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INTRODUÇÃO
O projeto “Virgem da Lapa: de UTI Educacional a Cidade Educativa” é resultado da parceria entre o
Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, a Prefeitura Municipal de Virgem da Lapa, o Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Petrobrás. Suas atividades no município foram
iniciadas em fevereiro, com reuniões e apresentação de sua proposta à sociedade virgolapense. Em
março, teve início a formação de educadores.
As primeiras atividades do projeto estão sendo desenvolvidas no Pólo Lagoa da Manga, formado por
cinco comunidades: Buriti, Maribondo, Limoeiro, Barra do Vacaria e Lagoa da Manga. Bem próximo a
algumas dessas comunidades passa o rio Jequitinhonha, em Barra do Vacaria. A água do rio é
utilizada pela população para tomar banho, pescar, lavar roupas, beber e fazer comida.
Cada comunidade possui uma escola municipal com turmas multiseriadas – numa só turma, estudam
crianças de 1ª a 4ª série, daí a necessidade de dar início ao trabalho nessas comunidades.
Estamos iniciando algumas atividades importantes, como o levantamento de livros para a biblioteca
pública, juntamente com a Secretaria de Educação e escolas estaduais, além de sua informatização e
modernização, após a reforma a ser feita pela Prefeitura. No próximo mês, iniciaremos as
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Antes de iniciar as atividades, o CPCD apresentou o Projeto à comunidade de Virgem da Lapa, com a
presença do prefeito, representantes do Conselho de Direitos da Criança e Adolescente, professores,
vereadores e demais instituições, já que a proposta é somar forças para tirar as crianças da UTI da
aprendizagem.
No Pólo Lagoa da Manga, foram realizadas três reuniões, em comunidades diferentes, com média de
35 pessoas por reunião. Nelas, apresentamos o Projeto e falamos de seus objetivos. Sentimos que a
comunidade também se preocupa com a situação dos alunos, mesmo que aparentemente não consiga
ver solução para mudar a realidade das crianças na escola. Percebemos que, com o Projeto, elas
ficaram animadas e se sentiram valorizadas. Ao final, fizemos a inscrição de mães, pais e jovens para
as capacitações de Mães Cuidadoras e Agentes Comunitários de Educação. Para a capacitação de
Mães Cuidadoras, tivemos 29 inscrições e para Agentes, oito. Os jovens da comunidade são poucos:
alguns estão estudando na cidade de Virgem da Lapa, outros foram para o corte de cana e poucos,
que já concluíram seus estudo, permaneceram no local.
Este foi o nosso primeiro contato com a comunidade, que nos recebeu muito bem.
Fizemos a formação de Mães Cuidadoras do dia 13 a 17 de março, no Pólo Lagoa da Manga, com a
participação de 18 mães e um pai, todos das comunidades que fazem parte do Núcleo. Algumas
pessoas tiveram que andar aproximadamente duas horas e vinte minutos para chegar até o local do
treinamento, saindo cedo de casa, para conseguir chegar no horário combinado. O treinamento
aconteceu na comunidade Lagoa da Manga, no centro comunitário.
Durante o treinamento, fomos conhecendo as pessoas cada vez mais: o que fazem, o que querem,
quais as suas dificuldades e vontades. A partir daí, a estratégia foi aproveitar o que elas têm de
melhor, canalizando todo o conhecimento para promover a aprendizagem das crianças.
O grupo é muito simples. Embora tenha sentido dificuldade para conseguir realizar alguns desafios,
não desistiu. Essa é a principal marca das pessoas: não desistir diante de um desafio. Alguns
participantes são semi-analfabetos, mas isso não prejudicou o trabalho; ao contrário, até mesmo
contribuiu para que as pessoas se sentissem mais valorizadas.
No último dia, começamos a construir o nosso PTA (Plano de Trabalho e Avaliação). Para iniciar essa
construção, tivemos muita dificuldade, até que o grupo entendesse o que realmente é este instrumento.
Nele colocamos as atividades que podemos fazer, as tecnologias de aprendizagem e o que as pessoas
sabem fazer. Cada atividade a ser feita no seu tempo e com os responsáveis por sua execução.
Colocamos neste PTA todas as atividades capazes de contribuir com a aprendizagem das crianças em
situação de UTI e, a partir delas, promover o seu desenvolvimento.
Ao final, fizemos a seleção de 10 Mães Cuidadoras, que vão desenvolver as atividades junto à
comunidade. A conversa foi tranqüila, pois os participantes sabem o valor que têm, agora ainda mais
como educadores. Cada comunidade terá uma média de duas Mães Cuidadoras.
