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Didáctica do Alemão I
Análise aprofundada dos temas: “vocabulário”, “pronúncia”,
“gramática” e “compreensão oral e escrita”.
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Maria Miguel Vidreiro da Rocha, nº 20092326
25-01-2010
Análise do Manual: Lagune 1 – parte II
Didáctica do Alemão I
ÍNDICE
Índice............................................................................................................................................ 2
Introdução .................................................................................................................................... 3
Vocabulário .................................................................................................................................. 4
Pronúncia ..................................................................................................................................... 8
Gramática ................................................................................................................................... 12
Compreensão ............................................................................................................................. 15
Conclusão ................................................................................................................................... 20
Bibliografia ................................................................................................................................. 21
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como finalidade analisar de modo mais aprofundado o tratamento do
vocabulário, da pronúncia, da gramática e da compreensão ao longo do manual Lagune 1.
Cada tema abre com um resumo dos pontos essenciais para um bom aperfeiçoamento da
competência em questão. No momento a seguir, decorre a análise do tratamento nos manuais
em foco, com exemplos específicos e algumas imagens.
Devido ao uso extremamente frequente de citação das páginas dos três manuais, recorro às
seguintes iniciais para me referir a cada um deles: KB – Kursbuch; AB – Arbeitsbuch; e LB –
Lehrerhandbuch.
VOCABULÁRIO
Quando se trabalha o tema de vocabulário deve-se considerar, entre outros, os seguintes
aspectos: as associações de natureza pessoal, cultural e lógica para facilitar a memorização; o
aproveitamento do vocabulário para a sensibilização das diferenças culturais, como é o caso
do pão, da água, do café, etc; as explicações, as ligações a conhecimentos prévios e o uso de
objectos, imagens, sons, gestos; a sistematização e consolidação de vocabulário pelo uso de
exercícios e jogos; a inserção de palavras novas em contexto; a valorização da actividade do
aluno e o tratamento diferenciado de palavras, através da dedução e da “Vorentlastung”; e,
finalmente, o registo de vocabulário, seja no quadro, seja no caderno diário ou em cartões.
O VOCABULÁRIO NO LAGUNE 1
No Kursbuch, as palavras novas são concordantes com o tema em que se inserem e são
introduzidas maioritariamente pelo recurso a imagens (ver KB pp. 45 e 56, por exemplo). O
facto de estarem inseridas num contexto específico, permite que os aprendentes criem o
hábito de tirar o significado da palavra a partir desse contexto, limitando o recurso excessivo
ao dicionário, tão habitual nos aprendentes de línguas estrangeiras. Nesta última metodologia,
é sugerido ao professor que introduza vocabulário através da sua contextualização no quadro
(ver LB p. 44, ex:7.2 e p.45, ex:8.4, por exemplo).
Não obstante, existem imagens não muito claras de significado no Kursbuch (KB p. 75). Veja-se
a imagem em baixo, onde “Rasieraparat” não está muito clara, assim como “Kreditkarte” e
“Wörterbuch”, por exemplo.
O vocabulário é usado ainda para apresentar diferenças culturais entre os países de língua
alemã, como por exemplo no modo como se brinda (LB p. 59). Porém, poderia explorar as
Apresentam exercícios lúdicos com recurso a imagens (KB p.25; LB p.20) e a objectos (LB p.43,
ex:5z). O uso do dicionário apenas aparece mais adiante no manual, na lição 25, para descobrir
o significado de palavras num site de internet (KB p. 120).
Dado que o vocabulário receptivo não precisa ser treinado, no manual de actividades –
Arbeitsbuch – os exercícios propostos voltam a usar imagens e associações para consolidação
de vocabulário activo (por exemplo na página p.56, ex:5 do AB associam-se palavras do mesmo
tipo: bebidas, comida e pessoas).
Ainda no Arbeitsbuch, na última página do final de cada lição, é oferecida ao aprendente uma
lista de vocabulário que deve dominar. Este vocabulário consiste em substantivos, verbos,
outras palavras relativas a temas específicos, expressões, etc. (AB p. 60). Pode acontecer que
nem todo o vocabulário se encontre nesta lista, neste caso significa que não é nessa lição que
ele deve ser dominado. Tendo em conta que o uso do mesmo vocabulário é repetido ao longo
do Kursbuch e Arbeitsbuch (por exemplo, KB p. 40, na imagem existe vocabulário já abordado:
Uhr, Auto…), entende-se que apenas se mencione o vocabulário focado, até por questões de
economia do trabalho do aprendente. Na mesma lista de vocabulário está presente os
equivalentes usados na Suíça e na Áustria (AB pp. 49, 88, 119, 153, 168, 201, 209).
