tempestade Cheios da dor provocada pelo que aconteceu na Madeira, deparamo-nos mais uma vez com um acontecimento trágico, que nos choca de tal forma que se torna difícil não nos questionarmos sobre o seu significado. Esta questão é tão radical quanto incómoda. Não podemos querer esquece-la quanto antes, ainda que nos apeteça virar a página e seguir em frente. Também não é razoável continuarmos presos a uma emotividade que sufoca, nem fazer recair a atenção sobre os eventuais responsáveis. A caridade que vemos emergir por todo o país prova-nos que o esquecimento não é o único caminho, mas nem mesmo com todos os gestos caridosos se pode apagar a urgência da pergunta, nascida da experiência da nossa impotência face à tempestade. Acontecimentos como estes colocam-nos diante do mistério, provocando a nossa razão e a nossa liberdade. Perder esta oportunidade de olhar face a face o mistério que nos é dado, tornar-nos-ia ainda mais desesperados e cépticos. Face a este acontecimento, reconhecemos que a vida não nos pertence, que nos é dada, não a podemos perpetuar. Para olhar o mistério da nossa existência nos olhos precisamos de algo mais do que a nossa solidariedade. Sozinhos, ou somente com gestos solidários, não conseguimos enfrentar a tempestade. A companhia de Cristo, origem de todo o amor, revela-se mais uma vez decisiva na nossa história, uma companhia que dá um sentido à vida e à morte, às vitimas e sobretudo à nossa própria vida, e que sustem a esperança. A iminência da Páscoa lança uma luz sobre a questão, "Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?" Rm 8;32