Naquela semana, criamos jogos, fizemos uso de brincadeiras e dinâmicas, visando o trabalho em
grupo e a aprendizagem das crianças. A partir das discussões, começamos a construir o PTA,
pensando em algumas atividades que podem contribuir com a aprendizagem das crianças. Ao final do
curso, uma pessoa foi selecionada para atuar diretamente nas atividades. À medida que a atividade
for acontecendo e houver necessidade, outros jovens serão inseridos no grupo.
• Bornal de Jogos
• Placas
Do dia 27 a 31 de março, as atividades aconteceram nas casas das crianças. As Mães Cuidadoras
fizeram visitas às famílias e foram muito bem recebidas. Fizemos também uma visita à escola, com o
objetivo de iniciar o diálogo com a professora e os alunos. Nessas visitas, já foi possível ter uma leitura
das dificuldades apresentadas pelas crianças. A equipe combinou de se reunir sempre na sexta-feira,
para avaliar e planejar as atividades a serem realizadas.
GERENCIAMENTO DO PROJETO
O projeto “Virgem da Lapa: de UTI Educacional a Cidade Educativ” é uma parceria entre a Prefeitura
Municipal de Virgem da Lapa, o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, o Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Petrobrás Distribuidora SA. O Centro Popular de Cultura
e Desenvolvimento (CPCD) é a instituição idealizadora do projeto, sendo sua responsabilidade
planejar, coordenar e executar todas as ações.
A Prefeitura está sempre participando e o diálogo entre as instituições parceiras é constante. O CPCD
está conhecendo a realidade local a partir de conversas e visitas à comunidade, e a parceria com
Secretaria Municipal de Educação tem sido essencial para que as atividades aconteçam. O acesso aos
funcionários da Prefeitura é tranqüilo, o que facilita o diálogo.
Como o projeto é uma novidade para a cidade, as pessoas estão empolgadas e querem ver as coisas
funcionando. Participam das reuniões e das capacitações propostas, mostrando-se dispostas a buscar
soluções aos desafios que surgem.
• Índices Quantitativos
- Mães capacitadas: 19
- Mães atuantes: 10
- ACE capacitados: 8
- ACE atuantes: 1
- Oficinas realizadas: 4
- Reuniões com a comunidade: 5
- Professores capacitados: 59
- Famílias atendidas: 15
- Crianças atendidas: 30
- Jogos reproduzidos: 25
- Jogos criados: 3
• Índices Qualitativos
- Trabalho em grupo.
- Criação de oportunidades de aprendizagem para crianças.
- Participação da comunidade nas reuniões.
- Envolvimento e comprometimento da Prefeitura e da Secretária Municipal de Educação.
- Integração com professores e boa aceitação do projeto.
- Planejamento do trabalho com a comunidade.
• Dificuldades Encontradas
SÍNTESE
Aos poucos, estamos conseguindo dar um formato ao nosso trabalho. Já capacitamos algumas mães,
agentes e professores. Faremos ainda novas capacitações em outra comunidade e na cidade, pois já
temos pessoas comprometidas e atuando. Com isso, sentimos que ampliamos, cada vez mais, o nosso
espaço e envolvemos mais pessoas nessa empreitada.
Começamos a nossa capacitação com a participação de 18 mães e um pai, todos das comunidades
que fazem parte do Núcleo Lagoa da Manga: Buriti, Limoeiro, Barra do Vacaria, Marimbondo e
Lagoa. Algumas pessoas precisam andar duas horas e vinte minutos para chegar até o local do
treinamento, tendo que sair cedo de casa para conseguir chegar no horário. O treinamento está
acontecendo na comunidade Lagoa da Manga, no centro comunitário.
Iniciamos o nosso primeiro dia falando dos objetivos do Projeto, das pedagogias da roda, do
brinquedo e do sabão, que vamos usar durante todo trabalho, além de outras que podem surgir a
partir da nossa prática. As pessoas se apresentaram informando o lugar onde moram e falando um
pouco de sua família.
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
• Crachá Criativo
Dividimos o grupo para fazer o crachá criativo. Com a primeira letra do nome, as pessoas colocaram
uma característica pessoal; algumas tiveram um pouco de dificuldade para revelar suas características
ou qualidades. Depois de prontos, os crachás mostravam palavras como: amigo, romântica, meiga,
maravilhosa, jovem, elegante, companheira etc. A partir daí, conversamos um pouco sobre as
características, as diferenças que todo mundo tem e a importância que temos na nossa família e na
comunidade.
