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Locomotivos
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2008 Locomotivos |
JEFERSON CANFIELD
150 LOCOMOTIVOS para admirar Santa Maria
Em 2008 comemoramos os 150 anos de Santa Maria. Do VOS tem a pretensão de despertar nos leitores uma reflexão e
acampamento à cidade de quase 300 mil habitantes, muita externar o motivo pelo qual cada um admira essa cidade. Pode
água rolou no riacho Itaimbé. Se formos analisar toda essa não ser a ferrovia, mas o sentimento, a emoção que o apito do
história, desde o seu início, vamos perceber que Santa Maria trem causa; não a Serra Geral, mas a beleza que empresta ao
consegue manter uma estreita ligação com as PESSOAS que contorno do município; mais do que qualquer monumento, o
a construíram e a constroem no dia-a-dia. Apesar de ser um vento minuano e tudo o que ele traz de saudade. LOCOMOTI-
lugar de passagem, por diversos motivos, trabalho, estudo, VOS quer ser EMOÇÃO.
amizades, a cidade permanece no coração de quem se demora Nos depoimentos, poemas, crônicas e imagens da revis-
aqui, ou por aqui fez uma rápida temporada. Depois da fun- ta, cada leitor pode buscar os seus 150 motivos para estar,
dação da Universidade Federal, a cidade ganhou a juventude viver, gostar, admirar e se orgulhar da nossa Cidade- Cultura,
com todos os seus arroubos. Hoje, Santa Maria esbanja jovia- coração do Rio Grande do Sul, Ibitory-retan, nossa terra da
lidade, alegria, simpatia justamente por essa característica alegria, Santa Maria da boca do monte, da Garganta do Dia-
humana. Santa Maria de hoje é a cara de quem passeia pelas bo, dos Ferroviários, dos estudantes, do Santa Cena, do Santa
ruas, de quem escreve, de quem trabalha, de quem produz, de Maria Vídeo e Cinema, do Cartucho, da saudosa Tertúlia, da
quem canta, de quem compõe, de quem pinta, enfim, todas Escolinha da Gabi.
essas muitas caras fazem da cidade um lugar admirado por to-
O apito anuncia a partida e convida a todos para um pas-
dos, santa-marienses de nascimento, de coração, visitantes e
seio por muitos LOCOMOTIVOS. Encontre o seu.
até por quem nem conhece a Boca do Monte.
Boa Leitura.
LOCOMOTIVOS não tem a intenção de elencar 150 itens
que podem servir de admiração por Santa Maria. LOCOMOTI-
Rose Carneiro
Expediente
Revista Locomotivos – número 1, ano 2008 A revista LOCOMOTIVOS - Santa Maria 150 anos é uma
publicação especial dos 150 anos de Santa Maria.
Conselho editorial: Humberto Gabbi Zanatta, Máucio,
Orlando Fonseca, Rose Carneiro
PROMOÇÃO INCENTIVO REALIZAÇÃO APOIO
Coordenação: Máucio, Rose Carneiro
Design gráfico: Carolina Isabel Gehlen
Fotografia de capa: Laura Fabricio
Revisão: Orlando Fonseca
Tiragem: 5.000 exemplares Agradecimentos Especiais: EMAI - Escola Municipal de Aprendiza-
Distribuição gratuita gem Industrial; Rede Vivo; Caixa Econômica Federal; Eny Calçados.
músicos, cantores, bailarinos, palestrantes, ou seja, é um lu- Cultura - que tem uma escola que leva no nome outra gran-
gar onde a cultura se expressa vivamente. Tanto pela presença de artista da cidade, Eduardo Trevisan -, além de eventuais
de uma Universidade Federal, com cursos de teatro e música, espaços nos shoppings da cidade. A esse grupo de produção
como pela existência de cursos e iniciativas particulares, o artística, devemos reunir os desenhistas de humor e os qua-
material exposto neste, como em outros palcos da cidade, é drinhistas. O encontro estadual de cartunistas – o Cartucho-,
de reconhecida qualidade: temos uma orquestra sinfônica, já está no calendário cultural do Estado, reunindo gente que
grupo de percussão, vários corais, e bandas – neste quesito, faz do traço de humor a sua expressão em revistas, jornais e
Orlando Fonseca a juventude testemunha a qualidade de grupos formados de livros, interagindo com o público aficcionado, tanto no Calça-
modo amador, e que sobrevivem, extrapolando as fronteiras dão quanto em exposições, como foi a da Gare este ano.
Máucio
A caixa da Lang
Cada um tem sua cidade, cada um Era tal o estoque de mercadorias que o por que cargas d’água, na sorveteria
constrói no seu imaginário uma memó- proprietário colocara uma placa atrás São João. Lá me oferecia sorvete com
ria particular, preciosa e repleta de in- do balcão principal dizendo: “Insista, Cyrillinha. Aaah! Eu ia embora dali
timidades. Nada do que trate de relatar periga ter!”. Não havia como não ler o como se tivesse visitado o céu. O “seu
a memória é cabível em qualquer com- aviso cada vez que se entrava lá. O fun- João” - que servia pessoalmente - era
pêndio ou mostra fotográfica. A memó- cionário atendente pensava dez vezes uma espécie de santo ou mago, naquele
ria individual é incompleta e a coletiva antes de responder “não temos” ao fre- bondoso planeta-frio.
também. No entanto cada lugar tem guês. Que grande lance de marquetim e Outra lembrança muito acesa é o
uma memória particular-coletiva pos- de “gestão de vendas” praquela época! Da adolescência também tenho ia tirar o “atenda-se”, a autorização do lá pra ver a moça da caixa. Que engraça-
centro da cidade. Algo que lembro es-
sível de ser compartilhada entre alguns muitas coisas pra contar. Vou selecio- “pindura”. A gente chegava ao balcão, da ela era. Nunca soube seu nome, mas
No calçadão, então primeira qua- pecialmente se passava na esquina da
membros de uma geração. nar três, simplesmente porque são as dava o nome do pai ou da mãe e a fun- tratava-se de uma figura absolutamen-
dra, no Edifício Imembuy havia um Avenida Rio Branco com a Venâncio
que me ocorrem. A primeira é quase um cionária dirigia-se a um enorme ¨ar- te diferenciada. Com seu cabelo impe-
Eu nasci, vivi infância e adolesci em banco. Subir a escadaria de entrada do Ayres. Lembro do hidrante vermelho e
protesto. quivo-máquina¨ em forma de cilindro, cável, alto, cheio e redondo, penteado
Santa Maria e, por mais que estivesse prédio já era uma atração só, pra minha de uma manhã de sábado que ganhei
O relógio da Masson - atual Gaiger tinha uns dois metros de comprimento. para trás e fixado não sei como. Laquê?
distraído, os anos foram fabricando criancice. Lá trabalhava um cara que um crepe. A partir disso passei a achar
- na esquina da Floriano com a Bozano. O “aparelho” continha o cadastro e a A caixa era uma precisão só. Com gestos
memórias. eu achava igual ao Ronald Golias – meu que o crepe havia saído do hidrante.
