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Tchê Química

Volume 07 - Número 13 - 2010 ISSN 1806-0374

Órgão de divulgação científica e informativa

www.periodico.tchequimica.com
PERIÓDICO

Tchê Química
Volume 07 – Número 13 – 2010 ISSN 1806 – 0374

Órgão de divulgação científica e informativa.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Periódico Tchê Química: órgão de divulgação científica e informativa [recurso


eletrônico] / Grupo Tchê Química – Vol. 1, n. 1 (Jan. 2004)- . – Porto Alegre: Grupo
Tchê Química, 2005 - Semestral.
Sistema requerido: Adobe Acrobat Reader.
Modo de acesso: World Wide Web:
<http://www.tchequimica.com>
<http://www.tchequimica.tk>
Descrição baseada em: Vol. 5, n. 10 (ago. 2008).
ISSN 1806-0374
ISSN 1806-9827 (CD-ROM)
1. Química. I. Grupo Tchê Química.

CDD 540

Bibliotecário Responsável
Ednei de Freitas Silveira
CRB 10/1262

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 1
PERIÓDICO

Volume 07 – Número 13 – 2010


Tchê Química ISSN 1806 – 0374

Órgão de divulgação científica e informativa.

Comissão Editorial Grupo de Consultores Especiais do Periódico


● Luis Alcides Brandini De Boni, Tchê Química
deboni@tchequimica.com
● Eduardo Goldani, ● Masurquede de Azevedo Coimbra,
goldani@tchequimica.com coimbra@tchequimica.com, Brasil, UFRGS.
● Ednei de Freitas Silveira ● Aline Maria dos Santos ,
– Bibliotecário Responsável santos@tchequimica.com, SP.
● Dr. Francisco José Santos Lima, ● Gabriel Rubensam,
lima@tchequimica.com , Brasil, UFRN. grubensam@tchequimica.com, Brasil, UFRGS.
● Dr. Carlos Eduardo Cardoso,
cardoso@tchequimica.com, Brasil, USS.
● Dr. Sérgio Machado Corrêa, Periódico Tchê Química
correa@tchequimica.com, Brasil, UERJ. ISSN 1806-0374
ISSN 1806-9827 (CD-ROM)
Divulgação on-line em
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Conselho de Alto Nível http://www.journal.tchequimica.com
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● Dr. Lavinel G. Ionescu,
lavinel@tchequimica.com , Brasil, RS. Esta revista é indexada e resumida pelo CAS.
● Dra. Mônica Regina da Costa Marques, This journal is indexed and summarized by CAS.
aguiar@tchequimica.com, Brasil, UERJ.
● Dr. José Carlos Oliveira Santos, * CAS (Chemical Abstracts Service, a division of the
zecarlosufcg@tchequimica.com, Brasil, UFCG. American Chemical Society.)
● Dr. Alcides Wagner Serpa Guarino,
guarino@tchequimica.com ,Brasil, UNIRIO. Missão
● Dr. João Guilherme Casagrande Jr, Publicar artigos de pesquisa científica que versem sobre a
casagrande@tchequimica.com, Brasil, EMBRAPA. Química e ciências afins.
● Me. César Luiz da Silva Guimarães,
A responsabilidade sobre os artigos é de exclusividade dos
guimaraes@tchequimica.com, Brasil, FIMCA.
autores.
● Me. Daniel Ricardo Arsand,
arsand@tchequimica.com , Brasil, UNICRUZ.
Solicitam-se alterações, quando necessário.
● Me. Walmilson de Oliveira Santana,
santana@tchequimica.com , Brasil, UFAL.
Correspondências
● Me. Marcello Garcia Trevisan, Rua Coronel Corte Real, 992/23.
trevisan@tchequimica.com, Brasil, UNICAMP. Porto Alegre – RS. Brasil.
● Dra. Roseli Fernandes Gennari, Bairro Petrópolis. CEP: 90630-080
gennari@tchequimica.com, Brasil, USP. Telefone: (0-xx-51) 9154-2489.
● Dra. Denise Alves Fungaro, www.periodico.tchequimica.com
fungaro@tchequimica.com, Brasil, IPEN. tchequimica@tchequimica.com
● Me. Márcio von Mühlen,
vonmuhlen@tchequimica.com, EUA, MIT.
● Me. Rodrigo Brambilla,
brambilla@tchequimica.com, Brasil, UFRGS.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 2
Índice
Agenda - 4

Instruções para publicação / Instructions for publications - 5

Notas rápidas – 5

Artigo / Article Nota / Note

BIANCHIN, J. N.; DOS


SANTOS, M. S.; SPINELLI, A..
RELATÓRIO TÉCNICO 2: CATÁLISE ÁCIDA NA
APLICAÇÃO DO ELETRODO PRODUÇÃO DE BIODIESEL
DE FILME DE BISMUTO
PARA A DETERMINAÇÃO DE TECHNICAL REPORT 2: ACID CATALYSIS IN THE
SELÊNIO EM COMPLEXO PRODUCTION OF BIODIESEL
VITAMÍNICO POR
VOLTAMETRIA DE ONDA DE BONI, L. A. B.; GOLDANI, E.
QUADRADA

UFSC
Página - 30
Página – 6

Artigo / Article Artigo / Article


CARNEIRO, D. S.; NUNES, A. O., et al
MARQUES, M. R. C.;

QUÍMICA NO ENSINO
CO-PIRÓLISE DE FUNDAMENTAL:
RESÍDUO DE CONHECIMENTO DOS
POLIETILENO COM PROFESSORES DE
GASÓLEO DA CIÊNCIAS
BACIA DE CAMPOS
IFRN

UERJ
Página – 22
Página – 16
Artigo / Article Artigo / Article
CERQUEIRA, A.; MARQUES, M. GAUTO, M. A.; ROSA, G. R.
R. C.; RUSSO, C.
GLICERINA: DE UM
APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE INCONVENIENTE
ELETROFLOCULAÇÃO SUBPRODUTO DO
UTILIZANDO CORRENTE BIODIESEL A UMA
ALTERNADA NO POSSÍVEL APLICAÇÃO
TRATAMENTO DE ÁGUA DE COMO AGENTE
PRODUÇÃO DA INDÚSTRIA FLOCULANE NO
DO PETRÓLEO
TRATAMENTO DE ÁGUA
UERJ
UFCSPA
Página – 33
Página – 46

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 3
Agenda
3° Simpósio Nacional de Biocombustíveis VII Simpósio Internacional de Qualidade
Ambiental
Data: 8 e 9 de abril de 2010
Local: Rio de Janeiro/RJ – BRASIL Data: 17 a 19 de maio de 2010
Realização: Associação Brasileira de Química Local: Porto Alegre/RS - BRASIL
Informações: http://www.abq.org.br/biocom/ Realização: Associação Brasileira de Engenharia
E-mail: abqeventos@abq.org.br Sanitária e Ambiental
Telefone: (0XX21) 2224-4480 Informações: http://www.abes-rs.org.br/qualidade/
Fax: (0XX21) 2224-6881 E-mail: qualidade@officemarketing.com.br
Telefone: (0XX51) 2108-3111
8° Simpósio Brasileiro de Educação
Química
X Sibesa - Simpósio Ítalo-Brasileiro de
Data: 25 a 27 de junho de 2010 Engenharia Sanitária e Ambiental
Local: Natal/RN – BRASIL
Realização: Associação Brasileira de Química Data: 28 de fevereiro a 03 de março de 2010
Informações: http://www.abq.org.br/simpequi/ Local: Maceió/AL – BRASIL
E-mail: abqeventos@abq.org.br Realização: Associação Brasileira de Engenharia
Telefone: (0XX21) 2224-4480 Sanitária e Ambiental
Fax: (0XX21) 2224-6881 Informações:
http://www.abes.locaweb.com.br/XP/XP-
3° Encontro Nacional de Tecnologia EasyPortal/Site/XP-PortalPaginaShow.php?id=547
Química Av. Beira Mar, 216 - 13 º andar
20021-060 Rio de Janeiro, RJ
Data: 23 a 25 de agosto de 2010 Tel: (00x21) 2210-3221
Local: Rio de Janeiro/RJ – BRASIL Fax: (00x21) 2262-6838
Realização: Associação Brasileira de Química E-mail: abes@abes-dn.org.br
Informações: http://www.abq.org.br/entequi/
E-mail: abqeventos@abq.org.br
Telefone: (0XX21) 2224-4480
Fax: (0XX21) 2224-6881
XV Encontro Nacional de Ensino de
The Minerals, Metal & Materials Society Química
2010
Data: 14 a 18 de fevereiro de 2010 Data: 21 a 24 de julho de 2010
Local: Seattle/WA – EUA Local: Brasília/DF – BRASIL
Informações: http://www.tms.org/meetings/annual- Realização: Sociedade Brasileira de Química
10/AM10home.aspx Informações: http://www.sbq.org.br
Av. Prof. Lineu Prestes, 748 CEP: 05508-900,
33ª Reunião Anual da Sociedade E-mail: diretoria@sbq.org.br
Fone: (00x11) 3032-2299
Brasileira de Química FAX: (00x11) 3814-3602

Data: 28 a 31 de maio de 2010


Local: Águas de Lindóia/SP – BRASIL
Realização: Sociedade Brasileira de Química
Informações: http://www.sbq.org.br/33ra/
Av. Prof. Lineu Prestes, 748 CEP: 05508-900,
E-mail: diretoria@sbq.org.br
Fone: (00x11) 3032-2299
FAX: (00x11) 3814-3602

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 4
Instruções para publicação Instructions for publications
Artigos originais devem ser enviados por meio Original papers should be sent electronically
eletrônico para o endereço disponibilizado no site da to the address provided on the journal's website. The
revista. Deve ser utilizado o template disponibilizado template available on the site should be used (.DOC;
no site (.DOC; .ODT). .ODT).

Notas rápidas
PENSANDO O BRASIL COMO ESTADO

Sob a óptica do editor desta revista (De Boni), o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, uni-se à seleta elite que
defende a soberania nacional, juntamente com o Gen. Augusto Heleno, o ex-Ministro Mangabeira Unger,
entre outros grandes homens. Bravos cidadãos que zelam pelos interesses e continuidade do estado
Brasileiro. Em ato de grande determinação e bravura, Nelson Jobim, afirma que o Brasil não irá assinar
qualquer protocolo adicional ao TNP, cedendo a pressões externas. - “É uma decisão da Estratégia Nacional
de Defesa. Não assinaremos nenhum protocolo adicional ao TNP”.

INVERSION OF VALUES - TEACHER WAS PUNISHED IN BRAZIL


INVERSÃO DE VALORES – PROFESSORA FOI PUNIDA NO BRASIL

Em uma escola localizada na região metropolitana de Porto Alegre, uma professora (vice-diretora) foi
processada após solicitar que um aluno pintasse as paredes que havia pichado.

BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES - USP

Um site que deve ser visitado por toda comunidade, em virtude da ótima qualidade dos trabalhos ali
disponibilizados para consulta <http://www.teses.usp.br>. São mais de 20.000 documentos, incluindo mais de
8024 Teses.

DICA - GRÁFICOS DE SUPERFÍCIE

Em determinados experimentos, a complexidade e o volume de dados é tão grande, que se faz necessário
expor os mesmos sob a forma de gráficos de superfície. Existem vários softwares capazes de executar esta
tarefa, porém, desta vez, iremos expor o MS-Excel, uma das planilhas de cálculo mais aceitas no mercado.
Em seu site <http://office.microsoft.com/en-us/excel/HA011179391033.aspx>, há um modelo razoável sobre a
elaboração deste tipo de gráfico. No mesmo site existem outras dicas valorosas sobre o uso desta planilha.

ITAIPU – DEMASIADA DEPENDÊNCIA

Falha no sistema de transmissão (ou outro componente) da maior e mais importante geradora de energia
elétrica do Brasil, deixa a população de 18 estados da Republica às escuras. Torna-se “clara” a necessidade
de reavaliar a estrutura de geração e distribuição de energia elétrica do país. A ampliação de investimentos
em fontes de energia devem ser executados para evitar a paralisação do estado em lamentáveis incidentes
como o ocorrido em Novembro de 2009.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 5
APLICAÇÃO DO ELETRODO DE FILME DE BISMUTO PARA A
DETERMINAÇÃO DE SELÊNIO EM COMPLEXO VITAMÍNICO POR
VOLTAMETRIA DE ONDA QUADRADA

APPLICATION OF THE BISMUTH FILM ELECTRODE FOR THE DETERMINATION OF


SELENIUM IN VITAMINIC COMPLEX BY SQUARE WAVE VOLTAMMETRY

BIANCHIN, Joyce Nunes1; DOS SANTOS, Marcel Silveira2; SPINELLI, Almir3;


1,2,3
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Química, campus universitário, CEP 88040900,
Florianópolis – SC, Brasil
* e-mail: jocca_bianchin@yahoo.com.br

Received 13 August 2009; received in revised form 12 October 2009; accepted 30 October 2009

RESUMO

Neste estudo foi desenvolvida uma metodologia analítica para a determinação de selênio em amostra
de complexo vitamínico utilizando a voltametria de onda quadrada (VOQ). As análises foram realizadas com
um eletrodo de cobre modificado com filme de bismuto (BiFE) depositado in situ pela aplicação de um potencial
de -400 mV por 60 segundos numa solução contendo HCl 0,2 mol L -1, KI 20 g L-1 e 500 µg L-1 de Bi (III). As
variáveis - tempo e potencial de condicionamento, foram otimizadas por VOQ para a formação do filme de
bismuto. Em seguida, as variáveis que afetam a sensibilidade analítica para a redução do Se (IV) - frequência,
incremento e a altura de pulso, também foram otimizadas. Após a otimização, foram obtidos os parâmetros
analíticos de mérito, a saber: faixa linear de trabalho 90 – 1180 µg L-1; coeficiente de correlação (R) = 0,9998.
A metodologia mostrou excelente precisão, calculada como o desvio padrão relativo (RSD%) = 3,52% ( n = 5,
150 µg L-1) ; limite de detecção de 26,4 µg L -1; limite de quantificação de 87,9 µg L -1. Frequência analítica de 30
amostras/hora. A amostra do complexo vitamínico foi analisada e apresentou concentração de selênio de 24
µg/comprimido. Por fim, um estudo de recuperação foi realizado obtendo-se 92%.

Palavras-chave: Selênio, polivitamínico, voltametria de onda quadrada (VOQ), eletrodo de filme de bismuto
(BiFE).

ABSTRACT

In this work was developed an analytical methodology for determination of selenium in samples of
vitaminic complex using the square wave voltammetry (SWV). The analysis were performed with a copper
electrode modified with bismuth film deposited in situ by applying a potential of -400 mV for 60 seconds in a
solution containing HCl 0.2 mol L-1, 20 g L-1 and 500 µg L-1 of Bi(III). The variables: time and conditioning
potential were optimized by SWV for the formation of the bismuth film, after that, the variables that affect the
analytical sensitivity for the reduction of Se (IV): frequency, increment and high of pulse were also optimized.
The linearity of the method ranged from 90 – 1180 µg L -1. Limit of detection of 26,4 µg L -1, quantification limit of
87,9 µg L-1. Analytical frequency of 30 samples/hour. The method showed excellent precision, calculated as the
relative standard deviation (RSD%) (n = 5) using spiked solution of 150 µg L -1. The concentration of selenium
found in the sample of the vitaminic complex was 24 µg/tablet. A study of recovery was performed resulting in
92%.

keywords: Selenium, polivitaminic, square wave voltammetry, bismuth film electrode (BiFE)

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 6
Introdução Inúmeras técnicas têm sido desenvolvidas
para a determinação de selênio em diversos
Selênio é um elemento que pode ser tipos de amostras, sendo frequentemente
considerado essencial ou tóxico para homens e empregadas espectrometria de absorção
animais dependendo da concentração na qual é atômica, voltametria, espectrometria de absorção
administrado (ALEIXO & et al., 2000). Ele está atômica por geração de hidreto, espectrometria
presente em ambientes aquáticos, sistemas de massa com plasma indutivamente acoplado,
biológicos e até mesmo na atmosfera (LONG & espectrometria de absorção atômica com
NAGAOSA, 2007), e a principal fonte para o ser atomizacão eletrotérmica, entre outras. (FOSTER
humano se constitui no seu uso em dietas & SUMAR, 1996; ZHENGJUNA & et al., 2005;
alimentares. (por exemplo, nos complexos NAKANO, YOSHII & KAWASHIMA, 2004;
vitamínicos) (VENTURA & et al., 2009). Segundo BEDNAR, KIRGANA & JONESA, 2009; GARCIA
a Recommended Dietary Allowance (RDA) o & et al., 2005).
selênio deve ser ingerido em até 70 μg/dia Os métodos voltamétricos, quando
(PANIGATIA & et al., 2007). Este metal pode ser comparados com técnicas que envolvem
encontrado tanto na forma inorgânica quanto espectroscopia atômica, podem oferecer
orgânica (REYES & et al., 2009). algumas vantagens como: (1) instrumentação
A função mais conhecida do selênio é a relativamente barata e fácil de manusear, (2)
de antioxidante, levada a cabo por meio da baixos limites de detecção e (3) determinação
associação desse elemento com a enzima dada com uma boa precisão e exatidão
glutationa peroxidase. Esta atua na manutenção (PANIGATI & et al., 2007). A voltametria de onda
de grupos sulfidrilas vitais na forma reduzida, na quadrada (SWV), do inglês "Square Wave
síntese de hormônios derivados do ácido Voltammetry", é uma das técnicas voltamétricas
araquidônico, no metabolismo de compostos de pulso mais rápidas e sensíveis. Essa técnica
estranhos ao organismo, entre outros possui inúmeras vantagens, podendo-se
(FERREIRA & et al., 2002). destacar a ausência da interferência proveniente
Uma aplicação importante, recém da corrente capacitiva, o que melhora a
descoberta, segundo Associação dos resolução dos dados experimentais, a
Laboratórios Farmacêuticos Nacionais, é que ele sensibilidade analítica e, ainda, possibilitação de
pode ser utilizado em um novo tratamento a fim realizar análises rápidas (SOUZA & et al., 2004).
de tratar complicações cardíacas decorrentes da Os limites de detecção podem ser comparados
doença de Chagas. O tratamento está sendo aos das técnicas cromatográficas e
desenvolvido no Rio de Janeiro, nos laboratórios espectroscópicas. Além disso, a análise dos
do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Trata-se de parâmetros característicos desta técnica também
uma iniciativa pioneira uma vez que não existe possibilita a avaliação cinética e mecanística do
nenhum medicamento para combater as processo eletródico em estudo (SOUZA,
complicações cardíacas desta doença MACHADO & AVACA, 2003).
descoberta no início do século XX, por Carlos Entre os eletrodos existentes, os mais
Chagas, e que atinge 3 milhões de brasileiros. O utilizados em voltametria ainda são os de
medicamento à base de selênio funciona como mercúrio (RAYMUNDO, PAULA & FRANCO,
um antioxidante, ou seja, restaura as células 2007). Porém, devido à grande toxicidade
cardíacas e as preserva da oxidação que ocorre destes, eletrodos modificados estão sendo
com a inflamação provocada pela doença. Por propostos (HUTTON & et al., 23006; TESAROVÁ
outro lado, a intoxicação por selênio provoca & et al., 2008; HUTTON, HOCEVER &
inúmeras reações, como o gosto metálico na OGOREVC, 2005; DEMETRIADES,
boca, unhas e cabelos frágeis, irritação das vias ECONOMOU & VOULGAROPOULOS, 2004;
respiratórias e perturbação das enzimas KROLICKA, & BOBROWSKI, 2004). O eletrodo
hepáticas, sendo que a intoxicação aguda pode de bismuto vem se destacando como material
provocar convulsões. Há grande ocorrência de alternativo na construção de eletrodos por
intoxicações crônicas em populações indígenas apresentar uma baixa toxicidade e possuir
de regiões cujo solo é muito rico em selênio e em características similares ao eletrodo de mercúrio
pessoas expostas profissionalmente ao produto (WANG & LU, 2000). Outras vantagens incluem
como ocorre nas indústrias químicas de a capacidade de formar ligas com metais
semicondutores e de produtos cosméticos e pesados de forma análoga a amálgamas de
dermatológicos (RIBEIRO & et al., 2005). mercúrio (ECONOMOU & FIELDEN, 2003),

