma


orientação.

3. Um objeto de 6 cm de altura está colocado a 48 cm de uma lente divergente


cuja distância focal é 36 cm. Dê a posição, o tamanho e a natureza da imagem.
1 1 1
+ =
p p′ f
1 1 1
+ =−
48 p′ 36
1 1 1 7
=− − =−
p′ 36 48 144

p' @ - 21 cm
Como o valor de p’ é negativo, a imagem é virtual. Vamos agora calcular o A U L A
tamanho da imagem. Teremos:
1
o
=−
p′
p
33
i − 144
=− 7
6 48
i @ 2,6 cm

O valor positivo de i mostra que o objeto e a imagem têm a mesma


orientação.

Nesta aula você aprendeu:

· que quando um raio luminoso incide na superfície de separação de dois


meios transparentes ele sofre refração, isto é, tem sua direção mudada;

· que essa mudança de direção depende dos meios que a luz atravessa;

· o que é o ângulo limite;

· o que são lentes e como elas se comportam quando atravessadas por raios
luminosos;

· como são formadas as imagens nas lentes e como podemos calcular a altura
e a posição dessas imagens.

Exercício 1
Calcule o ângulo limite de incidência quando os meios atravessados pela luz
forem a água e o ar.

Exercício 2
Uma pessoa situada a 72 cm da parede de um aquário observa um peixe que
está a 36 cm da mesma parede. A que distância da parede do aquário cada
um vê o outro?

Exercício 3
Construa graficamente a imagem de um objeto real, dada por uma lente
convergente, quando o objeto está:
a) entre o foco e o vértice da lente.
b) além do foco.

Exercício 4
Construa graficamente a imagem de um objeto real dada por uma lente
divergente.
A UA UL L AA

34
34
Eu não nasci de óculos!

E nquanto Roberto conversa com Gaspar,


Ernesto coloca os óculos de Roberto e exclama:
- Puxa, estou enxergando tudo embaralhado. Tudo meio turvo!
- É como você tivesse achatado o olho! - diz Roberto.
- Como?
- Existem pessoas que, podemos dizer, têm o olho achatado...
Roberto desenha uma figura (Figura 1) e tenta explicar o que está querendo
dizer:
- Nosso olho pode ser pensado como um
globo que tem, na parte da frente, uma lente
convergente. Essa lente - o cristalino - vai for-
mar na retina, ou seja, no fundo do olho, as
imagens dos objetos que estamos vendo. Essa
luz que bate na retina é levada para nosso cére-
bro pelo nervo ótico e, dessa maneira, podemos
ver os objetos. Figura 1
Roberto continua:
- Mas, para determinadas pessoas, a imagem se forma antes ou depois da
retina. É como se o olho fosse achatado ou alongado. Os óculos servem para isso,
para “desalongar” ou “desachatar” o olho. Na realidade, as lentes não mudam
o olho, mas permitem que a imagem se forme sobre a retina.
Gaspar, interessado, resolve entrar na conversa:
- Mas essa lente não vai formar uma imagem invertida dos objetos que
estamos vendo?
- Vai! As imagens, no cristalino, formam-se de cabeça para baixo. Nós
enxergamos de ponta-cabeça (Figura 2).

Figura 2
Enquanto isso, Ernesto começa a andar apoiado sobre as mãos, plantando
bananeira.
- Estou tentando ver o mundo como ele realmente é!
Olhos mais, ou menos, achatados A U L A

Como Roberto estava ex-


plicando, o cristalino de algu- 34
mas pessoas não forma a ima-
gem dos objetos exatamente
sobre a retina. Figura 3
Essas imagens podem ser
formadas antes da retina, e
nesse caso a pessoa é míope
(Figura 3), ou podem ser for-
madas além da retina, caso
em que a pessoa é hiper-
métrope (Figura 4). Figura 4

No caso da miopia, o cristalino é convergente demais, fazendo com


que a imagem se forme antes de atingir o fundo do olho. Para corrigir esse
defeito, necessitamos diminuir um pouco essa convergência. Para isso
usamos uma lente divergente (Figura 5). Essa lente faz com que os raios
luminosos entrem no olho de maneira um pouco divergente. Como o
olho do míope é muito convergente, a imagem acaba se formando no Figura 5
fundo do olho.
Por outro lado, o cristalino do olho pode ser pouco convergente.
Teremos então uma pessoa com hipermetropia. As imagens, nesse caso,
vão se formar além do fundo do olho. Essa pessoa, como também os
míopes, vai ver os objetos de maneira turva, não nítida. Para corrigir esse
defeito precisamos de uma lente convergente (Figura 6). Figura 6
Uma vez que estudamos um pouco o olho humano, vamos ver como os
instrumentos de ótica podem tornar nossos olhos mais eficientes no conheci-
mento do mundo que nos rodeia.

Um microscópio simples

Lupa, microscópio simples ou lente de aumento (Figura 7) são nomes


que uma lente convergente pode receber. Ela é, também, o instrumento
ótico mais simples que podemos imaginar. As lupas servem para que
possamos examinar os objetos com maior detalhe. Muitas vezes são Figura 7
usadas para leitura.
Como já estudamos as lentes, o princípio de funcionamento de uma lupa é
fácil de explicar (Figura 8). Se colocarmos um objeto (a letra R da figura) diante
de uma lupa, e de maneira tal que esse objeto fique entre o foco e o vértice dessa
lente, a lupa vai produzir uma imagem virtual do objeto. Para construir essa
imagem utilizamos um raio paralelo
(que sai passando pelo foco) e um raio
que passa pelo vértice da lente (e sai
sem desvio). A imagem desse objeto,
como pode ser visto na figura, é maior
e tem a mesma orientação do objeto.
Trata-se de uma imagem virtual. Ela se
Figura 8 forma atrás da lente.
A U L A O projetor de slides

34 O projetor de slides, ou projetor de diapo-


sitivos (Figura 9), utiliza também uma lente
convergente como princípio central de seu
funcionamento. Figura 9

O projetor de diapositivos possui uma lâmpada F que é a fonte encarregada


de iluminar o slide. Para isso, ela é colocada no foco de uma lente convergente
L1. Os raios luminosos que partem de F, após passar pela lente L1 saem paralelos,
pois a lâmpada está no foco da lente. Esses raios iluminam o diapositivo. A luz
que sai do slide vai atingir, agora, a lente L2. Para a lente L2 o slide é um objeto
real que vai ter sua imagem, também real, formada sobre uma tela. Para que a
imagem do diapositivo se forme exatamente sobre a tela, utiliza-se uma crema-
lheira P. Girando-se a engrenagem, podemos fazer com que a lente se aproxime
ou se afaste do slide. Assim, podemos fazer com que a imagem seja formada
exatamente sobre a tela.
Para entender como se forma a
imagem do slide sobre a tela,
podemos usar dois raios luminosos
que partem de um ponto P do dia-
positivo (Figura 10). Como foi feito
anteriormente, vamos utilizar um
raio que incida paralelamente na
lente e é refratado passando pelo
foco dessa lente.
Por outro lado, um raio que incida passando pelo vértice da lente passa sem
sofrer desvio. Esses dois raios luminosos vão se encontrar num ponto P’ da tela.
Tanto o ponto P como sua imagem P’ são reais. Uma característica das imagens
reais é que elas podem ser projetadas num anteparo: na tela, por exemplo. Pode-
se notar que a posição da imagem do slide é invertida com relação ao próprio
slide. Dessa maneira, ao colocar o slide no projetor, devemos invertê-lo para que,
sobre a tela, sua imagem saia com a orientação correta, isto é, com a mesma
orientação da foto que está no slide.
Os projetores de cinema também funcionam como os projetores de slides.
Uma lâmpada ilumina o filme e uma lente encarrega-se de projetar o filme
sobre a tela. Os projetores possuem, também, um ajuste que “focaliza” o filme
sobre a tela.
Focalizar, nesses casos, não é colocar o filme ou o slide no foco da lente.
Significa colocar o filme ou o slide num ponto tal que a imagem se forme sobre
a tela.
Outro aparelho que algumas vezes precisamos focalizar é a máquina foto-
gráfica (Figura 11). Ela também tem seu princípio de funcionamento baseado em
uma lente convergente. Às vezes, é um conjunto de lentes que atua como se fosse
uma única lente convergente.
Os aparelhos fotográficos modernos, com auxílio de uma rosca R, fazem
variar a distância entre a lente convergente - que é chamada objetiva - e o
fundo do aparelho fotográfico, onde está o filme sensível. Quando não
conseguimos ajustar essa distância satisfatoriamente, a imagem fotográfica
fica “fora de foco”. Isso porque os raios luminosos que partem do objeto e
deveriam se cruzar exatamente sobre o filme fotográfico cruzam-se pouco
Figura 11 antes ou pouco depois.
O microscópio composto A U L A

O microscópio composto (Figura 12) é


um dos instrumentos que mais fez progredir 34
as pesquisas no campo da Biologia. Basica-
mente, um microscópio composto consta de
duas lentes convergentes ou, mais precisa-
mente, de dois conjuntos de lentes que agem
como se fossem duas lentes convergentes.
Essas lentes convergentes estão nas duas
extremidades de um tubo metálico. Uma das
lentes é a objetiva e a outra, a ocular. Como os
próprios nomes estão indicando, a objetiva
do microscópio está perto do objeto a ser
Figura 12
estudado; a ocular é a lente pela qual o obser-
vador pode analisar tal objeto.

Abaixo da objetiva existe um suporte no qual é colocado o material de estudo


(sobre uma lâmina de vidro). Um pouco mais abaixo existe um espelho que serve
para iluminar o material que está sobre a lâmina. Às vezes esse espelho é
substituído por uma lâmpada que ilumina, diretamente, a lâmina. Um botão B,
capaz de levantar ou abaixar o tubo metálico, tem a mesma finalidade que outros
descritos anteriormente: fazer com que a imagem de um objeto se forme em um
ponto determinado.

Figura 13

Na Figura 13 temos uma representação esquemática do que ocorre na


formação das imagens dentro de um microscópio composto. Nesse esquema
temos o próprio corpo do microscópio, alguns objetos e suas imagens, e os raios
luminosos que estão definindo essas imagens.
Vamos considerar um ponto P no objeto que está sendo estudado - uma
célula, por exemplo. Esse ponto envia raios luminosos que atingem a objetiva.
Tomando-se dois desses raios, um paralelo ao eixo e outro que passe pelo vértice
da objetiva, podemos determinar a posição da imagem desse ponto da célula
dada pela objetiva. Esse é o ponto P’.
A imagem da célula fornecida pela objetiva é uma imagem real e encontra-
se, na figura, perto da ocular. Sabemos que a imagem é real porque os raios que
estão chegando a P’, depois de sair da objetiva, são convergentes.
A U L A Essa imagem intermediária formada pela objetiva vai servir como objeto real
para a ocular. Para construir a imagem final, basta considerarmos, mais uma vez,

34 dois raios luminosos: um que entre paralelamente na ocular e outro que entre
passando pelo vértice. O que entra paralelo sai pelo foco e o outro sai sem sofrer
desvio. Obtemos, dessa maneira, a imagem de P’. Essa imagem é o ponto P”.
Trata-se de um ponto imagem virtual. Sabemos disso porque os raios luminosos
que estão saindo de P” depois de passar pela ocular são divergentes.
Então, inicialmente, temos uma lente, a objetiva, que forma uma imagem
real de uma célula. Em seguida, uma segunda lente forma uma nova imagem da
primeira imagem. É essa imagem, uma imagem virtual final, que observamos.
Essa imagem é muito maior que a célula original. Esse aumento vai depender
tanto da objetiva como da ocular.

A luneta astronômica

Assim como o microscópio é de grande utilidade para a Biologia, os telescó-


pios e lunetas trouxeram grandes progressos ao estudo do Universo. Um dos
primeiros telescópios foi construido por Galileu que, com ele, descobriu as luas
de Jupiter, as fases de Vênus...

Figura 14

A luneta astronômica (Figura 14) tem muitas semelhanças com o microscó-


pio. Também é constituída por duas lentes convergentes ou dois conjuntos de
lentes que atuam como lentes convergentes. De maneira análoga, essas lentes
estão na extremidade de um ou dois tubos; uma delas é chamada de objetiva e
a outra, de ocular. A diferenças estão apenas nas distâncias focais das objetivas.
Nas lunetas, a distância focal da objetiva é da ordem de 1 m (podendo chegar a
vários metros), enquanto que no microscópio ela é pequena, menor que 1 cm.
O princípio de focalização é também semelhante aos demais instrumentos
descritos, na distância relativa entre as lentes que compõem o aparelho. Para
conseguir isso, existe uma cremalheira que permite que um dos tubos da luneta
deslize sobre o outro, fazendo com que a distância entre a objetiva e a ocular posa
ser modificada.

Figura 15

O princípio de funcionamento da luneta astronômica (Figura 15) é o seguin-


te: inicialmente a objetiva forma uma imagem real do astro que estamos obser-
vando. Essa imagem, pelo fato de o astro estar a uma distância muito grande, vai
se formar praticamente no foco imagem F1 , da objetiva. Essa imagem é real e
invertida.
Com auxílio da ocular, que age como se fosse uma lupa, observamos essa A U L A
imagem real. A imagem final, aquela dada pela ocular, vai ter, portanto, direção
invertida com relação ao objeto observado. Isso não tem grande importância
quando usamos a luneta para observar a Lua ou um planeta, por exemplo. Na 34
figura, usamos uma árvore para mostrar exatamente essa inversão, e também
para poder comparar essa luneta com a luneta terrestre, que não inverte a posição
dos objetos obervados.

A luneta terrestre

As lunetas terrestres e astronômicas pouco diferem no seu aspecto externo.


Uma luneta terrestre também possui uma objetiva, que é uma lente convergente
de distância focal grande. As duas lunetas são diferentes no que diz respeito à
ocular: as astronômicas usam lentes convergentes e as terrestres usam lentes
divergentes (Figura 16).

Figura 16

Na figura, os raios luminosos que provêm de um objeto distante (árvores)


“formam” uma imagem real perto do foco da objetiva. Na realidade, essa
imagem não pode ser formada, pois os raios encontram, antes, a ocular. Mas é
exatamente essa imagem que vai servir de objeto virtual para a ocular. A ocular
forma, então, a imagem final, como mostra a figura. Nesse caso, podemos
constatar que a imagem final tem a mesma orientação que o objeto visado. As
primeiras lunetas, mesmo as utilizadas em Astronomia, eram desse tipo.

O telescópio refletor

Assim como Galileu introduziu as lunetas no estudo dos astros, Newton foi
um dos responsáveis pela introdução dos telescópios refletores no estudo da
Astronomia.
O telescópio refletor, como o próprio nome indica, usa um espelho côncavo
como objetiva. O espelho pode ser esférico, como aqueles que estudamos, ou
parabólico. Mas é sempre côncavo. Existem muitos tipos de telescópios refleto-
res. O que vamos descrever é o modelo do próprio Newton (Figura 17). Ele
utiliza, como objetiva, um espelho esférico côncavo. Figura 17
A U L A Inicialmente temos um tubo fechado numa das extremidades. Nela existe
um espelho côncavo, a objetiva, que também é chamado de espelho principal.

34 Perto da extremidade aberta existe um segundo espelho. Este, um espelho plano


denominado espelho secundário, serve para desviar os raios que vêm do
espelho primário e lançá-los sobre a ocular. O espelho secundário tem inclinação
de 45º em relação ao eixo do tubo.
Finalmente, temos a ocular, que é, como quase todas anteriores, uma lente
convergente ou um conjunto de lentes que atuam como lente convergente.

Figura 19

Se o telecópio for apontado para um objeto distante, uma estrela, por


exemplo (Figura 18), os raios que provêm da mesma chegam ao telecópio
paralelos. Esses raios entram pelo tubo, atingem o espelho principal, a objetiva,
e são refletidos. Como o objeto (a estrela) está a uma distância infinita, a imagem
dessa estrela E vai se formar no foco do espelho eférico. Contudo, antes que
cheguem lá, eles escontram em seu caminho o espelho plano, e são desviados.
Assim, o ponto E passa a atuar, para o espelho plano, como um objeto virtual, e
formará uma imagem real P’.
É essa imagem P’ que podemos examinar usando a ocular como se fosse uma
lupa. A imagem final que observamos, P”, é uma imagem virtual.

Nesta aula você aprendeu como funcionam:

· uma lupa;

· um projetor de slides;

· um microscópio;

· lunetas e telescópios.

Exercício 1
Quando expomos uma lente do óculos de uma pessoa hipermétrope ao Sol,
e colocamos uma folha de papel abaixo da mesma, forma-se, sobre o papel,
a imagem do Sol. É um ponto muito brilhante, que é capaz de queimar o
papel. Construa um esquema para representar esse fenômeno.

Exercício 2
No problema anterior, como ficaria a situação se os óculos fossem de uma
pessoa míope? Por que, nesse caso, o Sol não queima o papel?
AUU
A L AL A

35
35
A luz em bolas

T odo o grupo de amigos estava reunido na


praia. Enquanto alguns conversavam, Ernesto lia atentamente.
- Olha como o Sol está hoje! Quanta luz! - disse Roberto.
- É, mas não vamos ficar aqui. Vamos jogar bola! - disse Gaspar.
- Vamos pegar uma onda! - disse Alberta.
- Bola!
- Onda!
- E você, Ernesto? O que você acha? Bola ou onda?
Ernesto, sem desviar muito do livro que lia concentradamente, disse:
- Segundo o Einstein, ora é uma coisa, ora é outra!
- Acho que você tomou sol demais. O que é isso que você está falando? -
perguntou Roberto.
- Da luz! É claro! Estou falando sobre a natureza da luz. É esse texto. É a peça
de teatro que vamos fazer para falar sobre a luz. O Einstein achava que a luz pode
ser tanto uma partícula como uma onda. Se vocês estiverem interessados, podem
me ver na apresentação. A peça é a história de um entrevistador que tinha uma
nave que podia caminhar pelo tempo. Então ele reúne cientistas de várias épocas,
que falam sobre a luz. Eu vou ser o entrevistador na peça.
- Mas, agora, sou por uma onda!

A velocidade da luz

No dia da apresentação, Ernesto, todo empolgado, está no palco, sentado


numa cadeira giratória. Ao redor dele, muitos cientistas sentam-se lado a lado.
Ernesto, agindo como entrevistador, inicia uma espécie de debate, dirigindo-se
aos cientistas:
Entrevistador - Meus caros senhores, estamos aqui para entender melhor o
que é a luz
luz. Tentamos reunir todos vocês e contar com a colaboração de cada um,
vindos de épocas tão diferentes, para que isso se torne possível. Inicialmente
vamos falar sobre a velocidade da luz. Em seguida, discutiremos o que é,
realmente, a luz. Se é que isso é possível. Esperemos que esse debate possa trazer
luz ao nosso problema. Podemos começar com o senhor Galileu. Por favor,
professor, o que o senhor tem a nos dizer sobre a velocidade da luz? Quais as suas
pesquisas nesse campo? Quais os resultados? Em seguida, podemos fazer um
pequeno debate.
A U L A Galileu - Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer o convite que me foi
feito. Gostaria também de afirmar que sou o primeiro a responder, mas não fui

35 o primeiro a me preocupar com a velocidade da luz. Creio que os que vão dar seus
depoimentos em seguida poderão contribuir mais do que eu.
Bem, o que eu fiz foi o seguinte:
Eu estava interessado em saber a velocidade da luz. Então, uma noite, subi
no alto de um morro. Enquanto isso, meu assistente subia um morro um pouco
distante (Figura 1). Tanto eu como ele estávamos com lanternas. Nós já sabíamos
que a velocidade da luz é maior do que a do som, pois, durante uma tempestade,
primeiro vemos o raio e só depois ouvimos o trovão.

Figura 1

De início, as duas lanternas estavam cobertas. Então, eu descobria a minha


e começava a contar o tempo. Quando meu assistente via a luz da minha lanterna,
descobria a dele. Quando eu via a luz, marcava o tempo gasto. Descobrimos que
a velocidade da luz ou é infinita ou é muito grande, pois ela ia e voltava num
tempo quase nulo.
Entrevistador - Alguém quer acrescentar algo, ou fazer alguma questão?
Newton - É com muito orgulho que me dirijo ao senhor Galileu, pois foi ele
um dos que contribuíram enormemente para que meu trabalho fosse coroado de
êxito. São algumas perguntas simples. Em primeiro lugar, como é que o senhor
media os tempos? Depois, eu queria fazer um depoimento e mais uma pergunta.
Pelos meus cálculos, a velocidade da luz no ar - pois o senhor estava tentando
medir a velocidade da luz no ar - é finita. Ela é muito grande, mas é finita. Porém,
eu estou convencido de que a velocidade da luz em outros meios é diferente. Eu
creio que na água, que é um meio mais denso, ela é maior ainda. É a mesma coisa
que ocorre para o som. Nos metais, o som se propaga mais rapidamente do que
no ar. É dessa maneira que podemos explicar a refração. As partículas da água,
por exemplo, atraem as partículas da luz que estão andando numa direção,
fazendo com que a direção mude (Figura 2). Quanto mais denso o meio, maior
Figura 2 o desvio. O que o senhor acha?

Nesse instante quase começa um tumulto entre os participantes. Todos


queriam falar ao mesmo tempo, obrigando o entrevistador a intervir.
Entrevistador - Vamos dar a palavra novamente ao senhor Galileu. Por
favor, professor.
Galileu - Meu caro Newton, na minha época, como você sabe, os relógios
ainda não estavam bem desenvolvidos e éramos obrigados a marcar o tempo
usando algo que conseguisse produzir intervalos de tempos iguais. Eu usei,
freqüentemente, as batidas do meu coração. No experimento que eu descrevi,
meu coração bateu apenas uma vez entre a ida e a volta da luz. Quanto a medir
a velocidade da luz em outros meios, ou pensar a respeito, quero que outros desta
sala possam contribuir. Eu vejo que o senhor Fermat está ansioso por falar.
Fermat - Eu quero discordar do senhor Newton. Eu também tenho uma A U L A
teoria que pode descrever como a luz vai de um ponto a outro. Ela usa o
princípio do caminho mínimo. Vou dar um exemplo para aclarar as coisas.
Vamos imaginar um pássaro que esteja sobre um muro numa 35
posição A. Ele quer ir até o chão e voar, em seguida, para um
ponto B numa árvore. Qual a trajetória mais curta? Dentre
todas as que podemos escolher, a mais curta é aquela na
qual os ângulos a e b são iguais.
Exatamente como na reflexão.
Com a refração acontece a mes-
ma coisa. Ou seja, a luz anda
pelos caminhos mais curtos. E
mais: na minha opinião, nos mei-
os mais densos a velocidade é
menor do que no ar.
Figura 3

Mais uma vez os participantes tentam se manifestar ao mesmo tempo,


obrigando o entrevistador a intervir.

Entrevistador - Eu gostaria que algum dos participantes mostrasse algum


experimento sobre a velocidade da luz. Alguém dos presentes?

Roëmer e Fizeau levantam as mãos.

Entrevistador - Senhor Roëmer, por favor!

Roëmer - Eu estava estudando os eclipses dos satélites de Júpiter. A


rotação dos satélites em torno do planeta tem, segundo as leis de Kepler, um
período constante. Os satélites, por sua vez, são eclipsados por Júpiter. Essas
ocultações, se a velocidade da luz fosse infinita, deveriam ocorrer com um
período igual àquele do satélite (Figura 4). Acontece que, quando medi o
tempo entre os aparecimentos do satélite S, após ocultações sucessivas,
descobri que esses tempos eram maiores quando Júpiter estava mais longe da
Terra (em T2 ) e menores quando estava mais próximo (em T1 ). Conclui que
isso era devido ao fato de que a luz deve percorrer
ora uma distância maior, ora uma distância
menor. Entre o maior valor do período (quan-
do Júpiter estava mais afastado da Terra) e
o menor período (quando Júpiter estava
mais próximo da Terra) houve uma
diferença de 22 segundos. Daí conclui
que a luz gasta 22 segundos para atra-
vessar uma distância igual ao diâme-
tro da órbita da Terra. Assim, pude
determinar a velocidade da luz.

Entrevistador - Obrigado, senhor


Roëmer. Vamos agora ver o que o
senhor Fizeau tem a nos contar. Se-
nhor Fizeau, por favor. Figura 1
A U L A Fizeau - Na realidade eu fiz algo próxi-
mo ao que fez nosso mestre Galileu. Eu

35 também tinha uma fonte de luz e essa luz era


mandada de volta por um espelho. Eu tam-
bém tinha um intervalo entre “luz acesa” e
“luz apagada”. Construí uma roda dentada,
como se fosse uma engrenagem, e mandava
um feixe de luz que passava entre os dentes
da roda. Essa luz chegava até um espelho
que estava a uma distância de uns 8 km da
Figura 5
lâmpada e voltava até a roda (Figura 5).
A luz, então, era interrompida de tempos em tempos pelos dentes. Ela
passava por um dos espaços entre os dentes, chegava ao espelho, era refletida e
voltava à roda dentada. Se a velocidade da roda fosse muito baixa, a luz chegaria
até o espelho e passaria ainda pelo mesmo furo. Porém, se a velocidade da roda
fosse maior, quando a luz voltasse poderia encontar um dente. Então, não
conseguiríamos ver a luz. Se a velocidade fosse aumentada ainda mais, a luz,
agora, poderia passar pelo furo seguinte. Novamente poderíamos ver a luz.
Aumentando-se mais uma vez a velocidade, teríamos novo dente interceptando
a luz, e assim por diante. Assim, tudo estava determinado. Se eu soubesse qual
a velocidade de rotação da roda dentada na qual houve a primeira ocultação da
lâmpada (ou a segunda, a terceira etc.), eu poderia calcular a velocidade da luz,
pois sabia a distância entre a roda e o espelho. Foi assim que eu procedi.

Entrevistador - Obrigado, senhor Fizeau. Alguém quer fazer algum comen-


tário? Não? Eu gostaria de acrescentar que o método empregado pelo senhor
Fizeau foi usado até o princípio deste século (1902) e o valor obtido para a
velocidade da luz, dessa maneira, foi:

(299.901 ± 104) km/s

A natureza da luz

Entrevistador - Vamos agora passar a um ponto um pouco mais polêmico.


O que é a luz? Alguém quer iniciar? Senhor Newton? Por favor. O que é, então,
a luz para o senhor?

Newton - Como eu já comecei a dizer, creio que a luz é constituída de


pequenas partículas que são emitidas pelos corpos. Essas partículas têm tama-
nho e formas diferentes. Quando vemos, num pedaço de vidro, várias cores,
estamos vendo, no fundo, partículas de diferentes tamanhos que causam, aos
nossos olhos, as diferentes sensações de cores. Contudo, sei de pessoas como o
senhor Huygens, que infelizmente não está presente, que acreditam que a luz
seja uma vibração, um fenômeno ondulatório, que a luz é algo que se parece com
o som. A essas pessoas eu pergunto: se a luz é uma onda, por que ela anda sempre
em linha reta e não contorna os obstáculos? Por que não ocorre o fenômeno da
difração
difração, por que a luz não contorna os objetos? As ondas no mar contornam as
pilastras que estiverem dentro do mesmo. As ondas sonoras também contornam
os objetos, ou seja, apresentam o fenômeno da difração
difração. Tanto é que consegui-
mos ouvir o que uma pessoa fala mesmo que entre ela e nós exista um obstáculo.
Ao que tudo indica, não temos difração para o caso da luz.
Entrevistador - Mas, senhor Newton, vamos voltar um pouco à sua teoria. A U L A
Existem cristais que, quando são atravessados pela luz, produzem uma diminui-
ção na intensidade da luz que os atravessa. Se colocarmos um segundo cristal do
mesmo tipo num certo ângulo, uma quantidade apreciável de luz vai passar. 35
Se prosseguirmos girando esse segundo cristal, a intensidade da luz cai
quase até zero.
O senhor pode não estar a par, mas atualmente conseguimos fabricar um
plástico que tem as mesmas propriedades dos cristais que o senhor conhece. Nós
chamamos esses plásticos de polaróides
polaróides. Como o senhor explicaria o comporta-
mento da luz ao atravessar esses cristais ou os nossos polaroides? Como é que as
partículas de luz às vezes passam pelo cristal e às vezes, não?

Newton - Já afirmei anteriormente que a luz é formada por partículas de


diferentes formas. Talvez elas sejam um pouco achatadas e consigam passar pelo
cristal. Ainda não sei ao certo. Mas não é esse argumento que vai me fazer
acreditar que a luz seja uma onda. Ainda não vi luz contornando um obstáculo,
como fazem as ondas! Quanto às explicações dadas pelo senhor Huygens para
o comportamento da luz ao atravessar esses cristais, usando seu modelo
ondulatório, creio que não são melhores que as minhas.

Entrevistador - Senhor Newton, alguém pede um aparte. Trata-se do senhor


Young. O que o senhor deseja colocar, senhor Young?

Young - Eu gostaria de defender a mesma posição do senhor Huygens, isto


é, que a luz é uma onda. Na realidade, eu utilizei os seus princípios para realizar
o meu experimento.
Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que é possível constatar que a luz
contorna os obstáculos. Podemos mostrar a difração da luz. Isso pode ser feito
por qualquer pessoa. Se fizermos um corte bem fino numa folha de metal e
apontarmos essa fenda para o filamento de uma lâmpada, veremos uma parte
clara e, ao lado, umas franjas claras e escuras. Essas franjas mostram que a luz está
se desviando de uma trajetória retilínea e contornando a fenda, exatamente como
outras ondas fazem.
Figura 6
Entrevistador - Eu quero aproveitar a
oportunidade e dizer aos participantes que a
folha de metal pode ser o papel de alumínio
usado na cozinha. Nele podemos fazer um
corte, usando um estilete ou uma lâmina de
barbear, e, em seguida dirigir essa fenda
para o filamento de uma lâmpada (Figura 6).
Se o filamento for reto, os resultados serão
melhores. Podemos mesmo usar duas lâmi-
nas de barbear, uma ao lado da outra, for-
mando a fenda. Senhor Young, desculpe
minha intromissão. Continue, por favor.

Young - Seguindo as idéias de Huygens, eu fiz passar a luz do Sol por um


orifício que representei por F na Figura 7.
Como considero que a luz é uma onda, eu representei as partes mais altas da
onda, ou seja, as cristas das ondas, por círculos concêntricos. As partes mais
baixas da onda, os vales, estão entre os círculos que desenhei.
A U L A Logo em seguida, essa luz passava
por outros dois orifícios F 1 e F2. No

35 primeiro dos orifícios, a luz deve ter


sofrido uma difração, uma mudança
na sua trajetória. Caso contrário, não
conseguiria atingir as fendas F1 e F2.
Como explicava o senhor Huygens, a
fenda F vai agir como se fosse uma
nova fonte mandando luz para todas
direções. E essa luz, ao atingir as fen-
das F1 e F2, fará com que essas fendas se Figura 7
tornem novas fontes, mandando luz
em todas direções.
Fiz então novos círculos concêntricos, agora com centro em F 1 e F2. E é agora
que temos mais uma confirmação de que a luz é uma onda. A luz que sai de F 1
interfere com a que sai de F2, ou seja, vão existir pontos nos quais a intensidade
da luz vai ser aumentada e outros nos quais pode ser até anulada. Nos pontos
em que duas cristas se encontram, a intensidade é reforçada, enquanto que,
quando uma crista encontra um vale, a intensidade da luz pode até ser anulada.
Se olharmos a Figura 7, colocando-a na altura dos olhos, podemos perceber
que existem regiões mais escuras e mais claras. O que se passa na figura é o
mesmo que ocorre na realidade. Vão aparecer linhas de interferência. Isto, meu
caro Newton, é uma prova de que a luz é uma onda. E as cores são apenas ondas
com comprimentos de onda diferentes, não partículas de tamanho diferente,
como o senhor afirmou. A luz vermelha tem um grande comprimento de onda,
enquanto que na luz violeta o comprimento de onda é pequeno.

Newton - Mas, então, como o senhor explicaria o caso da luz atravessando


certos cristais, quando chega até a haver extinção da intensidade luminosa? Eu
recordo que o senhor Huygens, que mais uma vez lamento que não esteja
presente, não conseguiu, com sua teoria ondulatória, explicar o fato. É verdade
que eu mesmo reconheço que a minha teoria não consegue dar conta do recado.
O senhor tem algo para nos contar? Sua teoria é diferente daquela do senhor
Huygens?

Young - A diferença entre a teoria do senhor


Huygens e aquela que desenvolvi com meu gran-
de amigo Fresnel é que, para o senhor Huygens, a
luz vibra na mesma direção em que caminha.
Exatamente como faz o som. Para nós, a luz vibra
numa direção perpendicular àquela em que cami-
nha (Figura 8). Com essa teoria podemos explicar
o comportamento da luz nos cristais que o senhor
mencionou, ou nos polaróides citado por nosso
entrevistador.
Na Figura 9a temos luz incidindo num po-
laróide. A luz vibra em todas direções. Quando
chega ao polaróide, somente a luz que estiver
Figura 8 vibrando em certa direção consegue passar (Figu-
ra 9b). O polaróide só permite a passagem da luz
que vibra numa certa direção. A luz, ao sair do polaróide, está polarizada
polarizada. Ela A U L A
está vibrando apenas numa direção. Se outro polaróide for colocado na mesma
direção, toda luz passará. Mas, se o polaróide for girado 90º, nenhuma luz
conseguirá passar. Isso é, brevemente, o que eu queria dizer. 35
Figura 9

a b c

Entrevistador - Parece que a teoria corpuscular que o senhor Newton tem


defendido está perdendo bastante terreno. Ao que parece, a luz é mesmo um
fenômeno ondulatório. Existe alguém que queira defender a teoria corpuscular
ou acrescentar algo mais à teoria ondulatória? Vejo que o senhor Maxwell quer
dar sua opinião.

Maxwell - Eu apenas queria acrescentar que, quando estava estudando


ondas eletromagnéticas, descobri que a velocidade delas é igual à velocidade da
luz. Meu colega Hertz produziu ondas de rádio que também são ondas eletro-
magnéticas, que têm também a velocidade da luz. Dessa maneira eu concluí que
a luz também é uma onda eletromagnética, como são, por exemplo, as ondas de
rádio. Como essas ondas vibram perpendicularmente à direção em que se
propagam, eu fico no time do senhor Young.

Nesse momento entram Einstein e o produtor do programa.

Entrevistador - Senhor Einstein, estávamos à sua espera. Gostaríamos de


contar com sua participação nos debates.

Einstein - Desculpem-me, mas não resisti. Ao chegar aqui, num tempo que
para mim é o futuro, quis ver as coisas que tinham sido produzidas da minha
época para cá. Acabei vendo quase toda a discussão pela TV. Quando vi o
depoimento do senhor Galileu, imaginei: “Se ele fez tudo aquilo com a cabeça e
o coração, imagine se ele tivesse um computador!” Na realidade, até eu fiquei
com um pouco de inveja.
Agora eu gostaria de dar o meu depoimento. Talvez os ânimos fiquem
menos exaltados.
Na minha época era conhecido o fato de que, quando a luz incide em
determinados metais, ela é capaz de arrancar elétrons desses metais. Chamamos
esse fenômeno de efeito fotoelétrico
fotoelétrico. Uma coisa que me intrigava era que a
energia com a qual os elétrons saíam não dependia da quantidade de luz que caía
sobre a placa de metal. Assim, uma lâmpada vermelha muito intensa poderia não
conseguir arrancar elétrons do metal, enquanto que uma luz violeta, de baixa
intensidade, conseguia. O ponto crucial era, então, o comprimento de onda.
Resolvi então usar o mesmo raciocínio que meu colega Planck tinha
usado: o fato de que a energia se manifesta apenas em quantidades que são
sempre um múltiplo de uma certa quantidade muito pequena, um pacotinho
A U L A de energia. Eu resolvi então usar o mesmo raciocínio para o efeito fotoelétrico
e consegui resolver o problema. A energia luminosa também vem em peque-

35 nas porções, em pequeno pacotes, os chamados quantum de energia. E quem


carrega essa energia é uma partícula que chamamos de fóton
fóton.

Mais uma vez os participantes querem se manifestar todos ao mesmo tempo.


Newton está radiante com o fato de a luz poder ser uma partícula. Para controlar
a situação, o entrevistador intervém.

Entrevistador - Meus caros, vamos deixar o professor acabar sua interven-


ção. O senhor está afirmando então que, apesar de todas as evidências de que
a luz é uma onda, como os fenômenos de interferência etc., a luz é uma
partícula?

Einstein - Na realidade, a luz se comporta ora como, partícula ora como


onda. Talvez seja essa dupla natureza da luz o que fez com que as discussões hoje
fossem tão acaloradas. Partícula e onda
onda. Eis o que é a luz!

Entrevistador - Bem, eu gostaria de agradecer a todos participantes por


esse debate, que nos mostrou que as explicações na Ciência não são eternas e
que discussões como as de hoje podem nos auxiliar a entender a Natureza.
Obrigado.

Nesta aula você aprendeu que:

· inicialmente pensava-se que a luz fosse uma partícula;

· mais tarde, a luz foi interpretada como uma onda;

· nos dias de hoje admite-se que a luz tanto pode assumir um caráter
ondulatório como pode ser considerada uma onda.

· Mas você aprendeu, principalmente, que as idéias na Ciência são mutáveis,


e que não existem certezas eternas.
Exercício 1 A U L A
Galileu afirmou que usou as batidas do coração para tentar medir a
velocidade da luz. Sabendo-se que a luz tem uma velocidade de
300.000 km/s e supondo que o coração de Galileu batesse com uma 35
freqüência de 72 batidas por minuto, qual a distância que a luz percorre-
ria entre duas batidas?

Exercício 2
Newton estava equivocado quanto à velocidade da luz nos meios que
eram chamados “mais densos”. Atualmente, sabemos que o índice de
refração de um meio com relação a outro é a razão das velocidades da luz
nesses dois meios. Assim, o índice de refração da água com relação ao ar
é definido por:
velocidade da luz no ar
nágua =
velocidade da luz na água

Ora, se para Newton a velocidade da luz no ar era menor do que a velocidade


da luz na água, o índice de refração da água com relação ao ar era menor que
1. Isso significaria que um raio de luz, ao passar do ar para a água, iria se
afastar da normal, o que é experimentalmente incorreto. Será que Newton
desconhecia esse fato?
A UA UL L AA

36
36
Ô, raios!

F azia tempo que não chovia. O ar estava seco.


Maristela passava um pente de plástico no cabelo enquanto era observada por
Ernesto.
- Olha como o cabelo é atraído pelo pente! Parece que quem faz isso é a
eletricidade!
- É verdade. Eu já vi isso na Estação Ciência. Era verdadeiramente um
experimento de arrepiar os cabelos. Uma pessoa estava em cima de um banquinho,
ligada a uma máquina que produzia eletricidade. À medida que ela ia recebendo
eletricidade, seus cabelos ficavam cada vez mais arrepiados. Além disso, a
máquina era capaz de produzir faíscas enormes. Pareciam até relâmpagos!

O início da eletricidade

A eletricidade está presente na vida cotidiana de todos nós: em lâmpadas,


rádios, TV, motores e muitas outras coisas. Mas nós não conseguimos ver nem
ouvir a eletricidade propriamente dita. É claro que vemos a luz de uma lâmpada
que foi gerada pela eletricidade. O mesmo acontece com o som de um rádio ou
televisão; quem isso tudo é a eletricidade. Mas nossos conhecimentos sobre a
eletricidade foram, durante muito tempo, muito reduzidos.

O âmbar é uma espécie de resina produzida por árvores há milhões de


anos. Depois da morte da árvore, e com o passar do tempo, essa resina
transforma-se numa pedra amarelada que recebe o nome de âmbar.
Algumas vezes, um inseto aprisionado na resina solidificava-se junto com
o âmbar. Esse é mais um atrativo para o estudo dessas pedras.

Há cerca de 2.500 anos, o filósofo grego Tales observou que, quando atritava
um pedaço de âmbar num pedaço de couro macio, o âmbar era capaz de atrair
objetos leves, como penas ou pedaços de palha.
Talvez Tales estivesse preocupado apenas em polir o âmbar para melhor
observar um inseto no seu interior, ou para torná-lo mais brilhante. Porém,
quando o âmbar foi atritado, adquiriu outra característica, além do brilho. Ele
tornou-se capaz de atrair pequenos objetos. Ele adquiriu eletricidade! O nome
eletricidade vem dessa época, pois elétron era, exatamente, o nome do âmbar em
grego antigo.
Âmbar e ímãs A U L A

O âmbar reinou sozinho durante quase 2.000 anos como a única substância
conhecida que, quando atritada, era capaz de atrair pequenos objetos. 36
O versorium de Gilbert

Gilbert construiu seu aparelho usando os mesmos


princípios utilizados numa bússola.
Esse aparelho era feito com uma haste metálica
muito leve, cuja parte central era apoiada numa
espécie de alfinete pontiagudo. A haste tinha a
forma de uma flecha, para que se soubesse em que
direção ela apontava. Daí o nome versorium de
Gilbert. Versorium é uma palavra latina que indica
direção.
Você pode construir um versorium de Gilbert usan-
do uma tira de lata de refrigerante ou de cerveja. A
tira é dobrada, como mostra a figura, e equilibrada
num alfinete espetado numa rolha. O alfinete deve
Figura 1
ser cortado antes e sua ponta deve estar para fora
da rolha.

Em 1600, o inglês William Gilbert estava interessado em estudar proble-


mas relacionados ao magnetismo de certos materiais, ao magnetismo terres-
tre e coisas semelhantes. Gilbert notou que o comportamento do âmbar
atraindo pequenos objetos era parecido com o de um ímã, atraindo pequenos
pedaços de ferro. Como Gilbert já tinha usado bússolas para estudar o
comportamento dos ímãs, construiu um aparelho que parecia uma bússola,
mas cuja agulha não era feita de material magnético. Dessa maneira, quando
ele passava um ímã perto de seu aparelho, chamado de versorium, a agulha
não era atraída pelo mesmo. Com esse aparelho, Gilbert passou a estudar
outras substâncias e descobriu que muitas comportavam-se como o âmbar.
Quando atritadas com um pedaço de couro macio, eram capazes de atrair a
agulha do aparelho.
Gilbert descobriu assim, muitos materiais eletrizáveis, isto é, capazes de
adquirir eletricidade quando atritados. “Da mesma maneira que acontece com
o âmbar”, segundo as palavras de Gilbert.
Então, apesar de existirem semelhanças até quanto ao instrumento usado
nas análises de Gilbert, as atrações magnéticas e elétricas eram diferentes. Um
ímã não atrai a agulha de um versórium, mas atrai a agulha de uma bússola. Um
corpo eletrizado atrai as duas agulhas. Explicar o comportamento dos corpos
eletrizados é o objetivo principal desta aula.
Hoje em dia temos uma quantidade enorme de substâncias que podem ser
eletrizadas quando atritadas com outras. Os plásticos são os melhores represen-
tantes disso. O pente usado por Maristela, atraindo seus cabelos, pode bem
servir de exemplo. A atração do cabelo pelo pente é um fenômeno elétrico. Se
aproximássemos um ímã do cabelo de Maristela, o ímã não iria, é claro, atrair o
cabelo de Maristela. Essa atração não é magnética.
A U L A Atração e repulsão

36 Para estudar um pouco mais o comportamento dos corpos eletrizados, ou


seja, para entrar na parte da eletrostática propriamente dita, vamos construir
um pequeno aparelho que vai nos esclarecer bastante. Para isso você vai
necessitar de material muito semelhante ao que é utilizado na construção de um
versorium de Gilbert: uma rolha, um alfinete e canudos de refresco, além de um
pedaço de isopor, um saco plástico (de lixo) e papel higiênico.
Espete o alfinete na rolha, deixando a ponta dele para fora. Dobre o canudo
de refresco na metade e tente equilibrá-lo na ponta do alfinete, como aparece na
Figura 2. Para isso, o canudo deve ser um pouco amassado. Se o canudo ficar
batendo na superfície de apoio, coloque tudo sobre uma pequena caixa ou um
suporte qualquer.

Figura 2

Retire o canudo de sua posição e atrite uma de suas extremidades com o


papel higiênico. Para isso, proceda da seguinte maneira: segure o canudo,
envolva-o com o papel, aperte firmemente o papel e puxe. Veja que, quando
você aproxima o dedo do canudo, o canudo parece atraído pelo dedo. Se, agora,
você atritar outro canudo com o papel higiênico e aproximá-lo do canudo
suspenso, ele será repelido. Conclusão: os corpos carregados eletricamente
podem atrair um corpo neutro ou ser repelidos por outros carregados.
Atrite agora o pedaço de isopor com papel higiênico e, em seguida,
aproxime o isopor do canudo. Você vai notar que o canudo é atraído. Se você
tivesse atritado o isopor no saco plástico, o isopor iria repelir o canudo. Ou seja:
os materiais, quando atritados uns com os outros, podem se comportar de duas
maneiras diferentes, atraindo-se ou repelindo-se.

Figura 3

Quando os dois materiais estão se repelindo, diremos que durante o atrito


eles adquiriram cargas elétricas iguais. Se eles se atraem, diremos que adqui-
riram cargas elétricas opostas. Essas cargas opostas são denominadas positi-
vas e negativas. Assim, podemos dizer que dois objetos que tiverem cargas de
mesmo sinal se repelem e, se tiverem cargas de sinal contrário, se atraem.
Para que o homem pudesse compreender melhor esse processo, foi neces-
sário descobrir do que é feita a própria matéria. Hoje sabemos que todos corpos
são constituídos por átomos, e que os átomos são constituídos por partículas
menores: os prótons, elétrons e nêutrons.
Os prótons possuem carga elétrica positiva; A U L A
os elétrons possuem carga negativa e os
nêutrons, como o próprio nome in-
dica, são desprovidos de carga elé- 36
trica. Os prótons e nêutrons ocu-
pam a parte central do átomo - o
núcleo. Os elétrons orbitam ao redor do
núcleo. O número de prótons e de elé-
trons em um átomo em estado nor-
mal é o mesmo. Quando atritamos
um canudo de refresco com o papel,
estamos transferindo cargas elétri-
cas de um para outro. As cargas de mais mobili- Figura 4
dade no átomo, os elétrons, são as que são
deslocadas durante o processo. Assim, quando o canudo é atritado com o
papel, uma certa quantidade de elétrons passa do papel para o canudo. O
canudo fica, dessa maneira, com excesso de cargas negativas. Ele fica carre-
gado negativamente.
O papel, por ter perdido esses elétrons, fica carregado positivamente duran-
te certo tempo. Dizemos “durante certo tempo” porque os corpos carregados vão
acabar atraindo cargas de sinal oposto às cargas que têm em excesso, voltando
a ser neutros.
O ar, os objetos que nos rodeiam e a Terra, principalmente, são os respon-
sáveis pelo fornecimento dos elétrons de que os corpos carregados positivamen-
te necessitam. Para esses lugares também vão os elétrons dos corpos que estão
carregados negativamente.

Maneiras de carregar eletricamente um corpo

Carregando por contato

Já vimos que é possível carregar um canudo de refresco atritando-o com


papel higiênico. Mas, se segurássemos um pedaço de metal para atritá-lo com
outro material, com o objetivo de carregar eletricamente esse metal, seríamos
mal-sucedidos. Isso porque os seres humanos e os metais são bons condutores
de eletricidade, isto é, as cargas elétricas passam facilmente por nosso corpo e
pelos metais. Assim, mesmo que conseguíssemos arrancar alguns elétrons
durante o processo, essas cargas seriam neutralizadas quase imediatamente.
Elas acabariam indo para a Terra.

Alguns materiais, como o papel, conduzem a eletricidade em certas condi-


ções, quando o ar não está muito seco, por exemplo. Como veremos pouco mais
adiante, as voltagens envolvidas em alguns experimentos simples que descre-
veremos são bastante elevadas. Mas, apesar disso, não existe perigo algum em
realizar as atividades propostas.

Existem também os corpos que não permitem que as cargas elétricas passem
facilmente através deles. São os maus condutores ou isolantes. O canudo de
refresco é um bom isolante.
A U L A Mas, será que conseguiríamos carregar uma folha de
metal? A resposta é afirmativa. Vamos fazer um experi-

36 mento que demonstra como isso pode ser conseguido.


Como não podemos segurar o metal, pois as cargas
acabariam indo para Terra, devemos segurar o metal
com um isolante.
A Figura 5 mostra o material de que precisamos. Um
pedaço de metal (uma tampa de lata ou um pedaço de
papel de alumínio) é colado num canudo de refresco. O
conjunto é suportado por massinha de modelar (ou pode Figura 5
ser espetado numa batata).
Agora podemos carregar um canudo de refresco por atrito com papel e
passar esse canudo, várias vezes, sobre a parte metálica. Algumas cargas do
canudo vão passar para a placa metálica. A placa vai ficar com a mesma carga
que o canudo. Podemos verificar isso usando o nosso versorium feito com
canudo. Se carregarmos o canudo do versorium atritando-o com papel e, em
seguida, aproximarmos a placa carregada, veremos que o canudo é repelido.
Para carregar a placa foi necessário tocá-la com o canudo. Por isso, esse
método é denominado carregar por contato.

Carregando por indução

Se a carga de um canudo de refresco atritado com um papel higiênico é


negativa, quando carregamos por contato a placa metálica, a carga obtida é
também negativa. Mas existe uma maneira de carregar positivamente a mesma
placa, com o mesmo canudo. É o que chamamos de carregar por indução.