• Roda Complicada
Na dinâmica “roda complicada”, o grupo teve que se desenrolar e trabalhar junto para conseguir
resultado. Da primeira vez, o grupo gastou pouco tempo para conseguir realizar a dinâmica. No
decorrer do trabalho, depois que as regras ficaram mais complexas, as pessoas acabaram soltando as
mãos, por falta de atenção. Conversamos depois na roda e o grupo quis fazer novamente. Da
segunda vez, foi mais desafiador, mas as pessoas conseguiram resolver com muita tranqüilidade, sem
Dividimos as mães em quatro grupos, que foram identificados por cores. Cada grupo ficou
responsável por uma tarefa: organização e limpeza, memória do dia, curiosidade da região,
brincadeira. Todos os dias, essas atividades iam sendo revezadas pelos grupos. Com isso, conhecemos
histórias das comunidades e conseguimos fazer com que as pessoas se envolvessem em tudo o que
acontecia.
• Construção do Boneco
Cada pessoa construiu o seu boneco, colocando nele seus ideais, sonhos, paixões, o que escutou de
bom, o que ouviu e não gostou, o que falou e se arrependeu. Nesse momento, o grupo teve
dificuldade para se colocar.
Voltamos para a roda e cada pessoa apresentou o seu boneco. Apareceram palavras como: amor,
solidariedade, união, amizade, paz, gosto de você, família, cidade etc. Quando perguntei se o boneco
tinha alguma semelhança com quem o fez, a resposta de todos foi sim. Os bonecos eram o retrato das
pessoas.
No segundo momento, as pessoas foram divididas em dois grupos para construir o boneco da
comunidade. A proposta era juntar todas as coisas boas que as pessoas colocaram e montar um
boneco que representasse a comunidade. Nos grupos, foi bem aceita a proposta de todos juntos
montarem o boneco. Depois de pronto, os grupos apresentaram o boneco e disseram que ele era
também o retrato da comunidade: solidariedade, união, respeito, carinho, acolhimento, trabalho etc.
Durante a capacitação, são feitas várias brincadeiras, com o intuito de entrosar, conhecer as pessoas e
provocar a discussão sobre as atividades e objetivos do projeto, constatando-se que muitas delas
podem ser realizadas com as crianças: Exemplos: Maestro, Piscada Fatal, Corrente elétrica, Coelhinho
saiu da toca, Minha direita está vaga, Terra, céu, mar e mundo etc.
• Teia de aranha
Cada pessoa teria que pensar em um animal, instrumento e fruta que tivessem suas características.
Depois disso, cada participante falava e em seguida lançava um cordão para outras pessoas,
formando uma teia de aranha.
As pessoas fizeram associações parecidas com elas em cada situação proposta. Animal: cachorro,
gato, bezerro, cavalo, carneiro etc. Instrumento musical: viola, guitarra, sanfona, zabumba, teclado,
cavaquinho, violino etc. Fruta: laranja, jabuticaba, melão, pêra, maçã, manga, banana etc. O que as
pessoas falaram: sou amiga, não desisto de lutar, sou nervosa, faço barulho, quero agradar todo
mundo, gosto de brincar, quero aprender mais, sou divertida, sou muito apaixonada, gosto de dar
comida para os meus filhos, sou carinhosa etc.
Observamos o desenho formado com a teia de vários jeitos: em pé, no alto e no chão. Nele
conseguimos ver algumas coisas importantes: estradas, figuras geométricas, comunidade, cidade,
estrelas etc. Depois de analisar todo o desenho, colocamos o cordão no chão. Depois que cada
participante ocupou o seu lugar, ainda sobraram alguns espaços. Então, as pessoas deram um jeito de
estar presentes em todos os pedacinhos daquele desenho. Alguns ocupavam muitos espaços ao
mesmo tempo e para isso tinham que se retorcer. Ao retornar o cordão para quem tinha lhe mandado,
cada um ia falando sobre qualquer dos itens – animal, instrumento ou fruta – que parecesse com
aquela pessoa.
Na roda, conversamos sobre tudo o que as pessoas haviam colocado e sentido, a importância que
cada um tem para a sua comunidade. Todos da roda eram diferentes e cada um revelava suas
qualidades. O desenho formado pelo cordão representava a comunidade, com todos os seus recursos,
cultura etc., e todas as pessoas estavam ligadas umas às outras.
Este texto foi lido na roda. Ele fala de brinquedos que sempre dão certo e que não oferecem qualquer
desafio para a criança. A princípio, as pessoas não conseguiam falar o que tinham entendido do texto.
A conversa ganhou fôlego quando as pessoas começaram a falar sobre os brinquedos de sua infância,
de como era bom e prazeroso brincar: as casinhas, as fazendinhas feitas de bambu, os carrinhos de
chinelo, o pique-esconde.
Esses exemplos relembraram muita brincadeira boa que as mães conheciam quando eram crianças.
Ficamos algum tempo conversando sobre as boas lembranças de nossa infância e que nos renderam
algum aprendizado. Então as pessoas passaram a entender a importância do brinquedo e do brincar
em nossas vidas e na aprendizagem da criança. Como vamos fazer para que as crianças aprendam
de uma forma lúdica e prazerosa? Essa é a chave para que elas se desenvolvam.
