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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

OS WEBLOGS COMO ELEMENTOS PROPULSORES


DO ALARGAMENTO DO CAMPO JORNALÍSTICO

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO

Leonardo Feltrin Foletto

Santa Maria, RS, Brasil


2007
OS WEBLOGS COMO ELEMENTOS PROPULSORES DO ALARGAMENTO

DO CAMPO JORNALÍSTICO

por

Leonardo Feltrin Foletto

Monografia apresentada ao Curso de Graduação Comunicação Social -


Habilitação Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,
RS) como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo

Orientadora: Prof. Drª. Luciana Pellin Mielniczuk

Santa Maria, RS, Brasil


2007
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Departamento de Ciências da Comunicação
Curso de Comunicação Social

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,


aprova a Monografia de Graduação

OS WEBLOGS COMO ELEMENTOS PROPULSORES DO


ALARGAMENTO DO CAMPO JORNALÍSTICO

elaborada por
Leonardo Feltrin Foletto

como requisito parcial para obtenção do grau de


Bacharel em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo

COMISÃO EXAMINADORA:

_______________________________________
Prof. Drª Luciana Mielniczuk (UFSM)
(Presidente/Orientadora)
_______________________________________
Prof. Drª Márcia Franz Amaral (UFSM)

_______________________________________
Prof. Drª Raquel Recuero (UCPEL)

_______________________________________
Prof. Dr. Rondon de Castro (UFSM)
(suplente)

Santa Maria, 9 de março de 2007.


AGRADECIMENTOS

À minha família e amigos, importantes em todas as horas.

À UFSM e a Facos, por me proporcionar conhecimento e vivência que, a cada dia,


serão mais importantes do que são hoje.

À minha orientadora, Luciana Mielniczuk, pela compreensão, amizade e pela grande


dedicação na hora da orientação.

À cidade de Santa Maria, por ser, provavelmente, um dos melhores locais para se viver
dos 15 aos 20 e poucos anos de maneira “plena”.

Ao grande mestre argentino Julio Cortázar, que me ensinou a “viajar”, e à todas as


leituras que me põe diariamente para dormir e sonhar.

Aos Beatles e Kinks, por me acompanhar, juntamente do mate, na realização desta


monografia pela manhã, e à John Coltrane, Charlie Parker, Ornette Coleman e o Grant
Lee Buffalo, por fazerem o mesmo à noite.

E, finalmente, à imprevisibilidade proporcionada pelas várias viagens sem rumo certo,


que muito me ajudaram a manter a tranqüilidade na realização deste trabalho.
RESUMO
Monografia de Graduação
Curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo
Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil.

OS WEBLOGS COMO ELEMENTOS PROPULSORES DO


ALARGAMENTO DO CAMPO JORNALÍSTICO

AUTOR: LEONARDO FELTRIN FOLETTO


ORIENTADORA: LUCIANA PELLIN MIELNICZUK
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 9 de março de 2007.

Este trabalho apresenta os weblogs e alguns dos questionamentos que eles provocam
no campo jornalístico. Para isso, inicialmente faz uma revisão histórica e conceitual do
que vem a ser um weblog e apresenta as suas características e subdivisões principais.
Após, relaciona os weblogs com o jornalismo, trazendo as primeiras discussões e
algumas conclusões acerca dessa relação. Por fim, explica como se dá a aproximação
da blogosfera com o campo jornalístico e apresenta as diretrizes de alargamento do
campo ocasionadas por essa aproximação. A conclusão que se chega é de que as
diretrizes de alargamento propostas pela blogosfera levam o campo jornalístico em
direção a um jornalismo mais articulado, que vem a ser chamado de ‘jornalismo
sistema’. O objetivo deste trabalho é sistematizar elementos decorrentes da
aproximação entre o campo jornalístico e a blogosfera para, a seguir, apresentar
algumas diretrizes de alargamento do campo propostas por esses mesmos efeitos. O
trabalho está dividido em quatro capítulos: os Weblogs, Weblogs e Jornalismo,
Blogosfera e Campo jornalístico: Aproximação e Conseqüências e Considerações
Finais.

Palavras-chaves: Weblogs, Jornalismo, Jornalismo Digital.


ABSTRACT
Monografia de Graduação
Curso de Comunicação Social – Hab. Jornalismo
Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil.

OS WEBLOGS COMO ELEMENTOS PROPULSORES DO


ALARGAMENTO DO CAMPO JORNALÍSTICO

AUTHOR: LEONARDO FELTRIN FOLETTO


ADVISOR: LUCIANA PELLIN MIELNICZUK
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 9 de março de 2007.

This work presents weblogs and some of the questions that they are provoking in the
journalistic field. First, it makes a historical and conceptual revision of what it comes to
be one weblog and presents its main features and divisions. After, it relates the weblogs
with journalism, bringing the first discussions and some conclusions about this relation.
Finally, it explains as if it gives the approach of the blogosphere with the journalistic
field, and it shows the increase lines caused by this approach. This work brings current
concepts and considerations for to point out the discussion that occurs between weblogs
and the journalism. It concludes pointing a direction that can explain some of the
tensions in the journalistic field provoked by the blogosphere. It is divided in four
chapters: the Weblogs, Weblogs and Journalism, Blogosphere and Journalistic Field:
Approach and consequences and Final Considerations.

Key-words: Weblogs,Journalism, Digital Journalism.


SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................................... 5
ABSTRACT ....................................................................................................... 6
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 8
2. OS WEBLOGS ............................................................................................... 10
2.1 Nomenclatura e conceito ........................................................................... 10
2.2 Os primórdios do weblog e a definição das suas características ......... 12
2.3 Os elementos principais de um weblog..................................................... 16
2.4 Classificação dos weblogs ........................................................................ 19
2.4.1 Classificação por gênero e estrutura ......................................................... 20
2.4.2 Outras classificações ................................................................................. 23

25
3. OS WEBLOGS E O JORNALISMO................................................................
3.1 Os weblogs são descobertos pelo jornalismo ........................................ 25
3.2 Os weblogs são questionados pelo jornalismo...................................... 27
3.3 Os weblogs são adotados pelo jornalismo (ou será que não?) ............ 29

4. A BLOGOSFERA E O CAMPO JORNALÍSTICO: APROXIMAÇÃO E 32


CONSEQUÊNCIAS ............................................................................................

4.1 A blogosfera ................................................................................................ 32


4.2 Campo e campo jornalístico ..................................................................... 34
4.3 A blogosfera se aproxima do campo jornalístico................................... 37
4.4 Efeitos da aproximação da blogosfera e do campo jornalístico............ 39
4.5 Diretrizes de alargamento do campo jornalístico como consequência 43
da aproximação da blogosfera.................................................................
4.5.1 Jornalismo Difuso ........................................................................... ......... 44
4.5.2 Jornalismo de recuperação da informação residual................................... 45
4.5.3 Jornalismo de aprofundamento da colaboração (“jornalismo
colaborativo”) ..................................................................................................... 46

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 47

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 49


1. INTRODUÇÃO

Os weblogs surgiram, ainda na década passada, como uma ferramenta


facilitadora da publicação de conteúdo na web. Como tal, trouxeram vantagens e
desvantagens; resolveram problemas – pessoas sem muita familiaridade com a rede
puderam, a partir de então, publicar o que bem entendessem – e trouxeram novos
problemas ainda mais complexos – como, por exemplo, saber de onde são as fontes
das informações disponibilizadas pelos weblogs.
Acompanhando a expansão da web, os blogs passaram a ter seu uso difundido
em diversas áreas da sociedade, dentre elas o jornalismo. De início, eles mostraram ser
uma importante ferramenta de democratização da informação; tão democrática que o
jornalismo começou a questioná-los, duvidando que o conteúdo vindo de blogs pudesse
ter o mesmo valor do que aquele produzido nas normas e regras há muito tempo
conhecidas da atividade jornalística.
Rapidamente surgiram opiniões diversas quanto à relação, que já nasceu
conflituosa, entre o jornalismo e os weblogs. Algumas delas levaram a conclusões que
já se mostraram equivocadas; outras provocaram novos questionamentos nessa
relação que ainda não foram respondidos. O único consenso que se constituiu é de que
o debate ainda está na fase inicial, muito longe do fim.
É no contexto de início de um debate que tende a se aprofundar ao longo dos
anos que este trabalho visa a se inserir. O objetivo dele é trazer um apanhado do que
até então foi produzido sobre o assunto e, a partir daí, contribuir para que alguns
aspectos da relação entre o jornalismo e os blogs possam ser melhor compreendidos.
Pode-se perceber que há uma tensão nesta relação, principalmente no fato de que o
jornalismo, a curto e médio prazo, pode passar por sérias transformações decorrentes
da aproximação com os weblogs e, mais especificamente, ccom a blogosfera. Para
tentar entender essas transformações e tentar explicá-las é que se faz necessário o
estudo a que este trabalho se propõe.
Para que isso seja possível, é necessário fazer uma revisão histórica e
conceitual do que vem a ser um weblog (ou blog), apresentando suas características e
9

subdivisões principais. Esse é unicamente o tema do primeiro capítulo, que se baseia


em autores diversos como Blood (2001), Oliveira (2002), Paquet (2002), Alonso e
Martinez (2003), Recuero (2003), Silva (2003) e Orihuela (2004).
O segundo capítulo passa a relacionar os weblogs com o jornalismo, inicialmente
apontando como e quando os weblogs foram “descobertos” pelo jornalismo e passaram
a trazer informações de relevância jornalística. Depois, apresenta as primeiras
discussões que vieram dessa descoberta, e, por fim, aborda como os jornais online
adotaram os blogs. Esta parte se fundamenta basicamente por autores americanos
como Blood (2001), Hiler (2002), Lasica (2002) e Andrews (2006), os europeus Orihuela
(2006) e Granieri (2005), e o brasileiro Palacios (2006).
Já postos em discussão o jornalismo e os weblogs, o terceiro capítulo apresenta
os conceitos de blogosfera, trabalhados por Orihuela (2006) e Granieri (2005), e o de
campo, explicado por Bourdieu (1997), para, em seguida, tratar da aproximação desse
novo fenômeno chamado blogosfera ao campo jornalístico. Logo após, detalha alguns
efeitos decorrentes dessa aproximação e apresenta as três diretrizes de aumento do
campo citados por Palácios (2006 a), propostas por estes efeitos. Na parte final do
trabalho, relaciona-se o jornalismo praticado pelos blogs nessas três diretrizes de
aumento do campo como uma manifestação de um novo tipo de jornalismo, mais
pertinente para a complexidade da sociedade atual: o jornalismo sistema, conceito
elaborado por Fontcuberta (2006).
2. OS WEBLOGS

