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ARACAJU, SE - BRASIL
FEVEREIRO DE 2008
PROCESSO DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS URBANOS EM PEQUENA
ESCALA E POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DO COMPOSTO COMO SUBSTRATO
Aprovada por:
________________________________________________
Cleide Mara Farias Soares, D.Sc.
________________________________________________
Renan Tavares Figueiredo, D.Sc.
________________________________________________
Álvaro Silva Lima, D.SC
________________________________________________
André Luís de Oliva Campos, D. SC
ARACAJU, SE - BRASIL
FEVEREIRO DE 2008
ii
Ficha catalográfica: Delvânia Rodrigues dos Santos Macêdo
CRB – 5/1425
124 p. : il. ; 30 cm
Inclui bibliografia e anexos.
Dissertação (Mestrado em engenharia de Processo) – Universidade
Tiradentes.
iii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus orientadores e aos alunos de iniciação cientifica que me
apoiaram.
iv
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Hunaldo e Marlene, pelo incentivo e apoio, principalmente nos
momentos mais difíceis;
v
Resumo da Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de
Processos da Universidade Tiradentes como parte dos requisitos necessários para a obtenção
do grau de Mestre em Engenharia de Processos.
A crescente produção de resíduos urbanos tem motivado a sua utilização como fontes
alternativas de matéria orgânica. A compostagem de resíduos orgânicos é um dos métodos
mais antigos de reciclagem, durante o qual o resíduo é transformado em fertilizante orgânico.
O processo de compostagem, além de trazer benefícios econômicos, alivia as pressões
ambientais causadas pela má disposição desses resíduos. Neste trabalho foram montadas sete
leiras em pequena escala, utilizando diferentes composições iniciais de resíduos urbanos,
provenientes de feiras livres (frutas e verduras) e da Universidade Tiradentes (podas) e
diferentes diâmetros de partículas. Durante o processo foram monitorados os seguintes
parâmetros: temperatura, pH, umidade, nitrogênio total, contagem microbiana e degradação
de celulose, hemicelulose e lignina. Ao final do processo de compostagem os diferentes
compostos gerados foram caracterizados em relação as suas propriedades químicas e físicas,
visando sua utilização como substrato orgânico. De maneira geral o diâmetro das partículas
influenciou apenas no tempo de compostagem e na atividade microbiana, sem alterar de
forma significativa as características finais dos compostos. Já a composição inicial das leiras
influenciou diretamente no tempo de compostagem, nos teores de nitrogênio e das substâncias
lignocelulósicas, na densidade e na atividade microbiana. Através do monitoramento do
processo de compostagem e caracterização dos compostos, constatou-se que os compostos
gerados apresentaram boa qualidade e, consequentemente, potencial para sua utilização como
substrato, demonstrando a eficiência e aplicabilidade do método de compostagem em pequena
escala.
vi
Abstract of Dissertation presented to the Process Engineering Graduate Program of
Universidade Tiradentes as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master
of Science (M.Sc.)
The increasing production of urban residues has motivated its use as alternative
sources of organic substance. The composting of organic residues is one of the recycling
methods oldest, during which the residue is transformed into organic fertilizer. The
composting process, besides bringing economic benefits, alleviates the ambient pressures
caused by the bad disposal of these residues. In this work seven windrow of small scale had
been mounted, using different initial compositions of urban residues, proceeding from open
market (fruits and vegetables) and from the University Tiradentes (yard waste) and different
diameters of particles. During the process the following parameters had been monitored:
temperature, pH, humidity, total nitrogen, microbial counting, and degradation of cellulose,
hemicelluloses and lignin. To the end of the composting process the different generated
composts had been characterized in relation its chemical and physical properties, aiming at its
use as organic substrate. In general way the diameter particles influenced them only in the
time of composting and the microbial activity, without modifying of significant form the final
characteristics of composts. Already the initial composition of the windrow influenced
directly in the time of composting, nitrogen texts and of lignocelluloses substances, in the
density and the microbial activity. Through the monitoring of the process of composting and
characterization of composts, it was evidenced that the generated composites had presented
good quality and potential for its use as substratum, demonstrating the efficiency and viability
of the application of the method of composting in small scale.
vii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................12
2. OBJETIVOS.......................................................................................................16
2.1 Objetivo Geral ..........................................................................................................16
2.2 Objetivos Específicos ...............................................................................................16
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..............................................................................17
3.1 Problemática dos Resíduos Sólidos no Brasil ..........................................................17
3.1.1 Impactos Ambientais Relacionados à Má Disposição de Resíduos Sólidos ....19
3.1.2 Classificação dos resíduos sólidos....................................................................21
3.2 Matéria Orgânica ......................................................................................................23
3.2.1 Aspectos Gerais ................................................................................................23
3.2.2 Decomposição da Matéria Orgânica.................................................................24
3.2.3 Matéria Orgânica e o Solo ................................................................................25
3.3 Aspectos Legais sobre Fertilizantes Orgânicos ........................................................27
3.4 Compostagem ...........................................................................................................29
3.4.1 Classificação dos Métodos de Compostagem ..................................................30
3.4.2 Processo de Compostagem em Pequena Escala ...............................................33
3.4.3 Fatores que Influenciam na Compostagem ......................................................35
3.4.4 Processo de Compostagem ...............................................................................41
3.4.5 Degradação de Celulose, Hemicelulose e Lignina ...........................................42
3.4.6 Microbiologia da Compostagem ......................................................................43
3.4.7 Produção de Composto Orgânico .....................................................................46
3.4.8 Características dos Compostos Orgânicos........................................................48
3.4.9 Aplicação do Composto como Substrato .........................................................49
viii
4.6.1 Produção das Mudas.........................................................................................66
4.6.2 Determinação de Massa Seca da Parte Aérea...................................................67
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................69
5.1 Condições Climáticas Durante os Experimentos......................................................69
5.2 Monitoramento da Umidade.....................................................................................71
5.3 Monitoramento da Temperatura ...............................................................................72
5.4 Monitoramento do pH ..............................................................................................75
5.5 Monitoramento do Odor, Cor e Volume ..................................................................77
5.6 Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK).............................................................................77
5.7 Celulose, Hemicelulose e Lignina ............................................................................80
5.8 Contagem Microbiana ..............................................................................................81
5.8.1 Leira 1...............................................................................................................82
5.8.2 Leira 2...............................................................................................................83
5.8.3 Leira 3...............................................................................................................84
5.8.4 Leira 4...............................................................................................................85
5.8.5 Leira 5...............................................................................................................85
5.8.6 Leira 6...............................................................................................................86
5.8.7 Leira 7...............................................................................................................87
5.8.8 Análise Quantitativa da Contagem Microbiana................................................88
5.9 Tempo de compostagem...........................................................................................90
5.10 Matéria Orgânica, Macronutrientes e Micronutrientes.............................................91
5.11 Densidade Aparente dos Compostos ........................................................................94
5.12 Condutividade Elétrica (CE) ....................................................................................95
5.13 Metais Pesados .........................................................................................................97
5.14 Determinação da Massa Seca ...................................................................................98
6. CONCLUSÕES................................................................................................101
6.1 Monitoramento das Leiras ......................................................................................101
6.2 Caracterização do Processo de Compostagem e dos Compostos ...........................101
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS................................................................105
9. ANEXOS ..........................................................................................................119
ix
ÍNDICE DE FIGURAS
x
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 3.1 – Valores estabelecidos como parâmetros de controle para o composto orgânico.28
Tabela 3.2 – Teores permissíveis de metais pesados (mg kg-1) no composto de lixo urbano em
alguns paises da Europa e Estados Unidos...............................................................................28
Tabela 3.3 – Temperatura e intervalo de tempo necessário para destruir os tipos mais comuns
de microrganismos e parasitas ocasionalmente presentes em resíduos orgânicos. ..................45
Tabela 3.4 – Problemas, Possíveis Causas e Soluções durante a Compostagem. ....................47
Tabela 3.5 - Descrição de procedimentos para produção de composto orgânico pelo método
de leiras a céu aberto ................................................................................................................47
Tabela 3.6 – Características Químicas de Compostos Orgânicos produzido pelo método de
leira a céu aberto utilizando resíduos urbanos misturados a outros substratos. .......................48
Tabela 3.7 – Valores médios de altura, diâmetro e número de folhas e peso médio da matéria
seca de raízes e parte aérea de abieiros, aos 105 dias, usando como fonte de nutrientes
composto orgânico de lixo urbano de Barcarena, PA. .............................................................51
Tabela 4.1 - Características das leiras estudadas......................................................................53
Tabela 5.1 – Disposição geral dos ensaios realizados ..............................................................69
Tabela 5.2 – Teores de Celulose, Hemicelulose e Lignina no inicio e no final de fase de
maturação..................................................................................................................................80
Tabela 5.3 – Tempo de compostagem e características iniciais das leiras ...............................90
Tabela 5.4 - Resultados de teores de material orgânica macro e micronutrientes....................91
Tabela 5.5 - Resultados de teores de material orgânica macro e micronutrientes em( g.Kg-1) 92
Tabela 5.6 – Densidade Aparente (g/cm3) e porcentagem de resíduos orgânicos dos
Compostos ................................................................................................................................94
Tabela 5.7 - Condutividade Elétrica dos compostos produzidos..............................................96
Tabela 5.8– Teores de metais pesados (mg kg-1) da Leira 1 em comparação aos níveis
permissíveis em alguns paises da Europa e Estados Unidos ....................................................97
Tabela 5.9 – Valores médios da produção de massa seca trinta e cinco dias após o plantio. ..99
Tabela 5.10 – Composição química da terra fertilizada utilizada nos tratamentos ..................99
xi
1. INTRODUÇÃO
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que sejam simples, eficientes e de baixo custo, fazem da compostagem um processo de alta
viabilidade de uso no país.
A compostagem de resíduos orgânicos é um dos métodos mais antigos de
reciclagem, durante o qual a matéria orgânica é transformada em fertilizante orgânico. Além
de ser uma das soluções para os problemas dos resíduos sólidos orgânicos, o processo de
compostagem proporciona o retorno de matéria orgânica e nutrientes ao solo. Este processo
é resultado da decomposição biológica do substrato orgânico, sob condições que permitam o
desenvolvimento natural de altas temperaturas, com formação de um produto
suficientemente estável para armazenamento e aplicação ao solo, sem efeitos ambientais
indesejáveis (PEREIRA NETO & MESQUITA, 1992).
Este processo envolve transformações extremamente complexas de natureza
bioquímica, promovidas por diversos microorganismos do solo que têm na matéria orgânica
in natura sua fonte de energia, nutrientes minerais e carbono. O composto possui nutrientes
minerais tais como nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre, que são
assimilados em maior quantidade pelas raízes, além de ferro, zinco, cobre, manganês, boro e
outros que são absorvidos em quantidades menores e, por isto, denominados de
micronutrientes (SILVA, 2000). Outra importante contribuição do composto é que ele
melhora as condições do solo. A matéria orgânica compostada se liga às partículas (areia,
limo e argila), formando pequenos grânulos que ajudam na retenção e drenagem da água,
melhoram a aeração, a capacidade de troca catiônica e as propriedades físicas do solo. Além
disso, a presença de matéria orgânica no solo aumenta o número de minhocas, insetos e
microorganismos desejáveis, o que reduz a incidência de doenças nas plantas.
O processo de compostagem mais usual, a partir de lixo orgânico urbano, na
produção de composto orgânico é o de leira por revolvimento, por ser um processo
relativamente simples e de baixo custo. A decomposição da matéria orgânica é realizada
pelo processo aeróbio e a introdução do oxigênio na leira ocorre através do revolvimento
periódico da massa de compostagem.
Atualmente, á medida que cresce o nível educacional da população urbana em
geral, também aumenta a compreensão dos problemas ligados ao gerenciamento do lixo.
Conceitos como redução, separação na origem dos materiais orgânicos e compostagem já se
tornam familiares. Existe muito interesse na promoção da compostagem dos resíduos
orgânicos urbanos de modo descentralizado, em pequena escala, nas próprias comunidades,
bairros, quarteirões, casas, onde ele é produzido (FUREDY, 2001). O processo de
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compostagem em pequena escala permite sua aplicação, não só em ambientes urbanos, como
também na agricultura familiar e em pequenas propriedades agrícolas, podendo ser utilizado
como instrumento de educação ambiental, aumentando a possibilidade de realização do
processo.
Muitas agências internacionais e bilaterais criaram projetos pilotos voltados para
a compostagem em pequena escala (HOORNWEG et al., 1999). Para que haja uma
economia significativa de energia e custos de transporte de resíduos sólidos municipais,
assim como uma redução substancial da emissão de poluentes, o desenvolvimento de
sistemas de compostagem locais em pequena escala é essencial, sendo uma estratégia com
grande potencial de sucesso (MARQUES E HOGLAND, 2002).
Quando utilizado na agricultura familiar, o composto ainda contribui para
produção de produtos orgânicos, que vem sendo cada vez mais valorizados. A utilização da
matéria orgânica como fonte principal de adubação, permite que as plantas cresçam mais
resistentes e fortes, restaurando ainda o ciclo biológico natural do solo, fazendo com que se
reduzam de maneira significativa as infestações de pragas, diminuindo, conseqüentemente,
as perdas e as despesas provenientes da utilização dos agrotóxicos e fertilizantes minerais
(LONGO, 1987).
Apesar de todas as vantagens apresentadas, o tratamento de resíduos orgânicos
através do processo de compostagem, na região nordeste, diminuiu em 74,2% entre os anos
de 1992 a 2001 (IBGE, 1992; IBGE, 2001). Esse fato pode ser atribuído à falta de
informação técnica sobre o assunto, resultando em experiências mal sucedidas, e devido as
dificuldades que os municípios tem encontrado para a implantação do processo em grande
escala através das usinas de compostagem.
O presente trabalho tem como principal objetivo demonstrar a viabilidade da
realização da compostagem em pequena escala através do monitoramento do processo e
analise dos compostos gerados. Foi utilizado resíduos de feiras livres (fonte de nitrogênio) e
resíduos de poda (fonte de carbono) como substrato. Os resíduos orgânicos foram coletados
nas feiras livre de Aracaju e como resíduo vegetal foram utilizados os resíduos provenientes
das podas realizadas no Campos II da Universidade Tiradentes em Aracaju. O método de
compostagem utilizado foi o de leiras a céu aberto com oxigenação através de revolvimentos
manuais. As variáveis estudadas foram a relação das porcentagens de resíduos de feiras
livres e resíduos de poda na construção das leiras e o diâmetro das partículas dos resíduos.