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 7
permitindo a sua utilização em análises voltamogramas foram obtidos através da
voltamétricas. varredura de potencial de -400 mV a -1400 mV,
Neste estudo, desenvolveu-se uma através da técnica de VOQ. A limpeza do
metodologia analítica baseada em eletrodo de eletrodo foi realizada manualmente com alumina
cobre modificado com filme de bismuto para a 0,05 µm e, em seguida, procedeu-se à agitação
determinação de selênio em complexos ultrassônica durante 30 segundos.
vitamínicos, no intuito de monitorar a A espécie de selênio predominante em
concentração desse metal em vitaminas para HCl 0,2 mol L-1 é H2SeO3. Em um potencial de
que esse elemento seja consumido de forma deposição -500 mV, o Se (IV) é reduzido para
adequada pela população. H2Se como resultado de um processo de
transferência de 6e- juntamente com a formação
do filme de bismuto, e por fim o H2Se reduzido é
Parte Experimental
adsorvido sobre o eletrodo.
Instrumentação
As determinações voltamétricas foram
Resultados e Discussão
realizadas em um potenciostato/galvanostato
EG&G PARTM, modelo 263A, em conjunto com
Otimização dos parâmetros de preparação do
o software M270. As medidas eletroquímicas BiFE
foram realizadas em temperatura ambiente em Testes preliminares, de acordo com Long
uma célula de vidro com capacidade para 25 mL, e colaboradores (LONG, NAGAOSA & Yukio,
confeccionada em vidro Pyrex, acoplada a um 2007) utilizando solução de 500 µg L-1 de Bi(III),
sistema de três eletrodos. HCl 0,2 mol L-1 e KI 20 g L-1, foram realizados
O filme de bismuto foi depositado sobre o para verificar a formação e o comportamento do
eletrodo de cobre, o qual foi usado como eletrodo filme de bismuto na superfície do eletrodo de
de trabalho. O eletrodo de cobre foi previamente cobre. O filme se mostrou uniforme e o sinal foi
polido com uma pasta de alumina 0,05 μm e logo reprodutível.
rinsado com água deionizada. Como eletrodo de Após fixar a concentração de bismuto e
referência, utilizou-se Ag/AgCl e um eletrodo de do eletrólito de suporte (HCl 0,2 mol L-1, KI 20 g
platina como eletrodo auxiliar. L-1), uma otimização do potencial e tempo de
deposição foi realizada. O efeito do tempo de
Reagentes e Soluções
deposição do BiFE foi avaliado utilizando a
Todas as soluções foram preparadas voltametria de onda quadrada. A concentração
empregando-se água deionizada proveniente de de selênio foi de 5 x 10-5 mol L-1 e o potencial
um sistema de purificação de água Milli-Q® da de deposição utilizado foi de -400 mV.
Millipore® (Bedford, MA, USA). Todos os Conforme a Figura 1, tempo de deposição
reagentes usados foram de grau analítico. Toda versus densidade de corrente, pode-se observar
a vidraria de laboratório foi lavada com que a intensidade dos picos aumenta
detergente neutro, mantida durante uma noite em linearmente com o aumento do tempo de
solução de ácido nítrico 10% (v/v) e a seguir deposição até 50 segundos. A partir de 60
enxaguada com água deionizada. segundos, nota-se a perda da linearidade. Logo,
Soluções de trabalho foram preparadas um tempo maior que 60 segundos, não leva a um
diariamente, a partir de diluições adequadas de ganho de resposta analítica. O tempo de 60
uma solução estoque (grau absorção atômica) de segundos foi escolhido por estar no início da
Se (IV) 1042 mg L-1. Soluções de Ácido clorídrico faixa em que o gráfico assume comportamento
(Nuclear, Diadema, SP), iodeto de potássio constante.
(Nuclear), nitrato de bismuto (Sigma-Aldrich O potencial de deposição para a
Milwaukee, USA), foram preparadas e formação do filme foi estudado de -300 mV até
estocadas. -700 mV. Observa-se na Figura 2 que a
Procedimento Analítico
aplicação de potenciais mais negativos, de -500
A deposição do filme de bismuto sobre o a -700 mV, não proporcionaram uma boa
eletrodo de cobre foi realizada in situ, em solução sensibilidade, apesar da formação do filme de
de HCl 0,2 mol L-1, KI 20 g L-1 e Bi(III) 500 µg L-1, Bi(II) ter ocorrido. Em -300 mV, nota-se uma
pela aplicação de um potencial de -400 mV sob queda na densidade de corrente. Isso se deve ao
agitação constante durante 60 segundos. Os fato de que, próximo a este potencial, inicia-se a
oxidação do bismuto e consequentemente a

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 8
diminuição do pico. Por fim, o potencial de -400 O incremento de potencial é um dos
mV foi escolhido para a deposição do bismuto responsáveis pela definição da velocidade de
sobre o eletrodo de cobre. varredura de potenciais, já que esta é dada pelo
produto do incremento de potencial pela
Otimização dos parâmetros da voltametria de frequência de aplicação dos pulsos de potencial.
onda quadrada O incremento foi estudado de 1 a 5 mV.
Um passo importante no desenvolvimento Na Figura 5 está apresentada a influência da
de uma metodologia eletroanalítica é a variação do incremento na resolução dos sinais
otimização dos parâmetros que podem analíticos. Observou-se que, com o aumento do
influenciar a resposta voltamétrica. Na incremento e, consequentemente, das
voltametria de onda quadrada, os principais velocidades de varreduras altas, ocorreu uma
parâmetros que podem influenciar na resposta perda na resolução de pico. Sendo assim, a
analítica são: frequência (f), altura de pulso (∆H; melhor resolução e sensibilidade foram
a = ∆H/2) e o incremento de varredura de verificadas com incremento de 4 mV.
potencial (∆Es). Neste trabalho, o estudo dessas Um estudo da natureza do processo
variáveis foi realizado em uma solução de 500 µg eletródico sobre a superfície do eletrodo de cobre
L-1 de Bi(III), HCl 0,2 mol L-1 , KI 20 g L-1 e Se modificado com filme de bismuto foi realizado
(IV) 5 x 10-5 mol L-1, durante todas as análises. através da voltametria cíclica. A faixa de
A frequência é um dos parâmetros mais velocidades estudada foi de 20 a 100 mV s-1.
importantes da VOQ, pois determina a Conforme mostra a Figura 6, o processo é
intensidade dos sinais, o que, irreversível (pois não apresenta pico de
consequentemente, reflete diretamente na oxidação) e controlado por difusão. O gráfico de
sensibilidade do método (CABRAL, SOUZA & log i em função de log v apresentou
MACHADO, 2003). O aumento da frequência comportamento linear. Um comportamento linear
ocasiona um aumento na corrente, o que resulta com δlog (i)/δlog (v) = 0,5 indica um processo de
em uma melhor sensibilidade. transporte de massa controlado por difusão e
Neste estudo, variou-se a frequência de 5 δlog (i)/δlog (v) = 1,0 indica um processo
a 35 Hz. Segundo a Figura 3, pode-se observar controlado por adsorção (PEDROSA,
que há um aumento da densidade de corrente CODOGNOTO & AVACA, 2003). Considerando
com o aumento da frequência, de 5 até 15 Hz. A que δlog (i)/δl og(v) = 0,54, pode-se afirmar que
partir de 20 Hz o gráfico perde linearidade, fica o processo de transporte de massa é controlado
constante e logo em 35 Hz ocorre uma queda difusionalmente. No mesmo experimento, um
significativa do sinal analítico. Isso ocorre, tendo voltamograma de 10 ciclos na velocidade de 100
em vista que em frequências muito altas não se mV s-1 foi construído a fim de verificar a
consegue separar a corrente faradaica da ocorrência de adsorção do produto formado. A
corrente capacitiva, ocorrendo então uma queda ausência do pico após os 10 ciclos, confirma que
na resposta. Considerando erros experimentais, o produto é adsorvido no eletrodo de filme de
não há diferenças significativas na utilização de bismuto.
15 a 30 Hz. Como um compromisso ótimo entre Após as variáveis otimizadas, uma curva
o perfil voltamétrico e o sinal analítico, a de calibração (Figura 7) com concentração de
frequência de 15 Hz foi selecionada. 50x10-7 mol L-1 a 150x10-7 mol L-1 de Se(IV) foi
Outro fator importante na VOQ é a altura construída com o objetivo de obter as figuras
do pulso, que, quando aumentada, aumenta-se o analíticas de mérito, que estão representadas na
valor da corrente, proporcionando uma maior Tabela 1.
sensibilidade. Entretanto, um aumento excessivo A metodologia de análise pode ser
provoca também um alargamento do pico, avaliada pela aplicação de testes de
reduzindo a resolução do mesmo. O efeito da recuperação, que consiste em adicionar à
altura de pulso sobre a corrente de pico foi amostra uma determinada quantidade do analito.
avaliada de 10 a 30 mV. Os resultados estão A concentração final deve ser igual à soma da
expostos na Figura 4. Observa-se que houve um concentração medida do analito na amostra e da
aumento na densidade de corrente com o concentração adicionada. Assim, o valor
aumento da altura de pulso até 25 mV. Porém, recuperado de analito, que foi adicionado, é a
em 30 mV, houve uma queda significativa no diferença entre o valor medido antes e após a
sinal analítico, e a resolução do gráfico foi adição sendo este representado na forma de
afetada, sendo então adotada como altura de percentual do valor adicionado, e é geralmente
pulso de 25 mV para demais análises.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 9
aceitável recuperação entre 80% e 120%. mass spectrometry in the determination
O sistema proposto foi utilizado para a of chromium and selenium species by
determinação de Se (IV) em amostra de HPLC–ICP–MS. Analytica Chimica Acta, V.
complexo vitamínico. Para verificar a exatidão do 632, p. 27-34, 2009.
método, foram aplicados testes de recuperação,
3) CABRAL, M. F.; SOUZA, D.; ALVES, C. R.;
adicionando-se alíquotas para concentrações
MACHADO, S. A. S. Square wave
adicionadas de selênio, respectivamente, 50x10-7
voltammetric study of the
mol L-1, 100x10-7 mol L-1 e 150x10-7 na amostra.
electrochemical behavior of the herbicide
A amostra de vitamina analisada apresentou
ametryne. Eclética Química, V. 28, p. 41-
concentração de selênio de 24 μg/comprimido,
47, 2003.
sendo o valor fornecido pelo fabricante de 25
μg/comprimido. Comparando-se a inclinação da 4) DEMETRIADES, D. ; ECONOMOU, A. ;
reta com a inclinação da reta da curva de VOULGAROPOULOS, A. A study of
calibração, foi possível calcular a recuperação, a pencil-lead bismuth-film electrodes for
qual apresentou um resultado de 92%, o que é the determination of trace metals by
bastante aceitável, levando em consideração a anodic stripping voltammetry. Analytica
complexidade da matriz da amostra. Chimica Acta, V. 519, p.167-172, 2004.
5) ECONOMOU, A.; FILDEN, P. R. Mercury
film electrodes: developments, trends
Conclusão and potentialities for electroanalysis.
Analyst, V. 128, p. 205-212, 2003.
A aplicação do eletrodo de cobre 6) FERREIRA, K. S.; GOMES, J. C.;
modificado com filme de bismuto utilizando a BELLATO, C. R.; JORDAO, C. P. Selenium
voltametria de onda quadrada se mostrou content of Brazilian foods. Revista
simples e rápida e a formação do filme de Panamericana de Salud Publica, V. 11, p.
bismuto apresentou ótima reprodutibilidade. 172-177, 2003.
Assim, a modificação de eletrodos com esse
filme é mais uma alternativa muito atraente para 7) FOSTER L. H.; SUMAR, S. Selenium
a determinação não só de metais, mas também concentrations in soya based milks and
para compostos orgânicos. A metodologia infant formulae available in the United
proposta foi capaz de alcançar um limite de Kingdom. Food Chemistry, V. 56, p. 93-98,
detecção em nível traço e com excelente 1996.
precisão. 8) GARCIA, J. B.; KRACHLER, M.; CHEN, B.;
A amostra de vitamina analisada SHOTYK, W. Improved determination of
apresentou concentração de selênio muito selenium in plant and peat samples using
próxima da concentração fornecida pelo hydride generation-atomic fluorescence
fabricante. Esse tipo de monitoramento é de spectrometry (HG-AFS). Analytica Chimica
suma importância, pois a ingestão de doses Acta, V. 534, p. 255-261, 2005.
excessivas de selênio pode provocar reações
diversas para o ser humano. 9) HUTTON, E. A.; HOCEVER, S. B.;
MAUKO, L.; OGOREVC, B. Bismuth film
electrode for anodic stripping
Referências voltammetric determination of tin.
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Dário J.; MULLER, R. C. S. Determinação 10) HUTTON, E. A.; HOCEVER, S. B.;
direta de selênio em água de coco e em OGOREVC, B. Ex situ preparation of
leite de coco utilizando espectrometria bismuth film microelectrode for use in
de absorção atômica com atomização electrochemical stripping microanalysis.
eletrotérmica em forno de grafite. Analytica Chimica Acta, V. 537, p. 285-292,
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Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 10
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plasma mass spectrometry. Talanta, V.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 11
Figura 1- Influência do tempo de deposição do filme de bismuto sobre a densidade de corrente na
determinação de selênio por voltametria de onda quadrada. (A) Voltamogramas para Se em
diferentes tempos de deposição. (B) Linearidade da densidade de corrente em função do tempo de
deposição. Concentração de Se 5x10-5 mol L-1, concentração de Bi(III) de 500 µg L-1, KI 20 g L-1 e de
HCl 0,2 mol L-1. Potencial de deposição -400 mV.

Figura 2- Influência do potencial de deposição sobre a densidade de corrente na determinação de


selênio por voltametria de onda quadrada. (A) Voltamogramas para Se em diferentes potenciais de
deposição. (B) Comportamento da densidade de corrente em função do potencial de deposição.
Concentração de Se de 5x10-5 mol L-1, concentração de Bi(III) de 500 µg L-1, KI 20 g L-1 e de HCl 0,2
mol L-1 . Tempo de deposição de 60 segundos.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 12
Figura 3- Influência da frequência sobre a densidade de corrente na determinação de selênio por
voltametria de onda quadrada. (A) Voltamogramas para selênio em diferentes frequências. (B)
Comportamento da densidade de corrente em função da frequência aplicada. Concentração de Se
de 5x10-5 mol L-1, concentração de Bi(III) de 500 µg L-1, KI 20 g L-1 e de HCl 0,2 mol L-1 . Tempo de
deposição de 60 segundos e potencial de deposição de -400mV.

Figura 4- Influência da altura de pulso sobre a densidade de corrente para determinação de selênio
por voltametria de onda quadrada. (A) Voltamogramas para Se em diferentes alturas de pulso. (B)
Comportamento da densidade de corrente em função altura de pulso. Concentração de Se 5x10-5 mol
L-1, concentração de Bi(III) de 500 µg L-1, KI 20 g L-1 e de HCl 0,2 mol L-1 . Tempo de deposição de 60
segundos e potencial de deposição de -400mV.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 13
Figura 5- Influência do incremento de varredura de potencial sobre a densidade de corrente para
determinação de selênio por voltametria de onda quadrada. (A) Voltamogramas para Se em
diferentes incrementos. (B) Comportamento da densidade de corrente em função do incremento.
Concentração de Se de 5x10-5 mol L-1, Concentração de Bi(III) de 500 µg L-1, KI 20 g L-1 e de HCl 0,2
mol L-1 . Tempo de deposição de 60 segundos e potencial de deposição de -400mV.

Figura 6- Influência da velocidade sobre a densidade de corrente na determinação de selênio por


voltametria cíclica. (A) Voltamogramas em diferentes velocidades (B) Log i versus log V com slop
0,54 que caracteriza processo controlado por difusão. Concentração de Se de 5x10-3 mol L-1, Bi(III)
500 µg L-1, KI 20 g L-1 e de HCl 0,2 mol L-1 . Tempo de deposição de 60 segundos e potencial de
deposição de -400mV.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 14
Figura 7- Curva de calibração para selênio usando eletrodo de filme de bismuto por voltametria de
onda quadrada. Solução de Bi(III) 500 µg L-1, KI 20 g L-1 e de HCl 0,2 mol L-1 . Frequência de 15 Hz,
incremento de 4 mV e altura de pulso de 25 mV. Tempo de deposição de 60 segundos e potencial
de deposição de -400mV.