Este capítulo trata unicamente dos weblogs. Desde os pioneiros do formato - que
surgiram junto das primeiras páginas da web, no início da década passada - até hoje,
consolidado e reconhecido como uma importante ferramenta de uso na web, o weblog
teve várias definições e subdivisões até chegar as que hoje são mais usadas e
difundidas. Pretende-se aqui explicar algumas dessas e contar como que se deu a
evolução histórica dos weblogs até agora.

2.1 - Nomenclatura e conceito;

A palavra “weblog” surgiu em meio à explosão do uso da web, em 1997.


Segundo Paquet (2002) e Blood (2000), o termo foi cunhado por Jorn Bager, que juntou
as palavra “web”, empregada comumente como uma abreviatura da World Wide Web
(WWW), e “log”, que indica, dentre outras coisas, “um registro cotidiano de atividades”,
para dar nome a um tipo de site que atuava como espécie de “filtro” do conteúdo
disponível na web – um “registro de atividades da web”, ao pé da letra. Rapidamente o
termo foi diminuído para “blog” e o editor desse tipo de site ganhou o nome de “blogger”
(blogueiro, em versão para o português).
Araújo (2006) diz que grande parte das línguas existentes no planeta usa o
estrangeirismo vindo da origem inglesa; algumas poucas utilizam variações, como é o
caso da língua espanhola, que também usa o termo bitácora - palavra empregada no
meio das navegações para designar a caixa que abriga a bússola em um navio e que,
aliada a expressão cuaderno (caderno), indica “diário de bordo” (cuaderno de bitácora).
A língua francesa também adota o termo joueb, uma junção das palavras journal
(jornal) com web. No Brasil, a palavra original weblog, ou a sua simplificação blog, é
amplamente difundida, e por isso este trabalho utiliza apenas este termo.
O weblog é conceituado por Jan Alyne Silva (2003) como sendo “um sítio
extremamente flexibilizado, com mensagens organizadas em ordem cronológica
11

reversa e com uma interface de edição simplificada, através da qual seu autor
pode inserir novos conteúdos sem a necessidade de escrever qualquer tipo de código
em HTML”. Em outras palavras, o conceito fundamental de weblog, de onde todos os
outros partem, é de que ele é um tipo de página da internet simplificada, onde o seu
criador não precisa trabalhar com a linguagem html para produzir o seu conteúdo e
disponibilizá-lo na web.
Mas, como afirma a própria Silva (2003),

“Para compreender o conceito de weblogs é preciso que


sistematizemos dois elementos iniciais e fundamentais: o primeiro é que os
weblogs possuem uma estrutura-padrão, um formato específico, com algumas
variáveis, e por isso são facilmente reconhecíveis na internet.” (SILVA, 2003)

Essa estrutura-padrão dos weblogs citada por Silva tem por característica estar
organizada em função do tempo, ou seja, com as últimas atualizações na parte superior
da página e as mais antigas logo abaixo, ordenadas de acordo com a data de
publicação do bloco de texto, em ordem cronológica reversa. O outro elemento
fundamental é aquele que, além de Silva (2003), Recuero (2002) e Orihuela (2004),
dentre outros, também apontam: os weblogs são espaços na internet eminentemente
pessoais, criados por uma pessoa (ou mais de uma, em muitos casos) que coloca
determinado conteúdo neste sempre sob o seu ponto de vista, a partir do seu
conhecimento de mundo.
A partir do conceito base, e dos dois elementos fundamentais que devem ser
usados para a sua compreensão, pode-se partir para uma outra definição mais
completa e definitiva, elaborada por Alonso e Martinez (2003 apud Díaz Noci,
Salaverría):

“Um meio interativo definido por cinco pontos: é um espaço de


comunicação pessoal, seus conteúdos abordam abarcam qualquer tipologia e
são apresentados com uma marcada estrutura cronológica, o sujeito que os
elabora pode usar links a outros sítios da web que tem relação com os
conteúdos que se desenvolvem e a interatividade aporta um alto valor agregado
como elemento dinamizador no processo de comunicação1” (ALONSO E
MARTINEZ apud DÍAZ NOCI, SALAVERRÍA, 2003)

1
“Um médio interativo definido por cinco rasgos: es um espacio de comunicación personal, sus
contenidos abarcan cualquer tipologia, los contenidos presentan uma marcada estructura cronológica, el
12

Cabe ressaltar que esse conceito mais abrangente só foi formulado em 2003,
posterior à data que se considera como a de criação dos weblogs. Antes disso, porém,
existiram outras acepções mais simples da palavra weblog que, embora hoje
separadamente não identifiquem o que é a página, foram importantes na construção do
conceito atual e no desenvolvimento histórico do formato enquanto ele ainda não era
conhecido por essa nomenclatura e características. Por isso, aqui se faz necessário a
citação destas acepções. Araújo (2006) identifica-as como quatro: uma “coleção de
links com comentários”; uma “Home Page pessoal na Internet”; um “diário on-line”; e
uma “página da Internet com textos e arquivos dispostos em ordem cronológica reversa,
na qual o mais recente fica em cima e o mais antigo, no fim da página”.

2.2 - Os primórdios do weblog e a definição das suas características;

Paquet (2002) e a grande maioria dos pesquisadores costumam considerar a


primeira página produzida em formato html, “What’s new in 92”, criada pelo americano
Tim Berners-Lee2, como, também, a primeira aparição de um weblog. Este site (veja na
figura 1) era, na verdade, uma simples coleção de links para outros endereços na ainda
nascente web, seguido de pequenos textos comentando cada indicação.

sujeto que las elabora suele adjuntar enlaces a sítios web que tienen relación com los contenidos que se
desarrollan y la interactividad aporta um alto valor añadido como elemento dinamizador em el proceso de
comunicación”. [Tradução do autor]
2
Tim Berners-Lee foi o criador do que hoje conhecemos por World Wide Web. Em 1989, juntamente de
outros pesquisadores do Laboratório Europeu de Física das Partículas (CERN), em Genebra, ele
desenvolveu um programa chamado World Wide Web, um editor de hipertexto no estilo apontar e clicar
que em pouco tempo se popularizaria como a principal ferramenta de navegação em rede do planeta.
13

Figura 1: What’s new em ‘92’, o primeiro site considerado um weblog.

Outras aparições embrionárias do formato ocorreram ainda em número


considerável no decorrer dos anos 90, principalmente na chamada “explosão” da web,
entre 1996-1997.
No Brasil, há dúvidas em se definir qual o primeiro weblog do país. Silva (2003)
diz que “alguns atribuem ao Zamorim3 o posto de pioneiro na publicação através deste
formato”, no ano de 2000. Segundo estudo da Revista Play, também citado por Silva
(2003), o primeiro blog brasileiro é o da gaúcha Viviane Menezes, que começou a
publicar desde fevereiro de 1998. Com 17 anos, ela escrevia o que na época era
conhecido por “journal” (diário, em inglês), com uma página em código htrml para cada
dia. Outros ainda consideram o pioneiro do formato no Brasil o site Blue Bus4, cujo
nome evoca o de um projeto editorial online norte-americano de mesmo nome, criado

3
http://www.zamorim.eti.br
4
http://www.bluebus.com.br
14

em janeiro de 1997. O nome do site diz também da função dele, que, segundo a equipe
responsável por manter a página no ar,

“Não tem outra pretensão intelectual ou prática do que, como um


ônibus, levar as pessoas aos lugares, através de notas curtas e links, como um
guia diário instalado basicamente sobre o assunto mídia, mas também
colecionando informações relacionadas nas áreas de negócios,
comportamento, etc” (BLUE BUS, 1997).

O site (veja na figura 2, abaixo) está vinculado à idéia de blog por apresentar
arquivos em ordem cronológica reversa.

Figura 2: A página do BlueBus em 1997.

A maioria dos blogs desta primeira fase, como diz Paquet (2002), foi criada e
mantida por webdesigners e desenvolvedores de programas para a internet, que,
15

atentos ao que acontecia na rede, tiveram a iniciativa de organizar um “filtro” daquilo


que achavam de mais interessante na web:

O conteúdo dos primeiros blogs era, em sua maior parte, uma mistura
de links com comentários feitos de acordo com o gosto de cada editor. Algum
tempo depois, esses blogs passaram a deixar um bom número de seguidores
pelo fato de que eles providenciavam uma seleção única de conteúdo novo e
atrativo para um segmento da população online que tinha gostos parecidos5.
(PAQUET, 2002).

