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RESUMO DA PARTE GERAL DO CÓDIGO CIVIL

1 – DAS PESSOAS JURÍDICAS:

São o conjunto de pessoas físicas e de bens, dotado pelo Estado de personalidade, para juntar esforços e realizar
grandes empreendimentos; a PJ permite ao homem superar seus limites físicos e ultrapassar a brevidade de sua
vida; como a PF, a PJ também tem um nascimento, registro, capacidade, domicílio, morte e sucessão; no séc. XX a
PJ desenvolveu-se muito e hoje tudo é feito por associações, sociedades e fundações; ao contrário da PF, cuja
capacidade de regra é plena, a capacidade da PJ é limitada a sua finalidade, prevista no estatuto que a criou; as PJ
podem ser de direito público e de direito privado, interessando estas ao direito civil pois beneficiam particulares;

As associações não tem fins lucrativos, ao contrário das sociedades que vão interessar ao direito empresarial; já a
fundação é um patrimônio despersonalizado destinado a um fim altruísta indicado pelo fundador, fiscalizada pelo
MP; diz-se “despersonalizado” pois o gestor da fundação não é seu sócio, é mero administrador; quando a PJ for
usada para lesar terceiros (ex: fraudar credores), o Juiz deve desconsiderá-la para responsabilizar seus sócios e
membros, ou seja, como se o ato fosse praticado por uma PF; isto porque, via de regra, a PJ é distinta dos seus
membros, apesar de serem eles que a representam e agem por ela.

A PJ tem por domicílio o lugar de sua sede prevista em estatuto; domicílio é importante para fins civis, processuais
(competência), eleitorais e fiscais (tributários); admite-se a pluralidade de domicílios; algumas pessoas têm
domicílio fixado por lei.

3 – DOS BENS: são os objetos raros e úteis ao homem que podem ser apropriados (propriedade = direito real +
importante).

Classificação dos bens:

a) Incorpóreos (direito autoral, fundo de comércio) e corpóreos (a grande maioria), estes sujeitos à posse e à
usucapião;
b) Móveis (podem ser deslocados sem dano), Semoventes (seres com movimento próprio) e Imóveis (não podem
ser deslocados);
c) Fungíveis (são os móveis que podem ser substituídos por outros, ex: dinheiro), Consumíveis (se exaurem com o
uso normal, como os alimentos) e Infungíveis (individuais como os imóveis e uma obra de arte);
d) Divisíveis (imóvel, pois forma coisa autônoma com valor proporcional ao todo) e Indivisíveis (diamante grande,
barco, carro)
e) Singulares (um livro, um boi) e Coletivos (universalidade de fato = biblioteca, rebanho; universalidade de
direito = complexo de rel. jurídicas = patrimônio, herança, massa falida);
f) Principais e acessórios: o acessório segue o principal e pode ser: natural (frutos e produtos), industrial
(derivado do trabalho humano) e civil (juros, aluguel, rendimentos); as pertenças via de regra não são acessórios,
mantendo sua individualidade e autonomia, sem incorporação à coisa principal; as pertenças são empregadas
intencionalmente para exploração, aformoseamento ou comodidade da coisa principal (ex: som num automóvel,
lustre e cortina numa casa).
Benfeitorias: são acessórios industriais, decorrentes do trabalho humano, ou seja, são obras feitas para conservar,
melhorar ou embelezar a coisa principal.
g) Públicos e particulares, mas há bens que a ninguém pertencem (res nulius, que difere da res amissa, que difere
da res derelictae); outros bens estão fora do comércio (ex: bens públicos, bens inaproveitáveis como o ar, a luz do
sol, a areia da praia, a água do mar; bens inalienáveis por determinação do dono em favor de terceiros nas doações
e testamentos; bem de família.