Depois dessa discussão, apresentei para o grupo a Torre de Hanói, um jogo no qual temos que tirar a
torre de um espaço e passar para um terceiro, sempre mexendo uma peça de cada vez, não podendo
mover duas peças juntas. Um jogo simples, mas que nos leva a pensar muito.
A roda grande foi divida em subgrupos, para cada um tentar resolver. De inicio, as mães achavam
impossível fazer aquilo: tentavam daqui, tentavam dali e nada. Levou mais de meia hora para que a
primeira pessoa conseguisse resolver o jogo. Depois, todo mundo queria tentar de algum jeito e ainda
teve gente que não conseguiu resolver naquele dia.
Depois, na discussão em grupo, as pessoas falaram do desafio que o jogo provoca e o quanto é bom
se sentir desafiado. No dia seguinte, as mães trouxeram dois quebra-cabeças: um pedaço de madeira
com um cordão entrelaçado em três buracos, com dois grãos de milho de cada lado. É um jogo muito
difícil de resolver, mas que tem solução. Poucas pessoas conseguiram. O outro é um emaranhado de
Ao final de tudo, as pessoas que não conseguiram resolver o desafio da Torre de Hanói levaram o
jogo para ensinar para o marido e o filho e até mesmo tentar resolver de novo. No dia seguinte,
contavam alegres o resultado: o jogo dá prazer às pessoas, desafia a nossa capacidade e exercita o
nosso raciocínio.
“A Torre de Hanói é um desafio e tanto!”
Maria Aparecida
• Bornal de jogos
As mães foram divididas em grupos e cada um recebeu uma regra de jogo para confeccionar. Como
as pessoas nunca tinham feito isso antes, tiveram dificuldades para entender a regra e montar o jogo.
Foi um desafio para elas. Nos grupos, elas leram as regras e procuraram entender os passos para a
construção. No final, foram reproduzidos três jogos: “dominó das sílabas”, “juntando sílabas” e
“encaixe numérico”.
Discutimos muitas coisas importantes a partir dos jogos: aprendizagem lúdica, uso de material
reciclável na construção de jogos, qual a letra que as crianças entendem mais, a estética, o trabalho
em grupo e como trabalhar o jogo para cada dificuldade da criança.
“Os jogos são cada um mais interessante que o outro. Eles ensinam a aprender matemática
divertindo!”
Suely
O Bornal e a Algibeira de Livros foram apresentados ao grupo. Depois de conhecer e ler alguns livros,
o grupo foi dividido em dois, com a tarefa de apresentar alguma idéia a partir disso. Foram usados os
livros: “O Presente”, “Cuidar dos Filhos” e “Seu José e Maria”. Dois grupos apresentaram teatro e o
terceiro fez uma produção de texto.
Cada grupo falou o que sentiu e o que pensou sobre as atividades. Para fazer as apresentações,
tiveram que usar muita criatividade. Para a maioria, era uma novidade, já que nunca tinham feito
teatro. Os participantes trouxeram ainda outras histórias que o povo da região costuma contar a seus
Conclui-se que o bornal e a algibeira de livros representam mais um instrumento para incentivar a
leitura e a escrita.
• Dinâmica da bola
Neste jogo, começamos a pensar o nosso PTA: dividimos o grupo em subgrupos e cada um tinha que
buscar formas inovadoras e criativas para conseguir jogar a bola no balde. Depois que cada grupo
apresentou suas propostas, nos reunimos para refletir de quantas outras maneiras, além das que
foram apresentadas, poderíamos fazer esse exercício. Avaliamos que devemos ousar mais, buscando
mil e uma formas de conseguir o objetivo traçado.
O grupo foi mais uma vez questionado: de quantas maneiras inovadoras e criativas podemos ensinar
uma criança a ler, a escrever e a fazer contas? Os grupos se formaram novamente para tentar listar as
coisas que podem ser feitas. Depois que cada grupo apresentou suas idéias, refletimos juntos sobre o
que havíamos discutido, os recursos que usamos, o potencial da comunidade e colocamos tudo no
papel.
Para fazer essa seleção, analisamos cuidadosamente o perfil das pessoas e, ao final, tínhamos 16
escolhidas. Dessas, foram selecionadas 10 Mães Cuidadoras para atuar em suas comunidades.
Conversamos muito com as pessoas e elas entenderam a importância que cada um tem no
desenvolvimento do trabalho, tendo sido selecionada ou não. Neste Núcleo, já temos grandes
parceiras, pessoas que se interessaram e transmitiram as boas coisas que a comunidade tem.