PRONÚNCIA
No que diz respeito ao tratamento da pronúncia e da fluência oral, deve-se ter em conta com
que meios, e se variados, se desenvolve as competências produtivas, neste caso a fala. A
presença da análise contrastiva, a atenção às dificuldades na correspondência entre som e
grafema, o treino e a aprendizagem do ouvido, e a automatização e o cuidado com as
transferências de automatismos são outros aspectos importantes para garantir o
desenvolvimento e o treino efectivo da respectiva competência do aprendente. Por estes
motivos, a preparação do professor enquanto modelo e principal fornecedor de input dos seus
aprendentes reveste-se de importância significativa e, neste sentido, deve existir sensibilização
e preparação do docente.
A PRONÚNCIA NO LAGUNE 1
Numa tentativa de evitar que haja interferências entre som e grafema, os autores aconselham
no manual do professor a seguirem esta metodologia: primeiro os aprendentes ouvem e
repetem para se habituarem ao som e só depois se apresenta a forma escrita. Uma vez que o
alemão tem mais coerência interna da língua está é uma forma de minorar os tais problemas
de possíveis interferências entre o som e o grafema e, assim, facilitar a aprendizagem de
vocabulário (LB 11).
Regra geral, as lições do Sprechen consistem no padrão de “ouvir e repetir”, sendo poucos os
exercícios que não consistem na repetição de padrões. A dificuldade dos exercícios vai
aumentando de uma forma mais simples para um maior envolvimento de acções cognitivas
por parte dos alunos (KB p.44, ex:1-3, onde se começa por ouvir e repetir, envolvendo no
último exercício a construção frásica).
Como supra citado, existe a prática de combinações sonoras mais difíceis (KB p.68, ex:4), o
treino de vogais curtas e longas em duas lições (KB p.21, ex:3; p.68, ex:1), da entoação frásica
(KB p. 69, ex:5 e 6; p.22, ex:6) e das acentuações tónicas (KB p. 92, ex:1). No treino destas
particularidades da língua alemã, a repetição deve ser efectuada tantas vezes quantas
necessárias para os alunos se sentirem seguros e estarem sensibilizados para aspectos novos
em relação aos da sua própria língua materna. Por sua vez, a repetição em coro é aconselhada
por parte dos autores pelo papel importante que desempenha: baixa as defesas e os medos,
oferece uma oportunidade para todos falarem alto impregnando nova energia à aula, ao
mesmo tempo que experimentam a sua voz e consolidam o seu à-vontade na sala de aula (LB
p.12).
Com o objectivo de facilitar a repetição de falas, a entoação e a pronúncia, num tom cómico
recorre-se a rimas (KB p. 94, ex:7). No entanto, algumas destas frases não fazem qualquer
sentido nem comportam qualquer significado, sendo inutilizáveis no quotidiano. Veja-se o
exemplo da lição 9, página 44 (ex:2).
O tratamento da pronúncia das mesmas lições no Arbeitscbuch inclui os mesmos aspectos que
o Kursbuch, em um ou mais exercícios mas não todos, à excepção das últimas duas lições (24 e
29, respectivamente), onde nenhum aspecto de pronúncia é trabalhado. Ademais, os
exercícios consistem na prática escrita e não oral, talvez por não poder ser controlada por
parte do professor. O facto é que o treino é pouco e muito dependente da actividade do
aprendente fora da aula, tendo em conta que se trata de um nível elementar e que a
automatização é fulcral para alicerçar a fluência, a precisão na pronúncia e, claro, a
sensibilização auditiva que auxilia a compreensão.
Penso que poderiam ser abordados muitos mais aspectos que são distintos na língua alemã,
como a neutralização de oclusiva vozeadas e não vozeadas no final das palavras, o exercício da
glote para aprender a pronunciar palavras compostas, e muitas mais vogais e consoantes do
que as apresentadas. Outra forma de enriquecimento seria o contraste com a língua materna
ou outras línguas já aprendidas.