Obs.: sobre o Bem de Família: são bens protegidos pela lei com a inalienabilidade e impenhorabilidade para
garantir a família com uma moradia. É exceção à regra de que o proprietário não pode tornar seus bens
impenhoráveis, já que a garantia do credor é o patrimônio do devedor. No CC existe o bem de família voluntário,
que exige um custo para registro. Já na lei 8.009/90, temos o bem de família legal, com proteção automática,
independente de registro, de modo que o bem de família voluntário tem pouco uso prático. Crítica: dificulta a
obtenção de crédito por quem só tem um imóvel residencial, privando os maus e bons pagadores de acesso a
crédito.
4 – DOS FATOS JURÍDICOS

São fatos jurídicos os acontecimentos, eventos que, de forma direta ou indireta, acarretam efeito jurídico. Nessa
linha, admitimos a existência de fatos jurídicos em geral, em sentido amplo, que compreendem tanto os fatos
naturais, sem interferência do homem, como os fatos humanos, relacionados com a vontade humana.

Assim, são fatos jurídicos a chuva, o vento, o terremoto, a morte, bem como o usucapião, a construção de um
imóvel, a pintura de uma tela, pois apresentam, com maior ou menor profundidade, conseqüências jurídicas.

Fatos Jurídicos 1. Fatos naturais (fatos jurídicos em sentido estrito)


2. Atos jurídicos
(atos humanos ou Lícitos Meramente lícitos
jurígenos)
Ilícitos Negócios Jurídicos

Assim, são considerados fatos jurídicos todos os acontecimentos que podem ocasionar efeitos jurídicos, todos os
atos suscetíveis de produzir aquisição, modificação ou extinção de direitos.

Classificam-se em
− ordinário (art. 2º, 6º CC) Decurso de tempo
− extraordinário (terremotos, enchentes, caso fortuito)

Atos jurídicos meramente lícitos são os praticados pelo homem sem intenção direta de ocasionar efeitos jurídicos,
tais como a invenção de um tesouro, plantação em terreno alheio, esses atos podem ocasionar efeitos jurídicos, mas
não têm, em si, tal intenção. Esses atos não contém um intuito negocial. animus

O CC procurou ser mais técnico e trouxe a redação do art. 185: “Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios
jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior.”

Quando existe por parte da pessoa a intenção específica de gerar efeitos jurídicos ao adquirir, resguardar, transferir,
modificar ou extinguir direitos, estamos diante do negócio jurídico. Assim, serão negócios jurídicos tanto o
testamento, que é unilateral, como o contrato, que é bilateral, negócios jurídicos por excelência.

Já nos atos meramente lícitos não encontramos o chamado intuito negocial. Neste último caso, o efeito jurídico
poderá surgir como circunstância acidental do ato, circunstância esta que não foi, na maioria das vezes, sequer
imaginada por seu autor em seu nascedouro.

Os atos ilícitos que promanam direta ou indiretamente da vontade, são os que ocasionam efeitos jurídicos, mas
contrários, lato sensu, ao ordenamento.

Há ato ilícito civil em todos os casos em que, com ou sem intenção, alguém cause dano a outrem, transgredindo
uma norma ou agindo contra o Direito.

Há situações em que está presente a intenção de praticar o dano. Tem-se aí o chamado dolo. Quando o agente
pratica o dano com culpa, isto é, quando seu ato é decorrente da imprudência, negligencia ou imperícia, e decorre
daí um dano, também estaremos no campo do ilícito civil. O presente Código, no art. 186 reza: “aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

negligencia → omissão
imprudência → praticar o ato ilegal
imperícia → praticar ato ilícito com ignorância ou incapacidade
5 - MODIFICAÇÃO DE DIREITOS

Os direitos podem ser alterados sem que ocorram mudanças em sua substância. Tais alterações podem residir nos
respectivos titulares ou em seu conteúdo.

Os direitos podem passar por alterações qualitativas (cheque por $$ → não muda a substância) ou quantitativas
(fenômeno do aluvião → aumenta ou diminui a terra) em seu objeto ou por transformações quanto à pessoa titular
do direito.

