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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

CAMPUS DE ASSIS

MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL


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PROFESSOR LUIZ ANTONIO RAMALHO ZANOTI

SUMÁRIO

1. O ESTADO – p. 3
‘1.1. A natureza do Estado – p. 3
1.2. Competência da União – p. 11
1.3. Competência dos Estados – p. 15
1.4. Competência dos Municípios – p. 15
1.5. Competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios – p. 15
1.6. A democracia e seus tipos. Partidos políticos. A participação política – p. 16
1.7. Tirania. Oligarquia. Demagogia. Ditadura. Caudilhismo – p. 21
1.8. Poderes do Estado – p. 23
1.9. Fatores que levam o homem a socializar-se – p. 32
1.10. Conceito de Estado – p. 39
1.11. O Estado se subordina inteiramente ao Direito – p. 40

2. ANTECEDENTES DA CONSTITUIÇÃO – p. 41
2.1. A ideia de constituição – p. 41
2.2. Antecedentes da constituição – p. 41
2.3. Pactos forais e cartas de franquia – p. 44
2.4. Doutrinas do pacto social – p. 45

3. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO – p. 46
3.1. Constituição em sentido sociológico – p. 46
3.2. Constituição em sentido material – p. 46
3.3. Constituição em sentido formal – p. 46
3.4. Elementos da constituição e suas classificações – p. 46

4. O PODER CONSTITUINTE – p. 47
4.1. Conceito de Poder Constituinte – p. 47

5. DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1.998:


HISTÓRICO E EXTENSÃO – p. 48
5.1. Histórico dos Direitos Fundamentais – p. 48
5.2. Extensão dos Direitos Fundamentais – p. 49

6. HISTÓRIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS – p. 53


6.1. Antecedentes da Declaração de Direitos – p. 53
6.2. Os direitos fundamentais de primeira geração – p. 54
6.3. Os direitos fundamentais de segundas geração – p. 55
6.4. Os direitos fundamentais de terceira geração – p. 56
6.5. Os direitos fundamentais de quarta geração – p. 57
6.6. A classificação conforme a Constituição Federal – p. 57
6.7. As declarações universais de direitos – p. 58
6.8. Conceito de Direitos e Garantias Individuais consagrados na Constituição Federal de
1.988 e suas extensões, princípios e fundamentos epistemológicos – p. 61

BIBLIOGRAFIA – p. 73
3

1. O ESTADO
1.1. A natureza do Estado
Segundo a definição constitucional, Estado é a pessoa jurídica territorial soberana. É uma
comunidade organizada politicamente, ocupando um território definido, normalmente sob
Constituição, e dirigida por um governo, possuindo soberania reconhecida internamente e por
outros países.

País é um território social, política, cultural e geograficamente delimitado.

Nação é o conjunto dos indivíduos, geralmente da mesma raça, que habitam o mesmo
território, falam a mesma língua, têm os mesmos costumes e obedecem à mesma lei (sentido
restrito).

É uma sociedade natural de homens, na qual a unidade de território, de origem, de costumes,


de língua e a comunhão de vida criaram a consciência social.

O conceito de nação foi criado artificialmente e desenvolvido, a partir do Século XVIII, para
envolver o povo em conflitos de interesses alheios.

Nação é conceito de reduzido significado jurídico, tendo mais importância no plano


sociológico.

O conceito de nação não equivale ao de povo. Embora no Século XVIII, durante a Revolução
Francesa de 1.789, passasse a ser empregado com o sentido de povo como unidade
homogênea, ou então a quaisquer conceitos referentes a povo, nação não é vocábulo
apropriado para qualificar a mesma situação jurídica de povo.

O conceito de nação também não equivale ao de Estado. Estado é a nação politicamente


organizada. É possível haver um Estado com mais de uma nação, como no caso do Império
austro-húngaro, em que havia pelo menos duas nações que em nada se identificavam, a
começar pela língua. Para que exista Estado, é necessário que haja uma população, reunida
sobre certo território, submetida às mesmas leis, e que essas leis sejam elaboradas pelo
órgão representativo dessa população. Estado é conceito político e jurídico, enquanto nação é
eminentemente sociológico.

O conceito de nação é, muitas vezes, confundido com o de Estado porque o conceito de


nação, em lugar de Estado, deve-se ao romantismo político do Século XIX, que elevou o
termo nação ao de um elevado ideal, servindo de base ideológica para a unificação do Estado
italiano (Cavour e Mazzini) e do Império Germânico (Bismarck).

De forma simplificada, o Estado é uma criação humana, destinada a manter a coexistência


pacífica dos indivíduos, a ordem social, de forma que os seres humanos consigam se
desenvolver, e proporcionar o bem-estar a toda sociedade1.

1
Sociedade é o conjunto relativamente complexo de indivíduos de ambos os sexos e de todas as idades,
permanentemente associados e equipados de padrões culturais comuns, próprios para garantir a continuidade
do todo e a realização de seus ideais. Ou seja, a sociedade abrange os diversos grupos parciais que se formam
em seu interior, como a família, as igrejas, os clubes.
Um conjunto numeroso de pessoas, mesmo que unido por determinados ideais, somente será considerado como
sociedade se reunir determinados elementos, comuns a todas as sociedades. Se não forem encontrados esses
elementos, o conjunto de pessoas reunidas será mero agrupamento, mas não sociedade.
Os elementos necessários para que um grupo de pessoas possa ser reconhecido como sociedade são: a) ter
uma finalidade social comum; b) manifestar-se ordenadamente, em conjunto; e c) existir um poder social.
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É o Estado o responsável por dar força de imposição ao Direito, pois é ele que detém o papel
exclusivo de aplicar as penalidades previstas pela Ordem Jurídica.

Assim, o Estado pode ser definido como o exercício de um poder político, administrativo e
jurídico, exercido dentro de um determinado território, e imposto para aqueles indivíduos que
ali habitam.

Os elementos que caracterizam o Estado são:

• População > entende-se pela reunião de indivíduos num determinado local, submetidos
a um poder central. O Estado vai controlar essas pessoas, visando, através do Direito,
o bem comum. A população pode ser classificada como Nação, quando os indivíduos
que habitam o mesmo território possuem, como elementos comuns, a cultura, a língua,
a religião, e sentem que há, entre eles, uma identidade. Ou também como povo,
quando há reunião de indivíduos num território, e que apesar de se submeterem ao
poder de um Estado, possuem nacionalidades, cultura, etnias e religiões diferentes.
• Território > espaço geográfico onde reside determinada população. É o limite de
atuação dos poderes do Estado. Vale dizer que não poderá haver dois Estados
exercendo seu poder num único território, e os indivíduos que se encontram num
determinado território estão obrigados a se submeterem a ele [Estado].
A noção de território nem sempre de grande importância para o poder central. Na polis,
composta por um centro urbano e por uma área rural que a circundava, a clara
delimitação do território não tinha grande importância, já que praticamente inexistiam
disputas por fronteiras. Foi apenas na Idade Média, com o surgimento de diversas
ordens de autoridades, que surgiu a preocupação de delimitar o território onde
determinado poder deveria ser exercido.
• Soberania > é o exercício do poder do Estado, internamente e externamente. O
Estado, dessa forma, deverá ter ampla liberdade para controlar seus recursos, decidir
os rumos políticos, econômicos e sociais internamente, e não depender de nenhum
outro Estado ou órgão internacional. A essa autodeterminação do Estado dá-se o nome
de soberania.

Pode-se citar, como as principais correntes de pensamento: a) a positivista (ou universalista), de Augusto Comte,
para a qual a sociedade humana é o objeto da Sociologia; b) a defendida por Spencer e Durkheim, que entende
que, uma vez que houve e há diversas sociedades, no espaço e no tempo (sociedade romana, sociedade grega,
sociedade americana), o conceito é por demais complexo para ser considerado como um todo, como um objeto
sociológico; c) aquela que considera a sociedade como mera abstração, sendo que o que existe de concreto são
as relações sociais; d) aquela que considera que o que existe de concreto são grupos sociais (grupos familiares,
econômicos, religiosos).
Comunidade, por sua vez, é um grupo social de existência mais ou menos permanente, formado por afinidades
psicológicas ou espirituais entre seus membros.
As principais diferenças entre sociedade e comunidade são: a) a sociedade é formada com a finalidade de
perseguir um objetivo comum a seus membros; a comunidade preexiste à consciência de seus membros de que
existe, e tem por finalidade a própria preservação; b) as relações entre os membros da sociedade são regidas
por vínculos jurídicos; as relações entre os membros da comunidade não são regidas por normas jurídicas; c) na
sociedade, as manifestações de seus membros ocorrem de modo juridicamente ordenado; na comunidade, os
comportamentos do conjunto de seus membros guiam-se pelos sentimentos comuns entre eles; e d) na
sociedade, existe um poder central de comando, estabelecido e reconhecido pela ordem jurídica; na
comunidade, inexiste poder central de comando, havendo somente, em alguns casos, centros de influência sobre
os demais membros.
Uma comunidade pode transformar-se em uma sociedade quando seus membros decidem, soberana e
voluntariamente, perseguir finalidades comuns.
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A soberania do Estado consiste na característica de não se sujeitar a nenhum outro


ordenamento jurídico que não seja o seu próprio. Significa que, por exemplo, uma ordem
judicial prolatada em país estrangeiro não vincula qualquer outro Estado a seu cumprimento.
Dizer que um Estado é soberano significa que este pode editar seu próprio direito, no mais
alto grau, ou seja, editar sua Constituição. Significa, também, que nenhum outro Estado pode
interferir em sua ordem jurídica.

Soberania deriva do latim medieval superanus. Na Idade Média, os barões feudais eram
soberanos em seus feudos, e o rei somente era soberano em terras de sua propriedade.
Naquele período, soberania designava o que hoje se denomina soberania interna: cada barão,
em sua baronia, era o poder supremo, o soberano. Quando a autoridade do rei se impôs a
todos os barões, e estes passaram a lhe prestar vassalagem, o único soberano em suas
terras passou a ser o rei. Assim, o conceito de soberania, que estava, inicialmente, ligado à
posse da terra, transferiu-se para a pessoa do rei, designando, de modo específico, o poder
real. Então, soberano passou a ser o monarca, e soberania, a autoridade da coroa.

Rousseau, na obra ‘O Contrato Social’2, publicada em 1.762, transfere o centro de poder do


Estado, representado pelo governante, para o povo, caracterizando a soberania como
inalienável e indivisível. Rousseau cria a doutrina do contrato social.

A espécie de soberania conceituada por Rousseau é a denominada soberania popular.

O conceito de soberania popular serviu como base para a luta contra o poder dos monarcas.
Antes, as lutas religiosas e dinásticas, que mantinham situações de guerras constantes, sem
qualquer interesse para o povo, praticamente anulavam as tentativas de afirmação dos
Estados como ordens soberanas em determinados territórios.

Rousseau considerava a soberania como inalienável porque ela não pode ser transferida para
ninguém em particular, nem representada por qualquer pessoa, já que resulta do exercício da
vontade geral do povo.

Rousseau considerava a soberania como indivisível, porque, sendo expressão da vontade


geral do povo, somente pode manifestar-se se houver participação do conjunto dos cidadãos.

Ele estabeleceu os limites da soberania afirmando que o pacto social confere poder político a
determinado grupo, que o usa sobre todos os demais membros. No entanto, esse poder não
deve extravasar os limites das convenções, não pode impor aos cidadãos medidas inúteis ou
descabidas, nem pode exigir diferentemente de cada súdito.

Para Rousseau, o poder somente se legitima quando tem origem na vontade de todos os
governados.

A inalienabilidade da soberania significa que ela não pode ser transferida a quem
legitimamente não a detém. A soberania do Estado é inalienável.

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A doutrina do contrato social, que começou a ser formulada no Século XVI, desenvolvendo-se gradativamente
nos dois séculos seguintes, explica que a sociedade delegava ao monarca o poder de governar, para que
evitasse o conflito entre os membros da sociedade. Essa delegação de poder decorria de um contrato social, em
que os membros da sociedade eram parte, e abdicavam de parcela de sua liberdade. O monarca era o
beneficiário da delegação de poder, não sendo parte do contrato social.
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A imprescritibilidade da soberania significa que não tem prazo de duração determinado, ou


seja, o poder não se extingue, exceto se obrigado a desaparecer por força de outro poder a
ele superior; a soberania do Estado é inalienável.

Povo é denominação genérica do conjunto de todos os indivíduos submetidos ao Estado, e


por ele reconhecido.

Cidadão é denominação particular do indivíduo que participa da sociedade política; os que


não participam ativamente, e se submetem ao Estado, são denominados sujeitos.

Nacionalidade é o conjunto de vínculos políticos e jurídicos entre alguém e determinado


Estado, em razão do local de nascimento, da ascendência (paterna ou materna) ou da
manifestação de vontade do interessado, integrando o indivíduo no povo de um país, ou seja,
é o status do indivíduo perante o Estado, sendo um de seus elementos constitutivos.

Cidadania é o vínculo entre o indivíduo e determinado Estado. Assim, a nacionalidade é


condição necessária da cidadania, mas não suficiente.

A cidadania pode ser exercida de forma ativa (que consiste em poder votar, escolher os
governantes), ou de forma passiva (que consiste em poder ser eleito). Somente pode exercer
a cidadania passiva quem for, também, cidadão ativo.

O brasileiro pode adquirir o status de ‘cidadão ativo’ aos 16 anos; aos maiores de 18 e
menores de 70 anos, obriga, a lei, a inscrição como eleitor e o voto (Constituição Federal, art.
14, § 1°, I e II, b).

O cidadão português poderá inscrever-se como eleitor, no Brasil, desde que tenha residência
permanente aqui, e haja reciprocidade com relação ao brasileiro, isto é, que ao brasileiro
residente em Portugal, seja, também, garantido o direito de inscrever-se como eleitor
(Constituição Federal, art. 12, § 1°).

A Constituição Federal, art. 14, II, a, b, e c, dispõe que podem tornar-se cidadãos ativos,
facultativamente, os analfabetos, os maiores de 70 anos, e os maiores de 16 e menores de 18
anos.

A União é formada pela reunião dos entes integrantes da Federação. É pessoa jurídica de
direito público interno e, no âmbito internacional, representa com soberania o Estado
Brasileiro.

O poder político é uma energia capaz de coordenar e impor decisões, visando à realização de
determinados fins. É superior a todos os outros poderes sociais, os quais reconhece, rege e
domina, visando a ordenar as relações entre esses grupos de indivíduos entre si e
reciprocamente, de maneira a manter um mínimo de ordem e estimular o máximo de
progresso à vista do bem comum. Possui três características fundamentais:
• unidade
• indivisibilidade
• indelegabilidade

A administração é o instrumental do qual dispõe o Estado para pôr em prática as escolhas


políticas do País. É o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do
governo. Isto toma a definição de governo como conjunto de Poderes e órgãos
constitucionais.
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Governo é o conjunto de órgãos mediante os quais a vontade do Estado é formulada,


expressada e realizada, ou, o conjunto de órgãos supremos a quem incumbe o exercício das
funções do poder político.

O governo e a administração, como criações abstratas da Constituição e das leis, atuam por
intermédio de suas entidades (pessoas jurídicas), de seus órgãos (centros de decisão) e de
seus agentes (pessoas físicas investidas em cargos e funções).

• Entidades Estatais são as pessoas jurídicas de direito público que integram a estrutura
constitucional do Estado, e têm poderes políticos e administrativos. São a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Destas, a única soberana é a União, e as
demais têm apenas autonomia política, administrativa e financeira.
• Entidades Autárquicas são pessoas jurídicas de Direito Público, de natureza
meramente administrativa, criadas por lei específica, para a realização de atividades,
obras ou serviços descentralizados da entidade estatal que os criou. Funcionam e
operam na forma estabelecida na lei instituidora e nos termos de seu regulamento.
Podem desempenhar atividades econômicas, educacionais, previdenciárias e quaisquer
outras outorgadas pela entidade estatal-matriz, mas, sem a subordinação hierárquica,
sujeitas apenas ao controle finalístico de sua administração e da conduta de seus
dirigentes; autarquia é o próprio braço do Estado; tem personalidade jurídica, mas,
pertence à administração indireta. Exemplo: INSS.
• Entidades Fundacionais são pessoas jurídicas de Direito Público, de natureza
meramente administrativa, criadas por lei específica, para a realização de atividades,
obras ou serviços descentralizados da entidade estatal que a criou. Funcionam e operam
na forma estabelecida na lei instituidora e nos termos de seu regulamento. As autarquias
podem desempenhar atividades econômicas, educacionais, previdenciárias e quaisquer
outras outorgadas pela entidade estatal-matriz, mas, sem subordinação hierárquica,
sujeitas apenas ao controle finalístico de sua administração e da conduta de seus
dirigentes.
• Entidades Paraestatais são pessoas jurídicas de Direito Privado que, por lei, são
autorizadas a prestar serviços ou realizar atividades de interesse coletivo ou público,
mas, não exclusivos do Estado. Quando o Estado, por necessidade, resolveu ingressar
em algum setor do mercado – por exemplo, para desenvolver a indústria petroquímica --
ele criou a Petrobras atender às necessidades da população. As entidades paraestatais
são autônomas, administrativa e financeiramente, têm patrimônio e operam em regime
da iniciativa particular, na forma de seus estatutos, ficando sujeitas apenas à supervisão
do órgão da entidade estatal a que se encontrem vinculadas, para o controle de
desempenho estatuário. São os denominados ‘entes de cooperação’ com o Estado.
Exemplos: Sesi, Senai, Sesc,
• Entidades Empresariais são pessoas jurídicas de Direito Privado, instituídas sob a
forma de sociedade de economia mista ou empresa pública, com a finalidade de prestar
serviço público que possa ser explorado no modelo empresarial, ou de exercer atividade
econômica de relevante interesse coletivo. Sua criação deve ser autorizada por lei
específica, cabendo ao Poder Executivo as providências complementares para sua
instituição. Exemplos de sociedade de economia mista: Eletrobrás, Banco do Brasil S/A,
Petrobras. Exemplos de empresa pública: Correios, BNDES.

É importante notar que todas as entidades têm personalidade jurídica.

Segundo Aristóteles3, há três formas de governo:

3
Aristóteles (em grego Αριστοτέλης) nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. - 322 a.C.). Filósofo grego,
aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, é considerado um dos maiores pensadores de todos os
tempos e criador do pensamento lógico.
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• realeza;
• aristocracia
• democracia (ou república).

Para Aristóteles, realeza é a forma de governo em que apenas um indivíduo tem o poder.

Para ele, aristocracia é a forma de governo em que um grupo reduzido de indivíduos detém o
poder.

Acentua, ainda, que democracia é a forma de governo exercida por todo o povo, no interesse
da sociedade.

Para Aristóteles, a realeza se degenera em tirania; a aristocracia em oligarquia; e a


democracia, em demagogia.

Maquiavel4 propõe nova classificação de formas de governo, em 1.531, baseado na teoria que
desenvolve na obra ‘Discursos sobre a Primeira Década’, de Tito Lívio, em que defende a
existência de ciclos de governo.

Essa teoria considera que o ponto de partida da sociedade é um estado anárquico, que evolui
para uma organização chefiada por um indivíduo mais forte, depois por outro mais justo. Esse
último passa o poder para seus descendentes, degenerando o sistema em tirania. A tirania é
substituída por um governo aristocrático, que, por sua vez, degenera em uma oligarquia. Em
etapa posterior, a oligarquia dá lugar a um governo do povo, que, no entanto, degenera e
retorna ao sistema primitivo anárquico. Para Maquiavel, a única forma de quebrar esse ciclo
seria pela reunião de monarquia, aristocracia e democracia em um único governo.

Para Montesquieu5, existem três formas de governo:

Aristóteles figura entre os mais influentes filósofos gregos, ao lado de Sócrates e Platão, que transformaram a
filosofia pré-socrática, construindo um dos principais fundamentos da filosofia ocidental.
Aristóteles prestou contribuições fundantes em diversas áreas do conhecimento humano, destacando-se: ética,
política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural. É considerado,
por muitos, o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental.
Por ter estudado uma variada gama de assuntos, e por ter sido também um discípulo que em muito sentidos
ultrapassou o mestre, Platão, ele é conhecido como ‘O Filósofo’.
Aristóteles também foi chamado de o estagirita, pela terra natal, Estagira.
4
Nicolau Maquiavel, em italiano Niccolò Machiavelli, (Florença, 3 de maio de 1.469 — Florença, 21 de junho de
1.527) foi um historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É reconhecido como fundador do
pensamento e da ciência política moderna, pela simples manobra de escrever sobre o Estado e o governo como
realmente são e não como deveriam ser. Os recentes estudos do autor e da sua obra admitem que seu
pensamento foi mal interpretado historicamente. Desde as primeiras críticas, feitas postumamente por um
cardeal inglês, as opiniões, muitas vezes contraditórias, acumularam-se, de forma que o adjectivo maquiavélico,
criado a partir do seu nome, significa esperteza, astúcia.
Viveu a juventude sob o esplendor político de Florença durante o governo de Lourenço de Médici e entrou para a
política aos 29 anos de idade, no cargo de Secretário da Segunda Chancelaria. Nesse cargo, Maquiavel
observou o comportamento de grandes nomes da época, e a partir dessa experiência retirou alguns postulados
para sua obra. Depois de servir em Florença, durante catorze anos, foi afastado e escreveu suas principais
obras. Conseguiu, também, algumas missões de pequena importância, mas jamais voltou ao seu antigo posto
como desejava.
Como renascentista, Maquiavel se utilizava de autores e conceitos da Antiguidade Clássica de maneira nova.
Um dos principais autores foi Tito Lívio, além de outros lidos através de traduções latinas, e entre os conceitos
apropriados por ele, encontram-se o de virtù e o de fortuna.
5
Charles-Louis de Secondat, ou simplesmente Charles de Montesquieu, senhor de La Brède ou barão de
Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de janeiro de 1.689 — Paris, 10 de fevereiro de
1.755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes,
atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais.
Aristocrata, filho de família nobre, cede recebeu formação iluminista com padres oratorianos. Revelou-se um
crítico severo e irônico da monarquia absolutista decadente, bem como do clero católico. Adquiriu sólidos
9

• republicano
• monárquico
• despótico.

Montesquieu ensina que governo republicano é aquele em que o povo, ou parcela dele,
possui o poder soberano.

Para Montesquieu, governo monárquico é aquele em que apenas um indivíduo governa, de


acordo com as leis existentes.

Montesquieu explica que governo despótico é aquele em que apenas um indivíduo governa,
realizando tudo segundo sua própria vontade, sem levar em conta as leis existentes.

Para Montesquieu, a república existe em território relativamente reduzido, enquanto a


monarquia exige território de maiores dimensões, e o despotismo, maior território ainda.

Montesquieu assevera que a república pode ser de duas espécies:


• aristocrática
• democrática.

Aristocracia (do grego aristos = o melhor, o mais nobre + kratia = domínio, comando) é a
forma de governo dos mais capazes, dos melhores.

As principais características do regime político democrático, embora não exista consenso


definitivo sobre o conceito de "democracia", são:
• livre participação dos governados nas decisões fundamentais dos governantes, que
agem como verdadeiros mandatários
• eleições livres e periódicas
• garantias legais de efetiva proteção aos direitos dos cidadãos, tais como liberdade de
associação, de informação e de deslocamento.

No regime político autoritário, determinado grupo governante exerce o poder dentro de um


regime de legalidade preexistente, por eles estabelecido e imposto à sociedade, com pouca
ou nenhuma participação popular nas decisões.

No regime político totalitário, existe uma corrente ideológica única, imposta por partido de
massa, também único, de forma que o poder político é exercido de forma concentrada e
centralizada, por um grupo dominante, que se perpetua no governo, somente podendo ser
dele afastado por meio de processos de ruptura, frequentemente com emprego de violência,
como revolução, golpe de estado, guerra civil, ou guerrilha.

Forma de governo é expressão que indica se o poder é exercido de modo vitalício ou


temporário.

As principais formas de governo atualmente existentes são:


• monarquia
• república.
conhecimentos humanísticos e jurídicos, mas também frequentou, em Paris, os círculos da boêmia literária.
Em 1.714, entrou para o tribunal provincial de Bordéus, que presidiu de 1.716 a 1.726. Fez longas viagens pela
Europa e, de 1.729 a 1.731, esteve na Inglaterra.
Proficiente escritor, concebeu livros importantes e influentes, como ‘Cartas persas’ (1.721), ‘Considerações sobre
as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência’ (1.734) e ‘O Espírito das leis’ (1.748), a sua mais
famosa obra.
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A monarquia, que tende a ser vitalícia, pode ser hereditária ou eletiva, conforme o poder seja
exercido por um rei, respectivamente, segundo uma linha de sucessão genealógica, ou
segundo um processo de escrutínio (votação).

Pode, ainda, ser classificada em democrática (quando o Parlamento tem efetiva função
legislativa e independente) e aristocrática (há uma burocracia estatal, constituída geralmente
por membros da nobreza, que exercem grande influência sobre o rei).