Dois anos depois de nomeados, os weblogs ganharam o seu primeiro software


grátis de edição, desenvolvido pela empresa americana Pitas (Oliveira, 2002). Em
agosto de 1999, o também americano Evan Williams, da empresa Pyra Labs, criou uma
ferramenta ainda mais avançada chamada Blogger6, que, dispensando o seu usuário de
ter algum conhecimento de linguagens de programação, tornou possível a criação de
um weblog a qualquer pessoa que tivesse acesso a internet. Como aponta Oliveira
(2002), as ferramentas oferecidas no Blogger o transformaram, em pouco tempo, em
um ícone de um conceito que começava a revolucionar a criação e postagem de
páginas pessoais na internet:

O principal diferencial da nova ferramenta é que ela trouxe velocidade


na criação, postagem e atualização dos ciberdiários, democratizando o acesso
de não-especialistas em linguagem como html, ftp, dentre outras, à construção
e manutenção das páginas pessoais. Com isso, qualquer pessoa que
dominasse noções básicas de inglês poderia ter um weblog ou blog.
(OLIVEIRA, 2002)

Depois do Blogger, outros softwares do mesmo tipo despontaram em diversos


7, 8,
sites, como o GrokSoup Edit This Page VelociNews 9, Weblogger 10, Squishdot 11
,

5
“The content of early weblogs was most often a mix of links and commentary that was tailor-made to
their editor's taste. Over time, those weblogs built sizable followings because they provided a unique
selection of fresh content that appealed to a segment of the online population and because of their
personal flavour”. [Tradução do autor].
6
http://www.blogger.com
7
http://www.grouksoup.com
8
http://www.editthispage.com
9
http://www.velocinews.com
10
http://www.weblogger.com
11
http://squishdot.org
16

Grohol 12 e GreyMater 13, todos estes gratuitos e disponíveis em toda o planeta.


Como esses softwares gratuitos de edição de weblogs ofereciam um formato
padrão para a criação de suas páginas, estes “moldes” passaram a, também, ditar as
características do formato de um blog. Basicamente, eram quatro estas características:
os layouts disponíveis apresentam o conteúdo ordenado de acordo com a data de
publicação do bloco de texto, os mais novos em cima e os mais antigos em baixo; há
um espaço para a interatividade, na forma de comentários; é oferecida a possibilidade
para o blogueiro utilizar de links para outras páginas da web; a atualização pode ser
feita a qualquer momento, sem qualquer restrição; e, por fim, não há controle, por parte
do software, quanto ao tipo de conteúdo que será abordado na página, deixando isso a
cargo exclusivamente do blogueiro.
É então que, em torno dessas características apresentadas e oferecidas pelos
softwares gratuitos, começam a surgir conceitos mais sólidos de weblog, como o que foi
apresentado no início deste capítulo.

2.3 - Os elementos principais de um weblog;

Como diz Orihuela (2004 a), o elemento primordial do blog, sob o qual todo ele
se baseia, é o chamado post, que é o nome dado a publicação de qualquer conteúdo
na página de um blog. Normalmente, esse post contém um título, e ao seu término, são
mostrados data e hora de publicação, bem como quem o produziu e o levou ao ar.
Esses posts (veja na figura 3) estão ordenados segundo uma cronologia reversa, cada
um dos quais com um endereço URL14 permanente, o que facilita o seu enlace com
outras páginas.

12
http://www.grohol.com
13
http://www.noahgrey.com/greysoft
14
Uma URL (sigla de Universal Resource Locator, em português Localizador Universal de Recursos) é o
endereço de um recurso (um ficheiro, uma impressora, etc.), disponível em uma rede; seja a Internet, ou
uma rede corporativa, uma intranet. Uma URL tem a seguinte estrutura:
protocolo://máquina/caminho/recurso.
17

Figura 3: Na área circulada, um exemplar simples de post.

Nos corpos de cada post, há a possibilidade de se inserir quantos links (externos


ou internos) for possível caber no espaço destinado pelo software.
Normalmente, ao término de cada post, os blogs contêm um espaço para
comentários dos visitantes (figura 5), aberto através de um link interno, onde o visitante
preenche um pequeno cadastro com o nome, o e-mail e uma senha (no caso do
software disponibilizado pelo Blogger, que é o usado aqui como exemplo) para assim
poder deixar a sua mensagem. Esse espaço pode ser moderado ou não pelo blogueiro,
que, tendo esse controle, pode apagar e acrescentar comentários da maneira que
quiser.
18

Figura 4: Espaço para comentários de um weblog.

Orihuela (2004 a) acrescenta que a maior parte dos weblogs inclui ainda uma
seleção de links (blogroll), que levam o visitante a alguns sites recomendados pelo
blogueiro, um link para ficha com dados pessoais do(s) editor(es), uma descrição dada
ao blog e o título da página (veja na figura 5).
19

Figura 5: Localização de alguns elementos do blog.

Normalmente, o blogroll e a ficha pessoal estão localizados nas laterais de onde


ficam as postagens, e o nome e o título ficam na parte de cima da mesma, como no
exemplo da figura 5.

2.4. Classificações dos weblogs;

Ao longo dos anos de desenvolvimento dos weblogs, muitas classificações foram


produzidas, levando em conta diversas variáveis diferentes. Prefere-se aqui dar mais
ênfase a uma delas, a elaborada por Silva (2003), por ser a que mais se relaciona com
o a abordagem deste trabalho.
20

2.4.1. Classificação por gênero e estrutura;

Silva (2003) aponta inicialmente duas variantes estruturais e duas de gênero


para classificar os weblogs:
a) Estrutural;
1. blogs individuais, onde somente o autor do blog pode postar conteúdo e tem total
autonomia sobre a sua publicação. É o tipo mais encontrado na web. (veja na
figura 6)

Figura 6: Blog individual

2. blogs coletivos, onde vários autores têm acesso às ferramentas que permitem a
atualização do conteúdo. (veja na figura 7)
21

Figura 7: Blog coletivo

b) Gênero;
1. Blogs temáticos, produzido individualmente ou em grupos e concebido com base
em um tema específico ou numa área de interesse em comum. (figura 8; o tema,
neste caso, são as Histórias em Quadrinhos)
22

Figura 8: Blog temático

2. Blogs livres, que, como o próprio nome sugere, são publicações que não
procuram se deter em único tema. (figura 9)
23

Figura 9: Blog de temática livre.

2.4.2 - Outras classificações;

No decorrer do desenvolvimento dos weblogs, algumas das classificações


produzidas se tornaram ultrapassadas, ou, então, condicionantes ao que determinados
blogs tinham por objetivo, de acordo apenas com seu caráter utilitário. Blood (2002), por
exemplo, propõe a classificação dos weblogs em três categorias, considerando o
gênero das publicações: 1) os Blogs, cujas características estão voltadas para priorizar
os acontecimentos da vida do autor, através de posts curtos; 2) os Notebooks, que se
preocupam em mostrar as idéias do autor, colocadas através de quase mini-ensaios; e,
por fim, 3) os Filtros, cujo foco está nos links externos e em comentários sobre estes.
24

Recuero (2003) propõe outra, mais flexível e fácil de ser encontrada na web,
dividindo os weblogs da seguinte forma:

Weblogs Diários – São os weblogs que se referenciam principalmente à vida


pessoal do autor. O seu objetivo não é trazer informações ou discuti-las, mas
simplesmente relatar fatos cotidianos, como um diário pessoal.
Weblogs Publicações – São weblogs que se destinam principalmente a
trazer informação de modo opinativo. Buscam principalmente o debate e o
comentário. Alguns possuem um tema central, outros tratam de generalidades.
Weblogs Literários – São os weblogs destinados ou a contar uma história
ficcional ou, simplesmente, ser um conjunto de crônicas ou poesias com ambições
literárias.
Weblogs Clippings – São os weblogs que simplesmente se destinam a ser
um apanhado de links ou recortes de outras publicações, com o objetivo de filtrar a
informação publicada em outros lugares.
Weblogs Mistos – São aqueles que efetivamente misturam posts pessoais e
posts informativos, com notícias, dicas e comentários de acordo com o gosto e opinião
pessoal do autor. (RECUERO, 2003)

A autora salienta que essas categorias não são estanques e absolutas, mas
objetivam uma melhor compreensão das múltiplas facetas do blog e, evidentemente,
podem passar por novas revisões.
Até aqui, fizemos um balanço da história dos blogs e da definição de suas
características e nomenclatura. No próximo capítulo, trataremos também do blogs,
relacionando-os com o jornalismo.
.
3. OS WEBLOGS E O JORNALISMO

Este capítulo trata da relação dos weblogs com o jornalismo. Inicialmente


aponta como e quando os weblogs foram descobertos pelo jornalismo e passaram a
trazer informações de relevância jornalística. Depois, apresenta as primeiras
discussões que vieram desta descoberta, centradas na questão se os blogs
poderiam ou não ser jornalismo. Por fim, aborda como os jornais online passaram a
adotar os blogs, utilizando-os de forma diferente dos que compõe a chamada
blogosfera.

