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Marcelo Maciel Martins

Comentários sobre o 
Bem de Família no 
Código Civil e na Lei 

8.009/90

1ª edição
ii

Rio de Janeiro
Edição do Autor
2008

Comentários sobre o Bem de


Família no Código Civil e na
Lei n° 8.009/90
iii

MARCELO MACIEL MARTINS


ADVOGADO

Comentários sobre o Bem de


Família no Código Civil e na
Lei n° 8.009/90

1ª EDIÇÃO
iv

RIO DE JANEIRO
EDIÇÃO DO AUTOR
2008

Copyright © by Marcelo Maciel Martins

Produção Editorial
Marcelo Maciel Martins

É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou


processo, inclusive quanto às características gráficas e/ou
editoriais. A violação de direitos autorais constitui crime *Código
Penal, art. 184, §§, e Lei n° 6.895, de 17/12/1980, sujeitando-
se a busca e apreensão e indenizações diversas (Lei n°
9.610/98).

CIP – Brasil. Catalogação-na-fonte


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

MARTINS. Marcelo Maciel.


Comentários do Bem de Família no Código Civil e na Lei n°
8.009/90. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008.
60p. ; 14 cm x 21cm

ISBN 978-85-907605-6-6

1. Código Civil. 2 – Bem de Família. 3 – Lei n° 8.009/90. 4 -


impenhorabilidade. 5 – Inalienabilidade.
CDU -34
v

Todos os direitos desta edição estão reservados à


Marcelo Maciel Martins
macielmartins.adv@gmail.com / macielmartins@ig.com.br
(21) 7811-9528 / (21) 9316-1272 / (21) 3555-3409

Impresso no Brasil
Printed in Brazil
NOTA INTRODUTÓRIA

Este trabalho nasceu em virtude de um concurso


público que prestei para professor substituto junto a
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFrRJ),
onde obtive, com muita honra, a terceira colocação. O
tema da prova didática de aula versava sobre o
Código Civil e o Direito Patrimonial da Família. Foi um
desafio, pois, a docência sempre esteve ao meu
redor, desde a vida acadêmica, entretanto, só fui
despertado para esta encantadora seara através dos
conselhos dados pela querida professora de Didática
de Ensino Superior, Profª. Jane Rangel e pelo
Professor, amigo e irmão Dr. Valter Corrêa Luiz, que
me prestou inúmeros incentivos para que
vi

enveredasse nas cristalinas e enriquecedoras águas


da Docência. Tive a oportunidade de conhecer o
ilustre Prof. Dr. Afrânio Faustino de Paula Filho, a qual
também dedico esta obra.

OBRAS DO AUTOR

A Exceção de Pré-executividade no Sistema Processual Civil Brasileiro.


Rio de Janeiro : Edição do Autor, 2007.

Os Contratos pela Internet sob a Ótica da Legislação Brasileira. Rio de


Janeiro : Edição do Autor, 2007.

A Posse e suas Aplicações nas Ações Possessórias e Petitórias. Rio de


Janeiro : Edição do Autor, 2008.

O Princípio da Função Social dos Contratos no Direito Societário. Rio de


Janeiro : Edição do Autor, 2007.

As Disposições da Lei n° 11.232/2005 se Aplicam às Execuções de


Prestação alimentícia. . Rio de Janeiro : Edição do Autor, 2007.

A Sucessão do Cônjuge em Concorrência com os Descendentes do


Falecido, de Acordo com o Código de 2002. Rio de Janeiro : Edição do
Autor, 2007.
vii

SUMÁRIO

Nota Introdutória, v

1. Introdução, 9

2. A Origem da Família, 12

3. O Direito a Moradia sob a égide da Constituição

Federal de 1988, 17

4. Bem de Família, 19

4.1. Generalidades, 19

4.2. O Bem de Família no Direito Brasileiro:


Dualidade de Regimes, 22

4.3. A Natureza Jurídica do Bem de Família, 24

4.4. O Bem de Família Convencional (art. 1.711 a


1.722 do CC/02), 25

4.4.1. Noções Conceituais, 25

4.4.2. Extensão da Proteção, 28


viii

4.4.3. Exceções à Impenhorabilidade do Bem


de Família Voluntário, 30

4.4.4. Legitimação para a Instituição do Bem


de Família Convencional, 32

4.4.5. Duração, 34

4.4.6. A Solvência do Instituidor, 36

4.4.7. O Ministério Público e o Bem de


Família, 37

4.5. O Bem de Família Legal (Lei n° 8.009/90),38

4.5.1. Noções Conceituais, 38

4.5.2. Alargamento do Objeto, 41

4.5.3. Constitucionalidade, 43

4.5.4. Características, 45

4.5.5. Exceções à Regra da Impenhorabilida-


de do Bem de Família Legal, 46

4.5.6. Retroatividade, 50

4.5.7. Alegação no Processo, 51

5. Considerações Finais, 54

6. Referências Bibliográficas, 58
9

1. Introdução

O presente trabalho se

apresenta com um objeto inovador, onde procura

demonstrar a dualidade de regimes vigentes de que

tratam o instituto denominado Bem de Família, tanto

pelo enfoque civilista quanto pela legislação especial.