A semana foi muito produtiva, pois conseguimos formar na comunidade mulheres para atuar como
educadoras de seus filhos e dos outros. Embora o grupo formado tenham tido um pouco de
dificuldade, o trabalho foi iniciado. Na medida em que for acontecendo, as mães ganham experiência
e podem construir a sua marca na comunidade. Podemos afirmar que todas as mães que participaram
da capacitação se empenharam muito. Foi uma semana de muito aprendizado para todos.
Jorge Luiz Pereira
Educador - CPCD
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
• Roda Complicada
Com o objetivo de montar uma equipe para trabalhar junto em todos os momentos, fizemos uso dessa
dinâmica. O grupo foi bem rápido, conseguindo desfazer o nó com facilidade. Depois, na discussão,
disseram que foi fácil porque todo mundo se juntou para conseguir resolver.
Cada um fez o boneco no qual colocou seus sonhos, coisas que ouviu e gostou, suas paixões, o que
precisa fazer para realizar os sonhos e ideais. O que mais chamou a atenção nos bonecos foram os
ideais, representados por coisas muito importantes para a vida daqueles jovens: respeito,
solidariedade, combate à fome, drogas, analfabetismo. Sonhos: estudar, oportunidade. Paixões:
família, Deus, amigos. Todos os bonecos têm muita semelhança com as pessoas e tudo que colocaram
é a cópia fiel daquilo que cada um pensa.
Nessa dinâmica, conversamos muito, e eles mostraram que sabem o que querem. Só precisam de
oportunidade para desenvolver o potencial que têm. O que fazer para aproveitar o potencial de cada
um para o desenvolvimento da comunidade?
Depois, fizemos o boneco coletivo. Nele, colocamos o potencial de cada um para a comunidade.
Todas as coisas colocadas foram feitas por eles mesmos. Discutimos a respeito de valores, de cada
família e das pessoas e de quanto o jovem é importante para a comunidade em que mora. Se ele é
que vai assumir o lugar dos pais, como pode contribuir para o desenvolvimento das crianças, que são
o futuro de suas comunidades?
• Escravos de Jó
Essa brincadeira foi um desafio muito grande para o grupo, que ainda não conseguiu fazer com
sucesso esse jogo, embora tenha tentado várias vezes. O grupo se sentiu provocado por não conseguir
resolver. Voltamos para a roda e conversamos sobre os desafios e as dificuldades que temos de
superar, buscando entender por que o grupo não conseguiu resolver o desafio lançado por aquele
jogo. Como os jovens ficaram intrigados, decidimos tentar novamente. Mais uma vez, não tivemos
sucesso, mas houve avanços. Conversamos e conseguimos avançar um pouco mais.
Esse vai e vem, fazer avaliar e, se precisar, fazer novamente é muito importante. Sempre que
enfrentamos um problema, devemos estar juntos e nunca desistir.
• Piscada fatal
O grupo adorou essa brincadeira, que durou alguns minutos. Na discussão, conversamos sobre o
nosso olhar sobre as coisas. Como perceber as piscadelas que o nosso companheiro dá para a gente?
Às vezes, temos pessoas ao nosso lado que têm um problema, que precisam de ajuda e não ficamos
• Teia de aranha
Cada um escreveu o nome de um instrumento, animal, fruta e cômodo da casa que, a seu ver, tinha
características semelhantes às suas. Na apresentação, apareceram algumas associações. Animal: gato,
cavalo, coelho, urso, tigre; instrumento: teclado, flauta, violão, piano; fruta: morango, maçã, limão,
uva, pêra; cômodo da casa: sala, cozinha, quarto; características das pessoas: gosto de dar e de
receber carinho; sou calmo; sei conversar; sou azedo; sou doce; adoro dormir; sou inteligente.
As pessoas apresentaram o que julgam que são, o que gostam e seu jeito de ser. Discutimos sobre os
valores de cada um, o que cada pessoa tem de melhor e que pode oferecer à comunidade, ajudando
em seu desenvolvimento. Algumas pessoas sabem desenhar, outras têm facilidade para conversar, têm
criatividade, conseguem resolver um problema assim que surge, conseguem reunir outros jovens para
conversar. Na medida em que conversamos com as pessoas, foi possível descobrir essas qualidades.
O grupo contou que outros jovens saíram da comunidade para trabalhar no corte de cana, deixando
suas famílias para tentar mudar de vida. Tudo por falta de oportunidade. E agora, com a capacitação,
manifestaram o desejo de aproveitar as oportunidades que aparecerem e dar oportunidade para que
outras pessoas também possam aprender.
O texto foi lido na roda: ele fala de brinquedos que sempre dão certo, que não representam nenhum
desafio para criança alguma. A partir da leitura do texto, conversamos sobre os brinquedos e as
brincadeiras, pensando de que forma podemos usá-los para trabalhar com as crianças e fazer com
que se desenvolvam e possam aprender a ler, a escrever e a fazer contas a partir disso. As pessoas se
lembraram de brincadeiras da infância, coisas simples, mas que davam muito prazer em brincar, pois
as crianças passavam horas brincando de uma mesma coisa.