GRAMÁTICA
A gramática, muitas vezes temida e evitada pelos alunos, tem sido um dos pontos
fundamentais de alterações de abordagens para procurar o seu uso mais efectivo e produtivo,
sempre evitando fazer os mesmos erros de abordagens precedentes, onde em vez de se
facilitar, muitas vezes se restringia a fluência e articulação linguística em situações reais.
Tendo isto em consideração, e de acordo com o que foi leccionado no semestre, os aspectos
que devem estar presentes são: o uso do conhecimento explícito e a sua transformação em
conhecimento implícito; a subordinação da gramática ao tema mas sem a tornar dispensável,
ou seja, a sua contextualização; a profundidade e progressão gramatical, que deve partir do
mais frequente/útil e fácil para o mais complexo, e a forma de abordagem; a sua apresentação
a partir do uso da língua, quer no processamento indutivo ou dedutivo, quer na gramática
contrastiva (implícita/explicita), quer na gramática receptiva que apenas se aplica a nível
compreensivo, como seja a descodificação através da formação de palavras, da leitura de
palavras compostas, do Konjuntiv I e do Präteritum, para um aumento do vocabulário
potencial do aprendente; qual a posição e como é usada, por exemplo, a repetição deve
proceder a consciencialização; a automatização, que deve começar pelo treino de cada parte
em separado para depois treinar tudo junto; o uso de explicações não verbais, de esquemas,
mnemónicas e analogias; e finalmente, a revisão e sistematização gramatical.
Todos estes itens são importantes para evitar que os aprendentes formem “anticorpos”
relativamente ao ensino-aprendizagem da gramática. Convém aproveitar todos os
acontecimentos que já se possuem doutras línguas, no caso de Portugal, o inglês em especial,
para tornar o processo mais fácil.
A GRAMÁTICA NO LAGUNE 1
No final de cada lição do manual de actividades, antes da última página com a lista de
vocabulário, existe uma página dedicada à gramática trabalhada. Nestas páginas, a informação
está disposta à simplificação da memorização, como por exemplo nas formas e tempos verbais
(AB pp. 216-217).
A progressão gramatical do Lagune 1 está referida no índice do manual de curso, nas páginas
4, 5 e 6. Começam por tópicos mais simples e de maior necessidade/frequência, como os
artigos definidos e indefinidos, terminando com outros mais complexos, como as
Wechselpräpositionen e o Perfekt.
No Lagune 1 não existe exercícios relativos ao emprego da gramática contrastiva, embora aqui
e ali, seja sugerido ao professor. Os tópicos da gramática receptiva estão presentes, e são
mencionados noutros pontos do trabalho. Também não existe qualquer menção ao uso de
mnemónicas. No que diz respeito a analogias, estas são usadas pelo professor para ensinar,
por exemplo, os Negativartikel (LB p.30, ex:3.7)
COMPREENSÃO
No desenvolvimento de competências relacionadas com a compreensão, seja escrita seja oral,
a ordem dos exercícios e o seu conteúdo devem respeitar a forma como se processa a
informação: o processamento ascendente e o processamento descendente. Desta forma as
actividades e o ensino em si devem auxiliar o processamento ascendente e estimular o
processamento descendente através da activação de esquemas cognitivos.
Por sua vez, a selecção e o tratamento de texto inclui: a sua autenticidade; a relação com as
experiências dos alunos com um nível de exigência temática adequada; o equilíbrio entre
elementos novos e já conhecidos com um grau de dificuldade linguística acessível; os apoios à
compreensão (enquadramento temático/contexto, títulos e subtítulos, imagens, gráficos,
esquemas, sinais tipográficos, etc.); a “Vorentlastung”, com utilização e activação dos
conhecimentos prévios (antecipação e descodificação), com apresentação de conceitos-chave
e com delimitação antecipada dos objectivos através de tarefas adequadas ao tipo de texto
(respectivamente, leituras diferenciadas: global, selectiva e detalhada); a promoção da
autonomia do aluno; e, por fim, o desenvolvimento sistemático da competência.