Modernamente, nos países desenvolvidos, onde ainda existe esse sistema de governo,
fala-se em monarquia democrática constitucional, onde a função e a atuação do rei são
legalmente limitadas.

O vocábulo república, formado pela justaposição de res = coisa + pubblica = do povo,


significa, literalmente, coisa pública. Refere-se ao próprio interesse público, isto é, aquilo que
faz parte da sociedade.

República é a forma de governo em que o poder é exercido por uma pessoa ou por um
colegiado. O governante (ou os governantes) é eleito pelo povo, direta ou indiretamente, e
inexistem direitos sucessórios dos detentores do poder.

Os romanos entendiam a res pubblica como a nova forma de organização do poder após a
exclusão dos monarcas.

A res pubblica dos romanos corresponde ao conceito grego de politeia, em que o interesse
comum e a conformidade a uma lei comum são os elementos pelos quais uma comunidade
afirma a sua justiça.

Na Idade Média6, usava-se os termos regnum e civitas, para designar as formas de poder
então existentes. Civitas, communitas e populus designavam pequenas Repúblicas. A
respublica christiana designava a ordem e a unidade da sociedade cristã na coordenação da
Igreja e do Império, os dois poderes universais instituídos por Deus para manter, na terra, a
paz e a justiça.

Na Idade Moderna7, o vocábulo passa a designar, inicialmente, tanto a monarquia quanto a


aristocracia, desde que possuam um direito ao governo, contrapondo-se a regimes baseados
na anarquia e na violência. A seguir, com Kant, o termo "república" passa a constituir-se num
ideal da razão prática, o iuris consensus, de Cícero, que se concretiza na Constituição.

6
A Idade Média ou Idade Medieval foi um período intermediário numa divisão esquemática da História da Europa
em quatro eras, a saber: a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea.
O período da Idade Média foi tradicionalmente delimitado com ênfase em eventos políticos. Nesses termos, teria-
se iniciado com a desintegração do Império Romano do Ocidente, no Século V (em 476 d. C.), e terminado com
o fim do Império Romano do Oriente, com a Queda de Constantinopla, no Século XV (em 1.453 d.C.).
7
A Idade Moderna é um período específico da História do Ocidente. Destaca-se das demais por ter sido um
período de transição por excelência. Tradicionalmente aceita-se o início estabelecido pelos historiadores
franceses, 1.453 quando ocorreu a Tomada de Constantinopla, pelos turcos otomanos, e o término com a
Revolução Francesa, em 1.789.
Entretanto, apesar de a queda de Constantinopla ser o evento mais aceito, não é o único. Tem sido propostas
outras datas para o início deste período, como a Conquista de Ceuta, pelos portugueses, em 1.415, a viagem de
Cristóvão Colombo ao continente americano, em 1.492 ou a viagem à Índia de Vasco da Gama, em 1.497.
A dificuldade da delimitação cronológica do período se deve, principalmente, às divergências de interpretação
quanto à origem e evolução do sistema capitalista. Contudo, o período histórico que vai do Século XV ao XVIII é,
genericamente percebido com um "período de transição".
A época moderna pode ser considerada, exatamente, como uma época de "revolução social", cuja base consiste
na "substituição do modo de produção feudal pelo modo de produção capitalista".
11

Modernamente, a república contrapõe-se à monarquia.

Na república, existe, em geral, participação popular no processo político, o que aproxima o


significado atual do vocábulo, ao de democracia.

As principais características da república são:


• eletividade do governante
• temporariedade do governo
• responsabilidade

Na república, o governante não é imposto por uma minoria, nem chega ao poder em razão de
direito hereditário. Deve haver eleições para os governantes, em que o povo possa livremente
exercer seu direito de escolha.

Na república, o Chefe do Governo recebe um mandato popular, a ele conferido por eleição
livre. Esse mandato não é indefinido, devendo o governo ser exercido por período limitado e
determinado por lei.

Na república, o Chefe de Governo deve prestar contas de todos os seus atos políticos. Essa
prestação de contas pode ser feita diretamente ao povo, ou a um órgão oficial de
representação popular.

A república primitiva surge na História no final do Século VI a.C., na região da Toscana (Itália),
quando o rei etrusco, Tarquínio, foi deposto. Anteriormente, desde seu estabelecimento nesta
região, no Século VIII a.C., os etruscos viviam em cidades, unidas por uma confederação, e
governadas por reis (locumons). Com a queda da monarquia surge uma forma incipiente de
república, governada por magistrados e por colegiados anualmente eleitos.

Em Roma, o termo "república" designava o próprio Estado romano, e não sua forma de
governo. Ou seja, quando se fala em República Romana, está referindo-se a Estado Romano,
em especial no período que se inicia em 509 a.C. e finda em 31 a.C.

Para Jean Bodin8, república designa tanto a monarquia quanto a aristocracia e a democracia,
desde que dotadas de um direito de governar.

Para Maquiavel, somente existem duas formas de governo:


• república
• principado (ou monarquia).

Para ele, na república os magistrados são eleitos, enquanto no principado, são designados
pelo governante.

1.2. Competência da União


8
Jean Bodin (Angers, 1.530 — Laon, 1.596) foi um jurista francês, membro do Parlamento de Paris e professor
de Direito em Toulouse. Ele é considerado, por muitos, o pai da Ciência Política, devido a sua teoria sobre
soberania. Baseou-se nesta mesma teoria para afirmar a legitimação do poder do homem sobre a mulher e da
monarquia sobre a gereontocracia.
Ele escreveu diversos livros, mas a Inquisição condenou a muitos deles porque o autor demonstrou simpatia
pelas teorias calvinistas. Estes calvinistas, chamados Huguenotes, na França, eram processados pela Igreja
Católica, assim como outras seitas protestantes ou reformadores cristãos o eram em outros países católicos.
Seus livros dividiram opiniões: alguns escritores franceses os admiravam, enquanto Francis Hutchinson foi seu
detrator, criticando sua metodologia. As obras escritas por Bodin faziam diversas alusões a julgamentos de
bruxos e o procedimento que deveria ser seguido, dando-lhe a reputação de um homem sanguinário.
12

Compete à União, de acordo com o Art. 21, da Constituição Federal:

Art. 21. Compete à União:

I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;

II - declarar a guerra e celebrar a paz;

III - assegurar a defesa nacional;

IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo
território nacional ou nele permaneçam temporariamente;

V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;

VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;

VII - emitir moeda;

VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza


financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e
de previdência privada;

IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de


desenvolvimento econômico e social;

X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;

XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de


telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação
de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;

XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:

a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;

b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de


água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;

c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;

d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras


nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;

e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;

f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;

XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do


Distrito Federal e dos Territórios;

XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do
Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução
de serviços públicos, por meio de fundo próprio;
13

XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de


âmbito nacional;

XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de


rádio e televisão;

XVII - conceder anistia;

XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas,


especialmente as secas e as inundações;

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de


outorga de direitos de seu uso;

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento


básico e transportes urbanos;

XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;

XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio


estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o
comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e
condições:

a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e
mediante aprovação do Congresso Nacional;

b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de


radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;

c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de


radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;

XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;

XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em


forma associativa.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial
e do trabalho;

II - desapropriação;

III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;

IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

V - serviço postal;
14

VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;

VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;

VIII - comércio exterior e interestadual;

IX - diretrizes da política nacional de transportes;

X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;

XI - trânsito e transporte;

XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;

XIV - populações indígenas;

XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;

XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de


profissões;

XVII - organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal


e dos Territórios, bem como organização administrativa destes;

XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;

XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;

XX - sistemas de consórcios e sorteios;

XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e


mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares;

XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;

XXIII - seguridade social;

XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;

XXV - registros públicos;

XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;

XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as


administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e
sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;

XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização
nacional;

XXIX - propaganda comercial.


15

Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo.

1.3. Competência dos Estados


Compete aos Estados, de acordo com o Art. 25, § 1º, da Constituição Federal:

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.

§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta
Constituição.

1.4. Competência dos Municípios


Compete aos Municípios, de acordo com o Art. 30, da Constituição Federal:

Art. 30. Compete aos Municípios:

I - legislar sobre assuntos de interesse local;

II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem
prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;

IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;

V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços


públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial;

VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de


educação infantil e de ensino fundamental;

VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de


atendimento à saúde da população;

VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e


controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a


ação fiscalizadora federal e estadual.

 Combina com essa reserva de campos específicos, nem sempre exclusivos, mas
apenas privativos, possibilidade de delegação, áreas comuns em que se prevêem
atuações paralelas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e
setores concorrentes entre União e Estados em que a competência para estabelecer
políticas gerais, diretrizes gerais ou normas gerais cabe à União, enquanto se defere
aos Estados e até aos Municípios a competência suplementar.

1.5. Competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
Compete à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, em comum, de acordo
com o Art. 23, da Constituição Federal:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
16

I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o
patrimônio público;

II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de


deficiência;

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens


de valor histórico, artístico ou cultural;

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições


habitacionais e de saneamento básico;

X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração


social dos setores desfavorecidos;

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de


recursos hídricos e minerais em seus territórios;

XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito.

Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e
do bem-estar em âmbito nacional.

1.6. A democracia e seus tipos. Partidos políticos. A participação política


Democracia é o processo de convivência social em que ocorre a afirmação da cidadania de
um povo, sendo-lhe garantidos os direitos fundamentais, mediante o exercício direto ou
indireto do poder que dele emana, e que visa seu benefício. O conceito clássico de Lincoln
traduz, de forma concisa, essa definição: "é o governo do povo, pelo povo e para o povo".

Os valores básicos da democracia são:


• a liberdade e
• a igualdade.

Os princípios básicos da democracia são os seguintes:


• o da soberania popular, que consiste em ter o povo como fonte única de poder
• o da participação do povo no poder, que pode ser de forma direta ou indireta
(representação).

O modelo consagrado pela Constituição Federal de 1988 é o de democracia representativa,


em que este [representantes] são os partidos políticos, sendo também incorporados
17

mecanismos de participação direta do cidadão e princípios de justiça social. Nesse sentido, o


modelo almejado é o de uma democracia social, participativa, pluralista, do tipo capitalista.

Sociedade pluralista é aquela em que convivem, em liberdade, pessoas que têm interesses
contrários, sendo seus conflitos resolvidos dentro de um ordenamento jurídico aceito pela
maioria, que reflete a noção de justiça de um povo, e garante os direitos fundamentais do
indivíduo e da coletividade.

Poliarquia é a sociedade pluralista, em que o poder é exercido de forma repartida por


inúmeros grupos, de forma que o sistema político somente funciona como resultado de
contínua negociação política entre esses grupos.

A concepção liberal da sociedade surgiu com a Revolução Francesa e a Independência


Americana, sendo reflexo do Iluminismo, inspirando as Constituições da época, e as que se
seguiram, e que privilegiavam a liberdade individual, reputando-a mais importante do que a
igualdade, embora este valor também delas constasse.

A doutrina costuma distinguir os diversos tipos de democracia em direta, indireta e semidireta.

A democracia direta é uma forma ideal de exercício de poder, pela qual todos os cidadãos
participam ativamente de todos os processos decisórios da sociedade. É prática quase
inexistente, nos dias de hoje.

Na Grécia, era praticada a democracia direta, a também chamada democracia clássica, na


qual os membros de uma polis decidiam sem intermediários ou representantes.

Pode-se dizer que, atualmente, existe apenas em alguns cantões da Suíça.

Em todos os pequenos cantões suíços existe a Landsgemeinde, uma assembleia aberta a


todos os cidadãos, que devem, obrigatoriamente, comparecer e votar quando de sua reunião
ordinária, geralmente anual, e também durante as reuniões extraordinárias.

A doutrina considera que a democracia direta, tal como praticada nos cantões, é anacrônica,
apontando os seguintes pontos negativos em seu funcionamento:
• só se mantém nos cantões de população mais reduzida;
• um Conselho cantonal eletivo efetua um trabalho prévio à reunião dos Landsgemeinde,
cujas reuniões servem exclusivamente para aprovar ou rejeitar o que o Conselho
estabeleceu, sem maiores discussões
• problemas de maior complexidade técnica escapam à competência dos
Landsgemeinde.

As dificuldades para a existência de uma democracia direta são basicamente as seguintes:


• seria impossível que milhões de pessoas participassem, direta e pessoalmente, de
inúmeras decisões, exigidas pela sociedade moderna, que é uma sociedade de
massas
• a crescente complexidade técnica dos assuntos discutidos dificulta a ampla
compreensão dos temas discutidos por todos os membros da sociedade.

A democracia indireta (ou representativa, no modelo clássico implantado pelas revoluções


liberais, a partir do Século XVIII) é aquela em que o governo é exercido por representantes do
povo, livre, periódica e legalmente eleitos pelos governados, por meio do sufrágio universal,
devendo tomar decisões em nome de toda a sociedade
18

A principal justificativa oferecida era a de constituir uma reação aos excessos do absolutismo,
ocorridos na França.

A democracia representativa pode ser pura (ou tradicional) ou exercida pelos partidos
(partidária).

Na democracia tradicional, os governantes constituem uma classe aristocrática, eleita por


intermédio do chamado sufrágio censitário, em que a maior parte dos cidadãos não tem direito
a voto, podendo eleger e ser eleitos somente os do sexo masculino e, dentre eles, os mais
ricos.

Na democracia partidária, os candidatos a governantes devem filiar-se a partidos políticos,


que elaboram programas de governo, com o qual se identificam e se propõem a executá-los,
depois de eleitos.

Partido político é uma associação de pessoas físicas, formada e organizada em torno de


princípios ideológicos e de um programa de ação, neles inspirados, que busca a defesa de
determinados interesses, mediante a conquista legal do poder, e que atua como canal de
representação política dos eleitores.

Até o Século XVIII não era nítida a distinção entre facção política e partido político. Facção
política é um grupo de indivíduos de inclinações comuns, geralmente pouco organizado,
conduzidos por um líder, e que marca a transição de um estado de desorganização para a
reorganização da comunidade.

As pessoas se filiam a partidos políticos para tomar o poder, ou parcela dele, por vias
institucionais, e também para participar mais ativamente da vida política de um país.

R.: A noção de partido político começou a ser concebida pelo orador e escritor britânico
Edmund Burke (1.729 – 1.797), autor da obra ‘Reflexões sobre a Revolução Francesa’.

Movimento político é um grupo de indivíduos que comungam de uma mesma ideologia


política, intransigentes e contrários a qualquer outra corrente.

Grupo de pressão é uma associação temporária de pessoas que visam a determinado


objetivo, claro, preciso e pontual.

Grupos de pressão têm existência transitória e não visam a tomada do poder, além de
existirem sem a necessidade de reconhecimento legal. Partidos políticos são permanentes e
visam ao controle do poder, devendo sua existência ser reconhecida ou admitida por lei.

A natureza jurídica da representação política é explicada por três teorias:


• do mandato representativo, que considera que entre o eleitor e o eleito existe um
contrato, similar ao contrato de mandato, do Direito Privado
• da investidura, que explica a representação política como a outorga de poder ao eleito
para manifestar-se pela totalidade de seus eleitores, deles não recebendo comandos
imperativos
• do mandato partidário, que interpreta a relação entre eleitor e eleito como fenômeno
inserido no modelo da democracia praticada com o concurso dos partidos políticos.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, art. 17, § 2°, os partidos políticos adquirem
personalidade jurídica nos termos da lei civil, o que significa que sua natureza jurídica é de
pessoa jurídica de direito privado.
19

Os partidos políticos sujeitam-se às seguintes espécies de controles:


• externo, ou seja, uma regulamentação que fixa regras de conduta e respeito a leis penais
e de polícia, bem como sobre a obtenção de recursos financeiros
• ideológico-programático, que visa a impedir atividades revolucionárias ou subversivas
• interno, que garante caráter democrático à organização interna do partido.

Os partidos políticos deverão ter caráter nacional (isto é, não poderão ter caráter estadual ou
municipal), são proibidos de receber recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros
ou de ser a estes subordinados, devendo prestar contas à Justiça Eleitoral e desenvolver
atuação parlamentar de acordo com a lei (art. 17, incisos I, II, III e IV)

Ao adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, devem, obrigatoriamente, registrar


seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral - TSE (art. 17, § 2°). São, também, proibidos de
utilizar organizações paramilitares (art. 17, § 4°).

A atual Constituição Federal permite a livre criação, fusão, incorporação e extinção dos
partidos políticos, resguardada a soberania, o regime democrático, o pluripartidarismo e os
direitos fundamentais da pessoa humana (art. 17, caput).

Além disso, aos partidos políticos é assegurada autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e funcionamento, devendo seus estatutos estabelecer normas de fidelidade e
disciplina partidárias (art. 17, § 1°). Eles têm direito a recursos do fundo partidário e acesso
gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei (art. 17, § 2°), que é, atualmente, a Lei n°
4.740/65.

Existem hoje os seguintes sistemas partidários:


• unipartidário (ou monopartidário) em que um só partido domina o cenário político do
país, sistema característico de governos ditatoriais
• bipartidário, em que dois partidos disputam as eleições e elegem representantes.
Podem existir outros partidos, mas de expressão muito inferior, que não chegam a
influir no sistema partidário
• pluripartidário (ou multipartidário), em que três ou mais partidos integram o sistema
partidário.

Em 1.946 havia o sistema era pluripartidário, com três partidos de grande expressão (UDN,
PSD e PTB) e alguns de importância regional.

Em 1.965, o sistema passou a ser bipartidário, por força do Ato Institucional n° 2, com a
criação de dois partidos, a ARENA e o MDB.

A partir de 1.979, o sistema voltou a ser pluripartidário, existindo quatro grandes partidos
(PMDB, PFL, PT, PSDB), quatro partidos médios (PP, PDT, PSP e PTB), três partidos
pequenos (PSB, PL e PC do B) e uma dezena de partidos menores.

Embora hoje disseminada e aceita, a democracia partidária, como canal legítimo de exercício
da vontade popular, são dirigidas, basicamente, as seguintes críticas a esse modelo, pelo
risco que oferece à democracia:
• a disputa por verbas, necessárias para custear campanhas eleitorais cada vez mais
caras e sofisticadas, permite que grupos de pressão exerçam influência sobre os
partidos, deles exigindo, em contrapartida, a defesa de interesses particulares
• como corolário, costuma ocorrer manipulação dos meios de comunicação de massa, de
modo a influenciar o eleitorado, criando uma opinião pública favorável a determinadas
teses, além da personalização do poder
20

• os partidos políticos, na busca por votos, tendem a desenvolver programas genéricos,


que não conflitam com a opinião do eleitorado, num primeiro momento, mas cuja
execução demanda decisões específicas
• os partidos costumam ter nítido caráter oligárquico, sendo dominados por reduzido
grupo de pessoas.

A democracia semidireta (que costuma ser incluída, por alguns doutrinadores, no modelo de
democracia indireta) consiste em um sistema basicamente representativo, sendo, porém,
adotados mecanismos que permitem a participação popular imediata na tomada de
determinadas decisões, tais como o referendo e a iniciativa legislativa popular.

A democracia é denominada semidireta porque, paralelamente à natureza representativa de


seu sistema político, são admitidas, também, formas de intervenção direta dos governados,
em algumas das deliberações diretas dos governantes.

A Constituição Federal de 1.988 previu, no art. 14, I, II e III, os seguintes mecanismos de


democracia semidireta:
• o plebiscito
• o referendo
• a iniciativa popular

Plebiscito é a manifestação da vontade do povo, de caráter excepcional, sobre decisões


referentes a modificações territoriais (agregações ou desagregações), alterações da forma de
governo, instauração de nova forma de governo, e mudanças na estrutura do Estado.

O plebiscito pode ser realizado antes ou depois do evento sobre o qual o povo deverá se
pronunciar. Se realizado antes, constituirá condição suspensiva do evento. Se realizado
depois, o resultado favorável terá caráter de confirmação ou consagração do evento, ao passo
que o resultado desfavorável consistirá em condição resolutiva do ato.

A Constituição Federal de 1.988 já havia preordenado a realização de plebiscito. Além da


previsão do instituto, nos art. 14, I, e 18, § 3° e 4°, a ADCT – Atos das Disposições
Constitucionais Transitórias, art. 2°, fixou data para a realização de plebiscito em 07.07.1993,
antecipada para 21.04.1993, por força da Emenda Constitucional n° 2, de 25.08.1992, ocasião
em que o povo foi chamado a se manifestar sobre a forma (república ou monarquia
constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que deveriam
vigorar no país a partir de 01.01.1995.

O plebiscito já havia sido usado, anteriormente, no Brasil, em 1.963. Foi convocado um


plebiscito para decidir pela continuidade ou pela revogação do sistema parlamentarista
adotado em 02.09.1961, com fundamento na Emenda Constitucional n° 4.

O resultado desse plebiscito foi o repúdio ao regime parlamentarista, com o consequente


retorno ao anterior sistema presidencialista.

Referendo (referendum) é uma manifestação da vontade do povo, destinada à aprovação ou


desaprovação de um ato normativo, seja ele a própria Carta Constitucional, uma lei ordinária
ou um ato jurídico.

A origem do referendo situa-se nas antigas ‘Dietas das Confederações’ germânicas e


helvéticas, em que o povo era consultado sobre todas as leis, aprovando-as ou rejeitando-as
ad referendum, isto é, por meio de votação.
21

O referendo pode ser obrigatório ou facultativo, conforme a Constituição disponha que o ato
normativo seja submetido à manifestação do povo, ou se delegar à comunidade ou a um
órgão o poder de realizá-lo ou não. Pode ser ante legem ou post legem, conforme se realize
antes ou depois do ato normativo. Pode, finalmente, ser constituinte (quando se tratar de
Emenda Constitucional) ou legislativo (quando se tratar de lei ordinária).

Iniciativa popular é a manifestação direta de um número limitado de eleitores, destinada a


apreciar revisão total ou parcial da Constituição, ou a propor novo texto, mediante a
apresentação de projeto de lei ou de documento contendo a reivindicação.

A iniciativa popular tem origem nos EUA, nos Estado de Dakota do Sul (1.898) e Oregon
(1.904).

A iniciativa popular pode ser:


• formulada
• não-formulada.

A iniciativa popular formulada é aquela apresentada em forma de lei, contendo a assinatura


de um número mínimo de eleitores, e pronta para ser apreciada pelo órgão legislativo
competente.

A iniciativa popular não-formulada é aquela apresentada de modo não articulado, consistindo


em documento descrevendo o objeto da manifestação e a reivindicação dos proponentes,
cabendo ao órgão legislativo a redação do texto, em forma de lei, para apreciação.

O art. 14, III, da Constituição Federal, prevê a existência do mecanismo da iniciativa popular,
dispondo, no art. 61, § 2°, que poderá ser apresentada à Câmara dos Deputados, desde que
subscrita por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuídos por pelo menos cinco
Estados, com não menos de 0,3% de eleitores de cada um deles.

1.7. Tirania. Oligarquia. Demagogia. Ditadura. Caudilhismo


Tirania é uma forma autocrática de exercício do poder político, que se impõe mediante
violência e coação.

Considera-se que a tirania tenha-se originado na Ásia, onde era uma forma de governo, de
onde seguiu para a Grécia, no Século IV a.C.

Tirania não tinha o significado atual, de governo antidemocrático, o qual chegou após longa
evolução, que distorceu o conceito original. Se se aceitar que o vocábulo tenha origem na
Lídia ou em Canaã (de serens), indicava o governo exercido por pessoas de origem nobre. Se
for aceita a teoria que defende origem etrusca para a palavra (de turan), o significado original
seria de poder. Portanto, em seu significado original, tirania não implica, necessariamente, em
poder exercido de modo arbitrário e violento.

Na Grécia, a decadência da antiga aristocracia, a partir do Século VI a.C., permite que se


instaure uma espécie de governo que tem por objetivo o restabelecimento da ordem, abalada
por lutas internas, e também um processo de expansão territorial. O governante, apoiado em
sólido aparato militar, exercia o poder com base no prestígio pessoal e no apoio das classes
menos privilegiadas, como os comerciantes e o povo em geral. Perdurou por cerca de um
século, entrando, depois, em desuso.

O conceito de tirania ressurge a partir do Século XVII, na Inglaterra, quando Oliver Cromwell
(1.599 -1.658), durante a segunda guerra civil (1.648), declarada pelo Rei Carlos I, torna-se
inimigo do rei e induz o Parlamento a condená-lo à morte, em 1.649. Executado o rei,
22

Cromwell, antes deputado da Corte, fez-se nomear Lorde Protetor da Inglaterra, Escócia e
Irlanda. Promoveu a dissolução do parlamento por quatro vezes, reprimiu revoltas e deu início
à forte expansão naval britânica, apoiada no Navigation Act, de 1.651.

Oligarquia (do grego oligos = poucos + archia = governo) significa, literalmente, governo de
poucos.

Atualmente o termo tem conotação eticamente negativa, significando governo de ricos.

O termo oligarquia tem um significado valorativo: quando se diz que um governo é oligárquico,
a intenção é classificá-lo como nocivo, isto é, pretende-se condená-lo. O significado descritivo
do termo não é inequívoco. Em outras palavras, o emprego do vocábulo visa a chamar a
atenção para o fato de que o poder supremo está sendo exercido por um grupo restrito e
fechado de pessoas, ligadas entre si por vínculos de sangue ou outros, e que gozam de
privilégios particulares, servindo-se do poder para mantê-lo.

