You are on page 1of 16

Azulejo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Ir para: navegação, pesquisa

Fotografia do painel de azulejos da praça de José da Costa, Oliveira de Azeméis,


Portugal.
O termo azulejo designa uma peça de cerâmica de pouca espessura, geralmente,
quadrada,[1] em que uma das faces é vidrada, resultado da cozedura de um revestimento
geralmente denominado como esmalte, que se torna impermeável e brilhante.[2] Esta
face pode ser monocromática ou policromática, lisa ou em relevo. O azulejo é
geralmente usado em grande número como elemento associado à arquitetura em
revestimento de superfícies interiores ou exteriores ou como elemento decorativo
isolado.[1]
Os temas oscilam entre os relatos de episódios históricos, cenas mitológicas, iconografia
religiosa e uma extensa gama de elementos decorativos (geométricos, vegetalistas etc)
aplicados a paredes, pavimentos e tectos de palácios, jardins, edifícios religiosos
(igrejas, conventos), de habitação e públicos.[3]
Com diferentes características entre si, este material tornou-se um elemento de
construção divulgado em diferentes países, assumindo-se em Portugal como um
importante suporte para a expressão artística nacional ao longo de mais de cinco
séculos,[3] onde o azulejo se transcende para algo mais do que um simples elemento
decorativo de pouco valor intrínseco. Este material convencional é usado pelo seu baixo
custo, pelas suas fortes possibilidades de qualificar esteticamente um edifício de modo
prático. Mas nele se reflete, além da luz, o repertório do imaginário português, a sua
preferência pela descrição realista, a sua atracção pelo intercâmbio cultural. De forte
sentido cenográfico descritivo e monumental, o azulejo é considerado hoje como uma
das produções mais originais da cultura portuguesa, onde se dá a conhecer, como num
extenso livro ilustrado de grande riqueza cromática, não só a história, mas também a
mentalidade e o gosto de cada época[3].
Atualmente, a procura por azulejos tem se dado menos por seu valor decorativo e mais
por suas características impermeabilizantes, sendo muito utilizado em cozinhas,
banheiros e demais áreas hidráulicas.[4]

Índice
[esconder]
• 1 Técnica e terminologia da azulejaria
○ 1.1 Por tipo de produção
 1.1.1 Azulejo mudéjar (ou hispano-mourisco)
 1.1.2 Alicatado
 1.1.3 Corda-seca
 1.1.4 Aresta (ou Cuenca)
 1.1.5 Majólica
 1.1.6 Azulejo semi-industrial
○ 1.2 Por técnica de decoração
○ 1.3 Por tipo de decoração/temática
○ 1.4 Termos relacionados
• 2 Origens e expansão
• 3 O azulejo em Portugal
○ 3.1 Herança islâmica
○ 3.2 A majólica e o início da produção
○ 3.3 Padrões geométricos e assimilação de motivos externos
○ 3.4 A transição formal e a Grande Produção
○ 3.5 Do Rococó ao terramoto de 1755
○ 3.6 Da influência brasileira ao azulejo actual
• 4 Ver também
• 5 Referências
○ 5.1 Bibliografia
• 6 Outro material informativo
○ 6.1 Bibliografia
○ 6.2 Ligações externas