Como o grupo era pequeno, trabalhamos na roda com a Torre de Hanói, um jogo simples, mas que
desafia qualquer pessoa a pensar. No começo, eles não estavam entendendo a regra, achavam difícil,
mas foram tentando, até que um conseguiu vencer o jogo. Daí todos conseguiram, depois de tentar
Em seguida, dividimos o grupo em três subgrupos e cada um pegou um papelzinho com as seguintes
propostas: construir um jogo de adição, formação de palavras e sobre o alfabeto. Cada grupo pegou
o seu papel e se reuniu com sua equipe para pensar a melhor idéia. Os jogos construídos foram: Roda
das palavras, Baralho do alfabeto e Roleta matemática (regras em anexo). Depois, voltamos para a
roda e cada grupo apresentou o seu jogo. Avaliamos e fizemos mudanças na medida em que foram
surgindo novas idéias.
A partir dessa construção, discutimos a estética dos jogos, a criatividade das pessoas, o trabalho em
grupo, o uso de material reciclável na confecção dos jogos e a capacidade de pensar uma solução
para cada dificuldade que a criança tiver. Esses foram os primeiros de muitos jogos que serão
utilizados com as crianças, além de outros que vamos usar. O importante é sempre desafiar as
crianças a pensarem sobre cada situação.
• Brincadeiras
Um é bom, dois é pouco três é demais; você gosta de mim; coelhinho sai da toca.
Nestas brincadeiras, contamos com a participação das Mães Cuidadoras, que estavam no mesmo
local reproduzindo jogos. Depois de cada brincadeira, avaliamos os sentimentos de cada um e o que
era possível aprender e ensinar às crianças a partir delas. O que foi falado pelos jovens: ser carinhoso
um com o outro, dar oportunidade para todo mundo brincar, escrever as qualidades das pessoas, ter
afetividade um com o outro, ter atenção, saber ouvir, respeitar as regras etc.
Os jovens também tiveram a oportunidade de conhecer o Bornal e a Algibeira de Livros. Depois que
conversamos sobre a utilização desse instrumento no Projeto, eles tiveram um tempo para ler os livros.
Em seguida, fomos conversando e eles falavam dos versos e das adivinhações. Listamos algumas e
fomos falando para as pessoas. Conclui-se que as crianças também podem aprender muito
escrevendo, inventando novos versos e adivinhações.
A pedagogia das placas surgiu a partir da necessidade de se fazer algo para ensinar as crianças a ler
e a escrever. Na escola, na casa de cada criança, existem muitos objetos que eles conhecem, mas não
sabem escrever. Começamos, então, emplacando a escola, indo em seguida para a comunidade, até
todas as crianças em fase de UTI. Fizemos placas na casa de cada uma delas. Chegávamos e íamos
colocando placas em tudo. Ao final, conseguimos fazer com que muitos alunos aprendessem a
escrever palavras a partir dessas placas. Agora, na casa delas, para todo lado que olharem, sempre
haverá uma palavra convidando-as a ler.
O grupo fez a pedagogia das placas na sala onde estávamos, da mesma forma que fazemos com as
crianças: ensinando letra por letra. Emplacamos todas as coisas que existiam no local e depois
discutimos sobre o instrumento que podemos usar e outros que poderão surgir, à medida que for feito
o trabalho com as crianças e a comunidade.
• Dinâmica da bola
Formados os subgrupos, cada um fez uma lista sugerindo formas de jogar a bola dentro do balde,
perfazendo um total de 14 formas. Na discussão, tentamos pensar outras formas e elas foram
aparecendo. No final, eram mais de 30 e todas foram feitas na hora. A partir daí, iniciamos a
construção do PTA (Plano de Trabalho e Avaliação).
Na roda, começamos a construir o nosso objetivo, que é a aprendizagem das crianças e adolescentes.
Cada um dava a sua opinião e discutíamos para ver onde encaixar a melhor idéia. Ao final, depois de
muita conversa, conseguimos iniciar o nosso PTA, que ao longo do trabalho será aprimorado,
acrescentando-se mais atividades e perguntas.
• Seleção de ACE
Ao final do treinamento, selecionamos uma ACE que vai desenvolver a atividade no Núcleo Lagoa da
Manga, na comunidade do Buriti, junto com uma Mãe Cuidadora. À medida que o trabalho for
acontecendo e houver necessidade, algumas das pessoas que não foram selecionadas poderão ser
chamadas para fazer parte do grupo.