Observe a seqüência da Figura 6. De iní-


cio temos a placa metálica que está eletrica-
mente neutra; o canudo, carregado negativa-
mente, está próximo da placa. Ora, o canudo
vai repelir os elétrons para o lado oposto.
Assim, na placa, perto do canudo, teremos
cargas positivas. Do lado oposto, cargas ne-
gativas. No total, porém, temos o mesmo
número de cargas positivas e negativas den-
tro da placa. Ela está, globalmente, neutra. Se
retirarmos o canudo de sua posição, tudo
volta a ser como era antes: placa neutra.
Figura 6

Veja agora o que se passa na segunda figura. Encostamos um dedo na placa


e aproximamos o canudo carregado negativamente. As cargas negativas do
canudo repelem as cargas negativas da placa; algumas das cargas negativas
passam para o dedo. Quando retiramos o dedo, aquelas cargas que tinham
penetrado nele não podem mais voltar. Finalmente, quando o canudo é retirado,
vão ficar espalhadas pela placa algumas cargas positivas. Esse processo chama-
se carregar por indução. Note que quando carregamos um corpo por indução
usando um objeto carregado negativamente, o corpo vai ficar carregado positi-
vamente, e vice-versa.
Como um corpo carregado atrai um corpo descarregado A U L A

Vamos construir mais um dispositivo que


vai nos permitir entender melhor o nosso assun- 36
to. Para isso precisamos de três canudos de
refresco, um pouco de massinha de modelar, fio
de meia de nylon, fita adesiva, um pedaço de
papel de alumínio, cola branca e papel higiênico.
Com isso construiremos o aparelho semelhante
ao que está na Figura 7.
Inicialmente recortamos um pequeno disco de
papel de alumínio e o colamos no fio de meia. Em
seguida, a outra extremidade do fio é colada num
canudo. Unimos os dois canudos com fita adesiva
e espetamos o conjunto num pedaço de massa de
Figura 7 modelar (ou numa batata, como já dissemos). Esse
dispositivo é denominado pêndulo eletrostático.

Se agora atritarmos o canudo com o papel higiênico e o aproximarmos do


disco do pêndulo eletrostático, o disco, mesmo estando neutro, vai ser atraído
pelo canudo. Isto acontece porque, como vimos, as cargas se separam quando
aproximamos um canudo carregado de um pedaço de metal. O que vai aconte-
cer? Existem cargas que empurram o pêndulo na direção do canudo e um mesmo
número de cargas que o empurram na direção contrária. Quem vai vencer?
Como as cargas positivas do pêndulo estão mais perto do canudo, elas serão
atraídas com mais força. Então, todo o pêndulo vai se mover na direção do
canudo. Ver Figura 8.

O que vai acontecer depois disso? O disco atraído


pelo canudo toca o canudo e recebe uma carga igual à
dele (ele é carregado por contato). Agora, os dois estão
com a mesma carga e vão se repelir.

Figura 8

Em todos os métodos de carregar eletricamente um corpo que descrevemos,


as cargas, depois de serem transferidas de um corpo para outro, permanecem
dentro desse corpo e não se movimentam para outros lugares. Por isso chama-
mos de eletrostática esta parte da eletricidade.

O eletroscópio - um aparelho para detectar cargas elétricas

Para saber se um corpo está carregado eletricamente ou não, podemos usar


os mais diversos aparelhos. Mesmo um pêndulo serviria para saber se um
corpo está ou não carregado. Todavia, o mais aparelho mais conhecido é o
eletroscópio de folha. Antigamente ele era chamado de eletroscópio de folhas
de ouro, metal utilizado em sua confecção.
A U L A Para construir o eletroscópio precisamos de um pedaço de cartão, canudos
de refresco, massa de modelar, uma tirinha de papel de bala (do tipo usado para

36 embrulhar balas de coco em aniversários), cola e fita adesiva.


Recorta-se um retângulo de cartão de 2,5 cm
por 11 cm aproximadamente. Em seguida recor-
Figura 9

ta-se, do mesmo cartão, um círculo de uns 4 cm


de diâmetro. Esse círculo é colado, com fita ade-
siva, numa das extremidades do retângulo. Ver
Figura 9.
Depois cola-se uma tirinha de papel de bala na
parte superior do retângulo. A fita deve ser colada
apenas por sua parte superior.
A parte inferior da fita deve poder se mover
livremente. Todo esse conjunto é colado com fita
adesiva num canudo de refresco.
O eletroscópio pode, agora, ser usado. Inicialmente vamos
carregá-lo por contato. Para isso, basta carregar um canudo por
atrito e passá-lo no disco do eletroscópio. Todo o eletroscópio
adquire a carga do canudo e, como a tirinha de papel tem a
mesma carga do cartão, ela é repelida. Ela vai ficar como está
representado na Figura 10.
Como o eletroscópio foi carregado por contato com o
Figura 10
canudo, ele vai ficar negativo. Todas as suas partes estarão
negativas. Assim, se aproximarmos um objeto carregado posi-
tivamente da lingüeta do eletroscópio, ela será atraída. Se o
corpo tiver cargas negativas, a lingüeta será repelida.
O eletroscópio pode ser também carregado por indução, com auxílio do
mesmo canudo. Para isso, basta aproximar o canudo do disco do eletroscópio e
tocar, com o dedo, qualquer parte do eletroscópio. Em seguida, é preciso retirar
o dedo e, depois, afastar o canudo. O eletroscópio carrega-se, dessa maneira,
positivamente. Os testes da carga de outros objetos pode ser feitos de maneira
análoga à anterior.
O eletroscópio serve também para testar se determinado material é isolante
ou condutor. Para isso, basta carregá-lo por contato ou por indução. A lingüeta
se abre. Em seguida, seguramos o material que queremos testar e tocamos o
eletroscópio com ele. Se o objeto for um bom isolante, a lingüeta permanecerá
aberta. Se o material for um bom condutor, ela se fechará imediatamente.

Uma outra utilidade do eletroscópio é mostrar que


os corpos podem ser carregados por meio de uma des-
carga elétrica. Para isso, prendemos um alfinete no
disco do eletroscópio com uma fita adesiva, como apa-
rece na Figura 11.

Carregamos então, por atrito, um canudo de refres-


co. Passamos o canudo perto da ponta do alfinete, mas
sem tocá-lo. Podemos observar que a lingüeta do
eletroscópio vai se abrir e permanecer aberta, mostran-
do que houve uma passagem de cargas entre o canudo
e o eletroscópio.
Figura 11
Nesta aula você aprendeu: A U L A

· como os antigos interpretavam os fenômenos elétricos e a relação desses


fenômenos com os fenômenos magnéticos; 36
· como carregar eletricamente um objeto;

· como construir um pêndulo eletrostático e um eletroscópio.

Exercício 1
Uma placa metálica está descarregada (ver figura abaixo). Aproximamos
dela um canudo carregado negativamente. Tocamos a placa com o dedo.
Retiramos o canudo. O que vai acontecer?

Exercício 2
Duas placas metálicas descarregadas estão encostadas, como mostra a
figura. Aproximamos delas um canudo carregado negativamente e, sem
retirar o canudo, afastamos uma placa da outra. Após a retirada do canudo,
como ficarão as placas?

Exercício 3
Um eletroscópio está carregado positivamente. Então, a lingüeta dele está
aberta. Se aproximarmos um canudo carregado negativamente do disco do
eletroscópio, o que vai acontecer com a lingüeta do eletroscópio?
A UA UL L AA

37
37
Atração fatal

E rnesto atritou um canudo de refresco com


um pedaço de papel higiênico. Depois colocou o canudo contra uma parede,
enquanto Roberto observava.
- Olha como ele fica grudado!
- É a força eletrostática. As cargas do canudo fazem aparecer, na parede,
cargas contrárias. É o fenômeno da indução - diz Roberto.
- Ainda não estou entendendo.
Roberto faz um desenho (Figura 1) enquanto fala:
- As cargas negativas do canudo empurram as cargas nega-
tivas da parede. Então, na parede, perto do canudo, vão ficar
cargas positivas. Essas cargas positivas da parede atraem as cargas
negativas do canudo. Então, o canudo é atraído pela parede e fica
grudado nela.
- Como se fosse um ímã?
- Como se fosse um ímã. Mas não é um ímã. Nem a parede
nem o canudo estão imantados. Eles estão eletrizados. Essas forças
elétricas, as forças magnéticas e a força gravitacional são pareci-
das, mas são forças diferentes.
- É, mas nesse caso só a parede está puxando. Como o canudo
não pode entrar na parede, fica grudado nela. Certo? Mas, e se
duas coisas estivessem puxando o canudo? Para onde ele iria?
- Para responder a isso podemos montar um aparelhinho
parecido com o pêndulo eletrostático. Figura 1

A força elétrica como um vetor

Um pêndulo eletrostático modificado pode nos dar uma boa idéia do que é
a força eletrostática. Se no lugar do disco de papel de alumínio colocarmos uma
flecha de papel, como aparece na Figura 2, já teremos o que necessitamos.
A flecha é feita de papel comum - que, como vimos, comporta-se como
um condutor. Na sua extremidade existe um pedaço de canudo que serve
como contrapeso e também para segurar a flecha quando quisermos carregá-
la por indução.
Vamos agora carregar a flecha por indução. Para isso, segura- A U L A
mos a flecha com dois dedos (Figura 3), tocamos o papel com outro
dedo e aproximamos o canudo. Em seguida, retiramos o dedo e o
canudo. Lembre-se, isso deve ser feito exatamente nessa ordem: 37
primeiro o dedo, depois o canudo! Agora, se você aproximar o
canudo da flecha, vai ver que a flecha segue o canudo, mostrando
a direção da força. A flecha é atraída pelo canudo, pois está com
carga contrária às cargas dele. Lembre-se: quando carregamos um
objeto por indução usando um corpo carregado positivamente, o
objeto vai ficar carregado negativamente e vice-versa.
Esse aparelhinho que mostra a direção da força pode ser
chamado de vetor.
Figura 2

Agora estamos em condições de responder à questão de


Ernesto. Vamos carregar o vetor mais uma vez, por indução,
usando um canudo de refresco. Em seguida, colocamos o canudo
em frente ao vetor. A flecha vai apontar o canudo, pois essa é a
direção da força.
Figura 3

Vamos colocar mais um canudo carregado perto do vetor


(ver Figura 4 ).
Temos, portanto, dois objetos atraindo a flecha. Para onde ela
vai? Isso dependerá do canudo que estiver mais carregado. Mas, de
qualquer maneira, as duas forças se somam e a flecha aponta para a
direção da resultante delas. Essa é uma maneira de mostrar que a
força elétrica, como todas as forças, é um vetor. Ela tem um valor,
uma direção e um sentido.
Mas não basta conhecer a direção da força elétrica que existe
entre duas cargas. Precisamos saber qual é seu valor.

Figura 4

Quem descobriu como calcular a força que atua entre dois


objetos carregados eletricamente foi Charles A. Coulomb, em
1784 - 85. Ele mostrou que tanto as forças magnéticas como as
elétricas variavam “com o inverso do quadrado das distâncias”, ou
seja, obedeciam à leis que eram análogas à lei da gravitação de
Newton. Para isso, Coulomb usou um aparelho semelhante ao que
está apresentado na Figura 5.

Nesse figura estão representadas duas esferas carregadas posi-


tivamente. Uma delas é fixa, a esfera A, e a outra (B) está suspensa por
um fio de quartzo. Quando a esfera A é aproximada da esfera B, esta
é repelida e torce o fio, exercendo uma força sobre ele. Assim, se
soubermos com que ângulo o fio girou, poderemos calcular a força Figura 5
que estava sendo aplicada no fio e, portanto, a força existente entre
as duas esferas.
A U L A A lei de Coulomb

37

Figura 6a Figura 6b

Se carregarmos um pêndulo elétrico por contato, usando um canudo, e, em


seguida, aproximarmos o canudo do pêndulo, sabemos que o pêndulo vai ser
repelido (Figura 6a). Se juntarmos ao primeiro canudo um novo canudo carrega-
do da mesma maneira, veremos que o pêndulo vai ser repelido com mais
intensidade (Figura 6b). Ou seja:

A força elétrica que existe entre dois corpos carregados eletricamente


depende diretamente da quantidade de cargas de cada um deles.

Figura 7a Figura 7b

Quando aproximamos um canudo carregado de um pêndulo também


carregado, veremos que, quanto menor for a distância entre o pêndulo e o
canudo, maior vai ser a força (Figura 7). Ou seja: a força depende inversamente
da distância. Na realidade, Coulomb mostrou que a força depende inversamente
do quadrado da distância, isto é:
· se dividirmos a distância por 2, a força aumenta 4 vezes;
· se dividirmos a distância por 3, a força aumenta 9 vezes;
· se dividirmos a distância por 4, a força aumenta 16 vezes;
e assim por diante. Então, podemos dizer que:

A força elétrica que existe entre dois corpos carregados


eletricamente depende inversamente do quadrado da distância
que separa esses dois corpos.

Mas, como medir a quantidade de cargas que existe num corpo? A unidade
de quantidade de cargas é o coulomb
coulomb. Sabemos que um corpo está eletrizado
quando ele tem excesso de elétrons ou deficiência de elétrons. Se um corpo tiver
18
excesso ou falta de 6,25 · 10 életrons
életrons, sua carga será de 1 coulomb. Um coulomb
é uma carga extraordinariamente grande. Para dar um exemplo, as cargas
elétricas das nuvens durante tempestades, que são capazes de provocar faíscas
elétricas formidáveis, são da ordem de uns 20 coulombs.
A representação matemática da lei de Coulomb A U L A

Vamos supor que tenhamos duas cargas eletricas q1 e q2 separadas por


uma distância d. Vimos que a força eletrostática depende do valor de q1 , do valor 37
de q2 e do inverso do quadrado dar distância entre essas cargas. Poderíamos
escrever que o valor da força elétrica F é proporcional a essas grandezas, ou seja:

q1 ⋅ q 2

d2

Essa é a maneira de dizer que existe uma proporcionalidade entre F e as


outras grandezas. A relação acima seria lida da seguinte maneira:

A força elétrica (ou eletrostática) é proporcional aos valores


das cargas e inversamente proporcional à distância entre elas.

Essa relação vale para qualquer meio no qual estejam colocadas as cargas. Se
as cargas estivessem no vácuo, existiria uma constante de proporcionalidade, k ,
entre F e os outros valores. Se o meio fosse a água ou um outro material qualquer,
o valor da constante seria diferente. Os cientistas fizeram inúmeras medições
dessas constantes e constataram que, se as cargas estivessem no vácuo, a
constante de proporcionalidade seria:
N⋅m2
k = 9,0 ⋅ 10 9
C2

Agora estamos em condições de escrever a relação que nos permite calcular


a força elétrica entre duas cargas quando elas estiverem no vácuo:
q1 ⋅q 2
F = 9,0 ⋅ 10 9
d2

Esse valor será aproximadamente o mesmo se as cargas estiverem no ar.

Força elétrica e força gravitacional

A lei de Coulomb, que nos permite calcular a força que existe entre duas
cargas, é bastante semelhante à lei da gravitação universal de Newton. A forca
gravitacional, Fg entre duas massas M e m é dada por:

M⋅m
Fg = G ⋅
d2

Nm 2
Nessa relação, G, a constante da gravitação, vale 6 , 67 ⋅ 10 − 11
kg 2

Note que as unidades de G são parecidas com as de k, a constante de


proporcionalidade da lei de Coulomb.
A U L A - Matéria atrai matéria na razão direta das cargas e na razão inversa do
quadrado da distância. Posso falar isso? - perguntou Ernesto.

37 - Na realidade é isso mesmo - respondeu Roberto.


- Mas a força elétrica é muito maior.
- Não estou entendendo! Como maior? Como podemos comparar?
- Deixe eu explicar melhor. Vamos calcular a força de atração elétrica e
gravitacional entre dois corpos. Corpos que possuam, ao mesmo tempo, massa
e carga. Quem pode servir bem para isso é um átomo de hidrogênio. Ele tem um
elétron girando em torno de um próton. Tanto o próton como o elétron têm carga
e massa. Então podemos comparar as duas forças. Para isso vamos precisar saber
quanto valem a carga e a massa de cada um.
- Além da distância entre eles! - acrescentou Ernesto.
- É isso aí! Veja se você consegue esses valores no seu livro de Física. O valor
das duas constantes a gente já sabe.
Depois de algum tempo, Ernesto volta satisfeito e mostra o que tinha
copiado num papel.

massa do próton = 1,7 · 10-27 kg


-31
massa do elétron = 9,1 · 10 kg
-19
carga do elétron = carga do próton = 1,6 · 10 C
-11
distância entre o elétron e o próton = 5,3 · 10 m

- Bom, agora é fácil! Basta usar as duas leis: a de Newton para calcular a
força gravitacional e a de Coulomb para calcular a força elétrica. As duas forças,
nesse caso, são de atração. Aliás, essa é uma outra diferença entre as duas forças.
A força gravitacional é sempre de atração, mas a força elétrica pode ser de
repulsão. Vou calcular as duas forças! Vou chamar de F g a força gravitacional e
de Fe a força elétrica.
m próton · m elétron
Fg = G · 2
=
d
-11 2 2 -27 -31
6,67 · 10 N · m / kg · 1,7 · 10 kg · 9,1 · 10 kg
= =
(5,3 · 10-11)2
-47
Fg = 3,7 · 10 N

- A força elétrica vai ficar assim:


Q próton · Q elétron
Fe = k · =
d2
9 2 2 -19 -19
9,0 · 10 N · m / C · 1,6 · 10 C · 1,6 · 10 C
= -11 2 =
(5,3 · 10 )
-8
Fe = 8,2 · 10 N

- Dividindo uma pela outra, teremos:


-8
Fe 8,2 · 10
= -47 @ 2 · 10
39

Fg 3,7 · 10
- Mas e esse número meio maluco, o que é? A U L A
- Ele representa quantas vezes uma força é maior do que a outra. Ele é um
número muito grande. Quando comparamos o tamanho do Universo com o
tamanho de um átomo, o número obtido é menor. 37
Passo a passo
-7
1. Duas cargas positivas de 2,0 · 10 C estão separadas por uma distância de
0,1m. Qual o valor da força elétrica que age em cada uma delas?
-7 -7
9 2,0 · 10 · 2,0 · 10
F = 9,0 · 10 2
= 0,036N
(0,1)

As cargas vão se repelir com uma força de 0,036 N.

-8 -3
2. Uma carga negativa de 8 · 10 C está a uma distância de 2 · 10 m de uma
-10
carga positiva cujo valor é 5 · 10 C. Qual o valor da força eletrostática
que age em cada uma delas?
-8 -10
9 8 · 10 · 5 · 10 -2
F = 9,0 · 10 = 9 · 10 N
(2 · 10-3)2
-2
Teremos então, entre as duas cargas, uma força atrativa de 9 · 10 N.
Note que as duas cargas se atraem com forças iguais, apesar de as cargas de
cada uma serem diferentes.

-8
3. Três cargas elétricas positivas cujo valor é 4 · 10 C estão nos vértices de um
triângulo equilátero de lado 3 cm (ver Figura 9). Qual o valor da força
eletrostática que age em cada uma delas?

Cada uma das cargas exerce sobre a outra uma força igual. Então, bastará
calcular uma das forças: as outras duas serão iguais. Vamos considerar a
carga que está na parte superior da figura, a carga A. Ela vai ser repelida
pelas duas
r cargas
r que estão na parte inferior e que agem sobre ela com asr
forças F1 e F2 . Essas duas forças somadas produzirão a força resultante F
sobre
r a carga A. Nas cargas B e C vão aparecer forças com o mesmo valor
de F , e que
r podem ser calculadas de maneira análoga. Parar calcular
r o valor
da força F precisamos, antes, calcular os valores de F1 e F2 . O primeiro
deles é o valor da força com que a carga que está em B empurra a carga que
-8
está em A. Então, como o valor r de cada carga é 4 · 10 C e a distância entre
elas é 3 cm, o valor da força F1 vai ser:
-8 2
9 (4 · 10 ) -2
F1 = 9 · 10 -2 2
= 1,6 · 10 C
(3 · 10 )

Figura 9
r
A U L A A força F2 é aquela que existe entre as cargas que estão nas posições A e C.
Como os rvalores das cargas e das distâncias são exatamente os mesmos, o

37 valor de F2 será o mesmo, ou seja:

F2 = 1,6 · 10 C
-2

r r
Observando a figura, vemos que F1 e F2 formam entre si um ângulo de 60º.
Então, para calcular a resultante entre essas duas forças, podemos usar a
regra do paralelogramo, ou seja:

F2 = F12 + F22 + 2 · F1 · F2 · cos 60º


-2 2 -2 2 -2 -2
F2 = (1,6 · 10 ) + (1,6 · 10 ) + 2 · (1,6 · 10 ) · (1,6 · 10 ) · (0,5)
-2 2 -2 2 -2 2
F2 = (1,6 · 10 ) + (1,6 · 10 ) + (1,6 · 10 )
-2
F @ 2,8 · 10 N

Como a carga em cada um dos vértices é a mesma e o triângulo é equilátero,


os valores das forças sobre as cargas nos outros vértices vão ser os mesmos.

Nesta aula você aprendeu:

· a lei de Coulomb para cargas elétricas;

· a construir um dispositivo que nos permite visualizar o vetor força elétrica;

· quanto a força elétrica é maior do que a gravitacional.


Exercício 1 A U L A
-10 -4
Uma carga positiva de 5 · 10 C está distante 4 · 10 m de uma outra carga,
-10
também positiva, cujo valor é 8 · 10 C. Qual vai ser a força entre elas?
37
Exercício 2
-10
Duas cargas positivas de 6 · 10 C estão separadas por uma distância de
9 cm. Na mesma reta que une as duas, e a 3 cm de uma delas, existe uma carga
-10
negativa cujo valor é 3 · 10 C. Qual a força resultante que vai agir em cada
uma das cargas?

Exercício 3
-8
Três cargas positivas de valor 6 · 10 C estão nos vértices de um triângulo
retângulo cujos lados medem, respectivamente, 3 cm, 4 cm e 5 cm. Qual o
valor da força elétrica que age sobre a carga que está sobre a aresta do ângulo
de 90º?
A UA UL L AA

38
38
Hoje estou elétrico!

E rnesto, observado por Roberto, tinha acaba-


do de construir um vetor com um pedaço de papel, um fio de meia, um canudo
e um pedacinho de folha de alumínio. Enquanto testava o vetor para ver se estava
ou não bem equilibrado, notava que, devido ao pouco peso do dispositivo, a
flecha girava movida pelo vento, sem apontar uma direção fixa (Figura 1).
Em seguida, Ernesto carregou a flecha por indução,
utilizando um canudo de refresco que tinha sido car-
regado por atrito com um pedaço de papel. Mesmo
assim, o vetor ainda girava sem parar.
Ernesto então aproximou o canudo carregado da
flecha, e esta apontou para o canudo. O vento que
existia na sala não afetava mais a flecha. Ela balançava Figura 1
um pouco, mas continuava apontando para o canudo.
- Olha! Parece que a flecha percebeu que o canudo estava lá e passou a
apontar na direção dele! (Figura 2)
Nesse instante chega Maristela, com um livro na mão. Ernesto repete mais
uma vez o que tinha dito:
- Veja! A flecha sabe quando o canudo está pelas
redondezas.
- É o campo elétrico - diz Maristela
- Campo elétrico?
- Sim! Quando você carrega o canudo, está crian-
do, ao redor dele, um campo elétrico
elétrico. Se você simples-
mente olhar o canudo, não vai ver nada. Nada parece
ter se modificado. Porém, se você usar um outro objeto
carregado, a flecha, por exemplo, vai ver que ela é
atraída pelo canudo. Veja o que diz este livro de Física Figura 2
sobre campo elétrico.

Sabemos que em certa r região do espaço existe


um campo elétrico E se, quando colocarmos
uma carga de prova q nessa rregião,
notarmos que existe uma força elétrica F que age sobre q.
Em geral utiliza-se como carga de prova uma carga positiva.
- Foi o que você fez, Ernesto. Colocou a flecha, que era a carga de prova, A U L A
e notou que ela era atraída pelo canudo. Então soube que naquela região, em
volta do canudo, existia um campo elétrico.
- Então força elétrica e campo elétrico são a mesma coisa? A flecha não 38
aponta na mesma direção da força?
- Quase. A direção e o sentido da força elétrica são os mesmos que o do
campo elétrico, mas o valor do campo elétrico é diferente. Assim como a força,
o campo elétrico é um vetor. Então podemos saber sua direção, seu sentido e
seu valor.

Vetor campo elétrico

Vamos supor que tenhamos uma carga elé-


trica positiva Q e que ela esteja fixa, como
mostra a Figura 3. Se colocarmos uma carga q
em vários pontos diferentes,
r aor redor
r de Q vão
aparecer forças elétricas FA , FB , FC assim por
diante. Veja a Figura 4. Nela colocamos, rao
mesmo tempo,r os vetores campo elétrico E e
força elétrica F . Ambos têm a mesma direção e
Figura 3 o mesmo sentido. Porém, desenhados em mes-
ma escala, esses vetores têm módulos diferen-
tes. Seus valores são diferentes. O vetor campo
elétrico tem as seguintes características:

a) sua direção e sentido são os mesmos da força


elétrica; r F
b) o valor de E é dado por E =
q
onde F e q são, respectivamente, os valores da
Figura 4 força elétrica e da carga de prova.

Já sabemos que forças são medidas em newtons (N) e cargas elétricas em


coulombs (C). Logo, mediremos o campo elétrico em N/C.

Passo a passo

Um pêndulo elétrico carregado positi-


vamente está diante de uma placa conduto-
ra também carregada positivamente. A car-
-9
ga do pêndulo é 5 · 10 C e, naquele ponto,
o pêndulo está sendo repelido pela placa
com uma força de 2 · 10 -5N. Qual o valor do
campo da placa naquele ponto? Se retirás-
semos o pêndulo e colocássemos, no mes-
mo lugar, uma carga de 3 · 10-9C, qual
seria a força que agiria sobre essa carga?
Figura 5
A U L A A placa carregada vai gerar um campo elétrico ao redor da mesma e o
pêndulo vai servir de carga de prova. Dessa maneira, o campo, na posição onde

38 está o pêndulo, será:


E= =
F 2 ⋅ 10 −5 N
q 5 ⋅ 10− 9 C
= 4 ⋅ 10 3 N / C

Com o valor do campo elétrico no ponto considerado, podemos achar o valor


da força elétrica que age sobre qualquer carga colocada naquele ponto. Assim
teremos:
F = E · q
3 -9 -5
F = 4 · 10 N/C · 3 · 10 N/C = 1,2 · 10 N

Campo gerado por um objeto carregado

Vamos considerar um objeto, de pequenas dimensões, carregado eletrica-


mente. A relação E = F/q vale para qualquer objeto carregado: um canudo de
refresco, uma placa etc. Essa relação independe, também, das dimensões do
objeto carregado. Dessa maneira, podemos usá-la para calcular o campo
gerado por um objeto de dimensões reduzidas. Vamos denominar esse objeto
de carga Q (ver Figura 6).

Figura 6

Se colocarmos uma carga de prova q num ponto P e a uma distância d da


carga Q, a força elétrica entre essas duas cargas vai ser, como já vimos, dada pela
lei de Coulomb. Seu valor vai ser:
Q⋅q
F = k⋅
d2

Então, o campo elétrico gerado pela carga Q, no ponto P, vai ser dado por:
F Q⋅q Q
E= = k⋅ = k⋅
q q⋅d d2

Pode-se notar que o valor de q é cancelado durante os cálculos. Então,


podemos afirmar que:

O campo gerado por uma carga Q


não depende do valor da carga de prova.
O campo gerado pela carga Q
depende do valor de Q e
da distância da carga ao ponto considerado.
Campo gerado por vários objetos A U L A

- Já sei como calcular o campo de um objeto. Mas, e se eu tiver mais de um


objeto? Como posso saber qual o valor do campo? - perguntou Ernesto a 38
Maristela.
-Bem, se você usar o vetor, tudo vai ficar
fácil de entender! Carregue o vetor por indução,
usando um canudo de refresco carregado por
atrito. Espete esse canudo num pedaço de mas-
sa de modelar (Figura 7). Aproxime o canudo do
vetor. Ele vai apontar o canudo, dando a direção
do campo de um canudo. Agora, carregue outro
canudo também por atrito e coloque-o ao lado
do primeiro. O vetor não vai apontar nem para
um, nem para o outro. Ele vai dar a direção do
Figura 7 campo resultante, gerado pelos dois canudos,
naquele ponto.
r r
O canudo A produz o campo EA . O canudor B produz o campo EB .
Os dois, juntos, produzem o campo resultante E . Para obter o valor do
campo resultante, procedemos da mesma maneira empregada para obter a
resultante de duas forças.

Passo a passo
-9
Duas cargas de 2 · 10 C e positivas estão separadas por uma distância de
10cm. Qual o valor do campo elétrico num ponto que dista 10 cm de cada uma
delas?
r
Em primeiro lugar, vamos calcular o valor de E1 , campo
gerado por uma das cargas (Q1, por exemplo) num ponto que
esteja a 10 cm (0,1 m) da mesma. Poderíamos imaginar que
nesse ponto existe uma carga de prova q (ver Figura 8).
Sabemos que o valor do campo não depende do valor da carga
de prova Q. Ele depende apenas do valor de Q1. Então, vamos
ter:

Q1 2 ⋅ 10 −9
E = k⋅ = 9 ⋅ 10 9 ⋅ Figura 8
R (0,1)2
3
Q1 = 1,8 · 10 N/C

O campo gerado pela outra carga, no mesmo ponto, vai ter o mesmo valor,
pois tanto o valor da carga como o da distância, são os mesmos. Por outro lado,
esses dois campos formam entre si um ângulo de 60º. Dessa maneira, o campo
resultante vai ser dado por:
2
E = E12 + E22 + 2 · E1 ·E2 · cos 60º
E2 = (1,8 · 103)2 + (1,8 · 103)2 + 2 · (1,8 · 103) · (1,8 · 103) · 0,5
2 3 2
E = 3 · (1,8 · 10 )
E @ 3,12 · 103N/C
A U L A Linhas de força

38 Existe uma maneira de representar o campo


elétrico que nos dá a possibilidade de visualizar
esse campo. Essa representação é feita com a utili-
zação das linhas de força desse campo elétrico.

Vamos supor que tenhamos uma carga elétri-


ca positiva Q. Em cada ponto das vizinhanças de
Qr representamos
r r os vetores campo elétrico:
E1 , E2 , E3 etc, como na Figura 9. Figura 9
Esses vetores são tais que, se pudéssemos
prolongar o segmento que representa cada um
deles, todos passariam pela carga Q, como se
fossem os raios de uma roda de bicicleta. O campo
seria representado por uma figura semelhante à
que aparece na Figura 10. Trata-se de um campo
que chamamos de radialradial.
As linhas, providas de flechas e saindo da
carga Q, nos informam a direção do campo em
cada um dos pontos pelos quais elas passam. Essas
linhas são chamadas linhas de força ou linhas de Figura 10
campo
campo. Se, por outro lado, a carga Q fosse negati-
va, o campo ainda seria radial, porém as linhas de
campo estariam dirigidas para a carga Q e não
saindo dela. Ver Figura 11.

Nem sempre as linhas de campo são simples


como as que descrevemos. Vamos supor que te-
nhamos duas cargas iguais, mas de sinais contrá-
rios. Vamos chamar essas cargas de Q1 e Q2. A esse
conjunto de duas cargas iguais e de sinal contrário Figura 11
damos o nome de dipolo
dipolo.
Como seriam as linhas de campo de um dipolo? Para isso, consideremos
uma carga de prova q (positiva) e as duas cargas Q1 e Q2. A carga de prova vai
ser atraída pela carga negativa e repelida pela carga positiva. Usando o conceito
de campo, podemos dizer que tanto a carga positiva como a negativa vão
produzir, no ponto P, um campo. Adicionando-se esses dois campos, teremos
um campo resultante que é semelhante ao que está representado na Figura 12a.
Se usarmos o mesmo procedimento, podemos obter o campo resultante para
muitos pontos ao redor das duas cargas e construir as linhas de campo para o
dipolo. A figura obtida seria parecida com a Figura 12b.

Figura 12a Figura 12b


Um outro conjunto de corpos carregados que é de grande interesse é aquele A U L A
formado por duas placas planas carregadas com a mesma quantidade de cargas,
porém com sinais opostos. Esse conjunto recebe o nome de capacitor de placas
paralelas
paralelas. Se colocarmos uma carga de prova q num ponto qualquer entre as 38
duas placas do capacitor, ela vai ser atraída pela carga negativa e repelida pela
carga positiva (Figura 13a). Ou seja, os campos de cada uma das placas vão agir
no mesmo sentido, isto é: vão empurrar a carga de prova em direção à placa
negativa. Assim, o campo resultante vai apontar essa direção e, portanto, as
linhas de campo também (Figura 13b).

Figura 13a Figura 13b

Outro aspecto do campo de um capacitor é o seguinte: se colocarmos a carga


de prova perto da placa positiva (Figura 13a), ela vai ser repelida por essa placa
com grande força (podemos dizer também que o campo dessa placa, nesse
ponto, é grande). Ao mesmo tempo, essa carga vai ser atraída pela placa negativa
com uma força menor (podemos dizer também que o campo dessa placa nesse
ponto é pequeno). Mas os dois campos estão no mesmo sentido: então, a carga
de prova vai ser empurrada, na direção da placa negativa, por um campo que
é a soma dos dois campos das duas placas.
Mas, se a carga de prova estiver perto da placa negativa (Figura 13a), ela vai
ser atraída pela placa com uma força muito grande. Ao mesmo tempo, a carga
de prova é repelida pela placa positiva por uma força pequena. Poderíamos ter
dito que, naquele ponto, o campo da placa negativa é grande e o campo da placa
positiva é pequeno. Mas, da mesma maneira que o caso anterior, os dois campos
estão empurrando a carga de prova em direção à placa negativa.

O interessante é que, em ambos os casos, e quaisquer que sejam os pontos


considerados, o valor do campo é o mesmo. Logo, entre as duas placas de um
capacitor de placas paralelas o valor do campo é sempre o mesmo. Como, além
de ter sempre o mesmo valor, o campo entre as placas tem sempre a mesma
direção, dizemos que esse campo é uniforme
uniforme. Note que, fora das placas, as linhas
de campo não são mais perpendiculares às mesmas.

Um campo numa certa região do espaço é uniforme se, nessa re-


gião, sua direção, sentido e valor forem constantes.

Se colocarmos um corpo carregado entre as placas de um capacitor, seu


deslocamento vai ser dirigido pelo campo elétrico desse capacitor. Além disso,
esse corpo tem massa, e o campo gravitacional vai influir também. Todavia, para
corpos como prótons e elétrons, podemos ter capacitores nos quais o campo
elétrico é muitas e muitas vezes maior que o campo gravitacional. Dessa
maneira, uma dessas partículas colocada entre as placas de tal capacitor vai
seguir, praticamente, as linhas de campo do mesmo.
A U L A Passo a passo

38
4
O campo elétrico entre as placas de um capacitor vale 5 · 10 N/C. A
distância entre as placas do capacitor é 5 cm. Se um elétron for lançado
6
perpendicularmente às placas, com uma velocidade de 8 · 10 m/s, através de
um furo que existe na placa negativa, com que velocidade vai atingir a outra
placa? Quanto tempo o elétron gasta para atravessar o capacitor (Figura 14)?
-31
Dados: massa do elétron = 9,1 · 10 kg
-19
carga do elétron = 1,6 · 10 C

Figura 14

O elétron entra no capacitor e vai se movimentar no sentido contrário ao das


linhas de campo, pois é uma carga negativa. Sobre o elétron vai agir uma força
F dada por:
F=E·q

onde E é o valor do campo elétrico entre as placas do capacitor e q é a carga do


elétron.
F = 5 · 104 · 1,6 · 10-19 = 8 · 10-15 N

Como sabemos o valor da força e a massa do elétron, podemos calcular a


aceleração a que ele está submetido. Como a força é constante, a aceleração
também vai ser constante e o movimento será uniformemente variado.
F 8 ⋅ 10 −15 N
a= = = 8,8 · 1015 N/kg = 8,8 · 1015 m/s2
m 9,1 ⋅ 10 kg
− 31

Sabendo a aceleração, podemos calcular a velocidade final do elétron


utilizando a equação de Torricelli:
v = v0 + 2 · a · Dd
2 2

onde v é a velocidade inicial do elétron, v 0 é a velocidade final do elétron ao atingir


a placa positiva, a é a aceleração do elétron e Dd d é a distância entre as placas.
2 6 2 15 -2
v = (8 · 10 ) + 2 · 8,8 · 10 · 5 · 10
2 13 14
v = 6,4 · 10 + 8,8 · 10
2 14
v = 9,4 · 10
7
v = 3,1 · 10 m/s

Sabendo o valor da velocidade final do elétron e sua aceleração, podemos


calcular o tempo gasto t para que ele percorra o espaço entre as placas. Como o
movimento é uniformemente variado, teremos:
v = v0 + a · t

onde v é a velocidade final, a é sua aceleração e v 0 é a velocidade com que ele


foi lançado entre as placas.
v − v0 3,1 ⋅ 107 − 8 ⋅ 106
t= = = 22,6
,6 ⋅ 10 − 9-9ss
· 10
a 8,8 ⋅ 1015
Nesta aula você aprendeu: A U L A

· o que é o campo elétrico;


38
· o que são linhas de campo;

· como é obtido o campo gerado por vários corpos carregados.

Exercício 1
-8
Qual o campo gerado por uma carga negativa de 6 · 10 C, a uma
distância de 2 cm da mesma? A que distância da carga o valor desse campo
reduz-se à metade?

Exercício 2
-8 2 -8
Duas cargas positivas cujos valores são Q1 = 3 · 10 C e Q = 4 · 10 C
estão separadas por uma distância de 2 cm. Qual o valor do campo no
ponto médio entre essas cargas? Em que ponto entre as duas o valor do
campo é nulo?

Exercício 3
A distância entra as placas de um capacitor de placas paralelas é 1 cm.
3
O campo no interior do mesmo vale 5 · 10 N/C. Se abandonarmos um
elétron junto à placa negativa, quanto tempo ele levará para chegar à
placa positiva? Qual o valor de sua energia cinética ao atingir a placa?
-31
Dados: massa do elétron = 9,1 · 10 kg
carga do elétron = 1,6 · 10-19 C
A UA UL L AA

39
39
Alta voltagem

E rnesto e Roberto estavam construindo


alguns aparelhos para o estudo da eletrostática. Para isso, seguiam as descrições
de um livro.
Ernesto tinha recortado um retângu-
lo de papel de uns 10 ´ 25 cm. Em seguida
prendeu duas tirinhas de papel de bala na
parte central desse retângulo, uma de
cada lado do papel. Depois, prendeu tudo
em dois canudos de refresco fixados em
massa de modelar (Figura 1). Isto feito,
carregou o conjunto, por contato, com um
canudo de refresco que tinha sido atritado Figura 1
com papel para ficar carregado. As duas
tirinhas de papel, uma de cada lado da
folha, afastaram-se, mostrando que nos Figura 3
dois lados da folha existiam cargas elétri-
cas (Figura 2).
Ernesto então juntou os dois canudos
de refresco, transformando a folha de pa-
pel numa superfície cilíndrica sem tocar
no papel (Figura 3). Dessa maneira, uma
Figura 2
das tirinhas de papel de bala ficou para
fora do cilindro e a outra ficou na sua parte Figura 4
interna.
O que Ernesto observou foi que a tirinha externa abriu um pouco mais,
enquanto a tira interna fechou. Parecia que dentro do cilindro de papel não
existiam cargas elétricas. E era verdade. As cargas, num condutor (vimos que o
papel pode ser um condutor), situam-se em sua parte externa. Para comprovar
isso mais uma vez, Ernesto inverteu o modo de fechar o papel para formar o
cilindro. Agora a tirinha que estava dentro ficou para fora e vice-versa. E o fato
se repetiu. A tirinha interna permaneceu fechada e a externa abriu-se bastante.
As cargas estão todas localizadas na superfície externa do cilindro. Então, se
considerarmos um ponto P dentro do cilindro (Figura 4), o campo gerado por
essas cargas vai ser nulo. Isso porque, se colocarmos nesse ponto uma carga de
prova positiva q, ela vai ser atraída igualmente por todos os lados. Dessa
maneira, podemos fazer duas afirmações que são de grande importância:
1. Num condutor carregado, as cargas se localizam nas partes mais periféricas A U L A
do mesmo.
2. O campo no interior de um condutor é nulo.
39
Como estão distribuidas as cargas na periferia de um condutor?

Ernesto ainda estava intrigado com a maneira pela qual as cargas se


distribuem num condutor.
- Veja! - disse a Roberto, repetindo o experimento que tinha realizado. -
As cargas ficam sempre na parte externa do papel. Mas elas ficam sempre
direitinhas?
- Como direitinhas? - perguntou Roberto.
- Sempre à mesma distância umas das outras.
- Isso vai depender do formato do corpo onde estão as cargas.
- Ainda não entendi!

- Veja um experimento descrito aqui no livro. Ele mostra que nem sempre
as cargas ficam separadas igualmente umas das outras. Vamos construir
um igual!
Roberto recortou, num pedaço de cartão,
uma espécie de raquete com uns 15 cm de
altura e 8 cm de largura. Em seguida, colou
nessa figura duas tirinhas de papel de bala.
Uma na parte superior, outra aproximada-
mente na metade da raquete. As tirinhas
eram coladas apenas pela parte superior.
Depois ele prendeu na parte posterior do
Figura 5
cartão um canudo de refresco e espetou o
conjunto num pedaço de massa de modelar.
(Figura 5)

Em seguida, usando um canudo carregado por atri-


to, Roberto carregou o corpo da raquete por contato.
Observou que a tirinha superior ficava mais aberta do
que a tirinha que estava na posição inferior (Figura 6).
Disse então para Ernesto:
- A tirinha de cima fica mais aberta que a de baixo
porque lá temos mais cargas. Isso porque essa região é Figura 6
mais estreita que a região de baixo. As cargas vão se
acumular nos lugares mais pontiagudos. Esse efeito é
chamado poder das pontas
pontas.

- Mas por que as cargas vão para as pontas e ficam espremidas lá, em lugar
de se espalhar regularmente, de maneira uniforme? - perguntou Ernesto.
- Deixe eu tentar explicar. Vamos supor que eu tenha uma esfera ou um
disco carregado. As cargas, nesse caso, estão espalhadas uniformemente.
Veja este desenho rque rfiz. Uma carga q é empurrada por duas cargas vizinhas
q 1 e q2 com forças F1 e F2 . As forças são iguais porque as distâncias são iguais.
A U L A Essas forças tentam empurrar a carga q para os lados e para fora. Como a carga
q não pode sair do corpo,r seu movimento
r só pode existirr para ros lados. As

39 componentes das forças r F


r1 e F2 são, respectivamente, F1T e F2T , que são
também iguais, pois F1 e F2 são iguais e q1 e q2 estão à mesma distância de q.
Logo, a carga q não vai sair do lugar, pois está sendo empurrada por forças
iguais, na mesma direção, porém com sentidos contrários. Como a carga não
vai mudar de lugar, teremos sempre uma distribuição uniforme de cargas ao
longo da periferia da esfera.
Veja agora o que acontece se o objeto tiver uma região mais pontiaguda
Figura 7 (Figura 8). Vamos supor ainda que as cargas estejam ditribuidas uniformemente, r
isto
r é: mais uma vez a carga q equidista
r de q e
r 1 2 q . Teremos também as forças F1
e F2 , que ainda são iguais, e as forças
r F1T e F2T , que
r empurram r q tangencialmente.
Acontece que, nesse caso, r F2T é maior que Fr1T , porque F2T estár praticamente
r direção tangente. Então, F2T é quase igual a F2 , enquanto que F1T é menor que
na
F1 . Dessa maneira,
r arcarga q vai ser empurrada na direção de q1 até que as duas
componentes F1T e F2T se tornem iguais. Então, q ficará mais próxima de q1 do
que de q2. Assim teremos um acúmulo de cargas nas regiões próximas à ponta
do condutor. As cargas acumulam-se nas pontas. É por essa razão que os pára-
raios são construídos em forma de pontas.
Para entender um pouco mais esse assunto e aprofundar o estudo da
eletrostática, precisamos de novos conceitos: diferença de potencial, voltagem
Figura 8 e outros.

Energia potencial elétrica

Estudando o movimento dos corpos


quando abandonados à ação do campo
gravitacional terrestre, vimos que, quando
um objeto de massa m está a uma determina-
da altura h, ele possui uma energia potencial.
Se esse objeto for largado daquela altura, vai
ser atraído pela Terra por uma força constan-
Figura 9
te. Ele adquire velocidade e, portanto, ener-
gia cinética (Figura 9).

De maneira análoga, se uma carga está entre as


placas de um capacitor, essa carga vai sofrer a ação de
uma força constante que a empurra na direção de uma
das placas. Assim a carga adquire velocidade e, portan-
to, energia cinética (Figura 10). Então, em cada ponto da
região entre as placas de um capacitor, uma carga tem
Figura 10 uma energia: uma energia potencial elétrica
elétrica.

Vamos ver como é possível calcular a energia potencial elétrica de uma carga
entre as placas de um capacitor por meio de uma comparação com o campo
gravitacional. No caso de um objeto na Terra, podemos aumentar a energia
potencial do objeto de massa m, elevando-o até uma altura maior. Assim, se ele
for solto daquela posição, chegará à Terra com maior velocidade, isto é, com
maior energia cinética. Para aumentar a energia potencial, ou seja, para aumen-
tar a altura do objeto, precisamos realizar um trabalho. É possível fazer isso
transportando o objeto a um nivel mais alto, sem acelerar esse objeto.
No caso de uma carga entre as placas de um capacitor, para aumentar sua A U L A
energia potencial elétrica é preciso aumentar a distância entre essa carga e uma
das placas do capacitor. Para isso, precisamos exercer uma força sobre essa carga
e deslocá-la, ou seja, realizar um trabalho. Também nesse caso o movimento da 39
carga durante o deslocamento deve ser uniforme. Quando executarmos esse
trabalho, vamos permitir que a carga chegue à outra placa com maior velocidade.
Estaremos aumentando, assim, sua energia potencial elétrica. O trabalho que foi
exercido representa o aumento dessa energia.
Como o trabalho é medido pelo produto da força pelo deslocamento Dd, e a
força pode ser representada pelo produto do valor do campo E pela carga q, a
variação da energia potencial elétrica DEp será representada por:

DEp = q · E · Dd

Passo a passo
-8 -6
Uma partícula cuja massa é 5 · 10 kg possui uma carga de 2 · 10 C e está
presa num ponto A, situado a 2 cm da placa negativa de um capacitor de placas
3
paralelas no qual existe um campo de 3 · 10 N/C. A distância entre as placas do
capacitor é 6 cm e supomos que a influência do campo gravitacional seja nula.
1. Se a carga for solta desse ponto, com que energia cinética chegará à outra
placa?
2. Qual seria o trabalho que deveríamos realizar para levar a carga do ponto A
a um ponto B situado a 4 cm da placa negativa?
3. Se a carga fosse solta do ponto B, com que energia cinética chegaria à placa
negativa?

1. A força, constante, que atua sobre a carga vale: Figura 11


F=E·q
F = 3 · 103 N/C · 2 · 10-6 C
F = 6 · 10-3 N

Podemos, agora, calcular a aceleração a que fica


submetida a partícula.
-3
F 6 · 10 N
= = 1,2 · 10 m/s
5 2
a= -8
m 5 · 10 Kg

O movimento é uniformemente variado. Então podemos determinar a


velocidade final utilizando a fórmula de Torricelli.
v = v0 + 2 · a · Dd
2 2
Figura 12
v = 2 · a · Dd
2

v2 = 2 · 1,2 · 105m/s2 · 2 · 10-2m


2 3 2
v = 4,8 · 10 (m/s)

A energia cinética ficará assim:


2 -8 3
m·v 5 · 10 · 4,8 · 10
EC = = = 1,2 · 10-4 J
2 2
A U L A 2. Para calcular o trabalho tAB necessário para levar a carga do ponto A ao
ponto B, usamos o valor da força e do deslocamento. Teremos:

39 -3 -2
tAB = 6 · 10 N · 2 · 10 m = 1,2 · 10 J
-4

3. Se a carga for solta do ponto B, é possivel calcular a velocidade com que


atinge a placa negativa e qual a sua energia cinética. Como foi feito
anteriomente, teremos:
v = v0 + 2 · a · Dd
2 2

v = 2 · a · Dd
2
2 5 2 -2
v = 2 · 1,2 · 10 m/s · 4 · 10 m
2 3 2
v = 9,6 · 10 (m/s)

A energia cinética ficará assim:


9,6 ⋅ 103 ⋅ 5 ⋅ 10−8 -4
EC = = 22,4
,4 ⋅·10
10− 4 J
2
Dessa maneira, quando levamos a partícula do ponto A ao ponto B,
estamos aumentando sua energia potencial elétrica. Essa variação é medida
pelo trabalho que estamos executando para levar a carga de um ponto ao outro.
Note que, quando a partícula é solta do ponto A, ela atinge a placa oposta com
-4
uma energia cinética de 1,2 · 10 J. Quando ela é solta do ponto B, chega com
-4
uma energia cinética de 2,4 · 10 J. Ou seja: houve um aumento de energia de
-4
1,2 · 10 J. Esse aumento de energia é exatamente igual ao trabalho realizado
para transportar a carga do ponto A ao ponto B.