[editar] Técnica e terminologia da azulejaria


[editar] Por tipo de produção
[editar] Azulejo mudéjar (ou hispano-mourisco)
Azulejo alicatado em El-Hedine, Marrocos.
Técnica desenvolvida e implementada pelos mouros na Península Ibérica e seguida em
Espanha com assimilação do gosto pela decoração geométrica e vegetalista, no que se
designaria no barroco como horror vacui (horror ao vazio).
Esta técnica necessita de um barro homogéneo e estável, onde, após uma primeira
cozedura, se cobre com o líquido que fará o vidrado. Os diferentes tons cromáticos
obtêm-se a partir de óxidos metálicos: cobalto (azul), cobre (verde), manganésio
(castanho, preto), ferro (amarelo), estanho (branco). Para a segunda cozedura as placas
são colocadas horizontalmente no forno assentes em pequenos tripés de cerâmica
designados de trempe. Estas peças deixam três pequenos pontos marcados no produto
final, hoje em dia importantes na avaliação de autenticidade.[5]
Inicialmente o azulejo não tinha uma dimensão normalizada, mas em Portugal, a partir
do século XVI o azulejo passou a ter uma medida quadrada variável entre 13,5 e
14,5 cm, como consequência do aumento de produção pelo maior número de
encomendas. Essa situação perdurou até o século XIX.
[editar] Alicatado
Técnica para revestimentos em que se agrupam pedaços de cerâmica vidrada cortados
em diferentes tamanhos e formas geométricas com a ajuda de um alicate. Cada pedaço é
monocromático e faz parte de um conjunto de várias cores que pode ser mais ou menos
complexo, semelhante ao trabalho com mosaico. Esta técnica esteve em voga nos
séculos XVI e XVII, mas pela sua morosidade acabou por ser substituído por outras
técnicas posteriores.
[editar] Corda-seca
Técnica do final do século XV e início do XVI em que a separação das cores ou
motivos decorativos é feita abrindo sulcos na peça que, preenchidos com uma mistura
de óleo de linhaça, manganés e matéria gorda, evitam que haja mistura de cores (hidro-
solúveis) durante a aplicação e a cozedura.
Azulejo de aresta em Fez, Marrocos.
[editar] Aresta (ou Cuenca)
Técnica do período da corda-seca em que a separação das cores é feita levantando
arestas (pequenos muros) na peça, que surgem ao pressionar o negativo do padrão
(molde de madeira ou metal) no barro ainda macio. Este processo mais simplificado
reduz o preço do produto acabado e permite uma maior variedade de padrões, embora o
acabamento nem sempre seja perfeito. Com os maiores centros de produção em Sevilha
e Toledo esta técnica foi também empregue em Portugal, onde se desenvolve a variante
em alto-relevo (azulejo relevado) de padrões com parras. Existem também os raros
exemplos de azulejo de “lustre”, em que o seu reflexo metálico final é conseguido
colocando uma liga de prata e bronze sobre o vidrado, que é depois cozido uma terceira
vez a baixa temperatura.
[editar] Majólica
Técnica vinda de Itália e introduzida na Península Ibérica a meados do século XVI. Não
é simples clarificar a origem do termo; talvez uma locução italiana para Maiorca, porto
de onde eram exportados os azulejos, ou uma metamorfose do termo Opera di Mallica
usado desde o século XV para designar a mercadoria italiana exportada do porto de
Málaga. O termo faiança, utilizado a partir do século XVII, tem origem no centro
italiano Faenza onde era produzida esta cerâmica.
A majólica veio revolucionar a produção do azulejo pois permite a pintura directa sobre
a peça já cozida. Após a primeira cozedura é colocada sobre a placa um líquido espesso
(branco opaco) à base de esmalte estanífero (estanho, óxido de chumbo, areia rica em
quartzo, sal e soda) que vitrifica na segunda cozedura. O óxido de estanho oferece à
superfície (vidrado) uma coloração branca translúcida na qual é possível aplicar
directamente o pigmento solúvel de óxidos metálicos em cinco escalas de cor: azul
cobalto, verde bronze, castanho manganésio, amarelo antimónio e vermelho ferro (que
por ser de difícil aplicação pouco surge nos exemplos iniciais). Os pigmentos são
imediatamente absorvidos, o que elimina qualquer possibilidade de correcção da pintura
(designada decoração ao grande fogo). O azulejo é então colocado novamente no forno
com temperatura mínima de 850 °C revelando, só após a cozedura, as respectivas cores
utilizadas.
[editar] Azulejo semi-industrial
Técnicas semi-industriais utilizadas a partir do século XIX como a estampilha ou
estampagem (ver abaixo).
[editar] Por técnica de decoração
• Azulejo aerografado (ou decoração ao terceiro fogo): pintura do azulejo
através de um aerógrafo (pistola de jacto de tinta) em que estampilhas de zinco
delimitam as áreas a pintar. Em Portugal a Fábrica de Sacavém empregou
bastante esta técnica durante o período Art Déco.

Azulejo esgrafitado com arabescos, Meknes, Marrocos.