Atualmente empregamos, para designar o governo nefasto, exercido por minorias: a


plutocracia e nepotismo.

Plutocracia (do grego ploutos = rico, riqueza + kratia = poder) significa governo baseado na
riqueza, ou seja, governo corrupto.

Nepotismo (do latim nepote = sobrinho) significa governo de parentes. Estende-se o conceito
para governo de amigos. O termo começou a ser empregado na Itália, em relação à atitude de
alguns papas, que concediam favores especiais a seus parentes, em particular a sobrinhos
(nipote, em italiano).

Demagogia (do grego demos = povo + agogia = pela palavra) significa, literalmente, condução
do povo pela palavra. É um conjunto de processos políticos utilizados com habilidade por
alguns líderes (demagogos), com a finalidade de dirigir as paixões populares para atingir
objetivos menos lícitos.

Na Grécia antiga, demagogo designava o governante que era hábil orador, e que sabia
conduzir o povo. Somente com Aristóteles passou o termo a adquirir um significado negativo
em teoria política.

Oclocracia (do grego ochlós = multidão + kratia = poder) significa, literalmente, governo
exercido pela plebe. Indica o poder ilegítimo, imposto pela parcela ignorante do povo, ao
arrepio da lei, de modo a satisfazer seus caprichos, e não para o bem da sociedade.

Ditadura (do latim dictatura = comando) é a forma de governo em que todos os poderes se
concentram nas mãos de um indivíduo, de um grupo, de uma assembleia, de um partido, ou
de uma classe.

Caudilhismo é uma forma de comando baseada nas características pessoais do dominador,


que exerce o poder de modo mais ou menos arbitrário, razão pela qual frequentemente
degenera em tirania. Deriva-se da palavra espanhola caudillo, que significa chefe militar.

O caudilhismo surgiu na América espanhola, no período que vai dos primeiros anos da
consolidação da Independência dos países da região, por volta de 1.820, durando até cerca
de 1.860, quando se concretizaram os anseios de unificação nacional.

No caudilhismo, o poder era exercido mediante sua divisão entre chefes locais (os caudilhos),
geralmente de origem militar, provenientes, em geral, dos exércitos desmobilizados após
23

1.810, ou de estratos sociais mais baixos, ou ainda, de grupos étnicos minoritários e


discriminados.

Caudilhismo é uma forma de comando baseada nas características pessoais do dominador,


que exerce o poder de modo mais ou menos arbitrário, razão pela qual frequentemente
degenera em tirania. Deriva-se da palavra espanhola caudillo, que significa chefe militar.

O caudilhismo surgiu na América espanhola, no período que vai dos primeiros anos da
consolidação da Independência dos países da região, por volta de 1.820, durando até cerca
de 1.860, quando se concretizaram os anseios de unificação nacional.

No caudilhismo, o poder era exercido mediante sua divisão entre chefes locais (os caudilhos),
geralmente de origem militar, provenientes, em geral, dos exércitos desmobilizados após
1.810, ou de estratos sociais mais baixos, ou ainda, de grupos étnicos minoritários e
discriminados.

1.8. Poderes do Estado


Os Poderes do Estado, os quais são, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adotada
nos Estados de Direito: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, independentes e harmônicos
entre si (Constituição Federal, art. 2º) e com funções reciprocamente indelegáveis. Estes
poderes são imanentes e estruturais do Estado, e a cada um deles corresponde uma função
que lhe é constitucionalmente atribuída.

• Executivo – É o poder do Estado que, nos moldes da constituição de um país, possui a


atribuição de governar o povo e administrar os interesses públicos, cumprindo fielmente
as ordenações legais.

O executivo pode assumir diferentes faces, conforme o local em que esteja instalado.
No presidencialismo, o líder do poder executivo, denominado Presidente, é escolhido
pelo povo, para mandatos regulares, acumulando a função de chefe de estado e chefe
de governo.

O presidencialismo surgiu nos Estados Unidos da América, sendo criado pelo 2°


Congresso Continental de Filadélfia (1.775), que conclamou os cidadãos americanos
às armas, e nomeou George Washington (1.732 -1.799) comandante das tropas. Em 4
de julho de 1.776 foi formalmente declarada a independência, elaborada por um comitê
de cinco membros, presidida por Thomas Jefferson (1.743 – 1.826). Em 1.787 foi
proclamada a primeira Constituição dos Estados Unidos, inspirada nos ideais
iluministas, que adotava a forma republicana de governo e a separação dos três
poderes do Estado. George Washington foi eleito o primeiro Presidente, tomando
posse em 1.789.

No presidencialismo, indica, a doutrina, os seguintes pontos positivos: funciona melhor


nos sistemas em que existem muitos partidos políticos, reduzindo a dependência da
boa vontade do Legislativo; o sistema favorece uma tomada mais rápida de decisões e
a unidade de comando político.

No Presidencialismo, aponta, a doutrina, os seguintes pontos negativos: a) o sistema


dá margem ao ênfase exagerado da pessoa do candidato (e não de programas de
governo), que não raras vezes "vende" bem sua imagem, convencendo o eleitorado, e
derrotando candidatos melhor preparados, mas incapazes de despertar a simpatia da
opinião pública; b) a concentração de poderes nas mãos de um único órgão tende a
facilitar a prática de atos autoritários e, não raro, de corrupção; e c) o sistema
24

presidencialista apresenta dificuldades para solucionar conflitos sociais ou políticos


relevantes.

Já no sistema parlamentarista, o executivo depende do apoio direto ou indireto do


parlamento para ser constituído e para governar. Este apoio costuma ser expresso por
meio de um voto de confiança. Não há, neste sistema de governo, uma separação
nítida entre os poderes executivo e legislativo, ao contrário do que ocorre no
presidencialismo.

O parlamentarismo é o sistema de governo que se vem desenvolvendo e aprimorando


desde o Século XVII, especialmente na Inglaterra, quando, da Revolução Gloriosa, de
1.688, resultou a delimitação dos poderes da monarquia, mediante a atribuição ao
Parlamento, do poder de elaborar leis, inclusive tributárias. Já no Século XIII, no
entanto, ocorreu a formação do Parlamento inglês.

O parlamentarismo distingue os papéis de chefe de estado e chefe de governo, ao


contrário do presidencialismo, onde os dois papéis são exercidos pela mesma pessoa.
No parlamentarismo, o chefe de estado normalmente não detém poderes políticos de
monta, desempenhando um papel precipuamente cerimonial, como símbolo da
continuidade do Estado.

Os principais pontos positivos do parlamentarismo, apontados pela doutrina, são: a)


existe, em princípio, melhor entendimento entre o Governo e o Parlamento, porque os
Ministros escolhidos representam a corrente preponderante, no órgão legislativo, no
momento de sua escolha; b) o parlamentarismo é um sistema de tomada de decisões
mais maleável, o que possibilita atuar com eficiência na solução política de crises; e c)
o parlamentarismo é sistema mais sensível às exigências sociais e políticas da
sociedade.

Os principais pontos negativos do parlamentarismo, apontados pela doutrina, são: a) a


velocidade de tomada de decisões pode ser reduzida pelo exaustivo processo de
discussões e comprometimentos, devido às coligações partidárias; e b) no caso de
pluripartidarismo, o sistema resulta em governo instável, fraco e ineficaz, sempre
suscetível de alteração nas composições entre os partidos.

Nas repúblicas parlamentaristas, o chefe de estado é eleito pelo voto popular ou


nomeado pelo parlamento, por prazo determinado (geralmente com o título de
Presidente da República). Nas monarquias parlamentaristas, o chefe de estado é o
monarca, geralmente um cargo hereditário. Já o chefe de governo, com o título de
primeiro-ministro (ou, em alguns casos, presidente do governo ou chanceler),
efetivamente conduz os negócios do governo, em coordenação com os demais
ministros membros do gabinete.

Convém destacar que, além do nível nacional, encontramos o executivo distribuído no


nível regional (Governadores de Estados) e no municipal (Prefeitos).

• Legislativo – É o aquele que tem o poder de legislar, criar as leis. O Poder Executivo
(Presidente da República) fica encarregado de sancionar ou vetar o projeto de lei. No
sistema de três poderes proposto por Montesquieu, o poder legislativo é representado
pelos legisladores, os quais elaboram as leis que regulam o Estado.

O poder legislativo, na maioria das repúblicas e monarquias, é constituído por um


congresso, parlamento, assembleias ou câmaras.
25

O objetivo do poder legislativo é elaborar normas de direito de abrangência geral ou


individual, que são aplicadas a toda sociedade, objetivando a satisfação de todos.

Em regimes ditatoriais, o poder legislativo é exercido pelo próprio ditador ou por


câmara legislativa nomeada por ele.

Entre as funções elementares do poder legislativo está a de fiscalizar o poder


executivo, votar leis orçamentárias e, em situações específicas, julgar determinadas
pessoas, como o Presidente da República ou os próprios membros da assembleia.

• Judiciário – É exercido pelos juízes e possui a capacidade e a prerrogativa de julgar, de


acordo com as regras constitucionais e leis criadas pelo Poder Legislativo em
determinado país.

A independência dos poderes significa que a investidura e a permanência das pessoas num
dos órgãos não depende da confiança, nem da vontade dos outros, que, no exercício das
atribuições que lhe sejam próprias, não precisam, os titulares, consultarem uns aos outros, Na
organização dos respectivos serviços, cada um é livre, observadas apenas as disposições
constitucionais e legais.

A harmonia entre os poderes verifica-se pelas normas de cortesia no trato recíproco e no


respeito às prerrogativas e às faculdades a que mutuamente todos têm direito. Quanto à
divisão de funções entre os órgãos do poder, pode-se afirmar que não há independência
absoluta. Há, ao contrário, interferências que visam ao estabelecimento de um sistema de
freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade.

Esse sistema de freios e contrapesos (checks and balances) representa o modelo de divisão
de poder no qual o poder político é exercido por vários órgãos independentes, de forma que a
nenhum deles é permitido agir de forma isolada, sem ser submetido a controle por outro órgão
de poder, e que se tem mostrado eficaz processo de prevenção do arbítrio.

O Poder Legislativo Federal é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal (sistema bicameral).

Nosso sistema bicameral, a exemplo dos Estados Unidos da América do Norte, é do tipo
federativo. Há uma casa legislativa composta por representantes do povo, eleitos em número
relativamente proporcional à população de cada unidade da Federação (Câmara dos
Deputados), bem como uma outra casa legislativa (Senado Federal) com representação
igualitária de cada uma das unidades da Federação (Estados-membros e Distrito Federal com
3 senadores cada).

O Poder Legislativo Estadual é exercido pela Assembleia Legislativa, que, no Distrito Federal
é denominada Câmara Legislativa.

O Poder Legislativo Municipal é exercido pela Câmara dos Vereadores.

Cada legislatura tem a duração de 4 anos, o que corresponde a quatro sessões legislativas,
divididas em 8 períodos, conforme consta do art. 44, combinado com o art. 57, ambos da
Constituição Federal .

O mandato dos deputados e dos vereadores é de 4 anos (uma legislatura). O dos senadores
é de 8 anos, havendo renovação intercalada a cada 4 anos (1/3 e 2/3), pelo princípio
majoritário (ganha o candidato mais votado, independentemente dos votos9 de seu partido).
9
Sufrágio masculino é aquele em que não se concede direito de voto às mulheres, ou seja, é um sufrágio que
26

O número de deputados federais (hoje são 513) deve ser proporcional à população de cada
Estado membro, nos termos da Lei Complementar n. 78/93. Nenhum Estado-membro pode ter
menos de 8 deputados federais, e o Estado mais populoso (São Paulo) será representado por
70 deputados federais.

Os Territórios Federais (atualmente inexistentes) elegiam 4 deputados federais e não elegiam


senadores.

Os senadores representam os Estados e o Distrito Federal, em número de 3 por unidade da


Federação, com 2 suplentes, e mandato de 8 anos (26 Estados-membros mais o Distrito
Federal = 81 senadores).

Atualmente, o núcleo eleitoral é circunscricional (cada Estado, e também o Distrito Federal


representa uma circunscrição), mas, com a reforma política, poderá ser distrital (cada distrito,
uma vaga).

Os deputados estaduais, em São Paulo, somam 94, observados os cálculos do art. 27, da
Constituição Federal.

De acordo com as suas respectivas populações, os Municípios terão entre 9 e 55 vereadores


(art. 29, inc. IV, da Constituição Federal).

A idade mínima para ser eleito senador é de 35 anos; para deputado estadual ou federal é de

ocorre restrição por motivo de sexo.


O direito de voto das mulheres, no Ocidente, surgiu em 1.869, no Estado americano do Wyoming, mas sua
adoção generalizada nos EUA somente ocorreu em 1.920.
O direito de voto das mulheres surgiu, na Nova Zelândia, em 1.893; na Rússia, em 1.917; na Alemanha, em
1.918; na Inglaterra, em 1.928; no Brasil, em 1.932; na França, em 1.944; na Itália e no Japão, em 1.946; na
Argentina, em 1.947; na Suíça, em 1.971.
Sufrágio racial é aquele em que uma ou mais minorias populacionais são impedidas de votar, com base em sua
raça ou religião, ou seja, é um sufrágio que ocorre restrição por motivo de raça ou de crença. O sufrágio racial foi
adotado, no passado, nos EUA e na África do Sul.
O sufrágio com restrição por motivo de idade existe porque considera-se que o indivíduo somente adquire
maturidade para participar conscientemente da vida política após atingir determinada idade cronológica.
O sufrágio com restrição por motivo de deficiência física existe porque, sendo o voto pessoal e secreto, devem
ser excluídos aqueles que não apresentem condições físicas para votar observando essa exigência.
O sufrágio com restrição por motivo de deficiência mental existe porque, para a prática de atos jurídicos, exige-se
que a pessoa tenha plena consciência do significado de suas decisões.
Considera-se que o sufrágio universal tenha sido instituído na França somente em 1848, embora as mulheres
não tivessem, ainda, o direito de votar.
Voto direto é aquele em que o eleitor escolhe os próprios representantes, sem intermediários.
Voto indireto é aquele em que o eleitor, inicialmente, escolhe seus delegados ou representantes, que funcionam
como intermediários, e que, somente em etapa posterior, escolhe os governantes.
No Brasil, o voto é direto.
Em alguns períodos, como os do primeiro governo Vargas, e os governos militares, o voto para Presidente da
República era indireto, pois um restrito colégio eleitoral, muitas vezes sequer eleito pelo povo, indicava o
Presidente da República.
Existiu voto indireto, para Presidente da República, até a promulgação da Emenda Constitucional n° 25,
promulgada em 15.05.1985.
Voto distrital é aquele em que os eleitores escolhem os governantes dentre candidatos pertencentes aos seus
próprios distritos eleitorais.
Os argumentos favoráveis ao voto distrital são: a) aproxima a população de candidatos mais diretamente ligados
à problemática regional; b) permite maior contato entre eleitor e candidatos durante o processo eletivo; c)
assegura melhor controle do eleitor sobre o candidato eleito; d) atenua a influência do poder econômico e do
poder dos meios de comunicação; e) torna os partidos políticos mais homogêneos, mediante a concorrência, em
cada distrito, de candidatos de partidos diversos, e não do mesmo partido.
27

21 anos; e para vereador é de 18 anos.

Somente brasileiros natos podem exercer os cargos de:


• Presidente e Vice-Presidente da República
• Presidente da Câmara dos Deputados
• Presidente do Senado Federal
• Ministro do STF – Supremo Tribunal Federal
• Membros da carreira diplomática
• Oficial das Forças Armadas (Constituição Federal, art. 12, § 3°, I a VI)

Para que a sessão de votação seja instalada, é necessária a presença da maioria dos
membros da casa (quorum de maioria absoluta para a instalação).

Salvo disposição constitucional em sentido contrário, as deliberações de cada uma das casas
(Câmara ou Senado) e de suas comissões são tomadas por maioria de votos (quorum de
aprovação), presente a maioria absoluta de seus membros (art. 47, da CF). É a denominada
maioria simples, ou maioria relativa.

No caso da Câmara dos Deputados, faz-se o seguinte cálculo: 513 : 2 = 256. Portanto, 257
representam a maioria absoluta dos membros (quorum de instalação). Para a deliberação ser
aprovada, deve contar com mais votos a favor do que contra. As abstenções dos presentes só
validam o quorum de instalação.

O quorum de maioria qualificada (especial) é aquele que exige o voto favorável de 2/3 ou de
3/5 de todos os membros da casa.

As deliberações legislativas do Congresso Nacional são submetidas à sanção do Presidente


da República; as das Assembleias Legislativa estaduais, ao Governador do Estado; as das
Câmaras Municipais, aos Prefeitos Municipais.

Algumas matérias, porém, não exigem a sanção do chefe do Poder Executivo, pois são de
competência exclusiva de cada Casa Legislativa (art. 49, 51 e 52, da CF).

Exemplos de matérias e não dependem da sanção do Presidente da República: Emenda


Constitucional; autorização para a instauração de processo contra o próprio Presidente e seus
Ministros (competência da Câmara); convocação de plebiscito ou referendo (competência do
Congresso Nacional); suspensão da execução de lei declarada inconstitucional por decisão
definitiva do Supremo Tribunal Federal; julgamento do Presidente e dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal por crime de responsabilidade (competência do Senado Federal). Incluem-se
aqui, também, aquelas que regulam as atividades internas de cada Poder.

A sessão legislativa ordinária corresponde às reuniões do Congresso Nacional, que se


realizam de 15 de fevereiro a 30 de junho e de 1.º de agosto a 15 de dezembro (dois períodos
da sessão anual). Não se interrompe a sessão legislativa, sem a aprovação da lei de diretrizes
orçamentárias.

As mesas diretoras são escolhidas nas sessões preparatórias de 1.º de fevereiro, com
mandato de 2 anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente
subsequente da mesma legislatura.

O voto dos parlamentares pode ser ostensivo (nas espécies simbólico ou nominal) ou secreto,
nos termos da Constituição Federal e dos Regimentos Internos.

De acordo com o art. 67, da CF, matéria constante de projeto de lei rejeitado só pode ser
objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa, mediante documento assinado pela
28

maioria absoluta dos membros de qualquer das casas.

O Congresso Nacional é presidido pelo presidente do Senado Federal e pode ser convocado
extraordinariamente, em casos de urgência ou relevante interesse público, ocasião em que só
deliberará sobre a matéria que deu causa à convocação. Exemplos: convocação ou
comparecimento de ministros, perda de mandato de congressistas, propositura de ação direta
de inconstitucionalidade, liberação de pronunciamento de parlamentar durante estado de sítio,
etc..

O Presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado, ou a maioria dos


membros de ambas as Casas podem convocar extraordinariamente o Congresso em caso de
urgência ou de interesse público relevante.

Pelo sistema proporcional -- adotado nas eleições para deputado federal, deputado estadual e
vereador -- disciplinado pelos art. 105 e 113, do Código Eleitoral, nem sempre os candidatos
mais votados são eleitos, pois mais vale a votação do partido que a do próprio candidato,
circunstância que deu ao critério a denominação de ‘colorido partidário’.

Nesse sistema proporcional, somam-se os votos válidos (votos dados particularmente para os
partidos mais os votos dados aos seus candidatos) e divide-se o resultado pelo número de
cadeiras a preencher, obtendo-se assim o quociente eleitoral. De acordo com o art. 5.º, da Lei
n. 9.504/97 (que alterou a regra do art. 106, do Código Eleitoral), os votos brancos e os votos
nulos não são considerados nos cálculos. Em seguida, dividem-se os votos de cada partido
ou coligação pelo quociente eleitoral, obtendo-se o número de eleitos de cada agremiação
(quociente partidário).

O partido que não atingir o quociente eleitoral não elege nenhum deputado ou vereador (salvo
se nenhum partido atingir esse quociente, quando, então, as vagas serão preenchidas pelos
candidatos mais votados, independentemente dos partidos).

As sobras também serão destinadas aos partidos que obtiverem as maiores médias. Essa
técnica da maior média determina que os votos do partido ou coligação sejam divididos pelo
número de cadeiras por ele conquistadas mais um, obtendo-se assim a média de cada um
dos concorrentes e o número final de cadeiras a que cada partido ou coligação terá direito.

Exemplo: Município no qual sejam apurados dez mil votos válidos (votos dados para as
legendas e para os candidatos) e que tenha dez cadeiras de vereador a preencher. O
quociente eleitoral é 1.000, ou seja, 10.000 votos divididos por dez cadeiras a preencher. O
partido A e seus candidatos somam 5.500 votos. Dividindo-se esse número pelo quociente
eleitoral (5.500 : 1.000 = 5,5), desde logo, o partido A terá 5 cadeiras. A coligação B/C e seus
candidatos somam 3.800 votos, garantindo, desde logo, 3 cadeiras (3.800 : 1.000 = 3,8). O
partido D e seus candidatos somam 700 votos e, assim, não atingem o quociente eleitoral
(1.000). Com isso, o partido D não elege nenhum candidato.

Por ora, foram preenchidas oito vagas e restam duas. As sobras (duas cadeiras) serão
divididas da seguinte forma: divide-se o número de votos do partido A (5.500) pelo número de
cadeiras por ele obtido (5) + 1, ou seja, 5.500 : 6, atingindo-se a média 916. Divide-se o
número de votos da coligação B/C (3.800) pelo número de cadeiras por ela obtido (3) + 1, ou
seja, 3.800 : 4, atingindo-se a média 950. A maior média foi obtida pela coligação B/C que,
assim, ganha mais uma cadeira (a 4.ª).

Resta, porém, a 10.ª cadeira. Os cálculos são repetidos, agora considerando a nova cadeira
obtida pela coligação B/C, nos seguintes termos: divide-se o número de votos do partido A
(5.500) pelo número de cadeiras por ele obtido (5) + 1, ou seja, 5.500: 6, atingindo-se a média
916. Divide-se o número de votos da coligação B/C (3.800) pelo número de cadeiras por ela
29

obtido (agora, 4) + 1, ou seja, 3.800 : 5, atingindo-se a média 760. A maior média foi obtida
pelo partido A que, assim, ganha mais uma cadeira (a 6.ª).

No final, o partido A preencherá 6 cadeiras e a coligação B/C preencherá 4, sendo esses os


seus quocientes partidários.

Nas eleições proporcionais, somente após a apuração dos números finais de cada partido ou
coligação é que interessará a ordem interna de votação individual, ou seja, o número de votos
que cada candidato obteve. Os lugares, que cada partido ou coligação obtiver, serão
distribuídos aos seus candidatos mais votados (os 6 mais votados do partido A e os 4 mais
votados da coligação B/C ganharão uma cadeira).

Além dos plenários, o Legislativo (Congresso, Câmara dos Deputados, Senado Federal,
Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores) atua por meio de comissões, que são
grupos menores de parlamentares que atuam, de forma transitória ou permanente, sobre
determinados assuntos.

Exemplos de comissões permanentes são a ‘Comissão de Constituição e Justiça’ e a


‘Comissão de Cidadania’. Exemplo de comissão temporária é a Comissão Parlamentar de
Inquérito.

A finalidade precípua das comissões é fornecer ao plenário uma opinião aprofundada sobre o
tema a ser debatido (espécie de parecer). Os pareceres das Comissões de Constituição e
Justiça costumam ser terminativos. Os próprios regimentos internos da Câmara e do Senado,
porém, admitem que os projetos rejeitados pelas comissões sejam levados para votação, se o
plenário der provimento a recurso nesse sentido que tenha sido apresentado por um décimo
dos membros da casa respectiva.

Na formação das comissões, deve ser observada a representação proporcional dos partidos.

As comissões são técnicas (Comissão de Constituição e Justiça), de inquérito ou


representativas do Congresso Nacional (funcionam durante os recessos e dentro dos limites
previstos no Regimento Interno).

As CPIs – Comissões Parlamentares de Inquérito podem ser criadas, em conjunto ou


separadamente, pela Câmara e pelo Senado – mediante requerimento de 1/3 dos respectivos
membros, aprovado por maioria simples em plenário – para, em prazo certo (que pode ser
prorrogado dentro da mesma legislatura), apurar fato determinado e de interesse público.

As CPIs têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros
previstos nos regimentos das respectivas casas.

As deliberações das CPIs, quando relacionadas a poderes de investigação próprios das


autoridades judiciárias, devem ser fundamentadas. Em decisão de 1999 (MS n. 23.452-RJ), o
Supremo Tribunal Federal admitiu a quebra de sigilo bancário, fiscal e de registros telefônicos
por determinação de Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que devidamente motivada.

Admite-se que a Comissão Parlamentar de Inquérito determine a condução coercitiva de


testemunha (TJSP, Órgão Especial, Agravo Regimental n. 48.640-0/3-01, Rel. Des. Dirceu de
Mello) e a prisão em flagrante por falso testemunho (STF, HC 75.287- 0).