Potencial elétrico num campo uniforme

No exemplo anterior, para transportar a carga do ponto A ao ponto B dentro


-4
do campo elétrico do capacitor foi necessário realizar um trabalho de 1,2 · 10 J.
-6
O valor da carga transportada era 2 · 10 C. Como o trabalho pode ser calculado
pela relação
tAB = E · q · Dd

se tivéssemos uma carga com o dobro do valor, o valor do trabalho necessário


para deslocá-la de entre esses mesmos dois pontos também dobraria. Isto é, se a
-6
carga tivesse valor de 4 · 10 C, o trabalho necessário para seu transporte seria
-4
2,4 · 10 J. Se dividirmos o valor do trabalho pelo valor da carga transportada,
teremos, no primeiro caso:
τ AB 1,2 ⋅ 10 −4 J
= = 60
60J/C
J/C
q 2 ⋅ 10 − 6 C
No segundo caso, esse valor seria:
τ AB 2,4 ⋅ 10 −4 J
= = 60
60J/C
J/C
q 4 ⋅ 10 − 6 C
Ou seja: dentro desse capacitor, para transportar uma partícula carregada
do ponto A ao ponto B, necessitamos efetuar um trabalho de 60 joules para cada
coulomb de carga transportado.
Isso pode ser dito de outra maneira. Podemos afirmar que, entre os pontos A U L A
A e B, existe uma diferença de potencial elétrico de 60 J/C. A relação entre essas
duas unidades, joule e coulomb, é tão importante que recebeu um nome
próprio: volt
volt, cujo símbolo é V. 39
Finalmente, podemos dizer que entre os pontos A e B do capacitor existe
uma difereça de potencial de 60 V. Representaremos a diferença de potencial por
DV.

Como o trabalho é calculado por tAB = E · q · Dd, a diferença de potencial


elétrico entre dois pontos num campo uniforme vai ser dada por:
τ AB E ⋅ q ⋅ ∆d
= = E ·⋅ Dd
∆d
q q

DV = E · Dd

Utilizando essa relação, podemos saber qual a diferença de potencial


elétrico entre as duas placas do capacitor que estão separadas por uma
-2 3
distância de 6 cm, ou seja, 6 · 10 m. Como o campo vale 3 · 10 N/C, teremos:
-2
DV = E · Dd = 3 · 10 · 6 · 10 = 180V
3

Faíscas elétricas

Ernesto estava intrigado com o resultado.


- 180 V?! Então isso não pode ocorrer nos aparelhinhos de cartão e papel
que estamos construindo. Mesmo que conseguíssemos fazer um capacitor como
esse que foi descrito, acho que não poderíamos ter 180 V. Senão, a gente tomaria
um choque bem grande se tocasse o dedo no capacitor!
- Não é bem assim. Nós podemos ter dois objetos carregados e que tenham
uma grande diferença de potencial elétrico sem que isso cause problemas. Nem
sempre um choque de 180 V é perigoso.
- Como? Eu é que não quero tomar um choque desses!
- Não precisa ter medo. Vou mostrar que isso é verdade.

Roberto começou a construir a “igreji-


nha” que está representada na Figura 13.
Ele recortou uma figura parecida com uma
igreja e colou uma tirinha de papel de bala
na “torre” dela. Depois, com fita adesiva,
pregou na igreja um pedaço de arame (para
simular um pára-raios) e um canudo de
refresco (para servir de suporte). Em se-
guida, espetou o conjunto num pedaço de
massa de modelar. Na realidade, acabara
de construir um eletroscópio um pouco
modificado.
Figura 13
A U L A Roberto carregou um canudo de refresco por atrito e falou para Ernesto:
- Veja, vou passar o canudo de refresco perto do arame da igreja. Não vou

39 tocar o arame com o canudo, vou passar o canudo a uma distância de 1 cm do


arame. O arame está fazendo o papel do pára-raios da igreja e o canudo
representa uma nuvem carregada. Observe o que acontece com a tirinha de
papel de bala.
- Ah! Ela começa a subir! A igreja está carregada!
(Figura 14)
- Exatamente! Mas como ela foi carregada? Por atrito?
Por indução? Por contato?
- Humm... Por atrito não foi. Por contato, também não.
Poderia ser por indução. Então a carga da tirinha deveria ser Figura 14
contrária à carga do canudo. Coloque o canudo perto da
tirinha para eu ver se ela é atraida pelo canudo.
Roberto faz o que Ernesto pede.
- Ih! Foi repelida! O canudo, a tirinha e a igreja, todos
têm a mesma carga. Então... A igreja não foi carregada por
indução. Nem por atrito, nem por contato, nem por indução.
Ora, como então foi carregada a igreja?
- Foi um raio!
- O quê?
- Exatamente isso. Foi uma faísca elétrica. Foi uma faísca elétrica pequena.
Quase não dá para perceber. Mas, como você percebeu, as cargas “pularam” do
canudo para a igreja. Você viu que as cargas do canudo e da igreja eram do
mesmo sinal.
- E como é que acontece isso?
- Você já sabe que as cargas elétricas se acumulam nas regiões pontiagudas
dos condutores. Quando aproximamos o canudo do arame, um número muito
grande de cargas vai ficar naquela região. Então o campo elétrico vai ficar muito
intenso. Tão intenso que é capaz de arrancar elétrons dos átomos do ar. O ar fica
ionizado e torna-se um bom condutor. Dessa maneira, as cargas passam do
canudo à igreja por meio do ar. Mas, para isso, devemos ter um campo de
1.000.000 N/C. Entendeu?
- Mais ou menos. Não entendi direito esse campo.
- Veja, podemos usar outras unidades para o campo elétrico. Em lugar de
usar N/C, podemos usar V/m.

A definição de campo nos diz:


F (newtons)
E = =
q (coulombs)

Porém, como a definição de potencial diz que DV = E · Dd, podemos dizer que:

∆V (volts)
E = =
∆d (metros)

Um campo de 1.000.000 N/C é o mesmo que um campo de 1.000.000 V/m.


Podemos falar que esse campo vale 10.000 V/cm. Então, para que o ar se torne
condutor, necessitamos de 10.000 V/cm. Como o canudo estava a 1 cm do arame
e passaram cargas para a igreja, isso significa que a diferença de potencial entre
o canudo e o pára-raios era de mais de 10.000 V V!
Nesta aula você aprendeu: A U L A

· que as cargas, num condutor, estão em suas regiões periféricas;


39
· que o campo no interior de um condutor é nulo;

· o que é energia potencial elétrica e potencial elétrico;

· que as cargas se acumulam nas regiões pontiagudas dos condutores.

Exercício 1
A figura abaixo mostra esquematicamente um capacitor de placas para-
lelas e as linhas de campo desse capacitor. Qual é a placa positiva? Qual
o trabalho para mover um elétron por toda a extensão desse capacitor?
Qual a diferença de potencial entre as duas placas? A carga do elétron
-19
vale 1,6 · 19 C.

Exercício 2
Um capacitor de placas paralelas está submetido a uma diferença de
potencial de 100V. A distância entre as placas é 5 cm. Determine a
variação de energia potencial elétrica de um elétron que é abandonado na
placa negativa e chega à placa positiva. Sabendo-se que a massa do
-31
elétron é 9,1 · 10 kg, com que velocidade o elétron atinge a placa
positiva?
A UA UL L AA

40
40
Paaaai,
o chuveiro pifou!

E ra sábado, dia de baile, noite fria e chuvosa,


quando o garotão deu esse grito desesperado. Todo molhado, tiritando de frio,
Ernesto fazia o seu protesto:
- Esse chuveiro é uma droga!
- Não é o chuveiro, deve ser o fusível - respondeu Roberto, pacientemente.
- Também, com tudo ligado nesta casa, não há fusível que agüente! - acrescen-
tou, já menos paciente...
A história teve um final quase feliz. Roberto, prevenido, tinha um fusível de
reserva. E, mais prevenido ainda, decretou:
- Enquanto alguém toma banho, desliga-se a televisão! - e fingiu que não
ouvia, agora, o protesto de Cristiana, inconformada:
- Isso é ridículo!
Será que é mesmo? O que tem a ver o chuveiro elétrico com o fusível? E por
que desligar a televisão para tomar banho, ou melhor, quando se liga o chuveiro?
Esse é o tema de nossas próximas aulas. A resposta completa a todas essas
perguntas virá aos poucos, completando-se no final das aulas. Será uma pequena
novela em quatro capítulos - e o primeiro capítulo você vai ver, ou estudar, nesta
aula sobre corrente elétrica.

A corrente elétrica

Nas aulas anteriores, você foi apresentado ao personagem principal da


eletricidade, o elétron
elétron. É essa partícula, incrivelmente pequena, que se movi-
menta pelos fios e aciona todos os aparelhos elétricos das nossas casas. O elétron
é o principal componente ou portador da corrente elétrica, sobretudo nos
sólidos, embora haja correntes elétricas cujos portadores são íons negativos,
positivos ou ambos. Até mesmo “buracos” podem ser portadores da corrente
elétrica, como veremos mais adiante.
A origem da palavra corrente está ligada a uma analogia que os físicos do
início do século XIX estabeleceram entre a eletricidade e a água. Eles imaginavam
que a eletricidade era, como a água, um fluido, algo que pudesse fluir ou escorrer
como água corrente. Os fios seriam os encanamentos por onde passava essa
corrente de eletricidade.
Hoje sabemos que essa comparação raramente A U
Figura L A seção
1. Uma
corresponde à realidade, principalmente em rela-

40
transversal (área
ção à corrente elétrica de nossas casas. Mas a hachurada) é um corte
imaginário
expressão ficou. De qualquer forma, se um fio perpendicular ao eixo
condutor é percorrido por uma corrente elétrica, do condutor.
há de fato um movimento de cargas percorrendo o
condutor. Ocorre que esse movimento nem sem-
pre é contínuo: em geral, ele é oscilante. Mas isso
nós veremos mais tarde. Por enquanto vamos de-
finir, matematicamente, a corrente elétrica.

Suponha que uma certa quantidade de carga Dq atravesse uma seção


transversal de um condutor (veja a Figura 1) num intervalo de tempo Dt. Define-
se a corrente elétrica i que percorre esse condutor pela expressão:
∆q
i=
∆t
A unidade de corrente elétrica, no SI, é o ampère
ampère, cujo símbolo é A .
Um condutor é percorrido por uma corrente elétrica de 1 A se uma seção
transversal desse condutor é atravessada por uma unidade de carga, Dq = 1C,
na unidade de tempo Dt = 1s :
1C
1A =
1s
A corrente elétrica, além de ser uma grandeza física usada com muita
freqüência, tem valores de ordem de grandeza muito variada. Por essa razão é
muito comum o uso de submúltiplos do ampère, sendo os mais comuns o
miliampère
miliampère, (mA), e o microampère
microampère, (mA).

As relações destes submúltiplos com o ampère são:


-3
1mA = 10 A
-6
1mA = 10 A

Como toda carga elétrica é múltipla da carga e do elétron, a expressão da


quantidade de carga pode ser escrita como:
Dq = n · e
-19
onde n é um número inteiro e e = 1,6 · 10 C. (Lembre-se de que C é o símbolo
de coloumb, unidade de carga elétrica). Portanto, a corrente elétrica pode ser
expressa, também, na forma:
n ⋅ e
i =
∆t

Passo a passo

1. Efetue as seguintes transformações:


a) 50 mA em A
b) 240 mA em A
c) 0,78 A em mA
d) 0,0049 A em mA
A U L A Solução:

40 a) Se 1 mA = 10-3A, então 50 mA = 50 · 10-3A Þ 50 mA = 5 · 10-22A

b) Se 1 mA = 10-6A, então 240 mA = 240 · 10-6A Þ 240 mA


A = 2,4 · 10-44A
-3
Se 1 mA = 10 A Þ 1 A = 10 mA.
3
c)
-2
Então 0,78 A = 0,78 · 10 mA Þ 0,78 A = 78 · 10 · 10 mA Þ
3 3

Þ 0,78 A = 78 · 10 mA Þ 0,78 A = 780 mA


1

d) Se 1 mA = 10-6 A Þ 1 A = 106 mA
-4
Então 0,0049 A = 0,0049 · 10 mA Þ 0,0049 A = 49 · 10 · 10 mA Þ
6 6

Þ 0,0049 A = 49 · 10 A Þ 0,0049 A = 4.900 mA


2
A

2. Num relâmpago avalia-se que, em apenas 1 décimo de milésimo de segun-


do, descem de uma nuvem para a Terra, em média, cerca de 20 quintilhões
18
(10 ) de elétrons. Qual a corrente elétrica média equivalente a esse fantástico
movimento de cargas elétricas ?

Solução:
Como a carga do elétron é e = 1,6 · 10-19 C, a quantidade total de carga
escoada no relâmpago é de:
-19 -1
Dq = n · e Þ Dq = 20 · 10 · 1,6 · 10 C Þ Dq = 32 · 10 C Þ Dq = 3,2C
18

Como o tempo para o escoamento dessa carga é Dt = 0,0001 s, temos:

∆q 3, 2
i= ⇒i=
∆t 0 , 0001
i = 32.000 A

3. Um fio condutor é percorrido por uma corrente elétrica de 5 A.

a) Qual a carga elétrica que atravessa uma seção transversal desse condutor
em 10 segundos?
b) Qual o número de elétrons que atravessa essa seção transversal nesse
intervalo de tempo?

Solução:

Aplicando a definição de corrente elétrica, obtemos:

∆q
i= ⇒ ∆q=
Dq = i ⋅· ∆ ⇒ Dq
Dtt Þ ∆q = A ⋅ ·10s
= 55A 10s ⇒
Þ∆Dq
q== 50A ⋅· s Þ
⇒ Dq
∆q == 50C
50C
∆t

∆q 50
Como Dq = n · e, n = ⇒ n= ⇒ n= ,125 ⋅·10
= 33,125
20
1020 elétrons
e 1,6 ⋅ 10 − 19
Sentido da corrente elétrica A U L A

Antes de descobrir o elétron e sua carga, no final do século XIX, os físicos já


tinham desenvolvido toda a teoria da eletricidade e estabelecido um sentido 40
para a corrente elétrica. Como não se sabia qual a natureza da carga elétrica que
percorria os condutores, admitiu-se que ela se constituísse de um fluxo de cargas
positivas.
Quando se descobriu que os portadores de carga
eram, na grande maioria das vezes, elétrons (cargas
negativas, portanto), ficou claro que o sentido real da i Cargas Negativas
corrente elétrica era contrário ao suposto na teoria. Mas,
fisicamente, o movimento de uma carga elétrica positi-
va num determinado sentido equivale ao movimento Figura 2
de uma carga negativa no sentido oposto oposto. Por essa O sentido real e
razão, os físicos optaram por manter o sentido que convencional da
corrente elétrica.
haviam estabelecido anteriormente, passando a
considerá-lo como convencional (veja a Figura 2).
Essa convenção é válida até hoje e será adotada neste livro, mas já não é
unânime como antigamente. Em eletrônica, por exemplo, costuma-se utilizar o
sentido real do movimento dos elétrons, porque isso torna mais fácil a compre-
ensão dos fenômenos nela estudados.
Quando a corrente elétrica se constitui de íons posi- Figura 3
i O sentido da corrente
tivos e negativos, o que ocorre costumeiramente em elétrica em líquidos e
líquidos e gases, adota-se o sentido dos íons positivos gases.
(veja a Figura 3). Em materiais semicondutores aparece
um fenômeno interessante. Alguns desses materiais são
b
construídos de forma a se introduzirem, na sua estrutu-
ra, buracos ou lacunas, regiões onde deveria estar um
elétron. Quando um elétron ocupa esse espaço, o buraco Figura 4
O movimento de um
se “desloca” para o lugar onde estava o elétron. Se buraco positivamente
outros elétrons forem ocupando, sucessivamente, esse b carregado: à medida
espaço, vai surgir um movimento aparente de um bura- que os elétrons vão
co positivamente carregado
carregado, já que ele é a ausência de ocupando o buraco,
este se desloca pelo
uma carga negativa (veja a Figura 4) semicondutor.
Mas o que faz um elétron se deslocar para um lado ou b
outro em um condutor? Em outra palavras, o que produz
uma corrente elétrica?

Figura 5
O campo elétrico e a corrente elétrica Aqui estão
d representados
O que faz um elétron, lá no meio de esquematicamente os
movimentos de um
um condutor, mover-se mais para um elétron num condutor.
lado do que para o outro? Na verdade, os A linha tracejada
elétrons movimentam-se sempre, contí- representa esse
nua e desordenadamente, em todas das movimento na ausência
de um campo elétrico E.
direções. O que caracteriza a corrente A linha cheia representa
elétrica é que esse movimento contínuo e esse movimento quando
desordenado passa a ter um sentido pre- o campo elétrico está
presente. A seta indica o
ferencial, num lento deslocamento deslocamento real que dá
(veja a Figura 5). origem à corrente
elétrica.
A U L A É algo parecido a uma escola de samba desfilando na avenida: os elétrons
são frenéticos passistas. Embora se movimentem, ou “dancem”, executando

40 seus passos com velocidades fantásticas, a velocidade média do conjunto dos


elétrons ao longo do condutor é muito pequena: apenas alguns centímetros
por hora! Também aqui há uma semelhança com o que ocorre com uma escola
de samba. Em seu conjunto, ela sempre se desloca a uma velocidade muito
menor que a de qualquer de seus componentes enquanto executam suas
coreografias.
Você pode estar pensando: como é que a corrente elétrica, andando tão
devagar, acende a lâmpada do quarto instantaneamente, quando ligamos o
interruptor? É aí que aparece o papel do campo elétrico elétrico. O que faz um
elétron se mover predominantemente num determinado sentido, e não em
outro, é o aparecimento de um campo elétrico no lugar em que esse elétron
se encontra.
Como você viu no estudo da eletrostática, se uma carga elétrica é colocada
numa região do espaço onde existe um campo elétrico, ela sofre a ação de uma
força e tende a se deslocar. É por isso que a lâmpada do seu quarto acende
instantaneamente. Os elétrons que fazem o filamento da lâmpada se tornar
incandescente não precisam sair do interruptor e percorrer o fio até chegar ao
filamento: eles já estão no filamento
filamento, movendo-se contínua e desorde-
nadamente. Para que esse movimento provoque o acendimento da lâmpada é
preciso que os elétrons recebam uma “ordem” para se deslocar num determi-
nado sentido. Essa “ordem” é dada pelo campo elétrico, que passa a percorrer
o fio assim que você liga o interruptor. Como o campo elétrico se propaga a uma
velocidade fantástica, próxima à velocidade da luz no vácuo, a lâmpada se
acende instantaneamente.
É importante lembrar que o campo elétrico às vezes aponta num só
sentido, fazendo que aquela multidão de elétrons se mova continuamente
num só sentido
sentido. Nesse caso a corrente elétrica é conhecida como corrente
contínua
contínua. É a corrente gerada por pilhas e baterias e a que percorre a grande
maioria dos aparelhos eletrônicos. Em outros casos, o campo elétrico oscila,
isto é, se alterna, fazendo com que aquela multidão de elétrons se movimente
ora num sentido, ora no sentido oposto oposto. Nesse caso, a corrente elétrica é
conhecida como corrente alternada
alternada. É esse tipo de corrente que as companhi-
as de eletricidade fornecem às nossas casas.

Você acaba de aprender algumas noções importantes sobre eletricidade,


que podem ajudá-lo a entender o que aconteceu na história do início desta aula.
A corrente elétrica é um fluxo de cargas elétricas, quase sempre elétrons, que
se movem predominantemente num sentido. Esse sentido pode ser único ou
ter movimento de vaivém. O movimento de vaivém acontece quando, na
região onde os elétrons se encontram, aparece um campo elétrico oscilante.
Os fios condutores, além fornecer e permitir o movimento dos elétrons, são
também, e principalmente, o caminho ou guia que permite a propagação do
campo elétrico. Se algo interromper um fio, cortando-o, por exemplo, o campo
elétrico não chega até os elétrons. Eles continuam se movendo incessantemen-
te, mas sem um sentido que predomine. É mais ou menos como se um grande
carro alegórico quebrasse em meio ao desfile de uma escola de samba. Certa-
mente seus componentes continuariam sambando, mas sem um sentido que
predominasse no seu movimento: nem contínuo, nem de vaivém.
Foi o que ocorreu na nossa história, quando o chuveiro deixou de funcionar
porque o fusível queimou. O fusível, na realidade, não queima: ele derrete ou se
funde (por isso se chama fusível). Ao derreter, ele interrompe a passagem do campo A U L A
elétrico e, conseqüentemente, deixa de existir a corrente elétrica. Como na escola de
samba com o carro alegórico quebrado, os elétrons continuam se movendo no
chuveiro, mas sem uma orientação determinada. Por isso o chuveiro não funciona. 40
Nesta aula você aprendeu:
· a definir e calcular a intensidade de uma corrente elétrica;
· a unidade de corrente elétrica, seus múltiplos e submúltiplos mais importan-
tes e como transformá-los;
· que o sentido real do movimento dos elétrons é oposto ao movimento
convencional da corrente elétrica;
· que existem dois tipos de corrente elétrica, contínua e alternada.
Mas ainda há muita coisa por explicar. De onde vem esse campo elétrico?
Como ele é produzido ou gerado? Por que o chuveiro esquenta e o fusível
derrete? Esse é o assunto das próximas aulas.

Exercício 1
Transforme em miliampères, mA:
a) 10 A
b) 0,25 A
c) 0,0085 A
Exercício 2
Transforme em microampères, mA:
a) 5 A
b) 0,006 A
c) 0,000045 A
Exercício 3
Transforme em ampères, A:
a) 20 mA
b) 680 mA
c) 2300 mA
d) 500 mA
e) 3800 mA
f) 8880000 mA
Exercício 4
A seção transversal de um condutor é atravessada por um fluxo de 1 bilhão (109)
elétrons em apenas 0,2 segundos. Qual a corrente elétrica que percorre esse
condutor ?
Exercício 5
Um fio condutor é percorrido por uma corrente elétrica de 0,25 A.
a) qual a carga elétrica que atravessa uma seção transversal desse condutor
em 20 segundos?
b) qual o número de elétrons que atravessa a seção transversal nesse
intervalo de tempo?
A UA UL L AA

41
41
Me deixa passar,
senão eu esquento!

A nossa história do banho interrompido - ou


do fusível queimado - continuou alguns dias depois, quando o ambiente
familiar estava mais amigável.
- Ô, pai, como é que naquele dia você sabia que era o fusível que tinha
queimado? Não podia ser o chuveiro? - perguntou Ernesto intrigado.
- Eu chutei, filho - respondeu Roberto com sinceridade. - A casa estava
toda acesa, essa televisãozona ligada, você liga o chuveiro e ele pifa... tinha de ser
o fusível!
- Mas o que o fusível tem com isso? - quis saber Ernesto.
- É que, quando tem muita coisa ligada, muita corrente é puxada e o fusível
não agüenta. Por isso que eu mandei desligar a televisão, senão queimava de
novo! - explicou Roberto corretamente, embora sem muito rigor científico.
- E a mãe ainda falou que era ridículo... Ridículo era tomar banho frio, né,
pai? - arrematou politicamente o filho.
Mas Ernesto não ficou sem resposta. Cristiana, que ouvia tudo lá do quarto,
não perdoou:
- Ridículo sim, queridinho! Na casa das minhas amigas ninguém desliga a
televisão para tomar banho, só na maravilhosa casa do seu papaizinho, o gênio
da eletricidade!
É claro que a conversa não parou por aí. Provavelmente esquentou um pouco
mais e deve ter até queimado alguns “fusíveis”. Mas isso já não tem mais nada
a ver com a nossa aula...
Até esse ponto, no entanto, a conversa ilustra muito bem o que vamos
estudar agora. Você já viu, nas aulas anteriores, que para uma carga elétrica se
movimentar num determinado sentido é preciso que sobre ela atue um campo
elétrico. Ou que ela esteja submetida a uma diferença de potencial. Você também
já sabe que há bons e maus condutores de eletricidade, ou seja, alguns materiais
resistem mais, outros menos, à passagem da corrente elétrica. Essa resistência
pode ser medida, assim como seu efeito principal - o calor gerado, origem dos
primeiros eletrodomésticos.
Mais adiante você vai ver que Roberto, de fato, sabia o que estava falando,
mas que Cristiana também tinha razão. Numa instalação elétrica projetada
adequadamente, os fusíveis não queimam facilmente. Aliás, em geral, nem se
usam mais fusíveis - usam-se disjuntores, que têm a mesma função mas não
queimam, simplesmente “desarmam”.
Mas isso fica para depois: já temos assunto suficiente para esta aula.
Diferença de potencial A U L A

Nas aulas anteriores, vimos dois conceitos que explicavam a mesma coisa
de formas diferentes: campo elétrico e potencial elétrico. Uma carga elétrica 41
só se movimenta de um ponto para outro de uma região do espaço se, nessa
região, houver um campo elétrico elétrico.
Esse movimento pode ser
explicado, também, pelo con-
ceito de diferença de potencial.
Nesse caso, dizemos que uma
carga elétrica só se movimen-
ta de um ponto para outro de
uma região do espaço se, en-
tre esses dois pontos, houver
uma diferença de potencial
potencial.
Para entender a diferença
entre essas explicações, supo-
nha que uma pedra rola do
alto de uma ribanceira. Você
pode dizer que ela cai devido
ao campo gravitacional, ou
que ela cai porque estava num
ponto mais alto e tende a vir
para um ponto mais baixo
devido à diferença de poten-
cial gravitacional.
Figura 1. A carga®q vai de A para B devido
ao campo elétrico E, ou devido à presença de
São explicações equiva-
potencial elétrico entre A e B. Da mesma forma, lentes. Pode-se adotar uma ou
a pedra rola de A para B devido ao campo
®
outra. Em eletricidade costu-
gravitacional g ou devido à diferença ma-se adotar a segunda, a da
de potencial gravitacional entre A e B.
diferença de potencial, por ser
mais simples (veja a Figura 1).
Dessa forma, para que as cargas elétricas de um condutor se movimentem
predominantemente num determinado sentido, de um ponto para outro, é
preciso que entre esses pontos se estabeleça uma diferença de potencial
potencial. Como
você já viu, a unidade de diferença de potencial no SI é o voltvolt. Por isso também
é costume chamar a diferença de potencial de voltagem
voltagem.

Resistência elétrica e lei de Ohm

Pelo que vimos até aqui, para que haja uma corrente elétrica entre dois
pontos de um condutor - as suas extremidade, por exemplo - é necessária uma
diferença de potencial entre esses dois pontos. Mas que relação existe entre
essas duas grandezas? Qual o valor da corrente elétrica que passa por um
condutor quando suas extremidades são ligadas a uma determinada diferença
de potencial?
Essa relação foi estabelecida em 1827 pelo físico alemão Georg Simon Ohm.
Ele percebeu que, dependendo do condutor, a mesma diferença de potencial
poderia gerar correntes elétricas de intensidades diferentes. Isso significa que
alguns condutores “resistem” mais à passagem da corrente que outros, ou seja,
alguns corpos têm resistência elétrica maior do que outros.
A U L A Ohm definiu a resistência elétrica de um condutor pela razão entre a
diferença de potencial aplicada a esse condutor e a corrente que o atravessa. Se

41 denominarmos V a diferença de potencial e i a intensidade da corrente elétrica,


R ) de um condutor pela expressão:
podemos definir a resistência elétrica (R
V
R=
i
Como, no SI, a unidade de diferença de potencial é o volt (V) e a de corrente
elétrica é o ampère (A), a unidade de resistência elétrica será dada pela relação
volts/ampère, que recebe o nome de ohm ohm, tendo como símbolo a letra grega
ômega, maiúscula, W.
Da definição de resistência elétrica, pode-se tirar a expressão:
V = R·i
conhecida como lei de Ohm
Ohm.

Passo a passo

1. Um fio condutor, ligado a uma diferença de potencial de 3 V, é percorrido


por uma corrente elétrica de 0,5 A. Qual a resistência elétrica desse fio?

Solução:

Basta aplicar a definição de resistência elétrica, R = V .


Como V = 3 V e i = 0,5 A, temos: i
R = 3 V · 0,5 A
R = 66W

Resistores lineares

Qualquer pedaço de fio condutor é percorrido por uma corrente elétrica


quando submetido a uma determinada diferença de potencial. Esse fio tem,
nessas condições, uma resistência elétri-
ca definida. Ele é um resistor
resistor, represen-
tado simbolicamente pela desenho da
Figura 2. Figura 2. Símbolo gráfico do resistor.
Na prática, os resistores são fabricados industrialmente e vendidos no
comércio com determinadas especificações de uso, chamadas de valores nomi-
nais
nais. São utilizados nas aplicações práticas da eletricidade, quase sempre para
aquecimento. Na eletrônica são usados, em geral, para adequar os valores da
corrente elétrica às necessidades de cada montagem, circuito, equipamento etc.
Quando o valor da resistência elétrica R de um resistor é constante, a lei de
Ohm torna-se uma função linear linear. Isso significa que, se esse resistor for
submetido a diferentes valores de V , ele será percorrido por diferentes valores
de i . Mas os valores de i serão sempre diretamente proporcionais a V. Em
outras palavras, o gráfico V ´ i será uma reta. Por isso, nesse caso, o resistor é
chamado de linear
linear. Veja o exemplo 2.
Passo a passo A U L A

2. Um resistor tem o valor constante R = 10 W. Preencha a tabela abaixo,


determinando o valor de i para cada valor de V sugerido na tabela. Com os 41
valores obtidos, construa o gráfico V ´ i.

V(volts) 2 4 6 8 10 12 14 16

i(ampères)

Solução:
Aplicando a lei de Ohm, V = R · i, podemos obter os valores de i pela relação
i = V ¸ R, onde R = 10 W. A tabela ficará, então, com os seguintes valores:

V(volts) 2 4 6 8 10 12 14 16

i(ampères) 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6

A partir desses valores pode-se construir o gráfico V ´ i, como você vê na


Figura 3.

Figura 3. Gráfico V ´ i.

Como em toda função linear, o coeficiente angular da reta (tangente do


ângulo que a reta forma com o eixo das abscissas) é igual à constante de
proporcionalidade. Nesse caso, essa constante de proporcionalidade é R, valor
da resistência elétrica do resistor. Veja na Figura 3 que, em qualquer ponto da reta,
V
tg α = ⇒ tg a = R = 10 W
i

Resistores não lineares

Os resistores nem sempre têm um valor constante. Em geral, isso ocorre


apenas dentro de um determinado intervalo de valores da corrente elétrica.
Quando o valor do resistor é variável, dizemos que ele é um resistor não-linear
não-linear,
pois o seu gráfico V ´ i deixa de ser uma reta.
Na maioria dos casos, o valor dos resistores aumenta com o aumento da
corrente elétrica. Isso ocorre porque esse valor quase sempre aumenta com o
aumento da temperatura, e a temperatura sempre aumenta com o aumento da
A U L A corrente elétrica. Por isso é que os resistores destinados especificamente ao
aquecimento - como aqueles utilizados em ferros elétricos, chuveiros e torneiras

41 elétricas ou mesmo no filamento de lâmpadas de incandescência - têm um valor


variável que aumenta com a temperatura.
Existem alguns resistores construídos especialmente para que o seu valor
diminua com o aumento da corrente. São conhecidos por uma sigla, VDR, que,
em inglês significa “resistor que depende da voltagem”. Veja os gráficos V ´ i,
que correspondem a esses resistores, na Figura 4.

Figura 4. Gráficos de resistores não lineares:


I) gráfico do filamento de uma lâmpada;
II) gráfico de um VDR (voltage dependent resistor)

Resistividade elétrica

Já vimos que a resistência elétrica de um condutor está relacionada à maior


ou menor facilidade com que esse condutor permite a passagem da corrente
elétrica. Num fio condutor, essa facilidade ou dificuldade depende de três
comprimento, l; da sua espessura, bitola ou, mais corretamente,
fatores: do seu comprimento
área da seção transversal
transversal, S ; de uma constante que depende do material de que
é feito esse condutor. Essa constante é a chamada resistividade
resistividade, representada
pela letra grega r (rô). Pode-se expressar o valor da resistência elétrica de um fio
em função de todos esses fatores pela relação:
l
R=ρ
S

É fácil ver, por essa expressão, que R é diretamente proporcional a l - quanto


maior o comprimento do fio, maior a sua resistência elétrica - e inversamente
proporcional à sua área de seção transversal - quanto maior a área, menor a
resistência elétrica. Pode-se ainda, a partir dessa expressão, definir a unidade da
resistividade elétrica de um material.
l
Se R = ρ , então:
S

S
ρ=R
l

Portanto a unidade de r, no SI, será: W m2/m ou, simplificando, W m.


Para essa constante, em geral, prefere-se usar uma unidade mista, não
pertencente ao SI, que relaciona todos os fatores ligados à resistividade. Essa
unidade é W mm2/m . Ela é mais prática porque utiliza como unidade de área, em
lugar do metro quadrado, o milímetro quadrado, que é muito mais adequado à
área de seção de um fio.
Passo a passo A U L A

3. Determine a resistência elétrica de um fio de cobre de 10 m de comprimento


2
e 0,5 mm de área de seção transversal. Veja a resistividade do cobre na tabela 41
abaixo.
RESISTIVIDADE DE ALGUNS MATERIAIS
À TEMPERATURA AMBIENTE (20ºC)

MATERIAL RESISTIVIDADE

prata 1,62 · 10-8


cobre 1,69 · 10-8
alumínio 2,75 · 10-8
tungstênio 5,25 · 10-8
ferro 9,68 · 10-8
platina 10,6 · 10-8
manganês 48,2 · 10-8
silício 2,5 · 103
vidro 1010 - 1014

Solução:

Aplicando a expressão da resistência elétrica em função da resistividade,


temos:
l
R=ρ
S
-8
Sendo rCu = 1,69 · 10 W · m (valor obtido na tabela);
l = 10 m e S = 0,5 mm2 = 0,5 · 10-6 m2.
Temos: R = (1,69 · 10-8 · 10) ¸ 0,5 · 10-6
R = 0,338 W

Associação de resistores

Como dissemos anteriormente, os resistores são fabricados industrialmente


e vendidos no comércio sob certas especificações ou valores nominais. No
entanto, é fácil entender que não é possível fabricar resistores de todos os valores.
Por essa razão existem resistores variáveis que costumam ser chamados de
reostatos
reostatos, nos quais o valor desejado para o resistor é obtido variando-se a
posição de um contato deslizante - o que corresponde a aumentar o compri-
mento l do fio ou do material percorrido pela corrente elétrica. Veja Figura 5.
Como a resistência elétrica é diretamente proporcional ao comprimento do
condutor, pode-se, dessa forma, ajustá-lo ao valor desejado.
Outra maneira de obter valores
não-comerciais para um resistor é fa-
zer uma associação de resistores
resistores, isto
é, agrupá-los adequadamente de for-
ma que o conjunto formado tenha o
valor que se deseja. Há duas formas
Figura 5. Símbolo do reostato. básicas de compor essas associações:
em série ou em paralelo
paralelo.
A U L A Na associação em série (veja Figura 6), todos os resistores são percorridos
pela mesma corrente elétricaelétrica. Vamos supor que numa associação existam n

41 resistores, R1, R2, R3, ...... Rn,


percorridos pela mesma cor-
rente i. Pela lei de Ohm, cada
resistor vai ser submetido a
uma diferença de potencial
V = R · i. Assim, o resistor R1 Figura 6. Associação de resistores em série.
será submetido a uma dife-
rença de potencial V1 = R1 · i; R2 será submetido a uma diferença de potencial
V2 = R2 · i; R3 será submetido a uma diferença de potencial V3 = R3 · i e assim por
diante, até Rn, submetido a uma diferença de potencial Vn = Rn · i. A diferença de
potencial VT de toda a associação será:

VT = V1 + V2 + V3 + ...... + Vn

Como VT é a diferença de potencial em toda a associação, pode-se afirmar,


pela lei de Ohm, que VT = R E · i, onde R E é a resistência equivalente a toda a
associação. A diferença de potencial em toda associação pode, portanto, ser
escrita na forma:

R E · i = R1 · i + R2 · i + R3 · i + ...... + Rn · i

Dividindo toda a equação por i, obtemos:

R E = R1 + R2 + R3 + ...... + Rn

Portanto, o resistor equivalente a uma associação de resistores em série


tem uma resistência elétrica igual à soma das resistências elétricas de todos os
resistores da associação
associação.
Na associação em paralelo,
todos os resistores têm os termi-
nais ligados à mesma diferença
de potencial
potencial. Nesse caso, a cor-
rente elétrica total da associação
é igual à soma das correntes que
passam pelos resistores. Veja a
Figura 7. Se a corrente total da
associação é iT e i1, i2, i3, ....in são
as correntes que percorrem cada
resistor, pode-se escrever:

iT = i1 + i2 + i3 + .... + in

Mas, da lei de Ohm, pode-se


escrever, também, que
V
iT = ,
RE

onde R E é a resistência equiva-


lente à associação. Figura 7. Associação de resistores em paralelo.
Como a diferença de potencial V é a mesma para todos os resistores, A U L A
podemos escrever, para cada resistor,

i1 =
V
R1
, i2 =
V
R2
, i3 =
V
R3
e in =
V
Rn
. 41
Portanto, a expressão da corrente total pode ser escrita na forma:
V V V V V
= + + + ... +
RE R1 R2 R3 Rn

Dividindo toda a equação por V, obtemos:


1 1 1 1 1
= + + + ... +
RE R1 R2 R3 Rn
Essa expressão permite determinar o valor da resistência elétrica equivalen-
te de uma associação em paralelo de resistores. É fácil demonstrar que, se houver
apenas dois resistores em paralelo, de resistências R1 e R2, a resistência equiva-
lente RE dessa associação pode ser determinada pela expressão:
R1 ⋅ R 2
RE =
R1 + R 2

Muitas vezes a associação é mista, isto é, alguns resistores estão associados


de uma forma e outros, de outra. Nesse caso, a determinação da resistência
equivalente deve ser feita por partes. Veja o exemplo 6.

Passo a passo

4. Determine o resistor equivalente à associação da Figura 8.

Figura 8.

Solução:

Como todos os resistores são percorridos pela mesma corrente, trata-se de


uma associação em série. Então, para determinar o resistor equivalente, basta
somar todos os resistores cujos valores estão na figura:

RE = R1 + R2 + R3 + R4

Portanto,

R E = 10 + 20 + 30 + 40
R E = 100 W
A U L A 5. Determinar o resistor equivalente à associação da Figura 9.

41

Figura 9

Solução:

Como todos os resistores estão ligados à mesma diferença de potencial,


trata-se de uma associação em paralelo. Basta, portanto, aplicar a expressão:
1 1 1 1
= + +
RE R1 R2 R3

1 1 1 1
= + +
RE 20 30 60

Como o mmc (mínimo múltiplo comum) de R E, 20, 30 e 60 é 60 · R E, temos:

60 = 3R E + 2R E + R E
R E = 10 W

6. Determinar a resistência equivalente à associação da Figura 10.

Solução:

Inicialmente
achamos o resistor
equivalente (R'E) a R2
e R3, que estão associ-
ados em paralelo.
Como são apenas dois
resistores, podemos
utilizar a fórmula sim-
plificada, Figura 10

(R 2 ⋅ R 3 )
R E′ =
(R 2 + R 3 )
( 4 ⋅ 6)
Obtemos então: R E′ = ⇒ R E′ = 2, 4Ω
( 4 + 6)
É fácil ver que, agora, o resistor - R E - equivalente a toda a associação
associação, será A U L A
a soma de R 1 e R' E, pois eles estão associados em série. Portanto;

RE = R1 + RE ' 41
R E = 3,6 + 2,4
R E = 6,0 W

Efeito Joule: a transformação da energia elétrica em calor

Você já viu, no nosso estudo da termodinâmica, que o calor é uma forma de


energia. Viu, também, que a energia nunca se perde, apenas se transforma ou se
converte de uma forma em outra. A partir do instante em que fica sob a ação de
um campo elétrico, a multidão de elétrons de um condutor adquire uma energia
elétrica e passa a se movimentar num determinado sentido. Embora o campo
elétrico, causa desse movimento, se propague a uma velocidade próxima da
velocidade da luz, são tantos os choques dessa multidão de elétrons com a
estrutura atômica do condutor que o seu movimento torna-se muito lento.
Entretanto, apesar dos choques, a energia elétrica desses elétrons não se
perde - a maior parte dela se transforma em calor. Essa transformação, conhe-
cida como efeito Joule (em homenagem a James P. Joule, cientista inglês que
determinou a relação entre calor e trabalho), é responsável pelas primeiras
aplicações práticas das eletricidade. Destacam-se, entre elas, a lâmpada de
incandescência, cujo filamento se aquece a temperaturas tão altas que passa a
emitir luz, e todos os eletrodomésticos que baseiam o seu funcionamento na
produção de calor, do ferro ao chuveiro elétrico.
Para obter a relação
entre energia elétrica e
calor, vamos, inicialmen-
te, determinar a energia
necessária para mover
uma carga elétrica Dq q no
interior de um condutor.
Suponha que essa carga
elétrica Dqq seja positiva,
para facilitar nossa de- Figura 11. Trabalho do campo elétrico para mover uma
dução, e sofra
®
um deslo- carga no interior de um condutor.
camento d devido à ação r
de um campo elétrico E (veja Figura 11 )). Lembrando a definição de trabalho,
pode-se calcular o trabalho tE que®
esse campo elétrico realiza para mover a carga
Dqq ao longo do deslocamento d com a seguinte expressão:

tE = F · d · cos a, mas
F = Dq · E e a = 0 (cos 0 = 1), então:
t E = Dq · E · d · 1 Þ
tE = Dq · E · d

Como vimos na relação entre campo e potencial, o produto E · d é igual à


diferença de potencial, V, ao longo do deslocamento d. Logo, o trabalho do
campo elétrico pode ser descrito assim:

t E = Dq · V
A U L A Sendo o trabalho a medida da energia, essa expressão permite o cálculo da
energia gerada pelo campo elétrico. Aqui, no entanto, fica mais simples calcular

41 a potência P desenvolvida nesse deslocamento. Como a potência é dada pela


razão
τ
, devemos levar em conta o intervalo de tempo Dtt gasto pela carga Dq q
∆t
para efetuar esse deslocamento. Para isso, dividimos ambos os termos da
expressão acima por Dtt . Temos então:
τ E V ⋅ ∆q
=
∆t ∆t
τE ∆q
Mas = P e, da definição de corrente elétrica, = i . Logo:
∆t ∆t
P = V · i

Essa é a expressão da potência fornecida pelo campo elétrico à corrente


elétrica i para que as cargas percorram dois pontos de um condutor entre os
quais há uma diferença de potencial V.
Lembrando, ainda, a lei de Ohm, em que V = R · i, podemos escrever:

P = R · i2
V
Ou, ainda da lei de Ohm, sendo i = , temos:
R
V2
P =
R
Todas essas expressões permitem o cálculo da potência que uma corrente
elétrica, percorrendo um condutor ou um resistor, transforma em calor. Em
geral, as duas últimas expressões, nas quais aparece o valor da resistência R, são
utilizadas para o cálculo da potência dissipada
dissipada, porque o resistor a transforma
em calor. Na realidade, como se vê, ela não é perdida, pois a transformação da
energia elétrica em calor é largamente utilizada em inúmeros aparelhos elétricos
e eletrodomésticos.
Voltemos agora à definição de potência aplicada ao trabalho realizado pelo
campo elétrico, τE
P=
∆t
Observe que, a partir dessa expressão, pode-se calcular o trabalho realizado
pelo campo elétrico num resistor. Basta multiplicar a potência dissipada pelo
intervalo de tempo, ou seja, t E = P · Dt. Como o trabalho é a medida da energia,
t E = E, essa expressão permite o cálculo da energia elétrica E consumida por um
resistor:
E = P · Dt

Como vimos na Aula 14, as unidades de potência e energia do SI são o watt


(W) e o joule (J). Na eletricidade, porém, usam-se ainda outras unidades. Para
potência, é comum o uso de um múltiplo do watt, o quilowatt (kW) (kW):
1 kW = 1.000 W

Para a medida da energia elétrica, a unidade mais utilizada é uma unidade


mista, o quilowatt-hora (kWh)
(kWh): 1 kWh corresponde à energia consumida por
um aparelho de potência 1 kW durante 1 h.
Para transformar o quilowatt-hora em joule, unidade de energia do SI, basta A U L A
transformar suas unidades componentes em unidades do SI. Temos assim:

1 kWh = 1 kW · 1 h Þ1 kWh = 1.000 W · 3.600 s Þ 1 kWh = 3.600.000 W s 41


Mas W s = J, portanto:

1 kWh = 3.600.000 J Þ 1 kWh = 3,6 ´ 106 J

Passo a passo

7. Uma lâmpada de incandescência (lâmpada comum) tem as seguintes


especificações impressas no seu bulbo de vidro: 220 V/60 W.
a) o que significam esses valores?
b) qual a corrente que percorre o filamento?
c) qual a energia que ela consome em um mês, admitindo-se que ela fica
ligada 5 horas por dia? Dê a resposta em joules e quilowatts-hora.
d) qual a potência que essa lâmpada vai dissipar se for ligada em 110 V?

Solução:

a) Pelas unidades, podemos identificar as grandezas físicas envolvidas.


Assim, 220 V é a diferença de potencial a que essa lâmpada deve ser ligada e 60
W é a potência que essa lâmpada consome quando ligada naquela diferença de
potencial
potencial.

b) Lembrando a relação entre potência e corrente elétrica, P = V · i, temos;


P 60
P = V · i Þ i = Þ i =
V 220
i = 0,27 A

c) A energia elétrica consumida pela lâmpada pode ser calculada pela


expressão E = P · Dt. Para determinar a energia em joules é preciso utilizar as
unidades no SI, ou seja, a potência em watts e o tempo em segundos. Como a
potência já foi dada em watts, basta determinar o tempo, Dt, em segundos. Se a
lâmpada fica ligada durante 30 dias, 5 horas por dia, e cada hora tem 3.600
segundos, o valor de Dt será:
Dt = 30 · 5 · 3.600 Þ Dt = 540.000 s

Para calcular a energia, temos, portanto:


E = P · Dt Þ E = 60 · 540.000 Þ E = 32.400.000 J ou
E = 3,24 ´ 107 J

Para determinar esse valor em quilowatts-hora podemos aplicar a mesma


expressão, utilizando a potência em kW e o tempo em horas. Para transformar
60 kW em W, basta lembrar que 1 kW = 1000 W e que, portanto,
1
1W = kW
1.000
A U L A 1
Então: P = 60 W ⇒ P = 60 ⋅ ⇒ P == 0,06kW
kW Þ 0,06 kW

41 1.000
O intervalo de tempo Dt em horas é obtido facilmente. Como a lâmpada
funciona 5 h por dia, em 30 dias temos:

Dt = 30 · 5 Þ Dt = 150 h

Aplicando agora a expressão da energia, obtemos:

E = P · Dt Þ E = 0,06 · 150
E = 9 kWh

Observe que o valor obtido em kWh é bem menor e mais prático do que o
valor obtido em joules. É por essa razão que o quilowatt-hora é a unidade mais
utilizada.

d) Para resolver esse item, vamos calcular o valor da resistência do filamento


da lâmpada.
V2
Para isso vamos utilizar a expressão: P =
R
V2 V2 220 2
P= ⇒R= ⇒R = ÞRR ==807Ω
⇒ 807 W
R P 60

Admitindo que o valor da resistência não varie (o que, a rigor, não é


verdade), aplicamos novamente a expressão da potência, mas agora utilizando
verdade
o valor de 110 V para a diferença de potencial.
V2 110 2
Teremos então: P = Þ P= Þ P = 15W
R 807
Observe que, embora a diferença de potencial tenha se reduzido apenas
à metade
metade, a potência dissipada pelo filamento tornou-se quatro vezes menor
menor.
2
Isso se explica porque a potência é proporcional V , ou seja, ao quadrado da
diferença de potencial
potencial.