Por que tiraram o relógio de lá? Será situação de todos os clientes, dentro sincronizados nas mãos e movimentos
Santa Maria de ontem era pequena, ídolo de então. Ficava muito feliz quan- Custei a apagar essa imagem e até hoje,
que aquele ¨cebola¨ ficou ultrapassado de umas fichas e essas dentro de suas da cabeça precisos, entregava o troco e
bem menor, como eu era. Penso sem- do entrava na fila do caixa com meu pai às vezes, olho para um hidrante com
e não consegue mais dar conta dos tem- respectivas pastas. Até ai tudo normal, dizia: obrigada...e um silêncio terminal
pre que cada cidade tem seu tamanho para ser atendido por aquele funcioná- uma certa desconfiança de que dali
pos atuais? Será que a correria coletiva só que ao simples toque de um botão de operação de apresentava. Bendize,
e tempo, ou seja, sua velocidade. Isso rio. O fato de achá-lo parecido com o pode sair um crepe.
de hoje não contempla mais as voltas o cilindro girava e trazia para cima as foi a primeira caixa-eletrônica que co-
intere nos indivíduos. Não posso esque- comediante era importante, mas o que Tinha também o bilheteiro Pauli-
dos ponteiros? Será que só os duros e pastas dos clientes com a letra inicial nheci...
cer, por exemplo, minha primeira noção mais me impressionava mesmo era a nho que parecia um amigo próximo do
secos mostradores digitais são capazes desejada. Não sei quem inventou aque- Uma vez a vi, provavelmente como
de mundo exterior, que ficava a pouco velocidade com que contava as cédulas meu pai, tal a cordialidade com que se
de dar conta das horas e dos segundos la geringonça, mas funcionava que era sempre fazia, quinze minutos antes,
mais de uma quadra de casa. Eu fugia, de dinheiro. Maços de dinheiro que eu tratavam. Eu fico impressionado com
frenéticos, sem mostrar visualmente o uma beleza. Eu ficava impressionado na frente, aflita, esperando a loja abrir
longe do controle dos pais, para andar só via lá. Minha infantilidade olhava o a eternidade do Paulinho, ele está ali
antes e o depois? com a modernidade e eficácia daquele para começar sua implacável tarefa di-
de bicicleta lá na Floriano Peixoto. Era sujeito como uma espécie de dono do até hoje, intacto, vendendo loteria! invento. Não tenho dúvida de que foi a ária. Até que a loja abriu e ela entrou
uma grande ousadia! banco, ou alguém muito importante Uns anos atrás comprei eu mesmo, pela A outra lembrança adolescente
primeira noção de computador que tive aliviada. Ufa!
naquela casa. Que ingenuidade feliz! primeira vez um bilhete seu ... sai pen- tem a ver com o Empório Doméstico,
Muitas pequenas coisas me lembram na minha vida!
Outro episódio saborosamente me- sando que tinha lhe pago uma espécie que ficava na Floriano com a Tuiuti. Eu cresci, a empresa não existe mais
Santa Maria, memórias ínfimas e quase Tem uma memória, porém, que creio
morável se passava na Rua Silva Jardim. de couvert artístico por tantos de anos Na verdade eu ia lá desde de pequeno, e eu nunca mais a vi. Se alguém souber
particulares, outras, nem tanto. Como que seja quase só minha mesmo e que
Meu irmão do meio me levava, não sei de sua atuação pública... com meus pais, e depois adolescente, me diga, por favor. Onde andará a caixa
esquecer, por exemplo, da Casa Orestes, tem ligação com a Casa Lang, loja de
precisar de quando em quando, nem fazia as compras sozinho, no crediário. da Lang?
loja de ferragens e bazar muito famosa? bazar e ferragem. Eu adorava comprar
O momento mais marcante era quando
LocoMOTIVOS Gaudérios!
Mas bah! Claro que Santa Maria tam- criados dois dos mais antigos CTGs do Irapuá e muitos poetas, músicos, com- RAFAEL HAPPKE
bém tem locomotivos gaudérios, guas- Estado: O Ponche Verde CTG e a Asso- positores, que além de grupos, fizeram
cas, nativistas e tradicionalistas para ciação Tradicionalista Estância do Mi- reconhecida carreira solo.
dela se gostar. A começar pelo fato de nuano. Conseqüência natural, Santa Maria
o Patrono do Movimento Tradicionalista
Em Santa Maria, também, antes cria o seu festival, a Tertúlia Musical
Gaúcho ser o santa-mariense João Ce-
de toda esta onda exuberante de tra- Nativista, com 17 edições. E, no rastro
zimbra Jacques.
dicionalismo/nativismo/músicas/fes- deste e de outros eventos artístico-mu-
Ao longo de mais de um século, tivais/bailes/conjuntos/bailões e ou- sicais, Santa Maria foi revelando uma
desde que Cezimbra Jacques fazia suas tros, existiram programas de rádio e ponchada aplaudida e vencedora de no-
pesquisa de campo, após ter voltado da artistas que se tornaram conhecidos vos talentos que, tanto quanto os das
Guerra do Paraguai, e esteve na origem no gênero. Vale lembrar Raul Sotero, primeiras gerações de festivais, proje-
dos primeiros Grêmios Gaúchos - sem Cerejinha e Santinho, Nelson e Janete, taram nosso município além fronteiras.
dúvida os pais dos atuais Centros de Ary Cechella, Nilton Monti e Capitão Ca- E aqui surge, igualmente, a primeira
Tradições Gaúchas - que Santa Maria raguatá. emissora do Rio Grande do Sul segmen-
não largou mais seus locomotivos gau- tada em cultura gaúcho-nativista
Quando explodiram os festivais no
dérios.
inicio dos anos 1970, em feliz coinci- Atualmente, além do Minuano da
Depois que no final dos anos 1940, dência liderados pelo CTG Sinuelo do Canção Nativa, Santa Maria, através de
um grupo de jovens, dentre os quais Pago e sua Califórnia da Canção Nativa músicos com formação universitária e
Paixão Côrtes, Barbosa Lessa, Glauco de Uruguaiana, Santa Maria foi o pri- de produtores culturais com visão pro-
Saraiva e mais alguns, estabeleceu os meiro grande palco aberto, após a terra fissional, oferece uma penca enorme de
primeiros contornos da formatação - de Batista Luzardo, para músicas e ar- alternativas artístico-culturais que a
este é um termo inovador, mas usado tistas vencedores e/ou aos que estavam projetam ainda e sempre mais.
pelos tradicionalistas que se servem do se iniciando: Os Angüeras, Os Tapes, Ce- E se fôssemos lembrar os diversos
computador - do atual Movimento Tra- nair Maicá, Pedro Ortaça, Jayme Caeta- grupos de dança e música, que nos CTGs
dicionalista Gaúcho, Santa Maria não no Braum, Noel Guarani, Aparício Silva do município, projetaram-se nos últi-
parou mais de botar a sua bonita cara Rillo, Mário Barbará, Raul Elwanger. mos anos? A lista e a história seriam
no pedaço e de dar sua contribuição a
Neste embalo Santa Maria também longas. E que continuam a honrar a
este movimento.
começa a participar das Califórnias da memória e o trabalho dos que vieram
Assim, na década de 1950, além de Canção Nativa, surgindo grupos qua- antes, liderados pelo patrono João Ce-
se realizar aqui o Primeiro Congresso lificados como o Vir-a-ser, Horizonte, zimbra Jacques. Buenas e avante!