Respeitados o sigilo profissional, as prerrogativas funcionais e o direito ao silêncio dos


acusados, a Comissão Parlamentar de Inquérito pode determinar que qualquer pessoa preste
depoimento.

A Comissão Parlamentar de Inquérito deve respeito ao princípio da autonomia dos Estados,


30

do Distrito Federal e dos Municípios, cujos Legislativos são exclusivamente responsáveis pela
investigação parlamentar de assuntos de interesse público local.

Suas conclusões (instrumentalizadas por projeto de resolução) e a resolução que as aprovar


(depende de maioria simples) são encaminhadas ao Ministério Público ou às autoridades
administrativas ou judiciais competentes, para que seja promovida a responsabilização
administrativa, civil e criminal dos infratores.

A autoridade que presidir processo ou procedimento, administrativo ou judicial, instaurado em


razão das conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito, comunicará, semestralmente e
até sua conclusão, a fase em que se encontra o processo. O processo ou procedimento
instaurado em razão do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito deverá tramitar com
prioridade sobre os demais (exceto habeas corpus10, habeas data11 e mandado de
segurança12).

O descumprimento da Lei n. 10.001/00 sujeita a autoridade a sanções administrativas, civis e


criminais, disposição que está sendo questionada sob o argumento de que viola a
independência do Ministério e a separação dos Poderes.

Os parlamentares federais (deputados federais e senadores), estaduais (deputados


estaduais) e municipais (vereadores) são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de
suas opiniões, palavras e votos (redação pela Emenda Constitucional n. 35). Trata-se de
imunidade material (real), que exime o parlamentar do enquadramento no tipo penal,
impedindo a instauração de Inquérito Policial.

A inviolabilidade (imunidade material), segundo prevalece no Supremo Tribunal Federal,

10
Habeas corpus, etimologicamente significa em latim "Que tenhas o teu corpo". A expressão completa é
habeas corpus ad subjiciendum. É uma garantia constitucional em favor de quem sofre violência ou ameaça de
constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção (direito e ir e vir), por parte de autoridade legítima.
Sua origem remonta à Magna Carta libertatum, de 1.215, imposta pelos nobres ao rei da Inglaterra com a
exigência do controle legal da prisão de qualquer cidadão. Este controle era realizado sumariamente pelo juiz,
que, ante os fatos apresentados, decidia de forma sumária acerca da legalidade da prisão.
11
Habeas Data é um remédio jurídico (facultativo), na forma de uma ação constitucional, que pode ser impetrado
por pessoa física ou jurídica (sujeito ativo), para tomar conhecimento ou retificar as informações a seu respeito,
constantes nos registros e bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público (Art. 5º,
LXXII,"a", Constituição Federal do Brasil de 1988).
Pode-se, também, propor ação de Habeas Data com o intuito de adicionar, retirar ou retificar informações em
cadastro existente. É remédio personalíssimo, só podendo ser impetrado por aquele que é o titular dos dados
questionados.
Habeas Data é a ação mandamental, sumária e especial, destinada à tutela dos direitos do cidadão a frente dos
bancos de dados, a fim de permitir o fornecimento das informações registradas, bem como sua retificação, em
caso de não corresponder à verdade. O direito a informação e o seu rito processual é regulado pela Lei n.
9.507/97.
Desta lei pode se extrair a recusa objetiva e a presumida, motivo pelo qual esta sempre ocorrerá quando
solicitado a retificação da informação ao agente público coator não a disponibilizar ou justificar dentro do prazo
de quinze dias, já informação ou anotação estabelece um prazo de dez dias.
O Habeas data será concedido para proteger o direito líquido e certo do impetrante em ter conhecimento de
informações e registro relativos a sua pessoa.
12
O Mandado de Segurança é um instituto jurídico que serve para resguardar direito líquido e certo, não
amparado por Habeas Corpus ou Habeas Data, que seja negado, ou mesmo ameaçado, em face de ato de
quaisquer dos órgãos do Estado Brasileiro, seja da administração direta, indireta, bem com dos entes
despersonalizados e dos agentes particulares no exercício de atribuições do poder público.
Trata-se de um remédio constitucional posto à disposição de toda pessoa Física ou jurídica, ou mesmo órgão da
administração pública com capacidade processual.
Segundo a Lei Federal nº 1.533, de 31 de dezembro de 1951, já no seu art. 1.º informa que "Conceder-se-á
mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data,
sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, alguém sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por
parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça".
31

significa que o parlamentar não pode ser responsabilizado civil ou penalmente, a qualquer
tempo, por suas opiniões, palavras e votos manifestados no exercício do mandato. A
imunidade real tem por pressuposto o exercício do mandato ou, ao menos, um nexo de
causalidade entre o ato praticado e a qualidade de mandatário político do agente (DJU de
18.6.01, Informativo STF n. 232).

O Tribunal de Contas da União é formado por 9 ministros, um terço deles escolhido pelo
Presidente da República, com a aprovação do Senado Federal. Desse um terço,
alternadamente, 2 devem ser escolhidos entre os membros do Ministério Público Federal e
auditores que atuam junto ao Tribunal de Contas da União, conforme lista tríplice elaborada
pelo próprio TCU. Os outros 6 ministros são escolhidos pelo Congresso Nacional.

A escolha dos ministros do Tribunal de Contas da União está disciplinada pelo Dec.-lei n.
06/93.

Os 9 membros serão escolhidos entre os brasileiros que preencham os seguintes requisitos:

• mais de 35 e menos de 65 anos;

• idoneidade moral e reputação ilibada;

• notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de


administração pública;

• mais de 10 anos de função exercida ou de efetiva atividade profissional que exija


os conhecimentos referidos anteriormente.

Os ministros do Tribunal de Contas da União têm as mesmas garantias, prerrogativas,


impedimentos, vencimentos e vantagens dos ministros do Superior Tribunal de Justiça.

Além de emitir pareceres (em 60 dias) das contas anuais do Presidente da República, exercer
fiscalização e representar aos órgãos competentes sobre as irregularidades apuradas, o
Tribunal de Contas da União julga contas dos administradores e de outros responsáveis por
bens e valores públicos. No caso do Presidente da República, o julgamento das contas é ato
privativo do Congresso Nacional (art. 49, inc. IX), competindo ao Tribunal de Contas da União
tão somente a elaboração de parecer prévio.

Constatando a irregularidade, de ato ou contrato, o Tribunal de Contas da União representa


ao Congresso Nacional, solicitando as medidas cabíveis. Se em 90 dias nada for decidido
pelo Congresso Nacional (que julga politicamente e pode decidir não determinar qualquer
medida), o próprio Tribunal de Contas da União decidirá a respeito, podendo até mesmo
sustar a execução do ato ou do contrato impugnado.

Os Estados-membros possuem os chamados Tribunais de Contas dos Estados, que são


compostos por 7 conselheiros. O controle externo dos recursos públicos do Estado é feito
pelas Assembleias Legislativas, com o auxílio dos TCEs.

Em São Paulo, o julgamento das contas do governador é feita pela maioria absoluta dos
membros da Assembleia Legislativa (art. 10, § 1.º, da Constituição Estadual).

É vedada a criação de tribunais, conselhos ou órgãos de contas municipais (art. 31, § 4.º, da
CF). Os Tribunais de Contas Municipais existentes antes da Constituição Federal de 1988 , a
exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro, foram mantidos (art. 31, § 1.º, da CF) e auxiliam as
respectivas Câmaras Municipais no controle externo das contas públicas.

O Tribunal de Contas do Município de São Paulo é composto por 5 conselheiros, nos termos
32

do artigo 151, da Constituição Estadual.

Nos Municípios, onde não há Tribunal de Contas do Município, o controle externo é feito pela
Câmara de Vereadores, com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado respectivo.

O § 3.º, do art. 31, da Constituição Federal, estabelece que as contas dos Municípios ficarão
durante 60 dias, anualmente, à disposição de qualquer contribuinte, para exame e apreciação,
o qual poderá questionar-lhes a legitimidade nos termos da lei.

O parecer emitido pelos Tribunais de Contas, em relação às contas dos prefeitos, só não
prevalece se derrubado por voto de 2/3 (chamado de maioria qualificada) dos membros da
respectiva Câmara Municipal (art. 31, § 2.º, da CF).

Pela alínea “g”, do inc. I, do art. 1.º, da Lei Complementar n. 64/90 (Lei Federal das
Inelegibilidades), aquele que tiver suas contas rejeitadas por irregularidade insanável e por
decisão irrecorrível de órgão competente, fica inelegível pelos 5 anos seguintes à data da
decisão, salvo se a questão houver sido ou estiver sendo submetida à apreciação do Poder
Judiciário.

1.9. Fatores que levam o homem a socializar-se


O sociólogo Gilberto Freyre toma o conceito de sociedade em dois sentidos:
a) o genérico, pelo qual sociedade é o conjunto das relações sociais, abrangendo as
sociedades animais, vegetais e humanas
b) o específico, que entende que sociedade é qualquer grupo humano relativamente
permanente, capaz de perpetuar a espécie ou conservar-se por meio de usos e técnicas.

Há duas correntes de pensamento que explicam a vida do homem em sociedade:


a) a naturalista, que sustenta a existência de uma sociedade natural, isto é, há uma
exigência da própria natureza do homem, que o impele a viver de forma gregária, junto a
seus semelhantes
b) a contratualista, que defende a posição de que o homem vive em sociedade por
vontade própria, isto é, mediante um ato consciente de vontade (um contrato).

Os principais filósofos dessa corrente foram/são:


a) o grego Aristóteles (Século IV a.C.), para quem "o homem é naturalmente um animal
social, político" (zoon politikon), ou seja, deve viver de forma gregária
b) o romano Cícero (Século I a.C.), para quem o homem tem um instinto inato de
sociabilidade c) o lombardo Santo Tomás de Aquino (Século XIII), que, adotando as
noções aristotélicas, acrescentou que o ser humano somente poderia viver isoladamente
se fosse excepcionalmente virtuoso (excellentia naturae), se fosse portador de
anormalidade mental (corruptio naturae), ou por acidente, como é o caso de um
sobrevivente de um naufrágio (mala fortuna)
d) o italiano Oreste Ranelletti, autor contemporâneo, para o qual o homem tem
necessidade natural de associar-se a outros seres humanos.

Os principais filósofos defensores da corrente contratualista foram/são:


a) o grego Platão (Século IV a.C.), que se refere a uma sociedade racionalmente
construída, isenta de impulsos naturais que a instituíram
b) o inglês Thomas Moore (Século XVI), que descreve uma sociedade ideal, em que
inexistem os males que considerava afetar todas as sociedades
c) o italiano Tommaso Campanella, também no Século XVI, cuja obra ‘A Cidade do Sol’
descrevia uma sociedade utópica, à semelhança do que fizera Thomas Morus, na obra
‘Utopia’
33

d) o inglês Thomas Hobbes (Século XVII), cuja obra, ‘O Leviatã’13 é considerada a


primeira sistematização da doutrina contratualista.

Para Thomas Hobbes14, cuja obra fundamental é ‘O Leviatã’, publicada em 1.651, os homens
vivem, inicialmente, sem poder e sem organização (isto é, nascem num estado da natureza),
que somente vêm a surgir depois que estes estabelecem entre si um pacto, que estabelece as
regras de convívio social e de subordinação política.

O motivo pelo qual firmam este pacto encontra-se na convicção de que, não o fazendo,
caminharão para a mútua destruição, em virtude da tensão que existe nas relações sociais.
Essa tensão, se não for devidamente coibida (pelo Estado, cujo poder resulta desse pacto),
impelirá os homens ao conflito aberto.

13
Leviatã é o livro mais famoso do filósofo inglês. Thomas Hobbes, publicado em 1.651. O seu título se deve ao
monstro bíblico Leviatã. O livro, cujo título por extenso é ‘Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado
eclesiástico e civil’, trata da estrutura da sociedade organizada.
Hobbes alega serem os humanos egoístas por natureza. Com essa natureza tenderiam a guerrear entre si, todos
contra todos (Bellum omnia omnes). Assim, para não exterminarmo-nos uns aos outros será necessário um
contrato social que estabeleça a paz, a qual levará os homens a abdicarem da guerra contra outros homens.
Mas, egoístas que são, necessitam de um soberano (Leviatã), que puna aqueles que não obedecem ao contrato
social.
Vale notar que um soberano pode ser uma pessoa, tanto quanto um grupo, eleito ou não. Porém, na perspectiva
de Hobbes, a melhor forma de governo era a monarquia, sem a presença concomitante de um Parlamento, pois
este dividiria o poder e, portanto, seria um estorvo ao Leviatã e levaria a sociedade ao caos (como na guerra civil
inglesa).
14
Thomas Hobbes (1.588 –1.679) fi um matemático, teórico político, e filósofo inglês, autor de ‘O Leviatã’ (1.651)
e ‘Do cidadão’ (1.651).
Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos
e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do
que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe
possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas,
existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um
desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando
num contrato social.
De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros dela devem render
o suficiente da sua liberdade natural, por forma a que a autoridade possa assegurar a paz interna e a defesa
comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembleia (que pode até mesmo ser composta de
todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o ‘Leviatã’, uma autoridade inquestionável. A teoria
política do ‘Leviatã’ mantém, no essencial, as ideias de suas duas obras anteriores, ‘Os elementos da lei’ e ‘Do
cidadão’ (em que tratou a questão das relações entre Igreja e Estado).
Thomas Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se concordarem em
submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Para ele, a Igreja cristã e o Estado cristão formavam um
mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões
religiosas e presidir o culto. Neste sentido, critica a livre-interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por, de
certa forma, enfraquecer o monarca.
Sua filosofia política foi analisada pelo estudioso Richard Tuck, como uma resposta para os problemas que o
método cartesiano introduziu para a filosofia moral. Hobbes argumenta, assim como os céticos e como René
Descartes, que não podemos conhecer nada sobre o mundo exterior a partir das impressões sensoriais que
temos dele. Esta filosofia é vista como uma tentativa para embasar uma teoria coerente de uma formação social
puramente no fato das impressões por si, a partir da tese de que as impressões sensoriais são suficientes para o
homem agir em sentido de preservar sua própria vida, e construir toda sua filosofia política a partir desse
imperativo.
Tuck dá peso considerável à segunda parte do ‘Leviatã’, que lida com espinhosas questões de religião, e
especificamente da autoridade em assuntos da fé. Interpretando o livro de Hobbes no contexto da Guerra Civil
Inglesa e perído subsequente, Tuck argumenta que o ‘Leviatã’ destinava-se a permitir ao monarca exercer
autoridade sobre assuntos de fé e doutrina, e que isso marca o apoio de Hobbes à política religiosa da república
inglesa do pós-guerra.
Hobbes ainda escreveu muitos outros livros falando sobre filosofia política e outros assuntos, oferecendo uma
descrição da natureza humana como cooperação em interesse próprio. Ele foi contemporâneo de Descartes, e
escreveu uma das respostas para a obra Meditações sobre filosofia primeira, deste último.
34

Hobbes descreve o homem, em seu Estado Natural15, como egoísta, egocêntrico e inseguro.
Ele não conhece leis e não tem conceito de justiça. Ele somente segue os ditames de suas
paixões e desejos temperados com algumas sugestões de sua razão natural. Onde não existe
governo ou lei, os homens naturalmente caem em discórdia.

Para ele, desde que os recursos são limitados, ali haverá competição, que leva ao medo, à
inveja e a disputa. Semeada a desconfiança, perde-se a segurança de confiar no próximo. Na
busca pela glória, derruba-se os outros pelas costas, já que, para Hobbes, os homens são
iguais nas capacidades e na expectativa de êxito e, assim, nenhuma pessoa ou nenhum
grupo pode, com segurança, reter o poder.

Assim sendo, o conflito é perpétuo, e "cada homem é inimigo de outro homem". Nesse estado
de guerra, nada de bom pode surgir. Enquanto cada um se concentra na autodefesa e na
conquista, o trabalho produtivo é impossível. Não existe tranquilidade para a busca do
conhecimento. Não existe motivação para construir ou explorar. Não existe lugar para as artes
e letras. Não existe espaço para a sociedade, mas, só "medo contínuo e perigo de morte
violenta". Então a vida do homem, nesse estado, será "solitária, pobre, sórdida, brutal e curta".

Em contrapartida ao estado de guerra aqui descrito, os próprios homens almejariam uma


ordem ansiando pela garantia de paz e, assim, um Estado que garantisse essa paz, essa vida
acordada.

Para Hobbes, no entanto, o conflito não deriva, em princípio, dos bens que o homem possui, e
sim, da honra, que é constituída pelo poder que detém, ou pelo respeito que a ele devotam os
semelhantes. Em resumo, para Hobbes:
a) o homem é artífice de seu destino, não Deus ou a natureza
b) o homem pode conhecer sua condição atual, miserável, e também os meios para
alcançar a paz e a prosperidade
c) somente por meio do contrato pode o homem organizar-se em sociedade.

15
Estado Natural, também chamado de Estado de Natureza, é o estado anterior à constituição da sociedade
civil. Todos os autores contratualistas admitem, de certa forma, um "estado de natureza". Alguns dos autores
contratualistas, apesar de descreverem um "estado de natureza", admitem que ele possa nunca ter vindo a
existir, mas, que era preciso fazer essa construção para entender a formação da sociedade civil.
É a ausência de sociedade. O que difere a sociedade humana das sociedades formadas por outras criaturas é a
necessidade de regras para que haja organização dos interesses. A cultura faz com que o homem se emancipe
dos outros animais. O ser humano, sendo dotado de razão torna-se livre.
Para Thomas Hobbes, o "estado de natureza" é qualquer situação onde não há um governo que estabeleça a
ordem. O fato de todos os seres humanos, serem iguais no seu egoísmo, faz com que a ação de um só seja
limitada pela força do outro. "O homem é o lobo do homem". Para que todos não acabem se matando e tenham
segurança, é necessário um Estado, uma instituição de poder comum. Aqui o "direito natural" é o direito de cada
um usar o seu poder para se autopreservar e satisfazer os seus desejos. O "estado de natureza" é sempre um
estado de guerra: Mesmo que não haja batalha, ela está latente, podendo ocorrer a qualquer momento e sem
causa aparente. Preocupados em se defender ou atacar, todos seres humanos se tornam incapazes de gerar
riquezas. De acordo com Hobbes, “a origem das sociedades amplas e duradouras não foi a boa vontade de uns
para com os outros, mas o medo recíproco”.
Para John Locke, o Estado Natural não é apenas uma construção teórica, pois ele existiu e continua existindo.
Locke entendia que, no Estado de Natureza, as pessoas eram submetidas à Lei da Natureza, o que era possível
porque elas eram dotadas de razão. Nesta Lei da Natureza, cada indivíduo poderia fazer o papel de juiz e aplicar
a pena que considerasse justa ao infrator. Esta arbitrariedade indivídual é um dos principais motivos das pessoas
buscarem entrar num Estado Civil. De acordo com o Direito Natural, o ser humano tem direito sobre sua vida,
liberdade e bens. A propriedade privada era definida no momento em que o ser humano misturava seu trabalho
com a natureza: "Quando começaram a lhe pertencer? Quando os digeriu? Quando os comeu? Quando os
cozinhou? Quando os levou para casa? ou Quando os apanhou? E é evidente que se o primeiro ato de apanhar
não os tornasse sua propriedade, nada mais poderia fazê-lo. Aquele trabalho estabeleceu uma distinção entre
eles e o bem comum". Mas, por que o Estado de Natureza continua existindo? Para Locke, "não é toda
convenção que põe fim ao estado de natureza entre os homens, mas apenas aquela pela qual todos se obrigam,
juntos e mutuamente, a formar uma comunidade única e constituir um único corpo político. Quanto às outras
promessas e convenções, os homens podem fazê-las entre eles, sem sair do estado de natureza.
35

As ideias absolutistas de Hobbes passaram a ser contestadas a partir do final do Século XVII,
por John Locke16, considerado o fundador da doutrina denominada empirismo, segundo a qual
todo o conhecimento deriva da experiência. Suas obras fundamentais são: ‘Cartas Sobre a
Tolerância’, ‘Ensaio Sobre o Entendimento‘ e ‘Dois Tratados Sobra o Governo Civil’.

Para Locke, no estado de natureza, já eram os homens dotados de razão, e desfrutavam da


propriedade que, num significado primitivo e genérico, designava a vida, a liberdade e os bens
como direitos naturais do ser humano. Num sentido estrito, Locke passa a empregar o
conceito de propriedade como o domínio sobre bens móveis e imóveis.

Para Hobbes, a propriedade inexistia no estado de natureza, sendo instituída pelo Estado--
Leviatã, após a constituição da sociedade civil. Tendo criado a propriedade, poderia o Estado,
também, suprimi-la, o que é inaceitável para Locke, que considera a propriedade pré-existente
à sociedade (ou seja, é direito natural do homem), razão pela qual não pode ser tomada pelo
Estado.

16
John Locke (1.632 — 1.704), filósofo inglês e ideólogo do liberalismo, é considerado o principal representante
do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social.
Estudou medicina, ciências naturais e filosofia em Oxford, principalmente as obras de Bacon e Descartes. Em
1.683 John Locke fugiu para Holanda. Voltou à Inglaterra quando Guilherme de Orange subiu ao trono, em
1.688. Faleceu em 28 de outubro de 1.704. Locke nunca casou ou teve filhos.
Locke é considerado o protagonista do empirismo, isto é, a teoria denominada de Tabula rasa (do latim, "folha
em branco"). Esta teoria afirma que todas as pessoas nascem sem saber absolutamente nada e que aprendem
pela experiência, pela tentativa e erro. Esta é considerada a fundação do "behaviorismo".
A filosofia política de Locke fundamenta-se na noção de governo consentido dos governados diante da
autoridade constituída e o respeito ao direito natural do ser humano, de vida, liberdade e propriedade. Influencia,
portanto, as modernas revoluções liberais: Revolução Inglesa, Revolução Americana e na fase inicial da
Revolução Francesa, oferecendo-lhes uma justificação da revolução e a forma de um novo governo. Para fins
didáticos, Locke costuma ser classificado entre os "Empiristas Britânicos", ao lado de David Hume e George
Berkeley, principalmente pela obra relativa à questões epistemológicas. Em ciência política, costuma ser
classificado na escola do direito natural ou jusnaturalismo.
Para Bernard Cottret, biógrafo de João Calvino, a braços com a história trágica da brutal repressão aos
protestantes, na França, no Século XVI, e a própria intolerância e zelo religioso radical de João Calvino, em
Genebra, o nome de John Locke está intimamente associado à tolerância. Uma tolerância que os franceses
aprendem a valorizar apenas na década de 80, do Século XVII, quase às portas do Iluminismo. Dentre os
escritos políticos, a obra mais influente foi o tratado em duas partes, ‘Dois Tratados sobre o Governo’ (1.689). A
primeira descreve a condição corrente do governo civil; a segunda parte descreve a justificação para o governo e
os ideais necessários à viabilização.
Segundo Locke todos são iguais e que a cada deverá ser permitido agir livremente desde que não prejudique
nenhum outro. Com este fundamento, ele deu continuidade à justificação clássica da propriedade privada, ao
declarar que o mundo natural é a propriedade comum de todos, mas que qualquer indivíduo pode apropriar-se
de uma parte dele ao misturar o trabalho com os recursos naturais. Este tratado também introduziu o "proviso de
Locke", no qual afirmava que o direito de tomar bens da área pública é limitado pela consideração de que "ainda
havia suficientes, e tão bons; e mais dos ainda não fornecidos podem servir". Por outras palavras, que o
indivíduo não pode simplesmente tomar aquilo que pretende, pois também tem de levar em consideração o bem
comum.
Em ‘Ensaio acerca do Entendimento Humano’ (1.690), Locke propõe que a experiência é a fonte do
conhecimento, que depois se desenvolve por esforço da razão. Outra obra filosófica notável é ‘Pensamentos
sobre a Educação’, publicado em 1.693. As fontes principais do pensamento de Locke são: o nominalismo
escolástico, cujo centro era a Oxford; o empirismo inglês da época; o racionalismo defendido por René Descartes
e a filosofia de Malebranche.
Locke é considerado "o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua"[3]. Ao
mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, Locke defendia a escravidão (sem distinguir que fosse
apenas a negra), pois, aparentemente, ele só considerava como humanos os homens livres. Locke sustenta a
escravidão pelo contrato de servidão em proveito do vencido na guerra que poderia ser morto, mas assume o
ônus de servir em troca de viver. Locke não defende a escravidão fundada em raça, mas, no contrato com o
vencido na guerra, seja ele branco ou negro.
Locke contribuiu para a formalização jurídica da escravidão na Província da Carolina, cuja norma constitucional
dizia: "(...) todo homem livre da Carolina deve ter absoluto poder e autoridade sobre os escravos negros, seja
qual for a opinião e religião." Ele também investiu no tráfico de escravos negros.
36

Montesquieu17 -- cujo nome era Charles de Secondat --, tinha o título nobiliárquico de Barão
de Ia Brède e de Montesquieu, sendo conhecido por este último nome. Sua obra fundamental
é ‘O Espírito das Leis’18. Considerava que, embora o homem adentrasse ao mundo em um
estado de natureza, ele não iria buscar o conflito, ou subjugar outro ser humano.
Precisamente o contrário deveria ocorrer: o homem, nesse estado primitivo, sentir-se-ia tão
inferiorizado e cheio de temores, que não teria a coragem para atacar outro ser humano.