8. Um fabricante de ebulidores (aparelho que se mergulha na água para


esquentá-la) pretende colocar em seu aparelho uma resistência elétrica
capaz de ferver 1 litro de água em 5 minutos. Suponha que esse aparelho vai
ser utilizado ao nível do mar, em lugares onde a tensão (diferença de
potencial) é de 127 V e temperatura ambiente é, em média, de 25 oC. Qual o
valor da resistência elétrica que ele deve usar?
3
Dados: densidade da água: 1,0 g/cm
calor específico da água: 1,0 cal/g ´ ºC
equivalente mecânico do calor: 1,0 cal = 4,2 J

Solução:

Inicialmente deve-se calcular a energia necessária para aquecer 1 litro de


água de 25 ºC a 100 ºC (temperatura de ebulição da água ao nível do mar).
Sabemos, pela termodinâmica, que essa energia é a quantidade de calor, Q,
absorvida pela água, dada pela expressão Q = m · c · Dt, onde:
m = 1.000g (massa de 1 litro de água, pois 1l = 1.000 cm e a densidade da
3
A U L A
3
água é 1,0 g/cm )

Dt= 100 C - 25 C = 75 C
o o o
o
c (calor específico da água) = 1,0 cal/g C
41
Então:

Q = m · c · Dt Þ Q = 1.000 · 1,0 · 75 Þ Q = 75.000 cal

Mas 1,0 cal = 4,2 J. Portanto:

Q = 75.000 cal Þ Q = 75.000 · 4,2 J Þ Q = 315.000 J

Essa é a energia necessária para aquecer a água até a fervura. Essa energia
corresponde ao trabalho do campo elétrico, tE. Portanto, a potência necessária
para fornecer essa energia, num intervalo de tempo Dt = 5 min = 300 s, será:
τE 315.000
P= ⇒P= ⇒ P == 1.050
Þ WW
1.050
∆t 300
Lembrando que a tensão local é V = 127 V , temos:
V2 V2 127 2
P= ⇒R= ⇒R =
R P 1.050
R = 15,4 W (aproximadamente)

É interessante lembrar que a aproximação, aqui, não se refere apenas ao


resultado da divisão. Ela está, também, relacionada ao fato de que, sendo uma
resistência destinada ao aquecimento, seu valor varia com a temperatura.

Rendimento

Vamos repetir aqui um trechinho da nossa aula 14, em que falávamos de


rendimento (o símbolo de rendimento será substituído aqui pela letra grega eta,
h, porque o r minúsculo, utlilizado anteriormente, será usado para simbolizar
outra grandeza). Sabemos que há carros que consomem menos combustível do
que outros, e até que um mesmo carro, melhor regulado, pode consumir menos.
Da mesma forma, uma lâmpada fluorescente ilumina mais do que uma lâmpada
comum de mesma potência. Isso vale também para o organismo humano. Há
pessoas que engordam mesmo comendo pouco, e outras que comem muito e
não engordam. Em outras palavras, há máquinas que aproveitam melhor o
combustível que consomem. Dizemos que essas máquinas têm um rendimento
maior. Define-se o rendimento h de uma máquina pela razão entre a potência
útil
útil, P U , que ela fornece, e a potência total
total, P T, que ela consome, ou seja:
P
η= U
PT
Pode-se escrever essa mesma expressão na forma de porcentagem. Teremos
então:
P
η = U ⋅ 100%
PT
A U L A Como já dissemos anteriormente, se uma máquina fosse perfeita, o que não
existe, ela teria rendimento h = 1,0 ou h = 100%
100%, porque a potência útil seria

41 igual à potência total: ela aproveitaria tudo o que consome. Isso não acontece
porque toda máquina gasta parte da energia que recebe para o seu funcionamen-
to. Além disso, sempre há perdas. É impossível, por exemplo, eliminar comple-
tamente o atrito, que acaba se transformando em calor. E o calor gerado por atrito
raramente é o objetivo de uma máquina. Esse calor é, em geral, um efeito
indesejável, mas inevitável. Por essa razão, o rendimento de qualquer máquina
será sempre um valor menor que 1,0 ou que 100%.”
Em relação aos aparelhos elétricos, todas essas afirmações são igualmente
verdadeiras. Não há como evitar o efeito Joule que, com exceção dos aparelhos
que baseiam seu funcionamento no aquecimento, provoca a perda de uma
parcela substancial da energia. Nas lâmpadas de incandescência, por exemplo,
90% da energia fornecida à lâmpada são transformados em calor, ou seja, apenas
10% da energia consumida são transformados ou aproveitados sob a forma de
luz. Portanto, o rendimento de uma lâmpada incandescente, no que se refere à
energia luminosa que ela fornece, é de aproximadamente 10%. É importante
lembrar que a potência que as usinas hidrelétricas nos fornecem é a potência
total, e é por ela que pagamos a conta todo mês.

Passo a passo

9. Suponha que o ebulidor do exemplo anterior tenha um rendimento de 70%.


Qual a potência total que esse ebulidor consome?

Solução:

O cálculo da potência do ebulidor estava relacionado ao trabalho que esse


ebulidor fornecia
fornecia, portanto o valor obtido de 1.050 W se refere à potência útil
útil.
Portanto PU = 1.050 W. O rendimento é h = 70%, que pode também ser escrito
como h = 0,7. Temos então:

PU P 1.050
h= Þ PT = U Þ PT = Þ PT = 1.500 W
PT h 0,7

P T = 1.500 W

É interessante observar que, levando em conta o rendimento, a resistência do


ebulidor, para fornecer os 1.050 W à água, tem de consumir 1.500 W. Nesse caso,
o valor da resistência deve ser recalculado utilizando-se o valor da potência total,
1.500 W. Obtemos, então, aproximadamente, R = 10,8 W.
Você pode achar estranho que, para produzir uma potência maior maior, o valor
da resistência elétrica seja menor
menor. Isso acontece porque, nesse caso, a potência é
inversamente proporcional à resistência.
V2
Basta examinar a expressão P = .
R

É fácil verificar que, para uma mesma diferença de potencial V, quanto


menor a resistência R, maior será o valor da potência P.
Vimos nesta aula que a corrente elétrica que percorre um condutor depende A U L A
da sua resistência elétrica. A resistência elétrica, por sua vez, depende das
características desse condutor: comprimento, espessura (área de seção transver-
sal) e resistividade do material de que é feito o condutor. Vimos ainda que o 41
movimento da corrente elétrica no condutor dissipa calor - um fenômeno
conhecido como efeito Joule, que dá nome à nossa aula. É esse calor que aquece
a água nos chuveiros elétricos, faz brilhar o filamento das lâmpadas incandescentes
e, às vezes, chega a “queimar” um fusível doméstico - ele esquenta tanto que
derrete. Foi o que ocorreu na nossa história do banho interrompido.

Nesta aula você aprendeu:


· a lei de Ohm e a definir resistência elétrica;
· o que são resistores lineares e não lineares;
· como se associam os resistores, em série e em paralelo;
· o que é o efeito Joule e qual o rendimento de dispositivos elétricos.

Mas restam ainda muitas perguntas sem resposta. Não sabemos ainda de
onde vem a corrente elétrica - como ela é produzida? Como ela circula ou se
movimenta ? E, principalmente, não sabemos ainda por que na casa dos nossos
amigos não se pode tomar banho com a televisão ligada... Esses serão os assuntos
das nossas próximas aulas.

Exercício 1
Um fio condutor, ligado a uma diferença de potencial de 6 V, é percorrido por
uma corrente elétrica de 1,5 A. Qual a resistência elétrica desse fio?

Exercício 2
Determine a resistência elétrica de um fio de alumínio de 25 m de compri-
mento e 0,75 mm2 de área de seção transversal. Veja a resistividade do
alumínio na tabela da página 165.

Exercício 3
Determine o resistor equivalente à associação da figura abaixo.

Exercício 4
Determine o resistor equivalente à associação da figura abaixo.
A U L A Exercício 5
Determine o resistor equivalente à associação da figura abaixo.

41

Exercício 6
Uma lâmpada de incandescência (lâmpada comum) tem as seguintes espe-
cificações impressas no seu bulbo de vidro: 110 V/40 W.
a) o que significam esses valores?
b) qual a corrente que percorre o filamento?
c) qual a energia que ela consome em um mês, admitindo-se que ela fica
ligada 5 horas por dia? Dê a resposta em joules e quilowatts-hora.
d) qual a potência que essa lâmpada vai dissipar se for ligada em 127V,
supondo que a sua resistência permaneça constante?

Exercício 7
Um fabricante de ebulidores pretende colocar no seu aparelho uma resistên-
cia elétrica capaz de ferver 1 litro de água em 2 minutos. Suponha que esse
aparelho vai ser utilizado ao nível do mar, em lugares onde a tensão
(diferença de potencial) é de 220 V e a temperatura ambiente é, em média, de
20 ºC. Qual o valor da resistência elétrica que ele deve usar?
Dados: densidade da água: 1,0 g/cm3
calor específico da água: 1,0 cal/g ºC
equivalente mecânico do calor: 1,0 cal = 4,2 J

Exercício 8
Suponha que o ebulidor do exercício 7 tenha um rendimento de 80%. Pede-se:
a) qual a potência total que esse ebulidor consome?
b) qual deveria ser o valor da resistência, nessas condições?
AUU
A L AL A

42
42
Ele deu... a luz

E
prevenido, deu a sua ordem preferida:
ra noite e chovia torrencialmente. Roberto,

- Desliga a televisão que é perigoso, está trovejando!


Mal ele acabou a frase, surgiu um clarão, seguido de um estrondo violento.
Tudo ficou às escuras, o bairro inteiro. Seguiu-se aquela agitação típica dessas
ocasiões. Todo mundo procurando fósforo, isqueiro, vela, qualquer coisa que
produzisse uma claridadezinha, pelo menos. Mas, como sempre, nessas horas
ninguém acha nada. Até que um clarão iluminou a casa. Era Roberto, sempre
prevenido, com uma lanterna na mão.
- Olha aí, mãe - gritou o garotão debochado. - O pai deu a luz!
- É, queria ver ele ligar o chuveiro com essa lanterninha, que eu estou
querendo tomar um banho - provocou a mãe, sempre na oposição.
Ernesto não perdeu a deixa:
- E aí, pai, mostra pra ela!
- Você já viu chuveiro elétrico a pilha? É impossível, filho! A gente ia
precisar de uma pilha do tamanho desta casa!
A resposta não foi muito convincente. Ernesto exigiu maiores esclarecimen-
tos. Roberto não se apertou muito. Mostrou uma pilha de relógio, pequenininha,
as pilhas pequenas do rádio e as maiores da lanterna. O tamanho da pilha,
explicou, dependia do consumo de energia exigido pelo aparelho. E arrematou
a conversa com uma argumentação definitiva:
- Pilha é que nem bicho. Quanto maior, mais forte!

Como nas ocasiões anteriores, as explicações de Roberto estavam corretas,


embora nem sempre sua linguagem seja muito precisa. As pilhas, de fato, têm a
sua “força” relacionada com o seu tamanho. Mas a palavra “força”, embora aqui
também seja usada costumeiramente pelos físicos, não expressa bem o papel que
a pilha desempenha.
Na realidade, as pilhas não fazem força. Elas transformam a energia
originária de reações químicas que ocorrem entre as substâncias nela contidas
em energia elétrica. Assim como as baterias e acumuladores, elas são gerado-
res
res, dispositivos que transformam outras formas de energia em energia elétri-
ca. O nome gerador, como se vê, também não é fisicamente correto - gerar quer
dizer criar, não transformar - , mas continua a ser usado por razões históricas,
por tradição.
A U L A Existem dispositivos que funcionam no sentido oposto ao dos geradores,
isto é, que transformam a energia elétrica em outra formas de energia. É o caso

42 dos motores que transformam a energia elétrica em energia mecânica, por


exemplo, ou do rádio e da televisão, que a transformam em luz e som. Esses
dispositivos ou aparelhos são chamados de receptores
receptores. Nesta aula vamos
estudar os geradores e receptores.

Geradores

Gerador, como já foi dito, é qualquer dispositivo que transforma outras


formas de energia em energia elétrica. Por enquanto, não vamos nos preocupar
com o processo de transformação de energia, apenas com os seus resultados. Em
outras palavras, não vamos estudar como uma pilha transforma a energia
química em energia elétrica. Sabemos que isso ocorre, e esse vai ser o nosso ponto
de partida.
Para você entender como essa transformação ocorre, vamos fazer uma
analogia. Suponha que uma criança coloque algumas bolas, de uma em uma, na
parte mais alta de um escorregador. E que, à medida que as bolas vão chegando
ao chão, a criança as recoloque lá em cima. É fácil ver que se estabelece uma
“corrente de bolas” no escorregador. Veja a Figura 1. É mais ou menos isso o que
um gerador faz. Ele fornece energia à cargas elétricas (as bolas, na nossa
analogia) estabelecendo uma diferença de potencial entre seus terminais (o que
equivale à diferença de altura entre o ponto mais alto e o ponto mais baixo do
escorregador). Em outras palavras, o gerador realiza, sobre cada carga elétrica q ,
um trabalho t, elevando o seu potencial elétrico.

Figura 1
Observe que a criança
fornece energia às bolas
para que a corrente
se mantenha.
Esse é o papel
do gerador.

A relação entre o trabalho realizado sobre a carga e o valor dessa carga é


chamada de força eletromotriz (fem) do gerador, cujo símbolo é e. Define-se,
portanto, força eletromotriz pela relação:
τ
ε =
q

A unidade da fem é o volt


volt, a mesma da diferença de potencial, pois ambas as
grandezas são definidas a partir da razão entre o joule
joule, unidade de trabalho, e o
coulomb
coulomb, unidade de carga. Na realidade, força eletromotriz é um nome inade-
quado, utilizado até hoje tanto por tradição como pela falta de um nome melhor.
A força eletromotriz de um gerador não é uma força. É a diferença de A U L A
potencial que ele poderia fornecer se não houvesse perdas dentro do próprio
gerador. Como isso é inevitável (o gerador também oferece uma resistência
à passagem da corrente), a diferença de potencial fornecida é sempre menor 42
do que aquela originária do trabalho do gerador. Por essa razão, a represen-
tação simbólica de um gerador costuma estar acompanhada de um pequeno i r
resistor. Veja a Figura 2. Para distinguir a diferença de potencial que o
gerador fornece, de fato, da diferença de potencial que ele poderia fornecer
em condições ideais, denomina-se esta última de força eletromotriz. Figura 2
+
Essas considerações nos permitem escrever a equação do gerador, a Representação
simbólica de um
partir da lei de Ohm. Vamos chamar de r a resistência interna do gerador. Se gerador. O traço maior
ele for percorrido por uma corrente elétrica i , de acordo com a lei de Ohm, corresponde ao pólo
haverá uma queda na diferença de potencial entre os seus terminais, corres- positivo. Observe que
o sentido da corrente
pondente ao produto r · ii. Assim, a diferença de potencial V que um gerador deve estar presente
fornece nos seus terminais será a sua força eletromotriz e menos a diferença nesta representação.
de potencial correspondente ao produto r · ii. Teremos então:
V = e - r · i

Essa expressão é conhecida como equação do gerador


gerador. Pode-se notar que
numa situação ideal, em que não haja perdas no gerador, ou seja, quando a
sua resistência interna r for nula, teremos V = e. Embora isso seja impossível,
essa é uma condição que costuma aparecer nos problemas para simplificar
sua solução.

Passo a passo

1. Uma pilha tem força eletromotriz de 1,5 V e resistência interna de 0,5 W


quando percorrida por uma corrente elétrica de 0,4 A. Determine, nessas
condições, a diferença de potencial entre seus terminais.

Solução:

Basta aplicar a equação do gerador, uma vez que o que se quer é a diferença
de potencial V entre seus terminais. Portanto:
V = e - r · i Þ V = 1,5 - 0,5 · 0,4 Þ V = 1,5 - 0,2 Þ V = 1,3V

2. Vamos admitir que a resistência interna de uma bateria de fem e = 9,0 V seja
constante e valha r = 1,5 W.

a) a partir da equação do gerador, preencha a tabela abaixo:

V (volts)
i (ampères)
(ampè 0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

b) com os dados da tabela, construa o gráfico V (volts) ´ i (ampères)


A U L A Solução:

42 a) Aplicando a equação do gerador, temos: V = 9,0 - 1,5 · i

Fazendo a substituição pelos valores de i sugeridos, completamos a tabela:


V (volts) 9,0 7,5 6,0 4,5 3,0 1,5 0
i (ampères)
(ampè 0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

b) Colocando os valores num gráfico, obtemos uma reta de inclinação


V (v) negativa. Isso significa que, à medida que a intensidade da corrente
aumenta, diminui a tensão ou diferença de potencial fornecida pela
9,0 bateria. Como você vê, a resistência interna é um fator que limita
7,5 a utilização de uma pilha ou bateria.
Esse gráfico costuma ser chamado de curva característica
6,0
do gerador. É fácil mostrar também que o coeficiente
4,5 angular dessa reta é numericamente igual à resis-
3,0 tência interna r do gerador
1,5

0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 i (A)


Figura 3. Gráfico V ´ i

Potência de um gerador

Se você reparar com atenção, vai notar que todas as pilhas - das pequeninas
pilhas de relógio às pilhas maiores, usadas em lanternas - fornecem sempre a
mesma diferença de potencial, 1,5 volts. (Existem baterias de 9,0 volts que, na
verdade, são uma associação de 6 pilhas de 1,5 volts ligadas em série). Por que,
então, essa diferença de tamanho? Por que não colocamos uma pilha de relógio
numa lanterna, se ela fornece a mesma diferença de potencial que a pilha grande?
A resposta é simples: para que um aparelho elétrico funcione, não basta ligá-
lo à diferença de potencial correta; é preciso que ele seja percorrido, também, pela
corrente elétrica adequada. Em outras palavras, é preciso fornecer a ele a
potência elétrica necessária para que ele possa funcionar, para a qual foi
projetado.
Um relógio digital de pulso, por exemplo, precisa de uma potência de cerca
-6
de 30 microwatts (30 · 10 watts) para funcionar. Lembrando a aula passada, a
relação entre potência, diferença de potencial e corrente elétrica é P = V · i.
Portanto, a corrente de que esse relógio precisa é:
-6 -6
P = V · i Þ i = P ¸ V Þ i = 30 · 10 ¸ 1,5 Þ i = 2,0 · 10 A

Como se vê, esse relógio precisa de uma corrente muito pequena para
funcionar, de 0,000002 A. Para fornecer essa corrente, basta uma pilha pequena.
No caso de uma lanterna comum, a potência necessária para acender uma
lâmpada é, em geral, da ordem de alguns watts (assim como nos relógios, esses
valores variam muito). Suponha que essa potência seja de 3 watts. Repetindo os
cálculos anteriores, temos:
P = V · i Þ i = P ¸ V Þ i = 3 ¸ 1,5 Þ i = 2,0 A
Portanto, a corrente elétrica necessária para acender uma lâmpada pode ser A U L A
até 1 milhão de vezes maior que a necessária para o funcionamento do relógio.
Note que a corrente elétrica depende de partículas materiais, os elétrons, e por
isso depende da quantidade ou massa das substâncias químicas contidas na 42
pilha, o que não acontece com a diferença de potencial. Por essa razão, a diferença
de potencial não depende do tamanho da pilha, mas a corrente depende. Quanto
maior a corrente elétrica que uma pilha deve fornecer, maior deve ser o seu
tamanho. Como você vê, há, de fato, uma relação direta entre o tamanho da pilha
e a sua “força”, como foi dito na introdução.

Análise da equação do gerador - Rendimento

Muitas vezes, uma análise matemática pode nos dar indicações físicas muito
importantes. É o que vamos fazer agora. Inicialmente, reescrevemos a equação
do gerador:
V = e - r · i

Agora, multiplicamos os termos dessa equação por i. Obtemos:


V· i = e · i - r · i
2

Arrumando os termos de forma mais conveniente, temos:


e · i = V · i + r · i
2

Lembrando a aula passada, notamos que o termo V · i é a expressão da


2
potência fornecida à corrente elétrica e que r · i é a expressão da potência
dissipada pela resistência interna do gerador. Portanto, o termo e · i é a soma
da potência fornecida pelo gerador à corrente elétrica mais a potência dissipa-
da devido à sua resistência interna. Em outra palavras, se a função do gerador
é produzir uma corrente elétrica, V · i é a potência útil por ele fornecida e
e · i é a potência total desenvolvida pelo gerador. O valor r · i2 é, como já
afirmamos, a potência dissipada, ou seja, a diferença entre o a potência total e
potência útil. Em outras palavras, temos:
P TOTAL = PÚTIL + PDISSIPADA

A partir dessa relação, podemos obter uma expressão para o rendimento h


de um gerador. Basta lembrar a aula passada, em que retomamos a definição de
rendimento:
PU
η=
PT

Como P U = V · i e P T = e · i , temos:
V
η=
ε

É interessante notar que a tensão ou diferença de potencial fornecida pelo


gerador, V, é sempre menor que a sua força eletromotriz e, o que mais uma vez
mostra que o rendimento é sempre menor que a unidade.
A U L A Passo a passo

42 3. Uma pilha tem fem de e = 1,5 V e resistência interna r = 0,4 W. Supondo que
a sua resistência interna permaneça constante, determine a potência total, a
potência útil, a potência dissipada e o rendimento dessa pilha quando
percorrida por uma corrente elétrica
a) i = 0,5 A
b) i = 3,0 A

Solução:

Em ambos os casos, basta aplicar as relações acima deduzidas. A potência


útil poderia ser calculada pela diferença entre a potência total e a potência
dissipada. Aqui, no entanto, preferimos determiná-la pela diferença de poten-
cial V fornecida pelo gerador em cada caso.

a) PT = e · i Þ PT = 1,5 · 0,5 Þ PT = 0,75 W

Para determinar a potência útil, vamos aplicar a equação do gerador e obter


o valor de V:
V = e - r · i Þ V = 1,5 - 0,5 · 0,4 Þ V = 1,3 V

Podemos agora determinar a potência útil:


PU = V · i Þ PU = 1,3 · 0,5 Þ P U = 0,65 W

A potência dissipada pode ser calculada diretamente:


PD = r · i Þ PD = 0,4 · 0,5 Þ P D = 0,10 W
2 2

Observe que a relação PT = PU + PD é verificada.


O rendimento será:
V 1,3
η = ⇒ ⇒ h = 0,87 ou h = 87 %
ε 1,5

b) Analogamente ao item a, obtemos:


PT = e · i Þ PT = 1,5 · 3,0 Þ PT = 4,5 W

Para determinar a potência útil, calculamos o valor de V:


V = e - r · i Þ V = 1,5 - 3,0 · 0,4 Þ V = 0,3 V
PU = V · i Þ PU = 0,3 · 3,0 Þ P U = 0,90 W

A potência dissipada pode ser calculada diretamente:


Þ PD = 0,4 · 3,0 Þ P D = 3,60 W
2 2
PD = r · i

O rendimento será:
V 0, 3
η = ⇒ η = ⇒ h = 0,2 ou h = 20 %
ε 1,5
É interessante notar como a mesma pilha pode ter rendimentos tão diferen- A U L A
tes, dependendo da corrente que passa por ela. É por isso que, às vezes, uma pilha
usada que não funciona mais para uma lanterna pode ainda ser útil para um
rádio, por exemplo. Isso ocorre porque o rádio, em geral, utiliza correntes bem 42
menores que as lanternas.

Receptores

Assim como os geradores transformam outras formas de energia em energia


elétrica, existem dispositivos ou aparelhos que desempenham o papel oposto, ou
seja, transformam a energia elétrica em outras formas de energia. Os exemplos
mais comuns são os motores, que transformam a energia elétrica em energia
mecânica, os inúmeros aparelhos eletrônicos que transformam a energia elétrica
em energia sonora e luminosa e os acumuladores ou pilhas recarregáveis, que
transformam a energia elétrica em energia química. Em todos esses casos, a força
eletromotriz atua no sentido oposto. Não é o dispositivo ou equipamento que
realiza trabalho sobre as cargas elétricas: são as cargas elétricas que realizam
trabalho sobre o dispositivo. É a corrente elétrica que gera o movimento do eixo
no motor; da mesma forma, é ela que aciona os componentes eletrônicos que
geram luz e som nos aparelhos de som e imagem e desencadeia as reações
químicas que recarregam os acumuladores ou pilhas recarregáveis. É importan-
te lembrar que, assim como nos geradores, a corrente elétrica também percorre
os receptores e depende da resistência interna de seus componentes. Por isso, i r
costuma-se adotar para os receptores um símbolo semelhante ao do gerador,
invertendo-se apenas o sentido da corrente. Veja a Figura 4.
+
A diferença entre os símbolos do gerador e do receptor expressa claramente Figura 4
a diferença no papel exercido pela corrente ou pelas cargas elétricas nesses dois Representação simbólica
dispositivos. O gerador realiza trabalho sobre as cargas, daí a definição de fem: de um receptor. Observe
que, na prática, a única
τ
ε = diferença dessa
q representação,
em relação ao gerador,
No receptor, são as cargas que realizam trabalho. Por isso, define-se uma é o sentido da corrente.
grandeza análoga à força eletromotriz, chamada de força contra-eletromotriz
fcem), que representaremos por e'' :
fcem
(fcem
τ
e' =
q
As definições são iguais, porque as grandezas envolvidas são iguais, mas
muda o agente que realiza o trabalho. A unidade da fcem também é a mesma, o
volt. Analogamente à equação do gerador, pode-se também escrever uma
equação do receptor
receptor. Chamando de r ' a resistência interna do receptor, a
diferença de potencial ou tensão, V, nos terminais de um receptor, será dada por:

V = e' + rr' · i

A interpretação física dessa expressão é simples: a diferença de potencial nos


terminais de um receptor equivale ao trabalho que as cargas realizam sobre ele
(é o fator e') mais a perda devida à sua resistência interna (o fator r' · ii).
É importante notar que um dispositivo que transforma a energia elétrica
apenas em calor não é considerado um receptor. Ele não tem força contra-
eletromotriz - é, simplesmente, um resistor.
A U L A Potência e rendimento em um receptor

42 Se multiplicarmos ambos os termos da equação do receptor por i, como


fizemos com a equação do gerador, podemos fazer um estudo matemático das
relações de potência num receptor:
V · i = e' · i + r' · i
2

Uma análise física dessa expressão mostra que o primeiro termo, V · ii, é a
potência total fornecida ao receptor. O segundo termo, e'' · ii, é a potência útil
consumida pelo receptor. O último termo, r’ · i2, é a potência dissipada devido
à sua resistência interna. Em outras palavras, no receptor a relação de potências
é a mesma do gerador:
PTOTAL = PÚTIL + PDISSIPADA

invertendo-se, porém, as expressões de cálculo da potência útil e da potência


total. A expressão do rendimento: PU
η=
PT

aplicada ao receptor, será, também, invertida. Teremos, portanto:


e'
η =
V
Como a tensão aplicada ao receptor é sempre maior que a sua fcem, aqui
também, como em todo rendimento, o valor de h é sempre menor que 1,0.

Passo a passo

4. Um motor de brinquedo de fcem 2,0 V só funciona dentro de suas especifi-


cações quando submetido a uma tensão de 3,0 V e é percorrido por uma
corrente elétrica de 0,8 A. Determine a resistência interna e o rendimento
desse motor.

Solução:
Para determinar a resistência interna do receptor, basta aplicar a sua
equação:
V = e' + r' · i Þ 3,0 = 2,0 + r' · 0,8 Þ r' = 1,25 W
Aplicando a expressão do rendimento para o receptor, temos:
e' 2,0
η = Þ h = Þ h = 0,67 ou h = 67%
V 3,0

Nesta aula você aprendeu:

· o conceito de gerador e de força eletromotriz;


· como calcular a potência de um gerador;
· a equação do gerador e o cálculo do seu rendimento;
· o conceito de receptor, sua equação e rendimento.
Nas três últimas aulas estudamos a corrente elétrica, os resistores e, A U L A
agora, os geradores e receptores. Estamos, portanto, em condições de reunir
todos esses elementos em conjuntos, os circuitos elétricos. Um circuito
elétrico é um caminho fechado pelo qual as cargas elétricas se movimentam, 42
realizam trabalho e perdem energia nos receptores e resistores e recebem
energia de volta nos geradores, repetindo o ciclo. Nossas casas têm sempre
um ou mais circuitos elétricos ligados à rede de transmissão da companhia de
eletricidade, que é também um enorme circuito elétrico. Esse circuito imenso
é o que nos liga a gigantescos geradores localizados, às vezes, a centenas de
quilômetros de distância - as usinas elétricas
elétricas.
Há circuitos elétricos extraordinariamente complexos, como aqueles dos
aparelhos eletrônicos e computadores, por exemplo. Nós vamos estudar
alguns circuitos mais simples. Felizmente, os circuitos domésticos são rela-
tivamente simples, e nós poderemos saber, enfim, por que na casa dos nossos
amigos não era possível assistir televisão com o chuveiro ligado. Este será o
assunto da próxima aula.

Exercício 1
Uma bateria tem uma força eletromotriz de 9,0 V e resistência interna de
0,5 W quando percorrida por uma corrente elétrica de 0,8 A. Determine,
nessas condições, a diferença de potencial entre seus terminais.

Exercício 2
No exercício anterior, qual seria a máxima corrente que essa bateria poderia
fornecer, supondo que a sua resistência interna seja constante?

Exercício 3
Vamos admitir que a resistência interna de uma pilha de fem e = 1,5 V seja
constante e valha r = 0,25 W.
a) a partir da equação do gerador, preencha a tabela abaixo:
V (volts)
i (ampères)
(ampè 0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

b) com os dados dessa tabela, construa o gráfico V (volts) ´ i (ampères).

Exercício 4
Uma pilha tem uma fem de e = 1,5 V e resistência interna r = 0,2 W. Supondo
que a resistência interna permaneça constante, determine a potência total, a
potência útil, a potência dissipada e o rendimento dessa pilha quando
percorrida por uma corrente elétrica
a) i = 0,4 A
b) i = 5,0 A

Exercício 5
Um motor de brinquedo de fcem 6,0 V só funciona dentro de suas especifi-
cações quando submetido a uma tensão de 9,0 V e é percorrido por uma
corrente elétrica de 1,2 A. Determine a resistência interna desse motor.

Exercício 6
Nas condições do problema anterior, qual é o rendimento do motor?
A UA UL L AA

43
43
Deu curto!

C omo o nosso assunto é a eletricidade, pode-


ríamos dizer que a história do banho interrompido serviu para melhorar a
ligação entre o pai e o filho. Ernesto, percebendo que aquele era um assunto de
que seu pai gostava e do qual entendia um pouco, sempre que podia puxava a
conversa para esse lado:
- Pai, você viu o incêndio que mostraram ontem no jornal? O bombeiro
disse que deve ter sido por causa de um curto-circuito na instalação elétrica. Que
negócio é esse?
- Decerto foi algum fio descascado que encostou em outro. Aí dá curto
mesmo! - respondeu Roberto, categoricamente.
- Mas você não disse o que é curto - desafiou Ernesto.
- Curto é porque encurta, é claro!
Notando que a explicação também tinha sido muito curta, Roberto foi buscar
uma pilha grande, nova, e um pedacinho de fio com as pontas descascadas.
Apertou uma das pontas do fio num dos pólos da pilha e começou a raspar o
outro pólo com a outra ponta, fazendo sair pequenas faíscas.
- Olha aqui, filho. Se aqui, nesta pilha, esse fiozinho curto já faz faísca, imagine
aí numa tomada. Sai até fogo! Isso é que é curto - concluiu Roberto, vitorioso.
- Mas e o circuito? - arriscou Ernesto.
- O circuito é esse fiozinho aqui passando pela pilha. Como ele é muito
curto, puxa muita corrente. Por isso que sai faísca e até fogo - arrematou Roberto,
saboreando de antemão o elogio que seu político filho certamente faria:
- Legal, pai, você devia ser professor de Física...
As explicações paternas estão de certo modo corretas, mas nem sempre suas
palavras são as mais adequadas. Na realidade, não é o fio que, por ser muito
curto, "puxa" muita corrente da pilha. É a pilha que, como qualquer gerador,
produz uma corrente elétrica sempre que nos seus pólos é ligado um conjunto
de elementos que forme um caminho fechado. Esse caminho fechado é um
circuito elétrico.
Os elementos são resistores e receptores ligados por fios condutores, que têm
apenas a função de conduzir a corrente. Um fio curto, como o próprio nome
indica, produz um curto-circuito porque é um percurso de baixa resistência
elétrica. E, como vimos na Aula 41, se a resistência elétrica diminui a corrente
elétrica aumenta, podendo atingir valores de alta intensidade e ter conseqüên-
cias desastrosas. Mas isso nós vamos ver depois. Os circuitos elétricos são o
assunto desta aula.
Circuitos elétricos A U L A

Um circuito é, a rigor, uma linha fechada que contorna ou circunda uma


região. Em geral, todo caminho que começa e termina no mesmo lugar é um 43
circuito, como os circuitos de corridas de automóvel. Quando ligamos um fio
condutor ou um conjunto de dispositivos elétricos aos pólos de uma pilha,
estabelecemos um caminho que possibilita a passagem da corrente elétrica de
um pólo ao outro, isto é, fazemos com que ela percorra um circuito elétrico.

Figura1. A lampadazinha ligada


diretamente à pilha é um exemplo
de circuito elétrico.

Existem circuitos elétricos extremamente simples - uma pequena lâmpada


de lanterna ligada diretamente aos pólos de uma pilha, por exemplo. Outros são
muito complexos, como os de uma placa de computador.
No nosso curso vamos estudar apenas alguns circuitos elétricos simples.
Costuma-se chamar de circuito simples o circuito em que todos os elementos
estão dispostos em série, sem ramificações. Nesses casos, como só há um
caminho para o movimento das cargas elétricas, todos os elementos do circuito
são percorridos pela mesma corrente. Por isso, a equação que fornece o valor
dessa corrente costuma ser chamada de equação do circuito
circuito.
Para estabelecer essa equação, basta percorrer todo o circuito, somando,
algebricamente, todas as variações de potencial que ocorrem em cada um de seus
elementos. Quando chegarmos ao fim do circuito, estaremos no mesmo poten-
cial de início. Portanto, essa soma deve ser sempre nula.
Para entender melhor essa afirmação, imagine que você vai fazer uma
caminhada e que dispõe de um altímetro, instrumento que mede a altura
que você sobe ou desce. Se você somar tudo que subiu e subtrair do que
desceu, ao final da caminhada, quando chegar ao ponto de partida, o
resultado dessa soma será obrigatoriamente zero. Se não fosse zero você
não estaria no ponto de partida, porque ou teria subido mais do que desceu,
ou descido mais que subiu...
O mesmo ocorre num circuito elétrico. Alguns dos seus elementos, os
geradores, elevam o potencial das cargas elétricas; os outros elementos, recep-
tores e resistores, reduzem esse potencial, porque retiram energia dessas
cargas. Se nós pudéssemos acompanhar uma carga elétrica no seu percurso, a
partir de um certo ponto, veríamos que ela ganha energia em alguns trechos e
perde em outros, mas tem sempre, nesse mesmo ponto, a mesma energia. Por
isso, no percurso fechado de um circuito elétrico, a soma de todas as variações
de potencial é nula.
A U L A Para estabelecer a equação do circuito elétrico simples, basta somar as
diferenças de potencial que são fornecidas pelos geradores - que chamaremos de

43 VG - e subtrair todas as diferenças de potencial consumidas pelos receptores -


que serão chamadas de VR - e pelos resistores, Vr . A soma total, como vimos,
deve ser nula. Portanto, devemos igualar tudo isso a zero. Vamos incluir nos
resistores as resistências internas dos próprios geradores e receptores. Temos:

I. Soma de todas as diferenças de potencial fornecidas pelos geradores


(forças eletromotrizes, e1, e2, ... en):
VG = e1 + e2 + ... + en
A letra grega VG = + S e
S (sigma) é
utilizada para
representar a soma II. Subtração de todas as diferenças de potencial provocadas pelos receptores
de vários termos. (forças contra-eletromotrizes, e'1, e'2, ... e'n):
Lê-se como
VR = - (e'1 + e'2 + ... + e'n)
somatório.
VR = - S e'

III. Subtração de todas as diferenças de potencial provocadas pelos resistores


- (R1 + R2 + ... + Rn) · i = - S (R · i)

pela resistência interna dos geradores


- (r1 + r2 + ... + rn) · i = - S (r · i)

e pela resistência interna dos receptores:


- (r'1 + r'2 + ... + r'n) · i = - S (r' · i)

Reunindo as três últimas parcelas, temos:


Vr = - S (R · i) - S (r · i) - S (r' · i)
Vr = - S (R + r + r') · i

A equação do circuito será portanto:


VG +VR +Vr = 0
ou
S e - S e'- S (R + r + r') · i = 0

Passo a passo

1. No circuito representado na Figura 2, temos um gerador de fem e = 6,0 V


e resistência interna r = 2,0 W, um motor de fcem e' = 2,5 V e resistência
interna r'= 1,5 W e dois resistores em série, R1 = 5,5 W e R2 = 5,0 W.
Determine a corrente que percorre esse circuito.
Solução: A U L A

Aplicando a equação do circuito, temos:


43
S e - S e'- S (R + r + r') · i = 0
e - e' - (R1 + R2 + r + r') · i = 0
6,0 - 2,5 - (5,5 + 5,0 + 2,0 + 1,5) · i = 0
3,5 - 14 · i = 0 Þ i = 3,5 ¸ 14
i = 0,25A
Figura 2

2. No circuito da Figura 3, o gerador tem fem e = 3,0 V e resistência interna


r = 0,5 W. Não há receptor. Os resistores valem R1 = 2,5 W, R2 = 6,0 W e
R3 = 3,0 W. Determine a corrente que atravessa o gerador.

Solução:

Inicialmente, observa-se que o circuito, a rigor, não é


simples, porque os resistores R 2 e R3 estão associados em
paralelo. Para que ele se torne um circuito simples é
necessário substituir essa associação pelo seu resistor
equivalente R'. Veja a Figura 4. Para isso, vamos aplicar
a relação simplificada para resistores em paralelo, vista
na Aula 41: Figura 3

R2 ⋅ R3
R′ =
R2 + R3

6,0 ⋅ 3,0
R′ = ⇒ R′ = 2,0 Ω
6,0 + 3,0

Agora podemos aplicar a equação do circuito:

S e - S e'- S (R + r + r') · i = 0
e - (R1 + R' + r) · i = 0
Figura 4. Observe que os resistores
3,0 - (2,5 + 2,0 + 0,5) · i = 0 R2 e R3 foram substituídos pelo resistor
3,0 - 5,0 · i = 0 Þ i = 3,0 ¸ 5,0 equivalente R'. Agora temos um circuito
i = 0,6A elétrico simples.

Análise de um trecho de circuito: generalização da lei de Ohm

Nem sempre precisamos ou queremos estudar um circuito elétrico por


inteiro. Muitas vezes estamos interessados em um único trecho do circuito.
Suponha que pretendemos estudar um trecho AB de um circuito qualquer, no
qual o sentido da corrente vai de A para B. O ponto A tem um determinado
potencial elétrico VA e o ponto B tem um potencial VB .
A U L A Vamos caminhar de A para B, como fizemos no circuito elétrico. Partimos de
um potencial VA. Somando os acréscimos de potencial devidos aos geradores

43 que existirem nesse trecho, e subtraindo as quedas devidas aos receptores e


resistores, vamos chegar a B com um potencial VB. Veja a Figura 5.

Figura 5. Observe que, percorrendo o trecho AB, no sentido da corrente,


o potencial varia, passando de VA para VB

Matematicamente, isso pode ser expresso da seguinte maneira:

VA + S e - S e'- S (R + r + r') · i = VB

ou ainda:

VB - VA = S e - S e'- S (R + r + r') · i

A expressão acima costuma ser interpretada como uma generalização da lei


de Ohm. Isso porque ela permite a determinação da diferença de potencial entre
dois pontos, como na lei de Ohm, quando entre esses dois pontos, além de
resistores, há geradores e receptores.

Passo a passo

3. A Figura 6 representa um trecho AB de um circuito elétrico percorrido por


uma corrente i = 1,0 A. Nesse trecho existem um gerador de fem e = 2,0 V
e resistência interna r = 0,5 W, um receptor de fcem e' = 12 V e resistência
interna r' = 2,5 W e um resistor de resistência R = 4,0 W. Determine a
diferença de potencial entre os pontos A e B.

Figura 6
Solução:

Aplicando expressão da generalização da lei de Ohm, temos:


VB - VA = S e - S e'- S (R + r + r') · i
VB - VA = e - e'- (R + r + r') · i
VB - VA = 2,0 - 12 - (4,0 + 0,5 + 2,5) · 1,0
VB - VA = - 17 V

Observe que, nesse caso, o resultado tanto poderia ser negativo como
positivo. O resultado foi negativo porque, nesse trecho, as cargas elétricas
cederam mais energia ao circuito do que receberam.
Associação de geradores - baterias A U L A

Você já deve ter reparado que a maioria dos aparelhos eletrônicos funciona
com mais de uma pilha. Elas são associadas, quase sempre, em série. Também 43
podem ser associadas em paralelo, mas isso é muito raro.

Figura 7. Associação de geradores em série.

Na associação em série, como no caso dos resistores, todos os geradores são


percorridos pela mesma corrente. Observe, na Figura 7, que cada gerador tem
seu pólo negativo ligado ao positivo do gerador seguinte. Se houvesse um
gerador com polaridade invertida, ele funcionaria como receptor.
As características do gerador equivalente a essa associação podem ser
determinadas pela generalização da lei de Ohm. Vamos determinar a diferença
de potencial entre os pontos A e B da Figura 7, em que estão associados n
geradores de forças eletromotrizes e1, e2, ..., en e resistências internas r1, r2, ..., rn.
Pela generalização da lei de Ohm, temos:

VB - VA = S e - S e'- S (R + r + r') · i

Como não há receptores nem resistores, temos:

VB - VA = S e - S r · i

Portanto, numa associação em série de geradores, o gerador equivalente tem


uma fem eE igual à soma das forças eletromotrizes de todos os geradores dessa
associação
eE = S e

e uma resistência interna rE igual à soma de todas as resistências internas de


todos os geradores
rE = S r

É por essa razão que não se devem misturar pilhas novas e pilhas usadas
numa mesma associação. As pilhas usadas têm resistência interna muito grande
e, se contribuem um pouco para o valor da fem da associação, prejudicam muito
mais, com a sua alta resistência interna. Essa é, também, a principal desvantagem
de uma associação em série de geradores.

A expressão da fem da associação de geradores


mostra também por que as baterias, em geral conjuntos
Figura 8. O símbolo de uma de geradores associados em série (veja símbolo da bate-
bateria se assemelha a uma ria na Figura 8), têm sempre valores de fem múltiplos de
associação em série de
geradores.
1,5 V, que é a fem de cada pilha.
A U L A As associações em paralelo de ge-
radores são menos freqüentes porque

43 implicam em alguns problemas técni-


cos de difícil controle. Como você pode
ver na Figura 9, podem se formar vári-
os pequenos circuitos elétricos entre
dois ou mais geradores; nesse caso, o
circuito maior, no qual essa associação
está incluída, fica prejudicado. Por essa
razão, caso se utilizem pilhas nessas
associações, elas devem ser rigorosa-
mente iguais. Como estão ligadas em
paralelo, a fem da associação é a mes-
ma de qualquer das pilhas, mas a resis-
tência interna será muito menor. Essa
redução da resistência interna faz com
que a associação, embora tenha a mes-
ma fem de um de seus geradores, for-
Figura 9. Associação de geradores
neça uma corrente maior. em paralelo.

Chaves e fusíveis

Nem todos os elementos de um circuito elétrico fornecem ou consomem


energia. Há dispositivos de controle que podem ligar ou desligar um circuito ou
acoplar outros circuitos a um circuito maior, por exemplo. São as chaves ou
interruptores, cujo símbolo você pode ver na Figura 10a.

Figura 10a Figura 10b


Símbolo de uma chave Símbolo de um fusível e de
ou interruptor. um disjuntor.

Há ainda dispositivos de proteção, como os fusíveis e disjuntores, que


desligam o circuito quando a corrente elétrica ultrapassa valores estabeleci-
dos previamente e que põem em risco a instalação elétrica em que estão
colocados. Funcionam como chaves que se abrem e interrompem o circuito
automaticamente.
Um fusível de 20 A, por exemplo, é simplesmente um pequeno fio colocado
em série com o circuito. Devido ao aquecimento, esse fio derrete ou se funde
quando a corrente ultrapassa 20 ampères.
Atualmente os fusíveis têm sido substituídos pelos disjuntores, dispositi-
vos com a mesma função mas que não se queimam - apenas desligam ou
"desarmam", como dizem os eletricistas. Os disjuntores não precisam ser
substituídos quando desarmam, basta religá-los. Essa é uma grande vantagem
em relação aos fusíveis. No entanto, um disjuntor com defeito de fabricação
pode não desarmar, o que não acontece com os fusíveis. Os fusíveis, portanto,
são menos práticos, mas mais seguros. Veja na Figura 10b os símbolos dos
fusíveis e disjuntores.
Passo a passo A U L A

4. Um chuveiro elétrico tem os seguintes valores nominais: 220 V / 4.400 W.


Em geral, os eletricistas colocam o chuveiro num circuito separado dos 43
demais circuitos da casa, colocando um fusível ou disjuntor adequado a
esse circuito. Qual deve ser a especificação (corrente elétrica) desse fusível
ou disjuntor?

Solução:

A especificação de um fusível ou disjuntor é, em geral, a corrente elétrica


mínima exigida pelo circuito em que ele está inserido. Assim, o circuito em que
o chuveiro está instalado deve fornecer a corrente elétrica capaz de fazê-lo
funcionar dentro de suas especificações. Isso significa que, quando ligado a
uma diferença de potencial de 220 volts, deve passar pelo chuveiro uma
corrente elétrica tal que ele dissipe uma potência de 4.400 watts. Lembrando
que a relação entre a potência dissipada P, a diferença de potencial V e a
corrente elétrica i é P = V · i, temos:
P = V · i Þ 4.400 = 220 · i Þ i = 4.400 ¸ 220 Þ i = 20 A

Portanto, o fusível deve ser de, no mínimo, 20 ampères. Caso contrário, ele
queimará sempre que o chuveiro for ligado.

Medidores elétricos

Na prática, os valores da corrente elétrica e da diferença de potencial podem


ser medidos diretamente com a utilização de dois instrumentos: o amperímetro
e o voltímetro. Não vamos, por enquanto, estudar o funcionamento desses
instrumentos, apenas a forma correta de utilizá-los.

Amperímetro

Como o próprio nome indica, o amperímetro é um "medidor de ampères", ou


seja, um medidor de corrente elétrica. Simbolicamente, ele é representado, em
geral, por um A maiúsculo colocado dentro de um pequeno círculo. Para medir
a corrente, ele deve ser atravessado por ela. Por isso, deve ser colocado sempre
em série com o trecho de circuito em que se deseja quer medir a corrente. Veja
Figura 11. É interessante notar que, se a corrente atravessa o amperímetro, ela vai
ser reduzida devido à resistência interna dos componentes elétricos do próprio
amperímetro. Isso faz com que ele interfira ou altere a sua própria medida. (Isso,
aliás, ocorre com todo instrumento de medida de qualquer grandeza física). Para
que essa interferência seja a menor possível, ele deve oferecer uma resistência
muito pequena à passagem da corrente. Um bom amperímetro, portanto, tem
resistência interna muito pequena. Um amperímetro ideal teria resistência
interna nula.

Figura 11. Um amperímetro colocado num trecho de circuito.


A U L A Voltímetro

43 Um voltímetro é um "medidor de volts", ou seja, um medidor de diferença


de potencial. Costuma-se simbolizar o voltímetro com um V maiúsculo colocado
num círculo. Para medir a diferença de potencial entre dois pontos de um
circuito, o voltímetro deve ser ligado a esses dois pontos sempre em paralelo com
o trecho de circuito. Veja a Figura 12.

Figura 12. Um voltímetro colocado num trecho de circuito.

Para que a interferência do voltímetro no circuito seja mínima, é preciso que


ele desvie a menor corrente possível do circuito. Isso porque ele também funciona
(é acionado) por uma parcela da corrente elétrica que atravessa o trecho de circuito
em que está inserido. Essa parcela de corrente só aparece quando o voltímetro é
colocado. Por isso, ela deve ser muito pequena. Para tanto, a resistência interna do
voltímetro deve ser muito grande, ao contrário do que ocorre com o amperímetro.
Um voltímetro ideal teria uma resistência interna infinita.

Passo a passo

5. No circuito da Figura 13, determine as leituras do amperímetro e do


voltímetro. Suponha que eles são ideais, isto é, não interferem no circuito.

Solução:
Como o circuito é um circuito simples, a
leitura do amperímetro é a corrente elétrica i
que passa pelo circuito. Aplicando a equação
do circuito, obtemos:
S e - S e'- S (R + r + r') · i = 0
e - e'- (R1 + R2 + r + r') · i = 0
6,0 - 2,0 - (11 + 12 + 1,5 + 0,5) · i = 0
4,0 - 25 · i = 0 Þ 25 i = 4
i = 0,16 A Figura 13

A leitura do voltímetro é a diferença de potencial entre os pontos A e B aos


quais ele está ligado. Aplicando a expressão da generalização da lei de Ohm a
esses pontos, obtemos:
VB - VA = S e - S e'- S (R + r + r') · i
VB - VA = e - (R1 + r) · i
VB - VA = 6,0 - (11 + 1,5) · 0,16
VB - VA = 6,0 - 2,0
VB - VA = 4,0 V
Portanto, a leitura do amperímetro é 0,16 A e a do voltímetro é 4,0 V.
Os circuitos que acabamos de estudar são bem mais simples que os circuitos A U L A
de nossas casas. É importante notar que, nos circuitos elétricos de nossas casas,
não existe o gerador - ele está, às vezes, a dezenas ou centenas de quilômetros
de distância, numa usina hidrelétrica, por exemplo. Nós temos acesso a esse 43
grande gerador por meio das redes de distribuição de energia elétrica; elas
podem ser consideradas macrocircuitos aos quais os nossos circuitos caseiros
estão ligados.
As tomadas elétricas fixadas nas paredes são terminais desses grandes
geradores. É por essa razão que os curtos-circuitos são tão perigosos. Além das
diferenças de potencial serem altas - 110 V, 127 V ou 220 V -, a potência de tais
geradores é muito grande, possibilitando o aparecimento de correntes elétricas
também muito altas.