• Azulejo esgrafitado: técnica em que os elementos decorativos são “abertos” no
vidrado raspando-se com um estilete até aparecer o biscoito (base do azulejo).
As ranhuras que resultam deste processo podem ser preenchidas com betume ou
cal da cor que se deseje.
• Azulejo esponjado: aplicação da tinta através de uma esponja ou escova, em
que o resultado se assemelha a uma superfície de pedra (rugosa). Com utilização
a partir do século XVIII tem maior aplicação em rodapés e lances de escada.
• Azulejo estampado (ou impressão a talhe doce): decoração da superfície
vidrada através da utilização de uma estampa ou decalcomania.
• Azulejo estampilhado: decoração da superície vidrada com trincha através da
utilização de uma estampilha, uma peça de metal onde está recortado o motivo
decorativo a pintar.
• Decoração ao grande fogo: pintura sobre o vidrado remetida posteriormente a
uma cozedura com temperaturas superiores a 800 °C.
• Decoração ao fogo de mufla: pintura com cor sobre o biscoito (base do azulejo)
ou vidrado submetida a uma cozedura com temperatura moderada.
[editar] Por tipo de decoração/temática
Albarrada com motivos florais em silhar na Casa dos Patudos, Alpiarça.
• Albarrada: motivo decorativo independente (século XVII) que pode ser
repetido (século XVIII) e que consiste em ramos de flores em jarra, cesto, vaso
ou taça com outros elementos figurativos a ladear (pássaros, crianças ou
golfinhos). Caso seja repetido, por exemplo ao longo de um silhar, pode ter
outros elementos a servir de divisão (arquitectónicos ou vegetalistas).
• Alminha: painel de azulejos de dimensões reduzidas, ou como elemento
autónomo, com decoração alegórica representando as almas no purgatório. A
base pode apresentar as iniciais P.N (Padre Nosso) ou A.V. (Ave Maria).
• Atlante: figura escultórica masculina muito utilizada na antiguidade clássica em
substituição do fuste numa coluna. É muito utilizado como motivo decorativo
em painéis de azulejo nos séculos XVII e XVIII.
• Azulejos enxaquetados: agrupamento de azulejos a formar uma malha
geométrica em xadrez utilizando elementos alternados de cores diferentes.
Também aplicado em Portugal no século XVI até meados do século XVII.
• Azulejo de figura avulsa: em que cada azulejo representa uma composição
isolada (flor, animal etc, ou até mesmo, descrição de cenas mais complexas). Em
Portugal divulgou-se mais o género de figura simples a azul durante o século
XVIII com elementos decorativos nos cantos a ajudar à união visual entre os
vário azulejos. Colocados sobretudo em cozinhas e lances de escada encontram-
se também aplicados à arquitectura religiosa e com temas populares durante o
Estado Novo já no século XX. As composições mais complexas foram
divulgadas através do azulejo holandês.

Azulejos de padrão com faixa no Paço de São Cipriano, Tabuadelo.


• Azulejos de padrão: azulejos em grupos de 2x2 até 12x12 que formam uma
determinada composição e que, depois de repetidos várias vezes, formam um
padrão (p.ex, azulejos de tapete).
• Azulejo de tapete: azulejos em grande número, em revestimento parietal, que
pela multiplicação de determinados modelos resulta num padrão polícromo.
Pode ser rematado com frisos, barras ou cercaduras apresentando-se no seu
conjunto total semelhante a um tapete.
• Balaústre: colunelo (pequena coluna) usado como elemento arquitectónico em
balaustradas e que se assume como motivo decorativo em azulejos do século
XVIII de modo a criar efeitos espaciais ópticos.
• Barra: Remate horizontal e vertical (p.ex. em painéis) compostos por duas ou
mais filas de azulejos adjacentes com motivos decorativos variados. Com a
mesma função a cercadura é composta por uma só fileira de azulejos. A faixa é
composta por meios azulejos (peças rectangulares) e pode servir ou não de
remate a um painel.
• Cartela: motivo decorativo com apogeu no Barroco que serve de fundo a uma
determinada imagem ou cena de modo a destacá-la dos elementos circundantes.
Pode ter a forma de um pergaminho ou escudo em que os cantos enrolados ou
decorações vegetalistas servem de moldura.
• Figura de convite: característica dos séculos XVIII e XIX, esta figura
representa uma pessoa (lacaio, dama, guerreiro etc) trajado a rigor e posicionado
em locais de entrada de uma habitação nobre (átrio, patamar de escada etc.) em
gesto de boas vindas, como que a receber as visitas que chegam. Símbolo do
protocolo aristocrático, do poder e riqueza. Produzida em tamanho real com o
contorno recortado e geralmente crescendo a partir de um silhar.