Tradicionalista Gaúcho, também foram Reduções, Boca do Monte, Canto Piá,
Somos todos anciãos. Todos vergamos no Calçadão, da Velha do Saco perse- temos a lembrança ancestral do Café da vende bilhetes. O Coloradinho ainda curumins debaixo das marquises, en- marcante. Mesmo vestidos de anjinhos,
ao peso sesquicentenário da tua exis- guindo as crianças. Porque não somos Paris, do Theatro Coliseu, do campo do vence, o Riograndense ainda joga. Há quanto oferecem artesanato aos pas- de santinhos, segurando velas acesas e
tência. Não importa se viemos daqui - apenas os dignitários cujos nomes Guarany Atlântico. Somos o orgulho de bailões no Caixeiral. Há desfiles na Rio santes da rua do Acampamento. sentindo cheiro de cera queimada. É que
pincelada de Scliar, gol de Oreco - ou se ornam as placas das tuas ruas; somos recuperar o Theatro 13 de Maio. Branco. Teus aposentados charlam nos Mesmo assim estamos todos fe- nossas Marias são todas Medianeiras.
chegamos de fora - Iberês de Restinga, também o que vaga sob as placas: todos
Nos vemos em cada parapeito, de- bancos da Saldanha Marinho e nos bal- lizes. Estamos todos comemorando. E todas as Medianeiras são inquietas,
Veppos da capital - colorindo os mati- os teus mendigos de estimação, todos
bruçados em cada janela, em cada ca- cões de café; zanzam na Galeria Chami. Porque uma cidade nunca está pronta. questionadoras e justas. Medianeiras
zes do alumbramento, catando os poe- os teus loucos de esquina, todos os teus
sinha da Vila Belga, com o chimarrão Teus estudantes flertam entre as estan- E há pulsão criativa em qualquer lu- não se calam. Então vamos gritando,
mas que rolam dos teus morros. heróis ignorados. Somos tuas ruínas,
aquentando as mãos, enquanto a carne tes da Cesma, nos ônibus a caminho da gar onde o engenho humano floresça. mas sem sair dos trilhos. Assim, feito
Somos todos anônimos, ínfimos, teus casarões demolidos, tua vida pre-
assa na churrasqueira de tijolos empi- faculdade, nas alamedas do campus, Mesmo nos botecos insalubres, mesmo aquela locomotiva da Presidente. Não
invisíveis, na grandeza das tuas lom- gressa esquecida, teus muitos momen-
lhados em cada quintal. Ainda há gar- nos barzinhos onde ferve o ânimo hor- nos teus cortiços, nas tuas oficinas, nos parece, mas é a história dela que nos
bas íngremes, dos teus becos vadios, tos urbanos perdidos para sempre. E
rafas de cyrilinha e doces da confeita- monal da juventude. teus brechós, nos teus salões de cabe- puxa na direção ao futuro.
das tuas vilas pobrezinhas. Mas a fama somos os prédios feiosos que ergueste
ria Copacabana enfeitando tuas mesas Camobi, Itaimbé, Itararé. Teus fo- leireiros. Há sempre alguém discutindo
miúda da proximidade nos humaniza. no lugar.
de aniversário. Ainda ouvimos a banda nemas indígenas são o único resquício a cidade, há sempre alguém discordan-
Somos a memória do Mudinho da Ca- Mas também somos o esforço para da Brigada, a fanfarra do Maneco, o sax altivo de teus primeiros moradores, do, criticando, refletindo, sugerindo,
tedral, do Crocante fazendo estripulias nos reconhecermos como cidade. Man- do maestro Setembrino. Paulinho ain- porque tuas Imembuís agora embalam criando. Porque é o nosso traço mais
NORBERTO STAGGEMEIER
Um dia de Vento Norte causa transtornos em nossa rotina. Na O Vento Norte acontece em qualquer época do ano; não
madrugada percebemos sua chegada pelos assobios nas por- está restrito ao inverno, como é o caso do Vento Minuano.
tas e frinchas das janelas. Esse vento está sempre na espreita e desmancha os pente-
Nos programas de rádios as manchetes se sucedem: Raja- ados, esvoaça as cabeleiras e levanta as saias das gurias. É
das de vento do quadrante norte. Vento forte e temperatura um vento malandro. Ponto para o Vento Norte. Mas também,
elevada. O Vento Norte, uma das características de Santa Ma- danifica telhados, derruba muros e árvores. Vem de longe esse
ria, agita a vida dos santa-marienses. Vento Norte!
O Vento Norte é conhecido desde os tempos das primeiras Certa feita, perguntaram a um antigo morador de Osório
ocupações no Rio Grande do Sul. No século XIX, Saint-Hilaire qual seria a receita para ficar rico. Sendo um velho conhece-
dor da região, respondeu: se eu pudesse engarrafar o vento eu
“
foi um dos pesquisadores que o identificou. Quando os milita-
res acamparam por essas bandas, o Vento Norte já movimen- seria um homem rico. O Vento Norte de Santa Maria também
O sol fraquinho aquecendo o corpo, o cheiro de vergamota no ar. Velhinhos de
tava as lonas das barracas e agitava as bandeiras. é um antigo parceiro da cidade e não temos a intenção de en-
bengala, babás empurrando carrinhos de nenês. Um domingo invernal no Parque
garrafá-lo, mas se o Vento Norte contasse as histórias de suas
Itaimbé. Provinciano? Cosmopolita? Tanto faz. Somos assim, com nossa vocação Santa Maria possui vários elementos naturais – morros,
andanças, certamente, contaria muitos causos dessa Santa
para o encontro, para o flerte, para os devaneios e para as grandes discussões filo- vales e planuras – mas o Vento Norte tem um significado espe-
Maria cheia de graça, nos mais ínfimos detalhes.
sóficas. A cidade em festa, como se ela própria arrastasse a cadeira pra fora de casa, cial e o carinho dos habitantes da terra de Imembuy. Odiamos,
”
com ganas de contemplar a vida. Marcelo Canellas xingamos, amaldiçoamos, mas convivemos com esse descon- Penso que o Vento Norte nos contou muitas histórias nes-
forto. É uma relação de amor e ódio. Quem não praguejou na ses últimos 150 maios, nós é que não tivemos a capacidade
esquina da Rua Acampamento com a antiga Rua 24 horas ou na de ouvi-lo porque estamos sempre na dúvida entre o guarda-
Floriano com a Bozano em manhã de ventania? chuva e o casaquinho de moletom.
Santa Maria, desde sua criação como povoado, a partir pilha (1835-1845), cresceu a entrada de Santa Maria reivindicou a criação próxi- sírio-libaneses (cristãos) a partir de
do estabelecimento da 2ª Subdivisão da Comissão Demarca- imigrantes alemães, que segundo João ma de sua cidade de uma colônia de imi- 1898, que se fixaram na região urbana
dora de Limites em 1797, se caracterizou por ser uma cidade Belém, eram em 1858, mais de 32 famí- grantes. Os que ali se adaptaram foram da cidade e se dedicaram às atividades
de atração populacional devido sua localização geográfica no lias e que muitas atividades econômicas os italianos; denominando-se 4ª Colônia de mascates, ao comércio e mais tarde
centro do Rio Grande do Sul e de ser um ponto estratégico po- locais e da região (São Pedro do Sul, São Imperial de Silveira Martins (1877/78). se transformaram em profissionais libe-
lítico-militar, comercial e religioso. Assim, em Santa Maria se Martinho, Pinhal) eram de responsabili- Isso possibilitou a vinda para Santa Ma- rais. Em 1904, houve o estabelecimento
estabeleceram índios missioneiros, portugueses, espanhóis, dade desses. Com o desenvolvimento do ria de imigrantes italianos e seus des- dos judeus com a Colônia de Philipson.
paulistas, mineiros, lagunenses, açorianos e também contou comércio local, sua posição e papel es- cendentes, o que diversificou o seu co- Após a Segunda Guerra Mundial, em
com a presença de escravos africanos e de libertos. No início tratégico-militar possibilitou a criação mércio e, especialmente, contribuiu com 1958, teremos a vinda de japoneses, que
do século XIX, fixaram residência nestas terras de Santa Maria do município de Santa Maria em 1858. o crescimento da influência religiosa da se retiram de uma experiência negativa
os germânicos que haviam vindo para atuar nas guerras pla- Igreja Católica. Em 1889, se instalou a em Uruguaiana, para aqui colaborar no
Com o II Império, a política de cons-
tinas (em torno de 1828), bem como os que foram motivados República que deu continuidade à polí- desenvolvimento do “cinturão verde”
trução de um projeto de modernidade
pela política de imigração européia estimulada pelo Império tica de imigração. de abastecimento dos centros urbanos.
