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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

As matrizes autoritárias do Processo Penal brasileiro:


para além da influência do Código Rocco (1941)

Faculdade Nacional de Direito/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

2010

Geraldo Luiz Mascarenhas Prado


As matrizes autoritárias do Processo Penal brasileiro:
para além da influência do Código Rocco (1941)

Faculdade Nacional de Direito/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

2010

Geraldo Luiz Mascarenhas Prado


As matrizes autoritárias do Processo Penal brasileiro:
para além da influência do Código Rocco (1941)

Projeto de Pesquisa a ser apresentado


conforme Edital do Projeto xxx como requisito
para solicitação de bolsas para realização da
pesquisa previamente determinada

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

2010
Sumário

Apresentação

Experiência Prévia das Instituições e Equipe de Pesquisadores

Experiência Prévia da Faculdade Nacional de Direito

Formação da Equipe de pesquisadores

Levantamento prévio de Literatura

Problema

Hipótese

Objetivos

- Objetivo Geral

- Objetivos Específicos

Justificativa

Metodologia

Cronograma

Referências

Esquema do Trabalho
As matrizes autoritárias do Processo Penal brasileiro:
para além da influência do Código Rocco (1941)

1 Apresentação

Tema: Tramita no Senado Federal o PLS 156, que propõe um novo Código
de Processo Penal em substituição ao código em vigor, datado de
1941, período do Estado Novo. A pesquisa buscará identificar as
matrizes autoritárias da lei que se pretende derrogar, para além do
discurso comum da origem no Código fascista italiano. Com isso o
que se persegue, ao fim, é detectar as permanências autoritárias que
se infiltram mesmo no projeto de 2009/2010.

Subtema (palavras-chave): Direito Processual Penal. Histórias das Ideias.


Autoritarismo. Princípio democrático. Princípios Constitucionais
do Processo Penal.

Título: As matrizes autoritárias do Processo Penal brasileiro: para além da


influência do Código Rocco (1941).

Proposta: A proposta que se apresenta consiste em investigar até que


ponto, contra o senso comum teórico, o Código de Processo Penal
brasileiro de 1941 esteve impregnado por noções autoritárias que
transcendiam a influência do fascismo italiano e estruturaram o
contexto naqueles anos 20/40 do século XX, na Europa
Continental.
INSTITUIÇÃO PROPONENTE:

Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de


Janeiro
Departamento de Direito do Estado
Grupo de Pesquisas em Direitos Humanos, Política Criminal e Sistema
de Justiça
Rua Moncorvo Filho, n. 08 – Centro – Rio de Janeiro – RJ
CEP 20211-340 - Tel. (21) 2224-8904
Homepage: http://www.direito.ufrj.br
2. Experiência Prévia da Instituição e Equipe de Pesquisadores
2.1. Experiência Prévia da Faculdade Nacional de Direito

A Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de


Janeiro é uma tradicional instituição fluminense de ensino jurídico que
possui experiência importante na área de pesquisa, notadamente em
Direitos Humanos, e conta com um corpo docente altamente qualificado e
com alunos de graduação selecionados por um competitivo vestibular.

Nesse sentido a FND/UFRJ participou de projetos como o “Pensando


o Direito”, promovido pelo MJ/SAL/PNUD, em dois temas:
“Observatório do Poder Judiciário”, em parceria com a Universidade de
Brasília; e “Constitucionalização dos Tratados Internacionais de Direitos
Humanos e a Emenda Constitucional 45”.

A referida instituição está ainda integrada ao PRONASCI – Programa


Nacional de Segurança Pública e Cidadania, por meio da Rede Nacional
de Altos Estudos em Segurança Pública (RENAESP).