Painel historiado do cerco ao Castelo de Torres Novas, painel de Gil Pais, Torres
Novas.
• Painéis historiados: painéis descritivos representando um determinado
acontecimento ou cena histórica, religiosa, mitológica ou do quotidiano.
• Silhar (alisar ou alizar): revestimento parietal longitudinal que se desenvolve a
partir do chão e tem entre 10 a 12 azulejos de altura.
[editar] Termos relacionados
• Alicer (ou tacelo): pequena peça de uma só cor utilizada, p. ex., como elemento
em composições de alicatado.
• Biscoito (ou chacota): denominação para a peça de azulejo que ainda só foi
cozida uma vez, ou seja, antes de ser vidrada.
• Trempe: pequeno tripé de suporte que permite a optimização do espaço dentro
do forno pela possibilidade que oferece de empilhar azulejos.
• Tardoz: lado do azulejo oposto ao vidrado que se aplica directamente no
suporte de destino.
[editar] Origens e expansão

Mosaico bizantino, c 547, Ravenna, Itália.


A palavra em si, azulejo, tem origem no árabe azzelij (ou al zuleycha, al zuléija, al
zulaiju, al zulaco) que significa pequena pedra polida e era usada para designar o
mosaico bizantino do Próximo Oriente. É comum, no entanto, relacionar-se o termo
com a palavra azul (termo persa ‫لژورد‬: lazhward, lápis-lazúli) dado grande parte da
produção portuguesa de azulejo se caracterizar pelo emprego maioritário desta cor, mas
a real origem da palavra é árabe.[1]
A utilização do azulejo pode-se observar já na antiguidade, no período do Antigo Egito
e na região da Mesopotâmia, alastrando-se por um amplo território com a expansão
islâmica pelo norte de África e Europa (zona do Mediterrâneo), penetrando na Península
Ibérica no século XIV por mãos mouras que levam consigo a origem do termo actual. O
oriente islâmico impulsiona qualitativamente a produção de revestimentos parietais pelo
contacto com a porcelana chinesa que, pela rota da seda, surge em vários centros
artísticos do próximo oriente. Durante a permanência islâmica na Península Ibérica a
produção do azulejo cria bases próprias em Espanha através de artesãos muçulmanos e
desenvolve-se a técnica mudéjar entre o século XII e meados do século XVI em oficinas
de Málaga, Valência (Manises, Paterna) e Talavera de la Reina, sendo o maior centro o
de Sevilha (Triana). Na viragem do século XV para o século XVI o azulejo atinge
Portugal, um país já com uma longa experiência em produção de cerâmica. Inicialmente
importado de Espanha o azulejo é, mais tarde, empregue como resultado de manufactura
própria, não só no território nacional, mas também em parte do antigo império de onde
absorve simultaneamente uma grande influência (Brasil, África, Índia).
Com as suas respectivas variantes estéticas o azulejo vai ser utilizado em outros países
europeus como os Países Baixos, a Itália e mesmo a Inglaterra, mas em nenhum outro
acaba por assumir a posição de destaque no universo artístico nacional, a abrangência de
aplicação e a quantidade de produção atingidas em Portugal.
[editar] O azulejo em Portugal
[editar] Herança islâmica
Azulejos com motivo de esfera armilar no Pátio da Carranca, Palácio Nacional de
Sintra.
No ano de 1498 o rei de Portugal D. Manuel I viaja a Espanha e fica deslumbrado com a
exuberância dos interiores mouriscos, com a sua proliferação cromática nos
revestimentos parietais complexos. É com o seu desejo de edificar a sua residência à
semelhança dos edifícios visitados em Saragoça, Toledo e Sevilha que o azulejo
