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1. Introdução
O ensaio por partículas magnéticas é utilizado na localização de descontinuidades superficiais e
sub-superficiais em materiais ferromagnéticos e pode ser aplicado tanto a peças acabadas quanto
semi-acabadas e durante as etapas de fabricação. Ele é baseado no princípio de que as linhas de
campo magnético em um material ferromagnético são distorcidas por uma interrupção na
continuidade do material, que pode ser provocada por variações dimensionais abruptas, presença
de descontinuidades estruturais (como trincas e porosidades) ou presença de qualquer material
(inclusões) com propriedades magnéticas diferentes do metal base. Se estas descontinuidades são
abertas à superfície ou se estão suficientemente próximas à mesma, as linhas de fluxo distorcidas
nesta região darão origem aos chamados campos de fuga, promovendo o aparecimento de pólos
magnéticos, capazes de atrair partículas magnetizáveis para esta região, revelando-as.
2. Fundamentos
2.1 – Magnetismo
Materiais ferromagnéticos colocados nas proximidades de um ímã são atraídos ou repelidos por
ele. Este fenômeno é chamado magnetismo. Os ímãs podem ser naturais ou artificiais, fabricados
a partir de aços com propriedades magnéticas específicas para esse fim, neste caso chamados de
ímãs permanentes.
2.2 – Linhas de campo magnético
A presença de um imã numa região do espaço modifica este espaço, e diz-se que ele está sob a
ação de um campo magnético. O campo magnético pode ser visualizado quando limalhas de um
material ferromagnético são pulverizadas nesta região, por exemplo sobre uma folha de papel
colocada sobre um imã, como mostra a figura 1. As extremidades de um ímã são chamadas de
pólos magnéticos, Norte e Sul e, por convenção, as linhas de campo externas ao ímã se dirigem
do pólo Norte ao pólo Sul.
Pode-se observar que em uma barra imantada, suas características magnéticas não são iguais ao
longo de toda sua extensão, ocorrendo uma concentração da ação de atração magnética em suas
extremidades, regiões denominadas pólos magnéticos. As partículas de limalha se comportam
como minúsculos imãs e se alinham na direção do campo magnético, formando o que é chamado
de linhas de indução ou linhas de fluxo. As linhas de indução são sempre contínuas e mostram
claramente a formação do campo magnético.
A ação de um imã em cada ponto do campo magnético pode ser caracterizada pelo vetor indução
magnética, B. As unidades de medida do módulo do vetor indução magnética são o Tesla (T) ou
o Gauss (G) e quantificam a concentração das linhas de indução numa pequena região do espaço
que contém o ponto considerado. O Tesla (T) é a indução magnética uniforme que produz uma
força constante de 1 N a 1,0 m de um condutor retilíneo situado no vácuo e percorrido por uma
corrente elétrica constante de 1 A, sendo perpendiculares entre si as direções da indução
magnética, da força e da corrente. 1 Tesla = 104 Gauss
A força magnetizadora de um meio é conhecida como força magnetizadora H e pode ser medida
em Oersted (Oe) ou Ampères/metro (A/m). A razão entre B e H depende do material ou meio
no qual o campo magnético é criado e define uma característica deste, que é denominada de
permeabilidade magnética.
• Ferromagnéticos: µ > 1
São materiais que são fortemente atraídos por um imã, como o ferro, cobalto e quase todos os
tipos de aço e são ideais para serem submetidos à inspeção pelo método das partículas
magnéticas (PM).
• Paramagnéticos: µ = 1
São materiais que são levemente atraídos por um imã, como a platina, o alumínio, o cromo, o
estanho e o potássio. Não são recomendados para inspeção por PM.
• Diamagnéticos: µ < 1
São materiais que são levemente repelidos por um imã, como a prata, o zinco, o chumbo,o cobre
e o mercúrio. O ensaio por PM não é aplicável a estes materiais.
Magnetismo máximo
(saturação)
Magnetismo Residual
Força Magnetizadora H
2.7 – Magnetismo num condutor elétrico retilíneo, numa espira e num solenóide
A passagem de uma corrente elétrica ao longo de um condutor retilíneo induz linhas de campo
magnético B que são círculos com centro no condutor. A intensidade do campo induzido B em
um ponto qualquer externo ao condutor cai com o quadrado da distância do centro deste ao ponto
considerado. As direções do campo e da corrente são sempre perpendiculares entre si. Se este
condutor forma uma linha fechada, o campo induzido se intensifica na região central, efeito que
é intensificado se o condutor é dobrado em várias espiras, formando um solenóide. Isto é
mostrado na figura 3.