Tabela 1- Parâmetros analíticos de mérito para determinação de selênio por voltametria de


onda quadrada utilizando o filme de bismuto depositado sobre eletrodo de cobre.

Faixa linear de trabalho (µg L-1) 85 – 1100


Coeficiente de correlação linear (R) 0,9998
RSD % (n = 5) 2,52
Frequência analítica (amostras/hora) 30
Limite de detecção (µg L-1) 26,4 µg L-1
Limite de quantificação (µg L-1) 87,9 µg L-1

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 15
CO-PIRÓLISE DE RESÍDUO DE POLIETILENO COM GASÓLEO DA
BACIA DE CAMPOS

CO-PYROLYSIS OF POLYETHYLENE'S WASTE WITH BACIA DE CAMPOS'S GASOIL

CARNEIRO, Débora da Silva1; MARQUES, Mônica Regina da Costa1;


1
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Laboratório de Tecnologia Ambiental, R. São
Francisco Xavier, 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, 3º Andar, CEP 20559-900, Rio de Janeiro - RJ,
Brasil
e-mail: monica@pesquisador.cnpq.br

Received 4 July 2009; received in revised form 24 November 2009; accepted 24 December 2009

RESUMO

Nesse trabalho foi realizado o processo de co-pirólise de resíduo de plástico de polietileno com
gasóleo, numa temperatura de 550°C. Primeiramente, as amostras de polietileno e gasóleo foram submetidas a
co-pirólise térmica em atmosfera inerte. Depois, foi avaliada a eficiência do processo com variação da
quantidade de resíduo de polietileno adicionada ao gasóleo. Os líquidos pirolíticos gerados foram
caracterizados por cromatografia gasosa modificada, com o objetivo de avaliar a geração de frações na faixa
da destilação do diesel. Pode-se observar que o aumento da quantidade de PE no meio reacional favorece a
redução do rendimento de líquido pirolítico e o aumento da quantidade de sólido gerado. Os resultados obtidos
comprovam o potencial da co-pirólise como método de reciclagem química de artefatos de polietileno pós-
consumo.

Palavras-chave: resíduos, polietileno, co-pirólise

ABSTRACT

In this work the process of co-pyrolysis of polyethylene plastic residue was carried through with
petroleum, in a temperature of 550°C. First, the polyethylene samples and petroleum had been submitted the
thermal co-pyrolysis in inert atmosphere. Later they had been evaluated the efficiency of the process with
variation of the amount of polyethylene residue added to the petroleum. The generated pyrolytic liquids had
been characterized by modified gaseous chromatography, with the objective to evaluate the generation of
fractions in the band of the distillation of diesel. It can be observed that the increase of the amount of PE in the
half reactional favors the reduction of the income of pyrolytic liquid and the increase of the amount of generate
solid. The results show that plastic residue co-pyrolysys is a potential method for chemical recycling of plastic
products.

Keywords: waste, polyethylene, co-pyrolysis

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 16
Introdução

Os plásticos são usados em grande


escala na produção de embalagens,
principalmente em produtos descartáveis,
utensílios domésticos e eletrodomésticos, além
de suas aplicações científico-tecnológicas e em
diversas áreas da indústria. A popularização dos
plásticos se deve, basicamente, ao seu baixo
custo de produção, peso reduzido, elevada
resistência e à possibilidade de seu uso na
fabricação de peças nas mais variadas formas,
tamanhos e cores, e com os mais diversos
requisitos de especificação (transparência,
dureza etc.) (DE SOUZA, 2002).
A demanda de materiais plásticos no
Figura 2 - Consumo aparente de resinas
mundo vem crescendo a taxas altíssimas, acima
plásticas no Brasil, em mil toneladas (DE PAOLI,
da taxa de crescimento do produto interno bruto
2008).
(PIB) de alguns países. Os dados de NEGRI
BOSSI (2004) apresentam projeções de
demanda que indicam uma taxa de crescimento O setor de embalagens (incluindo o setor
na ordem de 20% para o período de 2004 a alimentício) é o que representa a maior fatia de
2009. mercado dos plásticos. No ano de 2005, esse
setor teve uma receita R$ 10 milhões, com um
crescimento previsto para 2006 de 3% (ABRE,
Demanda Mundial de Plásticos por Região 2006).
(1994 - 2014)

300,0
O status atual de desenvolvimento requer
América do Norte
uma igualdade nos pesos dos dois lados da
Demanda (milhões de

250,0

200,0
Europa Ocidental balança. De um lado, está a sociedade em
toneladas)

crescimento que requer a manutenção e/ou


150,0 Ásia
aumento dos níveis atuais de consumo de
100,0
Outras Regiões plásticos para não afetar a qualidade de vida
50,0
Demanda Mundial de
alcançada. Do outro lado, está a biodiversidade e
0,0
1994 1999 2004 2009 2014
Plásticos
as condições ambientais que já estão sofrendo
Ano os efeitos desse cenário, uma vez que os
resíduos plásticos representam uma fatia
Figura 1 - Demanda Mundial de Plásticos por significativa do resíduo sólido mundial (MANCINI;
Região no período de 1994 a 2014 (NEGRI ZANIN, 2004).
BOSSI, 2004).
A “não degradabilidade” no ambiente e a
vida útil muito curta dos artefatos plásticos torna
No Brasil, o consumo aparente de seu uso questionável em termos ambientais.
plásticos em 2007 foi de 4,8 milhões de Uma vez dispostos no meio ambiente, tais
toneladas, mantendo uma tendência de materiais ocupam um considerável espaço,
crescimento, conforme apresentado na Figura 2, diminuindo o tempo de vida de aterros e lixões e
em mil toneladas. agravando o problema da saúde pública nos
A perspectiva de maior crescimento da centros urbanos. O plástico não é apenas um
economia e o reduzido grau de consumo per material de difícil decomposição nos aterros
capita de plásticos no país apontam para um como também prejudica a degradação de outros
leque de possibilidades do setor. O consumo de materiais por criar camadas impermeáveis entre
plásticos per capita, em 2006, alcançou em 24,4 a terra e os resíduos, dificultando a circulação de
kg por habitante, inferior à média mundial e cerca ar nestes ambientes (Pro teste, 2006). Além
de um quarto daquele verificado nos Estados disso, o avanço das legislações a nível nacional
Unidos (UNICAMP, 2008). e internacional tem levado os produtores e
processadores de resinas plásticas investirem

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 17
em tecnologias de reaproveitamento ou processo pirolítico e nos subprodutos obtidos
reciclagem dos plásticos pós-consumo. pelo tratamento (DE OLIVEIRA, 2006).
Dentro das tecnologias estudadas, A co-pirólise é adição de mais de um
destaca-se a pirólise onde ocorre a material como carga no reator pirolítico. As
decomposição térmica do polímero, produzindo vantagens estão relacionadas às condições de
conforme o caso, os monômeros de origem ou processamento (temperatura e pressão) que
moléculas orgânicas com alto poder calorífico podem ser reduzidas. Segundo Miller e Shan
que podem ser utilizadas como combustível (2000), a co-pirólise de poliolefinas com outros
(CARNEIRO, 2007, KAMINSKY; SCHEIRS, combustíveis tem se mostrado tecnicamente
2006). viável.
Mundialmente, existem vários exemplos O objetivo geral desse trabalho é utilizar a
de sistemas pirolíticos em operação com técnica de co-pirólise de resíduos plásticos de
diferentes tipos de tecnologias aplicadas para a polietileno pós-consumo com gasóleo, visando à
retirada de produtos do processo. A obtenção de hidrocarbonetos da fração óleo
transformação dos resíduos em subprodutos diesel.
ocorre gradualmente à medida que os resíduos
Materiais e Métodos
sólidos passam pelas diversas zonas de calor
que constituem o reator pirolítico. Estados As amostras de polietileno (PE) pós-
Unidos, Japão e China são os países que mais consumo (frascos de água para injeção,
têm investido em pesquisa na área de pirólise, conforme Figura 3) foram picotadas
destacando-se a China em número de patentes manualmente e utilizadas sem nenhum
depositadas (DE OLIVEIRA et al., 2008). tratamento prévio. A amostra de gasóleo foi
Segundo Aires e colaboradores (2003), a doada pelo Centro de Pesquisas da Petrobras
pirólise pode ser classificada em sistemas de alta (Cenpes). Esta amostra foi extraída do campo de
temperatura e sistemas convencionais (baixa Marlin localizado na Bacia de Campos, do tipo e
temperatura), em função das características dos é considerada um óleo pesado de alta
processos. viscosidade.
A avaliação térmica das amostras de PE
Os sistemas convencionais podem ainda pós-consumo foi feita em instrumento TG da
ser divididos em duas categorias: os destinados marca TA Instruments, modelo Q50, calibrado
a produzir combustíveis gasosos e os de antes das análises com amostras-padrão de
produção de combustíveis líquidos. A pirólise a Alumel e Níquel, à mesma velocidade de
baixas temperaturas promove predominante- aquecimento a que seriam submetidas as
mente a despolimerização dos plásticos, isto é, o amostras. As análises das amostras, com
rompimento das cadeias poliméricas. (ROCHA; massas entre 5 e 10 mg de PE pós-consumo,
PÉREZ; CORTEZ, 2004). foram realizadas por meio de uma rampa de
Os principais produtos do processo de aquecimento de 50 à 750 ºC à velocidade de 10
pirólise são (MENEZES, 1999): ºC/min em cadinho de platina, sob atmosfera de
nitrogênio à vazão de 100,0 mL/min. A avaliação
- gases, constituídos principalmente de
termogravimétrica das amostras seguiu as
hidrogênio, metano, monóxido de carbono,
diretrizes estabelecidas na norma técnica ASTM
hidrocarbonetos leves e outros;
E-1868-04.
- líquidos, constituídos basicamente de
hidrocarbonetos, álcoois e ácidos orgânicos;
- resíduos sólidos, constituídos por
carbono quase puro (char) e vidro, metais e
outros materiais inertes (escórias).
Fatores como tipo de resíduos, tamanho
das partículas submetidas ao processo, tipo de
reator, temperatura e velocidade de variação da
temperatura, cinética do processo, umidade
presente nos resíduos, dentre outros, têm sido Figura 3 - Foto da amostra de PE pós-
estudados como fatores que influenciam no consumo utilizada neste estudo.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 18
A caracterização química da amostra de volatilização.
PE pós-consumo foi feita por espectroscopia de
O efluente gasoso e o resíduo sólido
infravermelho de reflexão total atenuada (IR-
obtidos na pirólise não foram analisados no
ATR) em instrumento Perkin Elmer Spectrum
estudo. Os líquidos da pirólise foram analisados
One FTIR, com acumulação de 32 espectros e
por cromatografia em fase gasosa modificada.
resolução de 4 cm-1.
Os testes de pirólise foram realizados em
As amostras de polietileno pós-consumo duplicata e, caso houvesse divergência dos
foram co-pirolisadas na presença de gasóleo em resultados, uma terceira análise foi realizada.
esquema adaptado da unidade de Teste de
As análises do líquido pirolítico formado
Micro Atividade (MAT), doada pelo CENPES
foram realizadas por destilação simulada de alta
para avaliação do processo de craqueamento de
temperatura por cromatografia gasosa (High
gasóleo em leito fixo (Figura 4).
Temperature Simulated Destillation – HTSD), em
Essa unidade é um sistema integrado cromatógrafo gasoso modificado, equipamento
para a realização de pirólise sob fluxo de AC High Temp SIMDIS Analyzer, modelo HT750,
nitrogênio, constituído basicamente de reator com coluna capilar, seguindo metodologia ASTM
cilíndrico, fornalha, condensador de vidro e vaso D 7169 (Standard Test Method for Boiling Point
recolhedor. Durante a pirólise da amostra contida Distribution of Samples with Residues Such as
no reator, o líquido combustível é recolhido por Crude Oils and Atmospheric and Vacuum
meio de imersão do condensador de vidro em Residues by High Temperature Gas
banho de gelo e o gás combustível em vaso Chromatography).
recolhedor. O sistema opera com base nas Esta metodologia permite a determinação
normas do Standard Test Procedure da distribuição dos pontos de ebulição de frações
estabelecida no ASTM D 3907-92. residuais até cerca de 720 ºC, permitindo a
análise de compostos com até 100 carbonos na
composição, o que a torna mais adequada para
amostras de composição desconhecida (AC
ANALYTICAL CONTROLS, 2008). É utilizada
para a determinação da distribuição de pontos de
ebulição de amostras de resíduos atmosféricos,
resíduos de vácuo etc (PINTO, 2002).

Resultados e Discussão

As análises de TGA foram determinantes


na escolha da faixa de temperatura a ser
utilizada nos testes de co-pirólise de PE com
gasóleo.

Figura 4 - Foto da Unidade MAT utilizada nos


testes de co-pirólise de polipropileno e gasóleo.

As amostras de polietileno pós-consumo


foram pesadas, variando-se de 0,1 g até 1,0 g de
PE. Paralelamente, pesou-se 1,0 g de gasóleo,
mantendo-se esta quantidade em todos os testes
de co-pirólise, inclusive aqueles onde não se
adicionou o PE. Pesou-se o reator vazio antes e
após os experimentos para cálculos do resíduo
gerado e de perdas do processo.
Transferiu-se o líquido do condensador de
vidro para um frasco de amostragem, Figura 5 – Curva de TG/ dTG do resíduo plástico
acrescentando-se 2 mL de n-hexano. As pós-consumo.
amostras foram armazenadas sob refrigeração à
4º C, evitando, desta forma, perdas por

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 19
. As análises de infravermelho foram Conclusões
importantes na identificação das bandas Os resultados do estudo indicam que a
presentes nas amostras de PE pós-consumo tecnologia de tratamento térmico por co-pirólise é
que, pelo perfil dos espectros apresentados, válida para o tratamento de resíduos de PE, pois,
indicam uma elevada pureza das amostras além de minimizar o impacto ambiental causado
devido à preservação das características das pela disposição desse material de maneira
bandas, que é típica de hidrocarbonetos alifáticos inadequada, permite um melhor aproveitamento
com cadeias de sete ou mais átomos de de um recurso natural não-renovável, o petróleo,
carbono. através das frações obtidas no processo.
Os testes de co-pirólise de PE com
gasóleo forneceram resultados interessantes Agradecimentos
para este trabalho.
Os líquidos pirolíticos obtido nas co-
pirólises de PE com gasóleo foram submetidos a Ao CNPq, FAPERJ e PETROBRAS pelo
cromatografia gasosa de alta resolução (CGAR),
com o objetivo de se determinar o teor de suporte financeiro e ao CNPq pela bolsa de
hidrocarbonetos da fração óleo diesel presente
no líquido pirolítico. apoio técnico de Caneiro, D.S.
De acordo com os resultados
apresentados, o aumento da quantidade de
resíduos plásticos ao gasóleo favoreceu o Referências
aumento da geração de líquido pirolítico e a
redução do sólido formado. 1) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
EMBALAGEM (ABRE). Informações
A Figura 6 abaixo apresenta os resultados
sobre a Indústria de brasileira de
o efeito da massa no rendimento de líquido
Embalagens. Disponível em:
pirolítico formado.
<http://www.abre.org.br/index.php>.
Acesso em: 4 nov. 2006.
2) CARNEIRO, D. S. Co-Pirólise de
25 resíduos de polietileno com gás-óleo
20 da Bacia de Campos. 2007. 91f.
Dissertação (Mestrado em Química) –
Fração diesel (%)

15
Universidade do Estado do Rio de
10 Janeiro, UERJ, RJ.
5
3) CIOCÎLTEU, S.; DARIE, H.; IOJOIU, E.;
ONU, P.; VASILE, C. Thermal and
0
0,01 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,4 0,5 0,7
catalytic decomposition of
massa do resíduo (g)
polyethylene and polypropylene.
Journal of Analytical and Applied
Pyrolylis, [S.l.], v. 49, p.145-153, 1999.
Figura 6 - Efeito da massa de resíduo no 4) DE OLIVEIRA, O. M. C.; DE SENA, A. R.;
rendimento do líquido pirolítico formado. PEREIRA, L. A. G.; RODRIGUES, L.M.
Reciclagem Química de Polímeros.
Como pode ser visualizado, existe um 2008. 76f. Monografia (Especialização em
limite de resíduo que pode ser usado para ser Engenharia de Processamento de
pirolisado com gasóleo nesse sistema e nas Petróleo) - Universidade Estadual do Rio
condições desse estudo. O que foi observado no de Janeiro, UERJ; Petróleo Brasileiro S.A.
experimento da amostra PI 0,70, é que durante - PETROBRAS. Rio de Janeiro.
os 15 minutos de corrida, o líquido pirolítico era 5) DE OLIVEIRA, M. L. Caracterização e
bastante viscoso e também era formada uma Pirólise de Resíduos da Bacia de
cera de odor marcante, sugerindo ser parafina. Campos: Análise dos Resíduos da P-
40. 2006. 192 f. Dissertação (Mestrado
em Química) - Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, UERJ. Rio de Janeiro.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 20
6) DE PAOLI, M. A. Reciclagem Mecânica sobre demanda mundial de plásticos.
de Polímeros. In: I Seminário [S.l.], 2004. Disponível em:
Reciclagem de Polímeros – <http://www.negribossi.com/System/8840/
PETROBRAS. Rio de Janeiro, s.n., 2008. 633481148125046232itIT.pdf>. Acesso
7) DE SOUZA, M. C. A. F. Estudo da em: 10 jun. 2008.
Competitividade de Cadeias Integradas 13) PINTO, U. B. Uso da Técnica de
no Brasil: impactos das zonas de livre Destilação Simulada de Alta
comércio. Nota Técnica Final, Temperatura para Extrapolação da
UNICAMP-IE-NEIT / MDIC / MCT / Curva de Ponto de Ebulição
FINEP, São Paulo, SP, 2002. Verdadeiro de Petróleos. Boletim
8) KAMINSKY, W.; SCHEIRS, J. Feedstock Técnico Petrobras, Rio de Janeiro, RJ, v.
Recycling and Pyrolysis of Waste 45, p. 343-349, 2002. Disponível em:
Plastics: Converting Waste Plastics <http://www2.petrobras.com.br/tecnologia/
into Diesel and Other Fuels. Ed. John port/boletim_tecnico/v45_n3-4_jul-dez-
Wiley & Sons, [S.l.], s.n., 2006. 2002/pdf/8.pdf>. Acesso em: 15 jun.
9) MANCINI, S. D.; ZANIN, M. Resíduos 2008.
Plásticos e Reciclagem: Aspectos 14) Revista Pro Teste. Um material 100%
Gerais e Tecnologia. EdUFSCar: São reutilizável. n. 51. p. 23. Setembro 2006.
Carlos, SP, 143p., 2004. 15) ROCHA, J. D.; PÉREZ, J. M.; CORTEZ,
10) MENEZES, R. A. Análise de projetos de L. A. B. Aspectos Teóricos e Práticos
tratamento por destruição térmica de do Processo de Pirólise de Biomassa.
resíduos sólidos urbanos e especiais. [Campinas, SP], s.n., 2004. Disponível
indicadores operacionais. Curso em: <http://www.bioware.com.br>. Acesso
ABS/CEF, [S.l.], s.n., 1999. Disponível em: 26 mar. 2008.
em: 16) UNICAMP. Unicamp e ABDI lançam
<http://www.kompac.com.br/publicacoes/e Boletim de Conjuntura Industrial. São
stado.htm>. Acesso em: 25 mar. 2008. Paulo, SP, 2008. Disponível em:
11) MILLER, S. J.; SHAH, N. Method for <http://www.unicamp.br/unicamp/divulgac
conversion of waste plastic to lube oil. ao/BDNUH/NUH_10294/NUH_10294.html
United States Patent 6150577. USA, >. Acesso em: 11 jun. 2008.
2000. Disponível em:
<http://www.freepatentsonline.com/61505
77.html>. Acesso em: 3 maio 2008.
12) NEGRI BOSSI. Editorial. Informações