hispano-mourisco faz a sua primeira aparição em Portugal. O Palácio Nacional de
Sintra, que serviu de residência ao rei, é um dos melhores e mais originais exemplos
desse azulejo inicial ainda importado de oficinas de Sevilha em 1503 (que até então já
forneciam outras regiões, como o sul de Itália).
Embora as técnicas arcaicas (alicatado, corda-seca, aresta) tenham sido importadas,
assim como a tradição decorativa islâmica dos excessos decorativos de composições
geométricas intrincadas e complexas, a sua aparição em Portugal cede já um pouco ao
gosto europeu pelos motivos vegetalistas do gótico e a uma particular estética nacional
fortemente caracterizada pela influência de factores contemporâneos. O império
ultramarino português vai contribuir para a variedade formal; vão ser adaptados motivos
e elementos artísticos de outros povos que se transmitem pelo curso da aculturação. Um
dos exemplos mais marcantes do emprego de ideias originais é o do motivo da esfera
armilar que surge no Palácio Nacional de Sintra e que vai permanecer ao longo da
história portuguesa como o símbolo da expansão marítima portuguesa.
Roteiro
Palácio Nacional de Sintra: Azulejos hispano-mouriscos do século XV e XVI.
Revestimento parietal (salas, corredores e pátios) com realce de características
arquitectónicas, envolvência de portas e janelas. Destaque para tons verdes. Sala dos
Árabes: fonte central em bronze e base em mármore emoldurada a azulejo de aresta;
paredes e molduras de portas em alicatado, aresta, corda-seca e relevo. Sala dos Leões
e Pátio Diana: destaque para azulejos de parra em relevo. Sala das Sereias: destaque
para azulejo esgrafitado em estilo marroquino tawriq a rematar porta. Sala dos Cisnes:
revestimento parietal em xadrez e losângulos. Sala das Pegas: revestimento parietal
com corda seca de reforço (com aresta) e remates ondulantes de portas, janelas e lareira.
Pátio interior central e Tanque dos Cisnes: revestimentos em azulejo com motivo pé-
de-galo em corda-seca de reforço. Pátio do Leão: fonte inserida em muro de azulejos
com esfera armilar.
[editar] A majólica e o início da produção
A majólica, nova técnica vinda de Itália que permite pintar directamente no azulejo
vidrado, é introduzida na Península Ibérica nos finais do século XV pela mão do artista
italiano Francisco Niculoso. Na altura sem grande impacto vai ganhar importância mais
tarde, após o estabelecimento de artistas italianos na Flandres (Antuérpia) e em França.
A criação de oficinas em Espanha e Portugal por ceramistas flamengos vai dar origem, a
partir de meados do século XVI, à iniciativa de produção própria do azulejo, que era até
então importado da Holanda e Itália.
Mas além da técnica, também o repertório formal vai ser importado e o gosto italiano da
época renascentista de transição para o maneirismo funde-se com o estilo gráfico
flamengo numa estética harmoniosa e de pincelada minuciosa. As composições passam
a ser figurativas e, renunciando à estética islâmica como resultado do Concílio de
Trento, vão-se adaptar e transpor para o azulejo cenas mitológicas, de alegorias,
religiosas, guerreiras e satíricas presentes em gravuras estrangeiras. Vão ser usadas
representações de elementos arquitectónicos na criação de ilusões espaciais (trompe-
l’oeil, literalmente engana o olho) e a variada palete de elementos decorativos
maneiristas ganha vida no painel de azulejo em Portugal (putti -anjinhos, grinaldas,
