Movimento e estrutura do método dialético e suas características
Lima Vaz expõe o processo de determinação do sujeito em estruturas e regiões
categoriais. O ser humano somente é capaz de autodeterminar-se quando é capaz de fazer-se a si mesmo em meio a um ambiente que propõe risco de reducionismo, ou seja, de alienação. Esse processo de autodeterminação se dá a partir de três modos, que são: homem sujeito e forma, estes modos são baseados no modo de vida, levando em conta a própria historicidade humana. Para que isso aconteça, há três níveis de pré-compreensão pelo qual geram a autodeterminação do sujeito humano, que são: a pré-compreensão, compreensão explicativa e a compreensão filosófica. O plano da pré-compreensão tem por determinação o próprio contexto histórico- cultural que tem por dominação certa imagem humana que deriva de uma experiência natural, ou seja, com a sua própria vivencia o homem se estrutura mental-psicologicamente, gerando assim, a consciência de si exprimida pela intelectualidade do mesmo ser humano. A compreensão explicativa tem por base as ciências humanas, cujo tema central, tem por motivo, entender o ser humano e de modo especial compreende-lo obedecendo as regras próprias de cada ciência. A compreensão filosófica tem por objetivo a condição de possibilidade fazendo a experiência de si mesmo como ser capaz de dar razão ao seu próprio ser, ou seja, que torne capaz de formulas uma resposta à pergunta: que é o ser? Essa compreensão de quem é o ser humano somente é possível com a definição de categorias explicativas do ser, porém é uma dificuldade já que no mundo reina uma grande diversidade de cultura, o que gera dificuldade na pré-compreensão do ser enquanto ser. A filosofia enfrenta um grande problema para responder aquela pergunta exposta acima através de categorias, pois o homem se tornou fonte de diversos conhecimentos e, por conseguinte, tornou-se objeto e sujeito, ou melhor, é tornado objeto de pesquisa científica além de ser um portador de conhecimento. No homem-objeto foram incluídos os aspectos particulares de seu ser que podem objetivar-se através da experiência da compreensão filosófica, porém esta compreensão se torna auto-compreensão na medida em que o ente se entrecruza tematizando ou objetivando o sujeito como sujeito. O objeto é tratado aqui como sendo o homem-objeto, como já tratado acima, mas num papel em que produz o próprio saber em si, mas é na compreensão filosófica que são integrados os traços da imagem humana como modelo próprio da diversidade das ciências humanas. O conceito humano passa a tomar forma de categoria que exprime o objeto como, propriamente dito, ser a partir do domínio de sua inteligibilidade. É nas categorias que se encontram elementos que constituem o sujeito como tal em sua forma ontológica. As categorias tomam formas de discursos, de dialética, na medida em que exprime as formas de como o sujeito se constitui. Esta articulação é dialética, pois as categorias são substituídas em níveis mais profundos até atingir o nível que nos diz qual é a essência do ente. A partir desta perspectiva, é preciso dividir o significado da constituição do sujeito em três. O primeiro é a mediação empírica, no qual a natureza é o mundo da vida e forma de experiência natural, aqui o sujeito começa a se manifestar pelo pronome EU, o eu que produz história e cultura. O segundo é a mediação abstrata, pois nela o sujeito e a forma são mediações abstratas que estão presentes no conhecimento científico e humano. o terceiro é a mediação transcendental, em que a natureza é dada na própria experiência filosófica de objetivação do sujeito que faz o seu manifestar-se como o próprio sujeito. O sujeito passa a concretizar-se no EU PENSO tal como egoicidade ou qual ser absoluto que se conhece como tal na consciência- de-si, no qual o sujeito constitui um logos dando razão a si mesmo. A determinação do objeto é dada pelo momento aporético que é traduzido na problematização radical, o que gera a pergunta: o que é? Este objeto é o próprio sujeito, por tanto estas pergunta passa a ser a auto-afirmação do homem, ou seja, a sua autodeterminação. A autodeterminação do ser gera uma dialeticidade, que se supõe sempre em uma relação de oposição entre os seus termos e a suprassunção dos temas surgidos na ordem do discurso, além de garantir uma diversidade do próprio ser humano em seu movimento de complexidade e multiplicidade. O discurso se baseia em trás partes, que são: o princípio da limitação eidética, que é regido pelo caráter de não indução de nosso conhecimento, impondo assim a necessidade de exprimir o objeto na forma de conceito. A segunda divisão é o princípio da ilimitação tética, que decorre do dinamismo de que nosso conhecimento aponte para a ilimitação do ser. A terceira e ultima divisão dialética é o princípio de totalização, no qual o movimento dialético do discurso deva ser alvo de igualdade entre o objeto e o ser. Esta dialeticidade visto acima, se define como discurso sobre as categorias. As linhas gerais de estudo da antropologia filosófica se baseiam nestas categorias, estas se dividem em regiões estruturais ou níveis estruturadores do ser, que são: estrutura somática, ou corpo próprio, estrutura psíquica, ou psiquismo, e estrutura espiritual, ou espírito. Estes três conceitos exprimem orientações para o homem, que também se dividem em três: relação com o mundo, ou objetividade, relação com o Outro, ou intersubjetividade, e relação com o Absoluto, ou transcendência. Estas estruturas e orientações têm por base unificar o ser humano, já que o centro da unidade é a pessoa, e esta aparece como ato total, pois opera a síntese entre as categorias por meio de sua auto-realização e autodeterminação.