Os parâmetros monitorados foram: Temperatura, pH, umidade, nitrogênio total, contagem
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microbiana, degradação de celulose, hemicelulose e lignina. Ao final do processo de
compostagem os diferentes compostos gerados foram caracterizados em relação as suas
propriedades químicas e físicas, analisando-se os resultados obtidos em relação ao tamanho
reduzido das leiras utilizadas no presente estudo. Os compostos gerados foram testados
quanto à sua influência no crescimento inicial de mudas de girassóis. Os estudos foram
baseados em metodologias bem estabelecidas, levando-se em conta, para efeito comparativo,
estudos anteriormente realizados.
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2. OBJETIVOS
16
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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A disposição ou destinação final dos resíduos sólidos urbanos consiste em uma
das maiores preocupações dos administradores municipais. Segundo a CETESB (2002), a
disposição e o tratamento de resíduos sólidos distribuem-se da seguinte forma: 76%
depositados em lixões a céu aberto, 22% em aterros controlados e sanitários e apenas 2% têm
outra destinação, como as usinas de compostagem e a incineração.
18
3.1.1 Impactos Ambientais Relacionados à Má Disposição de Resíduos Sólidos
19
biológicas, uma vez que o solo é um atributo ambiental que não se move e não se renova, ao
contrário do ar e da água (BRASIL, 1983 apud SISINNO E OLIVEIRA, 2000; LIMA, 1995).
A poluição do solo ocorre pela retenção de substâncias tóxicas presentes no chorume
pelo solo. A permanência dessas substâncias no solo depende de vários fatores, que vão desde
características físico-químicas do solo, às características dos resíduos depositados e fatores
climáticos (SISINNO E OLIVEIRA, 2000). A presença de substâncias poluentes do chorume
no solo colabora para o aparecimento de macro e microvetores, responsáveis pela proliferação
de doenças, que podem causar tanto problemas de saúde pública como uma série de outros
problemas, a exemplo, da desvalorização das áreas próximas ao aterro (BOWLER, 1999).
Segundo SISINNO e OLIVEIRA (2000), ao atingir os lençóis d`água subterrâneos, o
chorume pode poluir poços, provocando endemias, desencadeando surtos epidêmicos ou
provocar intoxicações, se houver a presença de organismos patogênicos e substâncias tóxicas
em níveis acima dos permissíveis. Os mesmos autores ainda citam, que esses processos
tornam o uso da água limitado, podendo ocorrer pelo contato direto horizontal da água
subterrânea atravessando o lixo quando o lençol é alto, ou por capilaridade até atingir o lençol
d`água.
A deposição de resíduos sólidos urbanos ainda provoca a geração de gases através da
decomposição desses resíduos por bioreações promovidas pela ação de microrganismos, que
os transformam em substâncias mais estáveis. Como exemplo dessas substâncias pode-se
citar, dióxido de carbono, água, gás metano, gás sulfídrico, mercaptanas e outros
componentes minerais (NOVA GERAR, 2003).
Segundo ENSINAS (2003), o aterramento do lixo, juntamente com o tratamento
anaeróbico de esgotos domésticos e efluentes industriais, é apontado como uma das maiores
fontes de liberação de metano para atmosfera, contribuindo significantemente para o
agravamento do efeito estufa. Os aterros são responsáveis por cerca de 5 a 20% de metano
liberado por fontes com origem em atividades humanas (IPCC, 1996 apud ENSINAS, 2003) e
pode contribuir em parte de 2-4% do total global das emissões gasosas do efeito estufa
(EMURB, 2002).
Segundo o inventário Nacional de Emissões de Metano Gerado pelos Resíduos no
Brasil (CETESB, 1998), cerca de 805 mil toneladas de metano foram gerados em 1994, sendo
que 84% desse total foi resultado dos resíduos sólidos municipais (ENSINAS, 2003; NOVA
GERAR, 2003).
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Além do metano os compostos orgânicos voláteis (COV’s), os hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (HPO’s) e os compostos de odores desagradáveis também são
preocupantes. As emissões de COV’s contribuem para formação do ozônio, que juntamente
com os HPOs e o metano provocam efeitos adversos à saúde humana e ao desenvolvimento
da vegetação. Essa preocupação torna-se maior em áreas de depósito de lixo onde não ocorre
o devido controle. Nestes casos geralmente ocorre migração dos gases para áreas próximas ou
até mesmo emanações pela superfície (ENSINAS, 2003; EMURB, 2002).
Outro impacto provocado pelo metano é que em altas concentrações no biogás (5%
é o limite mínimo de explosividade), existem riscos de incêndios e explosões em instalações
próximas aos aterros. As emissões descontroladas de gases ainda estão relacionadas com
odores desagradáveis que podem levar indivíduos residentes em áreas próximas aos aterros a
distúrbios emocionais, além de favorecer a desvalorização dos imóveis localizados próximos
a esses aterros (USEPA, 1991 apud ENSINAS, 2003; EMURB, 2002).
A maioria dos impactos apresentados anteriormente, a exemplo da proliferação de
vetores e a formação de gases e chorume, estão diretamente relacionados com a presença de
resíduos orgânicos, uma vez que esses impactos ocorrem devido à degradação dos mesmos.
Vale ressaltar, que esses resíduos orgânicos, equivalente a aproximadamente 57% de todo
resíduo urbano gerado no Brasil, são justamente os resíduos passíveis de serem empregados
no processo de compostagem.
Segundo a NBR 10.004 (ABNT, 2004), “os resíduos sólidos são os resíduos no
estado sólido e semi-sólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nessa
definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água e esgoto, aqueles gerados
em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos
de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia possível”.
Os resíduos sólidos podem ser classificados de acordo com sua origem, como
mostra a Figura 3.2.
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Já os resíduos sólidos urbanos podem ser definidos como sendo um conjunto
heterogêneo dos resíduos sólidos gerados em residências e/ou em estabelecimentos
comerciais e prestadores de serviços, bem como daqueles resultantes das atividades de
limpeza (varrição, capina, poda, etc.) de vias e logradouros públicos (ENSINAS, 2003).
Segundo GOMES (1989) e JARDIM et. al. (1995), os resíduos sólidos urbanos
ainda podem ser classificados de acordo com seus diferentes graus de biodegrabilidade:
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incidência de doenças e/ou apresentar efeitos adversos ao meio ambiente, quando
manuseados ou dispostos de forma inadequada;
b) Resíduos classe IIa – Não Inertes: resíduos sólidos que não se enquadram na classe I
(perigosos) ou na classe III (inertes). Estes resíduos podem ter propriedades tais como:
combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água.
c) Resíduos classe IIb – Inerte: resíduos sólidos que, submetidos a testes de solubilização não
tenham nenhum de seus constituintes solubilizados, em concentrações superiores aos padrões
de portabilidade de águas, excetuando-se os padrões: aspecto, cor, turbidez e sabor, Como
exemplo destes materiais podemos citar, rochas, tijolos, vidros e certos plásticos e borrachas
que não são decompostos prontamente.
Como foi visto anteriormente, cerca de 57% de todo resíduo urbano gerado no
Brasil é constituído de matéria orgânica, que por sua vez apresenta potencial para produção de
composto orgânico. A seguir serão abordados os principais pontos relacionados à utilização
da matéria orgânica na geração de composto.
23
Há também registros de operações com utilização de resíduos orgânicos para
produção de composto há mais de dois mil anos, porém estas práticas só foram
detalhadamente descritas a cerca de 1000 anos atrás. Na Europa, durante o século XVIII e
XIX, os agricultores transportavam seus produtos para cidades e, em troca, regressavam as
suas terras com resíduos sólidos urbanos para utilizá-los como corretivos orgânicos do solo
(BRITO, 2006).
Segundo KIELH (1985), até o ano de 1842 os adubos aplicados aos solos eram
praticamente de origem orgânica; só a partir dessa data, com o lançamento da teoria
mineralista do barão Justus von Liebig, surgiram os fertilizantes minerais. Atrelado a isso, nas
décadas de 1970 e 1980, a utilização dos resíduos orgânicos urbanos perdeu a popularidade na
produção de composto, principalmente pelo fato dos resíduos gerados a partir dessa época
apresentarem características cada vez mais inadequadas para geração de fertilizantes
orgânicos.
Em contra partida, a partir da década de 1990 até os dias atuais, o processo de
utilização de resíduos orgânicos para geração de fertilizantes tem despertado um novo
interesse, principalmente pela falta de locais para destinação correta desses resíduos e devido
às pressões exercidas para utilização de métodos com menor impacto ambiental, visando o
atendimento aos princípios do desenvolvimento sustentável (BRITO, 2006).
A matéria orgânica, sob o ponto de vista químico, é toda substância que apresenta
em sua composição o carbono tetracovalente, tendo suas quatro ligações completadas por
hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre ou outros elementos (KIEHL, 1985). Na natureza
existem três grandes reinos: mineral, animal e vegetal; a matéria orgânica provém dos reinos
animal e vegetal.
A síntese da matéria orgânica a partir de elementos minerais e compostos simples
é realizada por microrganismos autotróficos e por plantas clorofiladas. Pelo processo de
fotossíntese, utilizando energia solar, gás carbônico, água, amido e açúcar, as plantas
sintetizam compostos como proteínas, celulose e outras substâncias encontradas nos tecidos
vegetais. As plantas servem de alimento aos animais, enquanto que o homem e os animais
carnívoros e onívoros se alimentam de plantas e outros animais. Os restos orgânicos, animais
e vegetais, retornam ao solo sendo transformados em nutrientes por microrganismos,
24
assimilados pelas plantas, completando o ciclo da matéria orgânica (KIEHL, 2002; PEREIRA
NETO, 1989).
Ao incorporar resíduos de plantas e/ou animais diretamente ao solo ou dispor em
pilhas para sofrer fermentação, havendo condições de umidade e aeração favoráveis com a
presença de microrganismos, iniciará uma rápida decomposição que decrescerá com o tempo.
A decomposição é feita por um grupo diversificado de microrganismos, a
exemplo de bactérias, fungos, actiomicetes, protozoários, algas, além de vermes, insetos e
suas larvas, resultando na liberação de elementos químicos que estavam imobilizados,
tornando-os disponíveis na forma de nutrientes minerais (CAMPOS, 1998; SIQUEIRA,
2006). Durante o processo de decomposição da matéria orgânica uma grande quantidade de
substâncias é formada para gerar as células microbianas; através da morte dos
microrganismos essas substancias serão atacadas por outros organismos, ocorrendo uma
reciclagem até o ponto em que a matéria orgânica original e complexa se transforme em
compostos minerais simples (KIEHL, 1985).
Os constituintes dos resíduos orgânicos são decompostos em diferentes estágios,
com diferentes intensidades e por populações de microrganismos diferentes. Primeiramente
são degradados os açúcares, amidos e as proteínas solúveis. Em seguida ocorre a
decomposição de algumas hemiceluloses e das demais proteínas. A celulose, certas
hemiceluloses, os óleos, as gorduras e as resinas são decompostos de forma mais demorada e
por organismos específicos. As ligninas, certas graxas e taninos são materiais considerados
como os mais resistentes à decomposição (HAUG, 1993).
Segundo KIEHL (2002), durante o processo as proteínas são primeiramente
hidrolizadas por enzimas proteolíticas produzidas pelos microrganismos, gerando
polipeptídios, aminoácidos e outros derivados nitrogenados, os quais podem ser utilizados por
outros organismos. O nitrogênio orgânico é convertido à forma amoniacal, sendo que a
quantidade produzida é função do teor de proteína, carboidratos e outros constituintes. Daí
percebe-se a importância da concentração inicial de nitrogênio no processo de decomposição
da matéria orgânica.
25
benefícios ocorrem devido à sua influência sobre as propriedades físicas, químicas, físicos-
químicas e biológicas do solo, provocando o aumento de produtividade (PEREIRA NETO,
1989). A produtividade do solo é um atributo que depende basicamente de fatores: climáticos,
propriedades físicas e propriedades químicas do solo. Esses três fatores apresentam, quanto a
sua importância, diferentes grandezas, sendo os fatores climáticos os mais importantes por
serem de difícil controle, normalmente denominado como fatores primários. As condições
físicas são referidas como fatores secundários por apresentarem grau médio em relação ao seu
controle. As condições químicas são fatores terciários, assim classificados pelo fato de serem,
relativamente, os de mais fácil controle (KIEHL, 1985).
Ainda segundo o mesmo autor, um solo pode ser fértil (rico em nutrientes) e não
ser produtivo por não apresentar condições favoráveis com relação aos outros dois fatores. A
fertilidade do solo pode ser elevada através do emprego de fertilizantes minerais, corretivos e
fertilizantes orgânicos. Os fertilizantes minerais e os corretivos podem elevar a fertilidade do
solo, porém, são incapazes de melhorar as propriedades físicas, fato que ocorre através da
aplicação da matéria orgânica.
Segundo MARÍN et al. (2005), dentre as propriedades físicas do solo que sofrem
melhoras através da adição de matéria orgânica pode-se citar:
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relação aos nutrientes, todos os dezesseis elementos químicos essenciais para alimentação das
plantas, macro e micronutrientes , podem ser encontrados na matéria orgânica (KIEHL,
1985).
A matéria orgânica ainda proporciona melhorias em algumas propriedades físico-
químicas do solo, como por exemplo, adsorção de nutrientes, capacidade de troca catiônica,
superfície específica; e promove constante dinamismo nos solos, devido à presença de
diversos organismos benéficos ao solo, atuando de forma benéfica também nas propriedades
biológicas do solo (MARÍN et al., 2005).
Segundo KIEHL (1985), “Fertilizante orgânico pode ser definido como sendo
todo produto de origem vegetal ou animal que, aplicado ao solo em quantidades, em épocas e
maneiras adequadas, proporciona melhorias de suas qualidades físicas, químicas, físico-
químicas e biológicas, efetuando correções de reações químicas desfavoráveis ou de excesso
de toxidez e fornecendo às raízes nutrientes para produzir colheitas compensadoras, com
produtos de boa qualidade, sem causar danos ao solo, à planta ou ao ambiente.”