medalhões, troféus, vasos, frutas e flores). Concorrendo com a pintura mural, o azulejo
desta época é suporte para o traço erudito dos mestres do desenho e da pintura. Artistas
portugueses a referir são Francisco de Matos e Marçal de Matos.
Roteiro
Quinta da Bacalhoa: exemplo de qualidade da estética renascentista italiana em
Portugal com majólica de produção em oficina de Lisboa. Casa do Tanque: painéis de
1565 de temática religiosa e mitologia grega em tons suaves e harmoniosos, branco,
amarelo e verde. Loggia: painéis alegóricos de cinco rios (Douro, Mondego, Nilo,
Eufrates e Danúbio), alusão aos descobrimentos portugueses.
Capela de São Roque em Lisboa: inicialmente com ambas paredes laterais revestidas;
somente lado inferior intacto após terramoto de Lisboa de 1755. Autoria de Francisco
de Matos, 1584. Tons amarelo, azul e branco; variedade ornamental (folhas de acanto,
flores, frutos, obeliscos, medalhões, ânforas, putti). Cena central destacada pelo uso de
tons verdes e castanhos.
[editar] Padrões geométricos e assimilação de motivos externos
Revestimento a enxaquetados na Igreja Matriz de Cambra, Vouzela.
Num plano paralelo produz-se um outro género estético de azulejo com igual força
decorativa, mas menos dispendioso, à medida das necessidades do clero. O azulejo
enxaquetado é usado como revestimento de grandes superfícies em igrejas e mosteiros
e não necessita de representações únicas e diferenciadas. Aplicadas entre os séculos
XVI e XVII estas composições compõem-se principalmente por azulejos
monocromáticos em alternâncias de duas cores (branco-azul ou branco-verde), onde se
revela uma malha de força diagonal e grande dinamismo visual. A introdução do
azulejo de padrão reduz a morosidade do processo anterior pela repetição de módulos
de azulejos em grandes superfícies.
Com a perca da independência nacional e a consequente Guerra da Restauração o
azulejo tem uma época baixa como reflexo da crise social e as composições únicas
decrescem para dar lugar ao azulejo de padrão inspirado nos tecidos estampados
indianos e tapetes persas com forte carácter ornamental, o azulejo de tapete. Neste
género colorido (azul, amarelo e verde), bem ao gosto português pelo exótico,
proliferam os motivos florais, lóbulos, representações fantásticas e do paraíso,
delimitadas por molduras e faixas em comunhão com elementos da temática religiosa.
Vêm substituir os tais tecidos originais nos frontais de altar, revestindo também grandes
superfícies nos interiores de igrejas, onde apenas pequenos painéis (chamados registos)
com cenas figurativas e de santos surgem como apontamento a intercalar a malha do
padrão.
São ainda de referir, no século XVII, os chamados grotescos, géneros de influência
italiana divulgada na Europa, de presença curta, mas de destaque na azulejaria
portuguesa. Consistem em cenas burlescas, fantásticas inseridas num contexto sem
nexo, caótico, mas de traçado realista. Mesmo tratando-se de repertórios importados,
reproduzidos através de gravuras, estas temáticas, ampliadas à escala da azulejaria de
grande formato, vão adaptar-se bem ao espírito português conturbado da época filipina.
Também importado, como consequência do processo de assimilação das colecções de
gravuras do norte da Europa, mas de temática diferente, é o motivo da albarrada de
origem flamenga. Estas representações de jarras com flores ganham, em Portugal, uma
traçado mais liberto que no local de origem.