É subjetiva a modificação quando se altera a pessoa titular do direito.Ex. cessão de crédito, transferência causa
mortis, Litisconsorte ativo e passivo.

LP → denúncia de outro réu na ação; Governo contrata empresa que não paga os funcionários, estes entram
também contra o Governo.
LA → vários autores, morre um e os filhos sobem como autores

É objetiva, a modificação que atinge o objeto da relação jurídica, ora no tocante às qualidades ($$$ por cheque), ora
no tocante à quantidade (Aluvião, mais ou menos terras) do direito.

Defesa dos Direitos

a) Atos de Conservação → evita o perecimento do direito (medidas cautelares) Ex. Sustação de protesto;
b) Atos de Defesa do direito → quando já ocorreu a cessão (Art. 5º XXXV CF)
c) Atos de Defesa preventiva → antes da violação de ameaça evidente (art 1210 CC) Ex. Arras (sinal de negócio),
Fiança, Cláusula penal – interdito proibitório
d) Auto-tutela: ocorrida a violação, admite-se a autotutela por exceção (art 1210 §1 final CC)

Para o exercício do direito material há caminho a ser percorrido, quando violado ou ameaçado. Tal caminho, ou
procedimento, denomina-se direito adjetivo, direito processual.

O processo só tem sentido para a realização do direito material; o direito de ação só existe para garanti-lo. O direito
processual é meio, enquanto o direito material é fim.

O direito material ou substantivo deve ser denominado de objetivo. E direito adjetivo ou processual deve ser
denominado de subjetivo. (norma agendi)

O direito material é geral e abstrato, porque regula um sem-número de situações e comportamentos, hipóteses
ideais. O direito subjetivo regula a situação particular e concreta, já consubstanciada numa situação fática.

A ação é meio de concretização do direito processual. Sem ela, o direito material torna-se letra morta. (faculta
agendi)

Caminho do processo → conflito de interesses → composição


 sim → fim
 não → volta ao direito de ação → LIDE (confronto judicial)

Legítimo interesse: Condições da Ação

No atual CPC, art 3º se verifica: “Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade”.

1 – interesse de agir → A ação se adequa aos Fatos Carência


2 – Possibilidade jurídico do pedido → é possível é lícito? da
3 – legitimidade das partes → são legítimas? Ação

Por fim, é de lembrarmos, na ausência de qualquer das condições da ação, acima citadas, o juiz deverá decretar o
que se denomina carência da ação, situação de extinção do processo sem julgamento do mérito, deixando de
examinar o cerne da questão posta em juízo, que se denomina de mérito.
6 - EXTINÇÃO DE DIREITOS

A perda do direito, que é seu desligamento do titular, passando a existir o direito no patrimônio de outrem, Ex.
Poder Familiar, Confusão da extinção propriamente dita, que é o conceito que enfoca o desaparecimento do direito
para qualquer titular. Ex. morte

Existe também desaparecimento ou perda do direito para o titular com a alienação. Alienar é transferir pela própria
vontade o objeto do direito. Ex. Doação e testamento.

Os direitos extinguem-se igualmente pela renúncia, quando o titular abre mão de seu direito, sem transferi-lo a
outrem. É o abandono voluntário do direito. Ex. renúncia da herança

Em geral, todos os direitos de cunho privado são renunciáveis, não o sendo os direitos públicos que são
indisponíveis, assim como os direitos de ordem pública, como os de família puros (pátrio poder, poder marital).
Inércia do titular do direito: O titular do direito, por sua vez, dependendo da circunstância, deverá praticar
determinados atos para não perder o direito passível de prescrição ou decadência.

Um pouco diverso da renúncia é o abandono. Trata-se também de ato voluntário que pressupõe o aspecto objetivo,
o ato de deixar a coisa, e o aspecto subjetivo, o propósito de abandonar. No abandono, a intenção é implícita. A res
derelicta é a coisa abandonada. Distingue-se o abandono da renúncia, porque, no primeiro, a intenção é implícita e,
na segunda, a intenção é explícita.