capitalista para o Brasil levou a inten-
brasileiro. Santa Maria, além de ser um povoado urbano de Além disso, teremos também a presença
sificação da política de imigração tanto Ainda é mister destacar que um dos
residência de latifundiários da metade sul e ser centro mili- de “hermanos” latino-americanos, como
com o fim de substituir a mão-de-obra fatores que tanto contribuiu para o cres-
tar, ampliou as atividades vinculadas a agropecuária para a uruguaios, argentinos, paraguaios, chi-
escrava como de criar colônias dedica- cimento populacional, para a atração
subsistência e para o comércio regional, como também desen- lenos, entre outros. Portanto, Santa
das à policultura e ao minifúndio, além de imigrantes, para o desenvolvimento
volveu o artesanato e o comércio. Após a Revolução Farrou- Maria possui na formação de seu povo,
FRAGMENTO DO PAINEL – ESTAÇÃO RODOVIÁRIA DE SANTA MARIA, TÉOURA
da tentativa de neutralizar o poder dos econômico, urbano, educacional e cul-
latifundiários sulistas e do branquea- tural foi a instalação da Viação Férrea o que caracterizam o brasileiro e a cul-
mento populacional. Com isso, se inten- em 1885, mudando o perfil da cidade e tura latino-americana: a diversidade de
sifica a entrada de imigrantes, como os criando novas possibilidades de traba- etnias, a mescla étnica, o multicultura-
italianos, polacos, suíços, entre outros. lho. Teremos a entrada de imigrantes lismo, a complexidade cultural e social.
Santa Maria era varrida pelo vento norte com muita freqüência, a ponto de um jornalista daquele tempo dizer, para traduzir a
varredura do vento: “Um vento norte que sopra de todos os lados. Adelmo Simas Genro
Nasci em Santa Maria. Na Avenida Ipiranga. Em casa, do lado ma: meus tios Carlos Grau e Bráulio Araújo Souza, Edmundo
esquerdo de quem vem da Acampamento, imediatamente após Cardoso, Paulicéia e Graúna, Jurema e Hermínio, o velho Cas-
cruzar a Floriano. Em 1940 nascia-se nas mãos da parteira. siano. Gente cuja memória está plantada no meu coração.
Lembro-me bem de meu avô, Justino Couto, que se foi quando Vivi belos momentos na minha cidade. Um deles, muito espe-
eu tinha seis anos. Antes disso deixamos a cidade, o pai, a mãe cial, em setembro de 1979. O centenário de meu avô Oscar Grau,
e eu. Mas estivemos sempre a voltar, retornar. Minha avó pa- comemorado na Escola Municipal Oscar Grau, na Vila Schirmer.
terna, Elvira Cassel Grau, com ela convivi tempo maior, na rua Fomos todos, minha mulher, meus filhos, o pai e a mãe, meus
dos Andradas. Saudade. tios. Um lindo momento, que vence o tempo. Como se perma-
Passo de quando em quando, no meu imaginário pessoal, por necêssemos reunidos, para sempre, mesmo os que se foram.
figuras da minha cidade. Sem elas Santa Maria não seria a mes- Santa Maria é assim, para sempre. Eros Roberto Grau
JEFERSON CANFIELD
Pedro Brum Santos o problema da filiação, propuseram um nomes como os de João Daudt Filho,
critério relativamente amplo, orienta- Felippe D’Oliveira, Roque Callage, João
do por um misto entre o geográfico e o
Pujança literária
Belém, Romeu Beltrão, Moyses Velli-
bibliográfico. Para eles, tomariam parte nho, Prado Veppo, Chico Ribeiro. A es-
na antologia (1) poetas filhos da terra;
em Santa Maria
ses, já consolidados pela historiografia,
(2) que atuassem no ramo das Letras na podemos agregar, tranqüilamente, os
cidade, ou, (3) poetas que, tendo fixa- que pertencem ao presente. A lista, de
do residência local registrassem publi- fato, seria imensa, mas não é exagero
cação de pelo menos uma obra. dizer que Orlando Fonseca, Vítor Biasoli
Em “O direito à literatura” (Duas Cidades, 2004), o crítico
Em Santa Maria, Cidade cultura, e Leonardo Brasiliense já alcançaram
Antonio Candido observa que cada sociedade cria suas mani-
obra valiosa organizada pelo Conselho posição sólida entre os da atualidade.
festações literárias de acordo com seus impulsos, suas cren-
ças, seus sentimentos, suas normas. Definir a filiação de uma Municipal de Cultura (Pallotti, 2003), o No rol dos nomes, para se ter uma
obra, em todo caso, não é tarefa fácil. Acredito que o critério interessante panorama proposto parte idéia de quantidade, basta lembrar que
mais aceito seja o da circulação predominante e da recepção do reconhecimento de autores em fun- a extinta Associação Santa-Marien-
preferencial. Circulação e recepção supõem que, toda a litera- ção do vulto de suas produções e agre- se de Letras, em 20 anos de atuação,
tura que vinga como bem cultural, traz consigo um entorno de ga a isso o papel fundamental que têm chancelou mais de 40 publicações. Atu-
críticos, bibliotecas, agremiações, escolas, gráficas, editoras. cumprido as agremiações literárias, as almente, seguem no mesmo caminho a
instituições de ensino e as promoções Academia Santa-Mariense de Letras e
Quando pensamos a literatura de Santa Maria, percebemos
culturais em geral no sentido de dar a Casa do Poeta de Santa Maria. Essas
o quanto, entre nós, esse entorno é significativo. Isso nos ga-
guarida, valorizar e ajudar na divulga- iniciativas, na verdade, atualizam uma
rante uma tradição em produzir arte e em fazer circular a arte
ção da literatura local. longa tradição de agrupamentos, con-
que produzimos. Por aí, então, podemos falar de uma literatura
De fato, nossos nomes mais repre- sórcios, projetos coletivos, o que sig-
local, mesmo reconhecendo que, como toda a arte, uma peça
sentativos, de algum modo, têm conta- nifica dizer que, entre nós, a literatura
literária sempre aspira a romper as fronteiras de sua origem.
do com um merecido respaldo institu- precocemente gerou seu sentimento de
Luiz Alberto Rodrigues e Tarso Genro, na Apresentação da po-
cional, garantidor de sua permanência pertencimento, razão pela qual é com
esia santa-mariense (Pallotti, 1965), ao se defrontarem com
entre nós como testemunhas vivas de orgulho que continuamos a reconhecer
um percurso que tem se mantido em só- e a adotar como nossos autores e obras
lida expansão. Nesse rol, somos muitos em quantidade crescente.
os que lembramos com facilidades de
O “xis” da questão
Diomar Konrad
Embora Santa Maria tenha, reconhecidamente, uma das – Xis Ferroviário: em formato de vagões, cada um com
melhores safras de “xis” ou “cheese”, podemos aproveitar os um sabor. O simples teria dois vagões e os outros iriam au-
150 anos e lançar novos sabores e valorizar o que é nosso: mentando de tamanho e variedades até chegar no húngaro,
– Xis da Baixada: próprio para ser degustado em dia de especial da casa.
jogo. Diferente dos outros, este seria preparado na estufa, – Xis Coração: neste formato, para lembrar que estamos
para dar uma “secadinha” nos adversários. no coração do Rio Grande. Também poderia ser usado pelos
– Xis Gaudério: feito no espeto, com a diferença de que o namorados ou interessados em conquistar alguém.