3.1 - Os weblogs são descobertos pelo jornalismo;

Vimos no capítulo anterior que o formato que hoje reconhecemos como um


weblog surgiu no final da década de 1990 e que começou a se popularizar ao redor
do mundo em 1999, com o surgimento de sites que disponibilizavam o software de
edição de blogs gratuitamente – o que dispensava o usuário de ter conhecimento de
linguagem html, ftp ou outro tipo de programação. Aos poucos, com a incorporação
de ferramentas facilitadoras do uso do software de edição e com cada vez maior
número de pessoas tendo acesso à internet, os blogs começaram a sair do grupo
dos bastante familiarizados com a rede, ou, como diz Granieri (2005), “gente que
passava muitas horas do dia online e que publicava breves anotações, opiniões
sobre o que acontecia no mundo“, para ganhar o usuário normal, que via no formato
uma excelente – e fácil - ferramenta para mostrar aquilo que tivesse vontade de
mostrar na web, seja isso texto ou mesmo imagens.
Logo após os atentados terroristas aos Estados Unidos de 11 de setembro de
2001, os testemunhos pessoais sobre determinados acontecimentos, situações ou
lugares, que já correspondiam a grande parte dos weblogs da rede, passaram a
ganhar importância fundamental também como informação de relevância jornalística,
já que cresceu a procura por relatos de quem estava no local para saber o que
realmente estava acontecendo. Do outro lado, as pessoas que estavam nos Estados
Unidos (Nova York, principalmente) desejavam compartilhar suas histórias e, como
26

diz Hiler15 (2002), “publicar a verdade”. Dan Gillmor (apud Andrews, 2006), diretor do
Center for Citizen Media, afirma que o caos que se instaurou no mundo todo com a
intensa busca de informação sobre as vítimas do atentado foi o “ponto da virada”
para o mundo dos blogs: “Nós tivemos uma explosão de testemunhos pessoais e
públicos, e alguns deles eram bastante poderosos. Eu me lembro do velho clichê
que dizia que os jornalistas escreviam o primeiro rascunho bruto da história. Bem,
agora os blogueiros é que estavam escrevendo esse rascunho".
Andrews (2006) conta que, neste período, mesmo os blogueiros mais
experientes mudaram o conteúdo normal dos seus posts para colocar links para
outros blogs e notícias sobre os atentados, já que, diferentemente de outras
ferramentas disponíveis da web como o e-mail e os programas de trocas de
mensagens instantâneas, os blogs atingiam uma audiência maior, não apenas
amigos e familiares.
Com a explosão de blogs sendo usado como fontes de informação de
relevância jornalística, era natural que o jornalismo começasse a ser influenciado por
eles. Recuero (2003) diz que “essa influência se tornou muito mais clara a partir do
início da guerra no Iraque, com o aparecimento na mídia e no ciberespaço dos
warblogs, blogs que têm como foco central a questão da Guerra, sob as suas mais
diversas formas”. Jornalistas ou não, os editores destas páginas da web contavam o
dia-a-dia da guerra sob o seu ângulo, personalizando a informação passada na
persona do autor que as divulga, contrapondo-se com a visão objetiva e impessoal
que a grande mídia adota como regra.
Silva (2003) dá mais detalhes da personalização da informação nos weblogs:

“(...) é presente não apenas no seu conteúdo e na assinatura do


autor, mas também no formato gráfico (cores, formato do site, fontes, etc.)
do blog, nos links colocados ali, na foto do autor, ou mesmo nos ‘clicks’.
Aquilo que é veiculado em um blog não tem a pretensão de ser uma
informação ‘neutra’. Ao contrário, existe o pressuposto claro de que alguém
escreve e que a informação corresponde ao relato, à opinião deste alguém
sobre o evento.” (SILVA, 2003)

O exemplo mais destacado desse caso é o blog do iraquiano conhecido como


Salam Pax16, criado em dezembro de 2002, que diariamente postava relatos sobre o

15
Disponível http://www.microcontentnews.com/articles/blogosphere.htm
16
O endereço do blog, nomeado “Where is Raed”, é http://dear_raed.blogspot.com. Com o término da
guerra, Salam continuou blogando, agora como contratado do jornal inglês The Guardian, e teve seus
posts publicado no livro “O blog de Bagdá”, editado em 2003 no Brasil pela Companhia das Letras.
27

conflito direto de Bagdá, capital do Iraque. Com a eclosão da guerra em 2003, a


página tornou-se um fenômeno de acessos, sendo uma das principais fontes de
informação sobre o confronto.
Outros warblogs também ganharam destaque nesta etapa, conseguindo atrair
atenção do leitor comum e também despertando a curiosidade da mídia tradicional
para este novo fenômeno. Em pouco tempo, não apenas os warblogs, mas todos os
tipos de weblogs que traziam informações de relevância jornalística passaram a
ganhar espaço e disputar o interesse das pessoas que desejavam manter-se
informadas, consolidando os blogs como uma fonte de informação à parte da mídia
tradicional.

3.2 - Os weblogs são questionados pelo jornalismo;

A popularização dos weblogs como uma alternativa à mídia tradicional, bem


como a influência que eles passaram a ter no jornalismo tradicional, incentivou o
crescimento vertiginoso em todo o planeta de blogs com conteúdos informativos. E,
naturalmente, esse crescimento provocou discussões sobre o real valor da
informação postada em weblogs, já que muitos dele não se utilizavam dos
procedimentos adotados pelo jornalismo praticado pela mídia tradicional. Essas
discussões surgiram em torno principalmente de uma questão: podem os blogs
praticar o jornalismo?
Alguns dos primeiros autores a tocarem no assunto, como a americana
Rebeca Blood (2001), viam-no por um viés de que as técnicas jornalísticas não
poderiam ser praticadas pelos blogueiros – pelo menos não da forma como foram
concebidas inicialmente:

“Apesar de considerar os weblogs como um componente vital de


uma rica dieta midiática, no fim das contas, weblogs e jornalismo são
simplesmente coisas diferentes. O que os weblogs fazem é impossível para
o jornalismo tradicional de reproduzir, e o que o jornalismo faz é
impraticável de ser feito em um weblog. Para mim, reportar notícias consiste
em entrevistar testemunhas e especialistas, checar fatos, escrever uma
perspectiva original sobre um assunto, e supervisão editorial: o repórter
pesquisa e escreve a história, e seu editor assegura-se de que ela está de
acordo com suas expectativas. Cada passo é desenvolvido para se alcançar
28

um produto consistente que é divulgado de acordo com os padrões da


17
agência de notícias. Weblogs não fazem nada disso ”. (BLOOD, 2001 a).

Reforçando a posição de Blood está Granado e Barbosa (apud Araújo, 2006),


que descartam a possibilidade da atividade de publicação de blogs ser jornalística
porque seus usuários não utilizam muitas fontes, costumam não editar seus textos e
não adotam a imparcialidade como regra ao publicarem uma notícia.
Do outro lado da discussão está Lasica (2002 a). Ele diz que os blogs devem
vir a ser uma forma de “jornalismo amador”, deduzindo que, se nem todos eles
produzem ou contêm notícias, grande parte produz, e essa produção pode ser
classificada como um novo tipo de jornalismo em que muitas das expectativas
profissionais atuais não estarão presentes. Como exemplo dessas expectativas está
o fato de que, diferente da grande mídia, não se espera que as notícias contidas nos
blogs sejam objetivas ou separadas da visão pessoal do blogueiro. Em outro artigo
produzido no mesmo ano, Lasica (2002 b) considera que a transparência obtida com
os weblogs pode contribuir para que a notícia seja mais acessível e interativa do que
é hoje, citando algumas situações ocorridas nos Estados Unidos que representam
bem a “real evolução” que os blogueiros estão provocando - às vezes sem nem
mesmo saber disso:

“No domingo do SuperBowl, uma blogueira de 22 anos em Los


Angeles chamada Jéssica enfrentou bravamente o frio congelante para
assistir em um telão o concerto do grupo britânico Coldplay. Ela voltou para
casa e postou sobre o que viu, dando a sua visão do show e apresentando
o setlist do concerto. Assim como centenas de outros que assistiram o show
e queriam saber dos nomes das músicas tocadas, eu entrei na internet. Não
consegui achar os nomes nos sites ABC.com e Coldplay.com. Mas
centenas de nós conseguiram encontrar os nomes das músicas (através do
Google) no blog de Jéssica. Ela provavelmente não sabia disso, mas ela
tinha acabado de, casualmente, fazer jornalismo. E é essa a real revolução
aqui: num mundo de micro conteúdos entregue a nichos de audiência, mais
e mais destas pequenas parcelas de notícias que encontramos a cada dia
18
estão sendo apresentadas através dos blogs pessoais ”. (LASICA, 2002 b)

17
“While I consider weblogs a vital component of a healthy media diet, in the end, weblogs and
journalism are simply different things. What weblogs do is impossible for traditional journalism to
reproduce, and what journalism does is impractical to do with a weblog. To my mind, news reporting
consists of interviewing eyewitnesses and experts, checking facts, writing an original representation of
the subject, and editorial review: The reporter researches and writes a story, and his editor ensures
that it meets her requirements. Each step is designed to produce a consistent product that is informed
by the news agency's standards. Weblogs do none of these things. Weblogs have no gatekeepers.
They are generally produced in the maintainer's spare time. Webloggers do not employ fact checkers,
and they answer to no one but themselves. Neither do webloggers”. [Tradução do autor]
18
“On Super Bowl Sunday, a 22-year-old blogger in Los Angeles named Jessica braved the freezing
cold to attend a televised outdoor concert by the British group Coldplay. She came home and blogged
29

Orihuela (2006) considera equivocada essa associação dos blogueiros a


jornalistas amadores. Para ele, os weblogs podem até ser jornalismo, porém não
pelo simples fato de serem weblogs, e sim por seguirem determinadas regras da
profissão que, também, podem ser praticadas nos blogs. Se estes blogueiros
conseguirem adotar as normas éticas e profissionais do jornalismo, eles farão
jornalismo; caso contrário, assim como ocorre em qualquer outra profissão quando
uma pessoa não tem o conhecimento para praticá-la e, portanto, não pode adotar as
normas éticas e profissionais dela, um blogueiro também não será um jornalista se
não respeitar estas mesmas regras referentes ao jornalismo. Pelo menos não ao
jornalismo como conhecemos hoje.