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 21
QUÍMICA NO ENSINO FUNDAMENTAL: CONHECIMENTO DOS
PROFESSORES DE CIÊNCIAS

CHEMISTRY IN ELEMENTARY SCHOOL: KNOWLEDGE OF


SCIENCE TEACHER´S

NUNES, Albino Oliveira1, SANTOS, Anne Gabriella Dias2 , ANJOS JÚNIOR, Romildo Henrique dos3,
BARBOZA, Marcelo Loer Bellini Monjardim4
1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Campus Mossoró, Rua
Raimundo Firmino de Oliveira, 400, Conjunto Ulrick Graff, Costa e Silva, CEP: 59628-330, Mossoró - RN,
Brasil
*e-mail: albino@cefetrn.br
2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Exatas e Naturais, Departamento de
Química, Campus Universitário, Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal – RN, Brasil

3, 4
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Campus Ipanguaçu,
Povoado de Base Física, sn, Zona Rural, CEP : 59508-000 Ipanguaçu-RN , Brasil

Received 11 July 2009; received in revised form 06 October, 14 November 2009, 3 January 2010; accepted 10 January 2010

RESUMO

O presente trabalho visa discutir e refletir sobre a formação inicial e o conhecimento dos professores de
ciências que atuam nas cidades de Assu e Ipanguaçu (RN). Para tanto, realizou-se uma pesquisa de natureza
quali-quantitativa através de dois instrumentos de coleta de dados (ICD) estruturados com questões abertas e
fechadas. Os resultados demonstram que os professores que atuam nessa disciplina não possuem formação
inicial na área, e não acreditam ter o conhecimento necessário para lecionar ciências. Ademais, nota-se que
estes também não possuem conhecimento sobre conteúdos pedagógicos importantes para a
interdisciplinaridade ou o enfoque CTS(Ciência – Tecnologia - Sociedade) de ensino e realizam seus
planejamentos isolados, o que também não contribui para práticas escolares interdisciplinares.

Palavras-chave: Química, Formação Continuada, Ensino de Ciências.

ABSTRACT

This work discuss about the training and knowledge of science teachers that work on two cities: Assu
and Ipanguaçu (RN- Brazil). To it, was used a questionnaire with open and closed questions. The results show
that these teachers didn´t graduate on Science courses, and they affirm don´t have enough knowledge to teach
science. It possible note too they didn´t know enough about STS, interdisciplinarity and plans to class. It don´t
contribute to new practice on classroom.

Keywords:, Chemistry, Training in service, Science Education

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 22
Introdução grande parte destes tiveram sua formação inicial
em outros contextos formativos e os
procedimentos didáticos que utilizam muitas
O Brasil passa desde a década de 90 do
vezes poderiam ser complementados ou até
século passado por um momento de redefinições
significativamente melhorados com os avanços
em seu sistema educacional, onde novos
do ensino de ciências, recentemente
paradigmas passam a fazer parte do ideário dos
incorporados a formação inicial dos cursos de
professores e alunos a partir da reforma de 1996
licenciatura.
e aprofundamentos posteriores (LDB, PCN´s,
Acrescentam-se ao panorama da
PCN+, OCN). A escola tradicional, diante das
educação brasileira um cenário de crise, onde
novas propostas de organização do ensino passa
alunos mostram-se apáticos, professores estão
a ser criticada fortemente por sua inadequação
desestimulados, as estruturas físicas não
aos objetivos da educação do cidadão imerso na
correspondem ao ideal almejado e nem sequer o
sociedade do conhecimento.
ensino tradicional obtém os resultados
Contudo, mesmo acreditando na
esperados. No entanto, as causas dessas
insuficiência do modelo ora ainda vigente de
dificuldades ainda que explícitas são confundidas
ensino, algumas questões precisam ser
com seus efeitos o que torna a problemática
levantadas. Ainda que o ensino tradicional
mais complexa e de difícil solução. E isso ocorre,
inspirado no condicionamento operante não
pois as dificuldades do ensino acabaram por
satisfaça às necessidades formativas do cidadão
formar um ciclo vicioso onde o professor mal
inserido em uma sociedade pós-moderna, não se
remunerado e desestimulado não motiva seus
pode prescindir do ensino tradicional, sem que
alunos (ROSA, 1997, p. 15).
haja uma verdadeira reforma no modo ensinar e
Ademais, o ensino de ciências passa por
sobretudo sem que os professores tenham
outra crise, esta de alcance mundial. Onde os
conhecimento profundo sobre as novas proposta.
estudantes acabam por não atenderem as
Outra ponderação necessária é a de que, para
expectativas a eles atribuídas ou mantêm idéias
que a reforma pretendida seja efetiva, se faz
e atitudes equivocadas sobre a ciência mesmo
necessário que o professor tenha condições
depois de anos de estudo (POZO E GOMES
adequadas para modificar sua prática docente.
CRESPO, 1998) apesar de todos os esforços
Outros pesquisadores como Cronnin-
dos professores. Assim, é necessária uma
Jones apud Maldaner (2006) afirmam que o
reorientação da educação, em especial a
professor só altera sua prática docente quando
científica para poder ser uma educação
sente como necessária essa mudança. De forma
transformadora e que procure formar o cidadão,
que orientações curriculares oficiais não se
ser político. Para que seja co-autor desse
transformam em práticas escolares se os
processo de formação cidadã o professor tem,
professores não percebem tal orientação como
necessariamente que possuir as “ferramentas”
uma necessidade verdadeira que venha a
adequadas.
contribuir com sua docência e com os problemas
Ao nos aproximarmos do ensino de
de ensino-aprendizagem que encontram em sala.
química voltado ao ensino médio a formação de
Sendo assim, mesmo cursos de formação
professores já apresenta deficiências apontadas
continuada não contribuiriam para a mudança de
por trabalhos anteriores (Nunes et al, 2007;
postura docente, uma vez que não percebem
Santos et al, 2007; Nunes et al, 2009). Os
como as novas propostas curriculares e teóricas
professores em exercício apresentam
agregam e possibilitam a resolução dos
dificuldades quanto ao conhecimento
problemas vivenciados em sua prática.
pedagógico, desconhecendo importantes aportes
Paralelamente, o ensino de ciências é
da Didática das Ciências, como o enfoque de
uma área de conhecimento na qual, a partir da
ensino CTS (Ciência – Tecnologia – Sociedade)
década de 80, vem se produzindo e
que prima por um ensino contextualizado e
incrementando tanto no tocante a teoria, quanto
interdisciplinar da ciência, entendendo esta como
em metodologias inovadoras; e grande parte
uma construção social que interage com a
desses avanços somente agora passam a ser
tecnologia.
incorporados aos cursos de formação inicial.
No entanto, há outra realidade ainda
Como salienta Gil-Pérez e Carvalho
pouco explorada que pode revelar dificuldades
(1999), são necessários cursos de formação
ainda maiores: a formação dos professores de
continuada para a atualização dos profissionais
ciências que lecionam no ensino fundamental.
já atuantes no ensino básico, uma vez que

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 23
Muitos desses professores afirmam que não ensinam Bardin e Stubs apud Pórlan et al (1997)
possuem a adequada formação sequer nos e Richardson (1985).
conteúdos específicos. Desta forma, a introdução Levando em conta os preceitos do próprio
ao estudo da química, física e biologia nas séries Instituto, e orientações da pesquisa participativa,
finais do ensino fundamental aparentemente procedeu-se a elaboração de uma proposta de
apresenta um obstáculo no conhecimento curso de formação continuada para os
docente. professores do ensino fundamental maior das
Sendo assim, neste trabalho discutimos a cidades de Assu e Ipanguaçu. O curso proposto
formação dos professores de ciências no ensino consistiria de cinco encontros presenciais que
fundamental das cidades de Assu e Ipanguaçu visavam trazer aos docentes elementos
(RN), que participaram do projeto: “Formação dinamizadores de sua prática docente, e que
Continuada de Professores de Ciências: consideravam as necessidades formativas
Enfoques Alternativos”, financiado pelo Instituto detectadas.
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Norte - IFRN. Objetivamos Resultados e Discussão
contribuir para reflexão sobre as dificuldades que
essa formação pode proporcionar ao ensino de
Participaram da primeira etapa da
ciências e em particular à química.
pesquisa um total de 16 professores de ensino
básico (ensino fundamental maior) que lecionam
Desenvolvimento e Percurso Metodológico
a disciplina de ciências na rede municipal de
ensino das cidades de Assu e Ipanguaçu, sendo
Tendo em vista a carência por formação
7 da primeira cidade e 9 da segunda.
inicial e continuada dos professores que
Dos ICD´s respondidos podem-se
lecionam ciências no ensino fundamental maior,
ressaltar cinco temas mais relevantes:
e partindo da hipótese de que nas localidades
afastadas dos grandes centros urbanos esta
a) Formação Inicial (Gráfico 1);
necessidade formativa seja ainda mais
b) Cursos de Atualização (Gráfico 3);
acentuada, procedeu-se a elaboração de um
c) Planejamento (Gráfico 4);
projeto de extensão apoiado pelo Edital 01/08 -
d) Interdisciplinaridade (Gráfico 5);
DREC/CEFET-RN, no Instituto Federal de
e) Ciência-Tecnologia-Sociedade (Gráfico
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande
6).
do Norte, Campus Ipanguaçu. O projeto,
financiado pela Diretoria de Relações
Empresariais e Comunitárias e com o apoio das
secretarias municipais de educação das cidades
de Assu e Ipanguaçu, visava a caracterização 13%
das necessidades formativas e a proposição/
aplicação de um curso de formação inicial 31% 6%
pautado nos resultados obtidos na primeira fase. Ciência/Mat
Para tanto, foi elaborado o ICD com emática
6%
questões abertas e fechadas tendo em vista as Pedagogia
História
vantagens e desvantagens da utilização desse
Matemática
instrumento apontadas por Marconi e Lakatos
Não
(2003). respondeu
O objetivo de utilizar questões abertas e
fechadas foi o de que a pesquisa fosse pautada
em resultados qualitativos e quantitativos, 44%
segundo o paradigma emergente na Pesquisa
em Ensino de Ciências (GRECCA, 2002).
Segundo esta autora a pesquisa quantitativa
produz dados sólidos e a pesquisa qualitativa
produz dados profundos. Para o tratamento das Gráfico 1: Formação Inicial dos professores do
questões fechadas foi utilizado o tratamento Vale do Assu
estatístico simples e para as questões abertas foi
utilizado elementos da análise de conteúdo como

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 24
Como podemos perceber no gráfico
acima, dentre os entrevistados nenhum era
licenciado em química ou física, 31% eram 6%

formados nos antigos cursos de ciências, no qual


durante os dois primeiros anos o graduando
cursava disciplinas de diversas especialidades 38%
(química, física e biologia) e na segunda metade Ótimos
da graduação disciplinas voltadas a sua 37% Insuficientes

especialidade (no caso, todos têm habilitação em Bons


Regular
matemática).
Outro percentual significativo era o de
professores graduados em pedagogia (44%), que
em sua formação inicial só têm disciplinas de 19%
ensino de ciências, não possuindo no fluxo
curricular da graduação na Universidade onde
foram licenciados, (Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte – UERN) disciplinas de
ciência básica, muito menos os tópicos de Gráfico 2: Conhecimentos em ciências
química e física que constam nos programas
para o ensino fundamental. No tocante a essa atualização notamos
Quanto a esta formação, nota-se que cerca de pouco mais da metade dos
claramente que não contribui para a iniciação ao professores ali presentes haviam participado de
estudo das ciências da natureza no ensino cursos de formação continuada nos últimos dois
fundamental maior. Os licenciados em anos, e mesmo assim afirmava carecer de maior
pedagogia, história e matemática, como afirmam apoio, e não se sentirem preparados para
em outra questão (Gráfico 2) não possuem ministrar as disciplinas de ciências. O que
conhecimentos suficientes em ciências, e mesmo demonstra a necessidade de uma formação
os licenciados em ciências com habilitação em continuada de caráter permanente.
matemática afirmam que seus conhecimentos
são apenas “regulares” em ciências (38%). Não
sendo o que se espera de docentes
responsáveis pela educação inicial em uma área
de conhecimento. 17% Até 6 meses Entre 2 e 4
22%
O que os dados nos indicam é que anos
praticamente todos os professores pesquisados Entre 6 Mais de 4
necessitam de cursos de capacitação que lhes meses e 1 anos
forneça conhecimentos básicos sobre ciências, o 12%
27%
ano
que poderia ser planejado no formato de Entre 1 e 2 Não
anos respondera
segunda licenciatura ou cursos de formação m
22%
continuada de nível de pós-graduação lato
senso.
Quando perguntados sobre se trabalham
conteúdos de química e física em suas aulas os
professores pesquisados afirmam não estar
confortáveis em ensinar ciências no geral, e
principalmente nos conteúdos de química e física Gráfico 3: Cursos de Formação
trabalhados no nono ano do ensino fundamental. Continuada
O que mais uma vez reforça a idéia de que falta-
lhes conhecimento da disciplina. Quando comparamos as respostas dessa
Esse dado preocupante ganha maior questão com o discurso dos professores,
proporção quando relacionado aos dados notamos que todos os cursos de formação
relativos aos cursos de formação continuada nos continuada oferecidos para estes, tem sido de
quais esses professores participaram nos últimos formação pedagógica geral. Havendo aqui um
anos. duplo problema, enquanto os recursos estão
sendo investidos em conhecimentos gerais sobre

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 25
educação, os anseios dos docentes centram-se
no conteúdo da disciplina que ministram. Por
outro lado os professores afirmam em seu
discurso que estes cursos têm caráter tão
generalista que não agregam a sua prática de
professores de ciências. 28% Não Conheço
conheço com
profundidad
e mais não
utilizo
15%
Sozinho Já ouvi falar Conheço e
72%
Com sobre utilizo
professore
s da
mesma
disciplina
50%
Com
professore
35% s de outras
disciplinas
Gráfico 5: Conhecimento e utilização
da interdisciplinaridade

Por fim, outra questão importante sobre a


qual os professores foram questionados foi sobre
Gráfico 4: Planejamento das aulas seu conhecimento sobre o enfoque de ensino
CTS (Ciência –Tecnologia – Sociedade).
Quanto levados a falar sobre o Esse questionamento fundamentou-se na
planejamento das aulas todos os docentes percepção de que o letramento científico e
afirmaram executá-los, o que pode ser tecnológico é um dos principais objetivos do
interpretado como um fato positivo, haja vista ensino de ciências no Ensino Básico, e que o
que indica a preocupação de planejar os enfoque CTS tem sido apontado por diversos
conteúdos a serem ministrados e a metodologia. pesquisadores (SANTOS E SCHENETZLER
A maioria dos professores relatou fazê-lo 2003; SANTOS, 2006) como uma importante
semanalmente, entretanto 15% destes afirmaram contribuição para a formação cidadã. Por outro
que eram feitos apenas bimestralmente, o que lado, um dos fatores que evidencia uma crise no
nos leva a crer que eram elaborados apenas nas ensino de ciências é a persistências de visões
reuniões bimestrais, onde deveriam discutir os equivocadas sobre a ciência e a tecnologia
andamentos das aulas e metodologias aplicadas. (POZO e GÓMEZ CRESPO, 2006, VÁZQUEZ
Quando são indagados a respeito de como ALONSO e MANASSERO MÁS, 1997).
executam seus planejamentos (Ver no gráfico 4), No entanto, ao questionar os participantes da
50 % dos professores afirmaram realizá-los entrevista notamos que a maior parte dos
sozinho, 15 % com professores de outras entrevistados (88%) nunca ouviu falar de tal
disciplinas e 35 % com colegas da mesma enfoque de ensino. E os demais 12% (Gráfico 6)
disciplina. apenas “ouviram falar”, sem serem capazes de
expressar o que fundamenta tal proposta, e em
Afirmações estas que demonstram a que consiste.
existência de um obstáculo ao exercício de Apesar de ser um enfoque de ensino
práticas interdisciplinares. Dos ICD´s pode-se relativamente novo no Brasil, o enfoque CTS
inferir também que a maior parte dos vem ganhando nos últimos anos grande
entrevistados não conhece o real significado da destaque de pesquisadores e docentes do
interdisciplinaridade, pois ao serem questionados mundo inteiro. Tal interesse deve-se à percepção
sobre este tema, a grande maioria afirma aplicar de que o conhecimento científico deve ser
em sala de aula, como podemos visualizar no encarado em seu contexto social e histórico e
gráfico a seguir. não como um conhecimento absoluto.
E sabe-se, a interdisciplinaridade
pressupõe um planejamento conjunto de duas
disciplinas.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 26
raramente realizavam aulas práticas, optou-se
por propor experimentos em química com
materiais alternativos, e forneceu-se a esses
professores condições para que pudessem
12%
trabalhar em suas salas de aula.
Não Conheço No entanto, a metodologia detalhada e os
conheço com resultados encontrados serão descritos em
profundidad trabalhos posteriores.
e mas não
utilizo
Já ouvi falar Conheço e
Considerações Finais
sobre utilizo
A caracterização dos professores
88%
participantes do curso demonstrou a enorme
necessidade de formação deste, tanto inicial
quanto continuada. Pois a maior parte tem
graduação em outras áreas (notadamente em
matemática). E mesmo as professores
licenciados em biologia revelam a necessidade
Gráfico 6: Conhecimento sobre o enfoque CTS de capacitação para trabalhar com conteúdos de
física e química no nível básico. Observou-se
também que os mesmos não possuem
O não conhecimento deste enfoque conhecimento sobre a didática das ciências,
significa o distanciamento de um significativo metodologias e concepções de ensino.
aporte recente da Didática das Ciências e de De onde se depreende a necessidade de
uma importante ferramenta para uma que as secretarias de educação encontrem
compreensão mais aproximada do impacto que a alternativas para a capacitação desses
ciência e a tecnologia têm nas vidas dos profissionais.
estudantes. Há também que levar em consideração a
Diante dos dados expostos e problemas necessidade de uma nova organização didática
constatados foi proposto um curso de formação que possibilite o surgimento de uma verdadeira
continuada que se configura como a segunda interdisciplinaridade na escola, a partir de um
fase do projeto. Esta com o intuito de fornecer planejamento em que áreas diferentes do
elementos de formação que venham ao encontro conhecimento possam dialogar para a
das necessidades encontradas. Para este foram construção do conhecimento por parte dos
elaborados cinco encontros temáticos para alunos.
trabalhar com esses docentes: Em linhas gerais, pode-se afirmar que o
1. Conhecendo o CEFET- UNED-IP (Atual projeto alcançou seus objetivos, caracterizar as
IFRN /Campus Ipanguaçu) necessidades formativas dos professores de
2. Didática das Ciências/ CTS ciências das cidades de Assu e Ipanguaçu,
3. Debate CTS/ Experimentação no ensino de demonstrando que os docentes dessa região não
Ciências estão preparados para lecionar ciências e
4. Informática na Educação em Ciências apresentam maiores dificuldades quando se trará
5. Epistemologia da ciência/ Experimentos com dos conteúdos de química e física do nono ano.
materiais alternativos/ Propostas