Por sua vez, o principal papel,

quanto ao seu objetivo, é dar uma maior clareza

quanto às particularidades existentes e divergentes

nos dois regimes que regem o mesmo instituto.

O trabalho se inicia com a

origem da família e sua formação, demonstrando o

seu importante papel na formação social como sendo

a célula-mãe da sociedade.
10

Em seguida, será realizada uma

investigação histórica sobre o instituto do Bem de

Família, procurando demonstrar o motivo do seu

surgimento, e sua reprodução em diversos

ordenamentos jurídicos, que só ocorreu no Brasil,

após a edição do Código de Beviláqua, por intermédio

de Projeto de Lei.

Contudo, o trabalho visa buscar,

de forma concisa e obedecendo ao raciocínio jurídico,

o posicionamento dos regimes em vigor apontando

suas benesses, dificuldades e limitações.

Vale dizer que também serão

discutidos posicionamentos doutrinários a cerca do

tema, bem como possíveis esclarecimentos quanto

sua aplicabilidade.

Ademais, será debatido a

importância do tema para a subsistência da pessoa

humana e sua repercussão na norma constitucional,


11

demonstrando assim, que a Lei n° 8.009/90, de que

trata a impenhorabilidade do bem de família legal,

encontra-se em completa sintonia com a Lei Máxima.

E, por fim, verifica-se que o

tema é intrigante e requer máxima atenção pelos

operadores do Direito, por se tratar de matéria de

essência constitucional, e de extrema importância

para a manutenção e a continuidade no

desenvolvimento da célula-mãe na sociedade, i.e., a

família.
12

2. A Origem da Família

Derivado do latim família, de

famel (escravo, doméstico)1, é geralmente tido, visto

pelo enfoque stricto, como a sociedade conjugal.

Assim, a família se compreende na pessoa dos

cônjuges e de sua prole, sendo constituído do

casamento.

Entretanto em sentido lato,

segundo Clóvis Beviláqua, família significa conjunto

de pessoas ligadas pelo vínculo da consangüinidade,

pois, descendem de um mesmo tronco ancestral

comum, ou seja, provinda do mesmo sangue.

1
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 13ª ed. Rio de Janeiro :
Forense, 1997, p. 347.
13

Pelo enfoque constitucional, mais

amplo, confunde-se com a expressão “entidade

familiar”.

Assim, é na comunhão familiar

onde se computam todos os integrantes de uma

mesma família, mesmo daquelas que se estabeleçam

pelos filhos, após a morte dos pais.

Com a tecnologia dada pelo

Código Civil, família é sintetizada como sendo a

“sociedade conjugal”, atendida no seu caráter de

legitimidade, que a distingue de todas as demais

relações jurídicas deste gênero.

Portanto, compreende na

reunião de pessoas, ligadas entre si pelo vínculo de

consangüinidade, de afinidade ou parentesco,

verificando os limites determinados pela Lei.

Pelo aspecto social, ao falarmos

na origem da família, estaríamos adentrando em uma


14

seara de grande complexidade, pois, a família por ser

considerado um instituto pra uns, ou até mesmo uma

instituição, para outros, é vista de diversos ângulos, o

que acarreta a formação de conceitos distorcidos e

equivocados.

A família, portanto, como alguns

acreditam, seria uma instituição falida, e

conseqüentemente, desacreditada por todos.

Entretanto, muitos ainda acreditam nesta instituição,

que na sua essência, representaria a célula-mãe de

uma sociedade.

Contudo, quando se procura

desconstituir uma sociedade, abalar seus alicerces, o

primeiro ponto a ser vislumbrado é a família, por ser

ela a base da moral e da ética da sociedade, pois, é

através dos seus indivíduos e/ou integrantes que a

própria sociedade é constituída.


15

Quando somos incitados a

refletir em qual o momento a família teve a sua

primeira formação social desenhada, nos reportamos

ao dilema que questiona: “quem nasceu primeiro, o

ovo ou a galinha?”.

Assim, não teríamos outro marco

para a formação da família a não ser pela união de

Adão e Eva, no Jardim do Éden, onde se formou a

primeira família e lar conjugal2.

A partir desse momento,

podemos então visualizar a família como sendo a

constituição do homem com uma mulher, em um local

denominado como lar, com o intuito de celebrar uma

união afetiva e marital, com objetivos conjuntos e

futuros de constituir uma prole e nela se firmar para

2
Livro de Gênesis 1:27-28. Assim Deus criou o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; macho e fêmea o criou. Deus os abençoou e
lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra, e sujeitai-a.
Dominai sobre os peixes do mar, sobre todas as aves dos céus e sobre
todos os animais que se arrastam sobre a terra.
16

que se alcance, a maturidade civil e

conseqüentemente sua independência.

Ademais, percebe-se que é na

manutenção da família que veremos continuidade da

descendência humana, e se essa descendência não

adquirir, no caminho, um mínimo de dignidade para a

sua sobrevivência, i.e., um lar, então, estaremos

enfadados a extinção da raça humana, pois, haverá

muitos ricos e poucos pobres, ou até mesmo nenhum,

o que afetará toda a dinâmica, desenvolvimento,

equilíbrio e a estrutura de uma sociedade.