Além dos grupos que se dedicaram à pesquisa com a SAL/PNUD, a


FND conta com outros grupos que atuam em diversas áreas, por meio de
seus professores em regime de dedicação exclusiva e colaboradores em
tempo parcial.
A pesquisa na Instituição do grupo envolvido com o presente projeto
se estruturará com base no Grupo de Pesquisas em Direitos Humanos que
será registrado no CNPQ, em observância as suas diversas linhas, dentre
as quais a intitulada As matrizes autoritárias do Processo Penal
brasileiro: para além da influência do Código Rocco (1941), grupo
coordenado pelo Professor Geraldo Prado. Tal Grupo está sendo
constituído neste semestre e buscará unir docentes e discentes com o
objetivo investigar a permanência de categorias autoritárias no Processo
Penal brasileiro, violadoras de direitos fundamentais, a partir do pano de
fundo da ideologia autoritária que dominou a primeira metade do século
XX, mas produziu discurso jurídico abrangente, cujos efeitos são sentidos
até mesmo na proposta atual de mudança integral do Código de Processo
Penal (PLS 156).

2.2. Formação da Equipe de pesquisadores

A equipe de pesquisadores que irá trabalhar no presente projeto é


formada por doutor e mestres em processo penal, com experiência em
áreas afins ao objeto de estudo, tais como direito constitucional e filosofia
do direito, com o objetivo de propor ampla reflexão, que transcenderá as
barreiras disciplinares singulares da Teoria do Direito. A equipe também
é composta por discentes da Faculdade Nacional de Direito que serão
selecionados a partir do perfil que se inclina pela interdisciplinaridade.

A coordenação executiva ficará a cargo do Prof. Geraldo Prado, doutor


em direito com tese defendida em 2003 na Universidade Gama Filho,
intitulada “Elementos para uma análise crítica da Transação Penal no
direito brasileiro”, sob a orientação do Prof. Dr. Afrânio Silva Jardim. O
coordenador é autor de diversos artigos e livros publicados em revistas
especializadas e atualmente desenvolve pesquisas de pós-doutorado em
Coimbra, no Instituto de História das Ideias, sob a orientação do professor
Rui Cunha Martins.

Da pesquisa tomarão parte, ainda, os professores mestres Rubens


Roberto Rebello Casara (currículo LATTES
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4716150P6)
e André Luiz Nicolitt (currículo LATTES
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?
id=K4767743U6), respectivamente professores do IBMEC e da UCAM.
Ambos tem obras publicadas (livros e artigos) e estão concluindo seus
cursos de doutorado em Direito. Objetiva-se integrar outras instituições
ao projeto, sob a liderança da UFRJ, dada a relevância das questões e sua
projeção nos trabalhos em curso no Congresso Nacional.

Está prevista a participação de alunos-estagiários do grupo de


pesquisas que se institui, denominado “Direitos Humanos, Política
Criminal e Sistema de Justiça” da FND, além de monitores da disciplina
de Direito Processual Penal, de forma a integrar à pesquisa os alunos de
graduação e contribuir para a formação qualificada dos estudantes.

Coordenador: Geraldo Luiz Mascarenhas Prado


http://lattes.cnpq.br/0340918656718376

3. Levantamento preliminar de Literatura

BATISTA, Nilo Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 3 ed. Rio de Janeiro:
Revan, 1996.

______. Política criminal com derramamento de sangue. Discursos Sediciosos: crime,


direito e sociedade, Rio de Janeiro, v. 3, n. 5-6, p. 77-94, 1 e 2 sem. 1998.

BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2003.

______. Drogas e criminalização da juventude pobre no Rio de Janeiro. Discursos


Sediciosos: crime, direito e sociedade, Rio de Janeiro, v. 1, n.2, p. 233-240, 1996.

BRASIL. Código Penal. Código de Processo Penal Constituição Federal. Organização


de Luiz Flávio Gomes. 8.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição,


7ª edição. Coimbra, Almedina.

CHOMSKY, Noam. Estados fracassados: o abuso do poder e o ataque à democracia.


Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2009.

CHRISTIE, Nils. A indústria do controle do crime. Tradução de Luis Leiria. Rio de


Janeiro: Forense, 1998.
______. El control de las drogas como um avance hacia condiciones totalitárias. In:
BERGALLI, Roberto (Org.). Criminología crítica y control social: el poder
punitivo del Estado. Rosario: Editorial Juris, 2000. v. 1.