Tendo como base a lição 22, a estrutura das lições Fokus Lesen consiste basicamente em
analisar e trabalhar primeiro algumas imagens que já vão introduzindo o tema do texto que vai
aparecer na última página da lição. Posteriormente, os exercícios focam aspectos gramaticais e
exercícios auditivos que prolongam o tema iniciado. No último par de páginas, os exercícios já
se dirigem especificamente ao texto em estudo.
Ainda com a mesma lição como exemplo, a actividade sugerida para depois da leitura, isto é, a
formulação de perguntas por parte dos aprendentes sobre o texto que acabaram de ler,
fomenta a actividade cognitiva – a compreensão - através de processos de acomodação
(Huneke: 1996, p.205) sendo um aspecto muito positivo incluído neste livro. Outro exemplo
está na página 134, no exercício 7. Este tipo de actividades promovem a autonomia dos
alunos.
Neste manual os alunos podem fazer um uso mais autónomo da sua aprendizagem, uma vez
que possuem soluções dos exercícios no final do manual.
No site da internet, apenas uma das lições (nº17) contém a interpretação de texto directa…
Nos vários Fokus Hören são usados textos como anúncios, emissões de rádio, conversas
telefónicas, notícias e entrevistas. São tipos de textos que pertencem ao quotidiano e às
necessidades de qualquer pessoa e daí a sua relevância. Cada lição contém em si vários textos
para realizar tarefas.
No tratamento da “Vorentlastung” utiliza-se a antecipação (LB p. 85, ex: 3.1 e KB p. 88, ex: 1a),
a descodificação, por exemplo pela formação das palavras (LB p.29, ex: 2 “variante”) e a
delimitação antecipada de tarefas de audição diferenciada (KB p.64, ex:2). O trabalho prévio
ao texto inclui uma conversa sobre as fotos ou imagens, a clarificação dos exercícios e a
introdução dos pontos-chave (KB p. 138, ex: 5 e LB p. 160, ex:5), de forma a suscitar a
curiosidade.
No que diz respeito ao manual de actividades, uma vez que os exercícios se efectuam depois
da audição, não existe tanto o treino desta competência, mas de aspectos abordados e
relacionados com o que foi trabalhado na sala de aula.
Assim como para a compreensão escrita, no site www.hueber.de/lagune apenas uma das
lições contém texto oral (lição nº8). O site poderia ter sido aproveitado para abreviar as
dificuldades em ter textos orais em papel, como no livro de actividades.
CONCLUSÃO
A realização deste trabalho escrito permitiu perceber que no conjunto dos manuais de Lagune
1, existem aspectos positivos e negativos na sua elaboração. Um dos mais notáveis aspectos
positivos, a meu ver, é o treino da realização de perguntas individuais em relação a um texto
apresentado. Nesta linha, a compreensão escrita constitui uma das competências melhor
estruturada dos manuais.
Por sua vez, a gramática está eficazmente colocada e distribuída ao longo das lições e de
acordo com as competências, embora se perca boas oportunidades em carecer da presença de
uma análise contrastiva.
No lado menos forte, a pronúncia e a compreensão oral são as menos treinadas do tempo
posterior à aula. Poder-se-ia ter recorrido ao CD e também da Internet para dedicar e garantir
mais tempo e actividades nesse sentido. Na pronúncia, e em relação com o universo fonético
alemão, são muito poucas as particularidades linguísticas abordadas.
Paralelamente, nem tudo o que é referido no manual do professor como oferta do manual
está patente no decorrer dos exercícios. Supõe-se que este trabalho depende unicamente do
desempenho e empenho do próprio professor.
BIBLIOGRAFIA
AUFDERSTRASSE, H.; MÜLLER, J.; STORZ, T. (2006). Lagune 1 – Kursbuch, Deutsch als
Fremdsprache. 1ª Edição, Max Hueber Verlag, Ismaning, Deutschland.
AUFDERSTRASSE, H.; MÜLLER, J.; STORZ, T. (2006). Lagune 1 – Arbeitsbuch, Deutsch als
Fremdsprache. 1ª Edição, Max Hueber Verlag, Ismaning, Deutschland.
HUNEKE, Hans-Werner (1996). “Ler e entender: a compreensão escrita no ensino das línguas
estrangeiras.” In: Aprender e/a ensinar Alemão. Contributos para a formação inicial de
professores de Alemão em Portugal. (Coord.: Judite Carecho e Hans-Werner Huneke). Coimbra,
FLUC, pp. 195-210.