Cabe aqui esclarecer que não se Referências


pretende “resolver” todos os problemas com um
período tão curto. Com essa proposta objetiva-se
despertar nos docentes para suas limitações e 1) BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da
fornecer caminhos possíveis para sua formação Educação Nacional – LDB Nº 9394/96.
permanente. De 20 de dezembro de 1996. Brasília.
Outro ponto a ser discutido, foram as 2) ______, Ministério da Educação,
escolhas quanto aos experimentos. Uma vez Secretaria de Educação Média e
notada que a maior dificuldade dos docentes Tecnológica. Parâmetros Curriculares
encontrava-se em química e física e estes Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC,

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 27
1999. métodos e técnicas. São Paulo: Atlas,
3) ______, Ministério da Educação, 1985.
Secretaria de Educação Média e 14) ROSA, S.S. Construtivismo e Mudança,
Tecnológica. Pcn+ Ensino Médio: Coleção questõrd de nossa época. São
Orientações educacionais Paulo: Cortez, 5ª ed. 1999.
complementares aos Parâmetros 15) SANTOS, W. L. P. de, SCHENETZLER,
Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, R. P. Educação em Química:
2002. compromisso com a cidadania. Ijuí: Ed.
4) _____, Ministério da Educação, Unijuí, 3ª ed, 2003.
Secretaria de Educação Média e 16) SANTOS, Anne Gabriella Dias, NUNES,
Tecnológica. Orientações Curriculares Albino Oliveira, MESQUITA, Kelânia
para o Ensino Médio, Brasília: MEC, Freire Martins, Níveis de conhecimento:
2006. perspectivas e dificuldades no ensino de
5) CARVALHO, A. M. P. de. GIL-PÉREZ, D. química, Anais do Sapiens 2007-
Formação de professores de ciências: Congresso Internacional de Educação,
tendências e inovações. São Paulo: Olinda-PE, 2007.
Cortez, 5ª ed, 2001. 17) SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos,
6) GRECA, I. M. Discutindo aspectos Letramento em química, educação
metodológicos da pesquisa em ensino de planetária e inclusão social, Química
ciências: algumas questões para refletir, Nova, Vol. 29, No. 3, 611-620, 2006.
Revista Brasileira de Pesquisa em 18) VÁZQUEZ ALONSO, A., MANASSERO
Educação em Ciências, 2(1)73-82, 2002. MAS, M.A., Una evaluación de las
7) MALDANER, Otávio Aloísio. A formação actitudes relacionadas con la ciencia,
inicial e continuada de professores de Enseñaza de las Ciencias, Vol 15, nº 2,
química: Professores/ Pesquisadores. Ijuí: 1997.
Ed. Unijuí, 3ª ed, 2006.
8) MARCONI, M. de A., LAKATOS, E. M. AGRADECIMENTOS
Fundamentos de metodologia científica.
São Paulo: Atlas, 5ª ed, 2003. A Diretoria de Relações Empresariais
9) NUNES, Albino Oliveira, SANTOS, Anne e Comunitárias pelo financiamentos do
Gabriella Dias, MESQUITA, Kelânia projeto.
Freire Martins, AGUIAR, A.L. Nível do Às prefeituras da cidade de Assu e
conhecimento dos professores de Ipanguaçu, na pessoa de seus secretários de
química da cidade de Mossoró quanto ao educação que nos muito nos auxiliaram. E
construtivismo, metodologias e principalmente aos professores que
concepções alternativas. Química no participaram da capacitação.
Brasil, v.1, p.95 - 100, 2007.
10) NUNES, Albino Oliveira, SANTOS, Anne
Gabriella Dias, ANJOS JÚNIOR, Romildo ANEXOS
Henrique dos, BARBOZA, Marcelo Loer
Bellini Monjardim Química no ensino de Instrumento de coleta de dados 1 (Inicial)
ciências: propostas de uma formação
continuada de base CTS. Anais do III
Congresso Norte-Nordeste de Química, Dados pessoais:
São Luiz – MA, 2009. Formação inicial (graduação)_____________
11) PORLÁN ARIZA, R., GARCÍA, A.
RIVERO, DEL POZO, R. M. Idade________Cidade onde trabalha_______
Conocimiento Profesional y Epistemologia 1- Situa
de los professores I: Teoria, metodos e
5- Quando foi seu último curso de atualização?
instrumentos. Enseñaza de las Ciencias,
Vol 15, nº 2,1997. ( ) em até 6 meses ( ) entre seis meses e 1 ano ( )
12) POZO, J.I., GÓMEZ CRESPO, M.A., Entre um e dois anos ( ) entre dois e quatro anos ( )
Aprender e enseñar ciência, 5ª edição, Mais de quatro anos
Morata, Madri, 2006. 6- Como você costuma fazer seus planejamentos?
13) RICHARDSON, R.J. Pesquisa social,
( ) Sim ( ) Não

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 28
7- Caso faça planejamento com que freqüência ele é 14- Como você avalia seus conhecimentos
feito específicos em educação?
( ) Diário( ) Semanal( ) Quinzenal ( ) Mensal ( ) Insuficientes, gostaria de saber mais ( ) Regular ( )
Bons ( )Ótimos
( ) Bimestral ( ) Semestral ( ) Anual
15- Quanto a sua atuação docente, o que seria
8- Como seus planejamentos são feitos?
preciso para melhorar o desempenho dos seus
( ) Sozinho ( ) com professores da mesma disciplina estudantes?
( ) com professores de outras disciplinas
( ) Mais aulas de laboratório ( ) Melhor material
9- O que você poderia falar sobre os temas abaixo didático ( ) Visitas de campo ( ) Acesso a internet
*Construtivismo
( ) Não conheço ( ) Já ouvi falar sobre ( ) Conheço Instrumento de coleta de dados 2 (Final)
com profundidade mas não utilizo ( ) Conheço e utilizo
Dados pessoais:
em sala de aula
Formação inicial (graduação)_____________
*Transversalidade
Idade____Cidade onde trabalha___________
( ) Não conheço ( ) Já ouvi falar sobre ( ) Conheço
com profundidade mas não utilizo ( ) Conheço e utilizo 1- Situação de trabalho
em sala de aula
( ) Concursado ( ) Contratado ( ) Bolsista
*Interdisciplinaridade
2- Que fatores positivos você apontaria no curso?
( ) Não conheço ( ) Já ouvi falar sobre ( ) Conheço
3- Dentre as propostas trabalhadas em sala, alguma é
com profundidade mas não utilizo ( ) Conheço e utilizo
viável para o contexto de sua sala de aula?
em sala de aula
5- Quanto a duração do curso sua opinião é de que:
*CTS
( ) Deveria ser maior ( ) Deveria ser menor
( ) Não conheço ( ) Já ouvi falar sobre ( ) Conheço
com profundidade mas não utilizo ( ) Conheço e utilizo 6- Quanto ao espaço de tempo entre uma aula e
em sala de aula outra.
*MCA´s ( ) Preferia que fosse semanal ( ) Preferia que fosse
Mensal
( ) Não conheço ( ) Já ouvi falar sobre ( ) Conheço
com profundidade mas não utilizo ( ) Conheço e utilizo 7- Teria interesse de participar de uma continuação do
em sala de aula curso?
*Cambio Conceitual ( ) Sim ( )Não
( ) Não conheço ( ) Já ouvi falar sobre ( ) Conheço 8- Quanto a possibilidade de continuação
com profundidade mas não utilizo ( ) Conheço e utilizo
( ) Gostaria que fosse contínuo ( ) Gostaria que fosse
em sala de aula
anual
10- Você costuma realizar práticas de laboratório com
9- Quais foram os pontos negativos que você poderia
suas turmas?
apontar com relação ao curso?
( ) Sim ( ) Não
10- Qual a sua avaliação quanto ao conteúdo
11 – Caso realize, com que freqüência? abordado no cursoção de trabalho
( ) semanalmente ( ) Quinzenalmente ( ) Mensalmente ( ) Concursado ( ) Contratado ( ) Bolsista
( ) Bimestralmente ( ) Semestralmente ( ) Anualmente
2- Ministra alguma disciplina além de ciências?
12- Em sala de aula você utiliza uma didática intuitiva
( ) Sim. Qual?_______________ ( ) Não
ou fundamentada? Por quê?
3- Há quantos anos você está em sala de aula? E na
13- Como você avalia seus conhecimentos
(s) escola (s) onde atualmente atua?
específicos em ciências?
4- Quais as suas perspectivas sobre sua profissão?
( ) Insuficientes, gostaria de saber mais ( ) Regular ( )
Bons ( )Ótimos

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 29
RELATÓRIO TÉCNICO 2: CATÁLISE ÁCIDA NA PRODUÇÃO DE
BIODIESEL

TECHNICAL REPORT 2: ACID CATALYSIS IN THE PRODUCTION OF BIODIESEL

DE BONI, Luis Alcides Brandini1,3. GOLDANI, Eduardo²


1
Laboratory of Environmental Processes. Building 30F - Room 109; Computer Integrated Manufacturing.
Building 30F - Room 104. PUCRS - Av. Ipiranga, 6681 - Partenon - Porto Alegre – RS. Brazil.
* e-mail: deboni@tchequimica.com

²Tchequimica Cons. LTDA. Center for Applied Research in Renewable Fuels and Diesel Like Fuels.
Coronel Corte Real, 992/23 - Petrópolis. Zip code: 90630-080. Porto Alegre – RS. Brazil.
* e-mail: goldani@tchequimica.com

³Tchequimica Cons. LTDA. Center for Applied Research in Photonics. Coronel Corte Real, 992/23 - Petrópolis.
Zip code: 90630-080. Porto Alegre – RS. Brazil. Telephone: (0-xx-51) 9154-2489

Received 21 December 2009; received in revised form 11 January 2010; accepted 12 January 2010

RESUMO
Desde a implantação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, através da Lei 11.097 de
13 de janeiro de 2005, diversas matérias-primas vêm sendo empregadas na produção do biocombustível. A
reação mais comumente empregada no processo é a transesterificação que, dentre outras características,
requer uma matéria-prima com baixo índice de acidez. Quando essa condição não é satisfeita tem-se como
alternativa a síntese por esterificação, que visa a conversão de ácidos graxos livres em mono-alquilésteres. A
reação de esterificação pode utilizar como catalisador o ácido sulfúrico, que, por sua vez, pode reagir com o
álcool utilizado, na reação produzindo dimetilsulfato. Essa nota técnica tem por objetivo discutir as reações e
fatores envolvidos quando do uso da reação de esterificação, como a exposição à produtos carcinogênicos.

Palavras-chave: Biodiesel, Catálise Ácida, Dimetilsulfato, Doenças Ocupacionais.

ABSTRACT
Several raw materials have been used in the biodiesel production since the implementation of the
National Program of Production and Use of Biodiesel through the Brazilian Law 11.097 of January 13th 2005.
The most common way used to produce this biofuel is the transesterification reaction which, among others
features, requires a raw material with low acidity level. When this condition is not reached, the esterification
reaction is alternatively used to convert free fatty acids into mono alkyl esters. Sulfuric acid is one of the
catalysts that can be used in the esterification reaction which, therefore, can react with the alcohol generating
dimethylsulfate. The aim of this technical report is to discuss the chemical reactions involved when the
esterification reaction is used and the effects that this may cause, such as exposure to carcinogenic products.

Keywords: Biodiesel, Acid Catalysis, Dimethylsulfat, Occupational Diseases.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 30
Introdução Linha C)
1- Iniciar com linhas A ou B.
No Brasil a produção do biodiesel 2- Neutralisar o catalisador com NaOH.
geralmente é conduzida através da reação de
transesterificação. Tal reação requer que a Bio3 + H2SO4 + H2O + NaOH ↔ Bio + Na2SO4 +
matéria-prima possua baixo índice de acidez, H2O (Eq. 4)
para ocorrer uma alta taxa de conversão de
triglicerídios em mono-alquilésteres. Quando esta
condição não é satisfeita uma solução que pode Linha D)
ser adotada é a reação de esterificação da
matéria-prima afim de converter os ácidos graxos 1- Iniciar com a linha A.
livres (AGL) em ésteres. Do contrário, ocorre 2- Terminar com o item 2 da linha C.
uma reação de saponificação entre os AGL e o
catalisador alcalino, utilizado na reação de Discussões
esterificação, produzindo sabões. Esta reação
paralela ocasiona uma perda no volume final de Naturalmente as Equações 1, 2 e 3, das
biodiesel produzido, proporcional ao teor de AGL. linhas A e B, apresentam variações na sua
Os sabões também atuam como agentes composição em função da estequiometria, porém
emulsificantes, dificultando a separação da o resultado principal é a conversão de AGL em
glicerina do biodiesel. mono-alquilésteres. A terceira linha de produção
adiciona uma etapa de conversão do catalisador
em sulfato de sódio, neutralizando o catalisador.
A quarta linha, geralmente utilizada pelo Grupo
Desenvolvimento Tchê Química, adota a linha A, complementada
pelo término do catalisador.
A reação de esterificação segue
bibliograficamente quatro linhas distintas, que Mas afinal, o que poderia conter de tão
serão denominadas de linha A (Canakci e especial a molécula relacionada/derivada do
Gerpen, 1999), B (Magalhães, 2008), linha C catalisador dimetilsulfato ((CH3)2SO4 - CAS
(Kac, 20091) e a linha D (linha adota por GTQ2),
number 77-78-1), que fascina ou preocupa tanto
exemplificadas, de modo resumido, pelas
os químicos, a ponto de uma reação ser
equações a seguir.
conduzida por quatro metodologias diferentes,
considerando-se que a formação desta molécula
é inevitável (segundo nosso ponto de vista),
Linha A
especialmente por que é ela que propícia a
1- Diluição do catalisador no álcool: esterificação dos AGL, em uma reação de
2CH3OH + H2SO4 ↔ (CH3)2SO4 + 2H2O (Eq. 1) equilíbrio químico entre ésteres e AGL
(Bettelheim e Landesberg, 2000)?
2- Adição da solução de catalisador aos AGL
Também deve-se considerar a existência
(CH3)2SO4 + AGL ↔ Bio + H2SO4 + H2O (Eq. 2) das reações de desidratação de álcoois (Clark,
2003). Porém é importante ressaltar que, o
metanol não sofre reação de desidratação com o
Linha B) H2SO4, ao invés disso, o éster dimetilsulfato é
1- Adição de álcool aos AGL (CH3OH + AGL), formado (UCC, 2000).
produzindo uma dispersão.
Talvez, o fato que chame tanto a atenção,
2- Adição de H2SO4 (catalisador) à dispersão e eventualmente cause alguma preocupação nos
CH3OH + AGL + H2SO4 ↔ Bio + H2SO4 + H2O profissionais da área, deva-se ao 11 ROC4 (NTP,
2009). Segundo o 11 ROC, o dimetilsulfato, e
(Eq. 3) sua molécula equivalente derivada do etanol,
dietilsulfato, são antecipadamente aceitas como
1 Acesso em 2009. 3 Bio = mono-alquiléster
2 GTQ = Grupo Tchê Química. 4 11th Report on Carcinogens