DAMASKA, Mirjan R. Las caras de la justicia y el poder del Estado: análisis


comparado del proceso legal. Santiago, Editorial Jurídica de Chile, 2000.

FAYE, Emmanuel. Heidegger. La introducción del nazismo em la filosofia. Madrid,


Akal, 2009.

FAYE, Jean-Pierre. Introdução às linguagens totalitárias: teoria e transformação do


relato. São Paulo, Perspectiva, 2009.

FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2002.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. 18.ed. Tradução de


Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1998.

GARLAND, David. The culture of control: crime and social order in contemporary
society. Oxford: University Press, 2001.

GRISPIGNI, Filippo e MEZGER, Edmund. La reforma penal nacional-socialista.


Coleção El penalismo olvidado, coordenada por Eugenio Raúl Zaffaroni. Buenos
Aires, 2009.

HASSEMER, Winfried. História das ideias penais na Alemanha do pós-guerra.


Faculdade de Direito de Lisboa, 1995.

KAGAN, Robert A. Adversarial legalism: the american way of law. Harvard University
Press. 2003.

LANGBEIN, John H. History of the Common Law. New York, Aspen Publishers, 2009.

______. The origins of adversary criminal trial. New York, Oxford University Press
Inc., 2005.

MUÑOZ CONDE, Francisco. Edmund Mezger e o Direito Penal de seu Tempo: estudos
sobre o Direito Penal no Nacional-Socialismo. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2005.

______. La transformación jurídica de las dictaduras em democracias y la elaboración


jurídica del pasado. Valencia, Tirant Lo Blanch, 2009.

POCOCK, J. G. A. Linguagens do ideário político. São Paulo, EDUSP, 2003.


PRADO, Geraldo Luiz Mascarenhas. Processo penal e estado de direito no Brasil:
considerações sobre a fidelidade do juiz à lei penal. Revista de Estudos Criminais,
Porto Alegre, v. 14, p. 95-112, 2004.

________ . Elementos para uma análise crítica da transação penal. 1. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2003.

_______ . Sistema acusatório: a conformidade constitucional das leis processuais


penais. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

ROXIN, Claus. Pasado, presente y futuro del Derecho Procesal Penal. Buenos Aires,
Rubinzal, 2007.

WACQUANT, Loic. As prisões da miséria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

______. Crime castigo nos Estados Unidos: de Nixon a Clinton. Revista de Sociologia e
Política, Curitiba, n.13, p. 39-50, nov. 1999.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas. Rio de Janeiro: Revan,
1991.

______. El sistema penal en los países de America Latina. In: ARAÚJO JÚNIOR, João
Marcello (Org.). Sistema penal para o terceiro milênio. 2. ed. Rio de Janeiro:
Revan, 1991. p. 221-236.