Nesses dias em que ficamos reunidos, tivemos a oportunidade de conversar bastante, conhecer ainda
mais o que a comunidade tem para oferecer. As pessoas que participaram se empenharam muito nas
dinâmicas, brincadeiras, criações e em todos os desafios. Hoje, na comunidade, temos jovens
formados como Agentes Comunitários de Educação que têm muita energia para doar à comunidade
visando o seu desenvolvimento.
“Quando as crianças forem brincar com os jogos, com certeza eles vão conseguir aprender bem
rápido a ler e a escrever.”
Adair José dos Santos - Comunidade Buriti
Núcleo Lagoa da Manga
“Aqui eu aprendi coisas que eu nem sabia e nem imaginava que ia aprender.”
Avelina Caetano de Jesus - Lagoa da Manga
Pólo Lagoa da Manga
“Algumas coisas eu aprendi e outras não. A Torre de Hanói, por exemplo, tenho que tentar mais
vezes.”
Marizete dos Santos Gomes - Comunidade Buriti
Pólo Lagoa da Manga
“Aqui eu já aprendi um monte de brincadeiras e estou conhecendo as histórias das outras pessoas.”
Tereza Teixeira Batista - Comunidade Lagoa da Manga
Pólo Lagoa da Manga
“Fazer um jogo não é tão fácil. O jogo tem que ser divertido para a criança achar bom. Assim todo
mundo vai gostar dele.”
Ronuarlei Fabio Paiva - Comunidade Marimbondo
Pólo Lagoa da Manga
“Foi fácil fazer o jogo e gostoso. Com ele estamos exercitando a memória e a imaginação. Jogando
junto com as crianças, estamos aprendendo ao mesmo tempo.”
Elisângela Assunção - Comunidade do Buriti
Pólo Lagoa da Manga
“Foi bom demais participar do curso! Tudo que eu aprendi aqui vou passar para os meus filhos.”
Jannia Francisco de Oliveira - Comunidade Barra do Vacaria
Pólo Lagoa da Manga
“Gostei muito dos jogos, aprendi quase todos. A damatica é difícil, tenho de fazer força para
aprender.”
Zilda Batista Souza - Comunidade Lagoa da Manga
Pólo Lagoa da Manga
“Foi muito bom a gente reunir para construir os jogos! Desse jeito vamos ficando cada vez mais
juntas.”
Joanalice Teixeira Batista - Comunidade Buriti
Pólo Lagoa da Manga
• Jogos criados
Roleta Matemática
Idade : 8 a 10 anos
Material: Papelão, folha branca, pedaço de madeira pequeno para fixar a roleta, um prego.
Faça uma roleta bem bonita e escreva quantas continhas de adição couberem.
Modo de jogar: Podem jogar quantas crianças quiserem, divididas em grupos ou quatro pessoas. O
primeiro grupo roda a roleta e, na conta que ela parar, a criança deverá responder. Ganha o jogo
quem conseguir responder o maior número de continhas corretamente. Todas as contas têm que ser
anotadas no caderno.
Obs: o jogo pode ser adaptado para outros sinais. Podem ser utilizadas sementes ou pedras para as
crianças fazerem a soma.
Idade : 8 a 10 anos
Material: Papelão, régua, caneta, lápis, tesoura, folha branca, uma tábua pequena para fixar a roleta.
Construa uma roleta e coloque todo o alfabeto escrito na parte de cima e depois coloque uma setinha
para indicar onde a roleta parar.
Modo de jogar: Podem jogar de quatro a seis crianças. Uma criança começa rodando a roleta e, na
letra que parar, a professora que estiver coordenando vai dar um tempo para a criança escrever
quantas palavras iniciadas com aquela letra ela conseguir. Ganha o jogo quem conseguir escrever o
maior número de palavras certas.
Baralho do Alfabeto
Idade : 7 a 9 anos
Modo de jogar: Podem jogar 4 ou mais pessoas. Cada um deve pegar 10 cartas. O primeiro jogador
comprará cartas no monte, se ele não quiser passar a vez para o colega. Ganha o jogo quem
conseguir formar duas palavras primeiro.
Obs: pode-se construir um número maior de cartas do alfabeto, para facilitar o jogo.
Antigamente, a comunidade do Marimbondo se chamava Santa Clara. Assim diziam as pessoas mais
velhas. No início, aqui era simplesmente uma fazenda que se chamava Fazenda Braga, nome que foi
mudado pelo próprio dono, um fazendeiro poderoso. As pessoas chegavam, cercavam as terras e
ficavam sendo donas delas.
Como os agregados que moravam e trabalhavam nas fazendas passaram a ter direitos, começaram a
fechar suas áreas. Anos depois, eles sentiram que não poderiam continuar com este nome, porque já
havia vários moradores e tinham que se destacar. Como perto dali havia um córrego que se chamava
Marimbondo, a comunidade passou a se chamar Marimbondo.