Postulou a existência de leis naturais, que impulsionam o homem em direção à vida em


sociedade:
a) o desejo de paz, derivado dos temores que tinha o homem, no estado de
natureza
17
Charles-Louis de Secondat, ou simplesmente Charles de Montesquieu, senhor de La Brède ou Barão de
Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de janeiro de 1.689 — Paris, 10 de fevereiro de
1.755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua ‘Teoria da Separação dos Poderes’,
atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais.
Aristocrata, filho de família nobre, cedo teve formação iluminista com padres oratorianos. Revelou-se um crítico
severo e irônico da monarquia absolutista decadente, bem como do clero católico. Adquiriu sólidos
conhecimentos humanísticos e jurídicos, mas, também frequentou, em Paris, os círculos da boêmia literária.
Em 1.714, entrou para o tribunal provincial de Bordéus, que presidiu de 1.716 a 1.726. Fez longas viagens pela
Europa e, de 1.729 a 1.731, esteve na Inglaterra.
Proficiente escritor, concebeu livros importantes e influentes, como ‘Cartas Persas’ (1.721), ‘Considerações
sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência’ (1.734) e ‘O Espírito das Leis’ (1.748), a sua
mais famosa obra..
Filho de um oficial da guarda do rei da França, neto e sobrinho de um Presidente do Parlamento de Bordéus,
ficou órfão de mãe aos 11 anos de idade. O seu ensino básico foi entregue aos Oratorianos do colégio de Juilly,
localidade situada a nordeste de Paris, que frequentou em companhia de dois primos, e onde lhe foi ministrada
uma educação clássica.
Regressado a Bordéus, em 1.705, realizou os estudos jurídicos necessários à sua entrada no Parlamento de
Bordéus, para poder herdar o título e as importantes funções do tio. A admissão como conselheiro deu-se em
1.708. Após a conclusão destas formalidades, regressou a Paris, onde concluiu os seus estudos jurídicos e lá
frequentou assiduamente a Academia das Ciências e das Letras. Regressou a Bordéus, em 1.713, devido à
morte do pai. Em 1.715, casou com uma calvinista francesa, o que lhe assegurou um valioso dote. No ano
seguinte, o tio morreu, tornando-se Barão de Montesquieu e presidente no Parlamento de Bordéus.
Em 1.721 publicou ‘Cartas Persas’, obra que lhe granjeou um enorme sucesso, e onde, aproveitando o gosto da
época pelas coisas orientais, analisou, de uma maneira satírica, as instituições, usos e costumes da sociedade
francesa e europeia, criticando veementemente a religião católica, naquela que foi a primeira grande crítica à
igreja no Século XVIII. Muitas das afirmações de Montesquieu foram confirmadas por Edward Gibbon, quando
este autor inglês publicou o ‘Decline and Fall of the Roman Empire’, em que defendeu que a queda do império se
deveu ao predomínio da igreja cristã no Império romano, a partir de Constantino.
Em 1.726 renunciou ao seu cargo no Parlamento de Bordéus e foi viver para Paris, preparando-se para entrar na
Academia Francesa. Foi aceito em 1.728, viajou logo a seguir pela Europa, realizando, assim, o seu ‘grand tour’,
a tradicional viagem educativa dos intelectuais europeus do Século XVIII. Regressou à França, mas foi para
Inglaterra, onde permaneceu durante dezoito meses.
Em 1.731, após uma ausência de três anos, regressou a Bordéus, para a sua família e os seus negócios, assim
como para as vinhas e os campos agrícolas à volta do seu Palacete de Brède. Voltou, com frequência a Paris,
onde teve contactos ocasionais com os célebres ‘salons’, mas sem se ligar muito com o grupo de intelectuais
que os animava.
O seu grande objetivo passou a ser completar aquela que será a sua grande obra, ‘O Espírito das Leis’.
Preenchendo uma etapa intermediária, escreveu e publicou, em 1.734, ‘A Causa da Grandeza dos Romanos e
da sua decadência’, que não é mais do que um capítulo de apresentação do ‘Espírito’.
‘O Espírito das Leis’ foi publicado em 1.748, em dois volumes, em Genebra, para evitar a censura, tornando-se
um imenso sucesso. A sua preocupação foi ultrapassar as posições dos filósofos e utópicos, oa quais
apresentavam as suas teorias em abstrato e sem nenhuma consideração pelas determinantes espaciais e
temporais.
Os tempos que se seguiram estiveram longe de serem sossegados, sendo as suas teorias atacadas tanto pelos
jansenistas como pelos católicos ortodoxos, como os jesuítas, mas também pela Universidade de Paris, a
célebre Sorbonne. Defendeu-se das críticas publicando em 1755, A Defesa do Espírito das Leis. Entretanto ia
perdendo a visão.
Morreu em 1.755, quase cego, tendo recebido os últimos sacramentos das mãos de um padre católico.
Era contra o absolutismo (forma de governo que concentrava todo poder do país nas mãos do rei). Por isso,
defendia a divisão do poder em três: Executivo (o rei e os secretários de estado punham as leis em prática),
Legislativo (nas Cortes, pessoas escolhidas pelos partidos votavam as leis) e Judiciário(os juizes julgam os
37

b) a consciência de suas necessidades, que levava o homem a buscar comida e


abrigo
c) a tração natural entre sexos opostos, que somente poderia frutificar em ambiente
harmonioso
d) a intenção de viver no seio de um grupo multiplicador de forças, onde se sentiria
seguro.

Jean-Jacques Rousseau (1.712 – 1.778), autor da obra ‘O Contrato Social’ 19, de 1.762, retoma
o pensamento de Hobbes, de que a sociedade é constituída a partir de um pacto social, e
propõe o exercício da soberania pelo povo, como condição primeira para sua libertação.

criminosos).
Fez várias críticas ao clero católico, principalmente, sobre seu poder e interferência política.
Defendia aspectos democráticos de governo e o respeito as leis.
Ele cunhou algumas frases célebres:- "Um governo precisa apenas saber vagamente o que a traição é, vai
contribuir para o despotismo"; "A pessoa que fala sem pensar, assemelha-se ao caçador que dispara sem
apontar."; "Leis inúteis enfraquecem as leis necessárias."; "Quanto menos os homens pensam, mais eles falam";
"Defenderei sempre o direito de discordarem de mim."
Apesar de ser muito influenciado pelos clássicos (notadamente Aristóteles), o seu esquema de governos é
diferente destes últimos. Montesquieu, ao considerar a democracia e a aristocracia um mesmo tipo (agrupados
na república) e ao falar de despotismo como um tipo em si e não a corrupção de outro (neste caso, da
monarquia), mostra-se mais preocupado com a forma com que será exercido o poder: se é exercido segundo leis
ou não.
Para Montesquieu, a forma republicana de governo só seria viável em regiões pequenas, como as cidades
gregas, da Antiguidade, e as cidades italianas, da Idade Média. Para os grandes Estados, só seria possível o
despotismo e as monarquias. Ele simpatizava com a monarquia constitucional (liberal) à moda inglesa, e foi a
partir de uma viagem à Inglaterra que ele elaborou a sua teoria da separação dos poderes.
Ao procurar descobrir as relações que as leis têm com a natureza e o princípio de cada governo, Montesquieu
desenvolveu uma alentada teoria de governo que alimenta as ideias fecundas do constitucionalismo, pelo qual se
busca distribuir a autoridade por meios legais, de modo a evitar a violência e o abuso de poder de alguns. Tais
ideias se encaminham para uma melhor definição da separação dos poderes, ainda hoje uma das pedras
angulares do exercicio do poder democrático. Montesquieu admirava a constituição inglesa, mesmo sem
compreendê-la completamente, e descreveu cuidadosamente a separação dos poderes em ‘Executivo’,
‘Judiciário’ e ‘Legislativo’, trabalho que influenciou os elaboradores da Constituição dos Estados Unidos da
América.
O Executivo seria exercido por um rei, com direito de veto sobre as decisões do parlamento. O poder judiciário
não era único, porque os nobres não poderiam ser julgados por tribunais populares, mas só por tribunais de
nobres; Portanto, Montesquieu não defende a igualdade de todos perante a lei.
O poder legislativo, convocado pelo executivo, deveria ser separado em duas casas: o corpo dos comuns,
composto pelos representantes do povo, e o corpo dos nobres, formado por nobres, hereditário e com a
faculdade de impedir (vetar) as decisões do corpo dos comuns. Essas duas casas teriam assembleias e
deliberações separadas, assim como interesses e opiniões independentes. Refletindo sobre o abuso do poder
real, Montesquieu conclui que "é preciso que o poder limite o poder", daí a necessidade de cada poder manter-se
autônomo e constituído por pessoas e grupos diferentes.
É bem verdade que a proposta da divisão dos poderes ainda não se encontra em Montesquieu com a força que
costumou-se posteriormente a atribuir-lhe. Em outras passagens de sua obra, ele não defende uma separação
tão rígida, pois o que ele pretendia, de fato, era realçar a relação de forças e a necessidade de equilíbrio e
harmonia entre os três poderes.
Montesquieu não era um revolucionário. Sua opção social ainda era por sua classe de origem, a nobreza. Ele
sonhava apenas com a limitação do poder absoluto dos reis, pois era um conservador, que queria a restauração
das monarquias medievais e o poder do Estado nas mãos da nobreza. As convicções de Montesquieu refletem-
se à sua classe e, portanto, o aproximam dos ideais de uma aristocracia liberal. Ou seja, ele criticava toda a
forma de despotismo, mas, não apreciava a ideia de o povo assumir o poder. A sua crítica, no entanto, serviu
para desencadear a Revolução Americana e instaurar a república burguesa.
18
Do Espírito Das Leis (L'Esprit des lois), publicado em 1.748, é o livro no qual Montesquieu elabora conceitos
sobre formas de governo e exercícios da autoridade política que se tornaram pontos doutrinários básicos da
ciência política. Suas teorias exerceram profunda influência no pensamento político moderno. Elas inspiram a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada em 1.789, durante a Revolução Francesa.
Montesquieu é um dos grandes filósofos do Século XVIII. Pensador iluminista, deixou uma grande herança por
meio de suas obras. “Para melhor compreensão, desta obra, é preciso que se observe que o que denomino
virtude na república é o amor à pátria, isto é, o amor à igualdade. Não é, em absoluto, virtude moral, nem virtude
cristã, e sim, virtude política; é a mola que faz mover o governo republicano, assim como a honra é a mola que
38

Para Rousseau, o fundamento da formação da sociedade humana deve ser encontrado na


vontade, e não na natureza humana. E essa associação voluntária de indivíduos tem por
objetivo a proteção dos bens de cada membro, e também a defesa da vontade geral do povo,
que resulta da síntese das vontades individuais, e não de uma mera soma delas. O filósofo
postula que um governo somente satisfaz a vontade geral quando edita legislação que tenha
por objetivo assegurar a liberdade e a igualdade dos indivíduos. Por suas ideias, os
revolucionários de 1.789 o elegeram como patrono da Revolução Francesa20.

Atualmente, predomina uma corrente de pensamento mista, que reúne elementos do


naturalismo e também do contratualismo. Ao mesmo tempo em que se entende existir uma
necessidade natural do homem de associar-se, reconhece-se a importância de sua
consciência e manifestação da vontade para moldar a forma de organização. O ser humano é
considerado, portanto, como um homem social.

Duas correntes de pensamento procuram explicar a finalidade social:


a) a determinista

faz mover o governo a monarquia".


19
‘O Contrato Social’ pode ser considerada a obra prima do suíço Jean-Jacques Rousseau: parte de uma obra
mais extensa, as ‘Instituições Políticas’, que, por não ter sido completada, teve suas partes menos importantes
destruídas pelo autor.
Nesta obra, Rousseau expõe a sua noção de Contrato Social, que difere muito das de Hobbes e Locke: para
Rousseau, o homem é naturalmente bom, sendo a sociabilização a culpada pela degeneração do mesmo. O
Contrato Social, para Rousseau, é um acordo entre indivíduos para se criar uma sociedade, e só então um
Estado. Isto é, o Contrato é um pacto de associação, não de submissão.
No primeiro livro da obra, Jean-Jacques Rousseau passa em exame as principais questões da vida política. Sua
principal preocupação já se expõe na primeira frase do primeiro capítulo deste livro: O homem nasce livre, e por
toda a parte encontra-se acorrentado. Nesse sentido, Rousseau começa ‘O Contrato Ssocial’ questionando o
motivo de os homens viverem sob os grilhões da vida em sociedade, do porquê de os homens abandonarem o
estado de natureza, uma vez que todos nascem homens e livres.
A ordem social seria, para Rousseau, um direito sagrado fundado em convenções, portanto, não-natural. O
objeto de estudo deste livro é, em geral, quais seriam estas convenções. A primeira forma de sociedade,
portanto o que mais se aproxima de uma sociedade natural, seria a família. Por ser o que mais se aproxima de
uma forma natural de sociedade, a família serve como primeiro modelo de sociedade política: o pai representado
pelo chefe, os filhos pelo povo. Mas o direito do pai sobre o filho cessa assim que este atinge a idade da razão e
torna-se senhor de si. A distinção entre sociedade familiar/sociedade política se dá, principalmente, no fato de o
pai se ligar ao filho por amor, e o chefe por prazer em mandar.
À questão do direito do mais forte, Rousseau responde que: ceder à força constitui ato de necessidade, não de
vontade; quando muito, ato de prudência. Em que sentido poderá representar um dever?, ou seja, a força difere
do direito porque pode se impor, mas não obrigar. Assim, para Rousseau, ‘força’ é diferente de ‘direito’ (o último
é um conceito moral, fundado na razão, enquanto a força é um fato). Por isso não há direito (nem Contrato) na
submissão de um homem pela força. Nenhum homem aliena sua liberdade gratuitamente a um outro, tão pouco
um povo a um indivíduo.
A escravidão não tem sentido para Rousseau, porque para o autor, o homem depende da liberdade: a liberdade
é condição necessária da condição humana. Por isso, ele afirma que renunciar à liberdade é renunciar à
qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e até aos próprios deveres. Não há recompensa possível
para quem a tudo renuncia. Ao falar de como é sempre preciso remontar a uma convenção anterior,, Rousseau
conclui que a submissão de um povo a um rei só pode vir depois da constituição do próprio povo, ou seja, antes
de um contrato de submissão, é necessário um contrato de associação, visto que, em estado de natureza, os
homens não estão associados. A constituição do Povo, ou a associação das vontades individuais depende do
Pacto Social.
20
Revolução Francesa é o nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1.789 e 9 de
novembro de 1.799, alteraram o quadro político e social da França. Em causa estavam o Antigo Regime (Ancien
Régime) e a autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência
Americana (1.776). Está entre as maiores revoluções da história da humanidade.
A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e
os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté,
Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau. Para a França, abriu-se, em 1.789, o longo
período de convulsões políticas do Século XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma
monarquia constitucional e dois impérios.
39

b) a voluntarista.

A corrente determinista explica a finalidade social como sendo condicionada a leis naturais,
inexoráveis, que condicionam a vida da sociedade, sem que os membros da sociedade
possam lutar para alterar seus fatores condicionantes, que são de ordens diversas, como a
econômica, a geográfica, a étnica e outras.

Se aceita a corrente determinista, deverá a evolução da sociedade ser considerada como


pré-determinada, isto é, seus membros deveriam submeter-se incondicionalmente às leis,
sem jamais tentar efetuar quaisquer mudanças, aguardando passivamente que os fatos se
sucedam, sem a possibilidade de sobre eles interferir. Logo, o homem seria impotente para
empreender qualquer tentativa de avanço social.

A corrente voluntarista é a que explica a finalidade social como consequência da livre escolha
do homem, resultado da ação de sua consciência e racionalidade.

A sociedade deverá buscar atingir um bem comum, isto é, valores materiais e espirituais
compartilhados por todos, ou ao menos pela maioria, que sejam considerados como de
grande importância, e em nome dos quais os membros estão dispostos a fazer concessões e
sacrifícios.

O papa João XXIII afirmou: "bem comum é o conjunto de todas as condições de vida social
que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da pessoa humana". (Encíclica Pacem
in Terris)

Com efeito, a ação dos membros da sociedade deve ser conjunta e ordenada, de modo
harmônico.

1.10. Conceito de Estado


Estado (do latim status = estar firme, na acepção de situação permanente de convivência), em
sentido amplo, pode ser usado para indicar a ‘sociedade’, como tal, ou alguma forma especial
de sociedade.

Também é usado para indicar (com ‘e’ minúsculo) a condição pessoal do indivíduo perante os
direitos civis e políticos (status civitatis, status familiae). Em sentido mais restrito, pode indicar
um órgão particular da sociedade, como, por exemplo, o governo ou os sujeitos do governo,
uma ‘nação’, ou o território que eles habitam.

Quando o Estado é discutido a partir de um ponto puramente jurídico, passa a ser visto como
uma corporação qualificada, isto é, um organismo constituído e que funciona de acordo com
ordem normativa própria. Daí, diz Kelsen, "o Estado é a comunidade criada por uma ordem
jurídica nacional" (em contraposição a uma ordem jurídica internacional). Finalmente, Estado
designa uma forma complexa e organizada de sociedade civil, a sociedade política.

Há mais de 25 séculos discutem os teóricos da Ciência Política e da Teoria Geral do Direito


sobre o conceito de Estado. As dificuldades para defini-lo são inúmeras, podendo ser citadas
as seguintes:
a) existe uma variedade muito grande de correntes doutrinárias, daí não ser
possível encontrar uma definição que seja aceita por todas;
b) é sempre possível analisar o Estado sob muitos ângulos, porém qualquer
definição reflete obrigatoriamente o ponto de partida do observador;
c) existe considerável grau de subjetividade no estudo do Estado, dificultando o
estabelecimento de uma definição objetiva;
40

d) ao longo dos séculos, o vocábulo tem sido empregado em grande variedade de


acepções.

Os doutrinadores se dividem, basicamente, em dois grandes grupos, cada qual construindo a


conceituação do Estado com base:
a) em uma noção de força;
b) em uma noção de ordem jurídica.

Os doutrinadores que apresentam o conceito de Estado com base em uma noção de força,
podem ser classificados como políticos, embora de modo algum neguem o enquadramento do
Estado em uma ordem jurídica. Esses pensadores, como Léon Duguit e Georges Burdeau,
entendem o Estado como entidade institucionalizadora do poder, dotada de força irresistível,
embora delimitada pelo Direito.

1.11. O Estado se subordina inteiramente ao Direito


Não existe nenhum Direito absoluto, ou seja, existem sistemas de normas jurídicas -- o Direito
alemão, o Direito norte-americano, o Direito brasileiro -- cujas esferas de validade são
limitadas de modos característicos.

Além disso, existe, também, um complexo de normas que compreendem o Direito


Internacional. O problema do Estado, como fenômeno jurídico, tem por tarefa delimitar as
manifestações empíricas do Direito positivo e como se inter-relacionam. Então, considera-se
que o Direito francês se baseia na existência de um Estado francês como uma entidade
social, não-jurídica. Assim, pode-se dizer que a relação entre o Direito e o Estado é análoga à
que existe entre o Direito e o indivíduo. Pressupõe-se que o Direito -- apesar de criado pelo
Estado --, regula a conduta do próprio Estado, concebido como uma espécie de homem (ou
super-homem), da mesma forma como o Direito regula a conduta dos homens.

As principais teorias acerca da relação entre Estado e Direito são:


a) a teoria monística
b) a teoria dualística

A teoria monística considera que Estado e Direito são uma única unidade, coincidindo
plenamente os conceitos.

A teoria dualística considera que Estado e Direito são duas realidades completamente
distintas, sem relação um com o outro.

Segundo Hans Kelsen, que se inclina pela teoria monística, o Estado, enquanto realidade
social, está incluído na categoria de sociedade; ele é uma comunidade. O Direito está incluído
na categoria de normas, uma ordem normativa: é um sistema de normas, ou seja, uma ordem
normativa.

O Estado e o Direito, segundo essa visão, são dois objetos diferentes. Alguns autores
consideram que a dualidade entre Estado e Direito é um dos fundamentos da ciência política
e da jurisprudência modernas, que regulam as relações jurídicas no interior da sociedade.

Para Kelsen, no entanto, essa dualidade é indefensável, na medida em que o Estado, como
comunidade jurídica, não pode ser separado de sua ordem jurídica, da mesma forma que uma
corporação não é distinta de sua ordem constitutiva. E, como inexiste razão para se supor,
que existam duas ordens normativas diferentes: a ordem do Estado e a sua ordem jurídica.
Por isso, devemos admitir que a comunidade a que chamamos de ‘Estado’ é a sua ordem
jurídica.
41

2. ANTECEDENTES DA CONSTITUIÇÃO
2.1. A ideia de constituição
Ordem jurídica é o conjunto de normas jurídicas, escritas e não escritas, coativamente
impostas pelo Estado, de modo a assegurar a vida em sociedade, de acordo com a vontade
da maioria.

As normas jurídicas criadas pelo Estado formam um todo denominado ius positum, ou direito
positivo, isto é, o direito posto, ou imposto. O conjunto de todas as normas jurídicas criadas
pelo Estado e em vigor, constitui o direito objetivo, que é organizado segundo uma hierarquia
de leis, no topo da qual está situada a Constituição.

Constituição é vocábulo que pode ser entendido em sentido político, sociológico ou puramente
jurídico.

Em sentido político, Constituição é o documento formal e solene, o conjunto de normas


jurídicas, que dispõe sobre a organização fundamental do Estado e orienta seu
funcionamento, além de estabelecer garantias aos direitos individuais e coletivos.

Em sentido puramente jurídico, Constituição é uma norma fundamental hipotética, que serve
de fundamento lógico de validade da norma positiva suprema, dentro de um ordenamento
jurídico, que regula a criação de outras normas.

2.2. Antecedentes da constituição


A origem histórica das constituições costuma ser apontada como a Magna Carta, de 1.215,
um documento escrito, outorgado pelo Rei João Sem Terra a seus nobres, celebrado na
Inglaterra, garantindo-lhes determinados direitos e benefícios.

Era um pacto visando ao respeito aos direitos dos senhores feudais, exclusivamente, por
parte da Coroa, não incluindo garantias às pessoas do povo.

Outros diplomas legislativos são apontados como formadores do moderno conceito de


Constituição:
• A Petition of Rights, de 1.628, imposta pelo Parlamento inglês ao Rei Carlos I, da
Inglaterra, para que a Coroa respeitasse os direitos de todos os cidadãos ingleses
• Os contratos de colonização, celebrados na América do Norte pelos peregrinos
ingleses (como o Compact, de 1.620, firmado a bordo do navio Mayflower e as
Fundamental Orders of Connecticut, de 1.639).

Esses diplomas legais do Século XVII diferem de diplomas legais anteriores, tais como a
Magna Carta. Embora a Magna Carta constitua inegável avanço no campo jurídico
constitucional, elas sempre foram outorgadas pelo monarca. Os diplomas legais do Século
XVII diferenciam-se destas porque refletem o estabelecimento e a organização do governo
pelos próprios cidadãos, que a eles se submetem, consistindo em uma espécie de pacto (ou
contrato) social, ideia desenvolvida pelos filósofos Locke, Hobbes e Rousseau.

No Século XVIII surge o Iluminismo21, doutrina que individualiza os direitos do homem,


separando-os dos da sociedade. Essa visão ideológica é fonte do liberalismo econômico, que
21
Iluminismo, Esclarecimento ou Ilustração (em alemão Aufklärung, em inglês Enlightenment, em italiano
Illuminismo, em francês Siècle des Lumières, em espanhol Ilustración) designam uma época da história
intelectual ocidental.
Ainda que importantes autores contemporâneos venham ressaltando as origens do Iluminismo no Século XVII ,
não há consenso abrangente quanto à datação do início da era do Iluminismo. Boa parte dos acadêmicos
simplesmente utilizam o início do Século XVIII como marco de referência, aproveitando a já consolidada
denominação Século das Luzes . O término do período é, por sua vez, habitualmente assinalado em coincidência
com o início das Guerras Napoleônicas (1.804-1.815).
42

privilegia a livre-concorrência em face do dirigismo estatal, sendo representada pela


expressão laissez-faire22.

A ênfase nos direitos naturais do homem impõe limites à atuação do Estado, prevendo
remédios à violação de direitos dos cidadãos.

Do ponto de vista organizacional, surge a doutrina da separação dos poderes, elaborada por
John Locke no livro ‘Segundo Tratado do Governo Civil’ e por Montesquieu, em seu livro ‘O
Espírito das Leis’.

A separação de poderes (ou divisão funcional do poder) originou-se na revolução


constitucional da Inglaterra (a chamada "Revolução Gloriosa", entre 1.688 e 1.689, um dos
vários conflitos do Século XVII, entre as estruturas feudais e o capitalismo em expansão, e
que marcou o fim do absolutismo no país, substituindo-o pelo Estado liberal-capitalista), com a
edição da "Bill of Rights", de 1.689, que limitou os poderes do rei (Guilherme de Orange, que
havia derrotado Jaime II) e os equiparou aos do Parlamento, além de reconhecer a
independência do Judiciário.

