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QUARTA CAPA
PRÓLOGO
-J ulia... Olhe para mim... - disse de repente uma voz vinda do nada.
Assustada, a moça arregalou os olhos e sentiu o coração disparar. O
homem sentado a sua frente a encarava, esperando que lhe
respondesse. Mas ela não ouvira a pergunta.
- Sra. Crawford? – chamou.
Julia olhou-o, assustada.
- Ouviu isso? – perguntou.
- Ouvir o quê?
- A voz. Chamando por mim, não ouviu?
Sem saber direito o que responder, Brian Carlson sorriu e suspirou:
- Talvez seja melhor deixarmos este assunto para amanhã. Seus dias não têm
sido fáceis, não é? Muita pressão nas empresas e agora este processo! Talvez seja
melhor descansar agora e continuamos pela manhã, o que acha?
Brian Carlson referia-se ao processo de reconhecimento de paternidade que
Lucas Mallone movia contra Julia. Scott era filho ilegítimo de Gerald, mas
jamais se aproximara do pai. Agora que os negócios prosperavam, resolvera
querer seu quinhão.
A mulher sacudiu ligeiramente a cabeça, como para colocar as idéias no lugar.
- Não – disse – continue, por favor. Devo ter me confundido.
- Tem certeza? – perguntou Brian admirando a incrível beleza de sua cliente.
Julia Crawford, nascida Julia Spade, estava com 32 anos. Tinha estatura média,
longos cabelos castanhos escuros, olhos verdes e um corpo de fazer inveja a
muita menina de 18. A boca era cheia e sensual, a maneira de olhar incrivelmente
sexy e a voz um pouco rouca, apenas o suficiente para fazer derreter qualquer
coração de pedra.
Mas a mulher era muito mais que bonita: era rica e poderosa. Muito poderosa.
Quando há dois anos o marido Gerald passou dessa para melhor, Julia herdou
não apenas casas e dinheiro. Herdou uma corporação farmacêutica inteira e mais
um bom número de outras empresas em ramos diversos espalhadas pelos quatro
cantos do mundo. Em um primeiro momento, os associados de Gerald temeram
pelo futuro do patrimônio. A moça era enfermeira e não possuía experiência
alguma em gestão de empresas, mas Julia mostrou em muito pouco tempo que
podia dar conta do recado. Inteligente, esperta e rápida de raciocínio, tomou as
rédeas das empresas e a elas se agarrou, acabando por tornar-se melhor
administradora que o falecido.
Dona de um afiado tino comercial, pouca ou nenhuma misericórdia com os
concorrentes ou com quem a desobedecia, passou de esposa de milionário à
mulher de negócios em meses e em tempo recorde uma aura se formou sobre seu
nome. Julia Crawford tornou-se sinônimo de administração bem sucedida. Foi
capa de várias revistas e sua foto e palavras estavam, invariavelmente, tanto nas
colunas sociais quanto nas de economia e negócios.
Julia, ao herdar as empresas do marido, tornara-se um sucesso tão espetacular
que matara, através de sua competência, qualquer suspeita que se pudesse ter
sobre ela.
Tudo começara há oito anos, quando outra mulher usava o título de senhora
Crawford: Rachel.
Rachel e Gerald foram casados por 20 anos. Ela era uma mulher dinâmica,
simpática e apaixonada por esportes. Adorava nadar, esquiar, cavalgar e tudo
mais que a mantivesse em ação. Porém mais do que isso, amava profundamente
ao marido, apesar da grande diferença de idade entre eles. Rachel era dez anos
mais nova que o companheiro.
Gerald tinha em Rachel a parceira ideal. Era bonita, excelente anfitriã, sabia
muito bem discernir quem era quem no mundo dos altos negócios e nunca,
jamais, o deixou embaraçado pelo quer que fosse. Resolvia todos os problemas
domésticos com maestria e quando Gerald chegava em casa após um longo dia
de trabalho, ou uma estafante viagem de negócios, lá estava ela sorrindo, pronta
para abraçá-lo e fazê-lo feliz. Talvez a única coisa que toldasse a dourada aura de
felicidade que os envolvia era o fato de Rachel ser estéril. Não havia qualquer
tipo de opção para eles que não fosse a adoção e nenhum dos dois era
simpatizante da idéia de criar uma criança que não fosse sua, portanto, com o
passar dos anos, aceitaram o fato e seguiram em frente. O assunto jamais era
lembrado e o casal tratava de se divertir e aproveitar a companhia um do outro o
máximo que era possível.
Tudo isso, no entanto, mudou quando, em 1995, Rachel sofreu uma queda
durante uma competição de esqui. Além das fraturas, os médicos encontraram
um problema em seus pulmões e a mulher, antes ativa e cheia de energia, tornou-
se com o passar do tempo uma pessoa apática entristecendo dia-a-dia. Após
longos meses no hospital voltou para casa, mas ainda requeria cuidados
constantes. Gerald, procurando lhe dar o melhor, contratou uma equipe de
enfermagem para assisti-la.
Entre os membros da equipe estava uma jovem enfermeira a quem Rachel se
afeiçoou enormemente: Julia Spade.