pão seria todo lacrado em volta, senão os ingredientes caem – Xis Guarnição: criado para lembrar a presença dos mi-
na brasa. Há sugestões de fazê-lo na grelha, mas os mais tra- litares na cidade, recheado com muita salada verde. Podería-
dicionalistas são contra. mos ter a variação Base Aérea, cujo atendente sempre diria:
– Xis Universitário: com sete camadas, para não esquecer “Salta um Base Aérea, voando!!!”
ninguém. Haveria os ingredientes básicos (comuns a todos) e – Xis Servidor Público: a fila de espera não seria por se-
os ingredientes profissionalizantes (específicos de cada cur- nha, mas sim por edital. Sugiro que fique por um tempo em
so ou instituição). Por exemplo: Xis Universitário da Odonto forma de experimento no mercado, em uma espécie de está-
– com direito a fio dental de brinde; Xis Universitário da Nu- gio probatório. Em tese, um prato deveria servir a várias pes-
trição – com o valor calórico de cada ingrediente, bem como soas ao mesmo tempo.
seus efeitos no organismo; Xis Universitário da Filosofia – com – Xis 150 anos: um xis gigante, do mesmo estilo que os
texto impresso para reflexão; Xis Universitário da Economia grandes bolos, a ser degustado pela população na praça, no
– com índices de inflação, valor do Euro e do Dólar. dia do aniversário. Seria preparado com os ingredientes de
– Xis Imembuí: em homenagem à lenda sobre a nossa ter- todos os outros. Abdico da idéia se não houver verba para a
ra. Teria como ingrediente básico a mandioca, combinada com prensa.
vários tipos de carne. Outras idéias, só daqui a 150 anos.
Dizem que ela é vista pelo bar Ponto de em 17 de fevereiro de 1898. Em 1909, do Cine Glória. Na década de oitenta o tiva dos Estudantes de Santa Maria. Santa Maria Vídeo e Cinema - SMVC, curso de Extensão em Cinema Digital.
Cinema vez por outra sentada à mesa viu o alemão Eduardo Hirtz realizar o Glória teve seu mezanino transformado Dizem que ela é anarquista e que gos- lançado em 2002 . Ela acompanhou com entusiasmo essa
com outros cinéfilos e produtores da filme documental Cerimônia da Festa e em Cine Glorinha. Nos anos oitenta e ta de projetos cooperativos. É sócia da Voltando aos anos setenta a índia iniciativa. E, a cada ano vê serem lan-
cidade, nas reuniões e mostras de fil- Inauguração da Igreja de Santa Maria. noventa a índia apelidou de “tríplice ci- CESMA. Porém, ninguém sabe o número acompanhou várias filmagens em Su- çados curtas-metragens e surgirem no-
mes da Estação Cinema - Associação Esse, o filme mais antigo produzido no nematográfica” a região formada pelas de sua matrícula. Em 2003, participou per-8, que tornaram a cidade, no perío- vos realizadores. Esse ano ela estará no
dos Profissionais Técnicos de Cinema e Rio Grande do Sul e uma das raras có- salas Independência, Glória e Glorinha. do começo do Cineclube UNIFRA. Todas do, um pólo de produções nessa pelícu- lançamento do 1º volume do DVD Esta-
Vídeo de Santa Maria. É certo que este- pias em película existentes no Brasil. Poucos metros as separavam. Imensas as quartas ela está nas sessões do Lan- la. O resultado foi o 1º Festival Regional ção Cinema, com 11 produções locais.
ve na criação da associação, no Porão Em 1911, prestigiou a inauguração do filas se formavam e se cruzavam aos do- terninha e nos sábados nas do UNIFRA. de Super-8, em 1975, que ela ajudou a Durante as edições do Festival da
Cineclube, em 6 de abril de 2002. Em Cine Theatro Coliseu. E, dois anos de- mingos à noite. Ela já havia conferido Em 2006 e 2007, a índia participou das organizar. Apoiou todas as realizações cidade, o SMVC, ela fica muito feliz
150 anos ela participa de todas as datas pois, ninguém a viu, mas ficou ao lado essa audiência efusiva nos anos sessen- mesas e discussões do 2º e 3º Encontros da época e pôde acompanhar as realiza- porque muitas dessas pessoas, espaços
e atividades na trajetória da cidade. do português Fransciso Santos quando ta e setenta no Cine Imperial, e suas Ibero-Americano de Cineclubes. Em ções de nomes como Sergio Assis Brasil, e eventos convergem para o festival.
Sua beleza era percebida desde quan- ele rodou outro raro documento fílmi- clássicas matinês nos finais de semana. 2006, trabalhou na recepção de deze- Luiz Carlos Grassi, Modesto Wielewicki, Ibembuí, nossa índia imortal, chega em
do éramos um povoado, às margens de co, Santa Maria Actualidades. Até hoje, O seu Aurélio Lima, lanterninha do ci- nas de cineclubistas de todo o país que Pedro Freire Jr., Ronai Pires da Rocha, 2008 profundamente alegre e pronta
um arroio. O fato é que sempre se sen- vez por outra, o vento norte ecoa as pa- nema, sempre a via entrar. vieram para a 26 Jornada Nacional de Clenio Faccin, José Feijó Caneda e tan- para se unir e impulsionar tudo o que
tiu atraída pela arte das imagens em lavras dela: “aqui, desde sempre, inter- Ela acompanhou – e acompanha Cineclubes. Em 1996, estava presente tos outros. Alguns produziram ainda fil- estiver ligado ao desenvolvimento de-
movimento. Ela não viu tudo. Mas foi câmbio e cosmopolitismo!” ainda – a tradição cineclubista da ci- na Vila Caramelo no lançamento da TV mes em outros formatos, como 16mm, mocrático e plural da cidade. E quan-
testemunha de boa parte das histórias Ela é uma índia de cabelos longos e dade. Na década de cinqüenta freqüen- OVO, TV comunitária que manteve em 35mm e posteriormente em vídeo. Assis do se fala em cinema dizem que várias
ligadas à sétima arte santa-mariense. negros e viu, em 1922, a inauguração do tou as exibições do Clube de Cinema. E 2001 e 2002 o Cineclube Porão. Com Brasil deixa uma marca para a história lágrimas marcam seu rosto. Ela tem
Ela podia deslocar-se com facilidade Cine Independência. Outras duas salas isso aconteceu durante dez anos, com a criação do Otelo Cineclube em 1995, da cidade o longa-metragem Manhã consciência que a cidade é reconhecida
para outros lugares graças aos trens e movimentaram os cinéfilos, na década sessões coordenadas pelo teatrólogo se uniu à turma e participou da escolha Transfigurada, rodado com uma equipe por ter inúmeras produções, por ter um
à localização geográfica da cidade. Isso de 30. O Cine Imperial (hoje, Casa Eny Edmundo Cardoso. Foi Cardoso que dos filmes para comemorar o centenário de técnicos e atores santa-marienses. festival, várias empresas produtoras
desde o final do século dezenove. Pare- Infantil) e o Cine Odeon (hoje, biblio- colaborou, no início dos anos sessen- na sétima arte no evento “100 Anos de Momento marcante que nossa índia e entidades que promovem debates e
ce que em uma das vezes foi até o Rio teca do Clube Caixeiral) e mais uma vez ta, para que a equipe vinda do Rio de Cinema – Mostra de Filmes e Debates”. acompanhou ocorreu no início dos anos oficinas e abrem espaços para exibição
de Janeiro e lá embarcou em um navio ela esteve presente. Assim como nas dé- Janeiro realizasse parte das filmagens No ano seguinte o Otelo - projeto do noventa quando a cidade sediou três das mais diferentes filmografias. Faz
para Paris. Na capital francesa, assistiu cadas de quarenta e cinqüenta, quando do longa-metragem Os Abas Largas, Sindicato dos Bancários, realizou o 1º edições do Festival Cone-Sul In Vídeo, muito tempo que a índia Imembuí está
à primeira projeção pública de imagens viu o Irmão Ademar filmar e projetar em Santa Maria. Lá estava ela, é claro. Encontro de Cinema de Santa Maria, um coordenados pela professora Rhea Syl- presente em nossas telas e fotogramas.
em movimento em dezembro de 1895. pela região. Ainda no mesmo período, Assim como esteve em 1978, na criação dos embriões para a criação do Festival via Gartner. Em 2002, a UFSM lançou o E assim permanecerá.