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 31
carcinogênicas em humanos. Ainda segundo o 2. Kac, Aleks.Foolproof biodiesel process:
11 ROC, as rotas primárias para a potencial Journey to Forever. Disponível em:
exposição ocupacional à estas moléculas, são a <http://www.journeytoforever.org/biodiesel
inalação ou o contato com a pele, no local de sua _aleksnew.html>. Acesso em Mar 2009.
síntese. 3. Silva, Tatiana de Oliveira Magalhães da.
Síntese e caracterização de
biocombustíveis obtidos a partir do
Conclusões arroz e seus derivados. Porto Alegre:
PUCRS, 2008. Dissertação (Mestrado).
Sob nosso ponto de vista, após termos Programa de Pós-Graduação em
trabalhado com todas as linhas, observamos que Engenharia e Tecnologia de Materiais,
as linhas A e D apresentam os melhores 2008.
resultados em termos de facilidade de separação 4. Bettelheim, Frederick A.; Landesberg,
dos produtos e rendimento. joseph M.. Laboratory Experiments for
A linha D foi introduzida nas pesquisas da General Organic and Biochemistry. 4
do Grupo Tchê Química para minimizar, Ed. Orlando: Saunder College Pub, 2000.
virtualmente eliminando, a probabilidade de 5. Report on Carcinogens, Eleventh Edition;
ocorrer a liberação de dimetilsulfato nos U.S. Department of Health and Human
subprodutos da reação de esterificação. Services, Public Health Service, National
A caracterização inicial da matéria-prima Toxicology Program (NTP). 11th Report
deve ser bem feita, de modo a utilizar on Carcinogens (11 RoC). Disponível
quantidades próximas ao mínimo em:
estequiométrico de reagentes e catalisador, <http://ntp.niehs.nih.gov/ntp/roc/roc11.zip
reduzindo deste modo a produção dos >. Acesso em Ago 2009.
subprodutos e da necessidade de neutralizações 6. Clark, Jim. Dehydration of alcohols.
subsequentes. 2003. Disponível em:
Também acreditamos que empresas que <http://www.chemguide.co.uk/organicprop
não possuem estrutura adequada para trabalhar s/alcohols/dehydration.html>. Acesso em
com a reação de esterificação não devem optar Mar 2009.
por esta rota especialmente com este 7. UCC - University College Cork. Methanol.
catalisador, pois colocam em risco a saúde de 2000. Disponível em:
seus funcionários. <http://www.ucc.ie/academic/chem/dolche
m/html/comp/methanol.html>. Acesso em
Mar 2009.
Agradecimentos 8. Chemical Abstracts Service (CAS). CAS
Registry Number: 77-78-1. Disponível
O Professor De Boni agradece a em:
PETROBRAS e ao CNPq pelo auxilio financeiro. <http://www.commonchemistry.org/Chemi
calDetail.aspx?ref=77-78-1>. Acesso em
Dez 2009.
Leituras sugeridas

1. Canakci, M. Van Gerpen, J.. Biodiesel


Production via Acid Catalysis.
American Society of Agricultural
Engineers. Transactions of the ASAE.
Vol. 42(5):1203-1210. 1999.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 32
APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE ELETROFLOCULAÇÃO UTILIZANDO
CORRENTE ALTERNADA NO TRATAMENTO DE ÁGUA DE
PRODUÇÃO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO

APPLICATION OF THE TECHNIQUE OF ELECTROFLOCCULATION USING ALTERNATE


CURRENT IN TREATMENT OF WATER PRODUCTION FROM OIL INDUSTRY

CERQUEIRA, Alexandre Andrade1; MARQUES, Mônica Regina da Costa2; RUSSO, Carlos3

1,2,3 Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Laboratório de Tecnologia Ambiental,
LABTAM, Rua São Francisco Xavier, 524 PHLC sala 304, Cep 20550-013 – Maracanã – RJ - Brasil
* e-mail: alexandrecerq@ig.com.br
Received 4 November 2009; received in revised form 7 January 2010; accepted 9 January 2010

RESUMO

O presente trabalho visa à realização do tratamento de água de produção da indústria do petróleo, o


qual é o principal resíduo gerado durante o processo de exploração e produção. Esta água é composta,
principalmente, por produtos químicos tóxicos, sais inorgânicos e metais pesados, os quais dificultam seu
tratamento e disposição final. Apesar de, ultimamente, esta água de produção ser reinjetada em poços de
produção para aumentar a pressão dos mesmos, ela ainda não apresenta a qualidade desejada para tal, daí
decorrendo um problema a ser resolvido. Para o tratamento desse efluente várias tecnologias estão sendo
estudadas, sendo que o objetivo deste trabalho é o de estudar a exeqüibilidade da aplicação do processo de
eletrofloculação utilizando corrente alternada de frequência variável no tratamento desse efluente simulado. Os
equipamentos de eletrofloculação utilizados foram de corrente contínua e corrente alternada de frequência
variável e como material dos eletrodos utilizou-se o alumínio, sendo todas as etapas realizadas em sistema de
batelada. As análises relacionadas à caracterização do efluente bruto e o eletrofloculado foram os seguintes:
óleos e graxas, turbidez, cor, pH e condutividade. Os resultados mostraram que foi possível obter remoções de
óleos e graxas, cor e turbidez em valores acima de 98%.

Palavras-chave: Eletrofloculação, Água de Produção, Tratamento de Efluentes, Produção de Petróleo

ABSTRACT

This work is related to the electroflocculation process applied to the treatment of the
production water, which is the main waste generated during the process of exploration and production
of oil. This wastewater is contains toxic chemicals, inorganic salts and heavy metals, which hinders its
treatment and final disposal. Lately, this water is being re-injected into the production wells to
increase the pressure, but its quality is not adequate. For the treatment of this effluent various
technologies have been proposed, and the aim of this paper is to study the feasibility of application of
the electroflocculation using alternate current variable frequency in the treatment of a simulated
wastewater. The equipment used both direct and variable frequency alternate current. Aluminium was
the material as the electrodes, and all runs were carried in a batch system. The analysis related to the
characterization of the raw and electroflocculated wastewater were: oil and grease, turbidity, color, pH
and conductivity. The results showed that it was possible to obtain removal efficiencies of oils and
greases, color and turbidity above 98%.
Keywords: Electroflocculation, Water Production, Wastewater Treatment, Oil Production

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 33
Introdução tratamento que seja rápido, eficiente e de custo
viável.
A poluição das águas por matéria oleosa
constitui um grande problema ambiental, uma Nos últimos anos, o processo de
vez que a indústria do petróleo produz este eletrofloculação vem crescendo muito,
efluente em todas as suas etapas de exploração, principalmente no que diz respeito à sua
produção, transporte e refino (Mariano, 2005). A simplicidade de operação e aplicação em
indústria de extração de petróleo, ciente da diversos tipos de efluentes.
crescente preocupação com os problemas
ambientais que possam ser causados através da Atualmente, várias tecnologias vêm sendo
toxicidade de seus efluentes, bem como do desenvolvidas visando a redução significativa de
surgimento de novas leis e resoluções óleos e graxas (O&G) da água de produção.
ambientais mais restritivas, procura enquadrar-se Entre elas pode-se citar filtração em leito
dentro destas novas exigências. Um dos pontos absorvente, adsorção em carvão ativo, bio-
cruciais a serem atacados é a questão da água oxidação entre outros, porém, estas tecnologias
de produção, que é um subproduto da extração em geral, ainda não são viáveis tanto do ponto
do petróleo, a qual vem aumentando de vista técnico quanto econômico para o
gradativamente seu volume à medida que os tratamento da água em plataforma, devido às
poços vão envelhecendo e que novos poços são limitações de espaço físico e peso desses
perfurados (Campos et al, 2005). equipamentos, dificuldade de execução de obras
no ambiente marítimo e também tempo de
Durante a vida econômica de um poço de residência destas águas em plataformas, que,
petróleo, a geração de água de produção pode em geral, não excede de 15 minutos (Gabardo,
chegar a exceder em dez vezes o volume de 2007).
produção do óleo (Vieira, 2003), pois constituem
1.1.Eletrofloculação (EF)
um efluente complexo, de salinidade elevada,
cuja composição pode variar dependendo do tipo A eletrofloculação é um processo que
de campo e de sua idade, da sua origem e da envolve a geração de coagulantes “in situ” pela
qualidade do óleo (Rodrigues, 2007). dissolução de agentes floculadores in situ a partir
de eletrodos de ferro e alumínio, pela ação da
O descarte de efluentes de água de corrente elétrica aplicada a esses eletrodos. A
produção deve ser tratado de acordo com a geração de íons metálicos ocorre no anodo,
legislação ambiental. Na extração de petróleo, enquanto o gás hidrogênio surge no catodo
existe uma regulamentação específica (Figura 1).
relacionada à água de produção, bem como da
água de re-injeção. A Resolução impõe o 1.2. Tipos de reações envolvidas no processo de
tratamento de efluentes na extração em eletrofloculação
plataformas marítimas e conceitua a água de Segundo Mollah et al (2001), o
produção no Art 2º, I como “a água normalmente mecanismo da eletrofloculação é altamente
produzida junto com o petróleo” (CONAMA n° dependente da química do meio aquoso,
393/07), também denominada água de processo especialmente a condutividade. Além disso,
ou produzida. outras características, tais como, pH, tamanho da
partícula e concentração dos constituintes,
Atualmente, a utilização dos derivados de influenciam também o processo de
petróleo está tão inserida no dia-dia que sua eletrofloculação.
extinção agora, não só pelos automóveis que As reações do alumínio estão descritas a
não trafegariam, mas também pela utilização de seguir.
bens de consumo como canetas, camisas, pen 1.2.1. Reações do alumínio
drives, computadores etc., se tornaria inviável. Oxidação do Al sólido (reação anódica)
Isto demonstra o quão a sociedade é dependente Al → Al3+ (aq) + 3e− (1)
desta matéria-prima. Assim, a avaliação da Solvatação do cátion formado
eletrofloculação com corrente alternada no Al3+ (aq) + 6H2O → Al(H2O)63+ (2)
tratamento de efluentes proveniente de Formação do agente coagulante
plataformas off-shore possui grande relevância, Al(H2O)63+ → Al(OH)3 (s) + 3H+ + 3H2O (3)
para que seja desenvolvido um processo de Reações secundárias
nAl(OH)3 → Aln(OH)3n (s) (4)

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 34
Entretanto, dependendo do pH do meio
aquoso, outras espécies iônicas como Al(OH)2+, Al3+(aq) e íons OH- gerados pelo eletrodo
Al2(OH)24+ e Al(OH)4- também podem estar nas reações (1) e (5) reagem de modo a formar
presentes no sistema (Mollah et al., 2001). várias espécies monoméricas: espécies como o
Al(OH)2+, Al(OH)2+, Al2(OH)24+, Al(OH)4-, e
Pode-se notar que, pela Reação 4, vários espécies poliméricas como: Al6(OH)153+,
4+ 4+
complexos de alumínio podem ser formados em Al7(OH)17 , Al8(OH)20 , Al13O4(OH)247+,
meio aquoso, os quais conferem uma Al13(OH)345+, que se transformam em Al(OH)3, de
característica gelatinosa ao meio (Crespilho & acordo com a complexa precipitação cinética das
Rezende, 2004). reações (Gurses et al, 2002; Can et al, 2006;
Kobya et al, 2003; Bayramoglu et al, 2004).
Com o aumento do pH, as diferentes
formas de hidróxidos de alumínio, formadas A formação de diferentes espécies
durante o processo eletrolítico, tendem a ficar monoméricas e poliméricas também
solúveis (Chen et al, 2000), devido às reações de desempenha um importante papel no processo
complexação com íons OH-. Assim, uma parte do de eletrofloculação. Diversos mecanismos de
alumínio gerado e solúvel não participa das interações são possíveis entre as moléculas do
reações de coagulação e tende a ficar em efluente, a hidrólise depende do pH do meio e
solução, principalmente na forma de Al(OH)4-. Na dos tipos de íons presentes. Dois dos principais
hidrolise do Al3+, quando o pH >7,0, a formação mecanismos de interação estão sendo
dos complexos de hidróxidos de alumínio considerados como: precipitação e adsorção,
solúveis é favorecida (Crespilho & Rezende, cada uma delas proposta para uma faixa distinta
2004). de pH. Precipitação ocorre em pH baixo,
De acordo com Kim et al (2002) no caso enquanto que em pH superior (> 6,5) ocorre
de anodos Al, o principal mecanismo de adsorção (Can et al, 2006; Kobya et al, 2003;
coagulação a pH na faixa de 2 a 3 é por Gurses et al, 2002).
compressão da dupla camada. Quando o pH
inicial é de 4 a 9, a coagulação é realizada por Segundo Mollah et al (2004), estes
adsorção, ou neutralização das cargas. compostos hidróxidos, poli-hidróxidos e poli-
As espécies químicas dominantes são também hidroximetálicos possuem forte afinidade pelas
diferentes de acordo com o pH inicial; AI3+ e AI partículas dispersas, bem como os íons que
(OH)2+ são predominantes em pH 2 a 3, e causam a coagulação. Os gases que são
quando o pH é em 4 a 9 espécies poliméricas formados nos eletrodos são responsáveis pela
tais como Al13O4(OH)247+, são formadas e flotação do material coagulado. A
precipitadas como AI(OH)3(s). Quando o valor de eletrofloculação é um processo que está
pH é superior a 10, a presença de ânions intrinsecamente associada com a eletroflotação
monoméricos, AI(OH)4- é aumentada, enquanto de vez que bolhas de hidrogênio e oxigênio são
que a de AI(OH)3(s) é diminuída. produzidas no ânodo e cátodo, respectivamente.
O êxito do processo de eletrofloculação é
As complexidades inerentes aos determinado pelo tamanho das bolhas, bem
processos de eletrofloculação, e também a como pelo contato das bolhas com o efluente.
presença de processos secundários, como por Acredita-se que as pequenas bolhas
exemplo a hidrólise da água (equação 5), tornam proporcionam maior área de contato entre a
bastante complexa sua natureza (Kobya et al, superfície das partículas no efluente, resultando
2003). em uma melhor eficiência do processo.

3H2O + 3e → 3/2H2 + 3OH-(catodo) (5) Uma das maiores vantagens da EF é a


remoção de O&G. Isso ocorre devido à facilidade
Entretanto, se o potencial no anodo é de coagulação e flotação desses compostos
suficientemente alto, também podem ocorrer (Silva, 2002). Como conseqüências da interação
reações secundárias, tais como, oxidação de dessas moléculas com o hidróxido de alumínio,
compostos orgânicos pelos íons Cl- presentes formam-se partículas neutras, cuja densidade é
nos efluentes (Vlyssides et al, 1999). bem menor do que a da água, as quais são
carreadas para a superfície do líquido. Além
2Cl- → Cl2 + 2e (6) disso, a EF requer equipamentos simples e de

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 35
fácil operação, em que potencial aplicado e a Parte Experimental
corrente podem ser medidos e controlados de
maneira automatizada; 2.1. Procedimentos
Neste capítulo, encontram-se descritas as
Devido a estas vantagens, o processo de etapas de desenvolvimento experimental.
EF tem sido muito investigado, visando à
otimização do processo.
2.1.1. Unidade de bancada de corrente contínua
Nos últimos anos, o interesse em torno da
eletrofloculação vem crescendo muito, A unidade de bancada é composta por
principalmente no que diz respeito à sua uma fonte de corrente contínua, um
simplicidade de operação e aplicação em transformador isolador que tem a finalidade de
diversos tipos de efluentes. Entretanto o número separar a rede elétrica alimentadora primária da
reduzido de estações de tratamento em etapa de retificação/conversão secundária, um
funcionamento, especialmente no Brasil, torna-se indicador de leitura de corrente, um indicador de
um obstáculo à sua disseminação. leitura de tensão. Estes dois últimos destinam-se
a orientar o operador quanto aos parâmetros
1.3. Tecnologia de eletrofloculação com corrente aplicados à pequena colméia de eletrodos.
alternada de frequência variável
A Figura 2 consiste em uma célula
Os reatores eletrolíticos atualmente eletrolítica de vidro com capacidade de 1 L sob
disponíveis funcionam com uma fonte elétrica de agitação magnética, na qual é inserido
corrente contínua. Neste trabalho, foi utilizada a verticalmente um eletrodo (monopolar) do tipo
tecnologia de eletrofloculação utilizando corrente colméia, construído com 7 placas de alumínio
alternada, que consiste na alteração da onda intercaladas. Estas placas possuem dimensões
eletromagnética de corrente alternada de 60 de 10 cm de altura e 5 cm de largura (com
Hertz comercializada pelas concessionárias de espessura de 3 mm) e separadas por
energia, em uma onda com tensão variável e espaçadores de 0,5 cm de espessura cada.
freqüencia maior que 4 Hz até 40 Hertz.
2.2. Unidade de bancada de corrente alternada
A tecnologia de conversão utilizada A corrente alternada de tensão inferior a
simula a formação de corrente contínua, porém 15 V e frequência variável entre 4 e 40 Hz, foram
com características de alternada. Esta corrente obtidas a partir de um conversor CA/CA onde o
alternada é gerada reconstituindo-se a forma de potencial de entrada em 60 Hz é retificado, e
senóide da corrente elétrica de entrada, em um novamente oscilado para se obter um potencial
sistema de conversão com controle vetorial, onde também em corrente alternada, porém, nos
será gerado um pulso controlado com o tempo níveis desejados.
de formação (período) ajustado por uma base de
tempo programável através de um sistema de A Figura 3 apresenta o diagrama do
microprocessadores. Este sistema induz o equipamento de CA onde, temos inicialmente um
sistema de disparo de um oscilador a formar uma transformador abaixador que reduz a tensão de
nova forma de onda e que tem um tempo de entrada em corrente alternada de 60 Hz,
permanência de crista grande o suficiente para adequando aos níveis de tensão necessários
haver condução em uma dada polaridade. para a retificação.
O objetivo deste trabalho é avaliar a Na etapa de retificação, o potencial é
utilização da técnica de eletrofloculação com transformado em corrente contínua, em seguida
corrente alternada de frequência variável em a nova corrente em CC, é tratada no módulo
relação ao sistema convencional de corrente oscilador que converte em pulsos com largura
contínua para o tratamento de efluentes de controlada e que formarão a nova forma de onda
águas de produção da indústria do petróleo. (CA), com período ajustado por nível de tensão
que poderá variar entre 4 e 40 Hz dependendo
do nível de realimentação (referência)
proveniente do controlador de carga.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 36
Desta forma, tem-se uma forma de onda 2.4. Ensaios de Eletrofloculação
semi-senoidal onde o período varia em função da
carga buscando assim, obter-se o melhor O procedimento experimental consistiu de
rendimento em níveis de potência ativa. ensaios de eletrofloculação em corrente
alternada e corrente contínua realizados em
A Figura 4 consiste em uma célula reatores de batelada utilizando eletrodos de
eletrolítica contendo um reator de vidro com alumínio em células eletrolíticas.
capacidade de 1L, na qual é inserido
verticalmente o eletrodo do tipo colméia, Após adição do efluente na célula
construído com sete placas de alumínio eletrolítica, o sistema foi mantido sob agitação
intercaladas de 10 cm de altura, 5 cm de largura constante por meio de agitador magnético.
e 1,5 mm de espessura cada. As placas foram
separadas por espaçadores (com 0,5 cm de Depois de transcorrido o intervalo de
espessura cada), o que permitia variar-se a tempo pré-determinado de eletrólise, aguardava-
distância entre os eletrodos. se 30 minutos para que ocorresse a flotação
completa do efluente eletrofloculado, e dessa
2.3. Preparo do efluente sintético contendo óleo forma, através de um dispositivo na parte inferior,
cru o efluente tratado era transferido para um outro
recipiente onde eram retiradas as amostras
Para o preparo da emulsão óleo em água
(alíquotas) para análise.
(O/A), foram utilizadas duas soluções salinas
distintas (sintética e natural – água do mar).
2.4.1 Parâmetros analisados
Amostras dos efluentes bruto e
A água do mar foi recolhida em Praia eletrofloculado foram analisadas para se avaliar
Seca (Região dos Lagos, RJ). a eficiência do processo. Os parâmetros
analisados foram: condutividade, pH, turbidez,
Assim que recebido, o óleo cru utilizado cor e óleos e graxas.
neste trabalho foi previamente acidificado com
H2SO4 concentrado a pH ≤ 2 e preservado em Resultados e Conclusões
refrigeração a T ≤ 4 0C.
Para a realização deste estudo, foram
Simulação do efluente contendo emulsão (O/A).
utilizados efluentes reais de água de produção,
a) Emulsão O/A a partir da solução salina efluentes simulados oleosos em água salina
sintética: sintética e na água do mar. Foi utilizada uma
900mL de água destilada salinizada com solução salina a 35.000 mg/L, pois, a mesma é a
NaCl (35.000 mg/L) foram transferidos a um media de salinidade de água do mar (Fonseca,
becher (1000 mL) contendo 0,9 g de óleo cru e 2001).
200 mg/L dos emulsificantes (50% SP 60 e 50% A Tabela 1 apresenta os resultados de
TW 60) A emulsão O/A foi então obtida após caracterização dos três efluentes em diferentes
agitação mecânica vigorosa de meios aquosos (água de produção, água salina
aproximadamente 10.000 rpm por 20 minutos. A sintética e água do mar).
caracterização da emulsão foi feita por medida
de condutividade, pH, turbidez, cor e TOG. As diferenças observadas nas medidas
de condutividade, pH, cor e turbidez na água de
b) Emulsão O/A a partir da água do mar produção, no efluente simulado na água salina e
900mL de água do mar foram transferidos no efluente simulado na água do mar, podem ser
a um becher (1000 mL) contendo 0,9 g de óleo creditadas aos tipos de sais dissolvidos e suas
cru e 200 mg/L dos emulsificantes (50% SP 60 e concentrações encontrados na água do mar e na
50%TW 60). A emulsão O/A foi então obtida água de produção.
após agitação mecânica vigorosa de
3.1. Resultados preliminares
aproximadamente de 10.000 rpm por 20 minutos.
Estes testes, de caráter meramente
A caracterização da emulsão foi feita por medida
exploratório, foram realizados com o objetivo de
de condutividade, pH, turbidez, cor e TOG.
se conhecer um pouco o efluente de forma a dar
início à investigação sistemática dos efeitos
estudados. Inicialmente, foram realizados

