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Saudação aos Novos Discordianos

Por Hare Marvin

Muito bem, então você agora é um Discordiano. Já passou por todos os estágios e
rituais necessários, até já raspou metade dos cabelos e deixou a outra metade intacta (pra
que exatamente você foi fazer isso?) e agora seu título oficial é Papa. Você esfrega as mãos,
satisfeito. “Vamos começar!”, pensa.

E depois? Qual o caminho que você segue, para melhor servir à Deusa? Quem sabe
ganhar muita grana e umas minas/uns carinhas no processo? Ou mesmo se for só pela
segunda opção (Eris adora esse último caso, dizem)?

Tem gente que segue logo ao pé da letra, e começa a “discordar” de tudo. Meio que
confundem Discórdia com Discordância (se é que existe alguma diferença). Bom, se você
consegue discordar mantendo o respeito pela opinião do outro (nem que seja pra rir sozinho
mais tarde), salientando-se que “manter o respeito” significa também enfiar a mão nas fuças
do sujeito se ele começar a querer crescer demais, então este pode ser um caminho bem
iluminador.

É só lembrar: o que sempre moveu o mundo foi a insatisfação com O Que Estava Por
Aí. Duvido que os outros homens das cavernas não tiraram um puta sarro do troglodita
magrelinho – aquele que ficava escondido num canto da caverna a maior parte do tempo e
nunca saía pra caçar, pra não atrapalhar os outros – quando este apareceu com aquela tal de
“roda”. Se ele fosse acreditar no que os outros rosnavam, se concordasse com eles que era
impossível existir uma solução tão simples para o problema do transporte de carne de
mamute ou sei lá do quê, nada teria mudado.

Portanto, se você é capaz de separar Discordância/Discórdia de Desrespeito, vai nessa.


Se por outro lado você já parte pra porrada logo que alguém te contraria, sei lá, vai fundo
do mesmo jeito. Na pior das hipóteses, o “sistema” acaba te pegando.

É a Lei do Equilíbrio Caos/Ordem (chamada pelos estudiosos menos sérios do


discordianismo, ou seja, nóis tudo, de LECO): demonstrações MUITO grandes de Caos
geram respostas violentas de Ordem, e vice-versa. Às vezes é até divertido, pra falar a
verdade. Pelo menos pra quem assiste.

Ou talvez você siga a linha mais caótica, imprevisível e porra-louca. Muitas das coisas
que vêm de você, seja por palavras ou ações, são totalmente inesperadas mesmo por quem
te conhece há tempos. Você muda de idéia com a mesma freqüência que muda as estações
de rádio dentro do carro durante um engarrafamento – isso quando não larga o carro lá no
meio e vai embora a pé. Em casa, sua mãe pensava que havia tido trigêmeos e por algum
motivo apagara o fato da memória... E que seus filhos fingiam ser um só porque queriam
deixá-la louca pra botar as mãos na herança.
É um bom caminho? Se você consultar a sua Pineal, aposto que a Deusa vai dizer
LÓGICO QUE É! Bom, sei lá, quando eu perguntei, ela pareceu entusiasmada. Eris sempre
adorou uma confusãozinha saudável. E mantendo-se assim, sempre em mutação, além de
não se tornar uma figura cansativa, você mantém sua mente sempre exercitando-se e, com
um pouco de sorte, evoluindo.

Por outro lado, claro que a tal Lei funciona aqui também, e se você começar a ficar
MUITO imprevisível, pode acabar passando uma boa temporada num hotel tão
aconchegante que todos os hóspedes ganham, já na entrada, um agasalho maneiro e um
quarto todo acolchoado. Às vezes, até rola uma massagem relaxante, que te deixa BEM
calminho e com belas marcas roxas por todo o corpo. Tirando a parte da massagem, pode
ser exatamente aquilo que você estava procurando para meditar em paz. Aliás, se mesmo
com a concussão der pra meditar, nem precisa tirar. Portanto, não hesite em seguir esse
caminho se for a sua praia, pode ser bem recompensador.