Linhas do Campo
Magnético
Corrente
Elétrica (-)
Condutor
(+ )
(a)
Bobina de
indução
Campo Campo
magnético magnético
Corrente Corrente
elétrica elétrica
(b) (c)
3. Equipamentos
Os principais equipamentos usados no ensaio com partículas magnéticas têm por função
basicamente produzir correntes elétricas e induzir campos magnéticos nas peças em exame, total
ou localmente e podem ser portáteis ou estacionários. Outros equipamentos auxiliares são usados
para avaliação da sensibilidade e calibração, para iluminação adequada e para desmagnetização
dos materiais testados.
Os equipamentos estacionários em geral são formados por vários módulos, tais como: fonte de
corrente elétrica (1), bobina de magnetização e desmagnetização (2), barras de contato elétrico
(3), reservatório de suspensão líquida de partículas magnéticas (4), bomba (5) e sistemas de
controle (6). Um equipamento típico é mostrado na figura 6.
2 3
1, 4 e 5 embutidos no gabinete
2 3 4
Figura 7 – Equipamentos portáteis para inspeção com partículas magnéticas (ver texto).
1 1
1 1 2
Figura 8 – Dispositivos auxiliares (1) indicadores de campo magnético e (2) anel de Ketos.
1 2 3
4 6
Figura 9 – Dispositivos auxiliares (1) barra de teste de Yoke, (2) e (3) medidores de
intensidade de luz branca e ultravioleta, (4) e (6) medidores de campo magnético
e residual e (5) medidores por efeito Hall.
4. Materiais e Consumíveis
As partículas magnéticas receberam este nome e ele tem sido usado por razões históricas, mas na
verdade elas são facilmente magnetizáveis e não devem reter um magnetismo residual elevado.
Elas são, em geral, uma combinação de finas partículas de ferro e óxido de ferro, com a
aparência, quando secas, de uma farinha fina como a de trigo, e são o principal consumível usado
neste ensaio. Seu tamanho varia entre 0,2 µm e 0,4 mm, com distribuição granulométrica bem
controlada. Elas podem ser coloridas (também chamadas de visíveis) ou fluorescentes. A figura
10 mostra partículas coloridas vistas a olho nu e ao microscópio. As características desejáveis
para as partículas magnéticas são:
• devem possuir alta permeabilidade magnética;
• devem possuir baixa retentividade;
• devem ter o tamanho e a forma bem controlados;
• devem ser atóxicas e
• devem estar livres de sujeira, graxa e outros materiais que comprometam o seu uso.
As partículas magnéticas fluorescentes secas estão também disponíveis, mas não são muito
utilizadas devido ao seu alto custo e limitações de uso.
O uso das partículas magnéticas fluorescentes requer a utilização de luz negra e a disponibilidade
de uma área de trabalho escura, requisitos geralmente não disponíveis para trabalhos em campo,
onde o método a seco é o mais adequado.
As partículas secas são aplicadas, em geral, por aspersores de borracha, como os mostrados na
figura 11.
Quanto à forma, as partículas podem ser esféricas ou alongadas. Partículas esféricas apresentam
maior facilidade para formar aglomerados, mas são mais difíceis de magnetizar.
5. Técnicas de Inspeção
Diversas técnicas podem ser usadas na inspeção com partículas magnéticas, dependendo dos
materiais e equipamentos disponíveis e da sensibilidade desejada. Com relação às partículas,
pode-se usar a técnica a seco ou úmida e a visível ou fluorescente. Quanto à magnetização, esta
pode ser total ou parcial em relação ao objeto inspecionado, pode ser longitudinal ou transversal
(ou circular) em relação ao eixo principal da peça, e ainda pode-se usar a magnetização contínua
ou residual. Quanto ao tipo de corrente elétrica usado para induzir os campos magnéticos, esta
pode ser alternada ou contínua, retificada em meia onda ou onda completa,
O ensaio com partículas secas é geralmente superior ao ensaio por via úmida para a detecção de
descontinuidades próximas à superfície, no exame de objetos grandes, com o uso de
equipamentos portáteis para magnetização local e também quando a magnetização é realizada
utilizando-se uma fonte de corrente retificada de meia onda, situação em que a mobilidade das
partículas é maior para descontinuidades relativamente profundas.
Esta técnica entretanto não pode ser utilizada em áreas confinadas sem a utilização de protetores
para respiração, a probabilidade de detecção de descontinuidades superficiais finas é bem menor
do que a obtida pela técnica por via úmida e as taxas de produção são menores dos que as obtidas
utilizando-se a técnica via úmida. A técnica do pó seco ainda apresenta dificuldades para
adaptação em sistemas de movimentação para a realização dos exames e é difícil de ser utilizada
em posições de magnetização sobre-cabeça.