________. O inimigo no direito penal. Rio de Janeiro: Revan, 2007.


4. Problema
O problema proposto refere-se às formas autoritárias que dominam o processo
penal brasileiro e que, sob a ótica aceita sem discussão, remetem ao chamado Código
Rocco (item II da exposição de motivos do vigente Código de Processo Penal), mas
que podem ter outra e mais profunda filiação: o pensamento totalitário hegemônico
entre as elites cultas de Alemanha e Itália, no período compreendido entre os anos 20
e 40 do século passado.
A diferença de enfoque não é sutil. Com efeito, o Brasil tem visto ressurgir,
especialmente nas duas últimas décadas, o pensamento de Martín Heidegger, Carl
Schmitt, Karl Larenz e Edmund Mezger, que contribuíram de maneira decisiva para a
constituição do instrumental teórico que forneceu as bases jurídicas do nazismo na
Alemanha de Hitler.
Quer em âmbito estritamente filosófico (Heidegger), quer sobre os alicerces do
direito repressivo e de seu alvo preferencial (Mezger e Schmitt, com o resgate da
oposição amigos x inimigos) ou na perspectiva das condições de conhecimento e na
função do próprio direito (Larenz), sem dúvida que o retorno destes intelectuais ao
palco principal (ambiente universitário da pós-graduação no Brasil) e a retomada de
conceitos repudiados pelo perfil democrático da Constituição da República de 1988
são signos de que as estruturas do Sistema de Justiça Criminal moldadas durante o
Estado Novo possuem raízes mais profundas.
Como várias destas categorias são resgatadas pelo PLS 156 em plena vigência da
democracia, em especial os poderes probatórios (de instrução do juiz), maculando a
afirmada pretensão acusatória do projeto, e ainda como o mencionado projeto foi
gestado por uma Comissão de Juristas, e não, de modo exclusivo, pelo labor de
parlamentares sem experiência no assunto, a identificação das permanências, se é que
existem, revela-se tarefa relevante para a defesa da cidadania.
Há, de fato, um “ambiente intelectual” (contexto) favorável ao ressurgimento de
ideologias autoritárias/totalitárias no campo da Justiça Criminal, disfarçado sob as
vestes de ideologias/sistemas de pensamento modernos e refinados (alguma leitura
diferenciada da hermenêutica filosófica, por exemplo)?
Por isso, voltar os olhos aos termos do debate, no Brasil, sobre a unificação do
processo nas décadas iniciais do século XX e compreender a formação teórica
daqueles que pautaram a discussão, influenciaram o trabalho de constituição do atual
Código de Processo Penal ou dele tomaram parte diretamente, requer investigação no
campo jurídico.
A investigação, pois, tem como meta perquirir as condições concretas de produção
do Sistema de Justiça Criminal e se há relação entre as referidas condições e as que
vigem hoje, controlando os termos da discussão da reforma do Código de Processo
Penal no Congresso, nas Universidades e nos meios de comunicação.
Há vasta literatura que propõe a revisão do papel dos mencionados pensadores em
seus países de origem, como conceitos autoritários defendidos por eles transcenderam
as barreiras ideológicas surgidas ao fim da II Guerra Mundial, e o papel da “memória”
(aqui, especificamente, da memória da elite jurídica na América Latina e
particularmente no Brasil) na retomada de conceitos autoritários durante/após a
transição para a democracia.
História das idéias, transição democrática e memória e permanências autoritárias,
linguagem totalitária e história do tempo presente, e a construção de conceitos no
direito processual penal brasileiro delimitam o “espaço” desta investigação.
A análise dos textos críticos acerca do “renascimento” sob novas vestes do ideal
autoritário, e dos próprios textos dos autores em questão, bem como daqueles que
marcaram o debate (revistas jurídicas) no período focalizado, definirá o caminho a ser
seguido.
A relevância e o impacto social desse estudo em nosso país podem ser medidos
pelo crescimento do encarceramento entre 1995 e 2005, para o que não se deve
desprezar a contribuição de uma política criminal que encontra respaldo nas
Universidades e nas corporações que compõem as agências destinadas ao controle
social via repressão penal.
Reitera-se, pois, que a problemática a ser investigada no curso da pesquisa
proposta pode ser traduzida na seguinte questão: há, de fato, um “ambiente
intelectual” (contexto) favorável ao ressurgimento de ideologias
autoritárias/totalitárias no campo da Justiça Criminal, disfarçado sob as vestes de
ideologias/sistemas de pensamento modernos e refinados (alguma leitura
diferenciada da hermenêutica filosófica, por exemplo)?