No Brasil, as características dos materiais comercializados como fertilizantes
devem obedecer às especificações existentes, que dispõem sobre a inspeção e a fiscalização
da produção e comercio de fertilizantes e corretivos agrícolas e aprovam normas sobre
especificações, garantias e tolerâncias. Dentre os documentos legais que tratam do assunto
pode-se citar:
27
As legislações brasileiras, em relação aos compostos orgânicos, estão limitadas a
fiscalização e especificação de alguns parâmetros químicos para fertilizantes
comercializáveis. Nada é citado em relação a teores de metais pesados e presença de
patogênicos, que são especialmente preocupantes quando o composto é gerado com resíduo
urbano e biossólidos provenientes de processos industriais.
Tabela 3.1 – Valores estabelecidos como parâmetros de controle para o composto orgânico
Parâmetro Valor Tolerância
pH Mínimo de 6,0 Até 5,4
Umidade Máximo de 40% Até 44%
Matéria Orgânica Mínimo de 40% Até 36%
Nitrogênio Total Mínimo de 1,0 % Até 0,9%
Relação C/N Máximo de 18/1 Até 21/1
Tabela 3.2 – Teores permissíveis de metais pesados (mg kg-1) no composto de lixo urbano em alguns paises da
Europa e Estados Unidos
País Pb Cu Zn Cr Ni Cd Hg
Alemanha 150 100 400 100 50 15 1
Áustria 900 1000 1500 300 200 6 4
França 800 - - - 200 8 8
Suíça 150 150 500 - - 3 3
Itália 500 600 2500 500 200 10 10
Holanda 20 300 900 50 50 2 2
Estados Unidos 500 500 1000 1000 100 10 2
Fonte: GROSSI (1993); SILVA et al. (2002)
28
Segundo SILVA et al. (2002), a utilização no solo de um composto de lixo que
possua uma composição de metais pesados compatível com os valores apresentados na tabela
anterior, mesmo em doses mais elevadas (80 a 150 Mg ha-1), não deve apresentar problemas
de fitotoxidez.
Com relação à presença de agentes patogênicos, alguns cientistas acreditam ser
pouco prático estabelecer níveis limites de patogênicos para os compostos produzidos nos
países em desenvolvimento, e que a única abordagem viável é controlar melhor o próprio
processo de compostagem, através da seleção dos materiais orgânicos que serão utilizados ou
monitorando a temperatura (HOORNWEG et al., 1999).
Na compostagem com leiras por revolvimento, quando bem operado, os
microrganismos patogênicos não são preocupantes, uma vez que a temperatura atingida
durante a degradação dos materiais orgânicos, é suficiente para exterminar esses
microrganismos indesejáveis (PEREIRA NETO & MESQUITA, 1992), como será melhor
apresentado no item 3.2.6, referente à microbiologia da compostagem.
3.4 Compostagem
29
predominantemente termofílicas, e a segunda, chamada de fase de maturação, onde ocorre o
processo de humificação do material compostado.
Em outra definição, RICHARD (1992) define compostagem como uma
intervenção humana no processo natural de decomposição. Com uma combinação de
condições ambientais propícias e um tempo adequado, os microrganismos transformam a
matéria orgânica putrescível em um produto estabilizado.
Como pôde ser visto nas definições citadas anteriormente, o processo de
compostagem distingue-se da decomposição natural que ocorre na natureza por ser um
processo controlado, ou seja, com a interferência humana. Essa interferência visa à obtenção
de um produto de melhor qualidade, dentro dos padrões exigidos pela legislação, em um
espaço de tempo mais curto.
Segundo IPT (2000), o processo de compostagem apresenta as seguintes
vantagens:
30
a) Quanto à aeração
b) Quanto à temperatura
31
c) Quanto ao Ambiente
• Ambiente Aberto: são considerados em ambiente abertos os processos nos quais a massa
a ser decomposta é colocada em montes nos chamados pátios de compostagem. Neste caso
necessita-se de uma maior área e de um maior tempo de decomposição.
• Ambiente Fechado: os processos em ambientes fechados são aqueles nos quais o material
a ser fermentado é encaminhado para digestores em forma de tambores rotativos ou tanques
com revolvedores mecânicos para movimentação da matéria orgânica.
• Lento: os processos lentos também são conhecidos como processos naturais, são aqueles
nos quais a matéria orgânica a ser fermentada é disposta em montes nos pátios de
compostagem após separação dos materiais não degradáveis.
32
das pilhas e evitar a decomposição anaeróbica. Na realização do revolvimento
periódico também se promove uma melhor uniformização do material.
• Reatores: a compostagem é realizada em ambientes que promovem condições ótimas
para acelerar a decomposição do material. Os reatores possuem meios para revolver,
irrigar e aerar o material, possibilitando um maior controle da aeração, temperatura e
umidade, sem a geração de odores desagradáveis. Apresenta a desvantagem de ser um
método de elevado custo de implantação e manutenção, além da necessidade de mão-
de-obra especializada.
Atualmente, outra classificação vem sendo utilizada para os processos de
compostagem de acordo com a escala em que a produção do composto é realizada. Os
processos podem ser classificados de grande (usinas de compostagem), média (leiras com
volumes superiores a 3m3) e pequena escala (realizadas em composteiras ou leiras com
volume inferior a 3m3), que é o objeto de estudo do presente trabalho (MARQUES E
HOGLAND, 2002).
33
O processo de compostagem em pequena escala abre um leque de oportunidades
para aplicação do processo. Também denominado de compostagem caseira, pode ser aplicada
no quintal das próprias residências, utilizando os resíduos orgânicos domésticos. O processo
em pequena escala também pode ser aplicado através da montagem de leiras de pequenas
dimensões, variando de 1 a 3m3 de volume. Neste caso, o processo pode ser aplicado em
condomínios, em empresas que tenham refeitórios, na agricultura urbana e familiar, em
pequenas propriedades agrícolas e até mesmo em escolas e universidades, servindo como
instrumento de educação ambiental.
Outro ponto que também deve ser abordado é em relação à qualidade do
composto gerado em comparação ao método em grande escala. Quando o resíduo é separado
na fonte geradora, através da coleta seletiva, existe uma tendência desse composto ter uma
melhor qualidade, uma vez que o mesmo não foi misturado a outros resíduos que possam
contaminar os mesmos. Vários produtos que fazem parte da composição do lixo urbano, como
produtos de limpeza, papel, cosméticos, pilhas, baterias, óleos e restos de alimentos contêm
compostos de difícil degradação, que podem provocar desde problemas dermatológicos até o
câncer em seres humanos (SILVA et al., 2002).
Quando se trata do processo em grande escala, esses normalmente, ocorrem em
usinas de triagem, onde os resíduos são separados após passar por um processo de coleta
convencional, para posteriormente serem compostados. Essa pratica pode ocasionar, por
exemplo, a incorporação de metais pesados ao produto final a ser utilizado como adubo
orgânico. Atualmente, essa é a grande preocupação no que diz respeito da utilização de “lixo”
urbano no processo de compostagem. Já no processo em pequena escala esse risco é reduzido
uma vez que os resíduos utilizados são gerados no próprio local onde ele será utilizado,
passando por um processo seletivo.
A compostagem em pequena escala, realizada de forma descentralizada, ainda
proporciona uma economia significativa de energia e custos de transporte de resíduos sólidos
municipais, assim como uma redução substancial da emissão de poluentes, uma vez que o
resíduo recebe uma destinação adequada e no próprio local onde é gerado (MARQUES E
HOGLAND, 2002).
Segundo FUREDY (2001), ainda existe muito receio a aplicação desse método em
ambientes urbanos. Há uma tendência cultural de querer sempre afastar o lixo das casas e uma
idéia que a permanência desses poderia trazer inconvenientes como vetores de doenças e mau
34
cheiro. Porém, quando bem executado, o processo de compostagem não apresenta tais
importunos, como será melhor apresentado no decorrer do presente trabalho.
Essa tendência fez com que as pesquisas fossem direcionadas para o ambientes
agrícolas com a utilização do processo em média escala, sendo que os modelos padrões para o
processo de compostagem são especificados nessa escala.
Através desse estudo pretende-se demonstrar que a compostagem em pequena
escala também atende aos requisitos necessários para obtenção de um composto de boa
qualidade que poderá ser utilizado nos jardins de casas, escolas, condomínios e em pequenas
hortas em ambientes urbanos e na agricultura familiar. È bem verdade, que por se tratar de um
processo em pequena escala, alguns parâmetros devem ser melhor monitorados, como será
melhor apresentado no item referente aos resultados e discussão.
a) Temperatura
35
Durante o processo de compostagem deve-se monitorar a temperatura das pilhas. Para isso
deve-se registrar a temperatura de vários pontos da pilha, no interior e no exterior, ou em
diferentes camadas. A temperatura deve alcançar os 40 a 50 °C em dois ou três dias e quanto
mais depressa o material for decomposto mais cedo a temperatura começará a descer. A
decomposição da matéria ocorre mais rapidamente na fase termófila (acima dos 50°C) que
pode demorar semanas ou mesmo meses, dependendo do tamanho e composição da pilha de
compostagem (KIEHL, 2002).
Segundo PEREIRA NETO (1989), quando as pilhas têm volume pequeno o calor
criado pelo metabolismo dos microrganismos tende a se dissipar e o material não se aquece.
Em pilhas maiores essa temperatura pode alcançar até os 80°C. Convém impedir que a
temperatura da pilha ultrapasse muito os 65°C porque a essa temperatura os microrganismos
benéficos ao processo de compostagem são eliminados. Nestes casos a reviragem da pilha e
respectivo arejamento diminui as temperaturas porque o calor se dissipa. As altas
temperaturas são desejáveis pelo fato de destruírem sementes infestantes, esporos, ovos e
quase todos os microrganismos patogênicos, os quais são poucos resistentes a temperaturas
em torno de 50 a 60°C por um certo período de tempo. A Figura 3.3 apresenta a curva padrão
de temperatura durante o processo de compostagem.
b) pH
36
estabilização do composto, alcançando, finalmente, valores entre 7 e 8. Assim, valores baixos
de pH são indicativos de falta de maturação devido à curta duração do processo ou à
ocorrência de processos anaeróbios no interior da pilha em compostagem (KIEHL, 2002).
Segundo HAUG (1993), à medida que os fungos e as bactérias digerem a matéria
orgânica liberam ácidos que se acumulam e acidificam o meio. Este abaixamento do pH
favorece o crescimento de fungos e a decomposição da celulose. Posteriormente estes ácidos
são decompostos até serem completamente oxidados. No entanto, se existir escassez de
oxigênio, o pH poderá descer a valores inferiores a 4,5 e limitar a atividade microbiana,
retardando, assim, o processo de compostagem. Nestes casos deve-se remexer as pilhas para o
pH voltar a subir. A Figura 3.4 apresenta a variação padrão do pH com o tempo de
compostagem.
c) Umidade
37
precisará ser primeiramente dissolvido em água, antes de ser assimilado pelos
microrganismos.
Um teor de umidade de 50 a 60% é considerado indicado para a compostagem.
Abaixo de 35-40% de umidade a decomposição da matéria orgânica é fortemente reduzida e
abaixo de 30% de umidade praticamente é interrompida. O limite superior depende do
material e do tamanho das partículas sendo freqüentemente considerado entre valores de 55 e
60% de umidade. Uma umidade superior a 65% retarda a decomposição, e produzem-se maus
odores em zonas de anaerobiose localizadas no interior da pilha de compostagem, além de
permitir a lixiviação de nutrientes (LIMA, 1995). O excesso de umidade também pode reduzir
a quantidade de ar no interior da pilha, uma vez que o espaço que seria ocupado pelo ar
poderá estar ocupado com água.
Segundo SILVA (2000), a umidade está diretamente relacionada com o tamanho
das partículas e com o tamanho e formato das pilhas. Quanto menores e mais finas forem as
partículas, maior será a capacidade de retenção da umidade. Com relação ao tamanho das
pilhas pode-se concluir que pilhas pequenas tendem a perder mais umidade. À medida que a
matéria orgânica vai se humificando sua capacidade de reter umidade também aumenta.
Caso perceba-se um excesso de umidade nas pilhas deve-se realizar revolvimentos
das mesmas para que essa umidade possa ser reduzida. Há uma regra para determinar quando
e quantas vezes se deve revolver. Segundo KIEHL (1985), quando o conteúdo de umidade
estiver acima do limite máximo recomendado, deve-se iniciar o revolvimento no 3° dia,
repetindo até o 10° ou 12° dia conforme o seguinte esquema:
38
d) Aeração
39
microbiano ou a disponibilidade biológica das partículas, mas em contrapartida, aumentam os
riscos de compactação e de falta de oxigênio (KIEHL, 2002).
40
nitrogênio é utilizado para o crescimento dos microrganismos em uma proporção de dez
partes de carbono para uma de nitrogênio (HAUG, 1993).
As perdas de nitrogênio podem ser muito elevadas (cerca de 50%) durante o
processo de compostagem dos materiais orgânicos, particularmente quando faltam os
materiais com elevada relação C/N. Para relações C/N inferiores, o nitrogênio ficará em
excesso e poderá ser perdido como amoníaco, causando odores desagradáveis. Para relações
C/N mais elevadas a falta de nitrogênio irá limitar o crescimento microbiano e o carbono não
será todo degradado, promovendo o não aumento da temperatura, consequentemente a
compostagem se processe mais lentamente. Um volume de três partes de materiais ricos em
carbono para uma parte de materiais ricos em nitrogênio é uma mistura muitas vezes utilizada.
Com o aumento dos materiais ricos em carbono relativamente aos nitrogenados o período de
compostagem requerido aumenta (KIEHL, 2002; PEREIRA NETO, 1989).
Após o processo de compostagem a relação de C/N do composto bioestabilizado
deve está por volta de 12/1 até 10/1. (MARÍN, 2005).
Segundo SILVA (2000), o processo de compostagem com leiras em pátio tem dois
estágios importantes: a digestão e a maturação. A digestão corresponde à fase inicial de
fermentação, em que o resíduo orgânico se decompõe por processo anaeróbio, tornando-se
bioestabilizado. A fase de maturação é bastante lenta e caracteriza-se pelo elevado grau de
fermentação, sendo o composto orgânico mais rico em nutrientes, que passaram da forma
orgânica para a mineral, tornando os nutrientes mais disponíveis para serem utilizados pelas
plantas. Geralmente a primeira etapa dura entre 25 a 35 dias e a fase de maturação varia de 30
a 60 dias (PEREIRA NETO, 1989). Segundo MARÍN et al. (2005), a duração de cada estágio
da compostagem está relacionada com a natureza da matéria orgânica a ser decomposta e com
fatores que interferem na eficiência do processo, a exemplo dos fatores citados anteriormente.