Isso explica, enfim, aquela providência dramática tomada por Roberto,


descrita no início da Aula 40, quando o chuveiro pifou: "Enquanto alguém toma
banho, desliga-se a televisão!" Lembre-se, de novo, da relação entre potência,
diferença de potencial e corrente, P = V · i. A corrente elétrica que percorre um
circuito é, portanto, i = P ¸ V. Suponha que a diferença de potencial da casa seja
110 V, que o chuveiro tenha potência de 3.300 watts e que a televisão tenha
potência de 440 watts. Suponha, ainda, que a tomada da televisão esteja no
mesmo circuito do chuveiro. E que, para proteger esse circuito, foi instalado um
fusível de 30 ampères.

Quando só o chuveiro está ligado, a corrente elétrica do circuito será:


Pchuveiro 3.300
i= ⇒i= ⇒ i ==30A
30A
V 110

Como você vê, esse é o valor-limite da corrente que o fusível suporta sem
queimar. Como esse valor não foi ultrapassado, o fusível não queima. Se, no
entanto, a televisão for ligada, a corrente vai aumentar. Veja:

Pchuveiro + Ptelevisão 3.300 + 440


i= Þ i= Þ i = 34A
V 110

Esse valor supera a máxima corrente que o fusível suporta. Por isso, o fusível
queima.

Você pode estar pensando: por que Roberto não instalou um fusível
mais forte, de 40 ampères, por exemplo? Não seria uma solução mais
inteligente? Na realidade, seria uma solução, mas muito mais perigosa que
inteligente!
Os fusíveis são dimensionados de acordo com os fios utilizados na instalação
(que, por sua vez, devem levar em conta os aparelhos elétricos que vão ser
ligados nessa instalação). Se o eletricista colocou fusíveis de 30 ampères é
porque, acima dessa corrente, os fios vão se aquecer demais, suas capas de
plástico podem derreter e eles podem perder a isolação. Nesse caso, o risco de um
curto-circuito, e de todas as suas conseqüências desastrosas, é muito grande. A
melhor solução, nesses casos, é refazer toda a instalação - substituir a fiação,
separar o circuito do chuveiro dos demais circuitos da casa e, se possível, ligá-lo
em 220 volts.
A U L A Se você refizer os nossos cálculos com a diferença de potencial de 220 volts
em vez de 110 volts, vai notar que, só com o chuveiro, a corrente elétrica seria de

43 apenas 15 ampères. Com o chuveiro e a televisão, ela seria de 17 ampères. São


valores bem menores, que permitem a utilização de uma fiação mais leve e barata
e, principalmente, menos sujeita a curtos-circuitos. Mas é preciso lembrar que a
tensão de 220 volts é mais perigosa para as pessoas. Por isso, a instalação elétrica
com tensão de 220 voltas deve ser muito bem feita. Como você viu, a teoria dos
circuitos elétricos até que não é muito complicada, mas instalação elétrica é coisa
muito séria. Não é para amadores e curiosos.

Nesta aula você aprendeu:

· o que são circuitos elétricos e como equacioná-los matematicamente;

· a generalização da lei de Ohm para circuitos elétricos;

· como se associam os geradores, formando as baterias;

· outros elementos de um circuito: chaves e fusíveis;

· o que são medidores elétricos e como utilizá-los num circuito.

Exercício 1
Uma calculadora tem uma potência de 450 microwatts (450 · 10-6 watts)
e sua bateria fornece uma tensão de 3,0 volts. Desprezando a resistência
interna da bateria, determine a corrente elétrica total que percorre seus
circuitos.

Exercício 2
No circuito representado na Figura 14, temos um gerador de fem e = 6,0 V
e resistência interna r = 1,0 W, um motor de fcem e' = 4,5 V e resistência
interna r'= 2,0 W e dois resistores em série, R1 = 9,0 W e R2 = 3,0 W. Determine
a corrente que percorre esse circuito.

Figura 14
Exercício 3 A U L A
No circuito da Figura 15, o
gerador tem fem e = 6,0 V e
resistência interna r = 1,5 W. 43
Não há receptor. Os resistores
valem R1 = 4,0 W, R2 = 6,0 W e
R3 = 3,0 W.
Determine a corrente que atra-
vessa o gerador.

Figura 15
Exercício 4
A Figura 16 representa um trecho AB de um circuito elétrico percorrido por
uma corrente i = 0,5 A. Nesse trecho existem um gerador de fem e = 2,5 V e
resistência interna r = 0,5 W, um receptor de fcem e' = 12 V e resistência
interna r' = 2,5 W e um resistor de resistência R = 5,5 W. Determine a diferença
de potencial entre os pontos A e B.

Figura 16

Exercício 5
Um chuveiro elétrico tem os seguintes valores nominais: 220 V/3.300 W. Em
geral, os eletricistas colocam o chuveiro num circuito separado dos demais
circuitos da casa, instalando um fusível ou disjuntor adequado a esse
circuito. Qual deve ser a especificação (corrente elétrica) desse fusível ou
disjuntor?

Exercício 6
Suponha que a diferença de potencial de uma casa seja 110 V, que o chuveiro
tenha uma potência de 4.400 watts e a televisão, de 440 watts. Suponha,
ainda, que a tomada da televisão esteja no mesmo circuito do chuveiro. Qual
deve ser a especificação de um fusível para esse circuito?

Exercício 7
No circuito da Figura 17, determine as leituras do amperímetro e do
voltímetro. Suponha que eles são ideais, isto é, não interferem no circuito.

Figura 17
A UA UL L AA

44
44
Estou desorientado!

A televisão noticiava com estardalhaço: um


grupo de estudantes estava perdido na Serra do Mar. As buscas prosseguiam, as
informações eram desencontradas. Os pais, aflitos, davam entrevistas: “Não sei
como isso foi acontecer”, dizia um deles. “Eu dei ao meu filho uma bússola
novinha!”
- Ô, pai - comentou Ernesto, preocupado, assistindo ao noticiário. - Se você
me desse uma bússola também não ia adiantar nada, eu não sei como se usa!
- Que vergonha, meu filho! - respondeu Roberto indignado. - É muito
fácil. A bússola aponta sempre para o norte, aí você se orienta e pronto!
- Não sei não, pai - duvidou Ernesto - Eu estou no meio do mato, olho para
a bússola e vejo que o norte é para lá. E daí? Se eu não sei para onde eu preciso
ir, de que isso me adianta?
- Bom, sei lá! Eu sempre ouvi dizer que a bússola serve para a gente se
orientar, deve haver um jeito, ué! - desconversou Roberto.
- É, pai, seu forte é eletricidade mesmo - comentou, irônico, Ernesto. E
acrescentou, para arrematar a conversa:
- Nesse negócio de bússola, acho que não sou só eu que estou desorientado...

Será que alguém consegue


se orientar só com uma bússo-
la
la? É claro que não! Aqui a razão
está com Ernesto. A bússola in-
dica apenas uma direção, e só
isso não é suficiente, embora seja
necessário. Essa direção nos per-
mite utilizar adequadamente um
mapa, por exemplo, colocando-
o na posição correta. Mas, sem
um mapa, sem que a pessoa sai-
ba onde está e para onde quer ir, Figura 1. Sem os mapas,
a bússola é inútil. as bússolas seriam inúteis.

Quando se fala da época das grandes navegações, quando o Brasil foi


descoberto, sempre se destaca muito o papel da invenção da bússola. Mas, se não
existissem os mapas - mesmo os da época, muito imperfeitos -, tais viagens
teriam sido impossíveis.
Para nós, entretanto, a importância maior da bússola não está ligada às A U L A
grandes navegações, mas a outras descobertas igualmente importantes. Foi
estudando as propriedades da bússola, em 1600, que William Gilbert, médico da
rainha da Inglaterra, chegou à conclusão de que a Terra era um grande ímã. 44
Também foi com o auxílio de uma bússola que, em 1820, Hans Christian Oersted,
um professor de Física dinamarquês, demonstrou que a eletricidade e o magne-
tismo eram aspectos diferentes de um mesmo fenômeno, o eletromagnetismo
eletromagnetismo.
Este é o assunto das nossas próximas aulas.

Magnetismo

O magnetismo já era conhecido, séculos antes de Cristo, pelos antigos gregos.


Seu nome deriva de uma pedra, a magnetita, muito encontrada na Magnésia, uma
região da Ásia Menor próxima à Grécia. Os gregos sabiam que essa pedra era capaz
de atrair pedaços de ferro, ou seja, era um ímã natural natural. Logo se percebeu que
outros pedaços de ferro, em contato com a magnetita, podiam também se transfor-
mar em ímãs. Esses pedaços de ferro eram ímãs artificiais que, há cerca de 1.000
anos, permitiram aos chineses a invenção da bússola - agulhas imantadas que
podem girar livremente e se orientam sempre na mesma direção.
A bússola, por sua vez, nos levou à descoberta de que a própria Terra é um
grande ímã. As regiões de um ímã nas quais o magnetismo é mais intenso, em
geral as extremidades, são chamadas de pólos. Isso porque, quando um ímã é
posto a girar livremente num plano horizontal, essas regiões apontam para os
pólos terrestres.
P—lo Norte P—lo Sul Veja a Figura 2. O pólo norte de um ímã,
Geogr‡fico Magn•tico
ou de uma bússola, é aquele que aponta para
o Pólo Norte terrestre. O Pólo Sul, claro, é o
que aponta para o Pólo Sul terrestre. Os
pólos magnéticos têm uma propriedade se-
melhante às cargas elétricas: pólos iguais se
repelem, pólos diferentes se atraem. Mas a
semelhança pára por aí. Não existem pólos
magnéticos separados, como existem as car-
P—lo Norte P—lo Sul gas positivas e negativas. Por isso não é
Magn•tico Geogr‡fico
possível ter um ímã com uma só polaridade.
Figura 2. Os pólos do ímã apontam para os Quando um ímã se parte, cada pedaço se
pólos da Terra. Observe que o Pólo Norte torna um novo ímã com dois pólos, norte e
geográfico está próximo do pólo sul
magnético e que o Pólo Sul geográfico está sul, qualquer que seja o número de pedaços
perto do pólo norte magnético. ou o tamanho de cada um.

Os processos de imantação também são diferentes dos processos de eletri-


zação. A primeira diferença reside no material. Só é possível imantar alguns
poucos materiais, chamados de ferromagnéticos: o ferro, o níquel e o cobalto.
Esses elementos também entram em algumas ligas metálicas que são magnéti-
cas, como o aço, por exemplo. Qualquer corpo de material ferromagnético - um
prego, por exemplo - colocado junto a um ímã também se torna um ímã
temporário. Se o prego for afastado do ímã, perde a imantação. Costuma-se dizer
que o prego adquire uma imantação induzida. Veja a Figura 3. Essa imantação, Figura 3. O prego
mantém a imantação
no entanto, pode se tornar permanente, se o ímã for muito forte ou se alguma enquanto ligado ao
ação for exercida sobre o prego. Uma dessas ações pode ser esfregar o prego com ímã. Quando se
o ímã, sempre com o mesmo pólo e no mesmo sentido. separa do ímã ele
perde a imantação
A U L A Outra ação pode ser aquecer o prego ou bater nele com um martelo,
mantendo-o próximo do ímã.

44 É interessante notar que essas mesmas ações também podem desfazer o


magnetismo de um corpo. Um ímã de ferro perde a imantação quando aquecido
a 770ºC. Essa temperatura recebe o nome de ponto CurieCurie, em homenagem a
Pierre Curie, físico francês que descobriu essa propriedade, em 1895.

Mas o que faz um corpo se magnetizar? Qual a origem dos ímãs naturais?
Não é uma pergunta fácil de responder. Há muitos fatores envolvidos e nem
todos são, ainda, bem conhecidos. Vamos tomar como ponto de partida os ímãs
naturais: eles existem porque se formaram na Terra e o nosso planeta é um
grande ímã. Além disso, a Terra, como todo ímã, cria em torno de si uma região
que pode influir ou criar outros ímãs. Essa região é chamada de campo
magnético
magnético.

Campo magnético

A primeira idéia de campo, em Física, sempre se refere a uma região do


espaço que tem uma certa propriedade. Um campo gravitacional é uma região
do espaço que atua sobre a massa dos corpos; um campo elétrico atua sobre
cargas elétricas. Da mesma forma, um campo magnético é uma região do
espaço que atua sobre ímãs. Embora seja uma idéia abstrata, ela pode ser
visualizada com o auxílio de linhas que, no caso do campo magnético, chamam-
se linhas de indução magnética
magnética.

É possível desenhar essas linhas com o auxílio de uma bússola. Se movimen-


tarmos uma pequena bússola ao redor de um ímã em forma de barra, por
exemplo, vamos observar que a agulha se movimenta como se tangenciasse uma
N S
linha que passa pelos pólos do ímã. Veja a Figura 4.
Figura 4. Outra forma de visualizar as linhas de indução magnética de um ímã
Uma pequena envolve a utilização de limalhas ou pó de ferro. Cada pequenino fragmento de
bússola nos permite
mapear as linhas de
ferro, quando colocado num campo magnético, adquire uma imantação induzida
indução magnética de e se comporta como uma bússola. Se colocarmos um ímã em forma de barra sob
um ímã. uma folha de papel e espalharmos cuidadosamente as limalhas sobre a folha,
vamos observar a formação de linhas desenhadas por essas limalhas. Como se
fossem milhares de pequeninas bússolas, essas limalhas mostram como o campo
magnético do imã influencia aquela região do espaço. Veja a Figura 5.

Figura 5. A configuração de um campo


magnético de um ímã em forma de barra,
formada por limalhas de ferro.
Outras configurações poderão se formar quando utilizamos dois ímãs em A U L A
forma de barra, por exemplo, ou imãs em forma de ferradura. Veja a Figura 6.
Cada uma das figuras mostra as diferentes configurações que um campo
magnético pode assumir. É interessante notar que as figuras são planas porque 44
se formam numa folha de papel - mas o campo magnético é sempre tridimensional,
não se limita ao plano do papel.

Figura 6. Diferentes configurações de campos magnéticos de dois imãs


em forma de barra, formadas com limalhas de ferro.

Todas essas figuras mostram a forma de um campo magnético. Mas como


determinar a ação do campo magnético em determinado ponto? É o que vamos
ver em seguida.

Vetor campo magnético

Para determinar a ação do campo magnético num determinado ponto é B


necessário,
r inicialmente, definir o vetor campo magnético, que será designado
por B . Por analogia à agulha de uma bússola, sua direção será sempre tangente
à linha de indução magnética em cada ponto; o sentido é, por definição, de norte
para o sul. Veja a Figura 7.
Mas Figura 7. A direção e
r como determinar o módulo desse vetor? r No caso do campo elétrico, o
sentido do®vetor campo
vetor E foi definido pela razão entre a força F que o campo exercia sobre uma magnético B num ponto é
carga e a intensidade dessa carga, q . Ou seja: a mesma da agulha de
r uma bússola colocada
r F nesse ponto.
E=
q
r
O vetor campo gravitacional g também pode ser definido
r pela razão entre
a força exercida pelo campo sobre um corpo - o seu peso P - e a massa desse
corpo, m . Ou seja: r
r P
g=
m
E
m
+
q F g
P No campo magnético, entretanto, não
existe uma grandeza específica equivalente
®
Figura 8. Os vetores campo elétrico E e a q ou m. Não existe um corpo com uma só
®
campo gravitacional g são definidos a polaridade magnética. Veja a Figura 8. Além
partir das forças que exercem sobre uma disso, um ímã colocado num campo magné-
carga q ou sobre uma massa m. No
campo magnético um procedimento tico está sempre sujeito à ação de duas forças
equivalente não é possível. resultantes em vez de uma só.
A U L A A ação de um campo magnético não se manifesta apenas sobre ímãs. A
eletricidade e o magnetismo, como já dissemos, são diferentes aspectos de um

44 mesmo fenômeno, o eletromagnetismo. Isso significa que existem formas de


interação entre o campo magnético e cargas ou correntes elétricas. Uma dessas
formas de interação r vai nos permitir estabelecer a definição matemática do
campo magnético B e, conseqüentemente, a determinação do seu módulo.

Interação entre campo magnético e uma carga elétrica em movimento


r
F Vamos supor que numa região do espaço exista um campo magnético B ,
B uniforme ou constante - isto é, que tem o mesmo valor, a mesma direção e o
mesmo sentido em todos os pontos. Se uma carga elétrica q for colocada nessa
região, em repouso, nada vai ocorrer. Mas, se ela for lançada
r com uma velocidade
r
v numa direçãor que forme um ângulo q com a direção de B , ela vai sofrer a ação
de uma força F . Essa força tem características muito peculiares:
v r r
· a sua direção é sempre perpendicular ao plano formado pelos vetores B e v ;
· o seu sentido depende do sinal da carga q e pode ser determinado por
Figura 9. Regra da algumas regras práticas, como a regra da mão direita ou regra do “tapa”.
mão direita para uma Veja Figuras 9 e 10;
carga q positiva: o
polegar indica o · o seu módulo é diretamente proporcional ao produto de q pelo módulo
sentido da velocidade, r
a palma da mão indica de v pelo seno do ângulo q, ou seja: F µ q · v · senq
o sentido do campo e
a sua perpendicular o
sentido da força
(sentido do “tapa”). Se A expressão acima, como toda relação de proporcionalidade, pode se
a carga for negativa a transformar numa igualdade, desde que se defina uma constante de proporcio-
força terá sentido
oposto. nalidade. Em outras palavras:
F
= (cons tan te)
q ⋅ v ⋅ sen θ
F
B Vamos tentar entender por que o valor de F dividido pelo produto q · v · senq
permanece constante. Matematicamente, isso indica que, quando uma, duas ou
as três grandezas do denominador variam, o valor da força também deve variar
q
para que o resultado da fração fique constante. Fisicamente, isso só pode
acontecer se uma grandeza envolvida na situação descrita permanecer constan-
v te.
r De acordo com a nossa suposição inicial, essa grandeza é o campo magnético
Figura 10. A relação B , no qual a carga
r q rse movimenta. Como na expressão estão indicados apenas r
entre ®
® ®
os vetores os módulos de F e v , podemos afirmar que essa constante é o módulo de B .
F, B e v para uma
carga q positiva.
Temos, portanto:
F
Se a ®carga for B=
negativa F terá sentido q ⋅ v ⋅ sen θ
oposto ao
representado

A unidade do vetor campo magnético será dada pela razão N/(C · m/s), uma
vez que o seno é uma grandeza adimensional (sem unidade). Essa unidade é
chamada de tesla
tesla, T, em homenagem a Nikola Tesla
Tesla, físico polonês radicado nos
Estados Unidos que, no final do século passado, foi responsável pela invenção
de inúmeras aplicações tecnológicas do eletromagnetismo, entre elas os motores
e dínamos de corrente alternada.
Da definição de campo magnético pode-se obter também uma expressão A U L A
para a força que atua sobre uma carga em movimento num campo magnético:

F = B · q · v · senq 44
É importante lembrar que, como a expressão da força é um produto, ela será
nula se qualquer dos seus fatores for nulo. Isso ocorre quando v = 0, ou seja,
quando a carga está em repouso em relação ao campo, como já dissemos. A força
também é nula se o ângulo q for zero ou igual a 180 , pois o seno desses ângulos
o

é zero. Na prática, isso significa que uma carga em movimento, na mesma


direção de um campo magnético, independentemente do sentido, não sofre a
ação de força desse campo.

Representação tridimensional de vetores


r r r
Como vimos, os vetores B , F e v sempre se relacionam tridimensionalmente.
Isso nos obriga a ampliar a forma de representar os vetores para poder colocá-
los no papel, que é bidimensional. Assim, sempre que um vetor for perpendicu-
lar ao plano da figura, dirigindo-se para fora ou para o leitor, ele será represen-
tado pelo símbolo . Essa figura foi escolhida porque dá a idéia de uma flecha
vista de frente, dirigindo-se para quem a vê. Se o vetor for perpendicular ao plano
da figura, dirigindo-se para dentro, ele será representado pelo símbolo Ä. Aqui
a idéia é a mesma - é como se fosse uma flecha vista por trás, pelo penacho,
afastando-se de quem a vê.

Passo a passo
r r
1. Nas Figuras 11a, 11b, 11c e 11d estão representados os vetores B e v
atuando sobre uma carga q positiva. Suponha que o campo magnético em
cada
r região é uniforme. Aplicando a regra da mão direita, represente o vetor
F que atua em cada caso.

a) b) c) d)
B B B B

q v q v v q v q

Figura 11

Solução:

Aplica-se
r a regra da mão direita. Coloca-se a palma da mão na direção e no
sentido de B e gira-se até que o polegar coincida
r com a direção e o sentido da
r
velocidade, v . A direção e o sentido da força F serão dados pela perpendicular
que sai da palma da mão, para fora. Como se fosse a força de um tapa dado com
essa mão. Se a carga fosse negativa, a força teria a mesma direção, mas sentido
oposto. Veja a Figura 12.
a) b) c) d)
F F F F Figura 12
A U L A 2. Uma carga q de 6mC é lançada com uma velocidaderde 100m/s numa região
do espaço onde existe um campo magnético B de intensidade 0,5 T.

44 Sabendo-se que as direções da velocidade da carga e do campo magnético


são perpendiculares entre si, determine a intensidade da força que atua
sobre a carga.

Solução:
Basta aplicar a relação:
F = B · q · v · senq
-6
F = 0,5 · 6 · 10 · 100 · sen 90º
F = 3 · 10-44 N

Movimento de uma partícula carregada num campo magnético uniforme


r
Suponha que numa região do espaço exista um campo magnético B ,
uniforme. Se uma carga elétrica q for lançada
r numa direção perpendicular a esse
campo, ela vai sofrer a ação de uma força F , cujo módulo será:
B
F = B·q·v q v

r q
uma vez que sen 90º é igual a 1. O vetor F , por sua vez, F
r
será perpendicular a v . Mas, se a força é perpendicular v
à velocidade, ela só pode mudar a direção e o sentido F
dessa velocidade. Dessa forma, os valores de todas as
grandezas envolvidas, B, q, v e F, são constantes; as q
únicas coisas que vão mudar são a direção e o sentido
r F
de v . Veja a Figura 13.
v
Ora, uma força constante, atuando perpendicular-
mente à velocidade de um corpo, faz com que esse corpo
execute um movimento circular uniforme. É uma força
centrípeta
centrípeta. Na Aula 11 você aprendeu que a força ®
centrípeta FC , que atua sobre uma partícula de massa m Figura 13. A força F
atuando sempre
que descreve um movimento circular uniforme de raio r, perpendicularmente ao
®
é dada pela expressão: vetor velocidade v faz
com que a partícula de
v2 carga q, positiva,
FC = m execute um movimento
r circular uniforme.

Por outro lado, sabemos que a força centrípeta é, sempre, a força resultante
que faz
r com que um corpo execute um MCU. Nesse caso, a força centrípeta é a
força F exercida pelo campo magnético. Teremos então:

F = FC
v2 v
B· q · v = m Þ B · q = m
r r
Dessa última relação podem-se obter outras relações importantes sobre o A U L A
movimento de uma partícula carregada num campo magnético uniforme, como
o raio r da circunferência descrita. Por exemplo:
m⋅ v
44
r=
B⋅ q

Figura 14. Foto de traços de partículas numa câmara de bolhas.

O estudo da trajetória de partículas carregadas em campos magnéticos é


uma das formas que os físicos têm de conhecer as características dessas partícu-
las. É possível ver e fotografar o rastro, isto é, a trajetória deixada por essas
partículas, em equipamentos construídos especialmente para esse fim e que são
imersos em campos magnéticos. Um desses equipamentos é a câmara de bolhas,
uma espécie de aquário cheio de hidrogênio líqüido. As partículas, quando
atravessam essas câmaras, deixam rastros de sua passagem. Os rastros são
fotografados para estudo posterior. Veja a Figura 14.

Passo a passo

3. Observe a Figura 14. Nela você vê a trajetória de duas partículas numa


câmara de bolhas imersa num campo magnético uniforme, orientado per-
pendicularmente para fora do plano da figura. Qual é o sinal da carga de cada
partícula?

Solução:

Observando a figura notamos duas trajetórias circulares que se iniciam a


partir de um determinado ponto. A seta, antes desse ponto, indica o sentido de
entrada das partículas na câmara - portanto, esse é o sentido da velocidade das
partículas. Com a palma da mão direta estendida, orientada para fora do plano
da figura e com o polegar no sentido indicado pela seta, determinamos o sentido
da força que atua sobre a carga positiva. É fácil ver que a palma da mão indica
que a força é para a direita. Portanto, a partícula de carga positiva é a que
descreve a trajetória que se curva para a direita. A outra é a de carga negativa.
É interessante observar que, na realidade, as trajetórias não são circulares,
mas espirais. Isso acontece porque a velocidade não se mantém constante. Ela vai
diminuindo devido às resistências que se opõem ao seu movimento. Por isso o
raio da circunferência que ela descreve também vai diminuindo, o que resulta
numa trajetória em espiral.
A U L A 4. Suponha que, na Figura 14, a partícula que descreve a espiral da esquerda
seja um elétron que penetrou na câmara de bolhas com uma velocidade de

44
6 -
2,0 · 10 m/s. Se campo magnético for uniforme e tiver intensidade de 5 · 10
4
T, qual o raio da circunferência descrita inicialmente pelo elétron?
São dados: carga do elétron Þ e = 1,6 · 10 C
-19

massa do elétron Þ m = 9,1 · 10 kg


-31

Solução:

Basta aplicar a relação r =


m ⋅ v, onde q = e:
B⋅ q
9,1 ⋅ 10− 31 ⋅ 2,0 ⋅ 106
r=
5 ⋅ 10 − 4 ⋅ 1,6 ⋅ 10 −19

r = 2,275 · 10-22 m

A magnetita e a bússola foram os primeiros indícios que o ser humano teve


da existência de algo que seus sentidos não podem detectar, o campo magnético.
Muitos séculos foram necessários para que se ligassem os fenômenos magnéti-
cos aos elétricos e surgisse o eletromagnetismo, cujas aplicações estão hoje
presentes em todos os momentos de nossa vida. A orientação com o auxilio da
bússola ainda hoje é usada com muita freqüência, mas tem, além dos mapas
muito mais precisos, dispositivos auxiliares cada vez mais eficientes. Existem,
por exemplo, pequenos receptores de sinais provenientes de satélites, capazes
de informar com precisão a localização de seu portador. Esses receptores se
tornaram possíveis graças às ondas eletromagnéticas, surgidas a partir do
desenvolvimento científico e tecnológico originado pelo próprio
eletromagnetismo.
Vivemos imersos num mar de ondas eletromagnéticas. Elas nos trazem
o som e a imagem dos fatos que ocorrem em todo mundo. Pode-se dizer que,
hoje, o eletromagnetismo é mais responsável do que nunca por nossa orientação.
Ou desorientação...

Nesta aula você aprendeu:

· o que é magnetismo;

· o que é campo magnético e sua configuração em linhas de indução;

· a definição do vetor campo magnético e como determinar suas características;

· como interagem o campo magnético e uma carga elétrica;

· como se representam vetores tridimensionalmente;

· as características do movimento de uma carga elétrica num campo


magnético uniforme. A U L A
Exercício 1

44
r r
Nas Figuras 15a, 15b, 15c e 15d estão representados os vetores B e v
atuando sobre uma carga q positiva. Suponha que o campo magnético em
cada
r região é uniforme. Aplicando a regra da mão direita, represente o vetor
F que atua em cada caso.
a) b) c) d)
B B B B

q v q v v q v q
Figura 15

Exercício 2
Uma carga q de 2mC é lançada com uma velocidader de 180m/s numa região
do espaço onde existe um campo magnético B de intensidade 0,4 T.
Sabendo-se que as direções da velocidade da carga e do campo magnético
são perpendiculares entre si, determine a intensidade da força que atua
sobre a carga.

Exercício 3
Observe a Figura 16. Nela você vê a trajetória de três partículas numa câmara
de bolhas imersa num campo magnético uniforme, orientado perpendicu-
larmente para dentro do plano da figura. As setas indicam o sentido do
movimento. Qual é o sinal da carga de cada partícula?

3
Figura 16

Exercício 4
Uma partícula de massa m = 2,0 · 10-8 kg e carga positiva q = 6 · 10-9 C
penetra numa região onde existe um campo magnético uniforme, de
-3 4
intensidade de 5 · 10 T, com velocidade de 6,0 · 10 m/s e perpendicular
à direção do campo magnético. Qual o raio da circunferência descrita pelo
elétron?
A UA UL L AA

45
45 Hoje não tem vitamina,
o liquidificador
quebrou!

E ssa foi a notícia dramática dada por Cristiana


no café da manhã, ligeiramente amenizada pela promessa de uma breve solução.
- Seu pai disse que arruma à noite!
- Vai ver que é outro fusível, que nem o chuveiro - palpitou Ernesto.
- Que fusível, que nada, é o motor do liquidificador que não funciona
mesmo. Seu pai, o gênio da eletricidade, disse que deve ser um tal de carvãozinho
que gastou.
- Carvãozinho?! Vai ver que ele confundiu o liquidificador com a churras-
queira - ironizou o menino.
Nesse ponto, a mãe achou bom liqüidar a conversa:
- O engraçadinho aí não está atrasado para a escola, não?
Aquele carvãozinho ficou na cabeça do Ernesto até a noite, quando Roberto
chegou. Não teve nem alô.
- Ô, pai, o que é esse tal de carvãozinho de que a mãe falou?
A resposta foi fácil. Roberto, prevenido, tinha trazido um par de
“carvõezinhos”: duas barrinhas de grafite presas a duas molinhas, que os
eletricistas costumam chamar de escovas. Conhecendo o filho, o pai foi logo
dando a explicação completa.
- É isto aqui, ó. Essas pontas do carvãozinho é que dão o contato com o motor.
A mola serve para manter o carvãozinho sempre bem apertado, para dar bom
contato. Ele fica raspando no eixo do motor, por isso o pessoal chama isto aqui de
escova. Com o tempo o carvãozinho gasta, fica muito curto, e a mola não consegue
mais fazer com que ele encoste no motor. Aí não dá mais contato, precisa trocar.
É claro que a troca tinha de ser feita naquela mesma noite, com a palpitante
assistência do filho. Roberto mostrou o rotor, as bobinas enroladas, o comutador
e os velhos carvõezinhos gastos, com a esperada reação de Ernesto:
- Nossa, como gastou, heim, pai!
E o final, feliz, foi comemorado com o ruído do liquidificador triturando uma
vitamina extra...
O contato por escovas é uma das muitas e engenhosas soluções tecnológicas
criadas para permitir a aplicação prática dos fenômenos eletromagnéticos. Ele
permite a passagem da corrente elétrica por um condutor em movimento,
garantindo a continuidade desse movimento. Assim, permite a aplicação prática
de um dos fenômenos eletromagnéticos que mais resultados práticos tem
produzido: a ação do campo magnético sobre uma corrente elétrica.
Esse é o assunto da nossa aula de hoje.
A ação do campo magnético sobre uma corrente elétrica A U L A

Na aula passada, vimos que cargas elétricas em movimento estão sujeitas à


ação do campo magnético. Uma corrente elétrica é um fluxo de cargas elétricas 45
em movimento. Logo, uma corrente elétrica deve sofrer também a ação de uma
força devida ao campo magnético.
Como não existe corrente sem condutor, essa força deve aparecer sempre
que um condutor percorrido por uma corrente elétrica esteja imerso num campo
magnético.
Para determiná-la, vamos supor, inicialmente, que um condutor retilíneo,
r
percorrido por uma corrente i, esteja imerso num campo magnético uniforme B .
Lembrando que só há força sobre uma carga em movimento se ela não se mover
na mesma direção do campo magnético, o mesmo deve ocorrer para a corrente
elétrica.
r condutor forme um ângulo q diferente de 0º
Vamos admitir, então, que esse
e 180º com o campo magnético B .

Inicialmente, vamos determinar r a


direção e o sentido da força F que atua
F sobre esse condutor. Como, por convenção,
o sentido da corrente é o sentido do movi-
mento de cargas positivas, a determinação
da direção e do sentido pode ser feita com o
B auxílio da mesma regra da mão direita uti-
i lizada para a determinação da força que
atua sobre uma carga em movimento no
campo magnético (a regra do tapa).
Figura
® 1. A direção e sentido do Basta substituir a velocidade pela corren-
vetor F que atua sobre um condutor
percorrido por uma corrente i,
te elétrica, ou seja, basta colocar o polegar no
imerso num campo®magnético sentido da corrente elétrica. A palma da mão
uniforme B. estendida continua indicando o sentido do
campo magnético. A força, como antes, tem a
direção e sentido do tapa. Veja a Figura 1.
r
Para calcular o módulo da força F , vamos relembrar a equação da força
sobre uma carga q em movimento num campo magnético, vista na aula passada:

F = B · q · v · senq

Agora, porém, não temos apenas uma carga q, mas um condutor percorrido
por uma corrente elétrica i. Lembrando a definição de corrente elétrica da Aula
40, temos:
∆q
i =
∆t

Dessa expressão obtêm-se Dq = i · Dt. A expressão da força pode então ser


reescrita da seguinte maneira:

F = B · i · Dt · v · senq
A U L A Suponha agora que apenas uma segmento do condutor, de comprimento l,
esteja imerso no campo magnético. A intensidade da força vai depender da carga

45 Dq que percorre esse segmento l. Se a carga Dq percorre o segmento l num


intervalo de tempo Dt, a sua velocidade média será:
l
v =
∆t

Fazendo a substituição na expressão da força, temos:


l
F = B · i · Dt · · senq
∆t

Cancelando Dt, obtemos o valor da força:

F = B · i · l · senq

Como seria de se esperar, essa é uma expressão muito semelhante à do


módulo da força sobre uma carga em movimento. Também aqui, como no caso
das cargas elétricas em movimento, a força será nula se o condutor estiver
disposto na mesma direção do campo magnético.

Passo a passo

1. Nas
r Figuras 2a, 2b, 2c e 2d estão representados os vetores campo magnético
B , nos quais estão imersos condutores retilíneos percorridos por uma
corrente elétrica i. Suponha que o campo magnético em cada r região é
uniforme. Aplicando a regra da mão direita, represente o vetor F que atua
sobre os condutores em cada caso.

a) b) c) d)
B B B B

i i i i Figura 2

Solução:

Aplica-ser a regra da mão direita: coloca-se a palma da mão na direção e


sentido de B e, girando-a até que o polegar coincida com o sentido da corrente
elétrica i, obtêm-se a direção e o sentido da força, que seriam a direção e o sentido
de um “tapa” dado com essa mão.

Se a carga fosse negativa, a força teria a mesma direção, mas sentido oposto.
Veja a Figura 3.

a) b) c) d)
F F F F
Figura 3
2. Um fio condutor retilíneo de 0,20 m de comprimento está disposto horizon- A U L A
talmente numa região em que existe um campo magnético também horizon-
tal e uniforme de módulo B = 0,5 T. Suponha que esse fio seja percorrido por
uma corrente elétrica i = 0,4 A. Determine o módulo e a direção da força que 45
atua sobre esse fio quando ele: r
a) esta na mesma direção do campo magnético B r
b) forma um ângulo de 53o com o campo rmagnético B
c) é perpendicular ao campo magnético B

Solução:
a) Se o fio condutor tem a mesma direção do campo, o ângulo q é 0º ou 180º,
cujo seno é zero. Portanto, a força é nula
nula.
b) Se o fio e o campo são horizontais, é fácil ver que a força que atua sobre o fio
é vertical. O sentido da força depende dos sentidos do campo e da corrente
elétrica. Para calcular o módulo, basta aplicar a expressão F = B · i · l · senq.
Temos, então:
F = 0,5 · 0,4 · 0,2 · sen53º
Sendo sen 53º = 0,8, obtemos:
F = 0,032N
c) Nesse caso, nada muda em relação à direção da força, que continua vertical.
Se as direções são perpendiculares, q = 90º e sen 90º = 1,0. Portanto, o módulo
da força será dado pelo produto F = B · i · l. Temos, então:
F = 0,5 · 0,4 · 0,2 Þ
F = 0,04 N

Uma espira imersa num campo magnético - O efeito motor

Espira vem de espiral, nome que se dá a cada uma das voltas de um fio
enrolado. Mas esse nome é usado mesmo quando a volta é retangular.
Imagine, então, uma espira retangular imersa num campo magnético
uniforme, de maneira que dois de seus lados estejam dispostos perpendicular-
mente às linhas do campo.

F
É fácil ver que uma corrente elétrica i
B percorrendo essa espira vai ter sentidos opos-
tos em lados opostos. Suponha agora que o
i campo magnético e o plano da espira sejam
horizontais. Pela regra da mão direita, pode-
B
se verificar que os lados da espira que são
i
perpendiculares ao campo magnético vão
sofrer a ação de forças verticais, de sentidos
opostos. Note que essas forças tendem a
fazer a espira girar. Veja a Figura 4.
F
Figura 4. Uma espira retangular
imersa num campo magnético:
os lados perpendiculares à Os outros dois lados estão na mesma
direção do campo sofrem a ação
de forças verticais mas de direção do campo e, por isso, não sofrem a
sentidos opostos. ação de força.
A U L A Se essa espira tiver de torcer
uma pequena mola, por exem-

45
mola
plo, que se oponha ao seu movi- ponteiro
mento, será possível avaliar a
corrente elétrica que a percorre.
Quanto maior a corrente, maior bobina m—ve
a torção. Fixando-se um pontei-
ro à espira (ou a um conjunto de
espiras), pode-se medir a inten-
sidade da corrente elétrica. Esse ’m‹ permanente
é o princípio de funcionamento
do galvanômetro, elemento bá- mola
sico dos medidores elétricos.
Figura 5. O princípio de funcionamento do
Veja a Figura 5. galvanômetro: a mola se opõe à rotação da espira
permitindo a medida da corrente elétrica que a percorre.

Suponha agora que essa espira esteja apoiada num eixo, de


eixo forma que as forças que atuam nos seus lados possam fazê-la,
F
de fato, girar. Veja a Figura 6a.
i i Vamos acompanhar o seu movimento. É interessante
notar que, à medida que a espira se movimenta, a direção e o
B F sentido das forças que atuam nos seus lados não mudam, pois
os sentidos da corrente e do campo continuam os mesmos.
Figura 6a. As forças nos ramos paralelos
fazem a espira girar no sentido anti-horário. Veja a Figura 6b.
Por isso, quando o lado de cima fica à esquerda do lado
de baixo, o sentido de rotação se inverte. A espira que estava
F girando no sentido anti-horário passa a girar no sentido
eixo
horário. Veja a Figura 6c.
i A espira, nessas condições, vai adquirir um movimento
de vaivém.
Se, de alguma forma, for possível fazer com que o sentido
B i de rotação se mantenha constante, essa espira será o elemento
básico de um motor. Isso se consegue com um comutador -
F dois contatos móveis ligados a um gerador por meio de um
Figura 6b. Mesmo em movimento, as forças par de escovas (os carvõezinhos da nossa história).
se mantêm na mesma direção e sentido.
Como você pode
ver na Figura 7,
F esses contatos mó-
veis permitem que a
i corrente elétrica per-
eixo corra a espira sem- B
pre no mesmo senti-
do, fazendo com que i
as forças atuem so-
B bre ela de maneira a
produzir um sentido
i único de rotação.
comutador
Esse é o chamado escova
F
efeito motor
motor, porque Figura 7. Um sistema de comutadores,
Figura 6c. Quando ela passa do plano nele se baseia a mai- contatos móveis por escovas, faz com
vertical o sentido de rotação se inverte. Note or parte dos motores que a espira seja percorrida pela corrente
que o sentido de percurso da corrente sempre no mesmo sentido, garantindo
elétrica também se inverteu.
elétricos.
um sentido único de rotação
Campo magnético gerado por um condutor A U L A
retilíneo percorrido por uma corrente elétrica
r
Se um campo magnético B pode atuar sobre um condutor percorrido por 45
uma corrente elétrica, podemos supor que um condutor percorrido por uma
corrente elétrica gere um campo magnético. Esse efeito, aliás, foi a primeira
constatação experimental de que a eletricidade e o magnetismo eram aspectos de
um mesmo fenômeno, o eletromagnetismo. Trata-se da experiência de Oersted,
a que já nos referimos na aula anterior.
r
Quais são as características desse campo magnético r B ? Para i
saber, precisamos dar a direção, o sentido e o módulo de B . Para isso
vamos, inicialmente, descrever uma experiência.
Suponha que se coloque um longo condutor retilíneo vertical-
mente, atravessando uma mesa horizontal. Sobre essa mesa vamos
colocar uma bússola que possa circundar esse condutor.
Figura 8. Campo magnético gerado
por um condutor retilíneo. Observe
Vamos supor também que pelo condutor passa uma corrente que a agulha da bússola é tangente
em cada ponto a uma circunferência
elétrica suficientemente intensa. Isso é importante para que o com centro no condutor.
campo magnético gerado pelo condutor seja bem mais forte que o
campo magnético terrestre, ou seja, para que a orientação da
bússola indique apenas a ação do campo gerado pelo condutor.
Movendo, então, a bússola sobre a mesa, vamos perceber que as B
linhas do campo magnético descrevem círculos em torno do condu-
r i
tor. Veja a Figura 8. P

Dessa forma podemos determinar


r a direção, o sentido e o
módulo do campo magnético B gerado num ponto P, a uma distân-
cia r do condutor. A experiência mostrou que esse campo tem a
direção da tangente à circunferência que passa por P. Essa circunfe- Figura 9. O campo magnético em P
rência tem raio r, que é a distância de P ao condutor e está contida tem a direção da tangente à
num plano perpendicular ao condutor. Na nossa experiência, esse circunferência de raio r e o sentido
plano é o plano da mesa. Veja a Figura 9. indicado pela regra da mão direta.
A corrente i está orientada para
dentro do plano da figura.

A experiência permite ainda a determinação do sentido do campo. Ele pode


ser obtido por uma regra prática, utilizando-se também a mão direita. Basta
colocar o polegar
r no sentido da corrente e dobrar os dedos: eles indicarão o
sentido de B . Veja a Figura 10.

B B

sentido
do campo
i sentido
da corrente

sentido i
sentido da corrente
do campo
B B

Figura 10. Regra da mão direita para o campo magnético gerado por um condutor
r
A U L A O módulo de B é determinado também a partir de verificações experimen-
tais. Verifica-se que para um condutor muito longo, em relação à distância r, o

45 campo magnético gerado por um condutor percorrido por uma corrente elétrica
i no ponto P tem as seguintes características:
I) B é diretamente proporcional a i
II) B é inversamente proporcional a r

Matematicamente, essas relações pode ser expressas da seguinte maneira:


i
B = constante ·
r

-7
Essa constante,
r no vácuo, vale 2 · 10 T m/A. Portanto, a expressão do
módulo de B pode ser escrita na forma:
-7 i
B = 2 · 10 ·
r

Passo a passo

3. Na Figura 11 está representado um condutor retilíneo, perpendicular ao


plano da figura. Ele é percorrido por uma corrente i = 2,0 A, dirigida para fora
do plano da figura (a corrente elétrica não é um vetor, mas utilizamos a
mesma representação na figura para facilitar a compreensão).
Determine o módulo, a direção e o sentido do campo magnético nos pontos
A e B situados a 0,1 m do condutor.

0,1 m 0,1 m

A i B
Figura 10

Solução:

O módulo do campo magnético em B é o mesmo nos pontos A e B, pois ambos


estão à mesma distância r = 0,1 m do condutor. Aplicando-se a expressão de B,
temos, portanto:
i
B A = B B = 2 · 10-7 ·
r
-7
B A = B B = 2 · 10 · 2,0 ¸ 0,1
-8
B A = B B = 4 · 10 T
r
Para determinar ra direção e o sentido de B , basta aplicar a regra da mão
direita. Em A o vetor B terá direção vertical e sentido para baixo
baixo; em B, vertical
para cima (estamos supondo que o plano da figura é horizontal).
Força entre condutores retilíneos e paralelos A U L A

Se um condutor percorrido por uma corrente elétrica pode gerar um campo


magnético, e se um campo magnético pode exercer uma força sobre um condutor 45
i i
percorrido por uma corrente elétrica, pode-se concluir que dois condutores
percorridos por corrente elétrica exercem forças entre si.
F F
O caso mais interessante de ação mútua entre dois condutores ocorre
quando esses condutores são paralelos. Vamos inicialmente examinar o caso em
que as correntes têm o mesmo sentido. Veja a Figura 12.
O condutor
r 1, percorrido por uma corrente elétrica i1 , gera um campo
magnético B1 , onde se encontra o condutor 2 percorrido pela corrente elétrica i2.
Aplicando as duas regras rda mão direita que aprendemos, podemos determinar Figura 12
r Forças de interação
a direção e o sentido de B1 atuando no condutor 2, e qual a força F1 que esse entre condutores
campo faz aparecer nesse condutor. Essa força vai ter o sentido de aproximar o paralelos
condutor 2 do condutor 1. percorridos por
correntes elétricas
Se fizermos o mesmo raciocínio para determinar a força que o condutor 2 de mesmo sentido
exerce sobre o condutor 1, vamos obter também uma força que tende a
aproximar 1 de 2.
Conclui-se, portanto, que condutores paralelos percorridos por correntes
elétricas no mesmo sentido se atraem
atraem. i
Repetindo o mesmo raciocínio para correntes de sentidos opostos, vamos
observar forças de repulsão entre eles. Veja a Figura 13.
F F
Portanto, condutores paralelos percorridos por correntes elétricas de
sentidos opostos se repelem
repelem.
É interessante notar que esse fenômeno originou a definição da unidade
fundamental de corrente elétrica do SI, o ampère
ampère: i

Figura 13
O ampère é a corrente elétrica constante que, mantida em dois Forças de interação
condutores retilíneos, paralelos, de espessura desprezível e entre condutores
paralelos
comprimento infinito, separados por uma distância de 1 metro, percorridos por
gera em, cada um desses condutores, uma força de corrente elétricas
2 · 10 -77 newtons por metro de comprimento. em sentidos
opostos.

Campo gerado por uma bobina ou solenóide

Se um condutor retilíneo gera um campo


magnético circular, pode-se imaginar que
um condutor circular, formando uma espira,
B gere um campo magnético retilíneo.
Isso de fato pode ocorrer quando, em
vez de uma única espira, tivermos uma con-
junto de espiras enroladas formando uma
i bobina ou solenóide. Veja a Figura 14.

Pode-se notar na figura que, quanto


maior o número de espiras, maior o solenóide
e, conseqüentemente, mais retilíneas serão
Figura 14. Campo magnético as linhas do campo magnético no interior do
gerado por um solenóide solenóide.
A U L A Note que a mesma regra da mão direita que indica o sentido do
campo gerado por um condutor retilíneo é aplicada ao solenóide,

45 invertendo-se o papel dos dedos e do polegar. Nesse caso, devemos


colocar os dedos em curva de acordo com o sentido da corrente
elétrica que percorre o solenóide. O sentido do campo, no interior do
B i solenóide, será indicado pelo polegar. Veja a Figura 15.
O campo no interior de um solenóide é diretamente proporci-
onal ao número de espiras e à intensidade da corrente que as
Figura 15. Campo no interior de um percorre. Se o interior, o núcleo do solenóide, for preenchido com
solenóide - regra da mão direita.
um material ferromagnético, a intensidade do campo magnético
aumenta enormemente.
Aliás, é dessa forma que se constróem os eletroímãs, bobinas enroladas em
núcleos de ferro que, quando percorridas por uma corrente elétrica geram um
intenso campo magnético.
A grande vantagem do eletroímã, além do intenso campo magnético que
pode gerar, é a possibilidade de ser acionado, ou não, bastando uma chave que
permita, ou não, a passagem da corrente elétrica. Os eletroímãs têm inúmeras
aplicações tecnológicas, desde simples campainhas e relês a gigantescos guin-
dastes. Veja a Figura 16.

campainha
eletro’m‹ sino

terminais

martelo
mola contato
armadura
de ferro

Figura 16. Aplicações tecnológicas do eletroímã

A ação do campo magnético sobre uma corrente elétrica e o fenômeno


inverso, a geração de um campo magnético por uma corrente elétrica, são
conhecidos há quase dois séculos. São, certamente, fenômenos responsáveis por
uma revolução tecnológica que modificou drasticamente a nossa vida.
Mas essa revolução não surgiu imediatamente. Embora já se conhecesse a
tecnologia dos eletroímãs, com suas inúmeras aplicações, demorou ainda algu-
mas décadas para que tudo isso pudesse de fato ser aplicado na prática. Faltava
desenvolver uma tecnologia capaz de gerar a enorme quantidade de energia que
esses dispositivos exigiam. As pilhas eram as únicas fontes de energia elétrica,
mas eram (e ainda são...) caras e muito pouco práticas. Para iluminar alguns
metros de rua eram necessárias enormes pilhas que utilizavam substâncias
químicas incômodas e poluentes.
Essa nova tecnologia começou a surgir em 1831, quando foi descoberto um
novo fenômeno eletromagnético: a indução eletromagnética
eletromagnética. Um campo mag-
nético variável, junto a um circuito elétrico, faz aparecer uma corrente elétrica
nesse circuito. É o princípio básico dos geradores e das grandes usinas de
eletricidade, que tornaram possível uma nova era - a era da eletricidade.
Nesta aula você aprendeu: A U L A
· como um campo magnético atua sobre um condutor percorrido por uma
corrente elétrica; 45
· como determinar as características da força de interação entre o campo
magnético e a corrente elétrica;
· a ação de um campo magnético sobre uma espira de corrente;
· as características de um campo magnético gerado por uma corrente elétrica;
· como interagem dois condutores paralelos percorridos por correntes elétricas;
· as características do campo magnético gerado por um solenóide.