2. Estrutura de pessoa na síntese entre universalidade e particularidade
Todas as formas de estudo da antropologia convertem para a pessoa humana numa
exposição integrada e metódica de suas dimensões que são fundamentais ao ser, o qual o homem pode ser compreendido, e ao mesmo tempo se compreender através da natureza passamos a ser, independentes de nossas vontades próprias. A existência de cada qual se faz no centro de sua subjetividade, ou melhor, no centro de sua estrutura que é chamada de pessoa. A centralidade desta estrutura categorial consiste no EU que é enriquecido pelas demais estruturas, que são: estrutura do corpo próprio, relações e a realização. O eu se abre nas relações com o mundo e com a história que através da transcendência retorna sobre si mesmo na busca da resposta de quem ele é. Esse retorno sobre si é dado através de dois movimentos. O primeiro pode ser chamado de circulo conceitual, que é exposto do simples ao complexo, ou seja, da inteligibilidade em-si (particularidade) para o para-nós (universalidade ou pluralidade). O segundo é o momento de fundamentação do sujeito, no qual a pessoa começa o seu processo de fundamentação baseado no em-si da particularidade, no qual o ser humano, através dos movimentos dialéticos, manifesta a sua riqueza, o seu ser. Em resumo, no primeiro momento o ser humano é exposto e no segundo o mesmo ser passa a retornar sobre si. Esta categoria é a mais fundamental do que as demais estruturas categoriais, pois na medida em que o ser volta-se sobre si, num caminho reflexivo, sem interiorização, o humano se perde no mundo se esvaziando, ficando isolado em si. Todo o universo passa a ser antropolizado, porém sem que desapareça este método de abertura e de retorna dado pela estrutura pessoal. Esta estrutura incide na constituição da essência da existência do ser. Esta abertura para o universal, considerada como universalidade, se constitui na auto- realização própria do ser enquanto ser, a volta ao particular, chamada de particularidade, é a realização da existência própria do ser humano na sua singularidade, ou seja, na sua pessoa. Portando há um círculo em que reina uma pressuposição estrutural da razão imediata ( U ) numa situação de espaço-tempo ( P )que provoca uma síntese complexa na interioridade reflexiva e na automanifestação concreta de existência. A pessoa humana é o fim último de uma racionalidade construída pela compreensão filosófica num todo inteligível de estrutura na integração com as demais, citado acima,
3. Categoria do espírito como síntese entre corpo e psiquismo, categoria de
transcendência como síntese entre objetividade e subjetividade e categoria de realização como síntese entre estrutura e realização.
a) O psiquismo, como nível estrutural, representa a interioridade imediata do ser,
enquanto a estrutura de corpo representa a exterioridade, já que o homem não se reduz à imediaticidade. O espírito opera a síntese nos dois elementos, (espírito) na sua interioridade de pensamento e (corpo) na exterioridade sintética de um mundo imediatizado. No espírito são compreendidos outros conceitos: o espírito absoluto verdadeiro e o espírito categorial. O homem é o centro do ser absoluto e o ser absoluto ao espírito, que se constitui como caminho de abertura ao mundo interior. O espírito pode ser dividido em partes, para poder ser mais bem explicado, as quais são: pneuma, nous, logos, synesis. O pneuma é o centro das decisões, o impulso vital. O nous, também chamado de intelecto, é o ser ale das aparências na procura de uma essência para o conhecimento do mundo, principalmente o de nós mesmos apreendendo o todo do mundo intelectual. O logos é a ordem do universo, sem esta ordem o mundo se perderia no caos, o mesmo logos representa à estrutura de uma filosofia, uma ordem no centro de uma diferença, a synesis. Esta representa a forma reflexiva do homem, a apreensão da autoconsciência no qual o eu é objeto de si mesmo, no qual o ser absoluto se pensa a si mediatizado pela exterioridade, não sendo capaz de fazer um pensamento, de nós mesmos, que seja puro sem se basear em nada. O espírito recupera a sua centralidade no movimento e na diferenciação, recobrando a unidade e estabelecendo uma extensão renovada para o mundo. Em resumo o espírito é a síntese entre o corpo e o psiquismo representando, assim, um movimento ascendente e descendente, no qual o primeiro representa o movimento de unidade acima dos paradoxos. O segundo representa o movimento de interioridade como força organizadora da razão, fundamento primeiro na dimensão humana. Graças ao espírito que representa a ordem interna no humano e um resultado de ação humana, que ele passa a ser capaz de produzir história e cultura na sua totalidade. b) Na categoria de transcendência