Ao retornar esteve presente à primeira alguns testemunharam sua presença do Cineclube Lanterninha Aurélio, um
exibição de cinema, em Santa Maria, na primeira fila durante a inauguração projeto cultural da CESMA – Coopera-
MARCELO KUNDE
íses cheguem a nossa querida Santa
Maria, estabelecendo assim um inter-
câmbio de culturas diversas.
A vida religiosa de nosso município iniciou com o acampa- legislação proibia. Sinos eram privilégio da Igreja católica e Tida como “cidade cultura”, Santa Ma-
mento das tropas lusitanas, em 1797. Os soldados construíram só depois de atritos com a polícia que os luteranos puderam ria destaca-se na cena cultural do in-
ranchos para se abrigar e também uma capela, denominada tocar os sinos pela primeira vez, em 1888. terior do estado pois temos em nossa
Santa Maria. As tropas foram embora poucos anos depois, mas cidade uma orquestra sinfônica, vários
Em 1891, com a Constituição republicana, o Estado sepa-
ficou a capela, e em torno dela estabeleceram-se várias famí- grupos de teatro, de música, de dança,
rou-se da Igreja católica e estabeleceu a liberdade de culto. A
lias, “agricultores uns, operários outros, todos obedientes à de artistas plásticos, de literatura e vá-
partir daí, todas as religiões puderam se desenvolver e outras
religião católica”, segundo João Belém. rias entidades culturais.
igrejas vieram se estabelecer em Santa Maria – como a angli-
E não podia ser diferente. Naquele tempo, era em torno cana, em 1900, e a metodista, na década de 1920. As religiões Foi aqui em Santa Maria, na UFSM, que
da Igreja católica (então parte integrante do Estado) que se de origem africanas, porém, demoraram a usufruir dessa li- tive meu primeiro emprego até a apo-
organizavam as povoações. E a elevação da capela à condição berdade. E, desta maneira, a cidade foi adquirindo esse cará- sentadoria e logo após iniciei os traba-
de paróquia era motivo para que o povoado adquirisse auto- ter multifacetado de igrejas e manifestações religiosas. lhos para recuperação do nosso Theatro
nomia política e administrativa. A vida religiosa – ou pelo me- Treze de Maio. Fui e sou muito bem aco-
As festas católicas, no entanto, permaneceram as de
nos os atos religiosos oficiais – acompanhavam a evolução dos lhida pela comunidade santa-mariense
maior destaque – como as romarias dedicadas a Santo Antão
povoados e foi assim que aconteceu com Santa Maria. a quem devo muito.
(estabelecidas na década de 1840) e a N.S. Medianeira (na
Em 1858, quando Santa Maria adquiriu a condição de mu- década de 1930) – mas concorrendo com outras manifesta- Por tudo isso, considero Santa Maria
nicípio, sua humilde capela já era uma paróquia. O pequeno ções de fé e devoção. Provavelmente um quadro de vivência uma cidade agradável de viver. Ruth
templo estava construído onde hoje se encontra a herma do religiosa que os soldados lusitanos, que construíram a capela Péreyron
Coronel Niederauer (no início da avenida Rio Branco) e ali era de Santa Maria, no final de século XVIII, jamais poderiam ima-
o centro da vida religiosa da cidade. ginar. Imaginar que fé e devoção tivessem tantos modos de se
Anos depois, a comunidade de alemães luteranos cons- manifestar.
truiu o primeiro templo, mas não pôde colocar sinos, pois a
”
Carlos Mallet Santa Maria. Jefferson Canfield
Carnaval. No baile do clube ou na Itararé, Trevo de Ouro, Mocidade Inde- teza, dar a idéia de que é o município
rua, não importa: o que há de mara- pendente das Dores, Tradição, Impe- que está criando o carnaval. Trata-se,
vilhoso é a variedade de prazeres que ratriz Academia do Samba, Império da evidentemente, de uma grande menti-
oferece, de acordo com o gosto de cada Zona Norte e Unidos de Camobi. ra. Nenhuma administração pública do
um Comunidades inteiras, até hoje, lu- mundo seria capaz de promover um car-
Embora, nestes 150 anos de eman- tam para termos o carnaval de rua que o naval se o povo não estivesse disposto
cipação política de Santa Maria, possa povo merece, mas o pecado maior, nes- a obedecê-la.
parecer que nossa tradição carnavales- ses altos e baixos, é admitir que admi- O carnaval é a festa do povo, não do
ca seja o carnaval de salão, o que não nistrações públicas decidam se teremos negro, nem do branco, mas de todos.
deixa de ser verdade, há uma luta cons- ou não carnaval de rua, pois sendo uma Por isso, deve ser um trabalho coletivo
tante para termos um carnaval de rua manifestação popular, cabe ao povo que represente a força da sua comuni-
tão bom quanto. decidir. dade.
Lendo crônicas e matérias, em jor- Que bom que é o povo que decide! Então, parabéns às pessoas que lu-
nais locais, sobre o carnaval de rua de Sendo uma festa de alegria, o carnaval taram e lutam, com muita perseveran-
nossa cidade no século XX, constatei é, em conseqüência, uma festa da vida. ça, para a manutenção do nosso carna-
que ele sempre teve altos e baixos. Blo- Brincar o carnaval é uma atitude sau- val de rua, não apenas as atuais escolas
cos, tribos, carros alegóricos, tudo isso dável e progressista, ao contrário do de samba, mas a todas as manifestações
já passou pelas ruas de Santa Maria, que dizem os cientistas políticos mal- populares, que, em outras épocas, exis-
até o surgimento das escolas de sam- humorados, o carnaval não é o ópio do tiram e, com o tempo, se modificaram e
ba: Acadêmicos do Samba, Vila Brasil povo. Como é a favor da vida, é, natu- desapareceram.
- a primeira registrada oficialmente e a ralmente, a favor do aperfeiçoamento Preservar a alegria numa cidade
primeira a apresentar um desfile com a do homem. que teima em viver de poucas boas no-
estrutura que conhecemos hoje – Uni- Assim, quando se fala na interven- tícias é quase indispensável.
dos do Itaimbé, Barão de Nonoai, Vila ção do município nas manifestações O carnaval de rua é coisa séria.