17

3. O Direito a Moradia sob a égide da


Constituição Federal de 1988

A Carta Magna de 1988, em seu

artigo 5°, inciso XXII, diz que a todos que estão sob a

égide desta lei lhe serão garantido o direito de

propriedade, ou seja, o direito de possuir um lar. Na

Declaração Universal dos Direitos do Homem de

1948, menciona o mesmo direito no seu artigo 17,

demonstrando, assim, a grande importância que o

tema representa.

Entretanto, não necessariamente

o cidadão deve somente possuir uma propriedade,

mas para que ele possa ter o seu direito garantido é

necessário que ele atenda a sua função social, dando-

lhe a sua real destinação, que é a moradia, conforme


18

preconiza o artigo 5°, inciso XXIII, da Constituição

Federal, sob pena de não exercer o seu direito.

É bem certo que, como já disse

em outro trabalho desenvolvido3, o princípio da

função social não poderá autorizar a supressão,

mesmo que pela via Legislativa, a instituição da

propriedade privada.

Ademais, verifica-se que a

propriedade privada pode servir de fundamento para

uma socialização para algum tipo de propriedade,

onde precisamente isso se torne efetivo para a

realização do princípio da função social, que se coloca

acima de todo e qualquer interesse individual.

Assim, o direito de propriedade

não poderá ser mais visto como sendo um direito

individual, pois tende a propiciar a todos o mesmo

direito, o direito de moradia.


3
MARTINS, Marcelo Maciel. A Posse e suas Aplicações nas Ações
Possessórias e Petitórias. 1 ed. Rio de Janeiro : Edição do Autor,
2007, p. 18-19.
19

4. Bem de Família

4.1. Generalidades

Em nosso ordenamento jurídico,

como na maioria dos demais países, não admite a

responsabilidade pessoal das dívidas de um devedor.

O que se faz, nestes casos, é a vinculação do seu

patrimônio a tais dívidas. Daí, em nosso caso, o

surgimento do Princípio da Responsabilidade

Patrimonial, que se encontra epigrafada no artigo 591

do Código de Processo Civil4.

Contudo, em tal

responsabilidade, o devedor poderá excluir alguns

bens das referidas dívidas, ou seja, poderá livrá-los

4
Código de Processo Civil. Art.591. O devedor responde, para o
cumprimento de suas obrigações com todos os seus bens presentes e
futuros, salvos restrições estabelecidas em lei.
20

de futura constrição. Tais benesses se encontram nos

artigos 648 e 649 do Código de Processo Civil, que

trata da impenhorabilidade absoluta e relativa;

artigos 1.711 a 1.722 do Código Civil, que trata da

impenhorabilidade e inalienabilidade do bem de

família e a Lei n° 8.009/90, que trata da

impenhorabilidade do bem de família.

O instituto bem de família foi

profundamente descortinado na República do Texas,

em 1839. República, porque, até então, o Estado do

Texas não havia ainda se agregado aos Estados

Unidos da América. Como o Texas era uma terra

inóspita e completamente vazia e sem vida, os seus

governantes resolveram a implantar o Homestead

Exception Act.

O Homestead Exeption Act foi a

primeira vez que o instituto do bem de família era

discutido no seu ínterim, pois, se buscava, acima de


21

tudo fixar o homem a terra, mais precisamente em

seu imóvel, para que, conseqüentemente, o Estado

pudesse se desenvolver economicamente e assumir

seu papel ao lado dos demais estados americanos.

O Homestead garantia ao

homem que se fixasse na terra, a sua permanência

no local escolhido, resguardando-o de qualquer tipo

de crise econômica, bem como de qualquer tipo de

infortúnio que viesse a sofrer em seu lar.

Assim, com o passar dos anos o

Homestead Exeption Act ficou conhecido como sendo

um ato que não possuía dívidas.

A partir desse momento outros

países passaram a incorporar o instituto do bem de

família em seus ordenamentos pátrios, tais como:

Portugal, França, México, Venezuela, Argentina e etc.


22

Vale lembrar que nem nas

Ordenações Filipinas5, nem o Projeto do Código Civil

de 1916, desenvolvido por Clóvis Beviláqua, foi

idealizado o instituto do bem de família, mesmo já

tendo sido amplamente discutido no século XIX nos

Estados Unidos.

4.2. O Bem de Família no Direito Brasileiro:


Dualidades de Regime

Atualmente, em nosso

ordenamento, há a vigência de dois regimes que

disciplinam a mesma matéria que envolve o Bem de

Família.

O Código Civil regula nos art.

1.711 a 1.722 o Bem de Família Convencional ou

Voluntário, que irá gerar a impenhorabilidade e a

5
Ordenamento Jurídico que foi empregado até a entrada em vigor do
Código Civil de 1916 de Clóvis Beviláqua.
23

inalienabilidade do bem instituído, como sendo o lar

familiar.

Já a Lei n° 8.009/90 irá regular

sobre o Bem de Família Legal, gerando somente a

impenhorabilidade do bem eleito com abrigo familiar.