5. Hipótese
A análise dos discursos triunfantes e de crítica ao Código de Processo Penal de
1941, quando da concepção do projeto e durante os quase setenta anos de sua
aplicação, induz a que se tenha por certo e, pois, indiscutível, a matriz fascista do
Código de Processo Penal italiano (Código Rocco). O trabalho, porém, está fundado
na hipótese de que o próprio modelo fascista italiano permeava-se – e se deixava
influenciar – pelo discurso jurídico-filosófico dominante na Alemanha na primeira
metade do século XX.
O afastamento da tese principal acatada pela doutrina brasileira até os dias atuais e
a aproximação ao “modelo de pensamento” que alicerçou as bases da hermenêutica
filosófica, bem como ao de determinados paradigmas de investigação de
comportamentos em tese desviantes, que colocavam foco no “sujeito anormal”
(“inimigo social”), proporcionará, segundo o ponto de vista da pesquisa, meios para
questionar até onde (quando?) segue a ideologia autoritária no Sistema de Justiça
Criminal, indistintamente funcional em democracias políticas e regimes de ditadura.
Partindo, portanto, da especulação de que o ocultar as matrizes autoritárias de
pensamento, pela técnica de restringir sua “realidade desconfortável” a uma lei
paradigmática (a italiana), e não às bases mesmas da ideologia dominante em
determinado cenário científico, pretende-se desvelar o quadro – se é assim – para
perceber sua permanência no discurso “científico” que autoriza a transcendência de
práticas autoritárias no processo penal para o modelo proposto pela Comissão de
Juristas composta pelo Senado.
6. Objetivos

6.1 Objetivo Geral

Examinar o discurso dominante na filosofia, direito penal e constitucional, nas


décadas de 20 do século passado, na Alemanha, no período de gestação do nazismo, e
compará-lo com o discurso hegemônico de unificação do processo penal no Brasil,
nas mesmas décadas, que deu origem ao Código de Processo Penal do Estado Novo,
encerrando o período de Códigos de Processo Penal dos Estados da Federação.

6.2 Objetivos Específicos

a) apurar, a partir de documentos recentemente liberados, até que ponto o discurso


científico (incluindo o filosófico) do início do século passado, estava orientado à
formação de uma “substância intelectual” que teorizasse o nazismo, tornando-o
compatível com as posturas das elites políticas, econômicas e militares;

b) verificar o grau de influência deste “contexto” nas condições políticas italianas


que estruturaram o fascismo e que permitiram a adoção das práticas do Código Rocco,
restritivo de direitos e garantias em prol da “defesa social”;

c) investigar o papel do discurso autoritário na construção de subjetividades que


terminam por incorporar uma suposta, mas nem sempre real tradição igualmente
autoritária;

d) analisar o acervo doutrinário, jurídico e filosófico, que versa sobre a adoção do


modelo do Código Rocco, mas silencia sobre as bases filosóficas que escoraram as
práticas do fascismo projetadas no campo do controle social repressivo.

e) pesquisar até que ponto há categorias previstas no PLS 156 que reproduzam,
fiel ou disfarçadamente, os institutos autoritários do Processo Penal.

f) e elaborar, se for o caso, proposta de tratamento diferenciado de tais categorias


previstas no PLS 156 que reproduzam, fiel ou disfarçadamente, os institutos
autoritários do Processo Penal.
7. Justificativa

Após o término da II Guerra Mundial e, principalmente, em seguida ao fim da


Guerra Fria (1989), a ONU e os organismos internacionais tem se empenhado em
difundir a democracia.
Parte-se, todavia, da ideia central de que não há democracia sem respeito aos
direitos humanos e que é inadmissível que os Estados pratiquem ou estimulem, ainda
que indiretamente, comportamentos violadores dos direitos que conformam a
dignidade da pessoa humana.
Assim, os Sistemas de Justiça Criminal se transformaram em foco das atenções
acerca do modo como os Estados lidam com o crime. Sem dúvida que é no
funcionamento do aparato repressivo oficial que, em regra, são visualizadas as mais
persistentes e aceitas violações aos direitos humanos.
No caso brasileiro, em particular, as longas “eras autoritárias” naturalizaram
violências de Estado que se incorporaram ao modo comum de se investigar as
infrações penais e punir seus presumíveis autores.
As especificidades da transição brasileira em direção à democracia pouco
contribuíram para romper com a ideologia autoritária neste campo. E hoje, a
retomada, em nível de “alta cultura” jurídico-filosófica, do pensamento dos autores
que no início do século passado colaboraram para “legitimar” em termos
pretensamente cultos o nazismo pode dar vida à reforma da principal lei processual
penal, mantendo em seu “coração” as matrizes inquisitoriais autoritárias.
Com essa inspiração, e por meio da metodologia adiante explicitada, é que a
presente investigação terá lugar, pois que se mostra relevante e oportuna à luz da
mencionada iniciativa parlamentar.
8. Metodologia