Leste, Petróleo e Carnaval, Barão do carnavalescas, pretende-se, com cer-
JEFERSON CANFIELD
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NORBERTO STAGGEMEIER
Memórias
Denise Molon Castanho e Mauro Dania Castanho
LAURA FABRÍCIO
de grande beleza física, despertou logo Sul, Imembuí passou a ser tida como
um amor desmedido em Imembuí que, uma “lenda”, com a publicação do livro
suplicante, dirigiu-se a seu pai a fim de História do Município de Santa Maria,
obter a liberdade do guerreiro branco. escrito pelo professor, literato e histo-
Diante do pedido da encantadora filha riador santa-mariense, João Belém, em
de Japacani, os Minuanos e os Tapes de- 1933. Como esse autor não faz referên-
cidiram restituir a liberdade ao cristão cia a Cezimbra Jacques, não se sabe ao
sob a condição de que ele acompanhas- certo o motivo, e como dá o título de
se a tribo. A declaração de Imembuí sal- “Santa Maria lendária” a sua narrativa,
vou a vida do guerreiro branco que logo passou-se a considerar assim a história
foi denominado pelos Minuanos com o de Imembuí.
nome de Morotin. Segundo diversos estudos feitos ao
Depois de terem vivido algum tem- longo dos anos, já se sabe que a origem
po juntos, Imembuí e Morotin se casa- de Santa Maria é um acampamento
ram nos ritos indígenas; mais tarde, militar da comissão demarcadora do
casaram-se obedecendo aos ritos ca- tratado de Santo Ildefonso, em 1797.
tólicos. Passados alguns anos, tiveram Antes disso, não havia aldeamento fixo
JEFERSON CANFIELD
Eu toco na banda. Ah, esta frase era dita com muito orgu- Garbo, disciplina, pompa e circunstância. Era a banda se de artifício eram silenciosos jogando no ar apenas uma chuva Hoje seus antigos componentes são saudosistas cinqüen-
lho nos anos 60 por qualquer componente de qualquer banda apresentando. A torcida se encarregava de fazer barulho e de estrelas colorindo ainda mais o espetáculo. tões ou sessentões. Dá-se conta que tocar numa banda foi
marcial de Santa Maria. Até hoje discute-se qual era a melhor. aplaudir. Muitas vezes nem se ouvia a banda. Os componentes uma aula de cidadania. Educava-se para a vida. Tínhamos que
Com ponta de ciúmes, vimos o Santa Maria e banda es-
Particularmente, digo que foi a do Maria Rocha, da qual par- orientavam-se pela marcha dos pés. Que espetáculo! Vinham primar por um comportamento ético e respeitoso. Levávamos
cocesa do Coração de Maria voltarem de São Paulo onde se
ticipei. Mas se perguntarem para os que pertenceram a outras pessoas de toda a região. Havia um dia só para as bandas. Sor- o nome de nossa banda. Não podíamos ser “maus elementos”.
sagraram campões em um concurso nacional. Maneco, Maria
bandas, certamente eles não vão concordar e dizer que a deles teava-se a ordem de desfile e o público lotava a rua do Acam- Os ensaios eram pontos de encontro e troca de idéias. Cobrava-
Rocha e Hugo Taylor não iam ao concurso por não terem quem
era melhor. pamento e a avenida Rio Branco para ver a banda passar. se muito uns dos outros. Fomentava-se o desejo de um futuro
bancasse a despesa.
Que tempo maravilhoso. Ensaiava-se o ano inteiro. Não Que honra vestir um uniforme. Os elogios se sucediam. tranqüilo e de sucesso. Temiam-se esses grupos. Eram anos de
Havia muita rivalidade. Eram freqüentes as rixas. Às vezes
havia quem não desse seu sangue. Literalmente. Nas véspe- As candidatas à namorada se apresentavam. Em excursões, chumbo. Talvez isto tenha feito com que o incentivo que havia
partia-se às vias de fato. Tanto que foi preciso apaziguar os
ras de desfiles era preciso lustrar, arrumar e afinar os instru- passava-se a experiência se sermos ídolos. Que grau!! E como nos anos 60, esmorecesse nos 70. E as bandas morreram. Tei-
ânimos num coquetel no Manuel Ribas, para acabar as brigas
mentos. Era preciso colocar as mãos na massa. Esfregava-se éramos bem recepcionados nas cidades que visitávamos. Até mosamente, a banda do Maneco insiste em soltar seus acordes
entre os componentes das bandas do Maria Rocha e do Ma-
os couros dos instrumentos com esponja de aço. Criavam-se prefeito e presidente de câmara vinham nos cumprimentar e e nos aperta o coração de saudade. Mas vejo no semblante de
neco.
calos nos dedos, que seguidamente estouravam. Era preciso agradecer nossa presença... qualquer um quem tenha tocado numa banda, uma satisfação
lustrar os instrumentos e usava-se Brasso. Os dedos ficavam Uma coisa estas duas bandas tinham a mais que o Santa que poucos tiveram. Rendo-me aos meus limites. É impossí-
Uma das grandes apresentações foi quando a banda do
pretos e encardidos. Era preciso afinar os taróis puxando suas Maria: as balizas. Escolhidas a dedo por uma comissão que vel descrever a emoção que sentíamos quando desfilávamos.
Santa Maria (então chamada Banda Marcial Irmão Leão) ba-
cordas, que seguidamente cortavam as mãos. Sangrava e nem levava em conta o físico das meninas. Tinham que ter belas Uma certeza: éramos felizes e, naqueles momentos, o mundo
tizou a Banda Marcial Maria Rocha. A madrinha buscou a sua
se dava bola porque a intenção era fazer a melhor apresenta- pernas, sobretudo. Ficavam sensuais nos uniformes e alimen- estava a nossos pés. Talvez Deus tenha nos perdoado alguns
sobrinha na escola e as duas dirigiram-se para o centro da ci-
ção do desfile. Muitos nem dormiam e passavam a noite intei- tavam nossos sonhos mais íntimos, que reprimíamos em nome pecados pelo prazer que demos a um público que nos assistia
dade. Uma se apresentou para a outra e outra se apresentou
ra picando papel que era jogado nas apresentações. do respeito e a possibilidade de uma punição da direção caso há algumas décadas.
para a uma. Para que o som não tivesse interferência, os fogos
não se observassem limites.
Em julho de 1797 chega a esta re- dores da região fossem atraídos pelo dos moradores e, liderados pelo Capi-
gião a Partida da 2ª Subdivisão da Co- pequeno núcleo urbano em formação. tão Manoel Carneiro da Fontoura, en-
missão Demarcadora de Limites entre Alguns militares que serviam na Guar- viaram requerimento às autoridades,
terras de Portugal e Espanha. Como da Portuguesa do Passo dos Ferreiros datado de 17/02/1802, pedindo a ins-
são militares, tratam de estabelecer um também vieram morar na novel povoa- talação de um oratório na localidade.
acampamento em lugar seguro, enxuto ção, desfrutando da solidariedade que Esse pedido foi atendido e se constitui
e dominante sobre a região. Para isso se estabelecia entre as pessoas nessas na primeira manifestação da cidadania
escolhem uma coxilha existente em imensidões despovoadas dos campos incipiente no sentido de alcançar a per-
terras da sesmaria do Padre Ambrósio do Rio Grande. manência no local e evoluir para o que
José de Freitas que havia se estabele- Entre os novos moradores se en- hoje somos.
cido nesse Rincão de Santa Maria desde contrava o Capitão Manoel Carneiro da A Guarda Portuguesa foi extinta e
o ano de 1790. Silva e Fontoura, casado com uma filha criado o Distrito Militar do Vacacaí, cujo
Não houve propósito de estabe- do Comandante da Guarda Portuguesa, primeiro comandante foi o Capitão Car-
lecer povoação, de vez que não foram Capitão Francisco Barreto Pereira Pin- neiro da Fontoura, que se tornou o líder
observadas as recomendações régias to. natural da região. Tomou uma série de
para que se reservasse uma grande área Com a tomada do território espa- medidas no sentido de dar continui-
central que seria a Praça de Armas, em nhol das Missões, epopéia que contou dade à povoação e o Padre Ambrósio,
torno da qual se ergueriam os edifícios com a ação decisiva de Maneco Pedro- descontente, terminou por desistir da
públicos e a igreja matriz. Em torno so, morador dessa região, na fazenda expulsão e se retirou para S. Borja.