Também ocorre perda de direitos quando se dá a confusão, isto é, numa só pessoa se reúnem as qualidades do
credor e devedor.

7 - NEGÓCIOS JURÍDICOS

Conceito: Consiste na manifestação da vontade que procura produzir determinado efeito jurídico.

Art. 104 A validade do negócio jurídico requer:


I – agente capaz;
II – objeto lícito, possível determinado ou determinável;
III – forma prescrita ou defesa em lei.

- Classificação dos negócios jurídicos

Unilaterais são aqueles para os quais é suficiente e necessária uma única vontade para a produção de efeitos
jurídicos, como é o caso típico do testamento.
a) aqueles cuja manifestação de vontade depende do conhecimento de outra pessoa. (renúncia, revogação)
b) O conhecimento por parte de outrem é irrelevante. Ex:(confissão de dívida)

Bilaterais: são negócios que dependem sempre da manifestação de duas vontades, existindo também atos
plurilaterais, com manifestação de mais de duas vontades. Ex. O casamento.

São negócios jurídicos complexos aqueles em que há um conjunto de manifestações de vontade, sempre mais de
uma, sem existirem interesses antagônicos, como o contrato de sociedade.

São negócios jurídicos causais (concretos ou materiais) os que estão vinculados à causa que deve constar do
próprio negócio, como é o caso dos contratos em geral. (Ex. Discussão do mérito → discussão da dívida com a
causa do não pagamento, produto estragado); São abstratos (ou formais) os negócios que tem existência
desvinculada de sua causa, de sua origem. Estes últimos produzem efeito independentemente de sua causa, como é
o caso dos títulos de crédito (nota promissória, letra de câmbio).

Quanto ao seu objetivo, podem os negócios: Oneroso, uma parte cumpre sua prestação para receber outra, como é
o caso da compra e venda; Gratuitos, como a doação, só há uma prestação de uma das partes; há diminuição
patrimonial de uma delas com o aumento patrimonial da outra. (comodato também)

Os negócios jurídicos onerosos podem ser, ainda, comutativos, quando as prestações são equivalentes, certas e
determinadas, (pago x recebo y) e aleatórios, quando a prestação de uma das partes depende de acontecimento
incertos e inesperados; a álea, a sorte, é elemento do negócio, como é o caso do contrato de seguro. (contrato de
futuros)

Negócios jurídicos solenes ou formais são os que têm validade se revestidos de determinada forma. É o caso dos
contratos de casamento. Negócios jurídicos não solenes são os de forma livre; não exigem forma especial.

Podem ser os negócios jurídicos divididos:Pessoais são os que se ligam às disposições de família, como o
casamento, o reconhecimento de filho, a emancipação. Patrimoniais são os que contém um relacionamento com o
patrimônio, como o testamento e os contratos.

Podem ainda ser considerados os negócios de pura administração, que não implicam transferência do domínio ou
disposição de direitos, e os de disposição, que implicam a transferência de direitos, havendo aí a diminuição do
patrimônio do declarante.

Consideram-se também, os atos inter vivos e os mortis causa. Dizem-se mortis causa os atos e negócios jurídicos
que têm por finalidade regular o patrimônio de uma pessoa após sua morte, como o testamento. São inter vivos os
que não têm esse escopo, como a compra e venda.

Plurilaterais: Mais de 3 partes (Contrato social, contrato de banda de rock e empresário)

8 – DOS DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

A vontade espontânea é o elemento principal dos negócios jurídicos, e tal vontade deve corresponder ao desejo da
pessoa; porém tal vontade pode ser perturbada por algum vício, por algum defeito, capaz de ensejar a anulação ou
até a nulidade do negócio jurídico; tais defeitos são:

− o erro ou ignorância: é o desconhecimento de um fato que leva o agente a emitir sua vontade de modo diverso
do que a manifestaria se tivesse conhecimento exato daquele fato; o erro facilmente perceptível não anula o
negócio para não trazer grande instabilidade às relações jurídicas: pessoa de diligência normal; o erro importa
em verdadeiro prejuízo ao declarante; a anulação de um NJ por erro deve ser pleiteada em ação ordinária no
prazo de quatro anos, valendo o negócio até a sentença.
− dolo: enquanto o erro decorre de equívoco da própria pessoa, que se engana sozinha, o dolo é o erro provocado
na pessoa pela outra parte do negócio; o erro é espontâneo e o dolo é provocado; o dolo é a provocação
intencional de um erro através de ações maliciosas, ou da própria omissão, prejudicando a parte em benefício
do autor do dolo ou de terceiro; no dolo existe vontade de enganar, é o “dolus malus”, diferente do “dolus
bonus”, que é tolerado por ser facilmente perceptível (ex: propaganda comercial); o dolo não se presume e
precisa ser provado pela parte enganada, que pode exigir anulação do negócio mais perdas e danos; se ambas as
partes agiram com dolo, nada podem pleitear, afinal ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.
− coação: quem pratica negócio jurídico sob ameaça moral ou patrimonial, tem a vontade viciada e o negócio é
anulável; se sofre violência física o ato é nulo pois a vontade inexiste (ex: apontar arma – coação absoluta); a
coação é a ameaça injusta e séria capaz de provocar temor; enquanto o dolo atinge a inteligência da parte, a
coação atinge a liberdade da parte; na violência física (ex: o contrato ou a vida), a parte não tem opção, por isso
o negócio é nulo; já na ameaça (coação relativa) a parte pode optar entre realizar o negócio exigido ou sofrer as
conseqüências da ameaça (ex: sofrer calúnia, desonra por um segredo revelado); não há coação se a ameaça é
justa (ex: protestar título vencido, pedir a prisão do devedor de alimentos) ou decorre de temor reverencial
(receio de desgostar amigos e parentes);
− estado de perigo: é semelhante ao estado de necessidade do Direito Penal; o indivíduo, diante das
circunstâncias, não possui outra alternativa e assume obrigação excessivamente onerosa; ex: prestar elevada
caução (cheque) em hospital para internar parente; o Juiz deve manter o negócio reduzindo o valor da prestação
com razoabilidade.
− lesão: o negócio jurídico pode ser viciado quando há desproporcionalidade nas prestações, afinal um contrato
pressupõe trocas úteis e justas, e ninguém contrata para ter prejuízo; é modo de proteger a parte
economicamente mais fraca dando-lhe superioridade jurídica – dirigismo contratual; considera-se viciada a
vontade de quem age sob necessidade (semelhante à coação, ex: comprar água por uma fortuna durante uma
seca) ou por inexperiência (semelhante ao dolo, ex: médico comprando fazenda); a lesão enseja a nulidade do
negócio em quatro anos e o retorno ao estado anterior;
− fraude contra os credores: é a diminuição maliciosa do patrimônio para prejudicar credores antigos (quem
contrata com pessoa já insolvente não encontra patrimônio garantidor), pois a garantia do credor quirografário
é o patrimônio do devedor (primitivamente era o próprio corpo do devedor, que podia ser preso, escravizado ou
esquartejado); credor quirografário é o credor sem garantia real, ex.: hipoteca, penhor; ou sem garantia pessoal,
ex.: aval, fiança; o ANIMUS NOCENDI não é relevante pois presume-se a fraude (presunção absoluta) desde
que o devedor esteja insolvente (dívidas superiores aos bens ativos; não se aplica aos devedores solventes) e
efetuou alienação gratuita (doação) ou perdoou dívidas; a alienação onerosa (compra e venda, troca) também é
anulável, quando feita a parente ou amigo; chama-se de “pauliana” a ação que vai anular o negócio e devolver
o bem ao patrimônio do devedor para ser alvo de execução por seus credores; a fraude à execução é diferente,
pois já existe ação judicial em curso; o art. 1.813 do CC (renúncia à herança) também visa coibir fraude contra
os credores.
− simulação: é mais grave do que os demais pois é defeito que enseja a nulidade, e não apenas a anulabilidade
do negócio; há simulação quando em um negócio se verifica intencional divergência entre a vontade (interna) e
a declaração (externa) das partes, a fim de enganar terceiros; ou seja, a simulação é a declaração enganosa da
vontade entre as partes de um negócio para prejudicar terceiros (ex: contrato a preço vil para não pagar
imposto; atestado médico falso; compra e venda aparentando doação para não ser aquesto); enquanto no dolo
uma parte engana a outra, na simulação ambas as partes enganam terceiro; na fraude o devedor insolvente
realiza negócio verdadeiro para prejudicar credores, na simulação o negócio é aparente, as partes, insolventes
ou não, não têm intenção de praticar tal negócio; o negócio simulado é nulo e imprescritível por opção do
legislador no novo código (antes era apenas anulável).