Exercício 1
Nas Figurasr 17 a, 17 b, 17 c e 17 d estão representados os vetores campo
magnético B de diferentes regiões, nos quais estão imersos condutores
retilíneos percorridos por uma corrente elétrica i. Suponha que o campo
magnético em cadar região é uniforme. Aplicando a regra da mão direita,
represente o vetor F que atua sobre os condutores em cada caso.

a) b) c) d)
B B B B

i i i i Figura 17

Exercício 2
Um fio condutor retilíneo de 0,50 m de comprimento está disposto horizon-
talmente em uma região na qual existe um campo magnético, também
horizontal e uniforme, de módulo B = 0,35 T. Suponha que esse fio seja
percorrido por uma corrente elétrica i = 0,8 A. Determine o módulo e a
direção da força que atua sobre esse fio quando ele:
r
a) está na mesma direção do campo magnético B . r
b) forma um ângulo de 37º com o campo rmagnético B .
c) é perpendicular ao campo magnético B .

Exercício 3
Na Figura 18 está representado um condutor retilíneo, muito comprido,
perpendicular ao plano da figura, percorrido por uma corrente i = 2,5 A,
dirigida para dentro do plano da figura. Determine o módulo, a direção e o
sentido do campo magnético nos pontos A e B, situados a 0,05 m do
condutor.
A i B Figura 18
A UA UL L AA

46
46 Alguém aí tem um
transformador para
emprestar?

A família veio de muito longe. Mudara-se


de São Luís para São Paulo. A turma falou sobre a nova vizinha, uma
moreninha encantadora. Ernesto foi lá conferir. Teve sorte. Ela apareceu na
janela e, muito preocupada, reclamava com a mãe, que estava cuidando do
jardim:
- Vixe, mainha! A televisão não funciona! Será que quebrou na mudança?
- Quebrou não, filhinha - tranqüilizou a mãe. - É que a força aqui em São
Paulo é diferente da de São Luís. A gente vai precisar de uma porção de
transformadores.
E, comunicativa como ela só, botou o garotão na jogada:
- O menino aí não tem um transformador em casa pra emprestar pra
gente?
- Não sei, não, senhora, só falando com meu pai - respondeu Ernesto. E não
perdeu a deixa:
- Mas, se a sua filha quiser, pode ir ver televisão lá em casa!
- Precisa não, garoto, a gente dá um jeito - respondeu a zelosa mãe
ludovicense, esfriando o entusiasmo do garotão.
À noite, é claro, o assunto foram os novos vizinhos, a moreninha e os
transformadores. Por que em São Luís a “força” era diferente da de São Paulo?
E os transformadores, transformavam o quê no quê?
Roberto agora teve mais dificuldades. Explicou que as linhas de transmis-
são, que traziam a energia elétrica das usinas para as nossas casa, tinham alta
voltagem. E que os transformadores iam reduzindo essa voltagem pelo caminho,
conforme as necessidades ou exigências de cada região.
- Quer dizer que a gente pode aumentar ou diminuir a voltagem quanto
quiser? - animou-se o Ernesto.
- Claro, é só ter o transformador certo para isso - arriscou Roberto.
- Então a gente podia ligar um transformador numa pilha e ligar na
televisão da vizinha?
Roberto embatucou.
- Agora você me pegou, filho. Nunca vi ninguém ligar uma pilha num
transformador, mas não sei por quê - confessou Roberto.

Será que isso é possível? Afinal, o que o transformador transforma?


Tudo isso tem a ver com a indução eletromagnética, o assunto desta aula.
A indução eletromagnética A U L A

A possibilidade de existência do fenômeno da indução eletromagnética


resulta de uma observação e de um raciocínio simples. Se cargas elétricas em 46
movimento - uma corrente elétrica - geram um campo magnético, então um
campo magnético em movimento deve gerar uma corrente elétrica.
Em 1831, os físicos Joseph Henry, norte-americano, e Michael Faraday,
inglês, conseguiram verificar experimentalmente esse fenômeno. Aproximan-
do e afastando um ímã de uma bobina ligada a um galvanômetro (um medidor
de corrente elétrica), eles puderam notar que o ponteiro do galvanômetro se
movia. Isso mostrava o aparecimento de uma corrente elétrica induzida na
bobina pelo movimento do ímã.
Como se previa, a variação do campo magnético, provocada pelo movimen-
to do ímã, gerava uma corrente elétrica.
A experiência, no entanto, mostra ainda mais. O movimento do ponteiro tem
sentidos diferentes quando o imã se aproxima e quando se afasta. Isso significa
que o sentido da corrente induzida na bobina depende da forma como o campo
magnético varia. Veja as Figuras 1a e 1b.

a)

Figura 1. A indução
eletromagnética. O
ponteiro do galvanômetro
indica a passagem de
corrente elétrica pela
bobina. Veja que, em a e
b) b, os sentidos do
movimento do ponteiro
(deflexão) são opostos.

E não é só isso. A intensidade da corrente elétrica, indicada pela maior ou


menor deflexão do ponteiro, depende da maior ou menor rapidez do movimento
do ímã. Essas observações são muito importantes, pois deram origem às duas leis
básicas de indução eletromagnética: as leis de Faraday e Lenz.

O fluxo magnético e a lei de Faraday

Para entender a lei de Faraday é necessário entender um novo conceito: o


fluxo magnético
magnético.
r Suponha que numa região do espaço exista um campo
magnético B , uniforme. Imagine um retângulo dentro desse campo e uma
reta perpendicular ao plano do retângulo.
Conforme a posição em que esse retângulo estiver, varia o número de linhas
do campo magnético que o atravessam. Isso significa que o fluxo magnético que
atravessa o retângulo varia.

B B B
n
θ
n n
®
Figuras 2a, 2b e 2c. O fluxo do campo magnético B na superfície do retângulo.
A U L A Veja as Figuras 2a, 2b e 2c. Em 2a o fluxo é máximo: o plano do retânguloré
perpendicular à direção das linhas do campo magnético. Nesser rcaso, o vetor B
46
r
tem a mesma direção do vetor n , ou seja: o ângulo q, entre B e n , é igual a zero.
Em 2b, o número de linhas que atravessam o retângulo
r é menor, portanto
r
o fluxo é menor. Observe que, aqui, o ângulo q entre B e o vetor n já não é mais
igual a zero.
Em 2c, o plano do retângulo é paralelo às linhas do campo magnético.
Nesse caso, nenhuma linha atravessa o retângulo, ou seja, o fluxo através do
retângulo é nulo. Observe que agora o ângulo q é de 90º.
Mas não é apenas a relação entre as linhas do campo magnético e a
superfície do retângulo que importa para a compreensão r do conceito de fluxo
magnético. Se a intensidade do campo magnético B for maior haverá mais
linhas e, portanto, o fluxo será maior. Além disso, se a área A do retângulo for
maior, haverá também mais linhas passando por ele. O fluxo magnético
também será maior. Todas essas considerações podem ser reunidas numa
expressão matemática que define o fluxo magnético. Representando o fluxo
pela letra grega F (fi, maiúsculo), essa definição é expressa assim:

F = B · A · cos q

2
A unidade de fluxo é T m , ou seja, o produto da unidade de campo
magnético pela unidade de área, já que o co-seno é um número puro, adimensional.
Essa unidade se chama weber
weber, cujo símbolo é Wb Wb, em homenagem a Wilhelm
Weber, físico alemão que viveu no século XIX.
Observe que o co-seno aparece nessa expressão mostrando como varia o
fluxo em função do ângulo q. Quando q = 0º, o retângulo é atravessado pelo
maior número possível de linhas de força. Nesse caso o co-seno é 1, ou seja, o
fluxo é máximo. Quando q = 90º, nenhuma linha de força atravessa o retângulo.
O co-seno de 90º é zero, ou seja, o fluxo é nulo.
Imagine agora que o retângulo seja uma espira de fio condutor. Faraday
notou que o fator determinante para a geração da corrente elétrica nessa espira
de fio condutor é a variação do fluxo magnético que a atravessa. Essa variação
pode ocorrer de dois jeitos principais. Um deles é aproximar ou afastar um ímã
da espira, mantendo a espira fixa. Aproximando-se um ímã da espira, o número r
de linhas de campo que atravessam a espira aumenta, isto é, o valor de B
aumenta. Afastando-se o ímã, o valor diminui. Em ambos os casos, o fluxo, F,
varia, e aparece uma corrente elétrica na espira. Mais ainda: quanto maior a
rapidez com que o fluxo magnético varia, maior a corrente elétrica induzida.
O outro jeito é fazer a espira girar. Girando, o fluxo magnético varia porque
o ângulo q varia. Nesse caso, a maior rapidez de variação do fluxo também
aumenta a intensidade da corrente induzida. Essa rapidez, aqui, está relaciona-
da diretamente com a freqüência de rotação da espira. Veja a Figura 3.
N

G
Figura 3. Duas formas de variar o fluxo magnético
e gerar corrente elétrica.
No entanto, a corrente elétrica é conseqüência, não é causa. Isso quer A U L A
dizer que, se aparece uma corrente num circuito, é porque surge alguma
coisa fornecendo energia aos elétrons. Alguém faz o papel da criança que
coloca bolas no alto do escorregador, como na analogia que fizemos na Aula 46
42 para explicar como funcionava um gerador e definir força eletromotriz.
Esse papel é feito pelo movimento, pela energia cinética do ímã ou da
espira. Nesses dois exemplos, portanto, uma energia é fornecida aos elé-
trons quando se movimenta o ímã ou a espira. E essa energia é que faz os
elétrons se mover.
Em outras palavras, na realidade a variação do fluxo magnético numa
espira ou circuito gera uma força eletromotriz induzida nesse circuito. Essa
força eletromotriz, por sua vez, gera uma corrente elétrica. Se o circuito estiver
interrompido - se houver uma chave aberta, por exemplo - a corrente não
circula, embora a força eletromotriz induzida continue existindo. Por isso é que
dissemos que a corrente elétrica é conseqüência, não é causa. E, também por
essa razão, a lei de Faraday é definida a partir da fem e induzida e não da
corrente elétrica induzida.

A lei de Faraday, portanto, estabelece que sempre que um circuito elétrico


estiver imerso num fluxo magnético variável, surge, nesse circuito, uma fem
induzida e. Essa fem será tanto maior quanto mais rápida for essa variação.
Matematicamente essa lei pode ser expressa na forma:

∆Φ
ε induzida =
∆t

O fator DF indica a variação do fluxo e Dt indica o intervalo de tempo em


que essa variação ocorre. Como o fator Dt está no denominador, quanto menor
o intervalo de tempo, maior o valor de e.

Passo a passo

2
1. Suponha que, na Figura 2, o retângulo seja uma espira de área 200 cm
(igual a 0,02 m2), e que a intensidade do campo magnético seja B = 0,5 T.
Qual o fluxo magnético que atravessa a espira na posição a, quando o
ângulo q = 90º , e na posição b, supondo que q = 45º?

Solução

Na posição a, como q = 90º, cos q = 1,0. Portanto, o fluxo é dado por:


F = B · A Þ F = 0,5 · 0,02
F = 0,01 Wb

Na posição b, temos:
F = B · A · cos q Þ F = 0,5 · 0,02 · cos 45º Þ F = 0,01 · 0,71
F = 0,0071 Wb
A U L A 2. Na Figura 4, suponha que uma bobina formada por 100 espiras circulares de
2
50 cm de área esteja diante de um eletroímã. Suponha que o campo

46 magnético gerado por esse eletroímã tenha intensidade B = 0,8 T e seja


uniforme na região onde está a bobina. Suponha ainda que o plano da bobina
seja perpendicular às linhas desse campo:

a) qual o fluxo magnético que


passa por essa bobina?
B
b) o que acontece na bobina se o
eletroímã for desligado?

i
Figura 4
Solução

a) Pela definição de fluxo, cada espira estará sujeita ao fluxo F = B · A · cos q.


No entanto, se a bobina tiver N espiras iguais, o fluxo na bobina será N vezes
maior que o fluxo em cada espira. Teremos então:
FBOBINA = N · FESPIRA
FBOBINA = N · B · A · cos q

Como a espira é perpendicular às linhas de campo, q = 0º, portanto


cos q = 1 e, portanto:
FESPIRA = B · A. Então o fluxo na bobina será:
FBOBINA = N · B · A

Sendo N = 100, B = 0,8 T e A = 50 cm2 = 0,0050 m2, temos:


FBOBINA = 100 · 0,8 · 0,005
FBOBINA = 0,4 Wb

b) Quando o eletroímã é desligado, o campo magnético deixa de existir e,


conseqüentemente, o fluxo na bobina torna-se nulo. Ele sofre, portanto,
uma variação, passando de 0,4 Wb a zero. Logo, em módulo, DF = 0,4 Wb.
Se há uma variação no fluxo, deve surgir uma força eletromotriz induzida
na bobina. A intensidade dessa fem, entretanto, depende do intervalo de
tempo Dt em que essa variação ocorre. Esse intervalo de tempo não é nulo,
porque há uma espécie de inércia na corrente elétrica que percorre o
eletroímã e que impede o seu desligamento imediato. Vamos admitir,
apenas para exemplificar, que esse intervalo de tempo seja Dt = 0,1 s. Nesse
caso, a fem na bobina seria de
∆Φ 0,4
ε = ⇒ ε =
∆t 0,1

e = 4,0 V
A lei de Lenz Figura 5. Campo magnético induzido
A Unuma
L Abobina
devido à aproximação ou afastamento de um ímã
Heinrich Lenz foi um físico russo que, três anos
depois de Faraday e Henri, em 1834, enunciou a lei a) o imã será repelido
46 sentido
do campo magn•tico
induzido pelo movimento
do ’m‹
que complementa a nossa compreensão da indução
eletromagnética. Toda vez que introduzimos ou reti-
ramos um ímã de uma bobina ou solenóide ligada a
um circuito fechado, sentimos uma força contrária ao
movimento desse ímã. Ela se opõe tanto à entrada N S

como à saída do ímã do interior do solenóide. Veja a


Figura 5. Lenz interpretou corretamente esse fenôme-
no, ao perceber que essa oposição se devia ao campo
sentido
magnético que o próprio ímã induzia na bobina. da corrente induzida
G
Pela lei de Faraday, quando o ímã se aproxima da sentido
bobina, surge na bobina uma fem induzida. Essa fem b) o imã será repelido do campo magn•tico
induzido pelo movimento
faz aparecer uma corrente elétrica na bobina, que, por do ’m‹
sua vez, gera um campo magnético. Lenz concluiu
que esse campo magnético terá sempre um sentido
que se opõe ao movimento do ímã. Se o ímã se S N
aproxima da bobina pelo seu pólo norte, a corrente
elétrica induzida na bobina tem um sentido tal que faz
aparecer um pólo norte na extremidade da bobina em
frente ao ímã. sentido
da corrente induzida
Como se sabe, pólos iguais se repelem, e por isso G
surge uma oposição à entrada do ímã. Veja a Figura sentido
5a. Se o ímã se aproximasse pelo pólo sul, a corrente c) o imã será atraído do campo magn•tico
induzido pelo movimento
induzida teria o sentido oposto, fazendo aparecer um do ’m‹
pólo sul nessa extremidade da bobina. Veja a Figura
5b. Se retiramos ou afastamos o pólo norte do ímã,
surge na bobina uma corrente elétrica que cria um N S
pólo sul, “segurando” o ímã. Veja a Figura 5c. Da
mesma forma, se afastamos o pólo sul do ímã, aparece
um pólo norte na bobina para segurar o ímã. Veja a
Figura 5d. sentido
Observe que, utilizando a regra da mão direita, da corrente induzida
G
podemos, a partir dessas observações, determinar
sentido
facilmente o sentido da corrente elétrica induzida na d) o imã será atraído do campo magn•tico
bobina em cada caso. induzido pelo movimento
do ’m‹
É importante notar que essas observações são
válidas para todas as situações em que o fluxo magné-
tico varia num circuito elétrico, qualquer que seja a
S N
forma pela qual isso for feito. O campo magnético
induzido por esse circuito sempre atua de maneira a
se opor à ação que o criou. Esse é, em síntese, o
enunciado da lei de Lenz: sentido
da corrente induzida
G

A variação do fluxo magnético num circuito induz, nesse circuito,


uma corrente elétrica que gera um campo magnético que se opõe
ao fenômeno responsável por essa variação.
A U L A O gerador de corrente alternada

46 A principal aplicação da indução eletromagnética é a possibilidade de


construir geradores de corrente elétrica a partir da transformação da energia
mecânica em energia elétrica. Imagine um circuito elétrico, formado por um
determinado número de espiras, girando imerso num campo magnético. Como
vimos na Figura 2, o fluxo magnético nesse circuito varia e, em conseqüência,
aparece nesse circuito uma fem induzida.
Esse é o princípio dos geradores mecânicos, também chamados de dínamos.
Esse tipo de gerador forneceu a energia elétrica necessária para inúmeras
aplicações tecnológicas e trouxe inúmeras outras, devido principalmente à nova
forma de corrente elétrica que ele gera, a corrente alternada
alternada. Para entender como
funciona esse gerador e o que significa uma corrente alternada, vamos examinar
a Figura 6, abaixo.
’m‹ permanente

S
N
Figura 6. Um gerador de
corrente alternada.

terminais
terminais sentido de rota•‹o
(escovas)
de corrente el•trica da espira

Na Figura 6 você pode observar como funciona um gerador de corrente r


alternada. À medida que a espira vai girando, o fluxo do campo magnético B ,
gerado pelos ímãs, varia. De zero ele aumenta até atingir um valor máximo,
depois diminui a zero novamente e assim sucessivamente. A corrente induzida
na bobina, pela lei de Lenz, deve ter um sentido que produza um campo
magnético que se oponha rotação da espira. Por isso ela tem um sentido
variável ou oscilante, porque ora ela deve se opor a um fluxo que aumenta, ora
deve se opor a um fluxo que diminui. É, portanto, uma corrente alternada
alternada. Veja
a Figura 7.
É interessante notar que, diferentemente do que ocorre na corrente
contínua
contínua, gerada pelas pilhas, na corrente alternada os elétrons em geral não
se movimentam continuamente, ao longo do condutor, como naquela analo-
gia que fizemos com a escola de samba. Eles apenas se mantêm oscilando
entre posições fixas. Para utilizar a analogia da escola de samba, seria como
se essa escola avançasse e recuasse, incessantemente, de uma determinada
distância fixa.

corrente
Figura 7
Gráfico da
intensidade da
corrente em função per’odo
do período T de
rotação da espira.
A utilização prática da corrente alternada tem vantagens em relação à A U L A
corrente contínua. Uma das grandes vantagens está na possibilidade de a
corrente alternada ser gerada diretamente pelo movimento de rotação, que pode
ser obtido facilmente com a utilização de turbinas impulsionadas pelo movi- 46
mento da água, do vapor ou do vento. Essas fontes de energia são muito mais
acessíveis e de potência muito maior do que as pilhas ou baterias que geram a
corrente contínua. Outra vantagem da corrente alternada é que só com ela é
possível o uso dos transformadores.

Transformadores

O funcionamento dos transformadores baseia-se diretamente na indução


eletromagnética. Para entender melhor, vamos descrever uma experiência se-
melhante a uma das experiências realizadas por Faraday. Suponha que uma
espira 1, circular, ligada a uma pilha com uma chave interruptora, está colocada
em frente a outra espira 2, também circular, ligada a um galvanômetro muito
sensível. Veja a Figura 8.
espira 1
pilha
Se a chave estiver ligada, a corrente
elétrica que passa pela espira 1, gera um
campo magnético que vai atravessar a espira 2 chave
ligada
espira 2. Como a corrente produzida
pela pilha é contínua, o campo magnéti-
co é constante e o fluxo magnético que
atravessa a espira 2 não varia. Conse- 0

qüentemente, nada se observa no


O

galvanômetro ligado à espira 2. galvan™metro Figura 8

Se, no entanto, nós ligarmos ou desligarmos a chave, o fluxo varia, pois não
existia e passa a existir e vice-versa. Observa-se então que o ponteiro do
galvanômetro vai oscilar ora num sentido, no momento em que a chave é ligada,
ora noutro, quando a chave é desligada. Se ficarmos ligando e desligando a chave
sem parar, o ponteiro do galvanômetro vai ficar oscilando sem parar.
espira 1
É fácil perceber que podemos subs- pilha
tituir a pilha e a chave à qual está ligada
a espira 1 por um gerador de corrente chave no
alternada, oscilante, que produz um efei- espira 2 chave
momento em
ligada
que é desligada
to equivalente ao liga-desliga da chave.
Nesse caso, o galvanômetro ligado à
espira 2 também vai oscilar. Ou seja, a Figura 9.
espira 1, percorrida por uma corrente 0
O campo magnético
O

alternada, induz uma outra corrente al- variável gerado


galvan™metro na espira 1
ternada na espira 2. Veja a Figura 9. induz uma fem na espira 2.

Mas, como já dissemos anteriormente, a corrente elétrica existe porque existe


uma fem ou diferença de potencial que a origina. O liga-desliga da chave, ou do
gerador de corrente alternada, é, na verdade, uma fonte variável de fem ou de
diferença de potencial. Assim, uma diferença de potencial variável V1 na espira
1 induz uma diferença de potencial variável V2 na espira 2.
A U L A No caso da Figura 9, apenas uma parte das linhas do campo magnético
geradas pela espira 1 passa pela espira 2. Isso significa que só uma parte dessas

46 linhas produz a variação do fluxo que gera a fem induzida na espira 2. A maior
parte do campo magnético gerado na espira 1 não é aproveitada pela espira 2
(lembre-se de que as linhas do campo magnético não se localizam apenas no
plano da figura: elas são espaciais, isto é, avançam para a frente e para trás desse
plano). Sabemos, no entanto, que materiais ferromagnéticos têm a propriedade
de concentrar as linhas de campo. Por isso, se enrolarmos as espiras 1 e 2 num
mesmo núcleo de material ferromagnético, praticamente todas as linhas de
campo geradas pela espira 1 vão passar pela espira 2. Veja a Figura 10. Esse é o
princípio de funcionamento do transformador.

Figura 10
Um transformador
utilizado para Entrada Sa’da
demonstrações
didáticas.

Mas por que ele se chama transformador? Para responder a essa pergunta
vamos supor que, em lugar das espiras 1 e 2, tenhamos bobinas 1 e 2, com
diferentes números de espiras enroladas em cada uma. Suponhamos que a
bobina 1 tenha N1 espiras e que a bobina 2 tenha N2 espiras. Se a bobina 1 for
ligada a uma fonte de fem variável e1, ela vai gerar um fluxo magnético variável.
Vamos admitir que e1 forneça uma diferença de potencial que valha, em média,
V1, num intervalo de tempo Dt. Se nesse intervalo de tempo Dt o fluxo variar de
zero a F1, pela lei de Faraday,
∆Φ , pode-se dizer que:
ε =
∆t

DF1 = V1 · Dt

Se todas as N1 espiras da bobina 1 forem atravessadas perpendicularmente


pelas linhas de campo, a definição de fluxo (reveja o exemplo 2) nos permite
concluir que:
DF1 = N1 · B · A

Portanto, igualando essas duas expressões, temos:

V1 · Dt = N1 · B · A

O que nos permite escrever:


V1 B ⋅ A
=
N1 ∆t
Podemos repetir esse mesmo raciocínio para a bobina 2 de N2 espiras. A U L A
Observe que o intervalo de tempo Dt em que o fluxo varia numa bobina é igual
ao da outra, que as espiras podem ser construídas de maneira a ter a mesma área
A e que o valor do campo magnético B que as atravessa também pode ser 46
praticamente o mesmo, devido à ação do núcleo. Dessa forma, sendo V2 a
diferença de potencial média induzida nessa bobina, vamos obter:
V2 B ⋅ A
=
N2 ∆t

Portanto, como B, A e Dt são constantes, obtemos:


V1 V
= 2
N1 N2

Costuma-se chamar a bobina 1 de enrolamento primário ou simplesmente


primário; a bobina 2 é chamada de secundário
primário secundário. Pode-se concluir então que a
diferença de potencial ou voltagem no primário e no secundário pode variar,
dependendo do número de espiras de cada enrolamento. Pode-se, facilmente,
“transformar” uma voltagem V1 numa voltagem V2 - basta, para isso, construir
bobinas ou enrolamentos com o número adequado de espiras. Por isso o
dispositivo se chama transformador. Veja o exemplo a seguir.

Passo a passo

3. Um transformador tem 20 espiras no primário e 300 espiras no secundário.


a) se o primário for ligado a uma tensão alternada de 5,0 V, qual será a tensão
induzida no secundário?
b) se o secundário for ligado a uma tensão alternada de 45 V, qual será a
tensão induzida no primário?

Solução
V1 V
Em ambos os casos, basta aplicar a relação = 2 ⇒ V11 ⋅· N
N22 ==VV
2 2⋅ ·NN
11
N1 N2

a) V1 = 5,0 V, N1 = 20 espiras e N2 = 300 espiras. Portanto, para determinar V2


basta aplicar a relação:
V1 · N2 = V2 · N1 Þ 5,0 · 300 = V2 · 20
V 2 = 75 V

b) V2 = 45 V, N1 = 20 espiras e N2 = 300 espiras. Portanto, para determinar V1


basta aplicar a relação:
V1 · N2 = V2 · N1 Þ V1 · 300 = 45 · 20
V1 = 3 V

Observe que no primeiro caso houve um aumento de tensão e no segundo,


uma diminuição. Os transformadores são usados tanto para aumentar como
para diminuir a tensão. É indiferente saber qual é o primário e o secundário: o que
importa é relacionar corretamente o número de espiras de uma das bobinas com
a tensão nela aplicada.
A U L A Os transformadores e a conservação da energia

46 Às vezes as pessoas têm a impressão de que o transformador é um


dispositivo milagroso, porque pode aumentar a tensão do primário para
valores muito maiores no secundário. Também pode diminuir, mas isso não
impressiona muito...
Na realidade, não existe milagre nenhum. Como nós já vimos na Aula 41, a
potência P fornecida a um dispositivo elétrico é dada pelo produto da tensão a
que é submetido pela corrente elétrica que passa por ele, ou seja, P = V · i.
Portanto, se a energia se conserva, a corrente elétrica deve diminuir quando a
tensão aumenta. É isso o que ocorre num transformador.
Vamos supor que a potência P1 fornecida ao primário se conserve no
secundário. Isso quer dizer que a potência P2 do secundário é igual a P1. Essa
é uma hipótese razoável, porque os transformadores têm rendimento muito
alto, próximo de 100%. Então, lembrando que P1 = V1 · i1 e P2 = V2 · i2, temos:

V1 · i1 = V2 · i2 (I)

Mas, como vimos:


V1 V2
= ⇒ V1 ⋅ N2 = V2 ⋅ N1 (II)
N1 N2

Dividindo as igualdades (I) por (II), temos:


i1 i
= 2
N2 N1

É importante notar que os denominadores aqui estão invertidos em relação


à expressão das tensões. Isso implica que, sempre que houver um aumento na
tensão, haverá, em correspondência, uma diminuição da corrente. Veja o
exemplo a seguir.

Passo a passo

4. Um transformador tem uma bobina de 100 espiras no primário e de 3.000


espiras no secundário. Aplicando-se ao primário uma tensão de 12 V, ele é
percorrido por uma corrente elétrica de 900 mA. Qual o valor da tensão e da
corrente elétrica no secundário?

Solução:

Para determinar a tensão no secundário, aplicamos a relação V1 · N2 = V2 · N1,


onde V1 = 12 V, N1 = 100 espiras e N2 = 3000 espiras. Temos, portanto:

12 · 3000 = V2 · 100
V 2 = 360 V
Para determinar a corrente no secundário, aplicamos a expressão: A U L A

46
i1 i
= 2 ⇒ i1 ⋅ N1 = i2 ⋅ N2
N2 N1

Onde i1 = 900 mA, N1 = 100 espiras e N2 = 3000 espiras. Temos, portanto:


900 · 100 = i2 · 3000
i 2 = 30 mA

Observe que, embora a tensão tenha se tornado 30 vezes maior


maior, a corrente
elétrica, em compensação, tornou-se 30 vezes menor
menor.

O fenômeno da indução eletromagnética completa o nosso estudo do


eletromagnetismo. A geração de uma corrente elétrica a partir de um fluxo
magnético variável, por meio de bobinas, possibilitou a construção de enormes
geradores de fem alternada e, conseqüentemente, de corrente alternada. Isso
se tornou viável devido à possibilidade de aproveitamento da energia mecâ-
nica de rotação.
No Brasil, essa energia quase sempre tem origem na energia das quedas
d’água, nas usinas hidrelétricas.
Ocorre que essas usinas às vezes se localizam a centenas de quilômetros das
cidades ou dos centros consumidores. Por isso, a energia elétrica deve ser
transportada por fios, em extensas linhas de transmissão. Aqui aparece mais
uma aplicação da indução eletromagnética: os transformadores. Eles permitem
adequar os valores da voltagem e da corrente elétrica, de maneira a possibilitar
seu transporte com maior eficiência.
As linhas de transmissão têm alta voltagem para ser percorridas por
correntes de baixa intensidade. Isso reduz as perdas por calor (lembre-se de
que a potência dissipada num condutor é proporcional ao quadrado da
corrente, P = R · i2). Outros transformadores, colocados ao longo da linha,
permitem o fornecimento da tensão adequada a cada consumidor.
Quando um morador de uma cidade como São Luís, onde a voltagem
fornecida é 220 V, se muda, por exemplo, para São Paulo, onde a voltagem é
127 V, o uso de transformadores domésticos resolve eventuais problemas.
A corrente alternada, no entanto, também apresenta inconvenientes. Isso
acontece, principalmente, em relação ao uso de aparelhos eletrônicos. Esses
aparelhos exigem, quase sempre, um fornecimento contínuo de energia elétrica,
ou seja, precisam de uma corrente contínua. Por isso, quando não se usam
pilhas, é necessário o uso de retificadores de corrente que, como o próprio nome
indica, transformam a corrente alternada em corrente contínua.
As pilhas sempre fornecem corrente contínua. Como a corrente contínua
não pode gerar fluxo magnético variável, é inútil o uso de transformadores com
pilhas. É por isso que, na nossa história, Roberto dizia nunca ter visto alguém
usar uma pilha ligada a um transformador. Quando um aparelho a pilha precisa
de uma tensão maior que 1,5 V, a única solução é utilizar associações de pilhas
em série. Mesmo assim, as voltagem obtidas serão sempre múltiplos de 1,5 V.
Mas o eletromagnetismo não termina aqui. Ele tem aplicações e conseqüên-
cias extraordinariamente importantes. Se um campo magnético variável gera
uma corrente elétrica, gera também um campo elétrico. Isso porque, como vimos
na Aula 40, só existe corrente elétrica se existir campo elétrico.
A U L A Esse fenômeno levou o físico escocês James C. Maxwell, em 1864, a postular
o fenômeno oposto - um campo elétrico variável deveria gerar um campo

46 magnético variável. Maxwell percebeu claramente que, se isso fosse verdade,


esses fenômenos se encadeariam numa seqüência interminável. Um campo
magnético variando gera um campo elétrico que, como não existia e passou a
existir, também varia. Se esse campo elétrico varia, gera um campo magnético
que, como não existia e passou a existir, também varia. Se esse campo magnético
varia, gera um campo elétrico que, como não existia... Essa sucessão de campos
variáveis foi chamada de onda eletromagnética
eletromagnética. Mas essa já é uma outra
história, que fica para uma outra aula...

Nesta aula você aprendeu:

· o conceito de indução eletromagnética;

· o conceito de fluxo magnético e a lei de Faraday;

· a lei de Lenz;

· como funciona um gerador de corrente alternada;

· como funcionam os transformadores.

Exercício1
Na figura 10, uma espira retangular de área 500 cm2, igual a 0,05 m2,
está imersa num campo magnético uniforme de intensidade B = 0,08 T.
Qual o fluxo magnético que atravessa a espira:
a) na posição a, quando q = 90º.
b) na posição b, quando q = 45º.
B B

n
45

a b
Figura 10

Exercício 2
2
Suponha que uma bobina formada por 800 espiras circulares de 25 cm de
área esteja diante de um eletroímã. Suponha que o campo magnético gerado
por esse eletroímã tenha intensidade B = 0,5 T e seja uniforme na região onde
está a bobina. Sabendo-se que o plano da bobina é perpendicular às linhas
desse campo, determine:
a) qual o fluxo magnético que passa por essa bobina.
b) o que acontece na bobina se o eletroímã for desligado.
Exercício 3 A U L A
Um transformador tem 25 espiras no primário e 1.500 espiras no secundário.
Pede-se:
a) se o primário for ligado a uma tensão alternada de 10 V, qual será a tensão 46
induzida no secundário?
b) se o secundário for ligado a uma tensão alternada de 110 V, qual será a
tensão induzida no primário?

Exercício 4
No problema anterior, se a potência do transformador for igual a 22 W,
qual a corrente elétrica no primário e no secundário, supondo que não haja
perdas?

Exercício 5
Um transformador tem uma bobina de 300 espiras no primário e de
12.000 espiras no secundário. Tem uma potência de 440 W. Aplica-se ao
primário uma tensão de 220 V. Pede-se:
a) a corrente elétrica no primário;
b) supondo que não haja perdas, qual o valor da tensão e da corrente elétrica
no secundário?
A UA UL L AA

47
47
O mundo do átomo

E ra hora do lanche e Maristela foi comer sua


maçã. Pegou uma faquinha e cortou a maçã ao meio. Depois cortou-a ao meio
outra vez, e mais outra. De repente, passou-lhe pela cabeça a idéia de continuar
a cortar os pedaços da maçã sempre ao meio... e pensou:
- Se eu pudesse continuar cortando esse pedaço de maçã ao meio, chegaria
a um pedaço que não poderia mais ser dividido?
Maristela não foi a primeira a ter essa dúvida. Os gregos pensaram muito
nesse assunto e foi mais ou menos assim que tudo começou. Há uns 2.500 anos,
alguns filósofos passaram a discutir essa questão. Naquela época, porém, não
existiam instrumentos como os que existem hoje para investigar a natureza. Por
isso, os gregos ficavam apenas imaginando como ela deveria ser...

1/2 maçã... 1/4 de maçã... 1/8 de maçã... 1/16 de maçã ...maçã?

Um daqueles gregos, chamado Demócrito, acreditava que não era possível


dividir infinitamente um objeto. Ele achava que qualquer objeto poderia ser
dividido muitas vezes e que, após muitas divisões, chegar-se-ia a um pedaço
indivisível.
Podemos pensar num objeto divisível como um objeto formado por outras
partes. Em grego, parte é tomo, e a é o prefixo que indica ausência de, portanto,
Demócrito chamou de átomo (a-tomo) aquele pedaço de matéria que não teria
partes, isto é, que não poderia mais ser dividido. A idéia de átomo era tão forte
para Demócrito que ele afirmou: “Nada existe, além dos átomos e do vazio”.
Em nossa vida, porém, não temos evidências diretas da natureza atômica da
matéria. Ao contrário, a matéria nos parece contínua. Por exemplo: quando você
coloca água num copo, ou quando examina um pedaço de ferro, não percebe a
existência de átomos, que são pequenos demais para serem observados a olho
nu. Por isso, durante muitos séculos, a idéia de átomo não foi aceita pela maioria
das pessoas.
Há uns duzentos anos, cientistas e filósofos perceberam que havia substân-
cias, os elementos químicos, que se combinavam para formar outras substânci-
as, os compostos químicos, e que isso poderia ser compreendido mais facilmente
se cada elemento fosse formado por um tipo de átomo, todos iguais entre si.
Assim, elementos diferentes seriam formados por átomos diferentes.
Os compostos são formados por moléculas, que podem conter átomos de A U L A
vários elementos químicos diferentes. Por exemplo: uma molécula de água é
formada por dois átomos do elemento hidrogênio (H) e um átomo do elemento
oxigênio (O). Essa idéia de átomo foi usada para explicar a existência dos 47
elementos químicos, dos compostos químicos e a ocorrência de reações quími-
cas. Os principais elementos químicos conhecidos são mostrados na tabela
abaixo. Cada um é representado por um símbolo de uma ou duas letras:
He = Hélio; N = Nitrogênio etc. O número que aparece junto a cada símbolo
caracteriza o elemento químico e é chamado de número atômico, representado
pela letra Z. O ferro (Fe), por exemplo tem Z = 26.

Figura 1. Tabela periódica dos elementos (simplificada)

Mesmo assim, no século passado muitos cientistas ainda relutavam em aceitar


a existência dos átomos: só neste século é que a idéia foi plenamente aceita. Um fato
que contribuiu para dar credibilidade à idéia do átomo foi a descoberta do elétron,
uma primeira partícula subatômica, isto é, menor do que o átomo, que tem carga
elétrica negativa e está presente em todos os átomos.
O elétron foi descoberto na Inglaterra em 1897, por Joseph J. Thomson.
Thomson estudou a passagem de corrente elétrica por um gás no interior de um
tubo de vidro, que continha também duas peças metálicas, uma positiva (anodo)
e outra negativa (catodo). Entre essas duas peças havia uma grande diferença de
potencial (tensão). Thompson sabia que a baixas tensões, o gás era isolante e não
permitia a passagem de corrente elétrica. Mas, quando a tensão era aumentada,
ocorria uma descarga elétrica e o gás se tornava condutor. Nesse momento, o gás
emitia uma certa luminosidade, e surgia uma fluorescência verde no vidro em
frente ao catodo. Thomson chamou este fenômeno de raios catódicos, pois eles
vinham do catodo, e descobriu que esses raios eram formados por partículas
com carga elétrica negativa, que vinham do gás e que eram repelidas pelo catodo
(-) e atraídas para o anodo (+). Essas partículas foram chamadas de elétrons.
Thomson verificou que isto ocorria com qualquer gás. Isso o fez concluir que os
elétrons existem nos átomos de todos os gases.
Havia também uma outra importante evidência: alguns cientistas, como a
polonesa Marie Curie, descobriram que certos materiais emitiam “alguma
coisa” que não se sabia ao certo o que era. Um desses materiais, descoberto pela
própria Marie Curie, foi chamado de rádio e, por isso, esse fenômeno foi
chamado radioatividade e os elementos que formavam aqueles materiais
foram chamados de elementos radioativos. A radiação foi chamada de raios
alfa. Hoje, essas partículas são bem conhecidas; falaremos nelas mais adiante.
A U L A A observação de partículas emitidas pelos materiais radioativos e a desco-
berta dos elétrons levaram os cientistas a acreditar que o átomo era divisível e

47 que deveria ter uma estrutura interna. Assim surgiram os primeiros modelos
atômicos.
Os cientistas já sabiam que no átomo existiam cargas elétricas positivas
e negativas. A questão era: como essas cargas estão organizadas no interior
do átomo?
O primeiro a propor um modelo atômico foi o
próprio Thomson. Ele imaginou que o átomo era
formado por uma “massa” composta por cargas
elétricas positivas, como a massa de um pudim, na
qual estariam espalhados os elétrons, como as
passas do pudim. Por isso esse modelo ficou co-
nhecido como pudim de passas (Figura 2).
Mas os cientistas queriam saber mais sobre as
propriedades da matéria e do átomo. Por isso, esse
modelo continuou sendo estudado. Figura 2. “Pudim de passas” -
o modelo atômico de Thomson

Como num túnel escuro...

Imagine a seguinte situação: você está dentro de um túnel escuro. Você quer
caminhar por ele e saber o que existe adiante, se é uma parede, um buraco... Mas
está escuro e você não pode ver. O que você faria? Essa pode ser a sensação que
temos quando estamos diante do desconhecido.
Você poderia sentar no chão e ficar lá, parado, sem tentar descobrir o que há
adiante. Ou poderia querer saber o que está lá.
Então você pensa, pensa, e tem uma idéia: se atirasse algo naquela direção,
poderia saber se há um buraco, ou uma poça de água, ou uma parede... Então
você procura pelo chão algo que possa atirar: encontra algumas pedras e percebe
que atirar as pedras adiante é uma maneira de conhecer o que existe. Já que não
pode ver, você tenta descobrir as propriedades do que está lá adiante!
Como você já sabe, o átomo é muito pequeno e não pode ser visto. A situação
dos cientistas na virada do século XX era parecida com a do túnel escuro. Para
testar o modelo atômico existente, isto é, verificar as suas propriedades, Ernest
Rutherford, um cientista que foi aluno de Thomson “atirava pedras na escuri-
dão”: em seu laboratório, ele fazia com que partículas alfa, emitidas por uma
porção do elemento rádio, atingissem uma placa muito fina de ouro.
Rutherford imaginou que, se o
modelo de Thomson estivesse cor-
reto, todas aquelas partículas atra-
vessariam a folha de ouro. Isso por-
que, se o átomo fosse como um pu-
dim de passas, nada poderia impe-
dir a passagem de uma partícula
alfa, que tem muita energia. Ele
observou (Figura 3) que quase to-
das as partículas alfa atravessavam
a placa; algumas eram levemente
desviadas e outras (muito poucas,
cerca de uma em cada dez mil) eram
refletidas e voltavam! Figura 3. Resultado da experiência
de Rutherford
Para explicar o fenômeno observado, A U L A
Rutherford imaginou que no interior do átomo
havia um “caroço duro”, capaz de fazer a alfa
voltar. Propôs então um novo modelo no qual 47
o átomo tem um núcleo no centro, com carga
elétrica positiva. Esse núcleo concentra quase
toda a massa do átomo, mas ocupa uma região
muito pequena dele. Ao redor do núcleo estão
os elétrons, atraídos pela força elétrica do núcleo,
como mostra a Figura 4. Esse modelo é semelhan-
te ao Sistema Solar: nele, os planetas, atraídos Figura 4. Esquema do átomo
pela força gravitacional do Sol, orbitam ao seu de lítio no modelo de Rutherford
redor, ocupando pequenos volumes.

Ao atingir a placa de ouro, as partículas alfa só são refletidas se colidem de


frente com o núcleo de um átomo - o que ocorre raramente, já que o núcleo ocupa
um volume muito pequeno no centro do átomo.
Para dar uma idéia dos tamanhos envolvidos, imagine um átomo de ouro
ampliado até o tamanho de um campo de futebol (Figura 5), o que equivale a um
aumento de um trilhão de vezes. Neste caso, o núcleo teria o tamanho de uma
pequena moeda colocada no centro do campo; o resto seria um espaço vazio com
algumas partículas espalhadas, os elétrons, que teriam um décimo do diâmetro
de um fio de cabelo! Uma partícula alfa teria o tamanho de uma cabeça de alfinete
e por isso poderia atravessar facilmente o campo, isto é, o átomo!

Portanto, o núcleo e os elétrons ocupam


pouco espaço no átomo, que é quase todo
vazio. Apesar de muito pequeno, o núcleo
contém cerca de 99,9% da massa do átomo.
Os elétrons são cerca de duas mil vezes
mais leves que o núcleo do átomo mais
leve, que é o átomo de hidrogênio.
A título de exemplo, colocamos na ta-
bela abaixo os valores da massa do átomo
de hidrogênio, do seu núcleo e de um elé-
tron. Para dar uma idéia dos tamanhos, Figura 5: modelo do
apresentamos a ordem de grandeza dos átomo-campo de futebol-
de ouro com 79 elétrons
seus raios:

MASSA (kg) RAIO APROXIMADO (m)


átomo H 1,6735 · 10-27 10
-10

núcleo 1,6726 · 10 10-14


-27

elétron 0,0009 · 10 10
-27 -16

Então, o modelo de Rutherford ficou assim:

O átomo é formado por um núcleo muito pequeno, no qual se


concentra praticamente toda a sua massa. No núcleo existem Z
cargas positivas. Z é número atômico. Ao seu redor encontram-se Z
elétrons, que possuem carga elétrica negativa. Note que existe o
mesmo número de cargas positivas e negativas, de modo que o
átomo é eletricamente neutro.
A U L A Para evitar uma catástrofe

47 O modelo de Rutherford apresentava alguns problemas que levaram à


elaboração de um novo modelo para o átomo. Vamos ver quais eram esses
problemas.
Sabia-se que os átomos são eletricamente neutros - sua carga elétrica total
é zero - e, em sua maioria, estáveis - isto é, não se modificam sozinhos. É por
isso que estamos aqui, é por isso que estas palavras ainda estão impressas no seu
livro, e que o livro está na sua frente! Isto quer dizer: se os átomos que compõem
os materiais que formam esses objetos não fossem estáveis, tais objetos não
durariam muito tempo.
Os cientistas já sabiam que o átomo era formado pelo núcleo, com cargas
positivas, e pelos elétrons que giram ao seu redor. Sabiam também que
cargas elétricas interagem pela ação da força elétrica. Então, surgiu uma
dúvida: como estariam os elétrons ao redor do núcleo? Se estivessem
parados, seriam atraídos pelo núcleo. Se isso acontecesse, os elétrons cairiam
todos no núcleo e, dessa forma, o átomo sofreria um colapso, isto é, teria o
tamanho do núcleo e deixaria de ser estável! Mas os cientistas sabiam que
isso não era verdade.
Assim, os elétrons não podem estar parados: eles giram ao redor do
núcleo com altas velocidades e, para manter seu movimento circular, têm
grande aceleração centrípeta. O problema era que, segundo a teoria do
eletromagnetismo, uma carga acelerada emite radiação, perdendo energia.
Desse modo, os elétrons perderiam sua energia até parar e colidir com o
núcleo... o que seria uma catástrofe! E isso demoraria apenas uma fração de
segundo. Se isso acontecesse, nós não estaríamos aqui - aliás, não existiria
sequer o universo como o conhecemos!

Para contornar todos esses problemas foram feitas algumas mudanças no


modelo de Rutherford, de modo a adaptá-lo aos fatos observados!
Entra então em cena o jovem cientista dinamarquês, Niels Bohr, que tinha
apenas 28 anos em 1913, quando formulou um novo modelo para o átomo.
Segundo ele, os elétrons se movem em órbitas circulares em torno do núcleo sob
influência da força eletromagnética, como proposto por Rutherford, mas:

· os elétrons podem se mover apenas em certas órbitas, que estão a certas


distâncias do núcleo. Cada órbita corresponde a um nível de energia
permitido;
· apesar de constantemente acelerados, os elétrons não perdem energia
enquanto permanecem numa mesma órbita;
· quando o elétron muda de órbita, ganha ou perde uma certa quantidade
de energia;
· a energia armazenada quando um elétron se encontra numa determinada
órbita é chamada energia potencial elétrica.

Assim, no modelo de Bohr, a cada órbita está associado um valor de energia.


Por isso, as regiões onde se encontram os elétrons correspondem a níveis de
energia. A Figura 6 mostra um esquema de como deve ser a estrutura atômica,
com o núcleo e os níveis de energia.
A energia potencial elétrica foi dis- A U L A
cutida na Aula 39. Ela é análoga à ener-
gia potencial gravitacional: ao erguer
um objeto, estamos fornecendo energia 47
potencial gravitacional; ao aproximá-lo,
do chão sua energia potencial
gravitacional diminui.
Da mesma forma, o elétron que está
mais próximo do núcleo tem menos ener-
gia do que outro que está mais longe do
núcleo. À medida que o elétron se afasta
do núcleo, sua energia aumenta, isto é,
E4 > E3 > E2 > E1.

Assim, para que um elétron vá para


um nível mais alto, mais energético, pre-
Figura 6. Níveis de energia atômicos
cisamos fornecer-lhe energia. Podemos
fornecer energia ao átomo iluminando-
o, para que ele absorva luz. A energia de
que ele precisa é exatamente igual à
diferença de energia entre os dois níveis,
isto é, E2 - E1.

Já quando um elétron vai de um


nível de energia maior para um de ener-
gia menor, ele libera uma quantidade de
energia que é igual à diferença de ener-
gia entre os dois níveis (E2 - E1). Esta
energia pode aparecer na forma de luz.
Observe essas mudanças de nível na
Figura 7. Figura 7

O novo modelo ficou conhecido como modelo atômico de Rutherford-Bohr.

O mais simples dos átomos

O átomo mais simples, e também o que existe em maior quantidade na


natureza, é o átomo de hidrogênio. Ele forma a maior parte do nosso organismo:
é só lembrar que o nosso corpo é formado por aproximadamente 70% de água,
e que cada molécula de água é formada por dois átomos de hidrogênio e um
átomo de oxigênio. Também no universo, nas estrelas, o hidrogênio é de longe
o elemento químico mais numeroso!