3.3 - Os weblogs são adotados pelo jornalismo (ou será que não?);

Ao mesmo tempo em que as discussões avançavam, a partir de 2003 muitos


jornais online começaram a usar os weblogs como ferramentas de seus sites,
“acreditando no poder individual e no interesse do público que busca notícias na
internet pelos blogs” (Quadros, Rosa e Vieira, 2005). No Brasil, em um primeiro
momento, destacam-se o jornal O Globo Online, que cria blogs para todos os seus
colunistas da versão impressa; o conhecido Blog do Noblat19, recentemente
incorporado ao portal O Globo Online20, mas nascido no primeiro semestre de 2004
vinculado ao portal IG; o blog de Josias de Souza21, colunista de política do jornal
Folha de São Paulo, criado no fim de 2005; o blog de Marcelo Ambrósio22, jornalista
da editoria Internacional do Jornal do Brasil, também criado no final de 2005; dentre
outros vinculados a jornais impressos em todo país. Em pouco tempo, todos os
principais jornais brasileiros passaram a agregar blogs em suas edições online.

it, giving her take on the concert and reporting the band's play list. Like hundreds of others who
watched the show and wanted to learn the names of the songs played, I turned to the Internet. I came
up empty when I visited abc.com and coldplay.com. But hundreds of us found them (through Google)
on Jessica's blog. Jessica probably didn't know it, but she was committing a random act of journalism.
And that's the real revolution here: In a world of micro-content delivered to niche audiences, more and
more of the small tidbits of news that we encounter each day are being conveyed through personal
media-chiefly Weblogs” [Tradução do autor].
19
http://www.noblat.com.br
20
http://oglobo.globo.com/blogs
21
http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
22
http://www.jblog.com.br/marceloambrosio.php
30

Nos Estados Unidos a ocupação é ainda maior, tanto que, hoje, passados quatro
anos do “boom” do uso dos weblogs, 86% dos 100 maiores jornais americanos23
utilizam-se de blogs em suas versões na web.
Porém, tanto no Brasil, nos Estados Unidos e em grande parte do planeta,
esses blogs usados nos jornais online, em sua maioria, nada mais são do que a
transposição de uma coluna de opinião que já existia (e continua existindo) na
versão impressa do jornal. Como diz Palacios (2006 b), essas colunas apenas
“mudaram de nome e se tornaram mais dinâmicas, com atualização contínua e a
possibilidade de inserção de comentários dos leitores”. Ainda mais importante do
que isso é a questão de que esses blogs, independente do conteúdo abordado, não
utilizam links para outros sites que não os do próprio grupo midiático no qual estão
inseridos, contrariando um dos cinco pontos fundamentais da constituição de um
blog apresentado por Salaverría e Nocí no primeiro capítulo deste trabalho: o de
possuir links para outros sites que tenham relação com o conteúdo abordado no
post. Em outras palavras, são blogs que funcionam em uma espécie de “circuito
fechado” particular, ignorando a existência de toda uma comunidade de informação
externa que se retroalimenta constantemente. O resultado é que eles acabam por
não fazer parte da produção da multivocalidade característica da chamada
blogosfera, a comunidade a qual todos os blogs estão inseridos - quer dizer, todos
não, pois esses, como diz Palacios, enganam o leitor, “que julgam estar sendo
lançados na blogosfera enquanto de fato permanece firmemente ancorado à velha e
segura “Globosfera”, com o perdão do trocadilho” (2006 b). O autor ainda conclui a
discussão de forma contundente:

Nada de simbioses, apenas apropriação. Apropriação da forma, do nome, e


- muito provavelmente -, apropriação das informações disponíveis lá fora na
blogosfera, que nossos colegas da grande mídia certamente percorrem e
utilizam como fonte, sem fornecer o mapa da mina a seus leitores menos
avisados. (PALACIOS, 2006 b)

Ao não colaborar com a transmissão de informações contínua e irrestrita


característica da blogosfera, esses blogs não compartilham da “filosofia” de
retroalimentação desse sistema. Mais ainda do que não compartilhar, transformam o

23
Os resultados completos da pesquisa podem ser vistos no
<http://journalism.nyu.edu/pubzone/blueplate/issue1/top100.html>
31

formato em uma falsa novidade - pois o que está ali aparenta ser novo, mas não é -
e ignoram as potencialidades que o blog pode utilizar, tornando-se assim meros
apropriadores e redutores da ferramenta.
Como se verá no próximo capítulo, são algumas dessas potencialidades que
levaram e estão levando muitos blogs a se aproximar do campo jornalístico,
causando efeitos de várias ordens no jornalismo e trazendo como conseqüência o
aumento desse campo.
4. A BLOGOSFERA E O CAMPO JORNALÍSTICO:
APROXIMAÇÃO E CONSEQÜÊNCIAS

Depois de explicar e conceituar o que são weblogs no primeiro capítulo, no


segundo relatou-se como que se deu o descobrimento desses pela mídia tradicional,
bem como as posteriores discussões que o formato trouxe ao jornalismo e vice-
versa. Neste capítulo, inicialmente serão apresentados os conceitos de ‘blogosfera’
e de ‘campo’ para, em seguida, se trabalhar com a aproximação dessa junto ao
campo jornalístico. Logo após, serão detalhados alguns dos efeitos que a
aproximação está causando no campo jornalístico e, por fim, são apresentadas três
diretrizes de alargamento do campo decorrentes desses efeitos.

4.1 – A blogosfera;

Desde o seu surgimento, no início dos anos 90, quando ainda nem eram
conhecidos pela atual nomenclatura, os weblogs se caracterizaram por ser uma
espécie de filtro do emaranhado de conteúdos disponíveis na rede. Esse filtro se
manifestava na forma de links para outros sites da rede escolhidos pelo editor do
site, posteriormente chamado de blogueiro, que, nesta época, quase se utilizava
somente desse recurso para construir a sua página - tanto que o significado do
primeiro termo usado para definir blog, de 2001, é o de uma coleção de links com
comentários. O esquema de funcionamento dessa “linkagem”, como diz Giuseppe
Granieri (2005), é simples:
“O blogueiro A publica uma opinião em forma de breve comentário,
artigo ou como um post-teste em seu blog. O blogueiro B lê e o adiciona,
comentando no post original ou mesmo escrevendo um outro post em seu
próprio weblog, linkando o blog A nele. O blogueiro C faz o mesmo (que o
B) e assim a coisa vai. Não é incomum encontrar casos como de um
blogueiro R, que reconstrói a discussão linkando as contribuições do A até o
24
Q e linkando tudo no seu próprio blog ” (GRANIERI, 2005, p. 35).

24
“Il blogger A individua uma risorsa sul web o pubblica um’opinione sotto forma di breve commento,
articolo o anche saggio. Il blogger B legge e há qualcosa da aggiungere, quindi commenta il post
originale o ne scrive uno sul suo weblog, linkando il blogger A. Il blogger C f alo stesso, e cosi va. Non
è infrequente trovarsi nel caso del blogger R che ricostruisce l’intera discussione linkando tutti i
contributi dalla A allá Q e aggiungendoci del suo”. [Tradução do autor]
33

Como um nó de uma grande obra coletiva hipertextual, cada blog abria


caminho para outros quantos, e quem entrasse em um dificilmente não iria para
outro, e outro, assim sendo que, desta maneira, cada leitor tinha a oportunidade de
criar uma experiência de leitura fragmentada de acordo com o seu interesse, sem
responder a qualquer seqüência lógica pré-programada.
Cada novo blogueiro que adentrava a essa rede incorporava de modo natural
o modus operandi dela, linkando outros blogs sucessivamente, incentivado pelo fato
de que, como diz Granieri (2005), o sistema de geração de conteúdo dos weblogs é
marcado pela generosidade: um blogueiro lê um post interessante e o cita em sua
página linkando a fonte sem qualquer receio, pois é assim que o esquema funciona:
“o que em um sistema competitivo seria um suicídio, no sistema dos weblogs é
praxe”, afirma Granieri (2005).
Esse sistema, baseado fundamentalmente nos links e a cada blog adicionado
mais complexo, se convencionou chamar de blogosfera, que é definido por Orihuela
(2006) como “um espaço na web em que tem lugar as múltiplas conversações que
se estabelecem entre os blogs e a cultura que geram os blogueiros”. Como dito
antes, por proporcionar um esquema de leitura fragmentado de acordo com o
interesse da cada pessoa e por não ter regras rígidas para serem seguidas, a
blogosfera tem por características, segundo Orihuela (2006),

“Ser um espaço anárquico, desierarquizado, informal e


descentralizado onde convergem a multiplicidade de culturas, comunidades
e tradições para gerar de forma coletiva, distribuída e espontânea
informação, opinião e conhecimento25” (ORIHUELA, 2006).

Como conclui Orihuela (2006), essas características contribuíram (e


contribuem ainda) para que a blogosfera tenha aberto uma porta para que qualquer
pessoa possa se converter em protagonista dos processos comunicativos, o que,
longe de ser uma moda ou tendência, se constitui numa mudança de paradigmas
que não tem mais volta.