9 – DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

Negócios jurídicos Nulos: Pela nulidade absoluta o ato não tem valor algum. Não produz efeito algum, nem em
juízo nem fora, porque tal ato, em verdade, nunca existiu.

− Ato celebrado por pessoa absolutamente incapaz: As pessoas absolutamente incapazes estão relacionadas pelo
art. 3.º do CC. Estão proibidas de praticar o ato-negócio jurídico pessoalmente.
− Quando ato for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto:
a) Objeto ilícito: é aquele proibido pela lei.
b) Objeto impossível: se o objeto do ato é impossível de realizar-se, ele não existe, é plenamente nulo.
1) o objeto juridicamente impossível se confunde com o objeto ilícito;
2) o objeto fisicamente impossível é aquele que resulta incompatível com as leis da natureza.
c) Objeto indeterminável: deixa de ter fundamento legal quando o objeto do negócio jurídico é identificável.
− Quando o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito: Se ambas as partes se orquestrarem para
obter fim ilícito, haverá nulidade.
− Ato não revestido da forma prescrita em lei: O ato em que se desprezou a forma prescrita em lei é nulo. Ato em
que tenha sido preterida alguma solenidade que a lei considera essencial para a sua validade.
− Ato que tiver por objetivo fraudar lei imperativa: Quando o objetivo do negócio jurídico for fraudar dispositivo
expresso de lei, a nulidade opera-se de pleno direito.
− Ato declarado nulo de modo taxativo pela própria lei: A própria lei, em muitos casos, dita expressamente a
nulidade, como se pode observar: Ex. “É nulo o casamento contraído: I – pelo enfermo mental sem o
necessário discernimento para os atos da vida civil; II – por infringência de impedimento”. (Art. 1.548 do
Código Civil).
− Ato que estiver revestido de simulação: É nulo o negócio jurídico simulado. Consiste a simulação em celebrar-
se um ato, que tem aparência normal, mas que, na verdade, não visa ao efeito que juridicamente devia produzir.
Como em todo negócio jurídico, há aqui uma declaração de vontade, mas enganosa.

Quem pode alegar nulidade absoluta: Qualquer interessado pode levar ao conhecimento do juiz a existência do ato
negocial nulo e em qualquer ocasião; o Ministério Público também tem legitimidade. Não há necessidade de se
propor qualquer ação de nulidade. Quando o juiz toma conhecimento, desde que fique provada a nulidade absoluta,
apenas declara a ineficácia; não a decreta.

Prescritibilidade do ato nulo: Não são todos os atos nulos que prescrevem em 10 anos, sendo o ato que trata do
estado ou da capacidade das pessoas, ou ainda, de direitos não patrimoniais, é imprescritível.

Ato anulável: O ato anulável é a ação válida no momento de sua prática, produzindo efeitos, mas que pode ser
anulado, se assim o requerer, judicialmente, o interessado, dentro do prazo legal. Havendo negócio jurídico
anulável os seus efeitos fluem normalmente até o momento em que se declara judicialmente a nulidade. Portanto,
ato anulável é válido enquanto não desfeito por decreto judicial.