A comunidade foi crescendo e, depois de alguns anos, foi construída uma escola, uma creche e
instalada a energia elétrica, além de muitos outros projetos importantes, como telefone, água etc
Grupo azul
Elizete, Zilda e Aparecida
A comunidade, antigamente, era chamada de Fazenda Braga. A mudança de nome veio por causa de
um córrego que corria aqui muito perto, chamado córrego do Marimbondo. Seu Deraldo, que é a
pessoa mais idosa aqui na comunidade, conta que eles sofriam muito: não tinha transporte e eles
tinham que ir até a cidade a pé. E o pior é que tudo que era produzido na roça tinha que ir junto para
trocar por outros produtos. As pessoas iam e voltavam com muito peso. Naquela época, a
comunidade era muito esquecida, não tinha ajuda nem orientação de ninguém. O povo seguia o que
ouvia falar. Por exemplo:
“A minha vó contava que, quando saía algum benefício, ela ficava muito tempo sem receber por
medo, porque ela ouvia dizer que um certo tempo alguém ia levá-la para um frigorífico para fazer
sabão.”
“Se naquela época tivéssemos o que temos hoje, seria muito melhor.”
Rita Caetano de Jesus
Comunidade do Marimbondo
Contam os povos mais velhos que a comunidade tem este nome por causa de um pé de árvore que se
chamava buriti. O pé de buriti é uma árvore que dá uns coquinhos e com o seu tronco se retira
taquara para fazer gaiolas e outros tipos de artesanato.
Grupo Vermelho
Elisângela, Adair
A comunidade Limoeiro, antigamente, era chamada de Buriti, e a comunidade do Buriti era chamada
de Limoeiro. Como no Buriti havia muito limão, os antigos moradores saíam de Limoeiro para pegar
limões no Buriti. E falavam um com o outro: vamos pegar limão no limoeiro. Na época, os pegadores
de limão conversaram. Então, quem morava no Limoeiro passou a chamar a comunidade de Buriti,
porque lá, ao invés de ter limão, tinha uma árvore que se chamava buriti. E o lugar que se chamava
Buriti tinha muito limão. Daí pra frente, até hoje as comunidades têm os seus nomes no lugar certo.
Das pessoas que viveram nessa época, hoje só tem duas: dona Maria Nere, conhecida como Maria de
Antônio Dias, de 90 anos, e o Sr. Pacífico com 79 anos. Estas são as pessoas que hoje nos contam as
histórias de antigamente.
Grupo Verde
Suely, Joanalice, Cleonice e Rita
Aqui na comunidade, os primeiros moradores foram o Seu Napoleão e Dona Joana e seus filhos. Há
muitos anos atrás, eles sofreram muito com pessoas que queriam tomar as poucas terras que tinham.
A família lutou até conseguir sair livre dessa ameaça. Depois disso, começaram a chegar outras
famílias e, desde então, se formou um povoado. Antes, aqui se chamava Mubuca; depois de algum
tempo, passou a se chamar Lagoa da Manga, pois aqui existiam muitos poços e mangas
(denominação dada para os pastos) e as famílias usavam a água com bastante dificuldade. Hoje, a
comunidade já conta com a água encanada de um poço artesiano.
Zilda Batista Souza - Comunidade Lagoa da Manga
Entrei no jardim,
O jardim escureceu,
Toquei numa rosa,
Você apareceu.
• O menino e o ovo
Num dia muito bonito, um menino foi à casa de sua madrinha. Chegando lá, ela deu a ele um ovo.
No caminho de volta para a casa, ele colocou o ovo no chão e disse: - O que eu vou fazer com este
ovo?
O menino foi embora, deixando o ovo, mas sua madrinha o viu colocando o ovo no chão. Vendo
aquilo, ela foi até lá e pegou o ovo, colocando-o para chocar e dele nasceu uma pintinha fêmea. Ela
cresceu, tornando-se uma saudável franga. Começou a botar e assim a madrinha do menino juntou os
ovos e os colocou para chocar novamente, deles nascendo um tanto de pintinhos. Ela então pegou os
pintinhos e os vendeu. Com o dinheiro, comprou uma leitoa, que deu cria. Novamente, ela vendeu os
leitõezinhos e comprou uma bezerra, que cresceu, deu cria e foi rendendo, até que chegou em 40
cabeças de gado. Tudo aconteceu sem o menino saber. Depois de algum tempo, ela juntou as 40
cabeças de gado, prendeu no curral e mandou chamar o menino. Entregou a ele o gado e disse:
- Essas 40 cabeças de gado são fruto daquele ovo que você deixou no meio do caminho.
O menino ficou rico e, com muita vergonha, agradeceu à sua madrinha.
Jannia