EYva—__—
Educacao e
autoridade
mes de uma palestra sobre Educacdo para
algumas centenas de professores, um jorna-
lista me indagou qual o tema que ew havia
escolhido. Quando eu disse: Educacdo ¢
‘Autoridade, ele piscou, pacecendo curioso: “Auto-
ridade mesmo, tipo isso aqui pode, aquilo no po-
de?". Achei graga, entendendo sua perplexidade.
Pois o tema auworidade comega a ser um verda-
Aeiro tabu entre nds, fruto menos brilhante do pe-
riodo do “E proibido proibir”, que resuliou em
algumas coisas positvas e em alguns desastres —
‘como a atual crise de autoridade na familia e na
escola. Coloco nessa ordem, pois, cliché simplé-
fio porém realista, tudo comega em casa.
Na década de 60 chegaramn ao Brasil algumas
teorias nem sempre bem entendidas ¢ bem aplica-
das. O“E proibido proibir’ junto com uma especie
de vale-tudo. Alguns psicologos ¢ ediucadores nos
disseram que nao devfamos censurar nem limitar
Um nao na hora certa é
necessario, e mais que isso:
6 saudavel e prepara bem mal
para a realidade da vida”
nossas criangas: elas fica
riam traumatizadas. Tudo
passava a ser permitido,
achavamos graga das pio-
res mds-criagbes como se
fossem sinal’ de inteligencia
‘ou personatidade. “Mew tho tem
uma personalidade forte" queria dizer: “E mal-
educado, grosseiro, ndo consigo lidar com cle”.
Resultado, criangas € adclescentes insuportdveis,
pals confusos e professores atOnitos: como contro-
Jar a mé-criagao dos que chegam as escolas, se uma
ccensura séria por uma atitude grave pode provocar
indignagio e até processo de parte dos pais? Quem
‘agora acharia graga seria ea, mas nao é de rr.
Gente de bom senso advertiu, muitos ignora-
ram, mas os pais que no entraram nessa mantive~
‘ram familias em que reina um convivio afetuoso
twwuer COM respeito, civilidade e 20m humor. Negar a ne-
eseiter cessidade de ordem e diseiplina promove hos
dade, grosseria ¢ angustia. Os pais, por mais mo-
deminhos que sejam, no fundo sabem que algo vai
‘mal, Quem di forma ao mundo ainda informe de
uma crianga e um pré-adolescente S20 0s adultos.
Se eles se guiarem por receitas negativas de como
ceducar — possivelmente nao educando —, a agres-
sividade e a inguietagao dos filhos cresceraio mais
emais, na medida em que elessse sentirem despro-
{egidos ¢ desamados, porque ainguém se importa
em Ihes dar limites. Falta de limites, acreditem, &
sentida ¢ funciona como desinteresse.
Um nao 6 necessério na hora certa, € mais
que isso: ¢ saudavel e prepara bem mais para a
realidade da vida (que nao ¢ sempre gentil, mas
4 muita porrada) do que a negligéncia de uma
educagio liberal demais, que & deseducacio,
‘Quem ama cuida, repito interminavelmente, por-
que acre 0. Cuidar dé trabalho, € respon
sabilidade, e nem sempre € agradivel ou divert
do, Pobres pais atormentados, pobres professores
insultados, e colegas maltratedos. Mas, sobretu-
do, pobres criangas e jovenzinhos maleriados,
que vo demorar bem mais para encontrar set
lugar no grupo, na comunidade, na sociedade
maior, ¢ no vasto mundo.
[Nao acho graga nesse assunto. Meus anos de
vida e vivencia mostraram quea meninada, que faz.
na escola ou nas mas e festas uma ba-
ema que ultrapassa 0 divertimento
natural a0 sea desenvolvimento
mental emocional, geralmente
vem de casas onde tudo vale,
Onde os filhos mandam ¢ os
pais se encelhem, ou esto mais
Preocupadas em ser jovenzi-
hos, fortdes, divertidos ou g0s-
tosas do que em ser para 0s fi-
thos de qualquer idade algo mais
do que caras legais: aquela figura a
‘qual, a hora do problema mais sério,
os filhos podem recorrer porque nela
vao encontrar seguranca, protecao, ombro,
colo, uma boa escuta uma boa palavra.
‘Nao precisamos muito mais do que isso para
vira ser jovens adultos produtivos, razoavelmente
bem inseridos em nosso meio, com eapacidade de
trabalho, crescimento, convivio sauudavel e com-
panheirismo e, mais que tudo, isso que vem fal-
tendo em familias, escolas e salas de aula: uma
visto esperangosa das coisas. Nesta época da cor-
reria, do barulho, da altissima competitividade, da
perplexidade com novos padries — as vezes con-
Tasos depois de se terem quebrado os antigos, que
em geral j4 ndo serviam —, temos muita agitacio,
‘mas precisamos de mais alegra.
26] 23 DE SETENIRO, 2009 | VOB