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AUTOR(A)
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................5
IMPACTOS SÓCIO-AMBIENTAIS.......................................................................................................14
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................................21
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Introdução
Dentro desta ótica, uma saída controversa na luta contra o aquecimento global
e para o uso racional dos recursos energéticos seria a inclusão de fontes
renováveis à matriz energética mundial, dos quais se destacam os
combustíveis de origem vegetal. Os biocombustíveis - assim chamados por
seus defensores - prometem ser a luz no fim do túnel para o desenvolvimento
capitalista, mas seu estrondoso crescimento não se dá isento de críticas
advindas de parte da comunidade científica e ambientalista que possuem
severas restrições quanto a real possibilidade de implementação sustentável
desta forma de energia, chamando-os, criticamente, de agrocombustíveis.
Sendo assim a própria maneira de se denominar esses combustíveis já denota
um posicionamento perante o debate.
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No sentido marxista do termo que remete seu início a revolução industrial inglesa ocorrida a
partir da segunda metade do século XVIII.
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Segundo estimativas da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação, em português) em sua publicação “Biocombustibles: perspectivas, riesgos y
oportunidades”, PP 11 2008,
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disso, ele possui grande relevância internacionalmente por ser produzido em
todos os continentes da terra através de, como já foi dito, diferentes técnicas
produtivas e matérias-primas que geram impactos ambientais, sociais e
energéticos diversos. Essas distinções devem ser destacadas neste trabalho.
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Ocorreu, paralelamente, um enorme esforço entre governos e empresas para
transformação do etanol em uma comoditie, o que estabilizaria os preços e a
oferta, sendo essa perspectiva suficiente para a inundação de investimentos
internacionais para ampliação das terras, tecnologias e fatores de produção
destinados aos combustíveis de origem agrícola.
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aumento das emissões de gases poluidores. Isso se deve ao fato de que nos
diferentes estudos são levados em consideração questões distintas. Por
exemplo, estudos de ONG’s ambientalistas levam em consideração
desmatamento necessário à expansão das terras agricultáveis contabilizando
mais emissões de CO2, enquanto pesquisadores dos empresários do setor
contabilizam não apenas o CO2 utilizado pela planta na fotossíntese mas
também o injetado no solo pelo processo de respiração radical. Soma-se a isso
a característica altamente teórica dos dados utilizados nestes estudos e temos
um quadro favorável à falta de fontes de pesquisa isentas. Usaremos aqui
então uma gama de estudos oriundos de diversos setores da sociedade.
Questões Técnicas
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Há perspectivas da utilização comercial de celulose para produção do etanol.
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potencial gerador deste combustível. O plantio, portanto, é bastante
heterogêneo pelo mundo assim como sua relação ambiental e social.
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A americana Renewable Fuels Association, a brasileira União da Indústria de Cana-de-açúcar
ÚNICA e a E-bio européia.
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provenientes do etanol produzido localmente e importado de países como o
Brasil.
Mesmo com toda tecnologia investida o etanol americano possui um dos piores
balanços energéticos teóricos e relações de renovabilidade do mundo, devido a
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Bactérias especializadas e vegetais com menor teor de lignina enfraquecendo a madeira, o
que tornará o processo de produção menos dispendioso.
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alta mecanização do campo e a grande energia necessária para quebrar a
cadeia do amido de milho transformando-o em açúcar. Estudos mostram que a
primeira relação pode variar entre 0,5 a 2 com uma média de 1,5 dentre os
autores pesquisados (Pimentel 2001 e Gm/Anl 2001) e que a segunda varia
conforme o autor estudado entre 0,70 a 1,32 (Pimentel 2001 e Gm/Anl 2001)
com uma média de 1,2, demonstrando mesmo na melhor das hipóteses baixos
benefícios ambientais e energéticos.
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Agência Nacional do Petróleo e ÚNICA (União da Indústria de Cana-de-açúcar).
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Tem sua produção do combustível baseada no plantio de cana de açúcar com
90% das lavouras localizadas no sudeste e o restante no nordeste do país.
Segue, neste setor, um modelo bastante parecido com o do restante dos
países em desenvolvimento. Apesar dos recentes e acelerados processos de
mecanização do cultivo no sudeste (mais da metade já é feita com máquinas)
ele não prescindirá da utilização intensiva de mão de obra já que a
mecanização substitui a queima da cana em sua colheita – o que diminui as
emissões de gás carbônico -, mas ainda precisará de trabalhadores que façam
a preparação do campo para passagem das máquinas. A situação dos
trabalhadores de canavieiros é em geral considerada como uma das piores
condições de trabalho mundo, apesar do interesse dos proprietários em
mostrar que avanços estão sendo feitos. A plantação se dá em vastas
extensões de terra, raramente irrigada e com uso menos intensivo de
defensivos agrícolas.
O cultivo da cana de açúcar gera subprodutos que também são utilizados como
fonte de energia como o bagaço e a palha que servem para suprir o consumo
de eletricidade das próprias usinas de etanol. Ele também é altamente
produtivo com a maior relação litros por hectare do mundo. Ademais as
técnicas adquiridas com o know how brasileiro ao longo de trinta anos de
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Em 05/10/2008 houve encontro entre o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e o
subsecretário de Energia dos Estados Unidos, Jeffrey Kupfere no qual se acordaram os
detalhes da negociação.
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Fazendo com que essa organização seja alvo das mesmas críticas feitas à antiga ALCA,
como ser instrumento da dominação norte americana.