Tem também o sujeito que vira Discordiano porque se desencantou com a religião de
onde vinha, e fica comparando as duas. Pode até ser que, de início, essa pessoa (doravante
conhecida como Você) esteja tentando “comparar as grades”, pra provar que o
Discordianismo é melhor do que qualquer que fosse sua filosofia anterior. Eu digo que, se
isso é importante pra você, vai fundo. É um bom começo. E você provavelmente vai acabar
se convencendo rapidinho do que já sabia, mesmo. Se se converteu ao Discordianismo, é
porque já o achava melhor, e qualquer prova, por menor que seja, vai te servir. E eu não tou
criticando, isso é um bom começo, como já foi dito, e em pouco tempo você vai acabar
percebendo como essa discussão é irrelevante, de qualquer forma. Mas é um ritual de
passagem.

E esse caminho parece que costuma levar mais rápido à aceitação do conceito de
“grades”, que eu citei agora há pouco e do qual eu particularmente sou fã incondicional. Se
você ainda não conhece, vá ler o Principia, pô! Tá tudo lá, preto no azul com bolinhas
vermelhas... Bom, as cores podem variar dependendo do que você tiver tomado.

De qualquer forma, chega um momento, que pra você talvez até já tenha passado (e
nesse caso você pode até vir a concordar comigo), em que a gente se dá conta de que
afirmar “o Discordianismo está Certo e as outras, Erradas” é exatamente como dizer que
uma grade é mais Verdadeira que outra. E que se for pra se tornar um fanático, o
Discordianismo talvez não seja a melhor opção.

Bom, claro que você pode mandar tudo à merda e virar mesmo um Discordiano
fanático. Vai ser meio esquisito, pois fanatismo costuma combinar com Ordem, e uma hora
a pessoa desiste ou do fanatismo, ou do Caos. Se você conseguir atingir um equilíbrio entre
os dois, o que deve ser bem difícil, e continuar sendo um Discordiano fanático,
provavelmente merece louvor, nem que seja pelo esforço.

Ou você é do tipo que não leva nada a sério, e tá nessa só pela gozação? Esse negócio
de Discordianismo é tudo uma piada, no fim das contas, certo? Quer dizer, você não
acredita DE VERDADE que Eris se comunica com você pela sua Pineal, acredita? Qual é,
pessoal, essa mulher não existe, vai me dizer que vocês acham que sim?
Bom, nesse ponto o Erisianismo leva uma enorme vantagem sobre grande parte das
religiões por aí. Porque, Eris existindo ou não, ela não se importa se você acredita ou não
nela. Você não vai pro inferno se não acreditar. Se Ela existir mesmo (e eu, como bom
discípulo, não afirmo nem nego nada), vai se dar por muito satisfeita se você acreditar na
filosofia dela. Em outras palavras, seja você um Discordiano que tá nessa apenas porque
achou a filosofia bacana ou um que realmente tem fé na Deusa e segue seus ensinamentos,
pra Ela é a mesma coisa.

E mesmo se você só APARENTA seguir a filosofia Discordiana, mesmo que lá no


fundo nem acredite nela, se você é um Discordiano por pura gozação, ainda assim estará
gerando Caos suficiente pra deixar a Deusa satisfeita. Mesmo se ela não existir.

Claro, isso é só o começo. Esses são apenas alguns tipos básicos de Discordianos. E
você ainda pode misturar cada um desses com um dos ou todos os outros (sem falar nos
tipos básicos que eu nem citei), na proporção que quiser, criando infinitas possibilidades. E
isso, aos olhos da Deusa, é Bom. Pois seja qual for seu caminho, você estará contribuindo
para deixar o mundo um pouquinho mais caótico, ou seja, menos chato. Bom trabalho!

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