Vale dizer que o fato da Lei n°

8.009/90 ter sido uma norma posta em vigor bem

após o Código Civil de 1916, e o Código Civil de 2002,

ter tratado do tema, sem revogar o dispositivo

especial, então entendemos que deverá ser aplicado o

brocado “LEX SPECIALIS DERROGATI LEX

GENERALLI”, ou seja, aquilo em que o Código Civil,

sendo lei geral, não se opuser a lei especial, poderá

ser aplicado de forma subsidiária, como meio de

preenchimento das lacunas que porventura possam

surgir em análise mais detalhada da Lei n° 8.009/90.


24

4.3. A Natureza Jurídica do Bem de Família

A natureza jurídica de qualquer

instituto seria, de maneira comparativa, como o

núcleo de uma célula, ou seja, a parte mais

importante da unidade, local este que dá a origem e a

constituição daquilo que se busca. Poderia-se também

dizer de forma mais simplória, que a natureza jurídica

seria a essência daquilo se busca, aquilo que se

investiga.

Assim, a natureza jurídica do

bem de família seria uma forma de afetação de um

determinado bem, dando a este determinado bem,

uma destinação especial, destinação esta como lar

familiar.

Em outras palavras, poderíamos

assim dizer que seria também a destinação do bem

que abriga a família, com o objetivo único de


25

resguardar o mínimo de dignidade de sobrevivência

da pessoa humana.

4.4. O Bem de Família Convencional (art.


1.711 a 1.722 do CC/02)

4.4.1. Noções Conceituais

Como já mencionado acima, o

instituto do Bem de Família não foi incluído no projeto

do Código Civil de 1916 do saudoso Clóvis Beviláqua,

até porque o instituto não era mencionado nas

Ordenações Filipinas, que vigorou até dezembro de

1915.

O Instituto Bem de Família só foi

incluído no Código Civil a posteriori por intermédio de

projetos de lei que foram modificando o Código ao

longo dos anos.


26

Quando incluído o instituto de

Bem de Família, assumiu o artigo 70 e 71 do Código

Civil de 1916, que dele se extraía o seguinte: era um

ato voluntário, que gerava a impenhorabilidade e a

inalienabilidade do bem imóvel, imóvel este que

deveria servir de moradia familiar e que vigorava até

a morte de seus instituidores ou até os filhos menores

completarem a maioridade civil.

Vale dizer que com a vigência da

Carta Magna de 1988, algumas modificações

afetaram o instituto, como p.ex., a mulher assumindo

posicionamento igualitário ao do homem “chefe de

família” e passando a integrar junto com este a

gerência do lar, tal como na destinação do Poder

Familiar, bem como na legitimação para a instituição

de um determinado bem como sendo Bem de Família.

Outra modificação veio com o

Código Civil de 2002, o instituto foi deslocado para


27

dentro do livro de Direito de Família, deixando assim,

de ser tratado diante de Juízo Cível, e sendo agora

tratado em Juízo de Família.

Outro aspecto de importante

relevância seria a forma de desconstituição da

impenhorabilidade e da inalienabilidade do Bem de

Família convencional, que só poderá ser vencida se o

próprio imóvel contrair dívidas de IPTU (Imposto

Predial e Territorial Urbano, imposto este de

competência do município), ITR (Imposto Territorial

Rural, imposto de competência da União) ou dívidas

oriundas de Condomínio.

Do inaugural artigo 1.711 que

discorre sobre o Bem de Família convencional,

conseguimos extrair o que ao imóvel instituído como

bem de família não poderá ser dado à outra finalidade

que não seja o de abrigo familiar; a alienação não

poderá ser feita sem o consentimento dos demais


28

integrantes, inclusive dos filhos; a instituição deverá

ser feita por instrumento público ou manifestação de

última vontade, i.e., o Testamento, devidamente

registrado no registro de imóvel competente, para

que produza os efeitos erga omnes; e que a fração do

patrimônio instituído como sendo bem de família não

poderá ser maior de 1/3 do patrimônio líquido do

instituidor, sob pena de se tornar ineficaz em relação

a parte excedente.

4.4.2. Extensão da Proteção

O bem instituído como bem de

família, registrado no registro de imóvel competente,

voluntariamente, além de produzir os efeitos da

inalienabilidade e da impenhorabilidade do próprio

imóvel, irá gerar os mesmos efeitos sobre os demais


29

bens que guarnecerem o imóvel, tais como móveis,

televisão, geladeira, etc.

Faz-se mister mencionar que

como o advento do Código Civil de 2002, o instituidor

do bem de família convencional passou a contar com

mais um benefício que seria a inclusão de uma

cláusula que venha a resguardar os valores

imobiliários, tais como: ações, títulos ao portador,

debêntures e dinheiro em espécie, desde que tais

valores venham a ser utilizados na manutenção e

conservação do bem instituído, bem como na

subsistência da família.
30

4.4.3. Exceções à Regra da


Impenhorabilidade do Bem de Família
Voluntário.

Quando mencionamos as

exceções à regra, dizemos que existem meios de

fazer vencer a impenhorabilidade e a inalienabilidade,

ou seja, tornar um bem que fora instituído com bem

de família penhorável ou alienável.