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 37
experimentos com a finalidade de se determinar
o melhor material do eletrodo e verificar o efeito
da intensidade de corrente aplicada (A) e tempo
de eletrólise na remoção de carga orgânica do
efluente em estudo.

3.2. Seleção do material do eletrodo


A montagem do eletrodo é o elemento
central do tratamento. Assim, a seleção
adequada dos seus materiais é muito importante.
Os materiais mais comuns do eletrodo para
eletrofloculação são alumínio e ferro, de vez que
são de baixo custo, facilmente disponíveis e de
grande eficácia. Figura 5- Comparação da eficiência do
tratamento entre eletrodo de alumínio e eletrodo
de ferro. Condições: efluente real de água de
Foi conseguido um pequeno volume de produção contendo: O&G = 190 (mg/L), turbidez
amostra de efluente de água de produção do = 810 (NTU), cor = 1,442 (Abs.), condutividade =
Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES), 123,4 (mS/cm) e pH = 6,27. Ensaios realizados
sendo que esta amostra foi utilizada para se utilizando eletrofloculação com corrente contínua
determinar qual o melhor material do eletrodo com 5 min. de eletrólise, intensidade de corrente
para a realização dos testes com este efluente. = 5A e distância entre eletrodos = 0,5 cm.
Assim, foram testados eletrodos de ferro e de
alumínio e determinada a eficiência de remoção
dos seguintes parâmetros: O&G, cor e turbidez.

A Figura 5 e 6 compara a eficiência do


tratamento para estes dois tipos de eletrodos,
mais de 98% dos poluentes foram retirados das
águas residuais com uma concentração inicial de
óleos e graxas de 190 mg/L. O efluente com
Bruto
eletrodos de alumínio foi mais estável e mais Fe Al
clarificado e, enquanto o efluente com eletrodos
de ferro apareceu primeiro com cor esverdeada
e, logo após filtração, ficou amarelo e turvo. A cor
verde é proveniente de Fe (II). O Fe (II) é o íon Figura 6: comparação entre eletrodo de alumínio
comum gerado in situ da eletrólise de ferro. Tem e eletrodo de ferro após eletrólise de água de
relativamente alta solubilidade em meio ácido ou produção.
pH neutro e pode ser oxidado facilmente em Fe
(III) pelo oxigênio dissolvido na água.
3.3. Variação de tempo de eletrofloculação
utilizando corrente alternada
Assim, o eletrodo de alumínio é melhor do
que eletrodo de ferro para o presente trabalho. Os primeiros ensaios de EF com corrente
Por conseguinte, todos os experimentos alternada foram feitos utilizando 900 mL do
subsequentes foram realizados com eletrodos de efluente sintético em água salina contendo 1 g de
alumínio utilizando efluentes simulados. óleo cru, 200 mg/L de emulsificante e 35 g de
NaCl sem modificação de pH (pHinicial = 6,5). A
intensidade de corrente aplicada foi de 6 A e com
variação do tempo de eletrólise de 5, 10 e 15
minutos com o intuito de se observar a evolução
do processo. Vide Tabela 2.
A eficiência de remoção de turbidez
depende diretamente da concentração de íons

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 38
produzidos pelos eletrodos. Quando se aumenta obtenção de resultados satisfatórios.
o tempo de operação, ocorre um aumento na
concentração de íons e os seus flocos de O consumo de massa de eletrodo e
hidróxido. Entretanto, foi observado que, após 5 energia elétrica para os testes utilizando 5A e
minutos de eletrofloculação, já se obtém elevada 10A com 5 minutos de eletrólise em CA foi de
remoção de turbidez não necessitando de 0,15g/L e 0,31g/L respectivamente. A energia
tempos maiores de eletrólise. elétrica consumida foi de 0,0003 kWh/L e 0,0009
kWh/L respectivamente. A frequência foi de 26 e
Além disso, observa-se um aumento do 31 Hz respectivamente.
pH durante o tratamento do efluente, o qual pode
ser atribuído ao consumo de H+ decorrente da Como foi observado, com intensidade de
formação de hidrogênio no catodo proveniente corrente com 5A na CA, já se tem alta eficiência
da eletrólise da água. Este resultado é esperado de remoção de poluentes, não necessitando de
já que a eletrofloculação produz íons OH-. intensidades de corrente maiores, o que
significaria maior consumo de energia e maior
O consumo teórico do eletrodo para os desgaste do eletrodo.
testes utilizando 6A com 5, 10 e 15 minutos de
eletrólise foi de 0,18 g/L, 0,37 g/L e 0,56 g/L 3.5. Ensaios preliminares utilizando corrente
respectivamente. A energia elétrica consumida contínua
foi de 0,0004 kWh/L, 0,0009 kWh/L e 0,0013 Os resultados dos ensaios são mostrados
kWh/L respectivamente. A frequência obtida do na Tabela 4.
equipamento foi de 27 Hz. Em corrente contínua, a massa de
eletrodo consumida de 5 e 10A foi de 0,15g/L e
3.4. Variação da intensidade de corrente 0,31g/L respectivamente e a energia elétrica
Como os resultados anteriores foram consumida foi de 0,0006 kWh/L e 0,0015 kWh/L
satisfatórios, tentou-se otimizar a EF variando-se respectivamente.
a intensidade de corrente: 5 e 10 A. Nestes Como foi observado, com intensidade de
ensaios, foram realizados testes com tempo de corrente de 5A na CC, já se obtém alta eficiência
eletrólise de 5 minutos em pHi 6,5. Os resultados de remoção de poluentes, não necessitando de
apresentados na Tabela 5 demonstram que intensidades de corrente maiores. A Figura 7
ocorreu uma ótima remoção de cor, turbidez e demonstra a evolução do tratamento com CA e
O&G. CC.
A Tabela 3 apresenta os resultados
obtidos através da variação da intensidade de
corrente com corrente alternada.
O aumento da intensidade de corrente
aumenta a geração de hidrogênio e oxigênio
formados na superfície do eletrodo. Isto leva para
um aumento do número de bolhas de gás dentro
3
da célula eletrolítica. Por conseguinte, a etapa de Bruto 1 2 4
ligação entre as bolhas de gás e as gotas de óleo
é aumentada. Entretanto, ainda com o aumento
na corrente além do valor ideal, aumenta
excessivamente o número de bolhas geradas.
Figura 7 – Efluente bruto, 1) eletrofloculado com
De acordo com os resultados, fica CA e 5A; 2) CA e 10A; 3) CC e 5A; 4) CC e 10A.
evidente que, aumentando a intensidade de
corrente de 5A para 10A, a remoção de
poluentes também aumenta. Ao aumentar à Com o objetivo de se aproximar do
corrente, o fluxo de bolhas é aumentado, e por efluente real, foram feitos testes com efluente
sua vez, a probabilidade de colisão é maior. Ao simulado com água do mar. Os ensaios foram
mesmo tempo, a concentração da dissolução do feitos com CA e CC, o efluente sintético com
ânodo de íons metálicos também aumenta. Em água do mar (900mL), contendo 0.9 g de óleo cru
valores elevados de corrente, o consumo de e 200 mg/L de emulsificante.
eletrodos é elevado. Assim, a corrente na faixa
de 5A desempenha um papel importante na O ensaio foi realizado com modificação

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 39
do pHi para 6,5, com a intenção de se reproduzir
a condição do pH inicial dos ensaios anteriores.
O abaixamento do pH foi realizado utilizando-se
H2SO4 1N. Os resultados dos ensaios são
mostrados na Tabela 5.

A massa de eletrodo consumida foi de Bruto 1 2


0,15g/L e o consumo de energia foi de 0,0003
kWh/L. A frequência obtida foi de 25Hz.

O resultado dos ensaios com corrente


contínua com efluente simulado com água do
Figura 8: Efluente bruto, 1) CA e pHi 6,5 e 2) CC
mar são mostrados na Tabela 6.
e pHi 6,5. Tempo de eletrolise de 5 min. e
intensidade de corrente de 5A para todos os
A massa de eletrodo consumida em
ensaios.
corrente contínua foi de 0,15 g/L e o consumo de
energia foi de 0,0006 kWh/L.
O pH da solução, que inicialmente foi de
6,5, aumentou após os testes com água salina
A alta condutividade do meio favorece o
sintética até o fim da eletrólise, enquanto que nos
processo de eletrolise, reduzindo a tensão
ensaios com água do mar, o pH diminuiu. De
aplicada aos eletrodos necessária para se obter
acordo com Santos e colaboradores (2004),
correntes elevadas. O mesmo é confirmado nos
quando a camada de depósito no catodo se torna
ensaios realizados neste trabalho.
significativa tem-se a diminuição do pH da
Segundo Otenio e colaboradores (2008),
solução em função de que o material depositado
o pH e a condutividade são grandezas sempre
diminui a liberação da hidroxila aumentando a
associadas, pois a condutividade é diretamente
concentração de ácido clorídrico na solução.
proporcional à ionização de substancias
Queiroz (1996) propõe um conjunto de
dissolvidas no liquido. A ação da eletrólise tem
reações prováveis de acontecer a partir da
também uma estreita relação com a
eletrolise de efluente de alta salinidade.
condutividade e, consequentemente, com o pH,
Equações (7 a 9).
quanto maior a condutividade maior a
transmissão de corrente.
EF(CC)
Como se observa na Figura 8, os
2NaCl + H2O Cl2 + NaOH + H2O (7)
resultados de eficiência de remoção de poluentes
Cl2 + H2O HCl + HClO (8)
são bem parecidos, demonstrando a eficiência
NaOH + HCl H2O + NaCl (9)
das duas tecnologias. Nas amostras 1 e 2, a
eficiência de remoção foi elevada, mostrando
De acordo com Queiroz (1996), o ácido
uma pequena melhora de remoção em O&G e
clorídrico formado, por sua vez, deveria ser
uma maior clarificação para a amostra 1.
totalmente neutralizado pelo hidróxido de sódio
formado no momento da geração de Cl2, através
Durante todas as eletrólises foi observada
da eletrólise. A presença de outros cátions, no
a deposição de uma camada de material
entanto, pode neutralizar parte do hidróxido de
esbranquiçado sobre os catodos, sendo que na
sódio gerado, levando a alterações no pH. Este
água do mar o efeito foi aumentado. Esta
fato explica a constatação prática da queda do
camada foi menor no sistema de eletrólise de
pH do meio contendo impurezas durante a
corrente alternada, possivelmente devido ao
eletrólise, ao contrario do que ocorre num
sistema realizar trocas sucessivas de polaridade
processo de geração de cloro em uma solução
por segundo, numa média de 28 Hz, de acordo
de cloreto de sódio puro, quando o pH sobe,
com os resultados anteriores. Esta camada
ocorrendo desprendimento de H2 acumulando-se
também foi observada por Queiroz (1996),
OH- no meio.
utilizando eletrodos de titânio em corrente
O objetivo principal deste trabalho foi avaliar
contínua no tratamento da água de produção,
algumas condições experimentais que possam
sendo este depósito caracterizado como
vir a ser empregadas na prática para o
hidróxidos e carbonatos de sais presentes no
tratamento eletroquímico de compostos
meio.
poluentes presentes em água de produção.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 40
Os resultados obtidos permitem visualizar a Purification Technology 19, p.65-76,
redução de O&G, cor e turbidez para diferentes 2000.
tempos de eletrólise e intensidade de corrente 5. CONAMA, Conselho Nacional do Meio
aplicados nos ensaios. Nas condições do Ambiente. Resolução no 357/05 e no
experimento, a intensidade de corrente de 5A e 393/07.
tempo de 5 minutos revelaram ser a mais 6. CRESPILHO, F. N.; SANTANA, C. G.;
indicada para remoção. REZENDE, M. O. O., Tratamento de
efluente de indústria de
No presente trabalho, pôde-se confirmar que processamento de coco utilizando
o processo de tratamento de eletrofloculação eletroflotação. Química Nova, n. 27, v. 2,
com corrente alternada através do efluente 2004.
simulado de água de produção parece ser 7. FONSECA, M. R. M., Completamente
aplicável com resultados satisfatórios, tanto para Química, Físico–Química, Ed. FTD, São
lançamento em corpo receptor, como para a Paulo, 2001.
utilização da água tratada para reinjeção em 8. GABARDO, I. T., Caracterização
poços de petróleo. química e toxicológica da água
produzida descartada em plataformas
De uma forma geral, os resultados confirmam de óleo e gás na costa brasileira e seu
o potencial da técnica, onde através de comportamento dispersivo no mar.
equipamentos simples, compactos e de baixo Tese (Doutorado) - UFRN, 250f Natal,
custo operacional, possam ser empregados na 2007.
descontaminação de compostos químicos. 9. GÜRSES, A.; YALÇIN, M.; DO AR, C.,
Electrocoagulation of some reactive
Embora a análise completa ainda esteja em dyes: a statistical investigation of
andamento, os resultados parciais desse some electrochemical variables, Waste
trabalho apontam para a viabilidade técnica do Management, Vol 22, n. 5, P. 491-499,
processo. Objetiva-se trabalhar com variação de 2002.
outros parâmetros do processo tais como: 10. KIM, T. H.; PARK; C.; SHIN, E.B.; KIM,
distância entre eletrodos, tempo, pH, intensidade S., Decolorization of disperse and
de corrente e variação de frequência. reactive dyes by continuous
electrocoagulation process,
Desalination, 150, p. 165-175, 2002.
Referências 11. KOBYA, M.; CAN, O. T.; BAYRAMOGLU,
M., Treatment of textile wastewater by
1. BAYRAMOGLU, M.; KOBYA, M.; CAN, O. electrocoagulation usig iron and
T.; SOZBIR, M., Operating cost analysis aluminum electrodes, Journal of
of electrocoagulation of textile dye Hazardous Materials B100, 163-178.
wastewater, Separation and purification 2003.
Technology, v. 37, p. 117-125, 2004. 12. MARIANO, J. B., Impactos ambientais
2. CAMPOS, A. L. O.; RABELO, T. S.; do refino de petróleo, Editora
SANTOS, R. O.; MELO, R. F. L. V., Interciência, Rio de janeiro, 2005.
Produção mais limpa na indústria do 13. MOLLAH, M.Y.A.; SCHENNACH, R.;
petróleo: o caso da água produzida no PARGA, J. R.; COCKE, D. L.,
campo de carmópolis. 23o Congresso Electrocoagulation (EC): science and
Brasileiro de Engenharia Sanitária e applications, Journal of Hazardous
Ambiental (ABES), 2005. Materials, v. 84, p. 29-41, 2001.
3. CAN, O. T.; KOBYA, M.; DEMIRBAS, E.; 14. MOLLAH, M. Y. A.; MORKOWSKY, P.;
BAYRAMOGLU, M., Treatment of the GOMES, J. A. G.; KESMEZ, M.; PARGA,
textile wastewater by combined J.; COCKE, D. L., Fundamentals,
electrocoagulation, Chemosphere, v. 62, present and future perspectives of
p. 181-187, 2006. electrocoagulation, Journal of
4. CHEN, X.; CHEN, G.; YUE, P. L., Hazardous Materials, B114, p. 199-210,
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restaurant wastewater 15. OTENIO, M. H.; PANCHONI, L. C.;
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Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 41
BIDÓIA, E. D., Avaliação de escala eletroquímica. 30 Congresso Brasileiro
laboratorial da utilização do processo de P&D em Petróleo e Gás, Salvador,
eletrolítico no tratamento de águas. bahia, 2005.
Química Nova, Vol. 31, n. 3, p. 508-513, 19. SILVA, A. L. C. Processo eletrolítico:
2008. Uma alternativa para o tratamento de
16. QUEIROZ, M. S.; SOUZA, A. D.; ABREU, águas residuárias. Dissertação de
E. S.; GOMES, N. T.; NETO, O. A. A., Especialização em Química Ambiental,
Aplicação do processo eletrolítico ao Universidade do Estado do Rio de
tratamento de água de produção, Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2002.
DITER/ SEBIO – CEMPES, n. 08, 1996. 20. VIEIRA, D. S.; CAMMAROTA, M. C.;
17. RODRIGUES, J. R., Utilização de CAMPORESE, E. F. S., Redução de
copolímeros a base de estireno e contaminantes presentes na água de
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graxas presentes em efluentes Brasileira de P&D em petróleo e gás. Rio
aquosos. Dissertação de Mestrado, de janeiro, 2003.
Instituto Militar de Engenharia, Rio de 21. VLYSSIDES, A. G.; KARLIS, P. K.;
Janeiro, Brasil, 2007. ZORPAS, A. A., Electrochemical
18. SANTOS, A. C.; SILVA, S. R., oxidation of noncyanide strippers
TONHOLO, J.; ZANTA, C. L. P. S., wastes, Environment International, Vol.
Tratamento de água produzida de 25, n. 5, P. 663-670, 1999.
petróleo através da tecnologia