Azulejos de padrão no Claustro do Cemitério no Convento de Cristo em Tomar.


Roteiro
Enxaquetado: Igreja de Santa Maria de Marvila em Santarém ; Igreja de São Quintino
em Sobral de Monte Agraço ; Igreja de Jesus em Setúbal ; Igreja da Madre de Deus em
Lisboa
Tapete: Igreja de Nossa Senhora dos Remédios em Carcavelos ; Igreja do Salvador em
Évora ; Igreja de São Vicente em Cuba
Frontal de altar: Hospital de Santa Marta em Lisboa ; Convento de Santa Cruz do
Buçaco no Buçaco ; Igreja de Almoster em Almoster
Grotescos: Ermida de Santo Amaro em Santarém ; Convento da Graça em Lisboa
[editar] A transição formal e a Grande Produção

Com a Restauração da Independência em 1640 a nobreza ganha novo ímpeto no


território nacional e encomenda-se a construção de diversos edifícios palacianos para a
sua residência que vão exigir um grande número de azulejos para revestir superfícies em
interiores e jardins. Vão-se destacar as composições polícromas (amarelo, azul e
também apontamentos em verde e castanho) de tradição holandesa. Cenas de caça,
idílicas, e cenas sobre a temática holandesa dos cinco sentidos onde vários personagens
à mesa fazem referência indirecta aos diferentes sentidos (música para a audição,
bebidas e alimentos para o paladar, os toques que trocam entre si para o tacto etc).
Também na segunda metade do século XVII aparecem as famosas composições de
macacaria em tons predominantemente amarelos e azuis, representando macacos em
trajes e actividades humanas de grande sentido irónico e satírico, como que numa
caricatura moral dos reais protagonistas que imitam costumes sem os compreender. Esta
temática teve a sua primeira aparição já no século XV, mas só recebe impulso no século
XVII pela mão do pintor flamengo David Teniers, e estende-se pelos séculos XVIII e
XIX.
Azulejos no Jardim do Paço, Castelo Branco.
A partir dos finais do século XVII importam-se também dos Países Baixos ciclos em
azul e branco influenciados pela cerâmica chinesa, nos mesmos tons, que chegou à
Europa pelos caminhos marítimos e que agradou bastante, não só aos holandeses, que
iniciaram uma produção própria de azulejo azul e branco, mas também aos portugueses.
Mas a preferência na Holanda pelo trabalho em miniatura (enkele tegels) não
corresponde ao gosto português pela monumentalidade e assim passam-se a efectuar
encomendas específicas às oficinas holandesas de painéis que se adaptem perfeitamente
aos enquadramentos arquitectónicos em Portugal. Os temas centram-se agora em cenas
religiosas, cortesãs e militares. Desta altura são também os painéis de figura avulsa, com
cenas independentes, e que vão ser aplicados sobretudo em cozinhas e sacristias de
igrejas e conventos (como as típicas representações de alimentos pendurados - caça ou
peixe).
O emprego de uma só cor, azul, sobre o fundo branco permite uma maior concentração
na pintura e os exemplos importados da Holanda demonstram bem a superioridade
técnica do traço, evidentes em obras de Willem van der Kloet e Jan van Oort. Mas as
oficinas portuguesas vão reagir à concorrência e inicia-se o período de desenvolvimento
da produção nacional, conhecido pelo ciclo dos mestres, impulsionada pelo espanhol
Gabriel del Barco, sediado em Portugal, e que responde a um grande número de
encomendas um pouco por todo o país. A sua técnica não é de grande qualidade, mas
uma série de seguidores vai dar início à época dos grandes mestres das oficinas de
Lisboa, como António Pereira, António de Oliveira Bernardes e o seu filho Policarpo de
Oliveira Bernardes, Manuel dos Santos e o anónimo P.M.P., abandonando-se
progressivamente as importações do exterior.
A partir da segunda metade do século XVIII o número de encomendas aumenta,
(também vindas do Brasil) e a riqueza durante o reinado de D. João V (proveniente das
minas de ouro e diamantes do Brasil) permite o aumento sem precedentes da produção
de azulejo de onde resultam os maiores ciclos de painéis historiados. Esta estética é,
acima de tudo, influenciada pelo Barroco onde as cenas ganham um estatuto teatral e
onde as molduras, de carácter exuberante, chegam a ter quase tanto peso como as cenas
centrais que envolvem (cenas bucólicas, mitológicas, religiosas - bíblicas, marianistas-,
de caçadas, do quotidiano cortesão e alegóricas). A riqueza ornamental, que faz uso dos
contrastes claro-escuro para ilusão de volumetria, chegam de livros de ornamentos de
Jean Bérain I, Claude Audran III, Gilles Marie Oppenord, Nicolas Pineau, Pierre
Lepautre entre outros, e oferecem grande organicidade e vitalidade ondulante à
composição no seu todo. Vão proliferar os côncavos e convexos, concheados, flores,
frutos, cartuchos, entrelaçados, putti, baldaquinos, efeitos ilusionistas arquitectónicos
(balaustradas) e as figuras de convite.
Nas igrejas o azulejo reveste todas as superfícies, mesmo tectos e abóbadas, e observa-
se um complemento estético entre a talha dourada do período barroco português e as
molduras ondulantes do azulejo.
Até ao terramoto de 1755 vão ter posição de relevo os seguintes nomes da azulejaria
portuguesa: Nicolau de Freitas, Teotónio dos Santos, Valentim de Almeida e
Bartolomeu Antunes.
Roteiro
Transição: Palácio dos Marqueses de Fronteira em Lisboa: jardins com grandes
composições, desde a policromia aos ciclos azuis e brancos importados da Holanda,
assim como exemplos da criação portuguesa de azulejo azul e branco.
Grande produção: Convento de São Vicente de Fora ; Igreja de São Lourenço em
Azeitão ; Palácio da Mitra em Santo Antão do Tojal ; Quinta de Manique em
Alcabideche
[editar] Do Rococó ao terramoto de 1755

Painel rococó no jardim do Palácio Nacional de Queluz.