Sendo o átomo mais simples, seu núcleo


Figura 8 é também o mais simples, e recebeu um
Esquema do nome especial: próton. Portanto, o átomo de
átomo de hidrogênio é formado por um próton e um
hidrogênio
elétron, como mostra esquematicamente a
Figura 8.
A U L A Existem mais de cem elementos químicos diferentes na natureza. Cada
elemento químico é caracterizado por um número atômico, Z, que é o número de

47 prótons que ele tem no núcleo, e é também o número de elétrons que giram ao
redor do núcleo. Quanto maior for Z, mais pesado é o átomo. Observe a tabela
periódica da Figura 1.
Na seção anterior, afirmamos que nem todos os átomos são estáveis, isto é,
eles não permanecem como estão por muito tempo. Alguns dos elementos
químicos mais pesados (que tem Z grande), como o urânio, o polônio e o rádio,
se desintegram naturalmente. Isso significa que esses átomos perdem continua-
mente partes de si e se transformam em átomos de outros elementos químicos.
As partes emitidas recebem o nome de radiação. Esses elementos são chamados
de elementos radioativos e serão estudados na nossa próxima aula.
É importante dizer essas descobertas só foram possíveis graças aos grandes
avanços tecnológicos deste século. Para fazer pesquisas em física atômica e
nuclear são necessários equipamentos como bombas de alto vácuo, fontes de alta
tensão, equipamentos eletrônicos e microeletrônicos, entre outros.
Na próxima aula vamos estudar o fenômeno da desintegração radioativa e
nos aprofundar um pouco mais na matéria, tentando conhecer um pouco mais
de seus mistérios...

Nesta aula você aprendeu que:

· toda matéria do universo é composta por átomos, que os gregos acredita-


vam serem indivisíveis; os átomos se unem para formar as moléculas;

· hoje sabemos que os átomos possuem uma estrutura: um núcleo, onde se


concentra a maior parte da sua massa, e os elétrons, que são muito leves,
giram ao redor do núcleo;

· no núcleo, que concentra a maior parte da massa do átomo, existem Z (Z é


chamado de número atômico) partículas com carga elétrica positiva, chama-
das prótons;

· em volta do núcleo existe uma região onde se encontram Z elétrons que não
ocupam qualquer lugar ao redor do núcleo, mas se distribuem em camadas,
também chamadas de níveis de energia;

· um elétron muda de nível de energia quando o átomo absorve ou emite


uma certa quantidade de energia;

· o átomo mais simples e também mais abundante no universo é o átomo de


hidrogênio (H), formado por um próton e um elétron;

· cada elemento químico é caracterizado por um número atômico Z.


Exercício 1 A U L A
Complete:
Um filósofo grego chamado Demócrito propôs, há mais de 2.500 anos, a
teoria de que a matéria não poderia ser indefinidamente (a) ......................, 47
pois sempre se chegaria a uma parte (b) ...................... que ele chamou de
(c)....................... Há cerca de um século, Joseph J.Thomson e outros cientis-
tas descobriram que os átomos não são (d) ......................, mas formados
por partículas menores. Uma partícula que está presente em todos os
átomos é o (e) ......................, que tem carga elétrica negativa. Thomson
propôs um modelo de átomo no qual essas partículas estão dispersas
numa massa de carga positiva, formando um átomo eletricamente neutro.
Esse modelo ficou conhecido como (f) ...................... .

Exercício 2
Complete:
O modelo de Thomson foi logo superado pelo modelo de (a) .......................
Segundo esse modelo, a carga elétrica positiva e a grande porção da massa
do átomo estão concentradas numa pequena região no centro do átomo,
chamada (b) ....................... Os elétrons se movem em torno do núcleo,
como os planetas em torno do (c) ......................, mas atraídos pela força
elétrica em vez da força (d) .......................

Exercício 3
Complete:
Bohr modificou o modelo de Rutherford para explicar a estabilidade dos
átomos. Quando um átomo (a) ...................... energia, um de seus elétrons
passa a se mover numa órbita de maior energia, mais (b) ...................... do
núcleo. Esse elétron não fica muito tempo nessa órbita de energia mais alta;
assim, o átomo (c) ...................... o excesso de energia, enquanto o elétron
retorna à órbita de origem.

Exercício 4
Complete:
O núcleo atômico não é sempre estável, mas pode sofrer (a) ......................:
são os processos de emissão radioativa. Quando o núcleo emite partículas,
seu (b) ...................... varia e ele se transforma no núcleo de outro elemento
químico. É a radioatividade.

Exercício 5
Complete:
O átomo mais simples é o (a) ......................, e seu núcleo é formado por
um só (b) ......................, em torno do qual orbita um único (c) .......................
A UA UL L AA

48
48
Mergulhando no núcleo
do átomo

O utro dia, Maristela chegou atrasada ao


trabalho. Também, não é para menos: estudar de noite e trabalhar de dia não
é nada fácil! Ela estava muito cansada e, para piorar as coisas, o despertador
quebrou: simplesmente parou de funcionar, e ela continuou dormindo.
Acontece!
Quando finalmente acordou, Maristela pegou o despertador e olhou bem
para ele. Não sabia o que tinha acontecido e, além disso, não entendia nada sobre
o seu funcionamento. Mas, muito curiosa, resolveu investigar...
- Vou tentar abrir este despertador. Quem sabe eu consigo arrumá-lo!
Assim não preciso levá-lo para consertar, e ainda faço um pouco de economia!
Maristela ficou surpresa ao verificar que no despertador não havia nenhum
parafuso!
- Se eu não abrir o despertador, como vou poder estudá-lo e tentar compre-
ender o seu funcionamento? O que vou fazer?
Maristela ficou furiosa!
- Estou com vontade de atirar esta "coisa" na parede! Assim eu poderia ver
o que tem lá dentro! Mas acho que ele nunca mais iria funcionar... - concluiu,
desanimada.

Se atirasse o relógio contra a parede com muita força, para que ele se
dividisse em muitos pedacinhos, Maristela iria pelo menos saber o que havia
dentro dele. É claro que essa não é uma maneira muito esperta de estudar o
funcionamento e os componentes de um relógio, mas pode ser uma excelente
idéia para estudar a matéria! Você vai descobrir por quê.

Mergulhando mais fundo na matéria

No início deste século, o modelo adotado para descrever o átomo era o


de Rutherford-Bohr, que estudamos na aula passada. Muitos cientistas
trabalhavam nesse campo, o da física atômica . Eles sabiam que alguns
materiais emitem radiação e algumas formas diferentes de radiação já
haviam sido observadas - inicialmente por Wilhelm Röntgen (raios X, que
estudaremos mais adiante), em 1895, depois por Henri Becquerel e por
Marie Curie (raios alfa), em 1896.
Uma dessas formas de radiação são as partículas alfa
alfa, de que falamos na A U L A
aula passada. Você deve lembrar que as alfas foram usadas por Rutherford
para investigar a estrutura do átomo. Mais tarde elas também foram usadas
para investigar o próprio núcleo atômico
atômico. As alfas são partículas com carga 48
positiva, e hoje nós sabemos que cada alfa é igual ao núcleo do átomo de hélio
- um elemento químico que possui dois prótons no núcleo, isto é, Z=2.
Portanto, uma partícula alfa é um átomo de hélio, mas sem os elétrons.
Quando investigamos o núcleo atômico, mergulhamos mais fundo na
matéria e entramos no campo da física nuclear
nuclear.
Juntamente com Rutherford, um cientista que contribuiu muito para a física
nuclear foi James Chadwick. Em 1932, ele bombardeou o elemento berílio com
partículas alfa e observou um tipo de radiação capaz de atravessar camadas
muito grossas de matéria. Concluiu que essa radiação era formada por partículas
diferentes das alfas, por duas razões: não tinham carga elétrica (eram neutras)
e eram mais leves (tinham massa quase igual à do próton
próton).

Por ser neutra, a nova partí-


cula foi chamada de nêutron
nêutron.
Chadwick concluiu que os nêu-
trons vinham de dentro do nú-
cleo
cleo, onde estavam junto com os
prótons
prótons. Prótons e nêutrons com-
põe o núcleo do átomo
átomo, como
mostra a Figura 1. É claro que
nesta figura o núcleo aparece bem
maior do que realmente é: para
as órbitas que foram desenha-
das, o núcleo seria invisível.
Figura 1. Esquema do átomo com
prótons, nêutrons e elétrons

Como o núcleo se mantém unido?

Devido à força elétrica repulsiva, os prótons deveriam se afastar uns dos


outros. Os nêutrons não possuem carga elétrica, logo não interagem por meio da
força elétrica. Então, como é que todas essas partículas se mantêm unidas unidas,
formando o núcleo
núcleo?
Se não é a força elétrica que as mantém juntas, você pode imaginar que talvez
isso ocorra por causa da atração gravitacional. Vamos ver. Na Aula 37 você teve
oportunidade de calcular a intensidade da força elétrica e da força gravitacional
entre um próton e um elétron. Deve lembrar que a força gravitacional é muito
menor que a força elétrica. Portanto, podemos concluir que também não é a força
gravitacional o que mantém as partículas nucleares unidas!
Para explicar a existência do núcleo atômico foi necessário imaginar a
existência de um novo tipo de força: a força nuclear
nuclear. A idéia é que entre duas
partículas nucleares existe uma força muito intensa - muito mais intensa que a
força gravitacional e que a força elétrica - que é responsável pela união dos
prótons e nêutrons no núcleo.
A U L A No quadro abaixo relacionamos as forças fundamentais que você já conhece,
e indicamos também entre que tipos de partículas elas existem:

48 TIPO DE FORÇA ENTRE... INTENSIDADE ATRATIVA OU REPULSIVA?

gravitacional massas muito fraca sempre atrativa


elétrica partículas com carga elétrica fraca atrativa ou repulsiva
nuclear partículas nucleares forte sempre atrativa

Mas nem todos os núcleos permanecem unidos...

Na aula passada falamos na radioatividade


radioatividade. Esse fenômeno é conhecido
desde o final do século passado e é caracterizado pela emissão de radiação.
Naquela época, eram conhecidas três formas de radiação: os raios alfaalfa, beta e
gama
gama. As alfa você já conhece. As betas são partículas bem mais leves do que as
alfas, iguais aos elétrons que existem ao redor do núcleo. As betas, porém, são
produzidas em reações que ocorrem no interior do núcleo atômico. A radiação
gama é semelhante à luz.
Mais tarde descobriu-se que existem dois tipos de betas: as negativas, como
os elétrons, e as positivas, chamadas também de pósitrons
pósitrons, que são semelhantes
aos elétrons, sendo também produzidas em reações nucleares, mas possuem
carga elétrica positiva.
Observe o quadro abaixo:

PARTÍCULA SÍMBOLO O QUE É ? CARGA ELÉTRICA


alfa a 2 prótons + 2 nêutrons positiva
beta+ b
+
pósitron positiva
-
beta b- elétron negativa

Você deve ter observado, pela tabela acima, que essas partículas possuem
carga elétrica
elétrica. Essa característica da radiação torna-a muito perigosa. Vamos
entender por que estudando o processo de emissão de partículas.
Nem todos os elementos químicos são radioativos. O hidrogênio, o nitrogê-
nio, o oxigênio - a maioria dos elementos - são estáveis e não emitem nenhum
tipo de radiação. Mas alguns elementos são instáveis e emitem partículas.
Ao emitir radiação, o núcleo de um elemento químico radioativo perde
partes de si. Veja o seguinte exemplo: no núcleo do elemento urânio existem 92
prótons, portanto Z = 92. O que ocorre quando ele emite uma partícula alfa,
formada por dois prótons e dois nêutrons? Observe o esquema:

U (Z=92) - a (Z=2) ® outro elemento com Z = 90

Você já sabe que cada elemento químico é caracterizado pelo seu número
atômico, Z . Ao emitir a alfa, o núcleo de urânio perde dois prótons e dois
nêutrons, transformando-se em outro elemento químico, que tem Z = 90 e se
chamado tório.
E o que acontece com a alfa que foi emitida? Ela caminha solta pelo espaço
até encontar matéria, onde é absorvida. O problema é quando essa alfa encontra,
por exemplo, o nosso corpo...
Os perigos da radiação A U L A

As partículas saem do núcleo radioativo com bastante energia cinética. Ao


penetrar na matéria, elas transferem energia aos átomos e moléculas que 48
encontram, até perder toda a sua energia e parar.
Se essa matéria for o corpo humano podem ocorrer lesões, leves ou mais
graves, dependendo da energia das partículas. Essas lesões podem ocorrer na
pele ou em órgãos internos do corpo: com grande energia, a radiação é capaz de
destruir as moléculas que compõem esses órgãos.
O principal problema da radiação formada por partículas carregadas é o fato
de que elas podem arrancar elétrons dos átomos que constituem o meio por onde
passam. Quando o átomo perde elétrons, deixa de ser neutro: ele se transforma
num íon
íon. Esse fenômeno é conhecido como ionização
ionização.
Apesar de todos os efeitos negativos da radiação, ela tem também aspectos
muito positivos. Usada controladamente, pode ajudar no combate de doenças.
É o caso da radioterapia aplicada ao tratamento de câncer.
Nas usinas nucleares, esses elementos radioativos são de grande utilidade.
O núcleo de certos elementos, como o urânio, sofre uma divisão, chamada de
fissão nuclear
nuclear. Nesse processo, o núcleo libera uma enorme quantidade de
energia que, por vir do núcleo, se chama energia nuclear.
Essa energia pode ser transformada em outras formas de energia - térmica
e elétrica - úteis ao homem. A energia nuclear produzida de forma controlada
nas usinas nucleares também pode ser gerada sem controle por bombas
nucleares
nucleares, as armas mais destrutivas já inventadas pela humanidade.
A energia do Sol, que permite a vida na Terra, tem sua origem nas reações
nucleares que ocorrem no interior do Sol: vários prótons se fundem para formar
um núcleo de hélio e liberam grandes quantidades de energia nesse processo,
que se chama de fusão nuclear
nuclear.
Além da energia que vem do Sol, a Terra é bombardeada continuamente por
partículas de alta energia vindas do espaço interestelar. São os raios cósmicos
cósmicos,
formados principalmente por prótons. Os raios cósmicos penetram na atmosfera
terrestre, onde colidem com átomos dos vários gases que compõem a atmosfera.
Essa colisão provoca reações nucleares, a partir das quais são criadas várias
partículas subnucleares.
Em 1947, o físico brasileiro César Lattes participou da descoberta de uma
nova partícula na radiação cósmica, chamada de píon
píon. Essa partícula é mais leve
que o próton e o nêutron, porém mais pesada do que o elétron. Além do píon,
outras partículas foram descobertas nos raios cósmicos, como os múons
múons.

E o que mais?

Você deve ter notado o caminho seguido pela ciência: primeiro acreditava-
se que o átomo era indivisível. Então descobriu-se que ele tem um núcleo e os
elétrons. Depois descobriu-se que também o núcleo tem uma estrutura, sendo
formado por prótons e nêutrons.
A pergunta mais natural agora seria: serão os prótons e nêutrons
indivisíveis
indivisíveis? Ou eles também têm uma estrutura? Existirão outras partícu-
las ainda menores formando prótons e nêutrons? É esse conhecimento que
os chamados físicos de partículas vêm perseguindo desde a segunda
metade do século: eles buscam conhecer a estrutura das partículas
subnucleares!
A U L A A situação deles é parecida com a de Maristela às voltas com o despertador:
como fazer para saber o que há lá dentro, se não é possível “abrir e olhar”?

48 A idéia que os físicos tiveram foi “ atirar as partículas contra a parede” !


Rutherford fez algo semelhante para estudar o átomo, ao atirar partículas alfa
sobre uma fina placa de ouro. Ocorre que, para “quebrar” as partículas
nucleares, é preciso muita, muita energia: é preciso atirá-las com muita força
contra um alvo!
As partículas dos raios cósmicos têm muita energia e foram utilizadas para
descobrir novas partículas. Mas, à medida que o conhecimento foi avançando,
tornou-se necessário atingir energias ainda maiores. Então, a partir de 1960,
começaram a ser construídos os chamados aceleradores de partículas partículas:
equipamentos supersofisticados que foram construídos graças a grandes avan-
ços tecnológicos, como os equipamentos eletrônicos e digitais, a obtenção de
superfícies metálicas superlimpas e lisas, medidores de correntes e de volta-
gens de alta precisão, amplificadores, osciloscópios e outros, além dos já
citados na aula anterior.
Esses equipamentos produzem campos elétricos intensos, que forne-
cem uma grande quantidade de energia cinética às partículas carregadas
eletricamente; assim, elas são aceleradas a grandes velocidades. Essas
partículas colidem com átomos e da colisão surgem novas partículas que
são estudadas.
Tais estudos mostram que os prótons, os nêutrons e os píons têm uma
estrutura: são formados por partículas ainda menores, chamadas de partículas
elementares
elementares. As partículas elementares recebem esse nome porque se acredita
que elas sejam os menores componentes da matéria. Portanto, não seriam
formadas por outras partículas menores. Daí vem o nome elementar.
Quais são as partículas elementares que conhecemos hoje? Para não compli-
car muito a história, vamos conhecer apenas dois tipos.
Uma partícula elementar é o elétron. Até hoje acredita-se que o elétron é
indivisível.
A outra partícula elementar tem um nome estranho: quark quark. Existem seis
tipos de quarks, mas por ora só nos interessam aqueles que formam os prótons
e os nêutrons. São dois tipos, que também têm nomes estranhos: up (que vem
do inglês e significa “para cima”) e down (que significa “para baixo”). No próton
existem dois quarks up e um quark down. No nêutron existem um quark up e
dois quarks down, como mostra a figura abaixo:

Figura 2. Esquema do próton e do nêutron com os quarks


Alguns homens continuam a investigar a natureza, tentando desvendar A U L A
ainda mais os seus mistérios. À medida que aumenta o nosso conhecimento
sobre a natureza, aprendemos novas formas de estudá-la: novas e mais sofis-
ticadas técnicas experimentais. Utilizando esses métodos mais poderosos para 48
estudar a natureza, podemos aprofundar ainda mais o nosso conhecimento.
Muitas vezes descobrimos novos fenômenos que não eram observados antes;
para explicar esses novos fenômenos, somos incentivados a criar novos mode-
los teóricos. Testando esses novos modelos, aprofundamos nosso conhecimen-
to e nossa capacidade de investigar a natureza... e assim continua! O processo
segue em frente. Até quando? Não sabemos, e não sabemos sequer se um dia
ele irá terminar...

Nesta aula você aprendeu que:

· o núcleo do átomo é formado por dois tipos de partículas: os prótons e os


nêutrons
nêutrons;

· existe uma força que mantém prótons e nêutrons, unidos formando o núcleo:
a força nuclear
nuclear. Ela é muito mais intensa que a força elétrica e que a força
gravitacional;

· os átomos são eletricamente neutros (carga elétrica total é zero) e a maioria


deles é estável
estável;

· os átomos de alguns elementos químicos emitem partículas e se transfor-


mam em átomos de outros elementos químicos: esse fenômeno é conhecido
como radioatividade
radioatividade;

· existem várias formas de radiação, entre elas as partículas alfa, beta e os


raios gama;

· a radiação pode ser prejudicial à saúde, causando queimaduras e lesões,


destruindo moléculas do nosso organismo, mas também pode ser usada
no tratamento de doenças;

· quando os núcleos se dividem, liberam grandes quantidades de energia.


Esse processo é chamado de fissão nuclear e a energia liberada por ele é
a energia nuclear
nuclear, que pode ser transformada em outras formas de energia
úteis ao homem;

· a energia proveniente do Sol também é de origem nuclear: ela é gerada pelo


processo de fusão nuclear
nuclear;

· os raios cósmicos são formados por partículas de alta energia, vindas do


espaço interestelar, que bombardeiam continuamente a Terra;

· prótons, nêutrons e píons são formados por outras partículas ainda


menores: os quarks
quarks. Os quarks e os elétrons são partículas elementares
elementares,
isto é, os cientistas acreditam que estes sejam os menores componentes do
universo.
A U L A Exercício 1
Complete:

48 O núcleo atômico é formado por dois tipos de partículas: (a) ......................,


que têm carga elétrica de valor igual à do elétron, mas de sinal
(b) ......................, e (c) ......................, que tem massa igual à anterior,
mas são eletricamente (d) ....................... Entre essas partículas age a força
(e) ......................, muito mais intensa do que as outras forças fundamen-
tais que conhecemos, que são a força (f) ...................... e a força
(g) ....................... . A força nuclear age em pequenas distâncias, dentro do
núcleo, e não faz efeito em distâncias maiores.

Exercício 2
Complete:
Existem outras partículas que interagem por meio da força nuclear, como
os píons. O físico brasileiro (a) ...................... participou da sua descoberta
em 1947. A massa dos píons é cerca de um sétimo da massa dos prótons.

Exercício 3
Complete:
Existem núcleos radioativos que emitem partículas espontaneamente.
É o caso do urânio, que tem 92 (a) ...................... no núcleo. Ao emitir uma
partícula alfa, que possui dois (b) ...................... e dois (c) ......................,
o urânio se transforma em outro elemento químico, que tem apenas
(d) ...................... prótons no núcleo e se chama tório.

Exercício 4
Complete:
Os raios cósmicos são partículas de alta (a) ...................... que incidem sobre
a Terra vindas do espaço. Quando penetram na atmosfera, provocam
reações nucleares em que são produzidas outras partículas, como os
(b) ...................... .

Exercício 5
Complete:
Hoje sabemos que os prótons e nêutrons, são compostos por "partículas
elementares”, isto é, que não podem mais ser subdivididas. Essas partícu-
las se chamam (a) ....................... Os prótons e nêutrons são formados por
(b) ...................... quarks cada.

Exercício 6
Complete:
As grandes energias devidas à força nuclear aparecem no processo de
(a) ...................... nuclear. Ele ocorre quando um núcleo pesado, como o do
urânio, se divide em vários núcleos mais leves, e no processo de
(b) ...................... nuclear que ocorre no interior de estrelas, como o Sol,
quando vários núcleos leves se unem para formar núcleos mais pesados.
AUU
A L AL A

49
49
Em Brasília, 19 horas...

A ssim que saiu do trabalho, Roberto passou


no hospital para fazer uma radiografia do pulmão e foi para casa. Ao entrar,
acendeu a luz
luz. Era uma linda noite de Lua cheia, mas muito fria, e por isso ele
ligou o aquecedor elétrico
elétrico. Foi até a cozinha e, no forno de microondas
microondas,
esquentou uma xícara de água para preparar um chá. Então, voltou para a sala,
ligou o rádio e sentou-se para tomar o chá e ouvir um pouco de música.
De repente, ouviu uma voz que dizia:

Em Brasília, dezenove horas...

Esta parece uma situação bastante familiar, não é mesmo? Você deve ter
notado que algumas palavras do texto foram destacadas
destacadas...
Você saberia dizer por quê? O que será que elas têm de especial? Isto é o que
você vai descobrir nesta aula!

Nas aulas passadas discutimos a estrutura da matéria


matéria. Você aprendeu que
a matéria é feita de átomos. Aprendeu, também, que o átomo é composto por um
núcleo central que contém prótons e nêutrons, no qual se concentra praticamen-
te toda a sua massa, e por uma região ao redor na qual se encontram os elétrons.
Você aprendeu também que os elétrons ocupam certas regiões que
correspondem aos níveis de energia
energia, aos quais está associado um valor de
energia E E. Outra coisa muito importante que você estudou é que, quando um
elétron muda de nível, o átomo emite ou absorve uma certa quantidade de
energia
energia, que é igual à diferença de energia entre os dois níveis.
Você deve estar se perguntando: “Mas qual a relação disso tudo com a luz,
as radiografias, as microondas, o aquecedor, o rádio?”
Na Aula 35 falamos sobre o efeito fotoelétrico
fotoelétrico: quando uma certa quantida-
de de luz incide sobre uma placa de metal metal, surge uma corrente elétrica
elétrica.
Experimentalmente verificou-se que a corrente elétrica não depende da intensi-
dade da luz, mas depende da cor de luz que incide sobre a placa.
Havia, então, duas questões a esclarecer. A primeira é o aparecimento da
corrente elétrica. A segunda é o fato de que só com alguns tipos de luz essa
corrente aparece
aparece. Quem explicou o efeito fotoelétrico foi Albert Einstein.
A U L A A primeira conclusão de Einstein foi: a luz fornece energia para os elétrons
contidos na placa de metal. Esses elétrons ficam na placa de metal devido à

49 presença de um campo elétrico. Se o elétron recebe energia suficiente, pode se


liberar deste campo, e então ocorre o efeito fotoelétrico, isto é, observa-se a
presença de uma corrente elétrica na placa de metal. Assim está explicada a
primeira questão.

A outra questão a explicar é mais complicada: por que só alguns tipos de


luz (cores) provocam o aparecimento da corrente elétrica? Para explicar esse
pacotes de
fenômeno, Einstein imaginou que a luz é formada por pequenos “pacotes
energia” aos quais deu o nome de fótons
fótons. Esses “pacotes” podem ser interpre-
tados como partículas e podem carregar diferentes quantidades de energia,
dependendo da cor da luz.
Vamos retomar o raciocínio de Einstein:

· a luz é formada por fótons


fótons;
· fótons são “pacotes” ou partículas, que carregam quantidades de energia de
acordo com o tipo de luz;
· o fóton deve ter uma quantidade de energia suficiente para arrancar o
elétron da placa de metal. Por isso, o efeito fotoelétrico só ocorre quando um
certo tipo de luz incide sobre a placa.

Assim Einstein foi capaz de responder à segunda questão e explicar o efeito


fotoelétrico.

Essa teoria permitiu também explicar os processos de emissão e de


absorção de luz. Na Aula 47 você estudou o modelo de Rutherford-Bohr para
o átomo. Viu que neste modelo os elétrons do átomo se distribuem em níveis,
e cada um desses níveis está associado a um valor de energia. A Figura 1
mostra o esquema do átomo do átomo de sódio (Na), que tem 11 elétrons.
Lembre-se de que quanto mais afastado do núcleo estiver o elétron, maior será
sua energia, portanto: E3 > E2 > E1.

Figura 1
Na Figura 2a, um fóton é absrovido por um átomo de Na. Note que o fóton A U L A
transfere energia a um elétron do átomo, que muda de nível. Mas, após um certo
tempo, o elétron volta para o nível de energia mais baixa e emite um fóton, como
mostra a Figura 2b. Dependendo da energia do fóton emitido, podemos observá- 49
lo, isto é, pode ser um fóton que compõe a luz visível.

Figura 2a. Absorção de luz Figura 2b. Emissão de luz

Dessa forma, Einstein propôs que a luz


luz, quando interage com a matéria,
se comporta como uma partícula, o fóton
fóton. Os fótons podem ser interpretados
como partículas que não possuem massa; às vezes, sendo chamados de
“partículas de luz”.
É importante notar que é muito difícil dizer o que a natureza é realmente
realmente:
o que os cientistas fazem é imaginar modelos que representem melhor a
natureza, isto é, criam modelos para tentar explicar os fenômenos observados.

Luz é onda ou partícula?

Na Aula 35 nós discutimos a natureza da luzluz. Você viu que Maxwell


chegou à conclusão de que a luz é um tipo de onda chamada onda eletromag-
nética
nética. No final da Aula 46 nós falamos sobre as ondas eletromagnéticas.
Dissemos que uma onda eletromagnética é formada por campos elétricos e
magnéticos que se propagam pelo espaço: quando um campo elétrico varia,
ele cria um campo magnético. Mas esse campo magnético é variável e, desse
modo, dá origem a um campo elétrico variável que cria um campo magnético,
e assim por diante. Essa sucessão de campos elétricos e magnéticos são as
ondas eletromagnéticas
eletromagnéticas. Note que esses campos são perpendiculares à dire-
ção de propagação da onda. Por isso, dizemos que ela é um tipo de onda
transversal
transversal.

Figura 3. Representação
de uma onda
eletromagnética
A U L A As ondas eletromagnéticas têm semelhanças com as ondas mecânicas – que
estudamos nas Aulas 29 e 30. Isso porque elas também se propagam pelo espaço

49 e são caracterizadas por um comprimento de onda e uma freqüência. Mas existem


algumas diferenças. Por exemplo: as ondas mecânicas precisam de um meio
material para se propagar, enquanto que as eletromagnéticas não necessitam
desse meio - elas se propagam também na ausência de matéria, isto é, no vácuo!
Neste curso nós vamos discutir apenas alguns aspectos das ondas eletro-
magnéticas e ver como elas estão presentes na nossa vida!

Até agora, vimos que:

As ondas eletromagnéticas, como a luz, tem um comportamento duplo: elas


se propagam como ondas, mas quando interagem com a matéria comportam-
se como partículas, os fótons. O importante é que quando falamos em fótons
ou em ondas eletromagnéticas, estamos nos referindo à mesma coisa.

Para tentar entender melhor esse comportamento duplo da luz, imagine a


superfície de um lago. No meio do lago formam-se algumas ondas, por causa do
vento. Essas ondas se propagam até a margem do lago. Esse grupo de ondas que
se propaga tem as características de ondas (freqüência, comprimento de onda),
mas tem também características de partícula, pois se desloca como um todo.
Devemos imaginar a luz de forma semelhante: um grupo de ondas que se
desloca pelo espaço em altíssima velocidade.
Você se lembra das palavras destacadas no início da aula?
· radiografia · microondas · rádio
· luz · aquecedor elétrico
Pois é, elas têm tudo a ver com as ondas eletromagnéticas. Foram dadas
como exemplos para você ter uma idéia da sua importância e de como elas estão
presentes no nosso dia-a-dia! Para irmos em frente, vamos primeiro estudar...

Como são produzidas as ondas eletromagnéticas


Vamos recordar algumas grandezas que caracterizam as ondas: a freqüência
(f), o período (T) e o comprimento de onda (l).
Quando estudamos as ondas mecânicas, vimos que a freqüência (f) da onda
está relacionada à freqüência de vibração da fonte que produz a onda – por
exemplo, no caso da corda de um violão ou do diafragma de um alto-falante.
Quanto mais rápida for a vibração, maior será freqüência da onda produzida.
O período (T) é o inverso da freqüência (f), portanto:
1
T=
f

Uma outra grandeza que caracteriza as ondas é o seu comprimento de onda


(l), que é a distância percorrida pela onda num tempo equivalente a um período.
As ondas eletromagnéticas se propagam à velocidade da luz, c . Para elas,
podemos escrever (usando a definição de velocidade):

distância percorrida
v= Þ c= l Þ c=l·f
tempo T
As ondas eletromagnéticas são caracterizadas por um valor de freqüência e A U L A
de comprimento de onda, que estão relacionados à velocidade pela equação que
acabamos de ver.
Como se produzem as ondas eletromagnéticas? O fenômeno fundamental 49
é o seguinte: quando uma carga elétrica é acelerada ou freada, ela produz ondas
eletromagnéticas
eletromagnéticas. Esse é o ponto de partida da nossa discussão. Portanto,
quando uma carga elétrica executa um movimento oscilatório, isto é, de vaivém,
ela produz ondas eletromagnéticas.
As ondas de rádio
rádio, por exemplo, são produzidas numa antena. A antena
possui uma peça de metal e um circuito elétrico onde é produzida uma corrente
elétrica, que são elétrons em movimento ordenado. Esses elétrons se movem de
um lado para o outro, milhões de vezes por segundo, produzindo ondas
eletromagnéticas com freqüência igual à freqüência do seu movimento.
A luz visível é uma onda eletromagnética com freqüência muito maior do que
a freqüência das ondas de rádio; portanto, tem um comprimento de onda muito
menor. Ela é produzida quando um elétron muda de nível dentro do átomo.
Quando um elétron de um átomo vai de um nível de maior energia para um
nível de menor energia, ele emite um fóton. Quando chegam aos nossos olho,
esses fótons podem ser percebidos pela nossa visão: dentro do olho existem
células capazes de absorvê-los. Os átomos que compõem essas células absorvem
os fótons e transmitem um sinal elétrico ao cérebro.
Veja que não é qualquer fóton que pode ser absorvido pelas células da
retina: só aqueles que têm freqüência e energia numa determinada faixa de
valores. Os fótons - as ondas eletromagnéticas - que estão nessa faixa são
chamados de luz visível
visível.

Outra energia, outro tipo de onda...


Dissemos acima que cada onda eletromagnética, isto é, cada fóton, está
associada a um valor de freqüência
freqüência, comprimento de onda e energia
energia. A energia
e a freqüência são diretamente proporcionais:
E=h·f
isto é, a energia do fóton é proporcional à sua freqüência; a constante de
proporcionalidade, h , é a mesma para todos os fótons, não importando a sua
-34
freqüência, e seu valor é h = 6,63 · 10 J · s
Como as freqüências vão até os valores bem grandes, foram definidos
múltiplos do hertz (Hz). Os mais utilizados são o quilohertz (KHz), que equivale
a 1.000 hertz, e o megahertz (MHz), que equivale a 1.000.000 hertz.
Cada valor de freqüência e de comprimento de onda corresponde a um valor
de energia do fóton. Por isso, dizemos que as ondas eletromagnéticas formam
um espectro, o chamado espectro eletromagnético
eletromagnético, como mostra a Figura 4.
Entre as ondas eletromagnéticas de menor comprimento, estão as ondas
de rádio
rádio, que podem ser emitidas e captadas por antenas cujo tamanho pode
ser da ordem de um metro até dezenas de metros, e são utilizadas em
sistemas de comunicação. Um pouco mais acima, isto é, com um comprimen-
to de onda menor, estão as ondas de TV TV, cujo comprimento de onda é da
ordem de 1 metro.
Um pouco mais acima estão as microondas que são produzidas por apare-
lhos eletrônicos, como o forno de microondas doméstico. As microondas
produzidas nesse forno são facilmente absorvidas pelas moléculas de água
contidas nos alimentos, o que provoca seu aquecimento.
A U L A

49 Seguindo no espectro ele-


tromagnético, encontramos a
luz infravermelha
infravermelha, que é pro-
duzida por corpos aquecidos
e por moléculas. São facilmen-
te absorvidas pela maioria dos
materiais, inclusive a nossa
pele. Quando absorvidas,
transferem energia aos áto-
mos da superfície do corpo,
provocando o aumento de sua
temperatura.

A luz visível e freqüências próximas são


emitidas e absorvidas por átomos e moléculas. A
luz visível tem o comprimento de onda exato
para ser absorvida pelas células que formam a
retina do olho.

Observe que, à medida que a freqüência


aumenta, a energia aumenta e o comprimento de
onda diminui. É por isso que os raios ultravioleta,
que vêm do Sol, fazem mal à saúde: por ter um
Figura 4. Espectro eletromagnético
comprimento de onda pequeno, eles podem pe-
netrar no organismo e, como têm grande energia,
podem destruir algumas de suas células. Por isso
não é aconselhável a exposição ao sol sem utiliza-
ção de um filtro solar que bloqueie pelo menos
uma parte dos raios ultravioleta.

Os raios X são produzidos quando cargas elétricas sofrem grandes acelera-


ções ou quando um elétron sofre uma mudança de nível e a energia emitida é
muito grande.
Por ter um comprimento de onda muito pequeno, os raios X podem
atravessar as partes moles do corpo humano - pele, músculos, regiões com
gordura – e atingir uma chapa fotográfica. Assim são feitas as radiografias, como
as do pulmão, braços, pés etc. Essa radiação não faz bem à saúde. Mas, como as
radiografias só são feitas em caso de necessidade médica, trazem benefícios, o
que compensa os seus efeitos ruins.
Os raios gama são semelhantes aos raios X, mas muito mais energéticos.
São produzidos em processos que ocorrem dentro do núcleo de alguns átomos.

O arco-íris

Como você pode observar na Figura 4, a luz visível ocupa uma pequena
14 15
região do espectro eletromagnético: sua freqüência varia entre 4 · 10 e 8 · 10
Hz, aproximadamente. Essa faixa é subdividida em faixas menores, que
correspondem às cores do arco-íris. Em ordem crescente de freqüência, temos:
vermelho laranja amarelo verde azul violeta
Ondas-partículas... A U L A

Você aprendeu que o fóton é, ao mesmo tempo, onda e partícula. Assim


como o fóton, o elétron, que originalmente era considerado uma partícula, tam- 49
bém tem características de onda. Interpretando o elétron como uma onda fica
mais fácil compreender por que só certos níveis de energia são permitidos no
átomo: é semelhante a uma corda de violão, que só vibra em certas freqüências.
Devemos então modificar o modelo de Rutherford-Bohr: em lugar de órbitas
bem-definidas, os elétrons são representados por ondas em torno do núcleo. Da
mesma forma interpretamos todas as outras partículas: prótons, nêutrons,
píons, quarks etc.
Agora você sabe mais sobre a luz! Na próxima aula vamos estudar um outro
tópico de física moderna, que também teve contribuição de Einstein e que está
relacionado a uma característica muito peculiar da luz: a teoria da relatividade
relatividade.

Nesta aula você aprendeu que:


· as ondas eletromagnéticas são campos elétricos e magnéticos que se
propagam pelo espaço, sem a necessidade de um meio material;
· as ondas eletromagnéticas têm comportamento duplo: elas se propagam
como ondas mas, ao interagir, comportam-se como partículas, chamadas
fótons
fótons;
· as ondas eletromagnéticas são caracterizadas por um valor de freqüência
freqüência,
comprimento de onda e energia;
· a luz visível é um exemplo de onda eletromagnética
eletromagnética, assim como as ondas
de rádio e TV
TV, as microondas
microondas, os raios X etc.;
· além dos fótons, todas as outras partículas possuem caráter duplo: são
ondas e partículas ao mesmo tempo.

Exercício 1
Complete: “A luz é uma onda (a) ......................, isto é, formada por campos
elétricos e magnéticos que se propagam em alta velocidade. Mas a luz
também é formada por partículas, chamadas (b) ...................... . A luz é, ao
mesmo tempo, onda e (c) .......................”
Exercício 2
Complete: “Quando um átomo absorve luz, isto é, absorve um fóton, um de
seus elétrons muda de órbita, para uma órbita de (a) ...................... energia.
A diferença entre as energias da órbita do elétron antes e depois da absorção
é igual à energia do (b) ...................... absorvido."
Exercício 3
Complete: “Existem outras ondas eletromagnéticas, que diferem da luz pelo
(a) ...................... de onda, indicado pela letra grega (b) ....................... Em
um extremo, ondas de (c) ......................, que têm grandes (d) ......................
de onda. Em outro extremo, raios (e) ......................, que têm pequeno
(f) ...................... de onda. No meio, a luz visível. Comprimentos de onda
pouco maiores do que a luz formam a região do (g) ...................... . Compri-
mentos de onda pouco menores formam a região do (h) ...................... . No
arco-íris, as cores correspondem a diferentes comprimentos de onda, desde
o violeta até o vermelho. Se o nosso olho fosse sensível ao ultravioleta,
veríamos uma faixa dessa “cor” logo acima do (i) ...................... no arco-íris.”
A UA UL L AA

50
50
Tudo é relativo

M aristela estava voltando para casa, de


ônibus. Teve um dia cheio de atividades! No caminho, pensava: “Este ônibus
está se movendo em relação à rua, assim como eu. Vejo passar árvores,
edifícios... Mas este senhor cochilando está sempre ao meu lado... Isso quer
dizer que em relação a ele, e ao ônibus, eu estou parada!
O raciocínio continuou: “Isso acontece porque os movimentos são sempre
descritos a partir de um referencial
referencial. Então eu posso estar parada e me movendo
ao mesmo tempo, dependendo do referencial que eu escolho!
A conclusão da Maristela é correta e significa que o movimento de um
objeto é relativo
relativo!
Da mesma forma, quando dizemos que a farmácia fica à direita ou à esquerda
da rua, não podemos esquecer de dizer em que sentido percorremos a rua!

Figura 1. A farmácia está à esquerda ou à direita de acordo


com o sentido em que a pessoa caminha.

Ou, ainda: quando alguém nos diz que pagou baratíssimo por uma camisa,
esse “baratíssimo” pode ser caro para nós, porque vai depender do salário de
cada um!
Esses são alguns exemplos de relatividade aos quais estamos acostumados
no nosso dia-a-dia. Relatividade das posições, das velocidades, dos preços...
Nesta aula você vai aprofundar seus conhecimentos sobre relatividade. Vai
estudar a teoria da relatividade proposta por Albert Einstein no início deste
século. É importante saber que as previsões dessa teoria têm sido observadas em
muitos experimentos, o que a torna um dos grandes sucessos da física nos
últimos tempos.
A relatividade dos movimentos A U L A

Vamos voltar ao caso do ônibus: você está sentado num ônibus que passa por
uma rua. Assim como o ônibus, você também está em movimento em relação à 50
rua, mas está parado em relação ao motorista. Poderíamos dar outra interpreta-
ção à mesma situação, dizendo que você e o motorista estão parados e que são
as árvores e as casas que se movem para trás! As duas interpretações são
possíveis e ambas estão corretas.
Isso reforça a afirmação de que, ao estudarmos um movimento, precisamos
sempre definir qual o referencial escolhido. E quais são as conseqüências da
relatividade dos movimentos
movimentos?

Imagine que você está andando dentro do ônibus com uma velocidade (v p)
constante de 1 m/s em relação ao ônibus, que está parado no ponto. Portanto,
você se move com 1 m/s em relação ao ônibus e também em relação ao ponto.

Figura 2. Ônibus parado


e passageiro caminhando.

Agora imagine que o ônibus se afasta do ponto em linha reta e com


velocidade constante (vo) de 10 m/s. Você continua caminhando dentro do
ônibus com a mesma velocidade de 1 m/s. A pergunta é: qual será a sua
velocidade em relação ao ponto
ponto?

Figura 3. Passageiro
e ônibus se movendo.

Lembre-se de que a velocidade é uma grandeza vetorial


vetorial. Por isso a sua
velocidade em relação ao ponto será dada pela soma vetorial das duas
velocidades.
A U L A Se você caminhar no mesmo sentido do movimento do ônibus (como indica
a Figura 3), sua velocidade em relação ao ponto será de 11 m/s e você vai se

50 afastar mais rápido do ponto. Caso seu movimento tenha sentido contrário ao
sentido do ônibus, sua velocidade em relação ao ponto será de apenas 9 m/s!
Observe os esquemas mostrados nas Figuras 4a e 4b.

Figura 4a

Figura 4b

Se você pudesse andar com a mesma velocidade do ônibus, mas em sentido


contrário, você não sairia do lugar! (Figura 5)

Figura 5

Esta é a regra para somar velocidades em referenciais que se movem numa


mesma direção.
Agora, imagine que todas as janelas do ônibus foram vedadas e que a estrada
é perfeitamente plana e lisalisa, de modo que o ônibus anda em movimento
retilíneo uniforme (MRU), sem nenhuma vibração. Nessas condições, você não
é capaz de afirmar que o ônibus está em movimento. Isso acontece porque não
aparece nenhuma força e não existe nenhuma experiência que indique que o
ônibus está em movimento retilíneo uniforme: tudo se passa como se ele
estivesse parado!
Se o ônibus acelerar, você sentirá uma pressão do seu banco sobre você. Isso A U L A
acontece porque o banco irá exercer uma força sobre você para acelerá-lo
também. Se o ônibus frear bruscamente, você será jogado para a frente e precisará
se segurar para não cair. Se o ônibus fizer uma curva, você será jogado para o 50
lado! Mas, se o ônibus permanecer em MRU, você não vai sentir nenhuma força
e nem vai perceber que está em movimento!
Movimentos retilíneos uniformes a velocidades de 10 km/h, 30 km/h,
80 km/h etc. são todos equivalentes entre si: sem olhar para fora do ônibus
(nem para o velocímetro), é impossível saber a velocidade do ônibus ou se ele
está parado!
Já sabemos de que modo compor velocidades como as do passageiro e do
ônibus. No início deste século, o jovem cientista Albert Einstein vivia atormen-
tado com uma dúvida: será que para a luz vale o mesmo raciocínio?

O estranho comportamento da luz

À noite, quando entramos em casa e acendemos a luz, não precisamos


esperar para enxergar, pois o ambiente fica imediatamente iluminado: a luz
parece se propagar instantaneamente, isto é, com uma velocidade infinita!
Mas, na realidade, a velocidade da luz tem um valor definido e muito grande
grande!
Atualmente a velocidade da luz é medida com muita precisão: seu valor no
vácuo é c=299.792.458 m/s, ou seja, aproximadamente 300.000 km/s (trezentos
mil quilômetros por segundo)!
Nas Aulas 35 e 49 você estudou a natureza da luz. Viu que a luz tem natureza
dupla: ela se comporta ora como partícula, ora como onda. Ondas mecânicas
(como o som) precisam de um meio material (como o ar) para se propagar. No
século passado, muitos cientistas acreditavam que a luz era uma onda que se
propagava num meio material ao qual deram o nome de éter éter. O éter seria
invisível, sem peso, e estaria presente em todo o espaço.
Surgiu então uma questão: o que acontece quando uma fonte de luz (por
exemplo, uma lâmpada) está em movimento em relação ao éter? A velocidade da
luz é alterada? Em outras palavras: a regra de composição de velocidades, que
discutimos no caso do ônibus, continua válida no caso da luz?
No seu movimento em torno do Sol, a Terra tem velocidade de 30 km/s. Um
feixe de luz que se aproxima a 300.000 km/s, vindo de frente, deve ter uma
velocidade de 300.030 km/s em relação à Terra, como indica a figura abaixo:

Figura 6. Terra e
feixe de luz em
sentidos contrários.

Se esse feixe se aproxima vindo de trás da Terra, ou seja, no mesmo sentido


do seu movimento, deve ter uma velocidade em relação à Terra de “apenas”
299.970 km/s!
A U L A

50 Figura 7. Terra e
feixe de luz no
mesmo sentido.

Entretanto, as experiências mostram que nos dois casos a velocidade da luz


é a mesma
mesma, como se a Terra não estivesse em movimento. Portanto, a teoria do
éter não consegue explicar os resultados das experiências sobre a velocidade da
luz. Assim, Einstein abandonou a idéia do éter e admitiu que:

A luz se propaga sem necessidade de um meio material e


sempre com a mesma velocidade, independente do referencial.

Esse fato tem conseqüências profundas sobre as nossas idéias de espaço e de


tempo. Vejamos quais são elas.

O tempo é relativo!

Desde a época de Isaac Newton, no século XVII, acreditava-se que o tempo


era absoluto e fluía uniformemente. Mas, se o tempo fosse absoluto, a regra de
composição de velocidades deveria valer sempre, inclusive no caso da luz. O fato
de a velocidade da luz num meio ser sempre a mesma, independente do
referencial, implica que o tempo não pode ser absoluto.
Esta é talvez a conseqüência mais surpreendente: o tempo não é absoluto
absoluto,
isto é, não é o mesmo em todos os referencias. Isso significa que o ritmo de um
relógio não é o mesmo se ele estiver parado ou em movimento!
Vamos ver um experimento que comprova esse fato e, em seguida, vamos
demostrar, com a ajuda da matemática, que o tempo passa de forma diferente
quando medido em dois referenciais em movimento, um em relação ao outro.
O múon é uma partícula produzida pelos raios cósmicos na atmosfera da
Terra e que tem um tempo de vida muito curto. Um múon em repouso dura
apenas cerca de 2 microssegundos depois de ter sido criado. Um microssegundo
é um milhonésimo (1/1.000.000) de segundo.

Um múon produzido no alto da atmos-


fera, a 10 km de altitude, viajando a uma
velocidade próxima à da luz (300.00 km/s),
não poderia ser observado na superfície da
Terra, pois precisa de aproximadamente 30
microssegundos para atingir a superfície
(Figura 8). Entretanto, ele é observado!

Figura 8
Como isso pode ser explicado? De acordo com a teoria da relatividade, A U L A
o tempo passa mais devagar para um objeto em movimentomovimento. É o caso do
múon: para essa partícula, que está com grande velocidade, passaram-se
menos de 2 microssegundos. Mas, para nós, que estamos parados, esse tempo 50
é da ordem de 30 microssegundos. Quer dizer, para o múon, o tempo passou
mais lentamente.
Esse fenômeno é conhecido como dilatação do tempo
tempo. Entretanto, esse efeito
só é percebido quando as velocidades são próximas à velocidade da luz, o que
pode ocorrer no caso de algumas partículas subnucleares. No nosso dia-a-dia, as
velocidades são no máximo da ordem de 10 km/s (por exemplo, a dos foguetes)
e, nesses casos, os efeitos de dilatação do tempo não são percebidos.

Para entender melhor a dilatação do tempo, vamos


imaginar a seguinte situação: você está num “foguete
relativístico”, um foguete capaz de andar com uma velo-
cidade (v) muito grande, próxima à da luz. Você está
dentro do foguete e acende uma lanterna que está no
chão do foguete (ponto A da Figura 9). A luz vai até o
teto, encontra um espelho (B), é refletida e volta, pelo Figura 9. Caminho da luz visto de dentro
mesmo caminho, ao ponto de partida (A). Vamos supor do foguete.
que a luz percorre uma distância 2h.

A velocidade da luz é c e t0 é o tempo medido para a luz ir e voltar. Assim,


podemos escrever:

distância percorrida c · t0
c= Þ c = 2h Þ h = (1)
tempo t0 2

Imagine que um colega está na base de lançamento observando o seu


movimento. Para ele, a luz percorreu um caminho diferente, pois o foguete está
se movendo. Observe a figura abaixo, que mostra o foguete em três posições
diferentes:

Figura 10. Caminho da luz visto da base.