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experiência maximizam os resultados nas plantações brasileiras. Esse conjunto
de características faz com que o etanol brasileiro possua o melhor balanço
energético do mundo, de 2 a 8,3 (Macedo et al. 2003 e Macedo 2001 ), e com
o término do processo de mecanização no sudeste do país – que acabará com
a necessidade de queimadas no período da colheita – e a expansão da rede de
dutos que economizam combustíveis no transporte aumentará sua relação de
renovabilidade que atualmente é de 1,8. (Macedo et al. 2003 e Macedo 2001).
A produção tem como matéria prima principal uma cesta de cereais parentes
do trigo 58%, álcool bruto (mistura impura de etanol e água) 22%, beterraba
16% e outras fontes como o milho 3%. Os maiores produtores são França,
Alemanha, Espanha e Polônia, responsáveis por 82 % dos 1,731 bilhões de
litros produzidos em 2007. Por outro lado os maiores consumidores são
Alemanha, Suécia, França, Espanha, Polônia e Reino Unido. Mesmo com o
crescimento da produção e com metas ambiciosas que buscam triplicar a
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Official Journal of the European Union DIRECTIVE 2003/30/EC OF THE EUROPEAN
PARLIAMENT AND OF THE COUNCIL
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produção até 2010 a EU importa 60% do etanol necessário para seu
abastecimento. Paradoxalmente ela impõe diversas barreiras à importação que
vão desde tarifas a até complexos e variados certificados de padronização.
Impactos Sócio-Ambientais
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elevando os preços de gêneros alimentícios. Mas o etanol não prejudica a
segurança alimentar apenas por competir por terras e fatores de produção
agrícola, ele também expulsa, em seu processo de expansão, antigos
proprietários que produziam gêneros para alimentação. Esses produtores
deslocados acabam por ter duplamente reduzidos seus meios de acesso a
alimentos, pois agora não possuem mais como cultivá-los e terão dificuldade
para comprar alimentos com sua renda reduzida. Além disso, a substituição de
cultivos alimentares para os voltados ao etanol – que para ser viável deve ser
feito em grande escala – acentua a dependência externa dos países em torno
de um número menor de comodities com preços regulados internacionalmente
e uma queda ou crise na demanda destes produtos causaria a diminuição
generalizada da renda e dificultaria o acesso a alimentos dessa população que
dedicou seus esforços a produção de vegetais os quais não pode comer.
Claramente as crises alimentares são causadas por inúmeros fatores como
aumento do preço do petróleo (ele aumenta insumos, custos de transporte,
incentiva o aumento da plantação de combustíveis agrícolas), dificuldades
logísticas, sanitárias e climáticas, entretanto se o crescimento esperado para o
etanol realmente ocorra esse será um importante fator na diminuição do acesso
generalizado a alimentos, tornando mais freqüentes fomes crônicas e a
subnutrição endêmica.
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está acontecendo com a ajuda técnica brasileira. O caso chinês é ainda mais
preocupante já que com suas escassas terras agricultáveis o avanço sobre a
vegetação natural se fará não apenas pela conversão de novas áreas, mas
também pelo deslocamento da agricultura camponesa de subsistência. Nos
países desenvolvidos o problema é menos a invasão em florestas primitivas (já
que elas praticamente foram todas devastadas), e sim o uso intensivo de
recursos naturais imprescindível ao seu paradigma de produção agrícola
ambientalmente exigente. É importante ter em mente que as pesquisas mais
otimistas a respeito da relação de renovabilidade do etanol não levam em
consideração as emissões de gás carbônico ocorridas no processo de
desmatamento e conversão de terras em agricultáveis.
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nenhum indício de que elas terão influência negativa sobre a biodiversidade
natural também na há nenhuma que prove que esses novos organismos serão
inertes e inofensivos.
Após toda discussão pudemos verificar que o etanol não seria a nova
coqueluche energética se alguns fatores não tivessem ocorrido. O primeiro e
mais importante é o interesse dos países desenvolvidos, que preocupados em
garantir sua segurança energética – como no caso norte americano – ou
também em obedecer às expectativas dos protocolos de ambientais – como no
caso da União Européia no início de seu programa de incentivo à busca de
energias alternativas10. Anteriormente a este interesse não havia tanta
demanda e as produções locais de etanol atendiam prioritariamente os
mercados internos, possuindo crescimento muito menor e sendo mais
assimilável pelas economias, sem pressionar assim, tão fortemente os preços e
a produção de alimentos.
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Atualmente, frente as criticas aos combustíveis de origem vegetal, diversos setores da
sociedade européia buscam a revisão das metas de substituição de combustíveis fósseis pelos
agrícolas.
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petróleo elas se apressam na prospecção de novas fontes das quais estão
inclusos os combustíveis de origem agrícola.
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O etanol, com seus muitos subsídios governamentais pelo mundo que o tornam
viável economicamente, mostra que na prática será apenas mais uma fonte de
energia a alimentar a sede capitalista insaciável pelo crescimento econômico
inconseqüente, mais um produto da cesta de comodities a sustentar o
agronegócio concentrador de renda, que expulsa do campo e acirra as
desigualdades sociais, uma forma de manutenção da organização internacional
do trabalho ao reprimarizar países com industrialização tardia e, sendo assim,
podemos chama-lo finalmente: Agrocombustível.
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Gama estimada do balanço de energia do etanol:
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Anexo II: Estudos analisados para balanço energético
Bibliografia
E-bio; The UE Ethanol Market European Bioethanol Fuel Associations.
Disponível em: < http://www.ebio.org/EUmarket.php>. Acesso em 11 set 2008.
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FAO; BIOCOMBUSTIBLES: perspectivas, riesgos y oportunidades, FAO:
Roma, 2008.
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