O artigo 1.715 do Código Civil de

2002, indica quais as possibilidades de se ter um

imóvel impenhorável penhorado, in verbis:

O bem de família é isento de execução por


dívidas posteriores à sua instituição, salvo as
que provierem de tributos relativos , ou de
despesas com condomínio. (grifo nosso)

Assim, verifica-se que o imóvel

instituído como bem de família poderá sofrer penhora,

nos casos da referida instituição ocorrer após a

contração de dívidas ou a pré-existência de credores


31

ou tributos relativos ao bem, tais como IPTU ou ITR,

este último para os imóveis classificados como rurais.

Nos casos de haverem a

realização da penhora, pelos motivos acima

explicitados, o valor arrecadado deverá quitar a dívida

e o saldo remanescente deverá ser aplicado na

compra de um imóvel de menor valor como sendo

bem de família, ou ainda, a devolução do saldo em

títulos da dívida pública6 ou outro critério aplicável

pelo magistrado.

Vale lembrar que o referido

disposto correspondia ao artigo 70 do Código de

Beviláqua.

Nos casos de falência e de

recuperações judiciais ou extrajudiciais, conforme

dispõe a Lei n° 11.101/2005 esclarece que os bens


6
Nos casos de títulos da dívida pública, os valores serão utilizados para
a subsistência da família, o que é um paradoxo, pois, bem sabemos,
que os referidos títulos são títulos que não possuem liquidez imediata,
por demorarem anos para serem pagos, salvo nos casos daqueles que
os negociam no mercado paralelo por valores infinitamente menores ao
seu real valor.
32

considerados absolutamente impenhoráveis não serão

objeto de arrecadação, corroborando com o disposto

da Lei de rito Civil.

4.4.4. Legitimação para a Instituição do


Bem de Família Convencional

Pelo Código de Beviláqua, a

instituição de um bem como sendo um Bem de

Família só poderia ser feito pelo chefe de família. Com

o advento do Constituição Federal de 1988, a mulher

tornou-se em condições de igualdades com o homem,

pelo princípio da igualdade, consignado no art. 5°,

inciso I.

Assim, a mulher também passou

a se um dos legitimados para instituir um bem como


33

sendo um bem de família, conforme se verifica no

artigo 1.711 do Código Civil7.

Importante se faz lembrar que

para a realização da referida instituição, tanto o

homem quanto a mulher não necessitaram da

outorga uxória ou a marital, respectivamente, pelo

fato de tal ato não se constituir de um gravame para

o bem, mais sim de um benefício que será alcançado

por todos os integrantes da entidade familiar.

Outro legitimado seria o terceiro

interessado em instituir o bem como sendo bem de

família, que pode ser realizado por ato inter vivos ou

causa mortis, que dependerá da aceitação expressa

de todos que serão alcançados pelo benefício,

conforme preceitua o artigo 1.711, parágrafo único e

artigo 1714, ambos do Código Civil.


7
Código Civil. Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar,
mediante escritura pública ou testamento (manifestação de última
vontade), destinar parte do seu patrimônio para instituir bem de família
, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao
tempo da instituição, mantidas as regras da impenhorabilidade do
imóvel residencial estabelecida em lei especial.
34

Deve-se lembrar que para os

novos legitimados não lhes foram isentados a

condição de registrar o ato no Registro de Imóveis

que na qual pertença o imóvel, para que possa

produzir os seus efeitos legais, i.e., erga omnes.

4.4.5. Duração

A duração da instituição do bem

de família sempre foi um problema para aqueles que

recorriam ao instituto, pois, nunca sabiam quando o

ato se encontrava verdadeiramente em vigor.

Para solucionar qualquer dúvida

vale dizer que a dissolução da sociedade conjugal,

seja ela por morte de um dos cônjuges ou por vida,

não tem poderes para extingui-la.

O que irá extinguir a instituição

feita a um bem de família será a morte de ambos os


35

cônjuges, ou ainda, quando na existência de filhos

menores, estes completarem a maioridade civil, salvo

quando não estejam amparados pelo instituto da

Curatela.

Quando a existência de filhos

maiores, porém incapazes, pela interdição sofrida, o

benefício da instituição do bem de família será

prorrogado até a cessação da interdição, se ela for

temporária, ou até a morte se ela for definitiva.

Nos casos em que houver a

dissolução da sociedade conjugal pela morte de um

dos cônjuges, o cônjuge supérstite poderá requerer, a

qualquer tempo, em juízo de família, a extinção da

referida instituição, onde o membro do parquet

deverá ser ouvido e participar do feito sob pela de

nulidade.

4.4.6. A Solvência do Instituidor do Bem de


Família
36

No momento que o instituidor do

bem de família resolver destinar aquele bem como

sendo abrigo familiar, não lhe é requerido nenhum

tipo de declaração ou comprovação do seu estado de

solvência, pois, ela é presumida.

Entretanto, se no momento da

instituição houver credores, tal instituição não

produzirá os seus efeitos para estes, isto é, contra

estes não prevalecerá à impenhorabilidade e a

inalienabilidade do referido imóvel, salvo nos casos de

futuras dívidas surgidas.