desse simples acampamento militar, Sarandi (no atual CISM), se extinguiu Durante 19 anos Carneiro da Fon-
constituído de cinco galpões: dois no a missão da Comissão Demarcadora e toura morou em Santa Maria. Foi res-
sentido leste-oeste, onde hoje se situa esta foi deslocada para o novo territó- ponsável pela instalação (no Alto da
a Praça Saldanha Marinho e mais três rio a fim de ocupá-lo militarmente, sen- Eira) da primeira olaria, onde foram fa-
E não ficou nenhuma dúvida de que ele iria Volto à querência no sentido norte-sul, onde hoje está o do seu comandante, Joaquim Felix da bricados os tijolos que construíram , em
para não mais voltar, rangendo os ferros que rodava. Dentro do sonho acordado, largo da Rua do Acampamento, foram Fonseca, designado Major Comandante 1808, a Capela que existiu no local onde
No cais, o derradeiro trem que pernoitava o chão dispara onduloso, se estabelecendo ranchos para mora- dos Sete Povos. hoje se encontra a herma do Cel. Nie-
em Nossa Senhora do Ferros, Santa Maria. arrastando na vaga verde da coxilha, dia das famílias de alguns militares e
Retirou-se a Partida da Comissão derauer, dedicada a Nossa Senhora da
Ficou a memória daquele férreo itinerário, como grandes algas acolmeiadas, pequenos estabelecimentos comerciais
Demarcadora em setembro de 1801 e Conceição. Aí foi sepultada sua esposa
e Santa Maria, hoje da Boca dos Sem Trem, as ilhas mais verdes dos capões redondos. que forneciam gêneros aos membros da
o Padre Ambrósio, proprietário da Ses- D. Francisca Margarida da Fontoura.
quer fazer turismo nas ruínas do inventário. Comissão.
No seco cais, os restos mortais do último trem. Felippe D’Oliveira maria, pretendeu retomar suas terras e O nome de Santa Maria da Boca do
Com a permanência da Partida, es- expulsar os moradores remanescentes Monte aparece pela primeira vez em do-
Antônio Augusto Ferreira tacionada pelo espaço de quatro anos que ascendiam a 400 pessoas. Contra cumento público no ano de 1809.
no local, houve tempo para que mora- essa pretensão levantou-se o ânimo
AMARELLO
Uma cidade com inúmeras possibilidades no setor da educação com suas escolas públicas e particulares; universidades; faculda-
des; escola militar, seminários, etc.
Uma cidade agraciada pela devoção mariana polarizada em Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, aceita pelo povo, de
forma autêntica e profunda, seguindo o exemplo do jesuíta Pe. Ignácio Rafael Valle.
Uma cidade profundamente marcada, desde sua origem, pela presença ativa de inúmeras congregações religiosas.
Hoje Santa Maria é conhecida como “Cidade Coração do Rio Grande”, “Cidade Universitária” e “Cidade da Medianeira”. Esses
títulos e outros engrandecem Santa Maria. Hélio Adelar Rubert – Bispo Diocesano
MARCELO KUNDE
MARCELO KUNDE
no sesquicentenário
Prado Veppo
As cidades (e com Santa Maria não dando significado ao nosso dia-a-dia, mundo, numa evidente e inevitável ex- inteiro cabe aqui: o branco, o negro, o – o nosso teatro engrandecido e conquistas, reverenciando as glórias do
é diferente...) não são apenas suas ca- respondendo a nossos anseios, ques- pressão da vida moderna, vive, também italiano, o alemão, o judeu, o palestino, cultuado por Edmundo Cardoso e Freire passado;
sas, suas ruas, suas avenidas, seus edi- tionando nossos planos... Santa Maria seus contrastes: a divisão e a interpe- todos, enfim, estão aqui representados Jr.; – a pujança de nosso ensino supe-
fícios... o vidro, o aço, o tijolo.... Com é, mesmo, uma extensão de todos nós. netração entre o público e o privado; o – as nossas letras com ênfase nos rior! Que cidade no interior desse país
e vivendo em perfeita harmonia.
esses elementos conseguimos, é ver- Na verdade, é até bem mais que isso: salto estratosférico das comunicações nossos grande poetas (saudade do Ma- pode se orgulhar, como nós, de suas
dade, um conglomerado de coisas pro- Santa Maria é uma comunidade! Temos grande satisfação de receber
e da tecnologia, os problemas ambien- chadinho, do Prado Veppo, do Antonio Instituições (UFSM, Unifra, Fames,
duzido pelo homem, mas, ainda assim, Aqui vivemos e aqui aprendemos sempre com sorriso o nosso visitante e Augusto Ferreira);
tais e da violência. Mas, paralelo a tudo Fapas, Fadisma, Santa Clara, Ulbra)?
sem vida, sem calor, sem sentimento. a importância do diálogo, a força da – com muito orgulho – lhe mostrar nos-
isso, consegue manter vivo e saudável o – a nossa expressão política (ho- Este, talvez, nosso maior tesouro, que
Para que a cidade viva é necessário política... aqui vivemos e bebemos da sas riquezas: menagem a todos os nossos políticos dá o nosso codinome de Cidade Uni-
mais importante de seus tesouros: as
uma história, uma memória... E Santa cultura, do teatro, da música, da pin- – a música que aqui soa em todos saudando o querido e saudoso Adelmo versitária e que foi o grande legado de
relações humanas preservadas e culti-
Maria tem muita história, muita memó- tura, da escultura, enfim... sobra-nos Genro) que se mostra cada vez mais Mariano da Rocha, que há mais de qua-
vadas em suas praças, em suas ruas, no os cantos, nos bares, nas ruas no teatro
ria... parece ter alma, exprimindo signi- ainda tempo para vivermos e tecermos atuante tanto no legislativo (estadual e
calçadão... (o Treze de Maio, sim, maravilhoso!), renta anos vislumbrava Santa Maria do
ficados, interrogando e sendo interro- também nossas paixões no esporte... federal) quanto no executivo (que cida-
evidenciando valores de nossa afinadís- futuro e o futuro de Santa Maria.
gada, evocando símbolos, produzindo aqui nos sentimos seguros, aqui nos Santa Maria é acima de tudo, hos- de tem tantos Ministros, hoje?);
reações e, com isso, sentimentos... sentimos queridos, aqui nos sentimos sima Orquestra Sinfônica, dos nossos Essa é a Santa Maria que vejo. Essa
pitaleira! É a casa não só dos aqui nas- – a nossa força no esporte com
GENTE! festivais, de nossos excelentes compo- a Santa Maria que nos orgulha! Re-
Santa Maria vive! E vive no coração cidos, mas também dos que para cá vie- Internacional e Riograndense viven-
sitores, cantores, músicos...; nato Brunet – diretor da ULBRA
de cada um de nós. Santa Maria é, na re- Santa Maria, no entanto, tal qual ram estudar e trabalhar, e daqueles que do fase de lutas e partindo para novas Santa Maria
alidade, a extensão de cada um de nós, tantas outras cidades no Brasil e no estão aqui só de passagem. O mundo
AMARELLO
crescimento e evolução. Hoje orgulhosamente a vejo
comemorar seu sesquicentenário e ao parabenizá-
la quero também agradecê-la por ter me acolhido e
feito com que eu me tornasse um santa-mariense de
coração. Castelhano
Prado Veppo
64 | Locomotivos 2008