encontramos a objetividade e a subjetividade, que aqui vai ser trabalhada em duas etapas, inicialmente será trabalhada a objetividade. O fundamento da antropologia filosófica é a experiência do homem-sujeito enquanto sujeito propriamente dito. Aqui o sujeito aparece situado como um sujeito puro, pois ele não tem a necessidade de interrogar-se, se constituindo assim um sujeito transparente a si mesmo, numa realidade em que a ele mesmo se apresenta e se experimenta como uma questão sobre o próprio eu. A vida segundo o espírito, ou propriamente a categoria espiritual visto acima, é propriamente a vida humana como podemos chamar, em uma construção sistemática da filosofia que tem o seu início no EU, pois essa é a estrutura do cogito, ou melhor, do sujeito na própria filosofia, tendo essencialmente a mediação entre a natureza e a forma. As estruturas fundamentais do ser humano têm em vista as estruturas formais da expressividade ou da constituição do homem como sujeito, constituindo assim, o homem como ser no ser, sendo que o sujeito é essencialmente relação com a realidade. A questão de objetividade, que é tratada aqui, possui vários sentidos, estes sentidos são enumerados em seis. O primeiro é o sentido lógico, que consiste na razão formal determinado pela ciência. O segundo é o sentido gnosiológico, designado por uma oposição do sujeito ao objeto na ordem do conhecimento. O terceiro é o sentido epistemológico, que designa o alcance objetivo dos conceitos. O quarto é o sentido dialético, que é o sentido dado ao termo de objetividade, que é tratado aqui. O quinto é o sentido moral, que designa a moral atribuídas às realidade. E o sexto é o sentido antropológico, usado para designar a abertura do homem à realidade com a qual está inserido. A objetividade é propriamente dito, o diferencial pelo qual diferencia a relação do homem com as coisas ou com a totalidade das coisas. A partir disto, podemos considerar que, o homem não é um objeto fechado em si, ele passa a se interrogar, fazendo-se um objeto da própria pergunta, pois não possui uma intuição mediatizada de si. O homem se faz auto-expressão porque se usa de uma linguagem mediatizada através de uma realidade propriamente humana. A linguagem que o ser utiliza o torna transcendente na intersubjetividade que estrutura a interioridade do ser, se constituindo assim, em uma passagem da forma ao conteúdo do significante, homem, ao significado, coisa. A presença do homem na realidade é ima forma dialética entre o interior e o exterior, a partir que o ser faz a sua interiorização é capaz de fazer a sua exteriorização do mundo na verdadeira condição de suprassunção. A categoria de intersubjetividade nos remete a uma compreensão do universo como um todo nele, com o qual compreendemos a nós mesmos sem transcendermos o universo. Essa compreensão pessoal é feita a partir da linguagem mediatizada pela relação EU-TU, como reciprocidade de relação. Aqui o homem é compreendido como parte do universo, no qual ele também faz parte do todo do universo ou microcosmo, entende-se aqui a parte como elemento de um corpo enquanto corpo, microcosmo como um ser este entre os outros seres e o todo como espírito enquanto espírito, o universo do ente que se torna unidade estrutural que converge para um núcleo transcendental. O homem, aqui, não estabelece uma relação de reciprocidade com as coisas objetuais, não podendo dialogar com elas de forma lingüística. Somente estabelece relações com o tu e a partir deste com o nós que é determinado pela reciprocidade. Ao compreender o mundo nos auto-compreendemos e ultrapassamos o mundo sistematicamente chegando assim, à intersubjetividade. A compreensão humana se dá com o encontro do próprio homem no horizonte do mundo na estrutura eu/mundo/outro/transcendência, pela qual o eu passa pelo mundo e constitui transcendentalmente o outro. Portanto a categoria de transcendência resulta numa forma de relação entre o sujeito situado e uma realidade da qual ele se distingue numa afirmação do sujeito que se sobrepõe ao próprio mundo e à história. A relação de transcendência pode ser considerada como a suprassunção da oposição entre a interioridade e a exterioridade (objetividade e intersubjetividade ) numa não- reciprocidade relacional do existir-em-comum ou do ser-com. A transcendência deste ponto de vista se apresenta como um lugar conceitual no qual o sujeito pensa o transcendente como exterior a sua finitude e à sua situação no mundo ao mesmo sujeito como espírito. A relação que suprassume no sujeito pela oposição entre a exterioridade e a interioridade é a relação com o ser, considerada como tal. Contudo a própria natureza de transcendência implica na imanência do ser no sujeito enquanto sujeito. Esta relação de transcendência