4.4.7. O Ministério Público e o Bem de


Família.
37

No Código Civil de 1916, o

Ministério Público não participava dos feitos que

envolvessem bens de família.

Entretanto, com o advento do

novo Código Civil, o membro do parquet passou a ser

convidado a participar na demanda que envolva tais

questionamentos.

O Ministério Público opinará,

como p.ex., em ações onde à parte autora requeira a

extinção da instituição feita a um determinado bem

de família, ou ainda, quando se requer a sub-rogação

de um bem de família por um outro bem.

Contudo, nas ações onde há a

presença de incapazes e manifestações de última

vontade que envolva bem de família, o Ministério

Público, não estará subjugado a estes casos, pois, já

participava do feito, antes mesmo da edição do


38

Código Civil de 2002, por se tratar de ações de estado

de pessoas.

É importante frisar que a não

participação do Ministério Público nos feitos que

envolvam bem de família, o referido processo será

levado à nulidade, conforme preceitua o artigo 246 do

Código de Processo Civil.

4.5. O Bem de Família Legal (Lei n°


8.009/90)

4.5.1. Noções Conceituais

A referida lei, que causou grande

repercussão na sua edição, foi originada por

intermédio da Medida Provisória n° 143/90.

O Bem de Família Legal é um

tipo de impenhorabilidade que independe o ato de

vontade do seu instituidor, pois, basta que se


39

preencha os requisitos da lei para ser alcançado pelas

benesses da lei.

O próprio artigo 1° da Lei n°

8.009/90 menciona que o imóvel de cunho

residencial, i.e. destinado ao abrigo familiar, não

poderá ser alcançado pela impenhorabilidade e por

dívidas, salvo exceções impostas pela Lei, conforme

disposições do artigo 3° e seus incisos do referido

diploma.

Assim, como é um ato

involuntário, pois, a contrario sensu estaríamos

amparado pela forma convencional do texto da Lei de

ritos Civis, o proprietário que possuir 2 (dois) imóveis

um de grande valor e outro de pequeno valor, a

impenhorabilidade recairá sobre o imóvel de menor

valor, mesmo se ele elegeu o imóvel de maior valor

para ser o seu abrigo familiar, tudo em observância

ao princípio da dignidade da pessoa humana, pois, ao


40

devedor lhe será dado o mínimo de dignidade possível

para sobreviver, por isso o escolha do imóvel de

menor valor.

Entretanto, para que o devedor

não caia nesta difícil situação, ele poderá se socorrer

da instituição do bem de família convencional,

epigrafado no Código Civil, instituindo, assim, o bem

de maior valor com sendo o bem de família, limitando

a instituição à fração de (1/3) um terço de todo o seu

patrimônio líquido, sob pena do excesso instituído se

tornar ineficaz.

Contudo, o Decreto-Lei n°

3.200/41 fomenta a possibilidade do devedor que

elegeu o bem de maior valor como sendo o seu lar

familiar, mesmo tendo outro bem de menor valor, tê-

lo como impenhorável, sendo, portanto, inatacável

por dívidas, resguardando as suas devidas exceções,


41

desde que haja residido pelo um período mínimo de 3

(três) anos.

4.5.2. Alargamento do Objeto

Com os efeitos da

impenhorabilidade gerada sob o bem imóvel, também

serão incluídos no rol de impenhoráveis as

construções, os maquinários, as plantações, os

equipamentos e todos os bens móveis que

guarnecerem a residência, desde quitados, conforme

o disposto no artigo 1° da Lei n° 8.009/90.

Para os bens que guarnecem a

residência poderíamos mencionar a televisão,

geladeira, ar-condicionado, linha telefônica,

computador doméstico, fogão, exaustor, freezer,

aparelho de som, máquina de lavar roupas e outros.


42

Porém, a Lei exclui da referida

impenhorabilidade alguns bens, quais sejam: os

veículos de transporte, as obras de artes e os adornos

suntuosos.

Vale lembrar que para todos os

bens classificados como impenhoráveis, havendo

duplicidade, o segundo será penhorado para garantir

a satisfação do crédito devido.

A Lei n° 11.382/06 que alterou o

artigo 649 do Código de Processo Civil impôs que aos

bens considerados impenhoráveis, sendo eles,

portanto, de grande valor, serão penhorados, como

por exemplo, uma TV LCD de 50 polegadas, mesmo

que só haja uma única televisão no lar, tudo em

atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Podemos destacar outros

exemplos de bens considerados como impenhoráveis

como p.ex., a posse de imóvel residencial, imóvel que


43

se encontra em fase de construção, pois, há a

presunção de que ele servirá de abrigo familiar e a

garagem de edifício, desde que ela não esteja

desvinculada do apartamento e assim registrada no

Registro de Imóveis, sob pena de sofrer a constrição.

4.5.3. Constitucionalidade

Não há qualquer irregularidade,

a nível constitucional, com a Lei n° 8.009/90, sendo

amplamente recepcionada pela a Carta Magna de

1988.

Com o advento da referida Lei,

muitos acreditavam que a norma viria não para

regulamentar uma questão social, mas para diminuir

a proteção do crédito, o que causou muito alvoroço,

principalmente diante daqueles que possuíam créditos


44

a receber, pois, viam no imóvel sua possível

satisfação do crédito.