Para o seu colega, a luz percorreu o caminho 2d, que pode se calculado
utilizando-se o triângulo CDE da Figura 10. Observe que, enquanto a luz vai de
C até E, passando por D, o foguete vai da posição 1 até a posição 3, percorrendo
a distância dada por CE. O tempo que eles gastam para isso será chamado de t.
A U L A Como a velocidade do foguete é v, a distância percorrida por ele no tempo
t é EC = v · t. Para a luz, já que sua velocidade é constante, podemos escrever:

50 c=
2d
t
⇒ d=
c⋅t
2
(2)

Para mostrar que os tempos são diferentes quando medidos em


referenciais diferentes, precisamos verificar qual a relação entre t e t0. Para
isso, vamos encontrar a relação entre h e d, que pode ser feito utilizando o
teorema de Pitágoras no triângulo retângulo DEF, indicado na Figura 10,
cujos lados são: h (DF), d (DE) e v · t/2 (EF). Assim, teremos:

v2 ⋅ t 2
d2 = h 2 + (3)
4

Agora substituímos o h e d dados pelas equações (1) e (2) na equação (3),


e chegamos a:
c2 ⋅ t 2 c2 ⋅ t 0 2 v 2 ⋅ t 2
= +
4 4 4

que é uma equação do segundo grau. Queremos escrever o t como função das
outras grandezas. Para isso, seguiremos alguns passos: multiplicamos por 4 os
dois lados da equação e passamos as outras grandezas para o outro lado.
t0 2
c · t = c · t0 + v · t Þ (c - v ) · t = c · t0
2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
Þ t = 
2
v2 
1 − 2 
 c 
Assim, extraindo a raiz quadrada, chegaremos ao que queríamos: a relação
entre os tempos medidos nos dois referenciais, no foguete (t0) e na base de
lançamento (t): t0
t= (4)
v2
1−
c2

O termo que está no denominador é sempre menor do que um um, pois é raiz
de 1 menos um termo positivo. Então, t é igual t0 dividido por um número menor
do que 1, portanto t é sempre maior do que t0.
t > t0

Isso mostra que, para o observador em movimento no foguete, o tempo


passa mais lentamente...
Note também que o número no denominador não pode ser zero. Portanto,
a velocidade do foguete (v) não pode ser igual à velocidade da luz (c). Além
disso, o número do qual extraímos a raiz quadrada deve ser positivo, portanto:
2 2
v v
1- > 0 Þ 2 < 1Þ v < c Þ v < c
2 2
2
c c

Isso demonstra a afirmação de Einstein segundo a qual nenhum objeto pode


viajar a uma velocidade igual ou maior do que a velocidade da luz (c) (c). A
velocidade da luz é um limite de velocidade que nenhum objeto pode ultrapassar.
Passo a passo A U L A

Veja este exemplo: imagine que o foguete viaja com 80% da velocidade da
luz, c , isto é, v=0,8c. Substituindo o valor de v na equação (4), teremos 50
t = t0/0,6 @ 1,67 t0, ou seja, enquanto para você passou 1 minuto, para o seu colega
na base passou 1,67 · 1 minuto, que é aproximadamente 1 minuto e 40 segundos!
Isso significa que o relógio do foguete andou mais devagar!

Observe que, se velocidade v for muito menor do que cc, a razão v/c será
muito pequena. Por exemplo: suponha um foguete, dos que existem hoje,
andando à velocidade de 10 km/s. A razão v/c será 10/300.000 = 0.000033,
muito pequena. Nesse caso, t e t0 são praticamente iguais. Isso está de acordo
com previsões da física de Newton: o ritmo dos relógios não varia quando as
velocidades são muito menores do que cc.
Isso mostra que a teoria da relatividade não contradiz a física clássica: as
leis de Newton continuam válidas nos casos em que as velocidades são muito
menores que a da luz, como ocorre no nosso dia-a-dia. A teoria da relativi-
dade traz novos fenômenos observados apenas quando as velocidades são
próximas à da luz
luz.

O comprimento é relativo!

O comprimento de um objeto também depende do referencial! Quer dizer,


para o seu colega, que está sentado na base, o foguete em movimento tem um
comprimento menor do que quando está parado na base!

Imagine que o foguete tem um comprimento L0 quando está parado na base.


Quando estiver se movendo com uma velocidade v, o observador na base verá
o foguete com um comprimento (L) dado por:

v2
L = L0 ⋅ 1− (5)
c2

Não vamos aqui deduzir esta expressão matemática, vamos discutir o seu
significado. Ela se parece com a equação (4) para os tempos: tem o mesmo fator

v2
1−
c2

(que é sempre menor do que 1), mas agora ele está multiplicando L0, portanto:

L0 > L

Quer dizer: o comprimento do foguete quando está em repouso é maior do


que quando ele está em movimento. Esse fenômeno é conhecido como contração
do espaço
espaço.
A U L A Passo a passo

50 Voltando ao exemplo onde a velocidade do foguete era v = 0,8c. Substituin-


do o valor na equação (5) e fazendo os cálculos, teremos L @ 0,6 L0, ou seja, o seu
colega verá o foguete com quase metade do comprimento L0 que o foguete tem
quando está parado. Suponha que o foguete tenha 50 metros quando medido
por você, que está dentro dele. Visto pelo seu colega que está na base, o foguete
em movimento terá apenas 30 metros!

Note que só o comprimento do foguete varia, a sua altura não varia: só as


dimensões na direção do movimento sofrem contração.

A massa é relativa!

Você já sabe que a massa de um corpo é a medida de sua inércia. De acordo


com as leis de Newton, a massa de um corpo é sempre a mesma em qualquer
referencial. Entretanto, Einstein mostrou que a massa de um corpo depende da
sua velocidade
velocidade. A equação que descreve o comportamento da massa (m) de um
objeto em movimento com uma velocidade v, em função da sua massa medida
quando ele está em repouso (m0), é:
m0
m=
v2
1−
c2

Essa equação mostra que a massa de um objeto aumenta quando ele está em
movimento.
m > m0

Se a velocidade do foguete for v = 0,8c, sua massa será m = m0/0,6 @ 1,67 m0.
Supondo que a massa do foguete seja 10 toneladas, passará a 16,7 toneladas!

E = m · a 2 , E = m · b 2, E = m · c 2...
2
E = m · c . Obviamente não foi trocando as letras a, b e c que Einstein deduziu
esta equação! Para chegar a ela, Einstein fez cálculos que fogem aos objetivos
deste Telecurso: para nós, o importante é discutir o seu significado.
De acordo com a mecânica proposta por Newton, massa e energia são
grandezas independentes. Einstein mostrou que massa e energia são equivalen-
tes! Quando aumenta a energia (cinética e potencial) de um corpo, a sua massa
também aumenta! A relação entre a energia total (E) de um corpo e a sua massa
(m) é dada por:
E = m · c2

a famosa equação de Einstein, onde c é a velocidade da luz.


Um exemplo de aplicação dessa equação ocorre na transição que ocorre num A U L A
átomo, quando um dos seus elétrons vai de um estado de energia E1 para outro
de energia E2, sendo emitido um fóton com energia DE = E1 - E2. Nesse caso, a
sua massa também varia de uma quantidade Dm = m1 - m2, de tal modo que essas 50
duas quantidades estão relacionadas por:

DE = Dm · c
2

2
Como a velocidade da luz (c) é muito grande e o seu quadrado (c ) é maior
ainda, a variação de energia (DE) é grande mesmo quando a variação de massa
(Dm) for pequena.
As transições que ocorrem num átomo, quando um elétron muda de
órbita, produzem pequenas variações de energia (emissão de fótons de luz) e
a variação de massa é pequena demais para ser percebida. Entretanto, transi-
ções que ocorrem dentro do núcleo atômico liberam muito mais energia, e a
variação de massa, embora pequena, pode ser medida. A aplicação mais
2
famosa da equação E = mc são as bombas nucleares desenvolvidas durante a
Segunda Guerra Mundial. Elas conseguem grande quantidade de energia, que
vem do núcleo atômico.

Nesta aula você aprendeu que:

· a velocidade da luz num meio tem sempre o mesmo valor


valor, independendo
do referencial;

· assim como as posições e as velocidades, o tempo é relativo


relativo;

· os intervalos de tempo medidos em referenciais que se movem são menores,


isto é, o tempo flui mais lentamente. Esse fenômeno é chamado de dilatação
do tempo
tempo;

· o comprimento de um objeto medido num referencial em movimento é


menor do que o comprimento do objeto medido num referencial em
repouso. Esse fenômeno é chamado de contração do espaço
espaço;

· a contração do espaço e a dilatação do tempo só são percebidas quando as


velocidades são próximas à velocidade da luz;

· massa e energia são dois aspectos da mesma grandeza e se relacionam pela


2
equação E = mc .
A U L A Exercício 1
Complete:

50 Você está sentado assistindo a uma teleaula. Está em (a) ..........................


em relação ao aparelho de TV, mas em relação ao Sol você está em
(b) .......................... . Isso mostra que os movimentos são (c) ..........................
, e que todo movimento deve ser descrito a partir de um (d) ..........................
.

Exercício 2
Complete:
Quando a luz interage com a matéria, ela se comporta como uma
(a) ......................... . Entretanto, quando a luz se propaga, ela tem caracte-
rísticas de (b) ......................... . A luz pode se propagar mesmo na
(c) ......................... de matéria: isso a diferencia das ondas (d) ..........................
A luz se propaga no vácuo com velocidade (e) ......................... de 300.000 km/s,
independentemente do (f) ......................... .

Exercício 3
Complete:
Uma das conseqüências do fato de a velocidade da luz ser constante é que
o tempo deixou de ser (a) .......................... . Isso quer dizer que o ritmo de um
relógio depende do (b) .......................... . Quanto mais rápido um objeto se
desloca, mais (c) .......................... o tempo passa. Esse fenômeno é conhecido
como (d) .......................... do tempo.

Exercício 4
Complete:
Uma outra conseqüência da teoria da relatividade é conhecida como
(a) .......................... do espaço. Isso quer dizer que as dimensões de um
objeto (b) .......................... quando ele está em movimento. Ainda de acordo
com essa teoria, a massa dos objetos também é (c) .......................... , e existe
uma equivalência entre massa e (d) .......................... que pode ser expressa
matematicamente por (e) .......................... .
Gabaritos das aulas 22 a 50

Aula 22 - Estou com febre?


1. Vamos supor que a bebida esteja inicialmente à temperatura ambiente. Dentro da geladeira a tempe-
ratura é menor; assim, quando a bebida é colocada no seu interior, sua temperatura diminuirá, mas é
preciso aguardar um certo tempo para que ela fique à mesma temperatura do interior da geladeira. Em
outras palavras, é preciso esperar que seja atingido o equilíbrio térmico.
2. A dilatação linear do trilho é descrita pela expressão: DL = a · L0 · Dt , onde o comprimento inicial da barra
é L0 = 1 m, o coeficiente de dilatação do ferro é a = 1,2 · 10 ºC , e a variação da temperatura é Dt = (60ºC
-5 -1
-5 -4
- 10ºC) = 50ºC. Assim podemos calcular o L: DL = 1,2 · 10 · 1 · 50 Þ DL = 6,0 · 10 m ou 0,6 mm.
Se cada barra se dilata 0,6mm, a distância D entre duas barras deve ser, no mínimo, 2 · 0,6mm = 1,2mm.
3. Sabemos que a correspondência entre a temperatura nessas duas escalas é dada por 5(tF - 32º)/9. Para
saber quando essas duas temperaturas são iguais, basta substituir tC = tF na equação, assim:
5(tC - 32º)/9 Þ 9 tC = 5(tC - 32º) Þ 9 tC = 5tC - 160º Þ 4tC = - 160º Þ tC = - 40ºC.
Portanto: tC = - 40ºC e tF = - 40ºF.
4. Sabemos que densidade é a relação entre a massa de um objeto e o seu volume: d = m/V. Vamos
considerar que, ao aquecer o objeto, sua massa não mude (por exemplo, que não ocorra evaporação).
Sabemos que o seu volume aumenta, portanto sua densidade irá diminuir, pois V e d são grandezas
inversamente proporcionais: quando uma aumenta, a outra diminui.
5. A temperatura normal do corpo humano na escala Celsius é t C = 36ºC. Para saber esse valor na escala
Fahrenheit, basta utilizar novamente a expressão que relaciona essas duas temperaturas, substituin-
do este valor: tC = 5(tF - 32º)/9 Þ 36º = 5(tF - 32º)/9 Þ 36º · 9/5 = tF - 32º Þ tF = 64,8º + 32º Þ tF = 96,8ºF.
6. Quando Gaspar encheu o tanque, colocou um volume de gasolina igual ao volume do tanque (ambos
estavam à temperatura ambiente). Com o forte calor a gasolina foi aquecida e se dilatou, de modo que
seu volume superou o volume do tanque e ocorreu o vazamento. (Observação: o tanque também
sofreu dilatação, mas o aumento do seu volume foi inferior ao aumento do volume da gasolina.)

Aula 23 - Água no feijão, que chegou mais um!


1. Uma pedra de gelo grande tem mais massa do que uma pedra de gelo pequena. Assim, podemos
dizer que a capacidade térmica da pedra de gelo grande é maior que a da pedra de gelo pequena.
Isso significa que é necessário mais calor para derreter a pedra de gelo grande do que para derreter
a pedra de gelo pequena. Quando moemos o gelo, passamos a ter centenas de pequenas pedras de
gelo que derretem mais rápido do que a pedra original.
2. Quando abrimos a geladeira vazia, ocorrem trocas de calor: sai ar frio e entra ar quente. Quando a
geladeira está cheia de alimentos, já resfriados, as trocas de calor são minimizadas, pois os alimentos
em geral têm uma capacidade térmica maior do que a do ar, por isso sua temperatura varia mais
lentamente. Este fato revela que os alimentos ajudam a resfriar o ar quente que entra quando abrimos
a geladeira.
3. Sabemos qual é o calor específico da água(1cal/g · ºC) e qual é a massa de 3 litros de água, pois sua
densidade é de 1 kg/litro, e sabemos também qual foi a variação de temperatura sofrida por esta
massa de água (Dt = 90ºC - 20ºC). Podemos então usar a seguinte equação: DQ = m · cágua · Dt
Substituindo os valores na equação: DQ = 3.000 g · 1 cal/g ºC · 70 ºC Þ DQ = 210.000 cal
Se colocarmos o aditivo na água do radiador, teremos uma alteração na capacidade térmica do
líquido, assim o calor absorvido pelo radiador será: DQ = m · cmistura · Dt
Substituindo os valores na equação: DQ = 3.000 g · 1,1 cal/g ºC · 70 ºC Þ DQ = 231.000 cal
isto significa que a mistura da água com o aditivo retira mais calor do motor do que a água pura,
aumentando assim seu rendimento.
4. Pelo gráfico, vemos que a substância A recebeu 110 cal e sua temperatura variou de 50ºC, enquanto
que a substância B, para sofrer a mesma variação de temperatura, recebeu apenas 55 cal. Conhecen-
do o calor específico de cada substância, poderemos identificá-la usando a tabela fornecida
nessa aula. Para desccobrir o calor específico, usamos sua definição: c = C/m = DQ/ (m · Dt)
cA = 110/ (10 · 50) Þ cA = 0,22 cal/g ºC
cB = 55/ (10 · 50) Þ cB = 0,11 cal/g ºC
Pela tabela podemos verificar que a substância A é o alumínio e a substância B é o ferro.
5. Sabemos que o calor específico do cobre é 0,093 cal/g ºC. Usando a definição de calor específico,
podemos calcular a quantidade de calor (DQ) cedida ao bloco:
c = C/m = DQ/ (m · Dt)
DQ = m · c · Dt
DQ = 100 · 0,093 · 50 = 465 cal
Como 1cal = 4,18 J, temos:
DQ = 465 · 4,18 J
DQ = 1.943,7 J
6. Podemos usar a definição de capacidade térmica:
Cleite = m · c = 200.000 · 0,97
Cleite = 194.000 cal/ºC

Aula 24 - A brisa do mar está ótima!


1. À noite, a temperatura baixou bastante e ficou mais baixa que a temperatura do corpo de Cristiana.
Nós já sabemos que o calor é a energia térmica que flui de um corpo para outro de temperatura mais
baixa. Dessa forma, o calor flui para fora do corpo e temos a sensação de frio. Então colocamos um
agasalho, que é um isolante térmico e dificulta a passagem do calor: assim, não perdemos calor e
ficamos aquecidos. Portanto, não é correto afirmar que os agasalhos nos aquecem. O correto é dizer
que eles nos mantêm aquecidos
aquecidos.
2. Esse é outro exemplo de condução de calor: o chão da cozinha é um bom condutor de calor. Por isso,
quando encostamos o pé no chão, o calor flui facilmente (do pé para o chão), daí a sensação de frio.
Já o tapete, como a maioria dos tecidos, é isolante. Assim, o pé não perde calor, e por isso a sensação
de frio passa.
3. Exemplos de condutores: latas, panelas (metais em geral), azulejos, mármore. Exemplos de isolantes:
lã (tecidos em geral), cobertores, madeira, cabo de panela, borracha.
4. Vimos que um bom exemplo de propagação de calor por convecção ocorre no interior das geladeiras:
o ar quente tende a subir, por que é menos denso que o ar frio. Ao atingir a região do congelador ele
é resfriado, fica mais denso e desce. Forma-se assim uma corrente de ar (corrente de convecção). Mas,
para que o ar possa circular, é necessário que existam grades para permitir sua circulação. Se em lugar
de grades existissem placas metálicas inteiras, não haveria convecção, só condução de calor. Isso
reduziria a eficiência da geladeira, aumentando o consumo de energia elétrica.

Aula 25 - Ernesto entra numa fria!


1. Como a água já está a 100ºC, usamos diretamente a definição de calor latente: L = DQ/m ou seja,
DQ = m · Lvaporização = 1.000 g · 540 cal/g Þ DQ = 540.000 cal
Essa é a energia necessária para fazer com que 1.000 g (1 litro) de água se tornem vapor a 100ºC.
2. Mais uma vez usamos a definição de calor latente, pois a água já está a 0ºC:
DQ = m · Lsolidificação = 10 g · (- 80 cal/g)
DQ = - 800 cal
É necessário que a água perca 800 cal para que se torne gelo a 0ºC.
3. Como não há perdas de energia, podemos usar a conservação de energia, ou seja: DQcedido + DQrecebido = 0
O ferro está a uma temperatura mais alta, devendo então ceder calor para a água:
DQcedido = mferro · cferro · (tf - ti)
DQcedido = 100 · 0,11 · (tf - 200)
DQcedido = 11 · (tf - 200)
A água vai receber a energia térmica cedida pelo ferro:
DQrecebido = mágua · cágua · (tf - ti)
DQrecebido = 1.000 · 1 · (tf - 20)
DQrecebido = 1.000 · (tf - 20)
Usando a conservação da energia, temos:
11 · (tf - 200) + 1.000 · (tf - 20) = 0
11tf - 2.200 + 1.000tf - 20.000 = 0
1.011tf = 22.200
tf @ 21,96ºC
4. Para que 1 litro de água (1.000 g) a 20ºC se torne gelo a - 20ºC, é necessário calcular:
a) a quantidade de energia que deve ser retirada para que a temperatura da água diminua de 20ºC até 0ºC;
DQ1 = m · cágua · Dt = 1.000 · 1 · (0 - 20) = - 20.000 cal
b) a quantidade de energia que deve ser retirada para que a água se solidifique;
DQ2 = m · Lsolidificação = 1.000 · (- 80) = - 80.000 cal
c) a quantidade de energia que deve ser retirada para que a temperatura do gelo diminua de 0ºC até
- 20ºC, ou seja: DQ3 = m · cgelo · Dt = 1.000 · 0,5 · (- 20 - 0) = - 10.000 cal
com isso podemos calcular a energia total retirada:
DQtotal = DQ1 + DQ2 + DQ3
DQtotal = - 20.000 - 80.000 - 10.000 = - 110.000 cal
Portanto, é necessário retirar 110.000 cal de um litro de água a 20ºC para obter gelo a -20ºC.

Aula 26 - Hoje, a torcida está “esquentada”!

1. a) Como o volume não variou esta é uma transformação isovolumétrica.


b) Podemos então escrever a equação de estado do gás dentro do pneu da seguinte maneira:
Pi Pf
=
Ti Tf
Lembrando que a temperatura deve ser usada na escala absoluta, ou seja, na escala Kelvin, vamos
fazer as mudanças de unidades:
T = tC + 273
Ti = (27 + 273)K = 300K
Tf = (57 + 273)K = 330K. Substituindo esses valores na equação do gás, temos:
30 lb / pol2 Pf
=
300K 330K
Podemos então calcular a pressão final:
9.900
lb/pol Þ P f = 33 lb/pol
2 2
Pf =
300
2. Para saber se houve vazamento, o técnico deve verificar se o número de moles do gás variou, ou seja, se:
P 1V 1 P 2V 2
= = nR
T1 T2
Trata-se de uma transformação isotérmica. Então, podemos escrever: P1V1 = P2V2
Agora, basta calcular cada um dos lados da equação para verificar se realmente são iguais.
3 3
P1V1 = 70 cmHg · 20 cm = 1.400 cmHg · cm = n1R
3 3
P2V2 = 120 cmHg · 10 cm = 1.200 cmHg · cm = n2R
Ou seja, como as duas situações nos levam a números diferentes, confirmamos a hipótese do técnico:
houve vazamento de gás no interior da válvula, pois o número de moles diminuiu (n1 > n2).
3. Como a temperatura permanece praticamente constante, a bolha sofre uma transformação isotérmica.
Desse modo, podemos escrever: P1V1 = P2V2
Usando a dica de que, a cada dez metros de profundidade, a pressão aumenta 1 atmosfera, podemos
calcular a pressão na profundidade em que está o mergulhador, ou seja:
Patmosférica = 1 atm
P1 = Patmosférica + Pcoluna d'água = 1 atm + 3 atm = 4 atm
Ou seja, o mergulhador e a bolha estão submetidos a uma pressão de 4 atm. Substituindo os dados
fornecidos pelo problema, na expressão P1V1 = P2V2 podemos calcular V2:
3
4 atm · 2,5 cm = 1 atm · V2
3
V2 = 10 cm
3
A bolha se dilata de tal forma que, ao chegar à superfície, seu volume é de 10 cm .
4. Para calcular o número de moles no gás, usamos a equação de estado dos gases:

n = PV Þ n = 1atm · 44,8l Þ n = 44,8 moles Þ n = 1,82 moles


atm · l
RT 0,082 mol · K · 300K 8,2 · 3
Sabemos que: 1 mol = 6,02 · 10 moléculas, portanto n = 1,82 · 1 mol = 1,82 · 6,02 · 10 @ 10,96 · 10
23 23 23

moléculas, que é o número de moléculas nesse gás.

Aula 27 - Águas passadas não movem moinho!


1. Escrevemos a primeira lei da termodinâmica do seguinte modo: DQ = DU + t
a) Como numa transformação isotérmica não há variação de temperatura, sabemos que não ocorre
variação na energia interna do sistema, ou seja: DT = 0 Þ DU = 0
Escrevemos então a primeira lei da termodinâmica como: t = DQ
Isso significa que, nesse tipo de transformação, todo o trabalho realizado sobre o gás é convertido
em calor.
b) No caso da transformação isovolumétrica, sabemos que nenhum trabalho está sendo realizado, já
que o volume do gás não varia, o gás não se expande, ou seja: DV = 0 Þ t = 0
A primeira lei será escrita assim: DQ = DU, isto é, todo o calor é transformado em energia interna
do gás.
c) No caso da transformação adiabática, sabemos que não ocorrem trocas de calor entre o sistema e
o meio, ou seja: DQ = 0
Assim, escrevemos a primeira lei da seguinte maneira: DU = - t
2. Numa transformação isovolumétrica DV = 0 e portanto, o trabalho realizado pelo gás é nulo(t = 0).
Nesse caso, a primeira lei da termodinâmica será escrita assim: DQ = DU = 1.000 J isto é, a variação
da energia interna do gás será igual ao calor recebido por ele.
3. Alternativa e)
e), pois numa transformação isovolumétrica, todo calor é transformado em energia
interna. Na transformação isotérmica não há variação de energia interna, pois a temperatura do gás
não varia.

Aula 28 - Dá um tempo, motor!


1. Sabemos que o trabalho realizado por uma máquina térmica pode ser descrito como a diferença entre
a quantidade de calor cedida pela fonte quente e a quantidade de calor retirada pela fonte fria, ou seja:
t = DQquente - DQfria
A fonte fria é o interior da geladeira e a fonte quente é o seu exterior. Podemos então escrever:
t = 1.000 cal - 1.200 cal = - 200 cal
O sinal negativo significa que o trabalho foi realizado sobre o gás e não pelo gás
gás.
2 . O rendimento de uma máquina térmica é dado pela expressão
∆Qfria T
η = 1− = 1 − fria
∆Qquente Tquente
Podemos calcular o rendimento substituindo os valores da temperatura:
300K
η = 1− = 1 − 0,6 ⇒ η = 0,4
500K
Isto é, o rendimento dessa máquina térmica é de 40%.

3. a) Novamente vamos usar a equação do rendimento:


∆Q fria T fria
h = 1 - = 1 -
∆Q quente T quente
Como conhecemos a quantidade de calor retirado da fonte quente e a quantidade de calor cedido à
fonte fria em 20 ciclos (1 segundo), podemos calcular a quantidade de calor cedida e retirada em cada
ciclo simplesmente dividindo as quantidades dadas por 20:
∆Q fria (total)
DQ fria (1 ciclo) =
20
∆Q quente (total)
DQ quente (1 ciclo) =
20
Ao substituir essas grandezas na equação do rendimento, percebemos que não é necessário fazer a
divisão por ciclo, pois elas se cancelam:
∆Q fria (total)
20 ∆Q fria (total) 500
h = 1 - = 1 - = 1 -
∆Q quente ( total) ∆Q quente (total) 800
20
h = 0,375 que significa que a máquina terá rendimento de 37,5%.

b) Sabendo o rendimento e o valor da temperatura da fonte fria, podemos substituir esse valores na
forma da expressão do rendimento em função da temperatura:
T fria (27 + 273)K 300K
h=1- Þ 0,375 = 1 - Þ T quente = Þ T quente = 480K
T quente T quente (1 − 0,375)
que é a temperatura da fonte quente dessa máquina térmica.

Aula 29 - Como uma onda no mar...


1. a) Já que cada quadrado da figura representa 1 cm, a amplitude vale 3 cm, lembrando que
amplitude é a maior distância em relação à posição de equilíbrio (que é sobre o eixo x).
b) Como nesse caso nós conhecemos apenas a amplitude, vamos utilizar o gráfico para saber
quanto vale o comprimento de onda (que corresponde à distância entre duas cristas ou dois
vales). Portanto, l = 16 cm.
c) Agora podemos usar a relação l = v · T para calcular o período:
λ 16 cm
T= ⇒T= ⇒T=4s
v 4 cm / s
A freqüência é o seu inverso, portanto: f = 0,25 Hz

2. a) Se os pulsos percorriam 200 cm em 4 segundos, sua velocidade era: v = 200 cm/4 s = 50 cm/s
b) O comprimento de onda pode ser conhecido medindo-se a distância entre duas cristas sucessivas.
Portanto: l = 10 cm.
c) A freqüência com que Ernesto agitava sua mão era: f = v/l = 50/10 = 5Hz

3. a) Já que Maristela agitava a mão duas vezes a cada segundo, a freqüência do seu movimento era
2 Hz e o período é seu inverso, portanto 0,5 s.
b) Com essa informação e os dados da tabela, podemos calcular o comprimento de onda em cada
pedaço da corda:
CORDA COMPRIMENTO DA ONDA

parte fina l = 3 cm
parte grossa l = 2 cm

Como a fonte que produz os pulsos é a mesma, a freqüência da onda não depende da espessura
da corda, só depende da fonte. Portanto, a freqüência da onda não muda quando ela muda de
meio. Assim, a razão: v f /l f = vg /lg, é constante, pois é igual à freqüência da fonte. Observando
os valores obtidos, verificamos que a onda se propaga com maior velocidade na parte mais fina
da corda; nessa parte, também o comprimento de onda é maior.

Aula 30 - Um papinho, um violão e a bendita construção!


1. Ambas são ondas mecânicas, produzidas a partir de vibrações num meio material, necessário para que
essas ondas se propaguem. A diferença fundamental está na relação entre a direção de propagação da
onda e a direção de deslocamento dos “pontos” do meio. No caso das ondas transversais, essas direções
são perpendiculares. No caso de ondas longitudinais, elas têm a mesma direção.

2. Aqui vale a relação entre comprimento de onda, freqüência e velocidade de propagação: l = v/f,
portanto: l = 340/440 @ 0,77 m ou 77 cm
3.
a) A velocidade do trem era 20 m/s e ele levou 170 s para percorrer a distância x. Usando a definição
de velocidade:
distância percorrida x
v= Þ 20 = Þ x = 3.400 m
tempo 170
Portanto, o trem estava a 3.400 m da estação.
b) Agora, para saber quanto tempo o som do apito demorou para chegar à estação, usamos
novamente a definição de velocidade, considerando que o som percorreu a distância x:
340 = 3.400/Dt
Dt = 10 s
4. O som, como todas as ondas mecânicas, precisa de um meio material para se propagar, portanto, não
se propaga no vácuo. Isso ocorre porque o som é produzido a partir da vibração das moléculas (ou
dos átomos) do meio: sua propagação ocorre porque essa vibração é transmitida de uma molécula
a outra do meio. Logo, sem átomos ou moléculas, não há o que vibrar!
Aula 31 - Assim caminha a luz

1. Os triângulos ABE e ECD são semelhantes. Então,


AB CD
=
10m 0,5m
AB 0,05m
=
10m 0,5m
AB = 1m

2. Observe a figura. Nela, os triângulos ABE e CDE são semelhantes. Teremos então:
AB 3,0m
=
CD x
40cm 3,0m
=
36cm x

x = 2,7m

Os triângulos ACD e AEG são semelhantes. Então:


3,0 − x 3
= como x = 2,7 m, teremos:
CD EG
0,3m 3m
=
36cm EG
EG = 360cm
EG = 3,6m

3. Observe a figura. O prédio e a sombra formam um triângulo retângulo.


Nele, temos:
AB
= tg60o = 3
BC
40
BC = ≅ 23,1m
3
4. Os triângulos OAB e OCD são semelhantes. Então,
AB CD
=
OB OD
2cm 3.000km
=
x 380.000km
Assim, podemos verificar que x vale aproximadamente 2,5 metros.

Aula 32 - Espelho, espelho meu...


1. Os espelhos E1 e E2 vão formar, respectivamente, as imagens P 1 e P2 Para obter P1 basta traçar o ponto
simétrico de P com relação ao espelho E 1. Isto é, os pontos P1 e P vão estar à mesma distância do
espelho E1. Para obter P2 basta traçar o ponto simétrico de P com relação ao espelho E 2. Isto é, os pontos
P2 e P vão estar à mesma distância do espelho E2. Já o ponto P1 vai servir de objeto para o espelho E2
e formar a imagem P’1. O mesmo vai acontecer com o ponto P2, que
vai servir de objeto para E2 e formar a imagem P’2. O processo segue
da mesma maneira e vão aparecer as imagens P”1 e P”2. As duas
últimas formam imagens coincidentes dentro do ângulo morto
(Pf), e não teremos mais imagens posteriores. Uma vez obtidas
todas as imagens, podemos colocar a ponta de um compasso no
ponto C, abrir a outra ponta até o ponto P, e traçar uma circunfe-
rência. Ela vai passar por todas imagens.

2. Nos espelhos esféricos côncavos, um objeto real só pode estar em três posições: entre o vértice e o foco
(caso 2a), entre o foco e o centro (caso 2b) e além do centro (caso 2c). Utilizando duas das construções
descritas, em Obtendo graficamente a imagem de um ponto ponto, podemos obter as imagens pedidas.

2a) Imagem virtual direta maior 2b) Imagem real invertida maior 2c) Imagem real invertida menor

3. Já temos os raios incidentes nos espelhos. São raios que estão entrando no sistema paralelamente ao
eixo principal ou passando pelo foco. Assim, basta usar as construções descritas em Obtendo
graficamente a imagem de um ponto ponto. No primeiro caso, o do espelho convexo, teremos uma imagem
real, direita e maior que o objeto. No espelho côncavo, a imagem também é real e direita, mas menor
que o objeto.

Aula 33 - Atira mais em cima!


1. Como vimos anteriomente, o índice de refração do ar com relação à agua vale 3 .
4
sen λ 3
Então, = nar água =
ar,, agua
sen 90o 4
sen λ 3
=
1 4
3
sen λ =
4
3
Se procurarmos o ângulo cujo seno é , obteremos algo entre 48º e 49º.
4
2. Vamos verificar, inicialmente, de onde a pessoa vê o peixe. Quem é o objeto? É o peixe. A distância
do objeto à superfície vale 36 cm. Como quem vê, nesse caso, é a pessoa, a luz vem do peixe. Para a
pessoa, então, o primeiro meio é a agua e o segundo é o ar. Logo,
3
n2,1 = nar, água =
4
Mas também temos:
distância da imagem até a superfície
= n2,1 = nar, água
distância do objeto até a superfície
Então,
x 3
=
36cm 4
Então x = 27 cm.
No segundo caso, a pessoa é o objeto. O objeto dista 72 cm da superfície. A luz vai do ar para a água,
pois quem está observando é o peixe. Então:
4
n2,1 = nágua, ar =
3
Utilizando a mesma relação anterior, teremos:
x 4
=
72cm 3
Então x = 96 cm.

Aula 34 - Eu não nasci de óculos!


1. Uma pessoa hipermétrope usa lentes convergentes. Quando expomos
a lente ao Sol, o Sol está para a lente a uma distância infinita. Os raios
solares chegam à lente paralelos. Então, após passar pela lente, eles vão
se encontrar no foco da mesma, como mostra a figura ao lado. Esse é um
foco imagem real, e os raios luminosos que saem da lente vão convergir
para ele. A temperatura eleva-se bastante porque todos raios luminosos
que atingem a lente são concentrados naquele ponto.
2. No caso de uma pessoa míope, as lentes que corrigem o defeito são
divergentes. Os raios do Sol chegam à lente, também, como um feixe
paralelo. Acontece que, para lentes divergentes, o foco é virtual. Logo, os
raios que saem da lente são divergentes. A luz e o calor do Sol são, dessa
maneira, espalhados pela folha de papel, como está representado na
figura.

Aula 35 - A luz em bolas

1. O número de batidas do coração por minuto era 72. Então, a freqüência de batidas por segundo era:
72 batidas
= 1, 2 batidas / s
60 segundos

O intervalo de tempo entre duas batidas é o inverso desse número:


1 5
= s
1, 2 6
Logo, nesse tempo, a luz percorreria uma distância de:

5
s ⋅ 300.000 km/ s = 250.000 km
6

2. Além de um grande físico teórico, Newton era um excelente experimentador. Ele não desconhecia o
fato de que um raio luminoso, ao passar do ar para a água, vai aproximar-se da normal. Acontece que,
na sua época, a definição do índice de refração como sendo o quociente de duas velocidades era
desconhecida. Então, ele poderia fazer suposições a respeito da velocidade da luz nos diferentes
meios sem estar cometendo erro algum.
Aula 36 - Ô, raios!
1. Quando aproximamos o canudo da placa, as cargas dentro dela vão se separar. Ao tocarmos o dedo
na placa, algumas cargas negativas da placa passam para o dedo, pois são empurradas pelas cargas
negativas do canudo. Porém, se retirarmos o canudo antes do dedo, as cargas negativas voltam
para a placa. Agindo dessa maneira, não conseguiremos carregar a placa. Se quisermos carregar
a placa por indução, o dedo deveria ser retirado antes.
2. Quando o canudo é aproximado das placas, como mostra a figura, ele “empurra” algumas cargas
negativas da placa à direita para a outra placa. Então a placa à esquerda está negativa e a da direita,
positiva. Se as placas forem separadas sem que o canudo seja retirado da posiçãoposição, elas ficarão
carregadas. Porém, se o canudo for retirado antes
antes, as cargas voltam para as placas de origem e
nenhuma delas ficará carregada.
3. Como o eletroscópio está carregado positivamente, tanto a lingüeta como o corpo do eletroscópio
estão com excesso de cargas positivas. É por isso que a lingüeta está aberta. As cargas positivas do
corpo repelem as cargas positivas da lingüeta. Porém, ao aproximarmos o canudo do disco do
eletroscópio, vamos empurrar algumas cargas negativas para a parte de baixo. Estas vão anular
algumas das cargas positivas e a lingüeta vai se fechar um pouco.

Aula 37 - Atração fatal

1. O problema é apenas uma aplicação direta da lei de Coulomb, ou seja:


q ⋅q
F = 9,0 ⋅ 10 9 1 2
d2
Substituindo-se os valores dados no problema, teremos:
9 -10 -10
9 · 10 · 5 · 10 · 8 · 10 -2
F = -4 2
= 2,25 · 10 N
(4 · 10 )

2. Vamos calcular, inicialmente, a força de repulsão entre as cargas positivas. Vamos chamar essa força
de F1. Teremos:
9 · 109 · 6 · 10-10 · 6 · 10-10 -7
F1 = -2
= 4,0 · 10 N
(9 · 10 )
Se chamarmos de F2 a força de atração entre a carga negativa e a positiva que está mais próxima, Q1,
teremos:
9 -10 -10
9 · 10 · 6 · 10 · 3 · 10 -6
F2 = -2
= 1,8 · 10 N
(3 · 10 )
Finalmente, a força de atração F3 entre a carga negativa e a carga positiva que está mais distante, Q2,vai
ser:
9 -10 -10
9 · 10 · 6 · 10 · 3 · 10 -7
F3 = -2
= 4,5 · 10 N
(6 · 10 )
A força resultante atuando sobre a carga negativa vai ter o valor:
F = F2 - F3 = 1,8 · 10-6 - 4,5 · 10-7 = 1,35 · 10-6 N
Na carga positiva mais próxima da carga negativa, Q1, a força será:
-6 -7 -6
F = F2 - F1 = 1,8 · 10 - 4,0 · 10 = 1,4 · 10 N
Finalmente, a força na última carga terá valor igual a:
-7 -7 -7
F = F3 - F1 = 4,5 · 10 - 4,0 · 10 = 0,5 · 10 N
3. Vamos calcular as duas forças que agem sobre a carga que está no vértice do triângulo. Teremos:
9 -8 2
9 · 10 · (8 · 10 ) -2
F1 = -2 2
= 3,6 · 10 N
(3 · 10 )
9 ⋅ 10 9 ⋅ (8 ⋅ 10 −8 )2 -2
F2 = = 6,4 ⋅·10
10− 2N
( 4 ⋅ 10 − 2 )2
E, para a força resultante, vamos ter:
F2 = F12 + F22
-2
F @ 7,3 · 10 N

Aula 38 - Hoje estou elétrico!

1. O campo gerado por uma carga negativa é um campo radial e as linhas de campo do mesmo apontam
para a carga. Para calcular seu valor, basta usar a definição de campo:
Q 9 ⋅ 10 9 ⋅ 6 ⋅ 10−8
E = k⋅ = = 1,35 1066 N/C
1,35 ⋅·10 N/C
r2 ( 2 ⋅ 10 − 2 )2
O campo gerado por uma carga depende do inverso do quadrado da distância da carga ao ponto
considerado. Então, se quisermos que o valor do campo caia pela metade, devemos multiplicar a
distância por 2 . Logo, o valor do campo a uma distância de 2 2 cm será a metade do valor do
campo a uma distância de 2 cm da carga.
2. Queremos saber qual é o campo no ponto médio entre as duas cargas, isto é, num ponto que esteja
situado a 1 cm de cada uma delas. Teremos portanto (ver Figura 1):
Q
E = k⋅
r2
Para a carga Q1 o valor do campo será:
9 ⋅ 10 9 ⋅ 3 ⋅ 10 −8
= 2,7 ⋅ 106 N / C
(1 ⋅ 10 − 2 )2
E para a outra carga, Q2:
9 ⋅ 10 9 ⋅ 4 ⋅ 10 −8
= 3,6 ⋅ 106 N / C
(1 ⋅ 10 − 2 )2
Então, o campo resultante será:
3,6 · 10 - 2,7 · 10 = 0,9 · 10 N/C
6 6 6

Como o campo gerado pela carga maior é o maior dos dois, o campo resultante vai apontar para a
carga de menor valor.
Vamos agora determinar o ponto onde o campo é nulo. Suponhamos que ele esteja a uma distância
d de Q e a uma distância d2 de Q2 (Figura 2). Para que nesse ponto o campo seja nulo, os valores dos
campos gerados por cada uma das cargas devem ser os mesmos. Teremos portanto:
k ⋅ Q1 k ⋅ Q2
=
d12 d22
3 4
=
d12 d22 Figura 1 Figura 2

Por outro lado, a soma dessas distâncias deve ser a distância entre as cargas. Então:
d1 + d2 = 2 (1)
4 · d1 = 3(2 - d1)
2 2

Extraindo a raiz quadrada dessa expressão, teremos:


2 ⋅ d1 = 3 ⋅ ( 2 − d1)
Resolvendo essa equação e, em seguida, substituindo o valor obtido na equação (1), teremos:
d1 @ 0,93cm
d2 @ 1,07cm

3. Sabendo o valor do campo elétrico e o valor da carga do elétron, podemos calcular a força que age
sobre o mesmo:
-19 3 -16
F = q · E = 1,6 · 10 C · 5 · 10 N/C = 8 · 10 N

Uma vez conhecida a força que age sobre o elétron, podemos calcular a aceleração a que ele fica
submetido:
-16
a = F = 8 · 10 N @ 8,8 · 1014 N/Kg = 8,8 · 1014m/s2
m 9,1 · 10-31kg
Como o movimento é uniformemente variado, pois a força que age sobre o elétron é constante,
podemos relacionar o deslocamento do elétron Ds com a aceleração e o tempo:
1
Ds =
2
· a · t , ou ainda:
2

t = 2 · Ds = 2 · 10-2m @ 2,27 · 10-17


2
a 8,8 · 1014 m/s2
-9
logo, t @ 4,8 · 10 s

Sabendo o tempo gasto para que o elétron atinja a placa, podemos calcular sua velocidade e sua
energia cinética ao atingir a placa:
-9
v = a · t = 8,8 · 10 · 4,8 · 10 @ 4,2 · 10 m/s
16 8

2 9,1 · 10-31 · (4,2 · 108)2


EC = m · v = @ 8 · 10-18 J
2 2

Aula 39 - Alta voltagem


1. Como as linhas de campo mostram a trajetória de uma partícula carregada positivamente, e elas saem
da placa A e vão para a placa B, então essa carga positiva está sendo repelida pela placa A e atraída
pela placa B. Logo, a placa A é positiva e a placa B é negativa.
O trabalho para mover o elétron entre as placas A e B vai ser dado por:
tAB = E · q · Dd
-19 -15
tAB = 3 · 10 N/C · 1,6 · 10 = 4,8 · 10 J
4

Como o elétron é uma carga negativa, seu movimento se faz no sentido contrário ao das linhas de
força. Quando ele estiver na placa B, sua energia potencial será máxima, pois ele está sendo atraído
pela placa A e repelido pela placa B. Ao chegar a A, sua energia será nula. Ao transportar o elétron
de A para B, vamos aumentar sua energia potencial elétrica.
Para saber a diferença de potencial entre as placas do capacitor, bastará utilizarmos a relação:
DV = E · Dd
Como a distância entre as placas é 10 cm, ou seja, 0,1 m, teremos:
DV = E · Dd
DV = 3 · 10 N/C · 0,1m = 3.000 V
4

2. A variação da energia potencial é dada por: DEp = q · E · Dd


Como temos uma diferença de potencial de 100 V aplicada em duas placas que estão separadas por
10 cm, isto é, por 0,1 m, o valor do campo elétrico vai ser:
E = 100 V = 1.000 V/m = 1.000 N/C
0,1 m
Por outro lado, a variação da energia potencial vale:
DEp = q · E · Dd
-19 -16
DEp = 1,6 · 10 C · 1.000 N/C · 0,1m = 1,6 · 10 J
Se o elétron foi abandonado na placa negativa, sua velocidade inicial era zero. À medida que ele
vai se aproximando da placa positiva, sua energia cinética vai aumentando ao mesmo tempo que
sua energia potencial elétrica vai diminuindo. Esta última se anula quando ele atinge a placa
positiva. O acréscimo de energia representa, portanto, o acréscimo de energia cinética. Se
-16
representarmos a variação da energia cinética por DEC , teremos: DEC = 1,6 · 10 J
Então,
m ⋅ v2
∆EC = = 1,6 ⋅ 10 −16
2
Podemos, agora, calcular o valor da velocidade:
2 ⋅ 1,6 ⋅ 10−16
v2 = ≅ 3,52 ⋅ 1014
9,1 ⋅ 10 − 31
v @ 1,88 · 10 m/s
7

Aula 40 - Paaaai, o chuveiro pifou!


4
1. a) 10 mA; b) 250 mA; c) 8,5 mA
2. a) 5 · 106 mA; b) 6.000 mA; c) 45 mA
3. a) 20 · 10-3 A; b) 0,68 A; c) 2,3 A; d) 500 · 10-6A; e) 3,8 · 10-3A; f) 8,88 A
4. i = 8 · 10 - 10 A
5. a) Dq = 5 C; b) n = 3,125 · 10 19elétrons

Aula 41 - Me deixa passar, senão eu esquento!


1. R = 4 W
2. R = 0,917 W
3. RE = 4 W
4. RE = 60 W
5. RE = 2 W
6. a) 110 V é a tensão, 40 W é a potência dissipada; b) i = 0,36 A;
c) E = 6 kWh = 21,6 · 106 J; d) P = 53,3 W
7. R = 17,3 W
8. a) PT = 3.500 W; b) R = 13,8 W

Aula 42 - Ele deu... a luz


1. 8,6 V
2. i = 18 A
3. a) V (volts) 1,5 1,25 1,0 0,75 0,5 0,25 0
i (ampè res)
(ampè 0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

b)
V (V)

1,50
1,25
1,00
0,75

0,50
0,25

0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 i (A)


4. a) PT = 0,6 W
PU = 0,568 W
h = 94,7 %
b) PT = 7,5 W
PU = 2,5 W
h = 33,3 %
5. r = 2,5 W
6. h = 66,7 %

Aula 43 - Deu curto!


-6
1. i = 150 · 10 A = 150 mA
2. i = 0,1 A
3. i = 0,8 A
4. VAB = -13,75 V
5. i = 15 A (ou maior)
6. i = 44 A (ou maior)
7. i = 0,25 A (leitura do amperímetro); V = 5,0 V (leitura do voltímetro)

Aula 44r- Estou rdesorientado!


r r
1. a) ­ F ; b) ¤ F ; c) ­ F ; d) ¤ F
2. F = 1,44 · 10-4 N
3. A partícula 1 tem carga positiva, a partícula 2 tem carga negativa e a partícula 3 é neutra.
4. R = 4 · 10-2 m = 4 cm

Aula 45
r - Hojer não tem rvitamina,
r o liquidificador quebrou!
1. a) F ­; b) F ­; c) ¤ F ; d)
d)Ä F
2. a) nula; b) F = 0,084 N; c) F = 0,14 N
3. O módulo do campo é o mesmo para ambos os pontos: B = 100 · 10-7 T = 10-5T. Em A ele é vertical para
baixo; em B, vertical para cima.

Aula 46 - Alguém aí tem um transformador para emprestar?


-3 -3
1. a) F = 4 · 10 Wb; b) F = 2,84 · 10 Wb
2. a) 1,0 Wb
b) Aparece na espira uma fem induzida cujo valor depende do intervalo de tempo transcorrido até
que a corrente no eletroímã se extinga.
3. a) V2 = 600 V; b) V1 = 1,83 V
4. a) i1 = 2,2 A; i2 = 0,037 A; b) i1 = 12 A; i2 = 0,2 A
5. a) i1 = 2 A; b) V2 = 8.800V; i2 = 0,05A

Aula 47 - O mundo do átomo


1. a) dividida; b) indivisível; c) átomo; d) indivisíveis;
e) elétron; f) pudim de passas
2. a) Rutherford; b) núcleo; c) Sol; d) gravitacional
3. a) recebe; b) afastada; c) perde
4. a) desintegrações; b) número atômico
5. a) hidrogênio; b) próton; c) elétron

Aula 48 - Mergulhando no núcleo do átomo


1. a) prótons; b) contrário; c) nêutrons; d) neutros; e) nuclear;
f) elétrica g) gravitacional;
2. a) César Lattes;
3. a) prótons; b) prótons; c) nêutrons; d) noventa;
4. a) energia; b) píons;
5. a) quarks; b) três;
6. a) fissão; b) fusão;

Aula 49 - Em Brasília, 19 horas


1. a) eletromagnética; b) fótons; c) partícula
2. a) maior; b) fóton
3. a) comprimento; b) lambda; c) rádio; d) comprimentos; e) gama;
f) comprimento; g) infravermelho; h) ultravioleta; i) violeta

Aula 50 - Tudo é relativo


1. a) repouso; b) movimento; c) relativos; d) referencial
2. a) partícula; b) onda; c) ausência; d) mecânicas;
e) constante; f) referencial
3. a) absoluto; b) referencial; c) devagar; d) dilatação
4. a) contração; b) diminuem; c) relativa; d) energia; e) E = m · c2

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