Em 1.789, eclode a Revolução Francesa23, ocasião em que foi promulgada a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão (26.08.1789), que a consagra no art. 16.

O Brasil, independente de Portugal desde 1.822, teve oito Constituições:


Iluminismo é um conceito que sintetiza diversas tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas.
Pode-se falar mesmo em diversos micro-iluminismos, diferenciando especificidades temporais, regionais e de
matiz religioso, como nos casos de Iluminismo tardio, Iluminismo escocês e Iluminismo católico.
O uso do termo Iluminismo, na forma singular, justifica-se, contudo, dadas certas tendências gerais comuns a
todos os iluminismos, nomeadamente, a ênfase nas ideias de progresso e perfectibilidade humana, assim como
a defesa do conhecimento racional como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais.
O Iluminismo é, para sintetizar, uma atitude geral de pensamento e de ação. Os iluministas admitiam que os
seres humanos estão em condição de tornar este mundo um mundo melhor, mediante introspecção, livre
exercício das capacidades humanas e do engajamento político-social.
Immanuel Kant, um dos mais conhecidos expoentes do pensamento iluminista, num texto escrito precisamente
como resposta à questão O que é o Iluminismo?, descreveu de maneira lapidar a mencionada atitude:
"O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si.
Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da
direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do
entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da
direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do
Iluminismo".
22
Laissez-faire é parte da expressão em língua francesa "laissez faire, laissez aller, laissez passer", que significa
literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixai passar". Esta frase é legendariamente atribuída ao comerciante
Legendre, que a teria pronunciado numa reunião com Colbert, no final do Século XVII (Que faut-il faire pour vous
aider? perguntou Colbert. Nous laisser faire, teria respondido Legendre). Mas, não resta dúvida que o primeiro
autor a usar a frase laissez-faire, numa associação clara com sua doutrina, foi o Marquês de Argenson, por volta
de 1.751. Laissez-faire é parte da expressão em língua francesa "laissez faire, laissez aller, laissez passer", que
significa literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixai passar". Esta frase é legendariamente atribuída ao
comerciante Legendre, que a teria pronunciado numa reunião com Colbert, no final do século XVII (Que faut-il
faire pour vous aider? perguntou Colbert. Nous laisser faire, teria respondido Legendre). Mas não resta dúvida
que o primeiro autor a usar a frase laissez-faire, numa associação clara com sua doutrina, foi o Marquês de
Argenson, por volta de 1751.
23
Revolução Francesa é o nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1.789 e 9 de
novembro de 1.799, alteraram o quadro político e social da França. Em causa estavam o Antigo Regime (Ancien
Régime) e a autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência
Americana (1.776). Está entre as maiores revoluções da história da humanidade.
A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e
os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté,
Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau. Para a França, abriu-se, em 1.789, o longo
período de convulsões políticas do Século XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma
monarquia constitucional e dois impérios.
43

• a primeira promulgada no Império, em 1.824


• a segunda, e as seguintes, foram promulgadas durante o período republicano, nos
anos de: 1.891, 1.934, 1.937 (denominada "polaca", pois se inspirou na Constituição
polonesa), 1.946, 1.967 (regime militar), 1.969 (verdadeira Constituição, embora
formalmente outorgada pela Emenda Constitucional n° 1) e, finalmente, a de 1.988.

Merecem ser recordados alguns episódios que marcaram a elaboração da oitava Constituição
do Brasil, e sétima da República, de 1.988:

• O Governo Militar, após a enfermidade de Costa e Silva (que culminou com seu
falecimento, em dezembro de 1.969), substituído por uma Junta Militar, passou para as
mãos do Gen. Emílio Garrastazu Médici, precisamente na data da entrada em vigor da
Emenda Constitucional 1/69, de17.10.1969.
• Foram reabertas as Assembleias Legislativas dos Estados e prometida gradativa
abertura do regime.
• Sucedeu-o, em 1.974, o Gen. Ernesto Geisel, que também passou a promover um
programa de abertura política, "lenta, gradual e segura", segundo o critério alardeado
pelo governo, na época;
• Sucedeu-o, por sua vez, por meio de nova eleição indireta, o Gen. João Baptista
Figueiredo, em cujo mandato ocorreram amplas manifestações populares, que visavam
à redemocratização do País e a realização de eleições diretas (Movimento "Diretas
Já!").
• Ainda uma vez, foram realizadas eleições indiretas, ganhando o candidato Tancredo
Neves, que deveria tomar posse em 15.03.1985;
• Acometido de grave moléstia, assumiu a Presidência o seu vice, José Sarney, (a rigor,
deveria assumir, como argumentam alguns juristas, o Presidente da Câmara dos
Deputados, pois o Vice somente sucede o Presidente, quando este é afastado; como
não chegou a tomar posse, Tancredo não era, ainda, Presidente), dando início à era
chamada de "Nova República".
• Convocada para se reunir unicameralmente a Assembleia Nacional Constituinte, em
01.02.1987, culminaram os trabalhos com a promulgação da nova Constituição, no dia
05.10.1988, com 245 artigos e mais 70 outros constantes do ‘Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias – ADCT’, cuja mais significativa característica é seu cunho
democrático, que firma o Brasil como Estado de Direito;
• Algumas inovações merecem destaque: a) mandado de segurança coletivo; b)
mandado de injunção; c) habeas data; d) proteção a direitos difusos e coletivos; e e)
consagração do STF como Corte predominantemente constitucional, criação do
Superior Tribunal de Justiça - STJ e extinção do Tribunal Federal de Recursos - TFR.

A atual Constituição brasileira pode ser classificada como formal, escrita, dogmática, popular
e rígida.

O art. 1° consagra o princípio da democracia direta, isto é, o poder político pode ser exercido
não apenas por meio dos representantes do povo (democracia indireta), mas, também, por
qualquer cidadão que, por meio de mecanismos previstos, poderá submeter projeto de lei ao
Congresso.

Os fundamentos democráticos do poder, estabelecidos no art. 1º, da CF, são:


• a soberania;
• a cidadania;
• a dignidade da pessoa humana;
• os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
• o pluralismo político.
44

Os objetivos fundamentais estabelecidos pelo art. 3°, da CF, são:


• construir uma sociedade livre, justa e solidária;
• garantir o desenvolvimento nacional;
• erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
• promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

Os elementos integrantes da Constituição do Estado de direito liberal são:


• o único referencial da Constituição é o Estado
• observação dos princípios fundamentais da concepção de Estado liberal: autonomia
privada, economia de mercado, garantias à propriedade privada, ingerência mínima do
Estado, apenas de forma subsidiária e secundária
• racionalização e limitação do poder do Estado e consagração de garantias do indivíduo
contra sua atuação
• dualismo Estado-sociedade, expresso na força normativa da Constituição, que regula
juridicamente a organização dos órgãos do Estado, separadamente da sociedade;
• a interpretação da vontade constitucional é feita com base no texto escrito, expresso, e
no contexto jurídico amplo, oculto.

Os elementos integrantes da Constituição do Estado social são:


• os referenciais da Constituição são o Estado e a sociedade
• observação dos princípios fundamentais da concepção de Estado social: intervenção
do Estado nos planos social, econômico e político, de forma a assegurar as formas de
existência social, a igualdade econômica e restringir a liberdade do indivíduo em face
do interesse social
• imposição de fins e tarefas ao Poder Público, de modo que os direitos das pessoas
sejam atingidos mediante participação direta do Estado
• a interpretação da vontade constitucional é feita por meio da análise do texto e do
contexto, descodificados, isto é, a mensagem social, econômica e cultural é
inequivocamente enunciada.

2.3. Pactos forais e cartas de franquia


Embora a Magna Carta constitua inegável avanço no campo jurídico constitucional, tanto ela
quanto os forais e as cartas de franquia eram destinadas a determinados grupos de pessoas,
sendo sempre outorgadas pelo monarca.

Os diplomas legais do Século XVII diferenciam-se destas porque refletem o estabelecimento e


a organização do governo pelos próprios cidadãos, que a eles se submetem, consistindo em
uma espécie de pacto (ou contrato) social, ideia desenvolvida pelos filósofos Locke, Hobbes e
Rousseau.

2.4. Doutrinas do pacto social


45

Jean-Jacques Rousseau (1.712 – 1.778), autor da obra ‘O Contrato Social’ 24, de 1.762, retoma
o pensamento de Hobbes, de que a sociedade é constituída a partir de um pacto social, e
propõe o exercício da soberania pelo povo, como condição primeira para sua libertação.

Para Rousseau, o fundamento da formação da sociedade humana deve ser encontrado na


vontade, e não na natureza humana. E essa associação voluntária de indivíduos tem por
objetivo a proteção dos bens de cada membro, e também a defesa da vontade geral do povo,
que resulta da síntese das vontades individuais, e não de uma mera soma delas. O filósofo
postula que um governo somente satisfaz a vontade geral quando edita legislação que tenha
por objetivo assegurar a liberdade e a igualdade dos indivíduos. Por suas ideias, os
revolucionários de 1.789 o elegeram como patrono da Revolução Francesa25.

3. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
3.1. Constituição em sentido sociológico

24
‘O Contrato Social’ pode ser considerada a obra prima do suíço Jean-Jacques Rousseau: parte de um obra
mais extensa, as ‘Instituições Políticas’, que, por não ter sido completada, teve suas partes menos importantes
destruídas pelo autor.
Nesta obra, Rousseau expõe a sua noção de Contrato Social, que difere muito das de Hobbes e Locke: para
Rousseau, o homem é naturalmente bom, sendo a sociabilização a culpada pela degeneração do mesmo. O
Contrato Social, para Rousseau, é um acordo entre indivíduos para se criar uma sociedade, e só então um
Estado. Isto é, o Contrato é um pacto de associação, não de submissão.
No primeiro livro da obra, Jean-Jacques Rousseau passa em exame as principais questões da vida política. Sua
principal preocupação já se expõe na primeira frase do primeiro capítulo deste livro: O homem nasce livre, e por
toda a parte encontra-se acorrentado. Nesse sentido, Rousseau começa ‘O Contrato Ssocial’ questionando o
motivo de os homens viverem sob os grilhões da vida em sociedade, do porquê de os homens abandonarem o
estado de natureza, uma vez que todos nascem homens e livres.
A ordem social seria, para Rousseau, um direito sagrado fundado em convenções, portanto, não-natural. O
objeto de estudo deste livro é, em geral, quais seriam estas convenções. A primeira forma de sociedade,
portanto o que mais se aproxima de uma sociedade natural, seria a família. Por ser o que mais se aproxima de
uma forma natural de sociedade, a família serve como primeiro modelo de sociedade política: o pai representado
pelo chefe, os filhos pelo povo. Mas o direito do pai sobre o filho cessa assim que este atinge a idade da razão e
torna-se senhor de si. A distinção entre sociedade familiar/sociedade política se dá, principalmente, no fato de o
pai se ligar ao filho por amor, e o chefe por prazer em mandar.
À questão do direito do mais forte, Rousseau responde que: ceder à força constitui ato de necessidade, não de
vontade; quando muito, ato de prudência. Em que sentido poderá representar um dever?, ou seja, a força difere
do direito porque pode se impor, mas não obrigar. Assim, para Rousseau, ‘força’ é diferente de ‘direito’ (o último
é um conceito moral, fundado na razão, enquanto a força é um fato). Por isso não há direito (nem Contrato) na
submissão de um homem pela força. Nenhum homem aliena sua liberdade gratuitamente a um outro, tão pouco
um povo a um indivíduo.
A escravidão não tem sentido para Rousseau, porque para o autor, o homem depende da liberdade: a liberdade
é condição necessária da condição humana. Por isso, ele afirma que renunciar à liberdade é renunciar à
qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e até aos próprios deveres. Não há recompensa possível
para quem a tudo renuncia. Ao falar de como é sempre preciso remontar a uma convenção anterior,, Rousseau
conclui que a submissão de um povo a um rei só pode vir depois da constituição do próprio povo, ou seja, antes
de um contrato de submissão, é necessário um contrato de associação, visto que, em estado de natureza, os
homens não estão associados. A constituição do Povo, ou a associação das vontades individuais depende do
Pacto Social.
25
Revolução Francesa é o nome dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1.789 e 9 de
novembro de 1.799, alteraram o quadro político e social da França. Em causa estavam o Antigo Regime (Ancien
Régime) e a autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência
Americana (1.776). Está entre as maiores revoluções da história da humanidade.
A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e
os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté,
Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau. Para a França, abriu-se, em 1.789, o longo
período de convulsões políticas do Século XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma
monarquia constitucional e dois impérios.
46

Em sentido sociológico, Constituição é a soma dos fatores reais de poder que existem em
determinado país, consistindo a lei escrita meramente em uma formalização desses poderes.

3.2. Constituição em sentido matéria


A Constituição material pode ser:
• material em sentido amplo (enquanto refletir e se identificar plenamente com o regime
político ao qual o Estado está submetido)
• material em sentido estrito (quando o conteúdo consiste em normas que tratam
exclusivamente de matérias constitucionais).

3.3. Constituição em sentido formal


Constituição formal é aquela solenemente promulgada, diploma orgânico que reflete a
estrutura e o funcionamento do Estado, somente passível de modificações mediante
processos e formalidades especiais, nela previstos.

3.4. Elementos da constituição e suas classificações


A Constituição pode ser classificada quanto à forma das regras constitucionais, em escrita
(consiste em normas legislativas positivadas) e não-escrita (também denominada
consuetudinária ou inorgânica – consiste na observação dos usos e dos costumes).

A Constituição escrita pode ser codificada (quando todas as normas constam de um único
diploma legal, a Constituição) ou não-codificada (quando as normas constam de diversos
diplomas legais).

A Constituição pode ser classificada, quanto ao conteúdo das regras constitucionais, em


material e formal.

A Constituição material pode ser material em sentido amplo (enquanto refletir e se identificar
plenamente com o regime político ao qual o Estado está submetido), e material em sentido
estrito (quando o conteúdo consiste em normas que tratam exclusivamente de matérias
constitucionais).

A Constituição pode ser classificada, quanto à origem, em dogmática e histórica.

Constituição dogmática é a que resulta da aplicação de princípios (ou dogmas), de modo


consciente, que fixam a organização fundamental do Estado.

Constituição histórica é aquela que provém de lenta evolução dos valores do povo, em
determinada sociedade, resultando em regras escritas (leis) e não escritas (usos e costumes).

A Constituição pode ser classificada, quanto à estabilidade das regras constitucionais, em


rígida, semi-rígida e flexível.

Constituição rígida é aquela em que as regras constitucionais somente podem ser alteradas
mediante processo especial e qualificado, de não frequente aplicação.

Constituição semi-rígida é aquela em que as regras constitucionais podem ser alteradas, parte
pelo processo legislativo comum e parte por processo especial.

Constituição flexível é aquela em que as regras constitucionais são passíveis de modificações


pelo processo legislativo comum.

Constituição-garantia é a denominação que se dá àquela do tipo clássico, que assegura


liberdades individuais e coletivas e limita o poder do Estado.
47

Constituição-balanço é a denominação que se dá à Constituição que meramente descreve e


sistematiza a organização política do Estado, refletindo um estágio nas relações de poder,
sendo revisada a cada salto significativo na evolução. Foi o tipo utilizado nos países
socialistas, antes da queda do Muro de Berlim, em 1989.

Constituição-dirigente é a denominação que se dá à Constituição cujas normas estabelecem


diretrizes para o exercício do poder, de forma a atingir objetivos políticos, sociais e
econômicos, e que contém, para tal, normas constitucionais programáticas.

A Constituição pode ser classificada, quanto ao modo de elaboração:


• em dogmática (sempre escrita, elaborada por órgão constituinte, que consagra os
dogmas políticos e jurídicos dominantes na época da elaboração)
• histórica (sempre não escrita, ou costumeira, quando resulta de longo processo de
sedimentação política, social e jurídica, não se conseguindo determinar ao certo sua
fonte).

A Constituição pode ser classificada, quanto à origem, em:


• popular (ou democrática), quando elaborada por uma Assembleia Constituinte,
composta por representantes eleitos pelo povo
• outorgada (ou imposta), quando o governante ou interposta pessoa elabora o texto
constitucional, sem participação do povo.

4. O PODER CONSTITUINTE
4.1. Conceito de Poder Constituinte
A Constituição Federal é o conjunto de normas supremas do ordenamento jurídico de um
país. A Constituição limita o poder, organiza o Estado e define direitos e garantias
fundamentais. Se for flexível suas normas desempenham a mesma função, mas encontram-
se no nível hierárquico das normas legislativas.

A teoria constitucional moderna tem a sua origem nas Revoluções Estadunidense e Francesa,
e coincide com a positivação dos direitos fundamentais.

A Constituição rígida situa-se no topo da pirâmide normativa, recebe nomes como Lei
Fundamental, Lei Suprema, Lei das Leis, Lei Maior, Carta Magna.

A Constituição é elaborada pelo denominado poder constituinte originário ou primário (cujo


poder é, segundo a teoria clássica hoje questionada, soberano e ilimitado), e nos países
democráticos é exercido por uma Assembléia Constituinte.

A reforma (revisão ou emenda) da Constituição é feita pelo denominado poder constituinte


derivado reformador. O poder reformador é derivado, condicionado e subordinado à própria
Constituição; enfim é limitado pela vontade soberana do Poder Constituinte Originário. Se for
uma Constituição escrita e rígida exigirá procedimentos mais difíceis e solenes para
elaboração de emendas constitucionais do que exige para a criação de leis ordinárias.

Muitas Constituições proíbem a abolição do conteúdo de algumas normas consideradas


fundamentais(núcleo intangível).

No Brasil (cuja constituição atual foi promulgada em 1.988), essas normas são conhecidas
como cláusulas pétreas, e são previstas pelo art. 60 (implicitamente irreformável), que
também prevê além das cláusulas pétreas (limitações materiais), limitações circustânciais e
formais.
48

Nos Estados Federativos, além da Constituição Federal, temos Constituições de cada Estado
Federado, subordinadas às previsões da Constituição Federal. É o poder constituinte derivado
decorrente.

A principal garantia dessa superioridade (supremacia, primazia) das Constituições rígidas são
os mecanismos de controlo de constitucionalidade, que permitem afastar, num caso concreto,
a aplicação de uma norma incompatível com texto constitucional (controle difuso) ou anulá-las
quando uma norma, em tese, violar a Constituição (controle concentrado).

As demais normas jurídicas (ditas infraconstitucionais) devem estar em concordância com a


Constituição, não podendo contrariar as exigências formais impostas por ela [Constituição
Federal] para a edição de uma norma infra-constitucional (constitucionalidade formal), nem o
conteúdo da Constituição (constitucionalidade material).

5. DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1.998:


HISTÓRICO E EXTENSÃO
5.1. Histórico dos Direitos Fundamentais
A partir do Século XIX, o desenvolvimento industrial e o surgimento de uma classe proletária
organizada, permanentemente em confronto com a burguesia capitalista, produziu novas
ideias sobre a sociedade e sobre a tutela jurídica de seus interesses, que se refletiram,
principalmente, nos seguintes documentos e correntes:
• Manifesto Comunista (e doutrinas subsequentes, de inspiração marxista), apregoando
liberdade e igualdade materiais, a serem realizadas em regime socialista de governo
• Doutrina social da Igreja Católica, expressa em diversas Encíclicas e Concílios
• Doutrina do intervencionismo do Estado na ordem econômica e social.

As massas populares passaram a exercer pressão, no sentido de buscar auxílio e proteção do


Estado em questões relativas à saúde, às condições de trabalho, à aposentadoria e
educação, enquanto as classes dominantes buscavam, ao contrário, fugir do controle do
Estado. A dinâmica sócio-econômica do Século XIX levou, no plano político, ao sufrágio
universal, na França, o que forçou a mudança da atuação do Estado, passando o Parlamento
a promulgar Constituição e leis garantindo direitos econômicos e sociais.

Inicialmente, no Século XVIII, os direitos fundamentais eram proclamados em documentos


solenes (ex.: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão). A seguir, no Século XIX,
passaram a integrar os preâmbulos das Constituições e dos tratados internacionais (nestes
últimos, ainda aparecem dessa forma). A partir do Século XX, ganharam lugar no próprio
corpo das Constituições, positivando-se como normas jurídicas constitucionais.

As primeiras declarações de direitos, na Idade Média, continham enumerações de direitos do


homem, em abstrato, a eles destinados como cidadãos (os forais), ou a determinados grupos
de indivíduos pertencentes a corporações ou a cidades (caso das cartas de franquia). As
declarações, a partir do Século XVIII, expressam os direitos do homem como uma delimitação
ao poder do Estado.

O Estado-previdência, além das delimitações constitucionalmente previstas, passou a ser


titular de novas atribuições constitucionais, para criar serviços públicos destinados a cumprir
suas obrigações de cunho social, econômico e previdenciário. O Estado passou, também, a
garantir ao indivíduo o direito de reunião e de associação.

Os direitos fundamentais do homem ganharam amplitude e importância tanto no ordenamento


jurídico interno dos países, pois adquiriram o peso de normas constitucionais positivas, quanto
no plano internacional, por constituírem objeto de inúmeros tratados e convenções.
49

Quais as principais características dos direitos fundamentais do homem são:


• a inalienabilidade
• a imprescritibilidade
• irrenunciabilidade

A inalienabilidade consiste na impossibilidade jurídica de transferir esses direitos (à vida, à


liberdade), a qualquer título, por não terem conteúdo patrimonial.

A imprescritibilidade consiste na possibilidade jurídica de pleitear sua tutela sem qualquer


limite de tempo, ainda que jamais exercidos, ou exercidos por algum tempo, pois consistem
em direitos de cunho personalíssimo, não sendo jamais atingidos pela prescrição.

A irrenunciabilidade consiste na impossibilidade jurídica de o indivíduo abrir mão desses


direitos, expressa ou tacitamente, não deixando de gozar de sua tutela jurídica, pelo seu
não-exercício, ou por deixar de exercê-los.

Os direitos fundamentais do homem passaram a constar da Constituição mexicana, de 1.917,


com pequena repercussão, e das Constituições republicanas de Weimar (1.919) e da
Espanha (1.931). Na Declaração russa (1.918) e nas Constituições soviéticas, não havia
delimitação ao poder do Estado frente ao indivíduo, sendo os direitos fundamentais do homem
reconhecidos dentro de uma visão coletivizada e uniforme da sociedade.

Garantias constitucionais são normas que delimitam a atuação do Estado, no sentido de vedar
a prática de atos que configurariam violação a direito reconhecido.

5.2. Extensão dos Direitos Fundamentais


Enquanto a Constituição do Império, de 1824, e a primeira da República, de 1891, refletiam o
entendimento individualista dos direitos fundamentais, a de 1934 foi nossa primeira
Constituição a incorporar a concepção social dos direitos fundamentais do homem.

A CF de 1988 consagra inúmeros direitos fundamentais do homem, que podem ser


classificados, segundo a ordem do atual texto constitucional, em direitos:
• individuais (art. 5°)
• coletivos (art. 5°)
• sociais (art. 6° e 193 a 232)
• à nacionalidade (art. 12)
• políticos (art. 14, 15, 16 e 17)
• econômicos (art. 170 a 192).

A atual CF desmembrou os direitos sociais da estrutura anterior (Ordem Econômica e Social),


conferindo-lhes maior importância. Além de ser mais abrangente e extensa do que as
Constituições anteriores, incluiu, ao lado das garantias constitucionais clássicas, o direito à
informação, a proteção a direitos difusos (ao consumidor, ao meio ambiente) e coletivos
(ampliação da atuação dos sindicatos).

A inviolabilidade do direito à vida, assegurado pela CF, art. 5°, caput, consiste na proteção ao
ser humano tanto no plano material (constituído por elementos biofísico-psíquicos), quanto no
plano imaterial (formado por elementos espirituais).

São vedadas quaisquer práticas que coloquem em risco a vida, desde a formação do feto.
Assim, são vedados:
• o aborto (exceto nos casos de perigo à vida da gestante, do feto ou de concepção
resultante de estupro)
50

• a eutanásia (não há vedação constitucional expressa)


• a pena de morte (art. 5°, XLVII, exceto nos casos de guerra declarada)
• as ofensas à integridade física (que constam do Código Penal, e são, na CF,
especialmente garantidos esses direitos aos presos - art. 5°, XLIX) e à integridade
moral (como tortura ou tratamento desumano e degradante - art. 5°, III).
• como corolário, admite-se que alguém tire a vida de outrem nos casos de estado de
necessidade, de legítima defesa, de estrito cumprimento do dever legal e de exercício
regular de direito (art. 23, do CP).

Direito à privacidade é espécie de direito individual, conexo ao direito à vida, que consiste em
resguardar informações sobre o indivíduo, que sobre elas mantém controle, e não deseja
revelá-las a ninguém, ou somente a pessoas de sua escolha, incluindo sua vida familiar,
profissional e social.