A influência do estilo rococó vindo de França vai-se reflectir no gosto estético do
azulejo a meados do século XVIII. Regressa a policromia (inicialmente amarelo, verde e
violeta, mais tarde cenas centrais monocromáticas a violeta), e os As molduras perdem
grande parte da sua massa volumétrica e assume-se a assimetria em motivos de flores e
folhas. As gravuras de Watteau ditam a temática das cenas galantes, bucólicas e idílicas
que se inserem na perfeição em jardins.
Com o terramoto de 1755 a necessidade imprevista da reconstrução da cidade de Lisboa
vai levar à retoma do azulejo de padrão, que, como material de baixo custo, vai permitir
a aplicação rápida nas fachadas dos edifícios e ao mesmo tempo elevar o seu efeito
estético. Vão-se observar, pequenos painéis de registo em fachadas, representações de
padroeiros de protecção contra catástrofes naturais, e, em frisos de portas e janelas, já a
introdução da estética neoclássica de carácter mais racional e quase desprovido de
decoração. Este tipo de azulejo fica conhecido como azulejo pombalino como
referência ao Marquês de Pombal, responsável pela reconstrução da cidade. Uma das
fábricas com um importante papel na reconstrução de Lisboa foi a Fábrica Sant'Anna
fundada em 1741. Esta fábrica ainda se mantém activa produzindo azulejo e faianças
através de processos inteiramente manuais.
Roteiro
Palácio dos Condes de Mesquitela em Carnide ; Palácio Nacional de Queluz em
Queluz ; Quinta dos Azulejos no Lumiar ; Palácio do Marquês de Pombal em Oeiras ;
Edifícios da Baixa pombalina em Lisboa
[editar] Da influência brasileira ao azulejo actual

Painel de azulejos num edifício de Abrantes.


Com as Invasões francesas, a corte portuguesa refugia-se no Brasil e o início do século
XIX traz estagnação à produção de azulejo. Mas no Brasil o emprego do azulejo vai ter
um desenvolvimento paralelo autónomo e, desde finais do século anterior, observa-se,
especialmente ao norte do país, a aplicação do azulejo como revestimento total de
fachadas de edifícios. Este fenómeno tem a sua principal origem nas condições
climatéricas; o azulejo assume-se como elemento impermeável, protector contra chuvas
intensas, possibilita simultaneamente o arrefecimento do interior por reflectir o calor.
Estes revestimentos, inicialmente a branco, desenvolvem-se para padrões simples a duas
cores.
Com a decadência das oficinas de Lisboa o fornecimento de azulejos para o Brasil é
feito pela Inglaterra, França e Holanda. Mas rapidamente se reconhece que os gostos
não são similares e a produção de azulejo em Portugal renasce para fazer frente às
encomendas brasileiras.
Com o regresso de um grande número de portugueses ao território, o novo gosto
brasileiro vai ser implementado em Portugal, principalmente na região do Porto,
surgindo nesta altura as primeiras fachadas revestidas a azulejo suportadas pelos novos
métodos de produção semi-industriais e industriais. Este hábito provoca diferentes
reacções no território, por um lado é encarado como uma deturpação dos revestimentos
que pertencem ao intimismo do interior da habitação – sendo mesmo utilizado o termo
“casas de penico”-, por outro lado reconhece-se o seu potencial de valorização estética
dos exteriores.
Palácio dos Azulejos, Campinas.
Com a introdução da linguagem romântica em Portugal é dado um maior realce à
produção de épocas anteriores, como se pode observar na obra de Luís Ferreira
(conhecido também como Ferreira das Tabuletas), que combina os novos métodos com
a temática do século anterior, ou de Jorge Colaço com ênfase no historicismo.
Entrando já no século XX são de referir Rafael Bordalo Pinheiro, com produções
ecletistas com destaque para o enaltecimento histórico nacional, Paolo Ferreira e Jorge
Barradas. Já a meados do século Júlio Resende, Júlio Pomar, Sá Nogueira, Maria Keil
com diferentes projectos de valorização urbana, João Abel Manta, Eduardo Nery, entre
outros.
Para preservar e estudar a azulejaria portuguesa foi criado o Museu Nacional do
Azulejo.
Roteiro
Fábrica Sant'Anna em Lisboa ; Fábrica Viúva Lamego em Lisboa ; Fachadas de
edifícios em Porto, Lisboa, Ovar ; Fachadas Arte Nova em Lisboa, Setúbal, Aveiro ;
Fachadas Art Déco em Vila Franca de Xira ; Revestimento mural da Av. Calouste
Gulbenkian em Lisboa ; Estações de Metro de Lisboa

You might also like