No início, a massa de lixo está à temperatura ambiente e o meio é ligeiramente
ácido, predominando os microrganismos mesofílicos capazes de viver e agir na faixa de
temperatura de 25 a 45ºC. Esses microrganismos atacam as substâncias mais facilmente
degradáveis, carboidratos simples e nitrogenados solúveis, gerando ácidos orgânicos simples,
o que resulta numa diminuição do pH (SIQUEIRA, 2006). As reações de oxidação são
exotérmicas, razão pela qual a temperatura da massa sobe, alcançando valores acima de 40ºC.
41
A partir daí, passam a predominar os microrganismos termofílicos, provocando o aumento do
pH, passando a alcalino. Quando a temperatura atinge os 55ºC, passam a atuar os
microrganismos capazes de decompor as hemiceluloses, ceras e proteínas. A temperatura se
eleva ainda mais, aproximadamente 65ºC, esterilizando ou matando sementes infestantes,
esporos, ovos e quase todos os microrganismos patogênicos presentes na massa. A
temperatura deve ser controlada para evitar que os microrganismos responsáveis pela
estabilização do lixo sejam destruídos (SILVA, 2000).
Segundo KIEHL (2002), à medida que se esgotam as substâncias de decomposição
rápida, a intensidade das reações químicas diminui, assim como a temperatura da massa. A
decomposição prossegue lentamente e a temperatura diminui até atingir temperatura
ambiente. O pH também vai se aproximando do neutro. Está ultima etapa é chamada de
maturação. O composto maturado apresenta coloração escura, amorfo, com aspecto de húmus
e cheiro de terra. A relação de C/N do composto bioestabilizado situa-se por volta de 12/1 até
10/1, devido à perda de C, como fonte de energia pelos microrganismos, ser maior que a
perda de N-amônio (BERNAL et al., 1998). Essa elevada perda de C faz com que a massa
final do composto geralmente corresponde a cerca de 40 a 60% da sua massa inicial (LEAL,
2006).
42
difícil degradação. Algumas espécies de fungo possuem a capacidade de degradar a lignina,
geralmente mediante a ação de um conjunto de enzimas chamadas de ligninases. Celulose,
hemicelulose e lignina são substâncias intermediarias necessárias para que ocorram trocas
covalentes na formação de novas estruturas, podendo, como exemplo, ocorrer a transformação
de celulose em hemicelulose durante o processo de compostagem (SHARMA, 1995).
Segundo FERMOR et al.(1985), apud SIQUEIRA (2006), a maioria dos
microrganismos presentes no processo de compostagem apresentam a capacidade de
decompor a fração lignocelulósica do substrato. Entretanto, segundo estudos realizados por
SIQUEIRA (2006), nenhum membro da microbiota do composto consegue, isoladamente,
degradar a lignina. Já SÁNCHEZ-MONEDERO et al. (1999), obtiveram valores de 70 a 80%
para degradação de celulose/hemicelulose e 30 a 50% para degradação de lignina, após 20
semanas de compostagem, tempo considerado longo para o processo.
MADEJÓN et al. (2001), estudando a compostagem de resíduos da produção de
açúcar de beterraba, observaram que a utilização de material rico em lignina resultou em
degradação mais lenta da matéria orgânica.
43
com que os organismos presentes morram e cedam lugar a uma nova e diferente população, a
qual passará a dominar a massa (CAMPOS, 1998).
No inicio da decomposição dos resíduos orgânicos, na fase mesofílica,
predominam bactérias e fungos mesófilos produtores de ácidos. Com a elevação da
temperatura, à medida que se aproxima da fase termofílica, a população dominante será de
bactérias fermentativas e nos picos de temperatura aparecem bactérias termofílicas, a exemplo
dos bacillus badius e Bacillus coagulans. Essas bactérias fermentativas utilizam substratos
facilmente degradáveis e com isso proliferam-se rapidamente, aumentando o numero de
unidades formadoras de colônia já no inicio do processo, onde as bactérias são dominantes
(ISHII et al. 2000). Actinomicetos termófilos geralmente aparecem quando o carbono e
nitrogênio facilmente assimiláveis esgotaram-se e a água livre diminui. Fungos termófilos
somente começam a aparecer no estágio final da fase termofílica (SMITH et al., 1995 apud
SIQUEIRA, 2006).
A elevação da temperatura e conseqüente alteração da microbiota é influenciada,
em grande parte, pelo aumento e disponibilidade de oxigênio. Passada a fase termófila, o
composto perde calor e retorna a fase mesófila, porém com outra composição química, uma
vez que os açucares e o amido já devem ter sido consumidos. Essa etapa é caracterizada pelo
crescimento de uma nova comunidade de microrganismos mesófilos e apresenta uma
população complexa de fungos e bactérias, a exemplo de Sphingobacterium multivorum,
Alloiococcus otite, Clostridium fervidus, Cl. Filimentosum e Alcaligenes sp. NKNTAU. Este
comportamento ocorre principalmente devido as mudanças no pH, teores de carbono, ácidos
orgânicos e ácidos húmicos (TAKAKU et al., 2006; ISHII et al. 2000).
O processo termina com a fase criófila, podendo ser encontrados espécies de
microrganismos normalmente encontradas no solo, assim como protozoários, nematóides,
formigas, miriópodes, vermes e diversos tipos de insetos (KIEHL, 1985; ISHII et al. 2000).
Segundo RYCKEBOER et al. (2003), quanto maior a temperatura menor será a
diversidade de microrganismos e maior será a atividade microbiana. A temperatura acima de
60° C pode prejudicar a diversidade de microrganismo presente na compostagem. Para se
obter uma maior diversidade de microrganismos no processo, a temperatura máxima desejável
não deve exceder os 60°C (STROM, 1985). Os fungos e actinomicetas proliferam-se melhor
em temperaturas mais baixas e as bactérias são dominantes em temperaturas elevadas
(HERRMANN & SHANN, 1997; KLAMER & BAATH, 1998).
44
Com relação à umidade, de modo geral, os fungos são menos afetados por
ambientes de baixa umidade do que as bactérias e podem freqüentemente crescer em
substratos secos pela sua capacidade de absorver umidade a partir da atmosfera. Os fungos
podem sobreviver em uma faixa ampla de pH e geralmente apresentam uma demanda mais
baixa por nitrogênio do que as bactérias. Portanto, os fungos apresentam, a princípio, uma
vantagem adaptativa sobre as bactérias em ambientes deficientes em nitrogênio (HAUG,
1993).
Segundo MACAULEY et al. (1993), por meio do monitoramento da sucessão
microbiana no manejo efetivo da compostagem, pode-se identificar a presença de espécies de
fundamental importância, que irão refletir na qualidade e maturidade do composto, servindo
como indicativo do estágio em que o processo se encontra.
Além dos microrganismos responsáveis pela compostagem, ocorre a presença de
microrganismos patogênicos, indesejáveis para o processo, uma vez que o composto poderá
ser utilizado para o cultivo de espécies de hortaliças que podem ser ingeridas cruas. A
preocupação é maior quando a compostagem é realizada com resíduo orgânico, lodos de
estações de tratamento de efluente e/ou excretas de animais (HAUG, 1993). Quando bem
conduzido, o processo de compostagem elimina esses microrganismos devido às elevadas
temperaturas atingidas durante o processo (DÉ PORTES et al., 1998). Na Tabela 3.3 são
apresentadas as temperaturas e intervalos de tempo necessário para destruir os tipos mais
comuns de microrganismos ocasionalmente presentes em resíduos orgânicos.
Tabela 3.3 – Temperatura e intervalo de tempo necessário para destruir os tipos mais comuns de
microrganismos e parasitas ocasionalmente presentes em resíduos orgânicos.
Microrganismo Tempo e temperatura de morte
Salmonella tyfosa O crescimento é paralisado acima de 45°C. Morte em 20-
30 minutos à 55-60 °C.
Salmonella sp. Morte com 60 e 20 minutos à 55 e 60 °C,
respectivamente.
Shigella sp. Morte com 60 minutos a 65°C
Esterichia coli Uma grande proporção morre com 60 e 15-20 minutos à
55 e 60 °C, respectivamente.
Entamoeba histolytic Morte com alguns minutos à 45 °C e com alguns
segundos à 55°C.
Taenia saginata Morte com alguns minutos à 55 °C
Trichinella aparilis Morte rápida à 45°C e instantânea à 65°C
Brucella abortus e Brucella suis Morte em 3 minutos à 62-63 °C e com uma hora à 55°C.
Micrococcus piogenes Morte em 10 minutos à 50 °C
Streptococcus piogenes Morte em 10 minutos à 54 °C
Mycobacterium turberculosis var. hominis Morte em 15 a 20 minutos à 66 °C
Corynebacterium diphtheria Morte em 45 minutos à 55 °C
Néctar americanus Morte em 50 minutos à 45 °C
Fonte: BARAZZETA (1987), apud SHARMA et al.(1997) modificada.
45
3.4.7 Produção de Composto Orgânico
C o le t a
S e le t iv a
T r it u r a ç ã o H o m o g e n e iza ç ã o
d o re s íd u o
T r ia g e m
M a tu ra ç ã o F o rm a ç ã o
ou F e rm e n ta ç ã o d a s le ir a s
H u m if ic a ç ã o
O b te n ç ã o d o D is t r ib u iç ã o d o U t ili z a ç ã o
C o m p o s to C o m p o s to com o adubo
46
compostagem). A carne também deve ser evitada porque pode atrair animais para as pilhas de
compostos.
- Lixo urbano Revolvimento Manual Seção Trapezoidal Comprimento: 4,0 m TEXEIRA et al.
- Capim Largura: 2,0 m (2002)
- Caroço de Açai Altura: 1,2 m
- Lixo urbano Túnel de Ventilação Seção Trapezoidal Comprimento: 4,0 m TEXEIRA et al.
- Capim Largura: 2,0 m (2004)
- Caroço de Açai Altura: 1,2 m
- Resíduo orgânico Revolvimento Manual Cônico com topo Altura: 1,20 m DIAS e VAZ (1997)
- Podas achatado Diâmetro: 0,90 m
- Bagaço de Cana Revolvimento Manual Seção Trapezoidal Comprimento: 3,0 m MATOS et al. (1998)
- Capim napier Largura: 1,5 m
- Palha de café Altura: 1,0 m
- Lixo orgânico Revolvimento Manual FACHINI et al.
- Casca de pínus -------------- --------------- (2004)
47
3.4.8 Características dos Compostos Orgânicos
Tabela 3.6 – Características Químicas de Compostos Orgânicos produzido pelo método de leira a céu aberto
utilizando resíduos urbanos misturados a outros substratos.
Tipos de Resíduo Características Químicas Referências
- Lixo urbano 25,97 g/kg de P2O5; TEXEIRA et al. (2002)
- Capim 30,60 g/kg de K2O;
- Caroço de Açai 70,88 g/kg de Ca;
12,92 g/kg de Mg;
3,72 g/kg de S;
6,62 de pH;
48
3.4.9 Aplicação do Composto como Substrato
Atualmente existem vários materiais com potencial de uso como substratos para
produção de mudas e para aplicação direta em solos. Entretanto a falta de estudos e
informações sobre a utilização desses materiais tem limitado sua utilização. Segundo COSTA
et al. (2001), o composto de resíduos urbanos pode se destacar como uma alternativa para
utilização como composto orgânico, principalmente por ser de fácil aquisição e apresentar
baixo custo.
O composto orgânico de resíduos urbanos apresenta boa capacidade com relação
às melhorias das características físicas, químicas e biológicas do solo, causando efeitos
positivos no crescimento e desenvolvimento de plantas. O êxito no estabelecimento de uma
cultura depende de vários fatores, entre os quais se podem destacar a qualidade das sementes
e a escolha e manejo correto do substrato (BACKES e KAEMPF, 1991).
O substrato é composto por uma fase sólida, constituída por partículas minerais e
orgânicas; uma liquida, constituída pela água, na qual encontram-se os nutrientes,
denominada de solução do substrato; e uma gasosa, constituída pelo ar. Sua principal função é
sustentar a planta e fornecer-lhe nutrientes (GOMES e PAIVA, 2004).
Existem muitos tipos de substrato, em suas formas originais e modificadas, que
são usados para produção e crescimento de mudas de diversas espécies. O substrato deve
apresentar boas características físicas e químicas, sendo as físicas mais importantes, uma vez
que as características químicas podem ser mais facilmente manipuladas. Na escolha de um
meio de crescimento essas características devem ser analisadas, além dos aspectos
econômicos. Segundo CAMPINHOS JR. et. al. (1984); SANTOS et al. (2000); SILVA et al.
(2001); COUTINHO e CARVALHO (1983), algumas características são consideradas
essenciais para um bom substrato:
49
• Apresentar boa agregação das suas partículas nas raízes;
• Boa capacidade de retenção de água;
• Apresentar resistência ao desenvolvimento de pragas e doenças;
• Ser facilmente operado em quaisquer condições de tempo;
• Ser abundante;
• Ser economicamente viável.
O substrato não deve ser muito compacto, pois isso diminui a sua aeração e a
disponibilidade de água para as plantas, prejudicando o desenvolvimento das raízes, assim
como a nutrição das mudas. A presença de matéria orgânica torna-se importante, devido estas
tornarem o substrato mais agregado, aumentando a capacidade de troca catiônica e a
capacidade de retenção de água, regulando as relações hídricas na formação das mudas
(GOMES e PAIVA, 2004).
A porosidade proporciona uma adequada aeração, sendo um aspecto físico muito
importante de um substrato. A deficiência de oxigênio no substrato pode causar a paralisação
do crescimento radicular, podendo provocar danos ou morte desse sistema (KRAMER e
KOZLOWSKI, 1960 apud GOMES, 2001). A acidez pode atuar de maneira direta sobre as
plantas, ocasionando injúrias, ou de forma indireta afetando a disponibilidade de nutrientes,
produzindo condições bióticas desfavoráveis à fixação do nitrogênio e à atividade de
micorrizas, ou ainda aumentando a infecção por alguns patógenos (SANTOS et al., 2000).
Segundo GOMES (2001), dentre os diversos tipos de substratos existentes
destacam-se a vermiculita, o composto orgânico, o esterco bovino, a moinha de carvão
vegetal, a terra de subsolo, a serragem, o bagaço de cana, as acículas de Pinus, o húmus de
minhoca, o composto de resíduos sólidos urbanos e suas misturas em porcentagens variadas.
