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O Popular - Organização Jaime Câmara 12/02/10 23:29

Goiânia, 13 de dezembro de 2002

I NICIAL

ÚLTIMAS
NOTÍCIAS A política cultural que não
temos e a que merecemos
EDITORIAS
Capa Marcus Fidelis
Opinião
Cidades
Política “Na era das celebridades e das mediocridades, do glamour e da fraude, do
Economia
Mundo espetáculo e da especulação, a aparência é tudo e qualquer demanda de
Esporte substância uma inconveniência de teor anti-social, papo de ressentido para
Magazine estragar a festa.”
Especiais Nicolau Sevcenko, Carta Capital nº 212, 23/10/2002.

COLUNAS Neste intervalo até a posse dos eleitos o noticiário está repleto de
Giro especulações sobre as próximas administrações, estadual e federal. Em
Direito e Justiça
Coluna social ambos os casos, pouco se lê sobre as políticas para a cultura, mais
Memorandum especificamente para as artes.
Crônicas e
outras histórias
No âmbito federal, teremos de aguardar até que o novo presidente, ou sua
SERVIÇOS equipe, se pronunciem a respeito. Já quanto ao nosso Estado, podemos
E-mail falar tendo como base o que foi feito nos quatro anos que se encerram.
Cartas dos leitores
Assinatura Não há dúvida alguma quanto ao interesse e comprometimento do
Acontece
Tempo hoje governador Marconi Perillo, nem da administração da Agepel (Agência
Indicadores Goiana de Cultura Pedro Ludovico), para com o incentivo às artes. O
Na telinha
Cinema
contraste entre o que se faz hoje e o que não se fazia antes é evidente.
Horóscopo Entretanto, cremos que nos próximos quatro anos o setor tem de buscar um
Guia do Assinante tratamento diferente do atual.

CHARGE Os políticos, como as demais celebridades em nossa sociedade, dependem


de estarem em evidência na mídia para sua sobrevivência. Com isso, as
ANTERIORES realizações mais lembradas nestes quatro anos que se encerram são
projetos que, grosso modo, se resumem a eventos – Fica, Canto de
Primavera, Tempo, Diversão e Arte e Um Gosto de Sol – ou obras,
notadamente na área de patrimônio, algumas de grande impacto, como as
efetuadas na cidade de Goiás e em Pirenópolis.

Mas se considerarmos os processos, as condições de trabalho para os


artistas, a formação de um público para a produção local, a atitude de
resistência que é necessária num Estado periférico, e mesmo sua projeção,
será que vivemos de fato a efervescência cultural que, temos certeza, é o
objetivo do governador e de sua equipe? Parece que não.

Uma semana de festa, uma vez por ano um cachê ou uma pauta num
teatro não garantem condições para a profissionalização de artista algum.
Precisamos de políticas de longo prazo, transparentes, consistentes e
continuadas para a área, que assegurem aos artistas, e todos os setores
vinculados, um mínimo de condições de trabalho.

É difícil? Dificílimo. A política de juros altos adotada nos últimos oito anos
para controle do consumo, e por tabela da inflação, nos atingiu duplamente:
diminuindo a condição financeira da população em geral, que apertada, não
tem como gastar com arte, e também estrangulando os governos, cujos
recursos mal dão para o serviço de suas dívidas. Num ambiente como
esse, é preciso usar da criatividade para atender com os parcos recursos
existentes o máximo de necessidades.

Como fazer isso com as artes? Boa parte das respostas foram dadas num
evento realizado pela própria Agepel, em agosto deste ano, o Seminário de
Marketing Cultural. Indo além do que o nome prometia, o que esteve em
pauta na verdade foi a construção de uma política cultural, da qual o
marketing cultural e as leis de fomento são meras ferramentas. Infelizmente,
esse evento, que acreditávamos seria um divisor de águas no
relacionamento entre o governo estadual e o setor, até o momento não teve
maiores conseqüências.

Os expositores, todos com grande experiência, alguns na formulação de


políticas públicas, outros de políticas empresariais, trouxeram aos
participantes uma oportunidade inédita de conhecer e discutir o que se faz
de mais avançado no País, as experiências mais bem-sucedidas.
Especialmente esclarecedora foi a palestra Economia da Cultura, de José
Oswaldo Lasmar, representante da Fundação João Pinheiro, de Minas
Gerais (que levantou para o Ministério da Cultura, durante a gestão de
Celso Furtado, o PIB da cultura). O autor da palestra mostrou, de forma

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clara e inconteste, a importância das ações culturais no desenvolvimento


econômico, social e político de uma comunidade, ressaltando a
complexidade dos temas e suas relações. Dentre os vários e interessantes
aspectos abordados tivemos: a contraposição entre indústria cultural e
cultura regional; as especificidades das cadeias produtivas das várias áreas
artísticas; a geração de empregos, renda e impostos; a agregação de valor
a produtos e a afirmação da produção local nacional e internacionalmente,
como resultado de um salto de qualidade, garantido pela ação planejada do
Estado.

Em suma, a partir dessa e das outras palestras ao longo daquele seminário,


ficou patente que passa da hora de se conseguir elevar as artes ao
patamar de setor estratégico dentro das políticas de desenvolvimento
estadual, deixando a condição de mero ornamento, “apresentação artística”
ou “cultural” para abrilhantar eventos.

É a partir da mudança da estatura com que as artes são vistas no Estado


que Goiás poderá mudar a forma como o Brasil e o mundo o percebem. É
a partir da construção de uma produção artística profissional e de qualidade
que a mídia descobrirá Goiás, e junto dele, por que não, os seus políticos.
Só uma população com acesso e conhecedora das diversas manifestações
artísticas poderá discernir, exigir e prestigiar a qualidade. Para isso,
precisamos deixar as ações pontuais. Precisamos de uma política para as
artes, com um planejamento estratégico, de longo prazo e formulado a
partir de um diagnóstico preciso do setor, com as contribuições dos diversos
segmentos artísticos.

Marcus Fidelis,
educador e produtor teatral, é responsável pelas montagens da Cia de Teatro Zabriskie e
pela administração do Zabriskie Teatro

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