Corrente contínua
e- e-

Poluentes sobem para a superfície

Flotação H2O
Mn+ H2(g)

Poluentes
-
2 M(OH )
(cátions hidratados) OH-
Anodo Catodo
(oxidação) (redução)
Precipitado 4

Figura 1 – Diagrama esquemático de célula de eletrofloculação com dois eletrodos (Mollah et al., 2004

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 42
Célula eletrolítica de
vidro de 1L de
capacidade Maleta contendo a fonte
de CC e os
controladores de
amperagem e voltagem
Eletrodo monopolar do
tipo colméia

Figura 2: Unidade piloto de eletrofloculação com corrente contínua

Retificador Oscilador Controlador Reator


de carga
Entrada CA 60 Hz

Figura 3 – Diagrama esquemático experimental de CA

Maleta contendo
Célula eletrolítica de fonte de CA e os
vidro de 1L de controladores de
capacidade amperagem e
voltagem

Eletrodo monopolar
do tipo colméia

Figura 4 – Unidade piloto de eletrofloculação com corrente alternada

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 43
Tabela 1 – Parâmetros obtidos durante a realização do efluente real e sintético em diferentes meios
aquosos

Parâmetro Água de produção Água salinaa Água do mar


Cor (Absorbância) 1,44 4,9 6,9
Turbidez (NTU) 810 4900 5090
pH 6,27 6,5 7,9
Condutividade (mS/cm) 123,4 72,70 47,70
O&G (mg/L) 190 690 690
a: água salina: 35.000 ppm de NaCl

Tabela 2 – Resultados obtidos após variação do tempo de EF com corrente alternada

Eletrofloculado
Parâmetro Efluente simulado
5 min 10 min 15 min
Turbidez 4900 9,7 8,5 8,77
pH 6,5 8,0 8,5 8,8
condições: concentração salina: 35.000 mg/L de NaCl; i = 6A.

Tabela 3 – Resultados obtidos variando-se a intensidade de corrente utilizando corrente alternada.

Eletrofloculado
Parâmetro Efluente simulado
5A 10A
O&G (mg/L) 690 20 10

Cor (Abs.) 4,9 0,038 0,031

Turbidez (NTU) 4900 16,2 8,6

pH 6,5 8,1 8,5

Condutividade (mS/cm) 72,7 68,15 68,85


Condições: concentração salina: 35.000 mg/L de NaCl e tempo 5 min.

Tabela 4 - Resultados obtidos variando-se a intensidade de corrente utilizando corrente contínua

Eletrofloculado
Parâmetro Efluente simulado
5A 10A
O&G (mg/L) 690 15 10

Cor (abs) 4,9 0,041 0,031

Turbidez (NTU) 4900 11,4 8,39

pH 6,5 7,9 8,2

Condutividade (mS/cm) 72,7 68,80 70,25


Condições: concentração salina: 35.000 mg/L de NaCl e tempo 5 min.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 44
Tabela 5 - Ensaios realizados em corrente alternada com efluente simulado com água do mar.

Eletrofloculado com
Parâmetro Efluente simulado
corrente alternada

Turbidez (NTU) 5090 14,3


Cor (abs) 6,94 0,069
O&G (mg/L) 690 29
pH 7,9 4,6
Condutividade (mS/cm) 47,4 50,9
Condições: i = 5A e tempo de 5 min.

Tabela 6: Ensaios realizados em corrente contínua com água do mar.

Eletrofloculado com
Parâmetro Efluente simulado
corrente contínua
Turbidez (NTU) 5090 35
Cor (Abs) 6,94 0,129
O&G (mg/L) 690 40
pH 7,9 4,7
Condutividade (mS/cm) 47,4 51,7

Condições: i = 5A e t = 5 min.

Periódico Tchê Química. Vol. 7 - N. 13 – JAN/2010. Porto Alegre – RS. Brasil. Índice 45
GLICERINA: DE UM INCONVENIENTE SUBPRODUTO DO BIODIESEL A UMA
POSSÍVEL APLICAÇÃO COMO AGENTE FLOCULANE NO TRATAMENTO DE ÁGUA

GLYCERINE: FROM A INCONVINIENT BIODIESEL BY-PRODUCT TO A POSSIBLE


APPLICATION AS A FLOCCULANT IN WATER TREATMENT

GAUTO, Marcelo Antunes1; ROSA, Gilber Ricardo2


1
Colégio Dom Feliciano, Curso Técnico em Química, Avenida José Loureiro da Silva, 655, cep 94010-001,
Gravataí-RS, Brasil
* e-mail: gauto.marcelo@gmail.com
2
UFCSPA, Departamento de Ciências Básicas da Saúde, R. Sarmento Leite, 245, cep 90050-170 - Porto
Alegre - RS, Brasil
* e-mail: gilberr@ufcspa.edu.br
Received 25 June 2009; received in revised form 23 November 2009; accepted 15 December 2009

RESUMO

A glicerina é um subproduto obtido durante a fabricação de biodiesel, através da reação de


transesterificação de óleos vegetais. A previsão do excedente de glicerina nos próximos anos, em virtude do
aumento da produção do biodiesel no Brasil, tem gerado a discussão de novas aplicações para este
subproduto. Este artigo apresenta um estudo teórico sobre a possível síntese de um novo agente floculante, a
partir de glicerina semi-refinada e ácido p-nitrobenzóico na produção de um sal quaternário de amônio, a ser
utilizado no tratamento de água. São apresentadas e discutidas as reações que ocorreriam em tese durante a
síntese do floculante e os testes necessários para validação do produto.

Palavras-chave: glicerina, biodiesel, floculante

ABSTRACT

Glycerin is a by-product obtained during the biodiesel manufacture, through the transesterification
reaction of vegetal oils. The prevision of excedent glycerine in the next few years, due to the increasing of the
biodiesel production in Brazil, has been generating a discussion about new applications to this by-product. This
article presents a theoretical study about the possible synthesis of a new flocculant agent, from semi-refined
glycerine and p-nitrobenzoic acid to produce a quaternary ammonium salt, to be used in water treatment. The
reactions which would occur during the synthesis of the flocculant agent and the necessary tests to the product
validation are presented.

Key-words: glycerine; biodiesel, flocculant agent

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Introdução uso da glicerina têm recebido o nome de
gliceroquímica. No presente trabalho será
apresentado um estudo teórico sobre a obtenção
Com a necessidade urgente de novas
de um agente floculante, de aplicação no
matrizes energéticas sustentáveis e de baixo
tratamento de água, derivado de glicerina.
impacto ambiental, a sociedade necessitou
desenvolver novas tecnologias a fim de utilizar
Produção do agente floculante
melhor a produção agrícola na conversão de
combustíveis (biocombustíveis). Dentre eles, o
A glicerina bruta resultante do biodiesel
biodiesel, apresenta-se como uma boa
passa por um processo de purificação com ácido
alternativa para a redução do emprego do
fosfórico para remoção de impurezas, tais como
petróleo como fonte energética. A principal rota
catalisador (geralmente derivados do sódio ou
de obtenção do biodiesel é a transesterificação
potássio), álcool, sabão, entre outras
de óleo vegetal com álcool (metanol ou etanol)
(GERVAJIO, 2005). Entretanto, parte do ácido
resultando numa mistura de ésteres formadores
utilizado é consumido por resíduos do
do biodiesel 3, 4 e 5 juntamente com glicerina 6
catalisador, havendo formação de sais de
como subproduto (Figura 1) (SANTOS et al.,
potássio ou sódio que elevam o consumo de
2003).
ácido (DE BONI, 2008). Assim, devido às
Os ésteres metílicos ou etílicos dos ácidos
impurezas já citadas anteriormente, é
graxos são usados como biocombustível e, para
conveniente utilizar a glicerina semi-refinada
cada 100 m3 de óleo vegetal processado por esta
para a obtenção do floculante. A glicerina semi-
rota, são obtidos aproximadamente 10 m3 de
refinada deve ser submetida à uma secagem
glicerina, também chamado glicerol (Methanol
prévia para facilitar a etapa de esterificação e
Institute and International Fuel Quality Center,
aumentar o seu rendimento. Para tal pode-se
2006).
utilizar a pervaporação (MATTOS e QUEIROZ,
No Brasil, a implantação da lei federal
1998) Com a glicerina semi-refinada, acidificada
11.097/05 em 2008, que regulamenta a utilização
e seca, proceder-se a reação de esterificação
do biodiesel, tornou obrigatória o acréscimo de
desta com ácido p-nitrobenzóico 7. A reação de
2% de biodiesel, no diesel comum (mistura
esterificação deverá ser conduzida a
chamada B2), aumentada para B3 em julho de
temperaturas acima de 100°C, já que nenhum
2009. De 2013 em diante, esta proporção
dos reagentes sofre decomposição ou ebulição
aumentará para 5% (BRASIL, 2005). Com isto,
nesta temperatura, mas seria possível vaporizar
haverá um aumento na produção de biodiesel e
a água produzida deslocando o equilíbrio para
conseqüentemente um aumento na oferta
formação de produtos. Além disso, manteria os
nacional de glicerina. A mistura de 2% de
produtos formados no estado líquido, evitando
biodiesel (B2) ao diesel resulta na oferta nacional
sua precipitação nesta etapa de reação (Figura
de 1 bilhão de litros/ano de biocombustível,
2).
acarretando na produção potencial de 126.000
Conduzindo a reação a baixas
toneladas de glicerina bruta (densidade da
conversões, espera-se que os produtos 10
glicerina 1.261kg/m³) por ano que deve ser
(SMITH, 1955), 11 (CROSSLEY, 1959) e 12
considerada como excedente de produção, visto
(VERKADE, 1963) não sejam produzidos ou
que o consumo nacional atinge
estejam presentes em concentrações
aproximadamente 15.000 ton/ano (ABIQUIM,
baixíssimas. Para a formação dos diésteres 11 e
2004). De mesma forma, o crescimento da
12 – objetivo maior do estudo - e do triéster 10
produção do biodiesel na Europa resultará num
será necessário um maior tempo reacional que
aumento da oferta global de glicerina bruta.
será otimizado em função do rendimento em 11 e
Tanto o aumento global na oferta internacional e
12. A produção de 10 não deve ser elevada dado
o nacional causarão a redução de seu preço no
o estéreo-impedimento gerado pela entrada do
mercado internacional, além de prejudicar a
terceiro grupo aromático.
cadeia nacional de produção de glicerina animal.
Os produtos 11 (CAS number 38875-81-
Assim, para que o Programa Brasileiro de
9) e 12 (CAS number 109845-62-7) são
Tecnologia e uso do biodiesel tenha pleno
separados da água por extração com acetato de
sucesso é imperativo que se encontre soluções
etila e, posteriormente, submetidos a uma etapa
economicamente viáveis para a glicerina
de redução do(s) grupo(s) nitro a amina. A
produzida, criando assim a cadeia da glicerina
redução de grupo nitro aromático é amplamente
vegetal. Estes estudos de possíveis rotas para

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estudada, sendo que muitos reagentes são perceba a formação de flocos. Se após dosagens
capazes de fazê-la (ALLINGER, 1976) Dentre muito altas do floculante ainda não haver
estes estão hidrogênio em presença de formação de flocos, pode ser sinal de que o
catalisador (Ni, Pt, Pd); ferro, estanho ou zinco produto sintetizado não é eficaz como coagulante
com ácido mineral; cloreto estanoso e cloreto de primário ou requer ajuste das condições de teste,
hidrogênio, entre outros. A redução catalítica e a como, por exemplo, realizar o aumento da
redução por cloreto estanoso são as mais alcalinidade do meio antes do teste.
comuns em laboratório, sendo que a primeira é A eficiência do agente floculante depende
muito eficiente quando se utiliza reator de vidro ainda da realização de testes mais avançados na
do tipo Fischer-Tropsch juntamente com água floculada, que depois de filtrada deve ser
alimentação constante de gás hidrogênio (WANG submetida aos ensaios de determinação de
et al, 2009). sólidos sedimentáveis, teor de sólidos
Assim, supondo que apenas os produtos suspensos, turbidez, DQO (demanda química de
11 e 12 estejam presentes nesta etapa, a oxigênio) e surfactantes (SILVA, 1999). Esses
redução do grupo nitro levaria a obtenção dos testes são aplicados também na água bruta a fim
produtos amino aromáticos 13 e 14 (Figura 3). de que se possa fazer uma comparação. Inclui-
O produto principal da etapa de redução se também no processo de certificação do
será o composto 13 (menor estéreo- produto uma análise de toxicidade aguda,
impedimento). Se a reação não for completa, sugerindo a utilização de populações do
podem-se ter produtos parcialmente reduzidos microcrustáceo Dophnia similis e do peixe
(Figura 4). Pimephales promelas de acordo com indicação
Como etapa final, proceder-se a encontrada na literatura (CRUZ, 2004).
acidificação parcial dos produtos obtidos na
redução (Figura 3) com ácido fosfórico de modo Conclusões
a protonar um grupo amino de 13 com intuito de
obter um sal de amônio quaternário (Figura 5). A busca por novas aplicações para a
A estrutura apresentada para o sal de glicerina tornou-se um assunto amplamente
amônio quaternário (Figura 5) não é a única difundido, ainda que pouco esclarecido, no meio
possível, pelo que já foi discutido muitas outras acadêmico e social desde que o Governo
estruturas podem estar presentes como produtos Brasileiro tornou obrigatória a adição de 2% de
das reações de transesterificação, levando a Biodiesel ao diesel convencional, o que levará a
formação de uma mistura complexa destes como um grande excedente de produção de glicerina,
produto final. Além disso, pode ocorrer principal subproduto da fabricação do
protonação total dos grupos aminos presentes no biocombustível. Assim, o presente artigo propôs
produto final. a rota sintética para produção de um floculante
(ou co-floculante) derivado de glicerina semi-
Testes do produto sintetizado refinada. Esses agentes floculantes têm grande
aplicação e elevado consumo, o que levaria a
A fim de verificar se o produto proposto uma excelente rota alternativa de aplicação da
será efetivo para realizar floculação como glicerina derivada de biocombustíveis, além das
floculante primário ou com associações a outros já existentes. Ainda assim, seria necessário um
floculantes (como sulfato de alumínio, por estudo completo de viabilidade técnica do
exemplo), faz-se necessário a execução do produto referente aos custos de síntese,
chamado “Teste de Jarros.” Este teste é efetuado instalação necessária (reatores, agitadores,
colocando-se 1L de amostra (água de rio, lago, torres de extração, etc), periculosidade,
riacho...) em uma bateria de 6 jarros com biodegradabilidade, entre outros fatores que não
dosagens crescentes do agente floculante foram abrangidos nesta discussão.
sintetizado (1, 2, 3, 4, 5 e 6mL, respectivamente) Por fim, o desafio na busca por novos
que estará na forma de uma solução aquosa a produtos derivados ou a base de glicerina devem
10% (m/V) previamente preparada (COHEN e ser grandes na próxima década e trabalhos como
HANNAH, 1975) este serão de extrema importância neste cenário
Caso não ocorra formação de flocos pós-biodiesel. Novos estudos estão em
nesta primeira bateria, realiza-se uma nova com andamento e muito ainda deve ser trilhado até
dosagens maiores do floculante (de 7 a 12mL, que se encontre novos consumidores para este
por exemplo) e assim sucessivamente até que se hidrato de carbono, chamado glicerina.

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Pág. 202-205, 1998.
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cromatográfica. Química Nova, 21(2)

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O

R1 O R1 OR4
3
O O
OH
R2 O R4 OH KOH R2 OR4
+ + HO OH
2 4
O O 6
O
R3 O
R3 OR4
1 5

biodiesel
Figura 1: Transesterificação de óleo vegetal para produção de biodiesel.

Ar Ar
HO OH O O
Ar O O
O O
HO O O
O
OH O
Ar Ar
O
8 9 10
HO OH Ar
OH OH
O Ar Ar
6 7 O O O OH
Ar O O O
OH O
Ar = NO2

Ar

11 12
Figura 2: Principais produtos da esterificação do glicerol com ácido p-nitrobenzóico

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NO2
NH2

O
SnCl2 / HCl O
O O
O O
OH O
OH O

O2N 13
11 H2N

NO2 NH2

HO O HO O
O O SnCl2 / HCl O
O O
O

NO2 NH2

12 14

Figura 3: Redução do grupo nitro a amino.

NO2 NH2

O
HO O O O
O O OH O
O

O2N

NH2
16
15

Figura 4: Possíveis produtos a serem obtidos pela redução parcial dos grupos nitro.

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R
NH3

H3PO4
R NH2 R NH3+PO4-3 PO4-3
13
NH3 H3N
NH2
R R

O
R= Sal de amônio quaternário
O O
OH O

Figura 5: Obtenção do sal de amônio quaternário partindo de 13.

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