Os negócios jurídicos anuláveis: Art. 171


− Ato praticado por pessoa relativamente incapaz: Os atos praticados por pessoa relativamente incapaz, sem
assistência de seu legítimo representante, são anuláveis A decretação de tal ineficácia fica, portanto, ao arbítrio
do lesado.
− Ato praticado por erro, dolo, coação, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão (Art. 178): Existindo um
dos vícios de consentimento (erro, dolo, coação, etc.), ou um dos vícios sociais (fraude contra credores), ocorre
a anulabilidade e, poderá ser decretada a ineficácia desses atos, desde que fique provado o respectivo vício.

Quem pode alegar a anulabilidade: (Art. 177) Os interessados são aqueles a quem a nulidade não aproveita, no seu
interesse particular. Portanto, o direito de pedir a anulação do ato cabe ao incapaz, evidentemente, quando alcançar
a capacidade plena; também seus sucessores, bem como determinados terceiros que sofram a influência dos atos,
podem ingressar com a ação anulatória, como o caso do credor prejudicado, na fraude. Se tratar de solidariedade ou
indivisibilidade, a sentença produzirá efeitos sobre todo o negócio, decretada judicialmente a nulidade do negócio a
pedido deste, necessariamente a sentença atingirá os demais adquirentes.

Ratificação do ato anulável: (Art. 172) Por meio da ratificação, o vício de que se ressente o ato é expurgado, pois
ato anulável é aquele válido no momento em que ele é praticado, mas pode ser anulado por meio de uma ação
judicial anulatória. A ratificação tácita poderá dar-se de duas maneiras:
− quando o devedor, consciente do defeito do ato, tiver cumprido em parte a obrigação. (Art. 174)
− a ação anulatória está sujeita à prescrição, como determina art. 178. É como se quisesse ver o ato convalidado.
É, enfim, uma ratificação presumida..

Conseqüência: (Art. 175) extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor.

Os efeitos da anulabilidade: (Art. 182) Ex. decretada a nulidade de uma venda, o vendedor terá que restituir o preço
e o comprador a coisa adquirida; não sendo possível restituir a coisa no estado anterior, a parte será indenizada com
o equivalente. Havendo oposição, o prejudicado terá direito subjetivo de ajuizar a ação de indenização.

Da inexistência do negócio jurídico: Em referência a nosso Direito Positivo, no plano dos atos inexistentes, estes
não estão regulados em norma alguma. A doutrina é que trata do assunto e tem como ato inexistente aquele que não
chegou a configurar-se como ato jurídico, em virtude da falta de um dos seus elementos constitutivos. Ex.
casamento de duas pessoas do mesmo sexo. Uma compra e venda em que haja omissão do preço e do objeto é
outro exemplo de ato inexistente.

10 – DOS ATOS ILÍCITOS

Conforme classificação supra dos Fatos Jurídicos, os atos ilícitos são praticados pelos homens mas produzem
efeitos jurídicos contrários à lei; seu autor será punido financeiramente se provocou um dano, patrimonial ou
moral, a outrém.

O AI tem quatro elementos: 1) ação ou omissão de alguém; 2 ) culpa “lato sensu” (abrange o dolo e a culpa stricto
sensu; a culpa pode ser contratual, ou extracontratual, que é a culpa do AI, também chamada “aquiliana”); 3)
violação de direito privado (se violar direito público, pode configurar crime e ensejar duas sanções); 4) dano
(patrimonial ou moral; o dano é mais importante do que a culpa, pois eventualmente existe responsabilidade sem
culpa)

Não são atos ilícitos aqueles do art. 188: legítima defesa, exercício regular de um direito e estado de necessidade.