Os direitos constitucionalmente assegurados, cujo objeto imediato é a liberdade, são:


• o de locomoção
• o de pensamento
• o de reunião
• o de associação
• o de profissão
• o de ação
• o de liberdade sindical
• o de greve

O direito à liberdade de locomoção, isto é, o direito de, em tempo de paz, ir, vir, e ficar, consta
do art. 5°, XV, da CF, e consiste em assegurar ao indivíduo a movimentação e a permanência
em qualquer ponto do país, nele podendo entrar, permanecer ou dele sair com seus bens,
resguardados os direitos de terceiros e da sociedade em geral.

O direito à liberdade de pensamento, isto é, o direito às próprias convicções e à sua ampla


expressão, consta dos art. 5.°, incisos IV, V, VI, VIII, IX e XII, e 220, caput e § 1°, 2°, e 6°, da
CF, consiste em assegurar ao indivíduo a possibilidade de manifestar o pensamento, exprimir
a atividade intelectual, artística, científica e a de comunicação, praticar qualquer religião,
filiar-se a partido ou associação de qualquer tendência política ou filosófica, sem sofrer
censura, sem necessitar de licença prévia, e sem restrições a outros direitos, em virtude do
exercício desses.

Quanto à liberdade de manifestação do pensamento, deverá o autor identificar-se (art. 5°, IV),
pois, ao permanecer no anonimato, poderia atacar alguém, sem lhe dar oportunidade de
defesa. Quanto à crença religiosa e a convicções filosóficas e políticas, é vedado invocá-las
para fugir ao cumprimento de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei (art. 5°, VIII), como, por exemplo, o serviço militar
obrigatório.

De modo geral, o exercício de quaisquer direitos está subordinado ao respeito à ordem


pública e aos bons costumes; quando esses pensamentos são dirigidos a terceiros, por
qualquer forma sigilosa (correspondência fechada), esse sigilo há de ser respeitado, exceto o
das comunicações telefônicas que, por ordem judicial, podem ser violadas.

A regulamentação das diversões e espetáculos públicos, classificando-os segundo a idade


dos espectadores e determinando horários e locais adequados para apresentações, para que
não violem os valores éticos e sociais da pessoa e da família, é objeto de lei federal ordinária
(art. 220, § 3°), serve de proteção à sociedade e não se confunde com a censura arbitrária.
51

As consequências jurídicas da garantia constitucional de inviolabilidade da correspondência,


além de sujeitar o infrator às penas da lei criminal, quaisquer provas obtidas por meio de
violação não autorizada serão consideradas ilícitas e não poderão ser aceitas em juízo (art.
5°, LVI).

O direito à liberdade de reunião, que consta do art. 5°, XVI, consiste na autorização
constitucional para que as pessoas possam se encontrar, de forma ocasional ou periódica,
mas descontínua, pacífica e em locais abertos ao público, independentemente de autorização
da autoridade competente, com a finalidade de discutir ideias ou assumir posições em
conjunto.

A reunião deverá ser pacífica, e as pessoas reunidas, desarmadas, devendo avisar


previamente a autoridade competente. Tão pouco poderão frustrar reunião anteriormente
convocada para o mesmo local público e horário.

O direito à liberdade de associação, que consta do art. 5°, incisos XVII a XXI, consiste na
autorização constitucional para que associações de pessoas possam ser constituídas, e
funcionem, de forma organizada, contínua e lícita, somente podendo ser dissolvidas em
virtude de decisão judicial transitada em julgado. A criação de associações e de cooperativas,
na forma da lei, independe de autorização do poder público.

A associação não pode ter fins ilícitos, isto é, proibidos pela lei penal. Além disso, não são
permitidas associações de caráter paramilitar. Vale ressaltar que ninguém pode ser obrigado
a associar-se, ou permanecer associado.

O direito à liberdade de profissão, que consta da CF, art. 5°, XIII, consiste na autorização
constitucional a que as pessoas possam desenvolver quaisquer trabalhos, ofícios ou
profissões. A liberdade para o exercício de grande parte das atividades profissionais é
condicionada às qualificações técnicas da pessoa, estabelecidas em lei.

O direito à liberdade de ação, que consta da CF, art. 5°, II, consiste na autorização
constitucional para que as pessoas somente possam ser obrigadas a fazer algo, ou deixar de
fazê-lo, em virtude de lei (princípio da legalidade).

O direito à liberdade de associação sindical, que consta da CF, art. 8°, consiste na
autorização constitucional a que profissionais ou trabalhadores possam filiar-se a um
sindicato, se o desejarem, não sendo exigida autorização do Estado para sua fundação,
exceto o registro no órgão competente. Veda-se a dispensa de empregado sindicalizado a
partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito,
ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave.

Nenhum profissional ou trabalhador poderá ser obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a


sindicato (art. 8°, V). É vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer
grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que
não poderá ser inferior à área de um Município (art. 8°, II).

O direito de greve, assegurado pela CF, art. 9°, caput, permite aos trabalhadores paralisarem
suas atividades, como forma de pressão sobre os empregadores, sem sofrer descontos
relativos ao período de inação.

A Lei n° 7.783, de 28.06.1989, que regulamenta a greve e define os serviços essenciais,


dispõe sobre as necessidades inadiáveis da comunidade, a serem atendidas durante o
período de paralisação. Os abusos cometidos pelos grevistas sujeitam-nos às penas da lei.
52

Os direitos constitucionalmente assegurados, e cujo objeto imediato é a segurança do


indivíduo, relativamente a seus direitos subjetivos em geral, além do direito à legalidade (art.
5°, II), consistem na vedação constitucional a que a lei não prejudique (art. 5°, XXXVI):
• o direito adquirido
• o ato jurídico perfeito
• a coisa julgada

A lei não poderá retroagir no tempo, exceto para beneficiar os titulares de algum direito. Lei
nova poderá, no entanto, restringir ou suprimir direitos, no futuro.
Ato jurídico perfeito, segundo a Lei de Introdução ao Código Civil – LICC (art. 6°, § 1°), é o já
consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

Coisa julgada é a decisão judicial contra a qual já não mais cabe recurso.

A importância dessa vedação constitucional reside na garantia de estabilidade das relações


jurídicas, fator determinante na organização da sociedade e na manutenção da paz social.

Os direitos constitucionalmente assegurados, e cujo objeto imediato é a segurança pessoal do


indivíduo, consistem:
• na inviolabilidade da intimidade, da vida privada da honra e da imagem das pessoas
(art. 5°, X)
• da inviolabilidade do domicílio (art. 5°, XI)
• na vedação (art. 5°, LXI) a que qualquer pessoa seja presa senão em flagrante delito
ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente. Proíbe-se,
com esse dispositivo, a prisão arbitrária.

Violada a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem, terá o ofendido o direito subjetivo
público de pleitear reparação dos danos materiais e/ou morais.

A proteção à intimidade e à vida privada consiste em assegurar às pessoas que as


informações de que dispõem com exclusividade, somente poderão ser reveladas a quem
desejar, incluindo as relativas à vida familiar, social e profissional do indivíduo, a entrada ilegal
em seu domicílio, a violação de correspondência e o segredo profissional.

Por privacidade, termo equivalente ao inglês privacy, entende-se um amplo espectro da vida,
envolvendo locais, informações privilegiadas, modo de vida, relações familiares e afetivas,
hábitos sociais e de consumo, bem como segredos e planos. Por intimidade, entende-se o
conjunto de informações sobre a própria pessoa, envolvendo seu universo interior, e que ela
não deseja compartilhar, ou só se dispõe a fazê-lo com pessoas determinadas, de sua própria
escolha.

Inviolabilidade à honra é a vedação a que sejam reveladas quaisquer informações, falsas ou


verdadeiras, ou características, sobre a pessoa, subjetivamente percebidas, e cuja divulgação
está ligada à própria percepção de sua dignidade como pessoa humana.

A inviolabilidade à imagem é a vedação a que sejam reveladas quaisquer informações, falsas


ou verdadeiras, ou características, sobre a pessoa, objetivamente percebidas, e cuja
divulgação está ligada à percepção do que as demais pessoas dele têm.

O domicílio somente poderá ser adentrado com consentimento do morador, excepcionando-se


as seguintes situações:
• flagrante delito
53

• desastre
• prestação de socorro
• determinação judicial, durante o dia

A Constituição específica, no próprio art. 5°, LXI, os casos em que esse direito não é
assegurado:
• a transgressão militar
• o crime propriamente militar, ambos definidos em lei

O direito de propriedade consiste na faculdade de o indivíduo poder dispor de seu patrimônio,


não podendo ser dele despojado, a não ser pelo Estado, mediante desapropriação.

Na concepção civilística, o proprietário pode usar, gozar e dispor de coisa, mas, é insuficiente
para a proteção adequada à propriedade, que não se restringe a objetos materiais; a
propriedade refere-se a quaisquer bens, materiais ou imateriais, desde que tenham conteúdo
patrimonial, isto é, seu valor possa ser expresso em termos monetários.

O direito de propriedade é garantido pela CF (art. 5°, XXII), mas, ela deverá atender a sua
função social (inciso XXIII), podendo ser desapropriada por necessidade ou utilidade pública
ou por interesse social (XXIV), ou utilizada pela autoridade competente em caso de iminente
perigo (XXV).

6. HISTÓRIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


6.1. Antecedentes da Declaração de Direitos
Os direitos fundamentais têm caráter histórico. Se formos rebuscar seus antecedentes,
encontraremos uma cadeia evolutiva, no pico da qual eles se situam.

Deve-se lembrar que por muito tempo o regime feudal e a opressão, inerentes ao
absolutismos esmagavam a personalidade humana, e a desigualdade entre as pessoas era
um traço marcante e comum nas antigas sociedades.

Contudo, com o decorrer dos séculos, surgiram vários movimentos contrários a essa realidade
e que buscavam a valorização da dignidade da pessoa humana.

A doutrina cristã foi o marco inicial, visto que elevava o homem à situação de semelhança a
Deus, indicando a igualdade como um dos pressupostos fundamentais. Assim, o ser humano
foi alçado a um novo patamar de dignidade.

Essa doutrina, fonte primeira e expressiva, mas não exclusiva, dos direitos individuais, passou
pelo crivo de formulações filosóficas, do iluminismo, mediante o qual se simbolizou, na razão.

A obra dos racionalistas, do Século XVII, mantinha estrutura semelhante de valorização do


homem como a da doutrina cristã, modificando, contudo, a fonte que até então era a vontade
de Deus, passando-se a utilizar a razão.

Além disso, a revolução individualista era imprescindível para a consolidação e aceleramento


do progresso econômico, visto que uma nova classe surgia: a ‘burguesia’.

Esses três movimentos culminaram com a Revolução Francesa, de 1.789, que provocou a
derrocada do antigo regime absolutista e a instauração da ordem burguesa na França.
54

A Revolução Francesa trouxe, ainda, um marco na história dos direitos fundamentais, pois
produziu a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Contudo, há quem reconheça que o marco inicial dos direitos fundamentais foi a Magna Carta
Inglesa de 1.215, que levou a inserção dos direitos fundamentais nos textos constitucionais
dos Estados modernos ocidentais, consolidando o rumo trilhado pelas vertentes do direito.

É importante trazer à luz a lição de Carl Schmitt , acerca da Magna Charta de 1.215:
La Magna Carta inglesa de 15 de Julio de 1215 suele designar-se como modelo y
origen de las modernas Constituciones liberales. El desarrollo del Derecho político
de Inglaterra tomó um curso peculiar, porque los senõres feudales y estamentos de
la Edad Media (alta nobleza, caballeros y burguesia inglesa) y su representación (la
Cámara de los lores y la Cámara de los Comunes) pasaron en un proceso lento e
insensible a las condiciones propias del Estado moderno...

Todavia, Carl Schmitt admite que a verdadeira Constituição liberal, onde realmente foram
positivados os direitos fundamentais, surgiu com a declaração dos Estados americanos.

Segundo J. J. Gomes Canotillo, “deslocaram-se em direção ao campo da positivação ou


constitucionalização, a partir do Virginia Bill of Rights (1.776) e a Déclaration dês Droits de
l’Homme et du Citoyen (1.789).

A história dos direitos fundamentais teve seu nascedouro, segundo Carl Schimitt, com as
declarações formuladas pelos Estados americanos, no Século XVIII, iniciadas pela declaração
do Estado de Virgínia, de 12 de junho de 1.776:

La historia de los derechos fundamentales comienza propiamente con las


declaraciones formuladas por los Estados americanos en el siglo XVIII, al fundar su
independencia respecto de Inglaterra. Aquí, en verdad, se indica el comienzo –
según una frase de Ranke – de la Era democrática – más exacto: liberal – y del
moderno Estado de Derecho liberal-burgués, si bien aquellas declaraciones
americanas estaban, como ‘Bill if Rights’, en la línea de la tradición inglesa. La
primera declaración (modelo, según G. Jellinek, ‘La declaración de derechos del
hombre y del ciudadano’, ed. Alemana, pág. 18) fue emitida por el Estado de
Virginia e 12 de junio de 1.776 [...].

A positivação dos direitos fundamentais passou a ser mais concreta a partir da Revolução
Francesa, de 1.789, quando se consignou, de forma precisa, a proclamação da liberdade, da
igualdade, da propriedade e das garantias individuais liberais.

Com efeito, a Revolução Francesa ganhou caráter universal, e conforme salienta Dalmo de
Abreu Dallari, não restam dúvidas de que a influência dela [Revolução], na vida constitucional
(tanto no ocidente, como no oriente), representou um considerável progresso na história da
asseveração dos valores fundamentais da pessoa humana.

No entanto, pondera Dallari, sendo ela um produto do Século XVIII, por evidente que seja, seu
cunho é nitidamente individualista, subordinando a vida social ao indivíduo e arrogando ao
Estado a finalidade de preservação dos direitos individuais.

6.2 Os direitos fundamentais de primeira geração


Foi o primeiro patamar de alforria do ser humano reconhecido por uma Constituição. São
direitos que surgiram com a ideia de Estado de Direito, submisso a uma Constituição. Longe
55

da hegemonia de um soberano, cuja vontade era a lei, concebeu-se um Estado em que as


funções do poder fossem atribuídas a órgãos distintos, impedindo a concentração de poderes
e o arbítrio de uma ou de um grupo de pessoas.

Os direitos fundamentais de primeira geração, também denominados direitos civis ou


individuais e políticos, são direitos de defesa do indivíduo perante o Estado. Sua preocupação
é a de definir uma área de domínio do Poder Público, simultaneamente a outra de domínio
individual, na qual estaria forjado um território absolutamente inóspito a qualquer inserção
estatal.

O Estado deveria ser apenas o guardião das liberdades, permanecendo longe de qualquer
interferência no relacionamento social. São as chamadas ‘liberdades públicas negativas’ ou
‘direitos negativos’, pois exigem do Estado um comportamento de abstenção. Eles realçam o
direito à vida, à intimidade, à inviolabilidade do domicílio, à liberdade, à propriedade e à
igualdade formal e algumas garantias processuais, como o devido processo legal, o habeas
corpus e o direito de petição.

A primeira geração de direitos dominou o Século XIX, e é composta dos direitos de liberdade,
que correspondem aos direitos civis e políticos. Tendo como titular o indivíduo, os direitos de
primeira geração são oponíveis ao Estado, sendo traduzidos como faculdades ou atributos da
pessoa humana, ostentando uma subjetividade que é seu traço marcante. São, portanto, os
direitos de resistência face ao Estado.

6.3 Os direitos fundamentais de segunda geração


Surgiram em decorrência do impacto da industrialização e os graves problemas sociais e
econômicos que a acompanharam, as doutrinas socialistas e a constatação de que a
consagração formal de liberdade e igualdade não gerava a garantia do seu efetivo gozo.

Traduzem uma etapa de evolução na proteção da dignidade humana, pois sua essência é a
preocupação com as necessidades do ser humano.

Os direitos fundamentais de segunda geração trazem as exigências do homem mais evoluído


e liberto do jugo do poder Público, reclamando, agora, por uma nova forma de proteção de
sua dignidade: A satisfação das necessidades mínimas para que se tenha dignidade e sentido
na vida humana.

Eles passam a dotar o ser humano de condições materiais minimamente necessárias ao


exercício de uma vida digna, obrigando o Estado a fazer-se presente mediante prestações
que venham a imunizar o ser humano de injunções dessas necessidades mínimas que
pudessem tolher a dignidade de sua vida.

Constituem os direitos fundamentais de segunda geração os direitos sociais, os econômicos e


os culturais, quer em sua perspectiva individual, quer em sua perspectiva coletiva. Não se
confundem, contudo, com os direitos coletivos e/ou difusos da terceira geração. Eles
outorgam, ao indivíduo, direitos a prestações sociais estatais, como assistência social, saúde,
educação, trabalho, etc. Além disso, trouxeram as liberdades sociais, como a de
sindicalização, do direito de greve, direitos fundamentais dos trabalhadores (férias, repouso
semanal remunerado, salário mínimo, limitação da jornada de trabalho). Acentuam o princípio
da igualdade material.

A segunda geração de direitos, da mesma forma que a primeira, foi inicialmente objeto de
formulação especulativa em campos políticos e filosóficos que possuíam grande cunho
ideológico. Dominaram o Século XX, assim como os de primeira geração dominaram o século
56

XIX. Tiveram seu nascedouro nas reflexões ideológicas e no pensamento antiliberal desse
Século.

Proclamados nas Declarações solenes das Constituições marxistas e também na Constituição


de Weimar, os direitos de segunda geração exerceram um papel preponderante nas
formulações constitucionais após a segunda guerra.

Cingidos ao princípio da igualdade – sendo esse a razão de ser daqueles –, os direitos de


segunda geração são considerados como sendo os direitos sociais, culturais, coletivos e
econômicos, tendo sido inseridos nas constituições das diversas formas de Estados sociais.

Quando da declaração desses direitos, exigiram do Estado determinadas prestações


impossíveis de serem concretizadas naquele dado momento e, dessa forma, com a
juridicidade questionada, os direitos de segunda geração foram lançados como diretrizes, ou
programas a serem cumpridos, ou seja, esses direitos foram remetidos à esfera programática.

Quanto a esses direitos de segunda geração, salienta Bonavides:

[...] atravessaram, a seguir uma crise de observância e execução, cujo fim parece
estar perto, desde que recentes constituições, inclusive a do Brasil, formularam o
preceito da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais. De tal sorte, os
direitos da segunda geração tendem a tornar-se tão justificáveis quanto os da
primeira; pelo menos esta é a regra que já não poderá ser descumprida ou ter sua
eficácia recusada com aquela facilidade de argumentação arrimada no caráter
programático da norma.

6.4 Os direitos fundamentais de terceira geração


O mundo atual se encontra dividido em blocos muito distintos. Diríamos três blocos,
especificamente. Enfatizando, um primeiro bloco representa os países desenvolvidos; num
segundo bloco colocaríamos os países em busca de desenvolvimento e, por fim,
representando o que seria um terceiro bloco, os países subdesenvolvidos.

Dividindo desse modo, torna-se mais fácil a percepção da desigualdade existente entre as
nações. Guerras acontecem nesse dado momento que nem sabemos existir. Milhares de
pessoas morrem todos os dias, vitimadas por guerras, doenças, pobreza, fome etc., sem que
levemos isso em consideração, sem que ao menos nos tornem fato conhecido.

Os países desenvolvidos, com suas tecnologias de ponta, ameaçam até a existência da


própria humanidade.

É diante desse quadro que tem lugar, que surgem os direitos de terceira geração (fraternidade
ou solidariedade). São identificados como sendo o direito ao desenvolvimento, o direito à paz,
o direito ao meio ambiente, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da
humanidade e o direito de comunicação.

Sobre a terceira geração de direitos, Norberto Bobbio comenta que Celso Lafer fala dos
direitos de terceira geração como se tratando, sobretudo, de direitos cujos sujeitos não são os
indivíduos, mas sim, os grupos de indivíduos, grupos humanos, como a família, o povo, a
nação e a própria humanidade.
57

Reconhecidos esses direitos de terceira geração, tendo seu gênero como sendo a
solidariedade (ou fraternidade), seu desenvolvimento conforme ensina Etiene-R. Mbaya, se
exprime de três maneiras:

• O dever de todo Estado particular de levar em conta, nos seus atos, os interesses de
outros Estados (ou de seus súditos)
• Ajuda recíproca (bilateral ou multilateral), de caráter financeiro ou de outra natureza,
para a superação das dificuldades econômicas (inclusive com auxílio técnico aos
países subdesenvolvidos e estabelecimento de preferências de comércio em favor
desses países, a fim de liquidar déficits)
• Uma coordenação sistemática de política econômica.

6.5. Os direitos fundamentais de quarta geração


Lançadas as bases por Paulo Bonavides, tem-se que a "globalização política na esfera da
normatividade jurídica introduz os direitos de quarta geração, que, aliás, correspondem à
derradeira fase de institucionalização do Estado social".

Segundo ele, os direitos da quarta geração consistem no direito à democracia, à informação e


ao pluralismo.

Deles depende a materialização da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima


universalidade, para a qual parece o mundo quedar-se no plano de todas as afinidades e
relações de coexistência.

Enquanto direito de quarta geração, a democracia positivada há de ser, necessariamente,


direta, que se torna a cada dia mais possível, graças aos avanços tecnológicos dos meios de
comunicação, e sustentada legitimamente pela informação correta e aberturas pluralistas do
sistema.

É de se lembrar, também, que deve ser uma democracia isenta, livre das contaminações,
vícios e perversões da mídia manipuladora.

Assim, pode-se partir para a assertiva de que os direitos da segunda, terceira e quarta
geração não se interpretam, mas sim, concretizam-se. E é no seio dessa materialização,
dessa solidificação, que se encontra o futuro da globalização política, o início de sua
legitimidade e a força que funde os seus valores de libertação.

Enfim, conforme enfatiza Paulo Bonavides, "os direitos da quarta geração compendiam o
futuro da cidadania e o porvir da liberdade de todos os povos. Tão-somente com eles será
legítima e possível a globalização política".

6.6. A classificação conforme a Constituição Federal


Não obstante as formas que expostas, existem doutrinadores, tal como José Afonso da Silva,
que estudam e classificam os direitos fundamentais da mesma forma consagrada pela
Constituição Federal, onde se tem ordenados os direitos e deveres individuais e coletivos, os
direitos sociais, os direitos de nacionalidade, de cidadania (direitos políticos) e, por fim, as
garantias constitucionais.

Percebe-se, assim, que não há a preocupação de classificá-los como sendo dimensões ou


gerações de direitos. Preocuparam-se, sim, em estudá-los e classificá-los individualmente,
abordando um a um, de acordo com as disposições de nossa Lei Maior.
58

6.7. As declarações Universais de Direitos


Os direitos humanos são os direitos e liberdades básicos de todos os seres humanos.
Normalmente o conceito de direitos humanos tem a ideia também de liberdade de
pensamento e de expressão, e a igualdade perante a lei.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem da Organização das Nações Unidas afirma:

Art. 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em


direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros
em espírito de fraternidade.

A ideia de direitos humanos tem origem no conceito filosófico de direitos naturais, que seriam
atribuídos por Deus. Alguns sustentam que não haveria nenhuma diferença entre os direitos
humanos os direitos naturais, e veem, na distinta nomenclatura, etiquetas para uma mesma
ideia.

Existe um importante debate sobre a origem cultural dos direitos humanos. Geralmente se
considera que tenham sua raiz na cultura ocidental moderna. Contudo, alguns afirmam que
todas as culturas possuem visões de dignidade que são uma forma de direitos humanos, e
fazem referência a proclamações como a Carta de Mandén, de 1.222, declaração fundacional
do Império de Malí.

As teorias que defendem o universalismo dos direitos humanos se contrapõem ao relativismo


cultural, que afirma a validez de todos os sistemas culturais e a impossibilidade de qualquer
valorização absoluta desde um marco externo, que neste caso seriam os direitos humanos
universais.

Entre estas duas posturas extremas se situa uma gama de posições intermediárias. Muitas
declarações de direitos humanos emitidas por organizações internacionais regionais põem um
acento maior ou menor no aspecto cultural, e dão mais importância a determinados direitos de
acordo com sua trajetória histórica.

A Organização da Unidade Africana, proclamou em 1.981 a Carta Africana de Direitos


Humanos e de Povos, que reconhecia princípios da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de 1.948, e adicionava outros que tradicionalmente se tinham negado na África,
como o direito de livre determinação ou o dever dos Estados de eliminar todas as formas de
exploração econômica estrangeira.

Mais tarde, os Estados africanos que acordaram a Declaração de Túnez, em 6 de novembro


de 1.992, afirmaram que não se pode prescrever um modelo determinado em nível universal,
já que não podem se desvincular as realidades históricas e culturais de cada nação, e as
tradições, normas e valores de cada povo. Em uma linha similar, se pronunciam a Declaração
de Bangkok, emitida por países asiáticos em 23 de abril de 1.993, e do Cairo, firmada pela
Organização da Conferência Islâmica, em 5 de agosto de 1.990.