Segundo SILVA (2000), o composto orgânico, qualquer que seja o processo
utilizado para sua formação, apresenta uma composição com pequenos teores de nitrogênio,
fósforo e potássio (em torno de 1%) e praticamente 50 % de matéria orgânica humificada. É
de grande valor o composto orgânico na recuperação de solos cansados, tendo larga aplicação
na agricultura, em florestas energéticas e na recuperação de áreas degradadas.
Ainda segundo SILVA (2000), dentre as vantagens apresentadas pela utilização de
compostos orgânicos pode-se citar:
50
- Substitui o húmus natural do solo;
- Aumenta a capacidade de retenção de água e ar no solo;
- Melhora as condições físicas, químicas e biológicas do solo;
- Possibilita a formação de microbiota no solo;
- Aumenta a porosidade do solo, tornando-o mais arável;
- Assegura a conservação da umidade e protege contra a evaporação, o frio e calor;
- Por ser sanitizado, é empregado diretamente nas plantações de frutas e verduras, que são
consumidas cruas;
- Dá mais vidas aos jardins, mais viço às plantações e eleva a produtividade agrícola, e;
- Restabelece as condições ecológicas locais.
Tabela 3.7 – Valores médios de altura, diâmetro e número de folhas e peso médio da matéria seca de raízes e
parte aérea de abieiros, aos 105 dias, usando como fonte de nutrientes composto orgânico de lixo urbano de
Barcarena, PA.
Dose de Composto Dados a Planta Peso Seco (grama)
Orgânico Altura Diâmetro N° de Raiz Caule Folha Parte Planta
(cm) (cm) folhas Aérea
0% 24,35 0,54 17,92 4,20 1,40 2,93 4,33 8,53
10% 37,13 0,59 22,83 4,50 2,45 5,35 7,80 12,30
20% 35,13 0,56 24,67 4,13 2,40 5,73 8,13 12,25
30% 31,22 0,57 21,08 4,18 2,05 6,03 8,08 12,25
40% 26,69 0,51 21,42 3,08 1,28 5,88 7,15 10,23
50% 25,49 0,50 19,79 2,65 1,30 4,75 6,05 8,70
Fonte: BRASIL (2003).
51
4. MATERIAIS E MÉTODOS
52
leiras foram variadas as porcentagens de resíduos de restos de feiras livres e podas e o
diâmetro das partículas das podas.
A disposição das leiras no pátio foi feita de forma a se manterem paralelas e
espaçadas para facilitar o revolvimento, mantendo-se caminhos largos em torno das leiras
para livre trânsito.
O processo de montagem das leiras teve inicio com a trituração dos resíduos
vegetais com o auxilio de um triturador. As dimensões das partículas foram variadas através
do número de vezes que a poda foi passada pelo triturador. Para as partículas de maior
diâmetro o poda foi passada uma vez pelo triturador, e para obtenção das partículas menores a
poda foi passada três vezes.
As leiras foram preparadas inicialmente com uma camada uniforme de poda, em
seguida foi colocada uma camada de resíduo orgânico. Dessa maneira, o material foi
distribuído em camadas uniformes sucessivas de aproximadamente 15 centímetros, sempre
intercalando camadas de podas e resíduos, até atingir a altura de aproximadamente 1 metro.
As leiras apresentaram dimensões de 1m de largura x 1m de comprimento x 1m de altura,
aproximadamente, caracterizando um processo em pequena escala.
Na Tabela 4.1 são apresentadas as características das leiras estudadas:
53
escolhidos dois montes diagonais, que foram posteriormente misturados entre eles. Essa
operação foi repetida até obtenção uma quantidade de material necessária para realização das
analises de pH, nitrogênio total, contagem microbiana, degradação de celulose, hemicelulose
e lignina. No final do processo também foi realizada amostragem de material para analise de
macro e micronutrientes e teores de matéria orgânica.
Após a coleta, as amostras foram colocadas em bandejas previamente taradas e
levadas a estufa a 500 C. Tomou-se cuidado para que essa temperatura não fosse ultrapassada,
com intuito de evitar alterações químicas nas amostras. A secagem foi realizada com a
finalidade de cessar os processos fermentativos que por ventura pudessem acorrer, o que
alteraria a composição do composto, e para facilitar o manuseio do material.
54
4.4.3 Aeração das Leiras
4.4.4 Medição do pH
55
- NaOH concentrado;
- Solução de ácido bórico;
- Mistura indicadora: alaranjado de metila e verde de bromocresol 0,1% em álcool;
- HCl 0,05 N;
- Amostra.
- Digestão da amostra
- Destilação da Amostra
56
A saída de NaOH foi aberta lentamente, diminuindo o aquecimento, com o cuidado
para que o acido bórico não ascendesse para o condensador. Após a adição do NaOH deve-se
a temperatura foi aumentada novamente e esperou-se a condensação da amostra no
erlenmeyer contendo o acido bórico e a mistura indicadora.
Procedeu-se a destilação até o volume de cerca de 100 mL no erlenmeyer e no final
do processo o aquecimento foi diminuído; retirou-se o tubo de destilação e o erlenmeyer foi
substituído por um Becker, realizando-se a limpeza do interior do destilador antes de colocar
outra amostra.
- Titulação do Destilado
(4.1)
57
teor de hemicelulose e o FDA ao somatório de celulose e lignina. Para determinação de
celulose e lignina foi utilizado o método do permanganato (KMnO4). Para a determinação dos
teores lignocelulósicos foram utilizadas as seguintes equações (SILVA e QUEIROZ, 2002):
Reagentes:
- acetona;
58
- sulfito de sódio anidro – Na2SO3;
- decaidronaftaleno – C10H18 (antiespumante).
Determinação:
Pesou-se entre 1,0 g de amostra seca ao ar, triturada em moinho, com peneira de
20 ou 30 “mesh”. A amostra foi colocada em um tubo de 600 mL do aparelho digestor.
Adicionou-se em ordem: 100 mL de solução detergente neutro (temperatura ambiente); 2 mL
de decaidronaftaleno; 0,5g de sulfito de sódio. Aqueceu-se até a fervura (de 5 a 10 minutos),
reduzindo-se a temperatura para evitar a espuma. A temperatura foi ajustada até um nível fixo
e deixou-se em digestão durante 60 minutos, a partir do início da fervura. Após o período de
digestão filtrou-se a amostra em filtro de vidro sinterizado, previamente pesado, por sucção a
vácuo. Está filtração foi realizada imediatamente após a digestão do material, isto é, com o
material ainda bem quente.
A sucção foi lenta no início e mais forte no final. Lavou-se, com água quente
(90ºC a 100ºC), o material dentro do filtro. Repetiu-se esta operação duas vezes, tendo o
cuidado de quebrar a crosta com a ajuda de um bastão de vidro, a fim de facilitar a lavagem e
removeu-se todo complexo gelatinoso formado, principalmente, de proteína e amido. Antes,
porém, lavou-se bem o copo onde se fez a digestão, usando-se o mínimo d’água quente.
Repetiu-se o procedimento, por duas vezes, com acetona (40 mL). Secou-se os filtros a
105ºC, durante 8 horas ou uma noite.
O filtro foi esfriado em dessecador e pesado. Considerou-se como fibra em
detergente neutro a porcentagem dos constituintes da parece celular, calculada pela diferença
entre as pesagens. Os constituintes solúveis, ou o conteúdo celular, foi determinado
subtraindo de 100 a porcentagem encontrada para parede celular.
59
urônicos. É, em geral, menos resistente a tratamento químico e mais digerível que a celulose,
porém menos que os carboidratos solúveis e amido.
Equipamentos:
Determinação:
- Determinação de Lignina
60
sulfúrico a 72% e o do permanganato de potássio. Neste trabalho foi utilizado o método de
permanganato de potássio.
Reagentes:
Determinação:
61
e renovar a solução de desmineralização, até que a fibra ficasse com uma cor amarela. Lavou-
se os filtros com etanol a 80%. Succionou-se até secar e repetiu-se a lavagem duas vezes, com
etanol. Lavou-se duas vezes de maneira similar, com acetona (30 a 40 mL). Os filtros foram
secos a 100ºC, durante oito horas e pesados. Calculou-se o teor de lignina pela perda de peso
da fibra em detergente ácido.
- Determinação de Celulose
62
- Solução de antibiótico
- Inoculação
63
- Contagem das colônias e cálculo dos resultados
64
A proveta plástica de 500 mL foi preenchida até aproximadamente a marca de 300
mL com o substrato na umidade atual. Em seguida, esta proveta foi deixada cair, sob a ação
de sua própria massa, de uma altura de 10 cm, por 10 (dez) vezes consecutivas. Com auxílio
da espátula nivelou-se a superfície levemente e determinando-se o volume obtido (mL). Em
seguida, pesou-se o material (g) descontando a massa da proveta. O procedimento foi repetido
três vezes com subamostras diferentes. Foi expresso o valor da média das medições utilizando
duas casas decimais.
(4.6)
O valor médio da densidade seca (média de três amostras) foi obtido aplicando-se
a seguinte fórmula:
(4.7)
Reagentes:
- Água com condutividade <0,2 mS/m (<0,02 dS/m) a 25°C com pH>5,6;
- Solução de cloreto de potássio 0,100 mol/L: dissolveu-se 7,456g de KCl (previamente seco a
105°C por duas horas) em água e diluir a 1000 mL em um balão volumétrico;
- Solução de cloreto de potássio 0,010 mol/L: adicionou-se 100 mL da solução de cloreto de
potássio 0,100 mol/L em um balão volumétrico de um litro e completar com água.
Equipamentos:
- Condutivímetro com cela de condutividade e equipado com correção de temperatura
automático e resolução menor que 0,01 dS/m a 25°C;
65
- Balança analítica com intervalo de escala de 0,01 g;
- Frascos de plástico ou vidro de tamanho suficiente para acomodar a suspensão mais 10% de
volume de ar;
- Agitador de frascos tipo Wagner capaz de promover agitação da suspensão sem causar
ruptura da estrutura da amostra (40 rpm);
- Papel de filtro faixa branca ou similar.
Determinação:
66
foram analisadas duas espécies de sementes de girassóis, Aguará e V200, desenvolvidas pela
EMBRAPA Soja em Londrina - Paraná. Como substratos foram utilizados os compostos
produzidos no presente estudo e terra utilizada para confecção de mudas na própria
Universidade Tiradentes, cujo resultado da análise química encontra-se no item 5.8 do
Capitulo 5.
As mudas foram produzidas por semeadura direta de três sementes, em
embalagens de polietileno preto com 15 cm de altura e 10 cm de diâmetro. Quando as plantas
atingiram 5 cm de comprimento efetuou-se o desbaste, mantendo a planta mais vigorosa. A
umidade dos substratos foi mantida através de regas realizadas diariamente.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizados com oito
tratamentos e dez plantas por parcela. Os tratamentos utilizados foram os seguintes:
67
A análise de variância (ANOVA) foi utilizada para detectar a diferença
significativa (p ≤ 0,05) entre os tratamentos. Foi utilizado o teste de Tukey para determinar os
valores médios significativos.
68
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
69
Figura 5.1 - Registros de chuva acumulada em 24 h no mês de Março em Aracaju.
Fonte: INMET (2007).
Como pode ser observado nas Figuras 5.1 a 5.3 , foram registradas quatro
situações em que choveu mais que 30 mm de chuva. Entre essas, pode-se destacar o período
70
de 27 a 29 de abril, que apresentou dias consecutivos de chuva, e os dias 1 e 13 de maio,
período que as leiras já se encontravam com seu tamanho reduzido devido à degradação da
matéria orgânica.
71
porém após 35 dias, quando a umidade foi corrigida para 55-60%, a atividade microbiológica,
até então cessada, se restabeleceu em um período médio de 28 horas, registrando-se
temperaturas termofílicas.
Em contra partida, tem-se o fato de que o excesso de umidade pode causar
diversos problemas, como por exemplo, redução da temperatura e oxigênio das leiras e
provocar maus odores e geração de chorume. No processo de compostagem em pequena
escala o controle da umidade é feito de uma maneira bastante simples. O tamanho reduzido
das leiras provoca por si só um rápido ressecamento do material, além de proporcionar um
fácil manuseio das leiras caso haja necessidade de revolvimento, afim de reduzir a umidade.
Dessa forma, mesmo em períodos chuvosos, o problema com o excesso de umidade poderá
ser facilmente corrigido. Segundo LELIS (1998), após a fase termofílica, quando a pilha já
apresenta considerável estágio de degradação e estabilização, a chuva não mais afetará a
umidade da leira de forma drástica. Esse comportamento foi observado somente no estágio
final do processo de compostagem, onde apesar do tamanho reduzido das leiras, as mesmas
não perderam umidade facilmente devido as propriedades de retenção de água apresentada
pelos compostos.
No entanto, as regas em períodos de estiagem devem ser intensificadas, tentando
manter os teores de umidade sempre acima dos 40% para evitar a redução da atividade
microbiológica, o que poderá retarda o processo de compostagem (PEREIRA NETO, 1996).
No final do processo de compostagem as regas foram cessadas com o intuito de
reduzir a umidade das leiras para facilitar o beneficiamento e armazenamento do composto. A
redução da umidade também visa reduzir a atividade microbiana, condição necessária para um
armazenamento adequado do composto (KIEHL, 1985).
72
60 60
55 55
Fase Termofílica Fase Termofílica
50 50
L2 - 60% C/40% N - G
L1 - 70% C/30% N - G
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
45 L3 - 60% C/40% N - P
45 Tamb
Tamb
40
Fase Mesofílica de Maturação 40 Fase Mesofílica de Maturação
35
35
30
30
25
25
0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (Dias) Tempo (Dias)
(a) (b)
60 60
55 55
Fase Termofílica Fase Termofílica
50 50
L4 - 50% 5/30% N - G L6 - 40% C/60% N - G
L7 - 30% C/70% N - G
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
45 L5 - 50% C/50% N - P 45
Tamb Tamb
30 30
25 25
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tempo (Dias) Tempo (Dias)
(c) (d)
Figura 5.4 - Perfis de variação da temperatura ambiente das sete leiras em relação aos dias de compostagem.