25
“La blogosfera es um espacio virtual y uma cultura real: es el espacio de la web em que el que
tienen lugar las múltiples conversaciones que se estabelecen entre los blogs y es la cultura que
generan los bloguers”. [Tradução do autor]
34

Neste ponto do trabalho, em que já se tem a definição e o conhecimento do


funcionamento da blogosfera, se faz necessário também definir o outro lado a ser
analisado, o jornalismo. Através da leitura da bibliografia sobre o assunto, chegou-se
a definição de adotar o conceito de campo, e conseqüentemente o de campo
jornalístico, para mais a frente se trabalhar com alguns aspectos específicos vindos
da aproximação da blogosfera e do campo jornalístico. Antes de se entrar no
assunto propriamente dito, cabe aqui realçar que não é objetivo deste trabalho se
aprofundar no conceito de campo, que já tem uma longa tradição de estudos na área
das Ciências Sociais, mas sim usá-lo de maneira inicial como um possível caminho
para estudar o fenômeno em questão.

4.2 – Campo e campo jornalístico;

O conceito de campo tem suas raízes no trabalho do sociólogo francês Pierre


Bourdieu nas décadas de 1970 e 1980. Nos anos 90, Bourdieu passa a trabalhar de
forma mais detalhada com o campo jornalístico, refletindo sobre a atividade
jornalística e os meios de comunicação. Em seu ensaio “Sobre a Televisão”,
publicado no Brasil em 1997, o autor desenvolve de forma mais direta este conceito
e sua articulação com outros campos da sociedade complexa. É dele que vem uma
primeira definição de campo:

"Um campo é um espaço social estruturado, um campo de forças -


há dominantes e dominados, há relações constantes, permanentes, de
desigualdade, que se exercem no interior deste espaço - que é também um
campo de lutas para transformar ou conservar este campo de forças. Cada
um, no interior desse universo, empenha em sua concorrência com os
outros a força (relativa) que detém e que define sua posição no campo e,
em conseqüência, suas estratégias” (BOURDIEU, 1997, p. 57).

Lahire (2002) seleciona algumas características do campo definidas por


Bourdieu
_ Um campo é um microcosmo dentro do macrocosmo que constitui o espaço
global;
_ Um campo é um ‘sistema’ ou um ‘espaço’ estruturado de posições;
35

_ Cada campo possui regras do jogo e desafios específicos, irredutíveis às


regras do jogo ou aos desafios dos outros campos (o que faz "correr" um
matemático - e a maneira como "corre" - nada tem a ver com o que faz "correr" - e a
maneira como "corre" - um industrial ou um grande costureiro).
_ As estratégias dos agentes se entendem se as relacionarmos com suas
posições no campo;
- A cada campo corresponde um habitus26 (sistema de disposições
incorporadas) próprio do campo (por exemplo, o habitus da filologia ou o habitus do
pugilismo). Apenas quem tiver incorporado o habitus próprio do campo tem condição
de jogar o jogo e de acreditar na importância desse jogo;
- Cada agente do campo é caracterizado por sua trajetória social, seu habitus
e sua posição no campo;
_ Os interesses sociais são sempre específicos ao campo e não se reduzem
aos interesses de ordem econômica;
- Um campo possui uma autonomia relativa: as lutas que nele ocorrem têm
uma lógica interna, mas o seu resultado nas lutas (econômicas, sociais, políticas)
externas ao campo pesa fortemente sobre a questão das relações de força internas.
Um campo será tanto mais autônomo quanto mais específicos forem os seus
troféus, isto é, os objetos de luta social que lhe caracterizam;

Algumas das características acima podem ser relacionadas de forma mais


específica ao campo jornalístico. A questão do habitus, por exemplo. Bourdieu (apud
Setton, 2002) o define como “um sistema de disposições duráveis e transponíveis
que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como
uma matriz de percepções, de apreciações e de ações”. No jornalismo, o habitus
seria o conjunto de normas profissionais que caracterizam o jornalismo como ele é;
ou seja, é o que torna possível com que a realização de tarefas diferenciadas - como
redação, apuração, edição e ilustração de texto, por exemplo - façam parte de um
mesmo sistema.
Como diz Bourdieu, é imprescindível que esse habitus seja incorporado nos
agentes que participam do jogo de cada campo. Logo, para fazer parte do campo
jornalístico, deve-se ter ciência das normas e regras que caracterizam o jornalismo e

26
Não convém a este trabalho se aprofundar no conceito de ‘habitus’, que, assim como o de ‘campo’,
tem uma longa tradição de estudo na área das Ciências Sociais.
36

definem o que é o seu campo; do contrário, não se terá condições de adentrar no


“jogo” que se forma dentro desse campo jornalístico. Quer dizer, condições até
podem existir, mas a luta que, por exemplo, quem não pertence ao campo faz para
manter esta posição que ocupou é de tal forma desigual em comparação com outros
agentes já consolidados no campo que ele dificilmente consegue resistir e acaba
sendo expulso deste campo.
Em “Sobre a Televisão”, Bourdieu (1997) afirma que “o mundo do jornalismo é
um microcosmo com leis próprias (...), o que significa dizer que o que nele se passa
não pode ser compreendido de maneira direta a partir de fatores externos”. Ou seja,
as leis vigentes no mundo do jornalismo - como, por exemplo, o critério de
noticiabilidade usado por determinado jornal diário – não podem ser entendidas de
maneira direta a partir de questões trazidas por agentes externos ao campo. Para
continuar no exemplo, um empresário de uma empresa metalúrgica tradicional –
pertencente ao campo metalúrgico, portanto - não irá compreender objetivamente o
porquê de a sua empresa, que teve um lucro astronômico durante o ano, não ter
ganhado destaque extra na capa de determinado jornal diário da sua cidade. O fato
de o empresário ser um agente externo ao campo jornalístico tornará difícil a sua
compreensão de que, por mais importante que a empresa for para a cidade, ela não
poderá ganhar um espaço demasiado na capa pois os seus lucros não são
diretamente de interesse público, que é um dos critérios fundamentais de
noticiabilidade.
O campo jornalístico, de forma simplificada, pode ser caracterizado ainda
como um espaço estruturado em determinadas posições. Este “espaço”, ou
“sistema”, é o local onde estão presentes os agentes do campo, os jornalistas, que
são regulados por regras e leis próprias que caracterizam e também regulamentam
a profissão – é o habitus do jornalismo. É importante a compreensão do conceito de
campo jornalístico, bem como a sua visualização, para que se consiga entender
como que se dá a aproximação da blogosfera – que não é um campo estruturado
como o jornalismo, mas ainda um fenômeno disperso – junto a ele.
37

4.3 – A blogosfera se aproxima do campo jornalístico;

Como relatado no capítulo anterior, a aproximação dos blogs com o


jornalismo começa em 2001, quando eles passam a ser usados mais comumente
pelos usuários da internet como fonte de informação de relevância jornalística.
Nesse período inicial, essas informações eram basicamente sobre conflitos e
acontecimentos extraordinários, como o atentado terrorista aos Estados Unidos em
11 de setembro de 2001, e as pessoas que as publicavam davam a sua visão dos
acontecimentos, personalizando as informações na sua persona.
Com a expansão da web em escala mundial, aumenta o número de blogs
existentes, e muitos desses também passam a disponibilizar informações de
relevância jornalística. É então que, aos poucos, o jornalismo tradicional passa a
questionar a informação contida nesses blogs, perguntando se ela é produzida e
apresentada de acordo com o habitus do seu campo.
Ao mesmo tempo em que surgem os primeiros debates, a blogosfera cresce
cada vez mais e se aproxima do campo jornalístico; mesmo de uma forma redutora,
os blogs passam a ser adotados pelos principais jornais online, que os enquadram
num formato e gênero já conhecido, a coluna de opiniões. O enquadramento se dá
na medida em que esses blogs, em sua grande maioria, limitam o uso dos links para
um circuito fechado do próprio grupo de imprensa a qual fazem parte, o que os deixa
fora da produção e transmissão irrestrita de conteúdo da blogosfera mundial.
Porém, neste mesmo momento, ganham visibilidade blogs com informações
de relevância jornalística e que também fazem parte da blogosfera, ou seja, que
compartilham da “filosofia” de retroalimentação constante desse sistema. Em países
como os Estados Unidos e Inglaterra, esses blogs passam a ganhar um espaço na
mídia cada vez maior, com alguns até disputando a audiência com empresas
jornalísticas tradicionais. Para fins de visualização, esses blogs mencionados
ocupariam a área de intersecção entre a blogosfera, um fenômeno que ainda se
apresenta de maneira dispersa, e o campo jornalístico, autônomo e coeso,
representados pela imagem a seguir (figura 9).
38

Figura 9: A dispersa blogosfera se aproxima do rígido campo


jornalístico.

A repercussão causada pela aproximação da blogosfera e do campo


jornalístico, juntamente da contínua e sempre crescente propagação dos blogs na
internet, passou a provocar sérios questionamentos no habitus do campo
jornalístico. Alguns recursos utilizados comumente em jornais online tradicionais,
como a interatividade, têm sua função questionada frente à liberdade com que a
blogosfera se utiliza deles e, mais do que isso, se aproveita dos comentários para
criar novas discussões e trazer novas informações. Outro exemplo: a facilidade de
acesso à criação de um blog – basta um computador com ligação à internet e alguns
poucos minutos – pode provocar dúvidas da ordem do habitat do campo, trazendo
uma questão pertinente: como, teoricamente, qualquer informação publicada em um
blog pode adquirir status de notícia, quem estaria ocupando o habitat do campo
jornalístico e, portanto, fazendo o papel de agente do campo?
39

Os questionamentos trazidos ao habitus do campo jornalístico pela blogosfera


acabam provocando efeitos de várias ordens no mesmo. Palacios (2006 a) aponta
como sendo oito estes efeitos de aproximação entre blogosfera e o jornalismo. Eles
serão explicados a seguir.