Naquela época a moça não lembrava em nada a poderosa mulher de negócios de
agora. Embora sua beleza fosse evidente, havia nela uma doçura e simplicidade
que hoje não eram mais visíveis.
Logo Rachel decidiu contratá-la em tempo integral e Julia juntou-se à família,
ocupando um espaçoso aposento na mansão Crawford, ao lado do quarto dos
patrões.
Conforme os meses se tornavam anos, a saúde de Rachel minguava e seu estado
de ânimo piorava a cada dia. Os médicos creditavam isso à depressão e as
prescrições se tornaram mais severas, com medicamentos fortíssimos que a
deixavam confusa e em nada a ajudavam.
Finalmente, cinco anos após o acidente, Rachel Crawford faleceu, vítima,
segundo o atestado de óbito de “problemas respiratórios”.
Gerald ficou arrasado. Mesmo Rachel estando doente, era ela sua grande parceira
na vida, sua confidente, sua amiga. A pessoa que ouvia pacientemente seus
problemas e lhe sugeria soluções simples e eficientes. Seus concorrentes nunca
souberam claro, mas muitas das jogadas de Gerald vieram das sugestões de
Rachel.
Julia preparou-se para mudar-se dali, uma vez que nada havia que a prendesse
àquela casa. Gerald, entretanto, lhe pediu que ficasse mais um tempo, até pelo
menos conseguir superar a perda da esposa.
Exatamente o que aconteceu ou como aconteceu, ninguém saberia dizer, mas o
fato é que pouco mais de um ano após a morte de Rachel, Gerald e Julia se
casaram.
À boca miúda as pessoas comentavam horrores acerca da união. Que a moça dera
um golpe, que Gerald estava ficando senil, que a dor pela morte de Rachel o
afetara. Toneladas de comentários maldosos brotaram instantaneamente e só
fizeram crescer a curiosidade sobre o casal.
Julia era trinta anos mais nova que o marido e muitos milhões de dólares mais
pobre que ele. Tinha a seu favor beleza e simpatia e contra ela toda uma legião de
pessoas que a olhava com desconfiança.
Usando sua infalível inteligência e capacidade de planejamento, a moça passou a
vestir-se melhor, a freqüentar caros cabeleireiros e joalheiros e quando se sentiu
pronta, passou a receber convidados em sua maravilhosa mansão. A desconfiança
inicial cedeu lugar à bajulação e ao interesse e ser convidado para um de seus
jantares passou a contar pontos para o status social. As fofocas foram esquecidas
e Julia passou de golpista e encantadora em questão de meses.
Gerald parecia encantado com tudo que a jovem esposa fazia e se lembrava-se
com saudades de Rachel, não deixava transparecer a ninguém. Bem ao contrário,
não se cansava de ressaltar as qualidades e a graciosidade da nova Sra. Crawford,
dizendo a quem quisesse ouvir que nunca havia sido tão feliz na vida.
Tudo era felicidade na vida deles, até que em meados de 2002, Gerald começou a
sentir-se mal.
Primeiro veio o cansaço, depois uma ligeira dificuldade para respirar. Por pressão
de Julia, consultou vários médicos, mas nenhum deles conseguiu encontrar nada
que pudesse explicar sua crescente indisposição. Gerald começou a gerenciar
seus negócios de casa, tentando assim aplacar as preocupações da jovem esposa
que se desdobrava em cuidados e carinhos. E então, algum meses após o início
dos sintomas, quando jantavam com amigos, Gerald caiu duro na frente dos
convidados, vitima de um enfarte fulminante.
Uma tragédia, sem dúvida, mas nada que pudesse levantar suspeitas de quem
quer que fosse. Julia, assumiu seu papel no comando das empresas e como dito
anteriormente, saiu-se melhor que o esperado.
***
Julia acordou sobressaltada, sentindo que havia alguém a seu lado. Assustada
acendeu a luz e olhou em volta.
Nada.
Apenas o silencio e a tranqüilidade da madrugada.
“O que deu em mim? Nunca fui disso!” – perguntou-se aborrecida, voltando a
deitar.
Estava em um estado de semi-consciência, quase adormecida, quando sentiu as
cobertas se moverem como se fossem puxadas para baixo muito lentamente.
Com o coração acelerado e a respiração entrecortada, fechou os olhos o mais
forte que conseguiu e procurou se acalmar. Vinda do nada uma voz que, apesar
de conhecida não conseguia identificar, disse:
- Por que vai fazer isso comigo, Julia?
Juntando todas as forças apesar do pavor que sentia, sentou-se e acendeu a luz.
Não havia ninguém ali e as cobertas estavam exatamente onde deveriam estar.
Suando frio, fez o sinal da cruz e rezou, pedindo que aquilo passasse.
As orações, entretanto, não a acalmaram e ela passou o resto da noite sentada na
cama, luzes acesas, praticamente sem dormir.
SOBRE A AUTORA:
Obras Infanto-Juvenis:
Tristin McKey e o Mistério do Dragão Dourado - Elizabeth Carrol
Tristin McKey e a Sala dos Rumores - Elizabeth Carrol.
E-books:
Coração Cigano – Laura Lyas
Indaí – Laura Lyas
As Andorinhas de Paris – Laura Lyas
A Serpente entre as Flores – Laura Lyas