O Bem de Família, para os

constitucionalistas, foi uma forma que o legislador

encontrou de dar a devida proteção à pessoa

humana, ou seja, o regular desenvolvimento da

família.

Analisando a sua natureza

jurídica, verifica-se que a Lei n° 8.009/90 é de

essência constitucional, pois, diversos princípios

foram utilizados para fundamentar seu nascimento e

sua aplicabilidade no mundo jurídico, tais como:

princípio da dignidade da pessoa humana, princípio da

solidariedade social, princípio da igualdade, dentre

outros.
45

4.5.4. Características

O bem de família convencional,

que se encontra regulado pelo Código Civil de 2002,

nos seus artigos 1.711 a 1.722, gera na sua

instituição a “impenhorabilidade” e a

“inalienabilidade” como forma de proteção do bem

destinado à proteção e abrigo familiar.

Já para o bem de família legal,

que se encontra regulado pelo dispositivo da Lei n°

8.009/90, os seus efeitos, pois, independem da ação

direta do seu instituidor, geram somente a

“impenhorabilidade”, se diferenciando do regime

regulado pelo Código Civil.


46

4.5.5. Exceções à regra da


Impenhorabilidade do Bem de Família
Legal

Quando se fala em exceção à

regra, dizemos que nos casos de bens considerados

como bem de família, haverá situações que

derrubarão a impenhorabilidade dada ao abrigo

destinado a família, senão vejamos.

O artigo 3° da Lei n° 8.009/90

relaciona em sete incisos, sete situações que quando

preenchida pelos requisitos necessários, vencem o

obstáculo da impenhorabilidade, permitindo ao credor

satisfazer o seu crédito no bem que fora destinado

como bem de família.

O primeiro inciso vence o

obstáculo da Lei quando há créditos trabalhistas e /ou

créditos de ordem previdenciária de empregados que

trabalharam no próprio imóvel tido como bem de

família.
47

No inciso segundo já é para os

casos de crédito de financiamento para a construção

ou a aquisição do próprio bem, que pela presunção

será destinado ao uso familiar.

Já no terceiro inciso envolve os

casos de pensão alimentícia. Nota-se que para as

pensões alimentícias indenizatórias, a

impenhorabilidade não será desconstituída, ou seja,

as pensões indenizatórias não terão força para

derrubar a impenhorabilidade dada ao imóvel.

Em seguida, no quarto inciso, é

a vez dos tributos gerados pelo próprio imóvel, tais

como: IPTU ou ITR, assim como as dívidas

decorrentes de despesas condominiais, matéria esta

completamente pacificada pelos Tribunais.

No inciso quinto são os casos de

execução de hipoteca que recai no próprio imóvel que

foi dado em garantia pelo próprio instituidor/devedor.


48

No sexto inciso, prevê os casos

de imóveis adquiridos com o produto oriundo de

crime ou nos casos de execução de sentença criminal

indenizatória.

E, por último, no inciso sétimo

prevê os casos de dívida em decorrência de fiança

oriundo de contrato de locação.

Este inciso foi muito discutido,

pois, em 25/04/2005, no Recurso Extraordinário de

n° 352.940-4/SP, que teve como Relator o Ministro

Carlos Veloso, afirmou a Corte Máxima que o inciso

VII do art. 3° da Lei n° 8.009/90, introduzido pela Lei

n° 8.245/91, não foi recepcionado pela Constituição

Federal, art. 6° da EC 26/00, senão vejamos a

ementa, in verbis:

Constitucional. Civil. Fiador: bem de família.


Imóvel residencial do casal ou da entidade
familiar. Impenhorabilidade. Lei n° 8.009/90,
49

arts. 1° e 3°. Lei n° 8.245/91, que


acrescentou o inciso VII, ao artigo 3°,
ressalvando a penhora por obrigação
decorrente de fiança concedida em contrato
de locação: sua não-recepção pelo art. 6°,
CF, com redação da EC 26/00. Aplicabilidade
do princípio isonômico e do princípio da
hermenêutica: ubi eadem ratio, ibi eadem
legis dispositio: onde existe a mesma razão
fundamental, prevalece à mesma regra de
direito. (STF, RE 352.940-4/SP, rel. Min.
Carlos Veloso, j. 25/04/2005).

Já no ano seguinte, a mesma

Corte mudou o seu entendimento a cerca do inciso

VII do artigo 3° da Lei n° 8.009/90, dando plena

legalidade ao referido disposto, conforme se vê no RE

407.688-8/SP, Ac. Plenário, rel. Min. Cézar Peluso, j.

08/02/2006.

Assim, em ambos os processos,

por não se tratar de controle de constitucionalidade

concentrado, as decisões não geram efeito erga


50

omnes, ou seja, para todos, permitindo que as

decisões de instâncias inferiores, não sejam

referendadas, decidindo de forma diversa da adotada

pelo Supremo Tribunal Federal.

4.5.6. Retroatividade.

A retroatividade também foi um

tema que gerou muita discussão, pois, diversos

processos de execução que se encontravam em

andamento no advento da Lei n° 8.009/90

procuraram se socorrer com as benesses oferecidas

pela norma, dificultando de forma significativa à

forma do credor satisfazer seus créditos.