4.4 – Efeitos da aproximação entre a blogosfera e o campo jornalístico;

Para um melhor entendimento, após a apresentação de cada efeito serão


realçados os aspectos principais de cada um.

1) Subversão do lugar de emissão (“Liberação do pólo emissor”);

Por ser gratuito e de fácil acesso, qualquer um pode criar um blog e postar o
que quiser nele, inclusive informação de relevância jornalística. Assim, ocorre a
liberação do pólo de emissão da informação para qualquer um que tenha o interesse
em obtê-lo, não o deixando somente com os agentes do campo jornalístico.
Subverte-se o tradicional lugar de emissão; é aberta uma brecha para que outros
emissores possam ocupar um espaço que até então não existia, fazendo com que
mais pessoas tenham o seu lugar para informar e o use da maneira que achar
adequado – muito embora ter esse espaço, por si só, não garanta uma visibilidade
significativa a ele.

2) Questionamento do habitat do campo (“quem são os jornalistas”?);

Não-jornalistas podem adquirir livremente um lugar de emissão da informação


jornalística e usá-lo para este fim sem ter condições teóricas e muitas vezes técnicas
para isso. Com a profusão de blogs cujas informações ganham status jornalístico,
haverá necessidade de maior seleção desses por parte dos usuários da web; essa
seleção vai se basear, dentre outros fatores auxiliares, no questionamento de quem
é que está ocupando o habitat do campo jornalístico, e fatalmente se chegará à
pergunta: o blogueiro é ou não jornalista, ou melhor dizendo, um agente do campo
jornalístico?
40

Essa pergunta provocará uma dúvida na ordem do habitat do campo, o que


tornará necessário repensar o papel do jornalista a fim de novamente identificá-lo ou
não como único agente do campo jornalístico. Como decorrência, é possível que
haja uma revisão, ou reordenamento, do habitus do mesmo.

3) Mudança nos critérios de noticiabilidade;

Com o acréscimo de novos pólos na emissão da informação jornalística, os


critérios utilizados para classificar determinado acontecimento como notícia se
tornam diferentes. Haverá pessoas para além do campo classificando-os, o que já
presume que outros interesses podem ser levados em conta na hora de determinar
o que é ou não notícia; do outro lado, haverá um maior número de pessoas
interessadas em fatos que não ganhariam status de notícia se não houvesse alguém
para classificá-las como tal.
Um exemplo simples ajuda a explicar este e também os dois primeiros efeitos
apontados nos subtópicos anteriores: às onze horas da noite acontece um acidente
entre dois carros em frente a um parque importante de uma grande cidade. Devido a
uma série de situações parecidas ou de maior gravidade ocorridas no mesmo dia, o
jornal local não noticiou o acidente em sua edição do dia seguinte. Um blogueiro X
morador do local, que no momento da batida violenta dos dois carros estava na
janela de seu apartamento, tirou uma foto do ocorrido. Em poucos minutos, acessou
a internet em seu computador pessoal e produziu uma nota sobre o acontecimento,
com foto, e a postou em seu blog. Um também vizinho do local do acidente, assíduo
navegador da web, conhecia o blog de X e o acessou; rapidamente, ligou para
outros vizinhos pedindo para fazer o mesmo; estes ligaram para outros conhecidos,
e dentre eles estava um parente de um dos envolvidos na batida. Assim, o blogueiro
X viu seu post ganhar importância ao ser a única fonte de informação sobre o
acidente.
O exemplo descrito acima pode trazer algumas questões pertinentes: o
blogueiro X postou a informação em seu blog pelo fato de estar perto do local do
fato, e esta informação ganhou importância para determinado grupo de pessoas,
adquirindo para eles status de notícia. Daí se deduz que a presença de pessoas
além do campo classificando fatos como notícia, com interesses diferentes dos
agentes do campo, pode reforçar a ‘proximidade’ como um importante critério de
41

noticiabilidade. O blog X também se beneficiou pela liberação do pólo emissor da


informação de relevância jornalística para produzir o seu post, o que exemplifica o
primeiro efeito causado pela aproximação da blogosfera e do jornalismo; e o mesmo
blogueiro X, que não é jornalista, passou a ocupar, sem se dar conta, um lugar no
habitat do campo jornalístico, o que confirma o segundo efeito.

4) Maior vigilância da mídia tradicional;

Como citado no segundo capítulo, o advento dos blogs de informação de


relevância jornalística é decorrente de vários fatores, e, dentre os principais, está o
fato de que muitas pessoas não estavam contentes com o que era noticiado pelo
jornalismo tradicional, cada vez mais distante da realidade por elas observada. A
expansão mundial dos weblogs do início da década possibilitou com que muitas
pessoas passassem a manifestar essa insatisfação, transformando os seus blogs
em “observatórios da imprensa”. Atentos a cada passo da mídia tradicional, eles
podem apontar os erros cometidos com mais liberdade do que em outras mídias,
transformando-se em poderosos antídotos contra o jornalismo descuidado.
A mídia tradicional, sentindo-se mais fiscalizada, pode optar por critérios mais
claros na hora de escolher o que é ou não notícia, assim como em sua relação com
o grande público.

5) Ampliação do debate pela via de comentários de usuários;

Da mesma forma como a criação de um blog é feita de forma fácil e


rápida, a interatividade desse com o usuário da internet através da ferramenta de
comentários também é. Em grande parte dos blogs existentes, pode-se deixar um
comentário apenas clicando no link que é oferecido; por vezes, é exigido que o
usuário se cadastre no servidor onde o blog está hospedado, o que prontamente se
pode fazer colocando o e-mail e nome da pessoa. Essa facilidade encontrada
propicia um aumento do debate entre o produtor da informação de relevância
jornalística e o seu leitor, possibilitando que haja maior quantidade e rapidez na
troca de informação entre as duas partes.
42

6) Potencialização do Jornalismo Público (jornalismo participativo, grassroots


journalism);

A facilidade já citada de se criar um blog faz com que qualquer pessoa que
queira disponibilizar sua informação tenha possibilidade de fazer isso. Dessa
forma, cresce ainda mais a possibilidade de qualquer cidadão participar na
produção e veiculação da informação, aumentando o potencial do chamado
jornalismo participativo27 e provocando ainda mais discussões se este novo
“cidadão-repórter” pode ou não se tornar agente do campo jornalístico.

7) De audiência a rede;

A relação entre os produtores e os consumidores de notícia no jornalismo de


hoje, que ainda tem como esquema predominante o 'um-muitos', pode vir a se tornar
'muitos-muitos', formando assim uma rede mundial de produção e transmissão de
conteúdo e informação. O leitor deixa de ser passivo e passa a ser um usuário
dessa rede.
As decorrências para o campo jornalístico dessa nova relação que se forma
são consideráveis. Uma delas é que essa rede de produção de informação - sendo
informação de relevância jornalística – pode reivindicar uma posição dentro do
campo jornalístico, independente da aceitação ou não dos agentes deste campo
(jornalistas), o que pode ocasionar uma redefinição do próprio habitus do campo
jornalístico.
Essa constatação leva a crer que o jornalismo pode passar por uma
transformação de suas normas e leis, incorporando novas características ou
modificando as já existentes, e, desta maneira, o campo jornalístico, como se
conhece hoje poderá passar por uma séria transformação.

27
O jornalismo participativo é definido por J.D. Lasica como “O ato de um cidadão ou grupo de
cidadãos, desempenhar um papel ativo nos processos de recompilação, cobertura, análise e difusão
de notícias e informação” (LASICA, 2003 b)
43

8) Novo ecossistema informativo;

Este efeito diz respeito ao novo sistema de produção de informação citado no


subtópico anterior, que prevê a mudança da relação dos produtores e consumidores
de informação jornalística de audiência para rede. É ainda uma incógnita como esse
novo ecossistema informativo se dará; é possível que ele se forme nos moldes da
blogosfera, onde o modelo de circulação ‘muitos-muitos’ fará com que tanto
jornalistas quanto blogueiros participem, de maneira conjunta, de uma rede aberta
de produção de informação jornalística. Pode se formar assim um fenômeno que
transitará à parte pelo campo jornalístico, constituindo-se através de uma simbiose
de funções e interesses das duas partes envolvidas.

Os oito efeitos citados aqui questionam o habitus do campo jornalístico; este


questionamento traz como conseqüência a criação de diretrizes para o alargamento
do campo. Palacios (2006 a) apresenta três diretrizes principais, que vão ser
detalhadas no próximo tópico.

4.5 – Diretrizes de alargamento do campo jornalístico como


conseqüência da aproximação da blogosfera;

Até aqui se viu que a blogosfera - um espaço anárquico, informal, onde


ocorrem múltiplas conversações entre os blogs e a cultura que estes geram –
aproximou-se do campo jornalístico como um fenômeno disperso, não organizado, e
produziu efeitos de várias ordens no habitus deste campo. Como conseqüência dos
efeitos, três diretrizes para o aumento do campo jornalístico foram pensadas,
apontando direções para o alargamento do mesmo. Os esquemas a seguir (figura
10) exemplificam como que se dá essa situação:
44

Figura 10: Efeitos da aproximação e diretrizes de alargamento do campo.