é a suprassunção da não-reciprocidade da relação de objetividade e da reciprocidade da relação de intersubjetividade. Esta relação de não-reciprocidade e reciprocidade é dada pelas categorias de objetividade e Intersubjetividade, esta foi tratada até aqui como subjetividade. Portanto a síntese entre estas duas categorias se dá a partir de objetividade como relação de sujeito que conhece a sua subjetividade inter-objeto, ou melhor, na sua relação entre o ser enquanto ser e o objeto enquanto objeto. Esta condição indica a realidade em si mesma quer no espiritual do sujeito como conhecedor da realidade ou conhecedor das coisas como elas são. E a intersubjetividade como relação entre o sujeito e o objeto, ou seja, pela qual o homem se encontra sempre referido a outros (inter) numa comunhão ontológica (com o ser ou objeto na subjetividade) em uma comunicação entre o sujeito-sujeito ou sujeito-objeto. c) Na categoria de relação encontramos a interação entre estrutura e ralação. Na estrutura é dado o ser-em-si, que corresponde ao domínio do próprio ser enquanto homem por meio de uma unidade ontológica primeira do próprio homem, segundo a qual ele mesmo se torna indivisível sendo capaz de substituir a sua identidade na sua relação com os outros seres. Aqui a estrutura determina a natureza ontológica ou transcendental do homem com possibilidade de permitir transformações da realidade do próprio ser, já que a realidade é em si já estruturada caso contrário seria apenas formulação da mente humana. A relação, por outro lado determina o ser-para-si dominado pela realidade na finitude a situação, na qual a finitude é o homem, sendo este distinto entre os outros seres na infinitude do uno, e a finitude designa que o homem não é somente um ser entre os seres, mas múltiplo em meio do próprio ente numa abertura ara o mundo, ao espaço e ao movimento, constituindo o movimento mundo/história/absoluto. Estas duas estruturas se opõem dialeticamente nas expressões ser-em-si e ser-para-o- outro, sendo que na estrutura o sujeito é o mediador, o problema que surge aqui é a unidade do em-si do homem e a sua alteridade, o que cabe por tanto é unificar as formas de auto- expressão como ipseidade e alteridade como sendo o lugar ontológico da situação e da finitude da pessoa para-si e no para-o-outro, constituindo, por tanto, a auto-realização do próprio ente consistindo nesta forma original de dialética do mesmo homem, consistindo na unidade existencial do ente uma síntese da integração estrutural do mesmo na fundamentação ontológica. Por tanto, a síntese entre estrutura e relação se dá a partir da identidade na diferença na auto-diferenciação de si e o retorno à centralização do em-si no eu centrado na diferença.
4. Conceito de intersubjetividade a partir da estrutura EU, TU e do NÓS.
O conceito de Intersubjetividade, além do já apontado na questão anterior também se
desenvolve na questão dialética do eu-tu-nós. Do modo que o eu e o tu permanecem sempre no mesmo nível e mutuamente se concretizam numa mediação que tem o seu início negativo e o final positivo, que é exemplificado na seguinte gravura: + + EU TU TU EU - - Ou seja, o eu se torna condicionado de si quando passa pelo outro, ou melhor, o homem se auto-realiza somente quando faz este sistema dialético de passagem pelo outro e o seu retorno a si mesmo na sua auto-realização, suscitando e assumindo a consciência-de-si. Este sistema pode até provocar um paradoxo de reciprocidade, no qual o sujeito (eu) ao se relacionar com o outro (tu), no qual é igualmente ele mesmo no seu ser conhecido e no conhecer o seu outro, resultando no seu auto-reconhecimento e no reconhecimento do outro. Esta reciprocidade se torna uma impossibilidade, pois demonstra exatamente a virtude do movimento dialético no qual a relação de objetividade entre o eu-tu passa a ser assumida na relação intersubjetiva. A compreensão da relação de intersubjetividade execre o próprio conhecimento científico numa objetivação do encontro de dois sujeitos. O sujeito em questão tem um outro sujeito diante de si e que deve assumi-lo durante o processo de auto-afirmação própria, este paradoxo nada mais é que um encontro espiritual entre os dois seres humanos. É justamente nesta reciprocidade de auto-afirmação que os sujeitos se reconhecem diante a intersubjetividade, sendo assim possível construir o processo dialético espiritual do em-si e do para-si, num momento reflexivo do espírito perante a sua identidade com sigo mesmo. A ocultação do nós aqui é aparentemente ilusória, antropologicamente falando o nós é a passagem da relação eu-tu empírica para o eu-tu inteligível, ou seja, a relação dada entre o eu-tu resulta basicamente o nós significando a forma da própria relação de intersubjetividade.