Como pode ser observado na Figura 5.4, as temperaturas das sete leiras
apresentaram comportamento semelhante, tendo a fase termofílica iniciada já nas primeiras
horas de compostagem. A explicação para esse comportamento pode está associada ao tipo de
substrato utilizado no processo, resíduo orgânico de feiras livres. Durante o período de coleta
e transporte desses resíduos, aproximadamente um a dois dias, o processo de degradação pode
ter sido iniciado, fazendo com que no momento da montagem das leiras já existisse uma
elevada quantidade de microrganismos responsáveis pelo processo. Este comportamento fez
73
com que praticamente não ocorresse a fase mesofílica antes da fase termofílica, comumente
observada no método de compostagem utilizado.
Por outro lado, os picos de temperatura das leiras variaram de 48,9 a 56°C (Figura
5.4), sendo que a literatura (KIEHL 1985; PEREIRA NETO, 1989; MARÍN et al. 2005),
aponta temperaturas máximas de aproximadamente 70°C. Esse comportamento pode está
relacionado com a utilização de leiras de tamanho reduzido. O aumento do tamanho da leira e
a composição dos materiais, que apresentam boas características de isolamento térmico,
influenciam no acumulo de calor em seu interior, fazendo com que a temperatura alcance
valores bastante elevados. As leiras adotadas no presente trabalho apresentam dimensões de
1,0x1,0x1,0m, um pouco inferiores as recomendadas pela literatura de 1,5x1,5x1,5m (BRITO
et al. 2006), de acordo com o objetivo do trabalho, realizar o processo de compostagem em
pequena escala. Outro fator que pode ter influenciado na obtenção de valores baixos de
temperatura máxima é o fato da perda de calor ser proporcional às dimensões das leiras. As
leiras de menores dimensões têm superfície de exposição proporcionalmente maior em
relação às leiras maiores e um volume gerador de calor proporcionalmente menor, aquecendo-
se com menor intensidade (HAUG, 1993).
Entretanto, apesar das temperaturas reduzidas, as mesmas são suficientes para
eliminar a grande maioria dos organismos patogênicos presentes nos resíduos urbanos, já que
a uma temperatura de 55°C durante cerca de 60 minutos quase todos os microorganismos
presentes nos resíduos são eliminados, como foi apresentado na Tabela 3.3 do item 3.4.6.
Com exceção das Leiras 5 e 7 todas as outras atingiram temperaturas acima de 55°C por
tempos superiores a 60 minutos. Vale ressaltar, que por se tratar de um processo
descentralizado, os resíduos utilizados, normalmente, são oriundos de coleta seletiva,
reduzindo os riscos de contaminação dos mesmos.
O estudo da relação da temperatura com o tamanho das partículas foi feito através
da comparação entre as leiras 2 e 3 e leiras 4 e 5, que tiveram mesmas composições e
diâmetros de partículas diferentes, como foi apresentado na Tabela 4.1, no capítulo referente à
metodologia. A partir desse estudo pôde-se perceber que as leiras de menor diâmetro de
partículas (leiras 3 e 5) apresentaram uma menor variação de temperatura (Figura 5.4-b e
Figura 5.4-c). Tal comportamento já era esperado, uma vez que com partículas de menor
diâmetro a circulação de ar na pilha é reduzida, evitando-se maiores variações de temperatura
(MARÍN, 2005). Entretanto, as leiras com diâmetro de partículas maiores (Leiras 2 e 4)
apresentaram, em alguns momentos, temperaturas ligeiramente superiores as leiras de mesma
74
composição, Leira 3 e Leira 5, respectivamente (Figura 5.4-b e Figura 5.4-c). Esse
comportamento, provavelmente, pode ser explicado devido à maior atividade microbiana
dessas leiras em relação às leiras de partículas menores, como será melhor apresentado no
item 5.8.8. Isso ocorre pelo fato do metabolismo dos microrganismos responsáveis pela
compostagem ser exotérmico, provocando o aumento da temperatura no interior das leiras
(KIEHL, 1985).
Durante o monitoramento do processo pôde-se perceber também que, devido ao
tamanho reduzido das leiras, essas sofreram uma leve influência da temperatura ambiente,
principalmente na fase mesófilica na etapa de maturação.
5.4 Monitoramento do pH
75
L2 - 60% C/40% N - G
10
L1 - 70% C/30% N - G L3 - 60% C/40% N - P
9
9
8 8
pH
pH
7 7
6
6
5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tempo (Semanas) Tempo (Semanas)
(a) (b)
pH
7,0
7,0
6,5
6,5
6,0 6,0
5,5 5,5
5,0 5,0
4,5 4,5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Tempo (Semanas) Tempo (Semanas)
(c) (d)
Figura 5.5 - Perfis de variação do pH das sete leiras em relação às semanas de compostagem.
76
composto seria bastante útil para correção da acidez do solo, assim como no incremento de
matéria orgânica, macro e micronutrientes, como será melhor apresentado no item 5.10 do
presente trabalho.
O composição inicial das leiras e o diâmetro das partículas não influenciaram de
forma significativa nos valores de pH, como pode ser observado na Figura 5.5.
• ODOR: pôde-se perceber a geração de odor desagradável nos primeiros cinco dias de
compostagem, assim como a presença de moscas. Esses problemas foram marcantes
nas três primeiras leiras. A partir da quarta leira utilizou-se uma camada mais espessa
de resíduo de poda no final da montagem da leira, reduzindo o odor e a presença de
vetores. Ao final do processo os compostos apresentaram um cheiro característico de
“terra molhada”, comportamento esse já esperado (KIEHL, 1985).
• COR: Após aproximadamente a quarta semana de compostagem as leiras já
apresentavam uma coloração mais escura, dando indícios do início da fase de
maturação do composto.
• REDUÇÃO DO VOLUME: As leiras com maiores quantidades de resíduos de feiras
livres, Leiras 1, 2 e 3, apresentaram uma maior e mais rápida redução do volume.
Segundo SIQUEIRA (2006), quanto maior o teor de N inicial, maior é a perda de
matéria seca do composto. Isso pode ser explicado pelo fato da atividade microbiana
ser maior em substratos mais ricos em N. De maneira geral, as leiras apresentaram
uma redução de cerca de 50% do volume inicial.
77
2,0
1,8
1,6
1,4
1,2
NTK (%)
1,0
0,8 L1 - 70% C /3 0 % N -G
L2 - 60% C /4 0 % N -G
0,6 L3 - 60% C /4 0 % N -P
L4 - 50% 5 /3 0 % N -G
0,4
L5 - 50% C /5 0 % N -P
0,2
L6 - 40% C /6 0 % N -G
L7 - 30% C /7 0 % N -G
0,0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
T e m p o (D ia s )
78
provocar a lixiviação não só do nitrogênio como de outros nutrientes. No estudo em questão
esse fato torna-se mais importante devido ao tamanho reduzido das leiras, fator que pode ter
contribuído para que os teores de nitrogênio finais não tenham sido maiores.
Segundo PEREIRA NETO (1996), outro fator que pode influenciar o acréscimo
de nitrogênio nas pilhas é o fato de que a degradação na matéria orgânica resulta na liberação
de nitrogênio, o qual deixa a forma imobilizada, passando à forma mineralizada, tornando-se
disponível às plantas e microrganismos. Porém no presente estudo esse fator não deve ser
levado em consideração devido ao método utilizado. O método de Kijedahl não mede os
teores de nitrito e nitrato. Como no decorrer do processo de compostagem o nitrogênio na
forma orgânica é transformado a nitrogênio amoniacal e em seguida para a forma de nitrato e
nitrito, esses teores não foram medidos devido a limitações do método utilizado, causando
uma tendência de queda no teor de nitrogênio, tendência essa que pôde ser observada a partir
do 30° dia de compostagem. Esse tipo de comportamento também foi observado por
CAMPOS (1998) ao estudar a estabilização da fração orgânica de resíduos sólidos
domiciliares através do processo de compostagem.
BERNAL et al (1998), cita que geralmente ocorre uma diminuição do nitrogênio
amoniacal e aumento de nitrato após a fase termofílica, devido ao processo de nitrificação.
Esse processo dificilmente ocorre durante a fase termofílica pelo fato dos microrganismos
nitrificadores serem inibidos por temperaturas maiores que 40°C. As leiras estudadas
permaneceram, em média, até o 5° dia na fase termofílica. Alguns dias após o término da fase
termofílica, a partir do 30° dia, pôde-se perceber uma queda dos teores de nitrogênio (Figura
5.6). Essa queda pode está associada justamente ao crescimento de microrganismos
nitrificadores que transformaram o nitrogênio amoniacal em nitrito e nitrato, que como foi
explicado anteriormente, não foram medidos no presente estudo.
Outro fator que pode ter inibido um maior incremento nos teores de nitrogênio,
principalmente na forma amoniacal, foi o fato da grande perda de umidade durante o processo
de compostagem, principalmente devido aos tamanhos reduzidos das leiras. Segundo KIEHL
(1985), a presença de umidade ajuda na retenção da amônia no composto, pois esse gás
combinando-se com a água formando o hidróxido de amônia, podendo reduzir em parte a
perda de nitrogênio.
Apesar das perdas de nitrogênio relacionadas ao tamanho reduzido das leiras,
maior efeito da lixiviação devido às chuvas e a elevada perda de umidade, o teor final de
nitrogênio das sete leiras encontra-se em uma faixa semelhante às apresentadas por autores
79
que trabalharam com leiras de dimensões convencionais (JAHNEL et al., 1999; ALMEIDA,
2003; FACHINI et al., 2004; BRITO, 2006).
Tabela 5.2 – Teores de Celulose, Hemicelulose e Lignina no inicio e no final de fase de maturação
Início da fase de maturação Composto maturado
Leiras Cel (%) Hem (%) Lig (%) Cel (%) Hem (%) Lig (%)
L1 30,23 21,32 10,48 20,16 22,89 15,61
L2 31,49 22,08 11,12 22,25 24,01 17,03
L3 32,03 27,11 12,13 20,52 28,32 16,87
L4 38,42 27,92 13,54 27,05 28,01 18,01
L5 37,69 27,23 12,87 26,45 29,07 17,49
L6 39,02 28,20 13,70 29,20 28,12 17,90
L7 40,61 29,24 14,56 29,84 33,52 18,20
Cel = Celulose; Hem = Memicelulose; Lig = Lignina
80
degradação da lignina, pelos microrganismos presentes na compostagem, ser pequena em
relação à perda de massa nas leiras.
Os resultados obtidos de celulose, hemicelulose e lignina são condizentes com os
resultados apresentados por SIQUIERA (2006) ao estudar o processo de compostagem para o
cultivo de Agaricus blazei. As reduções dos teores de celulose encontrada por SIQUEIRA
(2006) foram da ordem de 50%, enquanto que no presente estudo essa redução foi de cerca de
30%. Entretanto, vale ressaltar que no presente estudo a determinação inicial foi realizada no
inicio da fase de maturação, após a fase de digestão, e o estudo realizado por SIQUEIRA
(2006), foi realizada no inicio do processo, onde parte da celulose e hemicelulose são
digeridas.
Através desse estudo pôde-se perceber também a relação dos teores de celulose,
hemicelulose e lignina com a composição inicial das leiras. As leiras montadas com maiores
quantidades de resíduos vegetais apresentaram teores mais elevados de substâncias
lignocelulósicas (MARÍN, 2005).
Aparentemente, o tamanho reduzido das leiras e as dimensões das partículas não
influenciaram de forma significativa nos resultados referentes à degradação de celulose,
hemicelulose e lignina, como pode ser observado na Tabela 5.2.
81
5.8.1 Leira 1
60 9,00E+008 60 13000000
58 58
TempL1 12000000
56 TempL1 8,00E+008 56
L1Fungo 11000000
54 L1Bacteria 54
52 7,00E+008 52 10000000
50 50
9000000
48 6,00E+008 48
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
46 46 8000000
44 5,00E+008 44 7000000
UFC/g
UFC/g
42 42
4,00E+008 6000000
40 40
38 38 5000000
36 3,00E+008 36 4000000
34 34
2,00E+008 3000000
32 32
30 30 2000000
1,00E+008
28 28 1000000
26 26
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
(a) (b)
Figura 5.7 - Contagem microbiana e temperatura da Leira 1.
82
compostagem. A provável causa desse comportamento pode ter sido a baixa porcentagem de
resíduos vegetais utilizados, o que proporcionou uma maturação mais rápida da Leira 1. A
presença bacteriana durante o processo foi significantemente maior que a presença de fungos
durante todo o processo.
5.8.2 Leira 2
60 7,00E+008 60 8,00E+007
58 58
TempL2 TempL2
56 56
L2Bacteria 6,00E+008 L2Fungo
54 54
52 52
6,00E+007
50 5,00E+008 50
48 48
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
46 46
4,00E+008
44 44
UFC/g
UFC/g
42 42 4,00E+007
40 3,00E+008 40
38 38
36 36
2,00E+008
34 34 2,00E+007
32 32
30 1,00E+008 30
28 28
26 26
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
(a) (b)
Figura 5.8 - Contagem microbiana e temperatura da Leira 2.
Como pode ser observado na Figura 5.8-a, ocorreu um acréscimo UFC de bactéria
(L2Bacteria) do 8° para o 35° dia de compostagem, onde a contagem bacteriana excedeu o
limite de contagem. Ocorreu um brusco decréscimo da atividade bacteriana a partir do 49° dia
de compostagem que se seguiu até o final do processo. Esse comportamento já era esperado,
já que as bactérias fermentativas, responsáveis pela degradação dos substratos mais
facilmente degradáveis começam a ceder espaço para os fungos responsáveis pela degradação
de substratos como a celulose e a lignina.
Em relação aos fungos (Figura 5.8-b, L2Fungo), pode-se observar uma quantidade
elevada de UFC no inicio da fase mesofílica de maturação, ocorrendo um decréscimo no 35°
dia, voltando a crescer no 49° dia de compostagem. No final do processo houve uma nova
queda da atividade microbiológica. Esse decréscimo final da atividade dos fungos,
provavelmente, é um indicativo do final do processo de compostagem e, consequentemente,
avançado grau de maturidade do composto.
83
5.8.3 Leira 3
60 8,00E+008 60
58 58 48000000
TempL3 TempL3
56 7,00E+008 56 44000000
L3Bacteria L3Fungo
54 54
40000000
52 52
6,00E+008
50 50 36000000
48 48 32000000
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
5,00E+008
46 46
44 44 28000000
UFC/g
UFC/g
42 4,00E+008 42 24000000
40 40
20000000
38 3,00E+008 38
36 36 16000000
34 2,00E+008 34 12000000
32 32
30 30 8000000
1,00E+008
28 28 4000000
26 26
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
(a) (b)
Figura 5.9 - Contagem microbiana e temperatura da Leira 3.