A seguir, serão apresentadas as três diretrizes:

4.5.1. - Jornalismo Difuso;

“Jornalismo difuso” é o nome dado por Palacios ao uso do blog como


instrumento de reportagem - ou de um testemunho, de uma crônica - de
determinado local onde fatos de extrema relevância jornalística estão acontecendo.
É dada a voz aos que estão na “cena do crime”, vendo com seus próprios olhos a
realidade que lhes é oferecida para enxergar. Os blogueiros utilizam sua posição
privilegiada em determinado local para noticiar aquilo que vêem de forma mais
direta, pessoal, o que acarreta em não respeitar todas as normas do campo
jornalístico. A apuração, que acaba sendo de menor qualidade, é compensada pelo
maior uso da opinião do blogueiro que, estando no local dos acontecimentos, tem a
possibilidade de melhor contextualizar a sua informação com ações que o jornalismo
45

tradicional não teria interesse, condições e liberdade para fazer, como, por exemplo,
ouvir todo o tipo de pessoas (mesmo que elas não sejam categorizadas como
“fontes confiáveis”) e usar da primeira pessoa para relatar uma experiência vivida.
Exemplo prático do jornalismo difuso são os warblogs, blogs que tem como
foco central a questão da guerra, criados por pessoas que estão nos locais onde
ocorrem conflitos armados. Estes blogs, como citado no capítulo anterior, foram
responsáveis pelo aumento da visibilidade e da influência da blogosfera no
jornalismo, ainda em 2003, quando o seu uso foi bastante comum em decorrência
da proximidade da Guerra do Iraque e da invasão americana ao Afeganistão.
Palacios (2006 a) aponta como principal força deste tipo de jornalismo a
multivocalidade presente nele e o testemunho direto com que seus autores se
propõe a fazer. Como fraqueza, sinaliza a “incapacidade de fornecer um contexto
interpretativo de maneira que a chuva de informações possa adquirir significado e
transformar-se em conhecimento” (Palacios 2006 a), daí surgindo, também, o nome
“difuso” da classificação.

4.5.2. Jornalismo de recuperação da informação residual (“jornalismo lateral”);

É o tipo de jornalismo que tem disposição a dar visibilidade a notícias,


eventos e fatos que não ganham relevância oportuna na mídia tradicional. O advento
dos blogs como novos pólos de emissão da informação jornalística dentro do campo
possibilita maior diversidade de assuntos e acontecimentos que poderão vir a ser
classificados como notícias, o que, logicamente, traz consigo uma diferença nos
critérios de noticiabilidade usados até então.
De início, com o maior número pessoas publicando em seus blogs fatos e
acontecimentos com valor noticioso, outros interesses serão levados em conta na
hora de determinar o que é ou não notícia. Assim, tanto aquilo que hoje é
descartado pela mídia tradicional – por exemplo, o caso do acidente usado no tópico
4.4.3 deste capítulo - como também os fatos que não foram aproveitados de uma
forma adequada por essa mesma mídia podem ser utilizados pelos blogueiros, o que
pode levar a mais fatos serem considerados como notícias.
O aumento de produção de notícia fora do campo jornalístico propicia também
maior diversidade de informações noticiosas produzidas. Como conseqüência, é
46

ampliada a percepção de que existem mais informações com valor noticioso do que
a mídia hoje mostra. É o advento do chamado “jornalismo lateral”, que traz novos
fatos para o cidadão, acostumado com o jornalismo “horizontal” produzido pela mídia
tradicional.

4.5.3 – Jornalismo de aprofundamento da colaboração (“jornalismo


colaborativo”);

A capacidade conversacional dos blogs através da blogosfera traz a


possibilidade de se produzir uma informação de relevância jornalística em que mais
pessoas estejam envolvidas em sua produção, até mesmo na sua apuração. Isso
ocorre de duas formas: através da ferramenta de comentários, e, principalmente,
dos links, que possibilitam uma interligação de diversas pessoas, ao mesmo tempo,
apurando e complementando a informação praticamente até o seu esgotamento
completo.
Um dos resultados dessa colaboração é o aprofundamento de assuntos que
ela pode trazer, na medida em que mais pessoas trabalhando na abordagem do fato
proporcionarão maior riqueza de detalhes ao apresentá-lo como notícia. Outra
decorrência é que a permanência da notícia em um circuito que se retroalimenta
constantemente pela multiplicidade de vozes faz com que novas perspectivas e
olhares sempre possam ser acrescentados.
Como as perspectivas apontam uma web cada vez mais rápida e fácil de usar
nos próximos anos, o potencial de crescimento desse tipo de jornalismo de
aprofundamento da colaboração só tende a crescer mais.

Neste capítulo, foi visto que a blogosfera se aproximou do campo jornalístico,


causou efeitos neste e, através desses efeitos, Palacios (2006 a) apresentou três
diretrizes que buscam entender o alargamento do campo. Mas para que apontam
estas diretrizes? Que tipo de jornalismo será aquele que o jornalismo difuso, o lateral
e o com aprofundamento da colaboração estarão produzindo? É visando continuar a
discussão que, nas considerações finais, mostra-se um novo caminho para entender
o que pode vir a ser esse “novo” jornalismo, no qual os blogs com informações de
relevância jornalística podem ser considerados uma manifestação inicial: o
‘jornalismo sistema’.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As três diretrizes de alargamento do campo jornalístico apresentadas no último


capítulo são decorrências diretas dos efeitos causados pela aproximação entre a
blogosfera e o campo jornalístico. Apesar de estarem apresentadas de forma
separada, pode-se notar que elas apontam para o mesmo sentido: o de buscar uma
maior interação entre os diferentes agentes de uma sociedade, de tornar o
jornalismo mais articulado – o que acarreta em uma apresentação dos fatos de
maneira mais complexa em relação à forma simplificada e reducionista que
predomina hoje. A este tipo de jornalismo mais praticado hoje, que está dentro do
campo sendo pressionado pela blogosfera, Foncuberta (2006) chama de ‘jornalismo
mosaico’.
É um tipo de jornalismo que não atende a todas as necessidades da
sociedade complexa atual, em que os fenômenos sociais estão “a cada dia mais
inter-relacionados, e onde a busca do isolamento de cada um destes a fim de se
achar uma solução única e, portanto, simples, leva a ocultar toda a realidade que se
pretende solucionar” (Morin apud Fontcuberta 2006, pág. 36). Em contraponto a
esse tipo de jornalismo, compartimentalizado, organizado como um sistema fechado
em si mesmo, a autora propõe que o jornalismo desejável hoje deve responder às
características de um sistema aberto, que está em contínua relação com o entorno
onde se desenvolve, recebendo informação deste entorno e lhe dando a resposta
possível. É então que Fontcuberta (2006) apresenta o conceito de jornalismo
sistema, como aquele que não isola os acontecimentos, mas os organiza em um
contexto determinado que estabelece uma gama de interações com seus
receptores, contribuindo assim na construção do sentido e na compreensão da
realidade:

O jornalismo sistema explica processos em que os fatos


aparentemente novos ou inesperados são sucessivas pontas de muitos
icebergs sociais cujas partes ocultas nunca foram suficientemente
mostradas. E, para isso, ele sabe que as notícias necessitam ser
explicadas, analisadas e interpretadas desde seu princípio (ou desde sua
eclosão a luz pública) até o fim. (...) Isto significa, em primeiro lugar, a busca
da máxima transparência na produção de pautas jornalísticas e nos critérios
empregados para a adoção ou não das mesmas; (...) implica em oferecer
uma explicação e um seguimento dos fatos noticiáveis que leve em conta o
48

processo de seu desenvolvimento desde todas as perspectivas necessárias


28
para sua compreensão pluridimensional (FONTCUBERTA, 2006, p.42).

Em outras palavras, é uma proposta de adotar o pensamento complexo no


campo jornalístico; buscar fazer um jornalismo complexo para uma sociedade
complexa, onde, essencialmente, o público deixa de ser simples consumidor de uma
mercadoria rígida para passar a ser um participante desse sistema complexo que
seria adotado na produção de notícias.
É no sentido do jornalismo sistema que apontam as três diretrizes de
alargamento do campo jornalístico ocasionadas pela blogosfera. Transformar o
consumidor em participante, usar diferentes estratégias – como os testemunhos
pessoais, por exemplo – a fim de buscar uma contextualização maior dos
acontecimentos, trazer novos fatos à tona para propor uma explicação mais
coerente com a realidade complexa que se apresenta aos cidadãos: são todos
recursos que os blogs produtores de informações de relevância jornalística estão
trazendo ao jornalismo tradicional.
Pode-se dizer que os blogs estão trazendo isso também porque eles próprios
são frutos diretos de uma resposta à reivindicação da sociedade atual por uma
informação mais complexa. O advento do uso dos weblogs como fonte de
informação de relevância jornalística, ainda em 2001, com os warblogs, veio para
responder a uma demanda da sociedade em ter outras visões dos acontecimentos,
articulando os fatos como um todo e explicando o contexto em que eles estão
inseridos.
É para ajudar a entender o porquê dessa demanda - e, principalmente, para
onde ela pode levar o jornalismo - que se faz necessária a continuidade dos estudos
da relação entre o weblog e o jornalismo.

28
“El periodismo sistema explica procesos en los que los hechos aparentemente nuevos o
inesperados son las sucesivas puntas de muchos icebergs sociales cuyas partes ocultas nunca
fueron lo suficientemente mostradas.Y para ello sabe que las noticias necesitan ser explicadas,
analizadas e interpretadas desde su principio (o desde su eclosión a la luz pública) hasta su fin.(...)
Ello significa en primer lugar la búsqueda de la máxima transparencia en la producción de sus pautas
periodísticas, en los criterios empleados para la inclusión (…) Implica ofrecer una explicación y un
seguimiento de los hechos noticiables que tenga en cuenta el proceso de su desarrollo desde todas
las perspectivas necesarias para su comprensión pluridimensional.” [Tradução do autor]
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