A inspeção com partículas fluorescentes requer uma câmara escura e o uso de luz ultravioleta
com intensidade mínima de 1000 µW/cm2 na superfície examinada e o tempo de espera no
ambiente escurecido deve ser de pelo menos 5 minutos antes de se iniciar o exame.
A magnetização total ou parcial vai depender do tamanho das peças ou da área a ser examinada e
dos equipamentos disponíveis. A figura 13 mostra estas técnicas, usando um equipamento
estacionário e barras de contato, respectivamente. Em ambos os casos a magnetização é obtida
pela passagem de corrente elétrica pelas peças em exame.
(a) (b)
Figura 13 – Magnetização total (a) usando uma bobina e local (b) usando barras de contato
para inspeção com partículas magnéticas.
Quando se usa “yoke”, a magnetização deve ser tal que se consiga levantar a barra de teste
mostrada na figura 9 (1) com as pernas do “yoke” nas mesmas condições em que será usado
durante o ensaio.
Corrente
Quando a magnetização é feita com barras de contato, a corrente necessária para produzir
magnetização adequada dependerá da distância entre as barras de contato e da espessura da peça.
Recomenda-se uma corrente entre 90 e 110 A para cada 2,5 cm de separação entre as barras, se a
espessura for de até 2 cm. Para espessuras superiores a corrente deverá ser entre 100e 125 A para
cada 2,5 cm de separação entre as barras de contato. Distâncias inferiores a 8 cm em geral não
são usadas devido à tendência das partículas se aglomerarem na região de união das barras de
contato com a peça, dificultando a interpretação.
Se a magnetização for obtida por condução entre as extremidades da peça, a corrente necessária
é da ordem de 1.000A para cada 2,5 cm de diâmetro da peça. No caso de uso de condutor central
são usadas correntes de 100 a 1.000 A por polegada (2,5cm) de diâmetro do furo por onde
passará o condutor. É bom lembrar que a intensidade do campo cai com o quadrado da distância
ao centro do condutor.
Corrente alternada produz campo magnético alternado, com inversão de polaridade na mesma
freqüência da corrente elétrica, o que dá maior mobilidade às partículas e maior sensibilidade ao
ensaio. Contudo, campos alternados se propagam apenas pela superfície da peça e portanto essa
técnica não permite a detecção de descontinuidades sub-superficiais. Corrente contínua retificada
em meia onda permite ainda uma certa mobilidade das partículas, menor que em corrente
alternada. Corrente contínua com retificação em onda completa resulta na maior penetração
possível e menor mobilidade, sendo geralmente usada com partículas em suspensão líquida, o
que compensa pelo menos parcialmente a menor mobilidade. A figura 16 mostra a forma de
onda destes três tipos de corrente.
Indicações falsas são aquelas que aparecem mas não são causadas por descontinuidades e sim
por falhas de operação, como preparação inadequada da peça, ou uso errado do equipamento e
materiais.
As indicações irrelevantes são aquelas associadas com a geração de campos de fuga em regiões
onde existem variações conhecidas e esperadas, em função da geometria das peças ou do
processamento sofrido, tais com cantos em rasgos de chaveta ou limite entre uma região
cementada e outra não cementada, por exemplo.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 17 – Indicações do ensaio com partículas magnéticas fluorescentes (a) e (b) trincas
de forjamento e (c) e (d) trincas devidas ao tratamento térmico. (CONFERIR)
(a) (b)
6. Desmagnetização
Em muitas situações é necessária a desmagnetização da peça após a inspeção com partículas
magnéticas, pois o magnetismo residual pode ser prejudicial ao funcionamento ou ao uso
posterior do material ensaiado. Por exemplo, se a peça vai ser usinada após o ensaio, cavacos de
usinagem podem ficar grudados na peça, prejudicando ou até mesmo impedindo a operação.
7. Aplicações
O ensaio com partículas magnéticas, como já dito, só é aplicável a materiais ferromagnéticos. No
que se refere aos processos de fabricação, o ensaio pode ser aplicado a peças usinadas, fundidas,
forjadas, soldadas e outras, tratadas ou não termicamente, intercalado ou após o processamento.
Quanto ao tipo de indústria, este ensaio tem sido usado na fabricação e manutenção metal-
mecânica em geral, como caldeirarias, tubulações, industriais naval, ferroviária, automobilística,
de máquinas e equipamentos agrícolas, estruturas etc.