84
5.8.4 Leira 4
60 6,00E+008 60
58 58
TempL4 TempL4 8,00E+007
56 56
L4Bacteria 5,00E+008
L4Fungo
54 54
52 52
50 50
48 4,00E+008 48 6,00E+007
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
46 46
44 44
UFC/g
UFC/g
42 3,00E+008 42
40 40 4,00E+007
38 38
36 2,00E+008 36
34 34
32 32 2,00E+007
1,00E+008
30 30
28 28
26 26
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (Dias) Tempo (Dias)
(a) (b)
Figura 5.10 - Contagem microbiana e temperatura da Leira 3.
5.8.5 Leira 5
85
60 5,00E+008 60
58 58 48000000
TempL5 TempL5
56 56 44000000
L5Bacteria L5Fungo
54 54
4,00E+008 40000000
52 52
50 50 36000000
48 48 32000000
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
46 3,00E+008 46
44 44 28000000
UFC/g
UFC/g
42 42 24000000
40 40
2,00E+008 20000000
38 38
36 36 16000000
34 34 12000000
32 1,00E+008 32
30 30 8000000
28 28 4000000
26 26
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
(a) (b)
Figura 5.11 - Contagem microbiana e temperatura da Leira 5.
5.8.6 Leira 6
86
está associado à maior quantidade de resíduos vegetais (substâncias lignocelulósicas) em sua
composição inicial.
60 7,00E+008 60
58 58
56 56
6,00E+008 6,00E+007
54 54
52 52
50 TempL6 5,00E+008 50
48 L6Bactéria 48
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
46 46 TempL6
4,00E+008 4,00E+007
44 44 L6Fungo
UFC/g
UFC/g
42 42
40 3,00E+008 40
38 38
36 36
2,00E+008 2,00E+007
34 34
32 32
30 1,00E+008 30
28 28
26 26
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
(a) (b)
Figura 5.12 - Contagem microbiana e temperatura da Leira 6.
5.8.7 Leira 7
60 1,00E+008 60 2,50E+008
58 58
56 TempL7 TempL7
56
54 L7Bacteria L7Fungo
54
8,00E+007 2,00E+008
52 52
50 50
48 48
Temperatura (°C)
Temperatura (°C)
46 6,00E+007 46 1,50E+008
44 44
UFC/g
UFC/g
42 42
40 40
4,00E+007 1,00E+008
38 38
36 36
34 34
32 2,00E+007 32 5,00E+007
30 30
28 28
26 26
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Tempo (Dias) Tempo (Dias)
(a) (b)
Figura 5.13 - Contagem microbiana e temperatura da Leira 7.
87
atividade bacteriana ocorreu de forma bastante lenta, apresentando uma queda acentuada
apenas no final do processo.
Em relação aos fungos (Figura 5.13-b), houve uma oscilação em relação à UFC de
fungos (L7Fungos) durante o processo de compostagem. Ocorreu um crescimento bastante
acentuado entre o 11° e 35° dia, seguido de uma queda no 56° dia. No 76° dia houve um
pequeno acréscimo e em seguida um decréscimo de UFC, sinalizando o final do processo de
compostagem. Ao contrário do que ocorreu na Leira 6, a atividade dos fungos foi bastante
elevada na fase de maturação, apresentando valores superiores aos apresentados pelas
bactérias. Esse comportamento está associado à elevada percentagem de resíduo vegetal, rica
em substâncias lignocelulósicas, normalmente degrada por fungos, concordando com KIEHL
(1985), SHARMA (1995) e SIQUEIRA (2006).
Bactérias
Fungos
8,00E+008
7,00E+008
6,00E+008
5,00E+008
UFC/g
4,00E+008
3,00E+008
2,00E+008
1,00E+008
0,00E+000
L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7
Leiras
Figura 5.14 – Atividade bacteriana e de fungos máximas para as sete leiras estudadas
88
Ao analisar a Figura 5.14 pode-se perceber que, de modo geral, existe uma relação
entra a atividade bacteriana e a porcentagem inicial de resíduo orgânico. As leiras com maior
porcentagem de resíduos orgânicos apresentaram uma quantidade maior de unidades
formadoras de colônias de bactéria. O contrário foi observado em relação às unidades
formadoras de colônia dos fungos. Os resultados seguiram uma tendência apresentada na
literatura (KIEHL, 1985; SHARMA, 1995; MARÍN et al., 2005, SIQUEIRA, 2006), que
relaciona a degradação dos resíduos vegetais aos fungos lignocelulósicos, explicando a maior
presença de fungos nas leiras com maiores teores de resíduos provenientes das podas. Os
resultados da atividade bacteriana também foram coerentes com a literatura, já que as
bactérias estão relacionadas com a degradação das substâncias de mais fácil degradação,
presente nos resíduos orgânicos (KIEHL, 1985; ISHII et al. 2000; MARÍN, 2005).
Na Figura 5.15 são apresentadas a atividade microbianas total para as sete leiras
estudadas.
Bactérias
Fungos
8,00E+008
7,00E+008
6,00E+008
5,00E+008
UFC/g
4,00E+008
3,00E+008
2,00E+008
1,00E+008
0,00E+000
L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7
Leiras
Como pode ser observado na Figura 5.15, a atividade microbiana teve uma
relação com a composição inicial das leiras. Quanto maior a percentagem de resíduos
orgânicos na composição inicial da leira maior foi sua atividade microbiana, com exceção da
Leira 6 que apesar de apresentar uma pequena percentagem de resíduos orgânicos (40%)
apresentou uma elevada atividade microbiana.
89
O estuda da relação da atividade microbiana com o tamanho das partículas, foi
realizado através da comparação das leiras 2 e 3 e leiras 4 e 5, que tiveram mesmas
composições iniciais e diâmetros de partículas diferentes. As leiras que apresentaram um
maior diâmetro de partículas, Leira 2 e Leira 4, apresentaram maior atividade microbiana em
relação à Leira 3 e Leira 5, respectivamente. A provável causa desse comportamento pode ser
explicada pela limitação de oxigênio nas Leiras 3 e 5. Quanto menor for o tamanho das
partículas, maior é a sua superfície específica e, portanto, mais fácil é o ataque microbiano ou
a disponibilidade biológica das partículas, mas em contrapartida, aumentam os riscos de
compactação e de falta de oxigênio (KIEHL, 2002).
90
apresentaram maiores percentagem de resíduos orgânicos apresentaram os menores tempos de
compostagem. Esse comportamento já era esperado, já que os resíduos orgânicos, ricos em
nitrogênio, são mais facilmente degradados, como foi explicado anteriormente no item 5.8.
Com relação ao diâmetro de partícula, as leiras com partículas de maior diâmetro
apresentaram menores tempo de compostagem. Esse comportamento deve estar relacionado
com a maior atividade microbiana registrada nessas leiras, como foi apresentado no item
anterior.
De maneira geral, o tempo de compostagem para o processo em pequena escala
não apresentou divergência em relação ao processo em escala convencional, durando
aproximadamente 3 meses (KIEHL, 1983; HAUG, 1993; MARÍN, 2005; BRITO, 2006).
91
esses elementos estarem em sua forma mineralizada, sujeitas a lixiviação. Por se tratar de um
processo de pequena escala e a céu aberto, as chuvas ocorridas (item 5.1) e as regas
constantes para o controle da umidade, podem ter provocado a lixiviação de parte desses
nutrientes.
Apesar dos valores de nutrientes mais baixos que os compostos apresentados na
literatura, os compostos gerados no presente estudo, ainda sim, apresentam valores de
nutrientes satisfatórios, principalmente se comparado com os solos da região dos tabuleiros
costeiros de estado de Sergipe, como será melhor apresentado na Tabela 5.5.
Para facilitar o entendimento dos resultados de forma quantitativa, foi feita uma
transformação de unidades de cmolc.dm-3 para g.Kg-1 para o macronutrientes e de cmolc.dm-3
para mg.Kg-1 para os micronutrientres. Essa transformação também irá facilitar a comparação
que será realizada com os resultados de analises do solo dos tabuleiros costeiros no estado de
Sergipe, apresentado por CINTRA e LIBARDI (1998). Os resultados em (g.Kg-1) são
apresentados na Tabela5.7.
Tabela 5.5 - Resultados de teores de material orgânica macro e micronutrientes em( g.Kg-1)
Parâmetro Unidade L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Solo*
Matéria
Orgânica g.Kg-1 96,8 110 113 87,6 110 94,4 115 22
-1
Cálcio g.Kg 3,11 3,33 2,79 3,27 2,91 3,16 5,17 0,24
Magnésia g.Kg-1 0,80 0,84 0,85 0,66 0,86 0,94 1,56 0,12
-1
Sódio g.Kg 0,03 0,03 0,05 0,05 0,03 0,03 0,05 0,03
Potássio g.Kg-1 0,31 0,19 0,60 0,32 0,24 0,31 0,0012 0,0002
Fósforo g.Kg-1 0,62 0,57 0,26 0,40 0,49 0,39 0,11 0,01
Ferro g.Kg-1 0,91 0,76 1,09 0,79 0,85 0,99 0,09 NR
-1
Cobre g.Kg 0,0003 0,0006 0,0009 0,0003 0,0008 0,0004 0,2930 NR
Manganês g.Kg-1 0,022 0,026 0,021 0,020 0,025 0,012 ND NR
Zinco g.Kg-1 0,021 0,031 0,026 0,021 0,059 0,018 0,012 NR
*Solo dos Tabuleiros Costeiros do estado de Sergipe (CINTRA e LIBARDI, 1998).
ND – Não detectado
NR – Não realizado
92
Teores de Matéria Orgânica
140
120
80
60
40
20
0
L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Solo
Teores de Macronutrientes
6,00
5,00
Concentração (g/Kg)
4,00
Magnésia
3,00
Cálcio
2,00
1,00
0,00
L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Solo
Leiras
Teores de Macronutrientes
0,70
0,60
Concentração (g/Kg)
0,50
Sódio
0,40
Potássio
0,30
Fósf oro
0,20
0,10
0,00
L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Solo
Leiras
Através das analises das Figuras 5.16 a 5.18, pode-se perceber que os teores de
matéria orgânica dos compostos ficaram cerca de 4 a 5 vezes maior que os teores
apresentados nos solos. Os valores de cálcio e magnésio também foram consideravelmente
mais elevados, cerca de 6 e 13 vezes, respectivamente. Em relação aos valores de fósforo e
potássio foram obtidos valores em média 80 e 10 vezes maiores, respectivamente, sendo que
apenas para o sódio os valores foram similares. Com isso, pode-se demonstrar que o método
de compostagem em pequena escala, utilizando resíduos sólidos urbanos, é viável para
93
produção de composto orgânico com potencial para utilização não só como condicionador de
solo, como também, para fertilizante orgânico do solo, sobre tudo, na região dos Tabuleiros
Costeiros do Estado de Sergipe.
Tabela 5.6 – Densidade Aparente (g/cm3) e porcentagem de resíduos orgânicos dos Compostos
Parâmetro L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7 Solo
Densidade (g/cm3) 0,59 0,56 0,57 0,56 0,55 0,50 0,45 1,47
Resíduo orgânico (%) 70 60 60 50 50 40 30 00
94
Segundo De BOODT e VERDONCK (1972), apud LACERDA et al. (2006),
quanto maior a densidade aparente, maior a compactação, menor estrutura e menor
porosidade total tem o solo, sendo maiores as restrições para o crescimento e
desenvolvimento das plantas. Solos com densidade elevadas, entre 1,7 a 1,9 g/cm3, inibem de
forma significativa a emergência das sementes e dificultam a penetração e desenvolvimento
das raízes (KIEHL, 1985). Em relação à produção de mudas, substratos com densidade
elevada, ainda influenciam de forma negativa por elevar os custos de transporte do local de
produção aos locais onde as mudas serão utilizadas (KAMPF, 2000).
Em contrapartida, substratos de baixa densidade podem ocasionar problemas de
fixação das plantas e tombamento no cultivo, principalmente em espécies arbórea e de rápido
crescimento, demonstrando a necessidade de se manter uma faixa satisfatória do valor de
densidade dos substratos (SCHMITZ, 2002).
Ainda baseado nos resultados obtidos, pôde-se perceber uma relação entre a
quantidade de material orgânica oriundo do resíduo de feira livre com o incremento da
densidade aparente. À medida que se elevou a dose de resíduo orgânico no substrato utilizado
para montagens das leiras, obteve-se maior densidade aparente (Tabela 5.6). Esse
comportamento também foi observado por STRINGHETA et al. (1997), ao estudar as
características físicas de substratos contendo composto de lixo urbano e casca de arroz
carbonizada. Entretanto, mesmo a Leira 1, composta por 70% de resíduo orgânico, o resultado
de densidade encontrou-se dentro da faixa satisfatória.
Vale ressaltar que as melhorias das condições físicas do solo são consideradas de
grande importância por serem relativamente difíceis de serem controladas, uma vez que os
fertilizantes minerais, normalmente, só melhoram as condições químicas do solo - macro e
micronutrientes (SCHMITZ, 2002).
Os compostos gerados no presente estudo apresentaram valores de densidade
aparente satisfatória, apresentando potencial para melhoria das propriedades físicas do solo e,
consequentemente, para sua utilização como substrato, trazendo benefícios para o cultivo e
produção de mudas. Esse assunto será melhor discutido no item 5.13.
95
Tabela 5.7 - Condutividade Elétrica dos compostos produzidos
UNIDADE L1 L2 L3 L4 L5 L6 L7
Condutividade Elétrica dS/m 4,14 4,51 5,4 4,37 4,74 5,54 4,11
Como pode ser observado na Tabela 5.7, os valores de condutividade elétrica dos
compostos são elevados em relação a valores apresentados em solos, uma vez que solos com
condutividade acima de 4,0 dS.m-1 já pode ser considerado um solo salinizado (BUCKMAN e
BRANDY, 1979). Segundo SÁNCHEZ-MONEDERO et al. (2001), existe uma tendência de
elevação da condutividade elétrica durante o processo de compostagem. O aumento da
condutividade ao longo do processo de compostagem provavelmente é devido ao aumento da
concentração de sais causado pela perda de massa relacionada à oxidação da matéria orgânica
a CO2 (NEGRO et al., 1999).