Abuso de Direito: é o ato praticado no exercício irregular de um direito, sem vantagem para o praticante (ex: enviar
“spam” pela internet; greve de juiz, médico, policial, motorista de ônibus; cerca elétrica em muro baixo; proibir a
avó de visitar o neto; construir chaminé alta para prejudicar vizinho que tem ultra-leve); o juiz deve analisar a
irregularidade, fixar uma indenização e destruir o ato abusivo; trata-se de regra de harmonia social, pela qual o
direito de um termina onde começa o do outro.
11 – PRESCRIÇÃO

O passar do tempo é um fato jurídico “stricto sensu” ordinário de grande importância pois conduz à prescrição;
conceito de prescrição: perda da ação atribuída a um direito violado, em conseqüência do não uso dessa ação
durante certo lapso de tempo; a prescrição se justifica para dar estabilidade das relações sociais; a prescrição
extingue o exercício do direito e não o direito em si; a prescrição é matéria de ordem pública, muito importante
para o ordenamento jurídico, de modo que só a lei (e não o contrato) pode declarar os direitos que são prescritíveis
e por que prazo; a prescrição pode ser renunciada por aquele a quem favorece (ex: a dívida está prescrita, mas o
devedor quer pagar ao credor e não alega a prescrição que lhe beneficiaria – obrigação natural; o juiz não pode
declarar de ofício).

A prescrição pode não correr por:


− impedimento: é obstáculo ao início do prazo prescricional.
− suspensão: é a parada do curso do prazo após ter se iniciado; o tempo decorrido é integrado no prazo após o
reinício, ou seja, aproveita-se o prazo já percorrido, considera-se o tempo anterior.
− interrupção: inutiliza-se a prescrição em curso, determinando o reinício da contagem do prazo prescricional, ou
seja, o prazo recomeça todo.

Toda ação de regra é prescritível nos prazos dos arts. 205 e 206, mas alguns direitos são imprescritíveis como os
direitos de personalidade: vida, honra, nome, ação de divórcio, investigação de paternidade, pedir alimentos; os
direitos potestativos (só dependem de um para ser exercido), exs: despedir empregado, revogar procuração; os bens
públicos são também imprescritíveis, ou seja, terceiros não adquirem pela usucapião – prescrição aquisitiva.

12 – DECADÊNCIA

É a perda de um direito pelo decurso do prazo (tempo) fixado para seu exercício, sem que o titular o tivesse
exercido (inércia). Enquanto a prescrição extingue diretamente as ações e indiretamente o direito, a decadência
extingue diretamente o direito. Possui o mesmo efeito da prescrição, pois em qualquer caso haverá a extinção de
um direito, tanto que a doutrina tem dificuldade em diferenciá-las.

Ex: Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da data da celebração, é de:
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550;
II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante;
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557;
IV - quatro anos, se houver coação.

13 - DISTINÇÃO ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA:

Apesar de serem institutos similares, a decadência não se confunde com a prescrição, uma das características da
prescrição é que a ação tenha nascido, isto é, que seja exercitável. A decadência, por seu lado, extingue o direito
antes que ele se torne efetivo pelo exercício, impedindo o nascimento da ação.

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
Tem por efeito extinguir a ação Tem por efeito extinguir o direito
Pode ser suspensa ou interrompida pela causas Não é suspensa nem interrompida e só é impedida
expressamente colocadas na lei pelo exercício do direito a ela sujeito
O prazo é fixado por lei para o exercício da O prazo pode ser estabelecido pela vontade
ação que o protege unilateral ou bilateral, uma vez que se tem em
vista o exercício do direito pelo seu titular
Pressupõe ação cuja origem é distinta da do Pressupõe ação cuja origem é idêntica à do direito,
direito, tendo, assim, nascimento sendo por isso simultâneo o nascimento de ambos.
posteriormente ao direito.
Das ações patrimoniais não pode ser decretada Deve ser reconhecida de oficio pelo juiz e
ex officio, e depende sempre da alegação do independe da argüição do interessado.
interessado.
Admite renúncia por parte dos interessados, Em qualquer hipótese, não pode ser renunciada.
depois de consumada.
Não opera para determinadas pessoas Opera contra todos
elencadas pela lei.

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