Entretanto, as milhares ações

demandadas obrigaram os Tribunais a se

manifestarem sobre o tema, o que acarretou na

pacificação do instituto.
51

O Superior Tribunal de Justiça,

cristalizou o seu entendimento, a cerca do tema, no

verbete de Súmula de n° 205, que diz: “A Lei n°

8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua

vigência”.

Já o Tribunal Regional Federal da

4ª Região, também materializou o tema no verbete

de Súmula de n° 10, in verbis: “A impenhorabilidade

da Lei n° 8.009/90 alcança o bem que, anteriormente

ao seu advento, tiver sido objeto de constrição

judicial”.

4.5.7. Alegação no Processo

Como a Lei n° 8.009/90 é de

essência constitucional por prever o direito à moradia,

pelo princípio da dignidade da pessoa humana, sua

matéria de impenhorabilidade pode ser suscitada por


52

qualquer interessado e em qualquer fase processual

ou grau de jurisdição por se tratar de matéria de

ordem pública, não atacável pelos institutos da

decadência e prescrição.

A impenhorabilidade de bem de

família legal pode ser argüida por intermédio de

Embargos de Devedor/Execução, quando o título se

fundamentar em título executivo extrajudicial, por

intermédio de impugnação à Execução, quando o

título se lastrear em título executivo judicial ou por

meio de simples petição, por intermédio da Exceção

de Pré-executividade, onde sua decisão de ordem

favorável, ou seja, aquela que concede a remoção do

gravame sobre o bem, é atacável por Recurso de

Apelação, por ser considerada decisão de mérito, e a

decisão que indefere a remoção do gravame sobre o

bem é atacável por Agravo de Instrumento, por ser

considerado uma decisão interlocutória.


53

E por fim, vale lembrar que a

impenhorabilidade poderá ser reconhecida ex-officio

pelo magistrado, em qualquer fase processual,

mesmo que o devedor tenha dado o imóvel que serve

de abrigo familiar como garantia da dívida.


54

Considerações Finais

Com o objetivo de finalizar o

trabalho, verificou-se a necessidade de abordar

pontos considerados de extrema relevância para uma

maior e melhor fixação do tema.

Verificou-se que no ordenamento

pátrio não se admite a responsabilidade pessoal das

dívidas do devedor, somente a vinculação ao seu

patrimônio, conforme expõe o artigo 591 do Código

de Processo Civil.

No sistema brasileiro há a

vigência de dois regimes que regulam sobre o bem de

família, sendo um que se encontra no Código Civil de

2002, nos art. 1.711 a 1.722, conhecido como Bem

de Família Convencional, por ser convencionado pelo


55

interessado, e outro na Lei n° 8.009/90, conhecido

como Bem de Família Legal, por independer do ato

voluntário do seu instituidor.

No bem de família convencional,

os efeitos gerados, quais sejam, a impenhorabilidade

e a inalienabilidade, poderão ser desconstituídos se o

próprio imóvel contrair dívidas com tributos tais

como: IPTU e ITR.

Com o advento da Constituição

Federal de 1988 e o novo Código Civil, o bem de

família passou a ser tratado como matéria de Juízo

familiar e a mulher, bem como 3° (terceiro)

interessado passaram a ser os legitimados para

instituir um bem como sendo bem de família. Para a

mulher, não há a necessidade da outorga marital, por

se tratar de um benefício que alcançará toda a

entidade familiar e para o 3° interessado, haverá a

necessidade de que os beneficiários autorizem, de


56

forma expressa, tal instituição, sob pena de se tornar

ineficaz.

Fomentou-se também sobre a

participação do Ministério Público nos feitos que

envolvam os bens de família e sua necessidade de

atuação sob pena dos autos serem levados a

nulidade, conforme preconiza o artigo 246 do Código

de Processo Civil.

Já no bem de família legal, ou

seja, aquele instituído pela lei, que independe de ato

voluntário do seu instituidor, os seus efeitos gerados,

qual seja, a impenhorabilidade, poderão ser

desconstituídos conforme elenca o artigo 3° em seus

incisos, mesmo que o referido imóvel tenha sido

destinado ao abrigo familiar.

Quanto da retroatividade da Lei

na aplicação do bem de família em processos de

execução em andamento, também é matéria


57

pacificada, tanto que o STJ e o TRF da 4ª região já

materializaram seus entendimentos em seus verbetes

de Súmulas.

E, por fim, a impenhorabilidade

do bem de família por se tratar de matéria de ordem

pública poderá ser argüida em qualquer fase

processual ou qualquer grau de jurisdição, bem como

o magistrado poderá reconhecer ex-officio a

impenhorabilidade do bem imóvel, mesmo que o seu

instituidor / devedor o tenha dado como garantia.


58

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Vade Mecum Saraiva / Obra coletiva de autoria da

Editora Saraiva coma colaboração de Antônio Luiz de

Toledo Pint, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e

Lívia Céspedes. 2ª ed. atual. e ampl. São Paulo :

Saraiva, 2006.

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