Há estudos comprovando que a partir de determinados níveis, o adubo orgânico
pode limitar a produção, por provocar salinização do solo, devido à elevada concentração de
íons, os quais variam de acordo com o material que deu origem ao adubo orgânico (COSTA,
1994). Segundo GENEVINI et al. (1991), a elevação da CE do extrato de saturação do solo é
comum após a aplicação de composto orgânico de lixo urbano ao solo devido aos altos teores
de K e Na desses materiais. HERNÁNDEZ et al. (1992) observaram que a CE, inicialmente
2,86 dS.m-1, alcançou 4,28 dS.m-1 ao adicionar ao solo 180 t.ha-1 de composto orgânico de
lixo urbano. Resultados semelhantes também foram obtidos por COSTA (1994).
Entretanto, normalmente ocorre um decréscimo na concentração salina da
superfície do solo adubado com composto orgânico, devido à lavagem de íons solúveis ou em
suspensão, proporcionada pelo movimento descendente da água das precipitações pluviais ou
de sistemas de irrigação (OLIVEIRA, 2000). Como existem variações nesses efeitos em
função do solo (ABREU JUNIOR et al., 2000) e do regime pluviométrico de cada região, é
recomendável que a aplicação de composto de lixo em solos seja monitorada com relação a
esta variável.
Esse efeito de redução da condutividade que ocorre no solo também pode ser
constatado no próprio composto. Os valores de condutividade dos compostos estudados
provavelmente só não foram maiores devido ao regime de regas para o controle da umidade e
as chuvas que ocorrem no período de compostagem, já que as leiras foram montadas a céu
aberto (item 5.1). Este fato contribuiu para que os valores da condutividade dos compostos
gerados pelo processo em pequena escala fossem menores em relação aos valores de
96
compostos gerados em escala convencional apresentados na literatura (HERNÁNDEZ et al.
1992; COSTA, 1994).
Vale ressaltar também que as dosagens de aplicação de composto podem ser
controladas. Para produção de mudas, por exemplo, é aconselhada a utilização de 30 a 40% de
composto para 60% de outros substratos, dependendo das características dos mesmos
(BRASIL, 2003; MENDONÇA et al., 2007; ALMEIDA, 2003). Já para aplicação ao solo as
dosagens devem ser estimadas a partir de dados climáticos (precipitação pluviométrica) e
características iniciais de salinidade do solo e da espécie que será cultivada, a fim de evitar a
salinização dos solos tratados com este tipo de composto (COSTA, 1994; HERNÁNDEZ et
al., 1992; SANTOS et al., 1999).
As análises para detecção dos teores de metais pesados foi realizado somente na Leira
1, por ser a leira com maior percentagem de resíduos orgânicos, que por sua vez apresenta
maior potencial para presença de substâncias desse tipo, em relação ao resíduo das podas. Na
Tabela 5.8 são apresentados os resultados obtidos para os principais metais encontrados neste
tipo de resíduos, fazendo-se uma comparação com os limites estabelecidos na legislação
americana e européia (GROSSI ,1993; SILVA et al. 2002)
Tabela 5.8– Teores de metais pesados (mg kg-1) da Leira 1 em comparação aos níveis permissíveis em alguns
paises da Europa e Estados Unidos
Metal Leira 1 Alemanha Áustria Suíça Itália Holanda EUA
Pb 0,05 150 900 150 500 20* 500
Cu 0,165 100* 1000 150 600 300 500
Zn 0,3825 400* 1500 500 2500 900 1000
Cr 0,1 100 300 - 500 50* 1000
Ni 0,1 50* 200 - 200 50* 100
Cd 0,025 15 6 3 10 2* 10
*Valores mais restritivos
Como pôde ser observado na tabela 5.8, os níveis de metais pesados ficaram bem
abaixo dos teores estabelecidos nas legislações citadas. MONTEIRO (2001), afirma que a
concentração de metais pesados na maioria dos fertilizantes orgânicos produzidos no Brasil,
estão abaixo dos valores limites estabelecidos pelas normas da EPA (Agência de Proteção
Ambiental Americana) e da União Européia, ressaltando que o Brasil ainda não conta com
norma técnica própria que estabeleça limites para os metais pesados nestes fertilizantes.
97
A presença de metais pesados nos compostos de lixo urbano está relacionada com a
maneira que o lixo foi coletado e, quando necessário, separado. Os baixos teores apresentados
no composto estudado ocorreram devidos aos resíduos utilizados terem sido provenientes de
uma coleta seletiva realizada em feiras livres de Aracaju. Quando os resíduos passam por um
processo convencional de coleta para depois sofrer a triagem as chances de contaminação, não
só por metais mas também por outras substâncias tóxicas, são maiores.
O controle da presença de metais pesados no composto faz-se necessário porque
uma vez adicionados ao solo esses podem ser absorvidos pela planta, entrando assim na
cadeia alimentar. Segundo SILVA et al. (2002), é possível reduzir os níveis de metais pesados
nos compostos orgânicos provenientes de lixo urbano. A adoção de uma coleta seletiva
eficiente e a o uso de um separador balístico e de um eletroímã no final da esteira de catação
em usinas de triagem são exemplos. O processo de compostagem em pequena escala trás
como vantagem o fato de que, geralmente, os resíduos utilizados no processo são gerados no
próprio local, reduzindo os riscos de contaminação, além de evitar gastos com o transporte
dos resíduos.
A utilização de um composto de lixo que possua uma composição compatível com
os valores citados nas legislações européias, mesmo as menos restritivas, e em doses mais
elevadas (80 a 150 Mg.ha-1), não deve haver problemas de fitotoxidez em solos (SILVA et al.,
2002; MARCHIORI, 2000; LIMA et al., 1999).
Sendo assim, em relação aos níveis de metais pesados, os compostos gerados no
presente estudo não apresentam restrições para sua utilização como substrato e aplicação ao
solo.
Foi analisada a massa seca da parte aérea de duas espécies de girassóis, Aguará e
V200, utilizando os compostos produzidos no presente estudo. A escolha dessas espécies se
deu pelo fato de suas propriedades de rápido crescimento, serem espécies ornamenteis, por
apresentarem propriedades fitoterápicas (UNGARO, 2000), e com potencial para produção de
biodiesel (HOLANDA, 2004), ou seja, por apresentarem uma vasta utilização.
Durante o estudo não foi possível realizar a pesagem da massa seca do sistema
radicular devido à ocorrência de enovelamento das raízes, ocasionada pela utilização de sacos
de polietileno de pequena dimensão para o tempo de estudo. Esse fato pode ter influenciado
98
nos resultados da massa seca da parte aérea, entretanto não compromete o estudo comparativo
entre os tratamentos utilizados, uma vez que todos os tratamentos foram submetidos às
mesmas condições.
Na tabela 5.9 são apresentados os valores médios da produção de massa seca da
parte aérea para as espécies V2000 e Águara.
Tabela 5.9 – Valores médios da produção de massa seca trinta e cinco dias após o plantio.
Tratamentos Massa Seca da Parte Aérea (g)
V2000 Águara
T1(70% T + 30% C L1) 7,78 a 7,62 a
T2(60% T + 40% C L2) 4,15 bc 5,73 bc
T3(60% T + 40% C L3) 3,50 bd 5,33 b
T4(50% T + 50% C L4) 2,57 ef 2,53 d
T5(50% T + 50% C L5) 4,56 cg 6,52 c
T6(40% T + 60% C L6) 3,30 de 3,75 e
T7(30% T + 70% C L7) 5,12 g 5,01 b
T8(100% T) 3,02 df 3,21 de
*Média de 5 plantas por tratamento
** Médias seguidas da mesma letra, nas colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%.
T = Terra fertilizada; C = Composto
99
Na Figura 5.19 são apresentados os valores das médias da massa seca obtidas após
35 dias do plantio, para todos os tratamentos e para as duas espécies estudadas.
9
8
T1
Massa seca (gramas) 7
T2
6 T3
5 T4
4 T5
3 T6
2 T7
T8
1
0
V2000 Águara
Espécies estudadas
Figura 5.19– Massa seca da parte aérea, em gramas, para as espécies estudadas
100
6. CONCLUSÕES
101
aparente, condutividade elétrica, metais pesados e determinação da produção de massa
seca da parte aérea, podendo-se concluir que:
102
Neste aspecto, verificou-se que o diâmetro das partículas influenciou apenas no
tempo de compostagem e na atividade microbiana, sem alterar de forma significativa as
características finais dos compostos. Já a composição inicial das leiras influenciou
diretamente no tempo de compostagem, nos teores de nitrogênio e das substâncias
lignocelulósicas, na densidade e na atividade microbiana.
Verificou-se também que, de uma forma geral, todas as composições iniciais das
leiras estudadas geraram compostos de boa qualidade, sendo sua utilização dependente da
disponibilidade de resíduos orgânicos e podas. Entretanto vale ressaltar que a Leira 1
destacou-se das demais, principalmente, devido ao reduzido tempo de compostagem, maior
atividade microbiana e por ter apresentado melhores resultados em relação à produção de
massa seca, uma vez que os demais parâmetros analisados não apresentaram diferenças muito
significativas entre as leiras.
A principal contribuição do presente trabalho foi demonstrar que o processo de
compostagem em pequena escala, quando bem conduzido, não apresentou riscos a saúde, até
mesmo em ambientes urbanos, ampliando as oportunidades de aplicação de um método
sustentável para o tratamento dos resíduos sólidos urbanos.
103
7. SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
104
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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118
9. ANEXOS
119
composto já curado (maturado). O composto irá agir como filtro para odores, e por apresentar
aspecto de terra evitará a atração de vetores.
Também não foi registrado o escoamento superficial do chorume. Provavelmente
a formação dessa substância ocorreu em quantidade mínima devido ao correto controle da
umidade durante o processo. Mesmo em dias chuvosos o excesso de umidade não representou
um problema com relação à formação de chorume, uma vez que as leiras de pequenas
dimensões perdem umidade rapidamente. Para evitar a formação do chorume, quando não é
possível fazer um controle correto da umidade, é preferível que a leira apresente níveis
reduzidos de umidade a apresentar excesso, como foi discutido no item 5.2 referente ao
monitoramento da umidade.
Como pôde ser observado item 5.12, relacionado aos teores de metais pesados, os
níveis ficaram muito abaixo dos limites estabelecidos pela legislação européia e americana,
não apresentando riscos a saúde. Vale ressaltar que essas substâncias podem acumular no solo
por um período indefinido, sendo essencial seu controle, principalmente quando não se sabe a
origem dos resíduos que será utilizado no processo de compostagem. Uma vez no solo, essas
substâncias podem ser absorvidas pelas plantas (BETTIOL e CAMARGO, 2000) e acumular-
se em seus tecidos, que ao serem consumidas por animais ou humanos entrarão na cadeia
alimentar provocando diversos efeitos negativos aos seres humanos.
Dentre os efeitos negativos ao organismo humano causado pelos metais pesados
pode-se citar: deficiências neurais, câncer, hemorragia, inflamação em órgãos vitais entre
outros (REIS, 2002).
Com relação à presença de organismos patogênicos, quando bem conduzido, o
processo de compostagem atinge temperaturas suficientes para eliminar os diversos agentes
patogênicos presente no lixo, como foi apresentado no item 3.2.6 referente à microbiologia da
compostagem.
A baixa ocorrência de riscos a saúde, apresentada pelo método utilizado, demonstra a
importância da utilização e divulgação das práticas corretas de produção de composto, através
de oficinas e treinamento das pessoas envolvidas. A origem dos resíduos também apresenta
papel fundamental nesse processo. Resíduos separados na fonte, através da coleta seletiva,
apresentam menores riscos em relação à presença de mateis pesados, por exemplo, pelo fato
de não serem misturados a outros resíduos, como pilhas e baterias descartados de forma
inadequada. A seletividade do material também está relacionada com a presença de vetores. A
120
presença de carne e alimentos nas leiras de composto pode contribuir para presença de
animais, moscas e roedores.
ANEXO 9.2
121
Tabela 9.1 – Dados do Monitoramento da Temperatura (continuação)
122
Tabela 9.1 – Dados do Monitoramento da Temperatura (continuação)
ANEXO 9.3
Tabela 9.2 – Dados Monitoramento do pH
Tempo (semanas) Leira 1 Leira 2 Leira 3 Leira 4 Leira 5 Leira 6 Leira 7
0 5,64 5,98 5,8 5,41 6,12 5,91 5,78
1 4,93 5,51 5,12 5,05 5,65 5,41 5,18
2 7,05 7,15 7,19 7,2 7,78 7,86 7,34
3 9,22 9,32 9,24 9,37 9,26 8,98 7,78
4 9,4 9,58 9,15 9,18 9,23 8,82 8,12
5 9,22 9,36 8,82 8,88 9,38 8,7 9,02
6 9,05 9,04 9,28 9,38 9,34 9,19 8,34
7 9,36 9,14 9,38 8,99 9,35 8,54 8,23
8 9,12 9,08 8,83 8,54 8,4 7,91 8,55
9 8,23 8,74 8,28 8,16 8,1 8,21 8,28
10 8,08 8,5 8,36 8,23 8,55 8,08 8,25
11 8,22 8,53 8,08 8,14 8,37 7,86 8,18
12 8,1 8,37 8,13 8 8,56 8,13
13 8
ANEXO 9.4
Tabela 9.3 – Monitoramento do Nitrogênio Total de Kjeldahl
Tempo (dias) Leira 1 Leira 2 Leira 3 Leira 4 Leira 5 Leira 6 Leira 7
0 0,75 0,86 0,93 0,84 0,96 1,16 0,58
15 1,1 1,27 1,4 1,17 1,44 1,68 0,97
30 1,23 1,46 1,56 1,45 1,3 1,94 1,21
45 1,21 1,42 1,5 1,4 1,45 1,81 1,18
60 1,2 1,31 1,48 1,41 1,6 1,77 1,19
75 1,25 1,23 1,49 1,4 1,59 1,83 1,12
90 1,02 1 1,25 1,18 1,47 1,7 1,05
ANEXO 9.5
Tabela 9.4 – Dados utilizados na análise de massa seca da parte aérea dos girassóis
Repetições T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8
1 7,91 6,95 5,92 2,75 7,20 3,44 4,98 3,23
2 7,48 4,93 5,23 2,32 6,99 3,52 5,43 3,40
3 7,45 5,29 4,99 2,58 7,50 4,68 5,15 2,99
4 7,32 5,36 5,37 2,21 5,02 3,62 4,78 3,32
5 7,95 6,12 5,12 2,79 5,87 3,50 4,69 3,11
123
ANEXO 9.6
Lista de Divulgação dos Resultados
124