Os direitos humanos são o resultado de uma longa história, e foram debatidos ao longo dos
séculos por filósofos e juristas. O início desta caminhada remete-nos para a religião, quando o
Cristianismo, durante a Idade Média, foi a afirmação da defesa da igualdade de todos os
homens.

Foi também durante essa época que os filósofos cristãos recolheram e desenvolveram a
teoria do direito natural, em que o indivíduo está no centro de uma ordem social e jurídica
justa, mas a lei divina tem prevalência sobre o direito laico, tal como é definido pelo
imperador, o rei ou o príncipe.
59

Mais tarde, a Escola do direito natural, defendeu a existência de direitos que pertencem
essencialmente ao homem, que são inerentes à natureza, que ele goza pelo simples fato de
ser homem. Com a idade moderna, os racionalistas dos Séculos XVII e XVIII, reformulam as
teorias do direito natural, deixando de estar submetido a uma ordem divina. Para os
racionalistas, todos os homens são livres por natureza, e têm certos direitos inatos de que não
podem ser despojados quando entram em sociedade. Foi esta corrente de pensamento que
inspirou o atual sistema internacional de proteção dos direitos do homem.

A evolução destas correntes deu frutos, pela primeira vez, na Inglaterra, e depois, nos
Estados Unidos. A Magna Carta (1.215) deu garantias contra a arbitrariedade da Coroa, e
influenciou diversos documentos, como por exemplo, o Acto Habeas Corpus (1.679), que foi a
primeira tentativa para impedir as detenções ilegais. A Declaração Americana da
Independência surgiu em 4 de julho de 1.776, onde constavam os direitos naturais do ser
humano que o poder político deve respeitar. Esta declaração teve como base a Declaração de
Virgínia, proclamada em 12 de junho de 1.776, onde estava expressa a noção de direitos
individuais.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada na Franca, em 1.789, e as


reivindicações ao longo dos Séculos XIV e XV, em prol das liberdades, alargou o campo dos
direitos humanos, e definiu os direitos econômicos e sociais.

Mas, o momento mais importante, na história dos Direitos do Homem, ocorreu no período de
1.945-1.948. Em 1.945, os Estados tomaram consciência das tragédias e das atrocidades
vividas durante a 2º Guerra Mundial, o que os levou a criar a Organização das Nações Unidas
em prol de estabelecer e manter a paz no mundo.

Foi através da Carta das Nações Unidas, assinada no dia 20 de junho de 1.945, que os povos
exprimiram a sua determinação “em preservar as gerações futuras do flagelo da guerra;
proclamar a fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e valor da pessoa humana,
na igualdade de direitos entre homens e mulheres, assim como das nações, grandes e
pequenas; em promover o progresso social e instaurar melhores condições de vida numa
maior liberdade.”.

A criação das Nações Unidas simbolizou a necessidade de um mundo de tolerância, de paz,


de solidariedade entre as nações, com avanço do progresso social e econômico de todos os
povos.

Os principais objetivos das Nações Unidas passam por manter a paz, a segurança
internacional, desenvolver relações amigáveis entre as nações, realizar a cooperação
internacional resolvendo problemas internacionais de natureza econômico, social, intelectual e
humanitário, desenvolver e encorajar o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades
fundamentais, sem qualquer tipo de distinção.

Assim, no dia 10 de dezembro de 1.948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a
Declaração Universal dos Direitos do Homem. Ela é de fundamental importância na nossa
sociedade, pois quase todos os documentos relativos aos direitos humanos têm como
referência esta Declaração, e alguns Estados fazem alusão a ela nas suas constituições
nacionais.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, ganhou uma importância extraordinária,


contudo, não obriga juridicamente que os Estados a respeitem. Devido a isso, a partir do
momento em que foi promulgada, foi necessária a preparação de inúmeros documentos que
especificassem os direitos presentes na Declaração, como forma de pressionar os Estados a
60

cumpri-la. Foi nesse contexto que, no período entre 1.945-1.966, nasceram vários
documentos.

Assim, a junção da Declaração Universal dos Direitos Humanos, os dois pactos efetuados em
1.966 -- O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais --, bem como os dois protocolos facultativos do
Pacto dos Direitos Civis e Políticos (que em 1.989 aboliu a pena de morte), constituem A
Carta Internacional dos Direitos do Homem.

Um dos documentos mais antigos que vinculou os direitos humanos é o Cilindro de Ciro, que
contém uma declaração do rei persa (hoje Irã) Ciro II, depois da conquista da Babilônia, em
539 a.C. Foi descoberto em 1.879, e a ONU o traduziu em 1.971, em todos seus idiomas
oficiais. Pode ser resultado de uma tradição mesopotâmica centrada na figura do rei justo,
cujo primeiro exemplo conhecido é o rei Urukagina, de Lagash, que reinou durante o Século
XXIV a.C., e de onde cabe destacar também Hamurabi,da Babilônia,e seu famoso Código de
Hamurabi, que data do Século XVIII a.C.

O Cilindro de Ciro apresentava características inovadoras, especialmente em relação à


religião. Nele consta declarada a liberdade de religião e abolição da escravatura.

Documentos posteriores, como a Carta Magna da Inglaterra, de 1.215, e a Carta de Mandén,


de 1.222, são, também, associados direitos humanos. Na Roma antiga havia o conceito de
direito na cidadania romana a todos romanos.

A conquista da América, no Século XVI, pelos espanhóis, resultou em um debate pelos


direitos humanos, na Espanha. Isto marcou a primeira vez que se discutiu o assunto na
Europa.

Durante a Revolução Inglesa, a burguesia conseguiu satisfazer suas exigências de ter alguma
classe de seguridade contra os abusos da coroa, e limitou o poder dos reis sobre seus
súditos, proclamando a Lei de Habeas Corpus, em 1.679.

Em 1.689, o Parlamento impôs a Guilhermo III, da Inglaterra, na Carta de Direitos (ou


Declaração de Direitos), uma série de princípios sobre os quais os monarcas não podiam
legislar ou decidir.

No Século XVII e XVIII, filósofos europeus -- destacando-se John Locke -- desenvolveram o


conceito do direito natural. Os direitos naturais, para Locke, não dependiam da cidadania,
nem das leis de um Estado, nem estavam necessariamente limitadas a um grupo étnico,
cultural ou religioso em particular. A teoria do contrato social, de acordo com seus três
principais formuladores -- o já citado Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau -- se
baseia na tese de que os direitos do indivíduo são naturais e que, no estado de natureza,
todos os homens são titulares de todos os direitos.

A primeira declaração dos direitos humanos da época moderna é a Declaração dos Direitos
da Virgínia, de 12 de junho de 1.776, escrita por George Mason e proclamada pela
Convenção da Virgínia. Esta grande medida influenciou Thomas Jefferson na declaração dos
direitos humanos, que se existe na Declaração da Independência dos Estados Unidos da
América, datada de 4 de julho de 1.776, assim como também influenciou a Assembleia
Nacional francesa, na concepção da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de
1.789 (esta última definia o direito individual e coletivo das pessoas).

A noção de direitos humanos não experimentou grandes mudanças até o século seguinte.
Com o início das lutas operárias, surgiram novos direitos que pretendiam dar solução a
61

determinados problemas sociais através da intervenção do Estado. Neste processo são


importantes a Revolução Russa e a Revolução Mexicana.

Desde o nascimento da Organização das Nações Unidas, em 1.945, o conceito de direitos


humanos tem se universalizado, alcançando uma grande importância na cultura jurídica
internacional.

No dia 10 de dezembro de 1.948,a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi


proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, como resposta aos horrores da
Segunda Guerra Mundial e como intento de sentar as bases da nova ordem internacional que
surgia atrás do armistício. Coincidência ou não, foi proclamada no mesmo ano da
proclamação do Estado de Israel.

Posteriormente foram aprovados numerosos tratados internacionais sobre a matéria, entre os


quais se destacam os Pactos Internacionais Direitos Humanos, de 1.966, e foram criados
numerosos dispositivos para sua promoção e garantia.

6.8. Conceito de Direitos e Garantias Individuais consagrados na Constituição Federal


de 1.988 e suas extensões, princípios e fundamentos epistemológicos26
Os direitos e garantias individuais estão arrolados no Art. 5o., da CF.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade

26
Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego ἐπιστήμη [episteme], ciência, conhecimento; λόγος logos],
discurso) é um ramo da Filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença e ao conhecimento.
A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento (daí também se
designar por filosofia do conhecimento). Ela se relaciona ainda com a metafísica, a lógica e o empirismo, uma
vez que avalia a consistência lógica da teoria e sua coesão fatual, sendo assim a principal dentre as vertentes da
filosofia (é considerada a "corregedoria" da ciência). Sua problematização compreende a questão da
possibilidade do conhecimento: Será que o ser humano conseguirá algum dia atingir realmente o conhecimento
total e genuíno, fazendo-nos oscilar entre uma resposta dogmática ou empirista? Outra questão abrange os
limites do conhecimento: Haverá realmente a distinção entre o mundo cognoscível e o mundo incognoscível? E
finalmente, a questão sobre a origem do conhecimento: Por quais faculdades atingimos o conhecimento? Haverá
conhecimento certo e seguro em alguma concepção a priori?
Pode-se dizer que a epistemologia se origina em Platão. Ele opõe a crença ou opinião ("δόξα", em grego) ao
conhecimento. A crença é um determinado ponto de vista subjetivo. O conhecimento é crença verdadeira e
justificada.
A teoria de Platão abrange o conhecimento teórico, o saber que. Tal tipo de conhecimento é o conjunto de todas
aquelas informações que descrevem e explicam o mundo natural e social que nos rodeia. Este conhecimento
consiste em descrever, explicar e predizer uma realidade, isto é, analisar o que ocorre, determinar por que ocorre
dessa forma e utilizar estes conhecimentos para antecipar uma realidade futura.
Há outro tipo de conhecimento, não abrangido pela teoria de Platão. Trata-se do conhecimento prático, o saber
como.
A epistemologia também estuda a evidência (entendida não como mero sentimento que temos da verdade do
pensamento, mas sim no sentido forense de prova), isto é, os critérios de reconhecimento da verdade.
Ante a questão da possibilidade do conhecimento, o sujeito pode tomar diferentes atitudes:
• Dogmatismo: atitude filosófica pela qual podemos adquirir conhecimentos seguros e universais, e ter
absoluta certeza disso.
• Cepticismo: atitude filosófica oposta ao dogmatismo, a qual duvida de que seja possível um
conhecimento firme e seguro, sempre questionando e pondo à prova as ditas verdades. Esta postura foi
defendida por Pirro de Elis.
• Relativismo: atitude filosófica defendida pelos sofistas que nega a existência de uma verdade absoluta e
defende a ideia de que cada indivíduo possui sua própria verdade, que é em função do contexto histórico
do indivíduo em questão.
• Perspectivismo: atitude filosófica que defende a existência de uma verdade absoluta, mas pensa que
nenhum de nós pode chegar a ela senão a apenas uma pequena parte. Cada ser humano tem uma visão
da verdade. Esta teoria foi defendida por Nietzsche e nota-se ecos de platonismo.
62

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos


seguintes:

Os destinatários dos direitos e garantias individuais são:


• brasileiros e estrangeiros27 residentes no País.
• Válidos para pessoas físicas e para as jurídicas, onde couber.
• As empresas estrangeiras não se beneficiam deles, exceto quanto a marcas, nomes e
signos, proteção de direito internacional.
• Há quem repute que esses direitos são extensivos a todas pessoas quem estejam no
País, ainda que aqui não residam, por serem seres humanos como quaisquer outros.

Eles de classificam em:


• Direito à vida;
• Direito à intimidade;
• Direito de igualdade;
• Direito de liberdade;
• Direito de propriedade.

Os incisos do Art. 5o. não preveem os direitos coletivos, mas eles estão embutidos nos direitos
individuais.

Quanto aos deveres individuais e coletivos há que se frisar que:


• Não há um elenco de deveres. Nem precisaria ter, porque eles decorrem dos direitos
na medida em que cada titular de direitos individuais tem o dever de reconhecer e
respeitar igual direito do outro, bem como o dever de se comportar, nas relações inter-
humanas, com postura democrática, compreendendo que a dignidade da pessoa
humana do próximo deve ser exaltada como a sua própria.
• Na verdade, os deveres que decorrem dos incisos do Art. 5o. têm como destinatários
mais o Poder Público e seus agentes em qualquer nível, do que os indivíduos em
particular.

Quanto ao direito à vida e do direito à privacidade:


• A vida é a fonte primária de todos os outros bens jurídicos.
• No conteúdo do seu conceito se envolvem o direito à dignidade da pessoa humana, o
direito à privacidade, o direito à integridade físico-corporal, o direito à existência.

Quanto ao direito à existência:


• Consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender a própria vida, de
permanecer vivo.
• É o direito de não ter interrompido o processo vital, senão pela morte espontânea.
• É por isso que se considera legítima a defesa contra qualquer agressão à vida, bem
como se reputa legítimo até mesmo tirar a vida a outrem em estado de necessidade da
salvação da própria.
• Não foi acolhido, na CF, o direito à existência digna (eutanásia, por exemplo).

Quanto ao direito à integridade física


• Agredir o corpo humano é um modo de agredir a vida.
• A integridade físico-corporal constitui um bem vital e revela um direito fundamental do
indivíduo. Daí porque as lesões corporais são punidas pela legislação penal.
• A CF foi expressa em assegurar o respeito à integridade física dos presos.

27
Aos estrangeiros, também os direitos sociais, especialmente os trabalhistas
63

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

Quanto ao direito à integridade moral:


• A Constituição Federal empresta muita importância à moral como valor ético-social da
pessoa e da família, que se impõe ao respeito dos meios de comunicação social.

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão


aos seguintes princípios:

IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Ela, mais que as outras, realçou o valor da moral individual, tornando-a mesmo um bem
indenizável.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização


por dano material, moral ou à imagem;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

A moral individual sintetiza a honra da pessoa, o bom nome, a boa fama, a reputação que
integram a vida humana como dimensão imaterial.

Por isso que o Direito Penal tutela a honra contra a calúnia, a difamação e a injúria.

Quanto à pena de morte:


• Ao direito à vida contrapõe-se à pena de morte.

É admitida somente

XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

Quanto ao direito à privacidade:


• A Constituição Federal declara invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas.

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;

Quanto ao direito à intimidade:


• É quase sempre considerado como sinônimo de direito à privacidade.
64

• Abrange a inviolabilidade do domicílio, o sigilo de correspondência, o segredo


profissional.

Quanto à honra e imagem das pessoas:


• A honra é um conjunto de qualidades que caracterizam a dignidade da pessoa, o
respeito dos concidadãos, o bom nome, a reputação.

Quanto ao direito de igualdade:


• Aristóteles vinculou a ideia de igualdade à ideia de justiça. (dar a cada um o que é seu)

Quanto ao sentido da expressão “igualdade perante a lei”:


• O princípio tem como destinatário o legislador, porque os aplicadores da lei estão
necessariamente obrigados a cumpri-la.
• Isso não significa que a lei deva tratar todos abstratamente iguais, pois o tratamento
igual não se dirige às pessoas integralmente iguais entre si, mas àquelas que são
iguais sob os aspectos tomados em consideração pela norma, o que implica que os
“iguais” podem diferir totalmente sob outros aspectos ignorados ou considerados como
irrelevantes pelo legislador.

Quanto à igualdade entre homem e mulher:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos


igualmente pelo homem e pela mulher.

Só valem as discriminações feitas pela própria Constituição Federal, e sempre em favor da


mulher:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é
assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante
contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos
pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e
o disposto neste artigo.

III - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo de dez anos de efetivo
exercício no serviço público e cinco anos no cargo efetivo em que se dará a
aposentadoria, observadas as seguintes condições:
65

a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinquenta e


cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher;

b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se


mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição.

Quanto ao princípio da igualdade jurisdicional:


• Formalmente, a igualdade perante a Justiça está assegurada pela CF, desde a garantia
de acessibilidade a ela. Mas, realmente essa igualdade não existe. Os pobres têm
acesso muito precário à justiça, Carecem de recursos para contratar bons advogados.
O patrocínio gratuito se revelou de alarmante deficiência.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito;

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;

Quanto à igualdade perante a tributação:


• Relaciona-se com a justiça distributiva em matéria fiscal.
• Diz respeito à repartição do ônus fiscal do modo mais justo possível.
• Princípio da capacidade contributiva > a carga tributária deve ser distribuída na
medida da capacidade econômica dos contribuintes.

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os


seguintes tributos:

§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados


segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração
tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar,
respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos
e as atividades econômicas do contribuinte.

Quanto à igualdade perante a lei penal:


• Não significa a aplicação da mesma pena para o mesmo delito.
• As condições reais de desigualdade condicionam o tratamento desigual perante a lei
penal, apesar do princípio da isonomia assegurado a todos pela Constituição Federal.

Igualdade “sem distinção de qualquer natureza”:


• Além da base geral em que se assenta o princípio da igualdade perante a lei,
consistente no tratamento igual a situações iguais e tratamento desigual a situações
desiguais, a CF veda distinções de qualquer natureza.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
66

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de


convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades


fundamentais;

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à


pena de reclusão, nos termos da lei;

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:

XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de


admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de


admissão do trabalhador portador de deficiência;

Art. 12. São brasileiros:

§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,


salvo nos casos previstos nesta Constituição.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais


pelos seguintes princípios:

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto
e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

Quanto ao direito de liberdade tem-se a seguinte conceituação:


• Sentido negativo > Resistência à opressão ou à coação da autoridade ou do poder
(porque se opõe a algo, porque nega a autoridade).
• Sentido positivo > é livre quem participa da autoridade ou do poder.
• Autoridade legítima > provém do exercício da liberdade, mediante o consentimento
popular > liberdade e autoridade se complementam.
• Autoridade é tão indispensável à ordem social -- condição mesma da liberdade --
como esta é necessária à expansão individual.
• Um mínimo de coação há sempre que existir. Portanto, não é correto afirmar que
liberdade é a ausência de coação, mas sim, a ausência de toda coação anormal,
ilegítima e imoral.
• Montesquieu > “a liberdade política não consiste em fazer o que se quer”.
67

• O conceito de liberdade humana deve ser expresso no sentido de um poder de atuação


do homem em busca de sua realização pessoal, de sua felicidade.

Quanto à liberdade e democracia:


• O regime democrático é uma garantia geral da realização dos diretos humanos
fundamentais. É na democracia que a liberdade encontra campo de expansão.
• É nela que o homem dispõe da mais ampla possibilidade de coordenar os meios
necessários à realização de sua felicidade pessoal.

Quanto à liberdade da pessoa física:


• É impropriamente chamada de ‘liberdade individual’. Constitui a primeira forma de
liberdade que o homem teve que conquistar. Ela se opõe ao estado de escravidão e de
prisão.
• É a possibilidade jurídica que se reconhece a todas as pessoas de serem senhoras de
sua própria vontade e de locomoverem-se desembaraçadamente dentro do território
nacional.
• Essa liberdade de locomoção em tempo de paz contém o ‘direito de ir e vir’, e de ‘ficar
e de permanecer’, sem necessidade de autorização, cumprindo, entretanto, respeitar
as medidas impostas pela lei, no interesse comum, e abster-se de atos lesivos dos
direitos de outrem.

Quanto à liberdade de pensamento:


• É o direito de exprimir, por qualquer forma, o que se pense em ciência, religião, arte, ou
o que for.
• Trata-se de liberdade de conteúdo intelectual e supõe o contato do individuo com seus
semelhantes, pela qual “o homem tenda, por exemplo, a participar a outros suas
crenças, seus conhecimentos, sua concepção do mundo, suas opiniões políticas ou
religiosas, seus trabalhos científicos”.

Quanto à liberdade de opinião:


• Resume a própria liberdade de pensamento em suas várias formas de expressão. É
chamada de liberdade ‘primária’ e ponto de partida de outras.
• A CF a reconhece como pensamento íntimo, prevê a ‘liberdade de consciência e de
crença’ que declara inviolável, como a crença religiosa e de convicção filosófica ou
política.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de


convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Quanto à liberdade de comunicação:


• Consiste num conjunto de direito, formas, processos e veículo, que possibilitam a
coordenação desembaraçada da criação, expressão e difusão do pensamento e da
informação.
68

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização


por dano material, moral ou à imagem;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de


dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial,
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal;

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,


quando necessário ao exercício profissional;

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,


sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado
o disposto nesta Constituição.

§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena


liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social,
observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

§ 3º - Compete à lei federal:

I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar


sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e
horários em que sua apresentação se mostre inadequada;

II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade


de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que
contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e
serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

§ 4º - A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos,


medicamentos e terapias estará sujeita a restrições legais, nos termos do inciso II
do parágrafo anterior, e conterá, sempre que necessário, advertência sobre os
malefícios decorrentes de seu uso.

§ 5º - Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser


objeto de monopólio ou oligopólio.

§ 6º - A publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de


autoridade.
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Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão


aos seguintes princípios:

I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente


que objetive sua divulgação;

III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme


percentuais estabelecidos em lei;

IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons


e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou
de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.

§ 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital
votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens
deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há
mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e
estabelecerão o conteúdo da programação.

§ 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da


programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais
de dez anos, em qualquer meio de comunicação social.

§ 3º Os meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia


utilizada para a prestação do serviço, deverão observar os princípios enunciados no
art. 221, na forma de lei específica, que também garantirá a prioridade de
profissionais brasileiros na execução de produções nacionais.

§ 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata


o § 1º.

§ 5º As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º serão


comunicadas ao Congresso Nacional.

Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e


autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado
o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal.

§ 1º - O Congresso Nacional apreciará o ato no prazo do art. 64, § 2º e § 4º, a


contar do recebimento da mensagem.

§ 2º - A não renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação de, no


mínimo, dois quintos do Congresso Nacional, em votação nominal.

§ 3º - O ato de outorga ou renovação somente produzirá efeitos legais após


deliberação do Congresso Nacional, na forma dos parágrafos anteriores.

§ 4º - O cancelamento da concessão ou permissão, antes de vencido o prazo,


depende de decisão judicial.
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§ 5º - O prazo da concessão ou permissão será de dez anos para as emissoras de


rádio e de quinze para as de televisão.

Art. 224. Para os efeitos do disposto neste capítulo, o Congresso Nacional instituirá,
como seu órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na forma da lei.

Quanto à liberdade de informação jornalística:


• Nela se concentra a liberdade de informar e é nela ou através dela que se realiza o
direito coletivo de informação, isto é, a liberdade de ser informado.
• Não é simplesmente a liberdade do dono da empresa jornalística ou do jornalista. A
liberdade deste é reflexa no sentido de que ela só existe e se justifica na medida do
direito dos indivíduos a informação correta e imparcial.

Quanto na liberdade religiosa:


• Ela se inclui entre as liberdades espirituais. Sua exteriorização é forma de
manifestação do pensamento. Ela compreende:
liberdade de crença;
liberdade de culto;
liberdade de organização religiosa.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre


exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de
culto e a suas liturgias;

Quanto à liberdade de expressão intelectual, artística e científica e direitos anexos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

• Todos podem produzir obras intelectuais, científicas ou filosóficas, e divulgá-las, sem


censura e sem licença de quem quer que seja.
• Certas manifestações artísticas ficam sujeitas a uma regulamentação especial:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,


sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado
o disposto nesta Constituição.

§ 3º - Compete à lei federal:

I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar


sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e
horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
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II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade


de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que
contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e
serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

Quanto à produção e a programação das emissoras de rádio e televisão deverão:

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão


aos seguintes princípios:

I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;

II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente


que objetive sua divulgação;

III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme


percentuais estabelecidos em lei;

IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Quanto à liberdade de expressão cultural:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.

§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e


afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional.

§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para


os diferentes segmentos étnicos nacionais.

§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando


ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que
conduzem à:

I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;

II produção, promoção e difusão de bens culturais;

III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas


dimensões;

IV democratização do acesso aos bens de cultura;

V valorização da diversidade étnica e regional.

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e


imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão;
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II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às


manifestações artístico-culturais;

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,


arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá


o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância,
tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação.

§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação


governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela
necessitem.

§ 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e


valores culturais.

§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.

§ 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de


reminiscências históricas dos antigos quilombos.

§ 6 º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de


fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para
o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses
recursos no pagamento de:

I - despesas com pessoal e encargos sociais;

II - serviço da dívida;

III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos
ou ações apoiados.

Quanto à liberdade de transmissão e recepção do conhecimento:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o


saber;

Quanto à liberdade de ação profissional:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
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XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer;

Quanto à acessibilidade à função pública:


• Cabe só a brasileiros natos

Art. 12. São brasileiros:

3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:

I - de Presidente e Vice-Presidente da República;

II - de Presidente da Câmara dos Deputados;

III - de Presidente do Senado Federal;

IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

V - da carreira diplomática;

VI - de oficial das Forças Armadas.

VII - de Ministro de Estado da Defesa

• Cabe a qualquer brasileiro

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que


preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na
forma da lei;

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em


concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;

BIBLIOGRAFIA

BÁSICA

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Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2003.

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