Trata-se de realização de uma pesquisa bibliográfica, por meio da qual se busca


estabelecer a interface entre direito/filosofia e política, distinguindo-se das iniciativas
peculiares (tradicionais) à área. É ainda uma proposta de pesquisa qualitativa, pois trata
de lidar com a interpretação dos discursos em um cenário em que os “atos de fala” são
compreendidos como fatos sociais.
É também, em certa medida, uma pesquisa descritiva, porque denotará a tendência a
analisar os dados (discursos jurídicos dos “porta-vozes” autorizados) indutivamente.
Pretende-se, pois, desenvolver pesquisa explicativa, de forma a identificar os fatores
que determinam ou contribuem para a permanência de um discurso que se opõe à
concretização das garantias processuais próprias das democracias.
O embasamento teórico terá como marcos a Criminologia Crítica, o Garantismo de
Luigi Ferrajoli1, a história das idéias e a própria hermenêutica filosófica, que são
considerados paradigmas referenciais constitucionalmente adequados e pertinentes ao
Estado Democrático de Direito delineado na Constituição Federal de 1988.
Ainda de acordo com a metodologia adotada, os termos definidos como marcos
simbólicos deverão ser especificados para que sejam facilmente compreendidos por todos
os que vierem a lidar com os resultados da pesquisa.
O resultado de todo esse processo investigativo deve conduzir ao estabelecimento
de propostas concretas no campo jurídico-normativo para discutir em termos mais amplos
(político-jurídicos) a pretendida reforma do Processo Penal brasileiro.

1
O Garantismo pode ser definido “como um sistema epistemológico de identificação do desvio penal,
orientado a assegurar (...) o máximo grau de racionalidade e confiabilidade do juízo e, portanto, de
limitação do poder punitivo e da tutela da pessoa contra a arbitrariedade” que corresponde às garantias
penais e processuais que se contrapõem ao poder punitivo. FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do
garantismo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 30.
9. Cronograma

Etapa/Mês Abr Mai. Jun. Jul. Ago. Set Out. Nov.

Revisão do Tema da X
Pesquisa, da
bibliografia, e do
questionário
Estudos dos textos de X
base sobre as
“linguagens
totalitárias”.
Levantamento dos X X
textos doutrinários que
delimitaram a
discussão sobre a
unificação processual
penal nas décadas de
20, 30 e 40 do século
passado.
Seminários do projeto X X
(justificativa,
objetivos,
problemática,
metodologia, estrutura
do trabalho). Estudos
dos textos relativos às
pesquisas recentes
acerca do tema “direito
e autoritarismo”, com
ênfase na investigação
crítica das propostas de
uma “base teórica” do
nazismo.
Entrega do 1º. X
Relatório
Definição da estrutura X
do trabalho (sumário,
preliminar)
Revisão da Literatura X
(enquadramento
teórico)
Redação preliminar X

Ajustes X
metodológicos,
conceituais,
formatação, revisão
Apresentação do X
trabalho final (redação
final da pesquisa e dos
projetos legislativo e
de ação)
10. Referências

CASSANDRA, Ribeiro de O. e Silva. Metodologia e Organização do projeto de


pesquisa (GUIA PRÁTICO). Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará,
www.cefetce.edu.br

CHOMSKY, Noam. Estados fracassados: o abuso do poder e o ataque à democracia.


Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2009.

DAMASKA, Mirjan R. Las caras de la justicia y el poder del Estado: análisis


comparado del proceso legal. Santiago, Editorial Jurídica de Chile, 2000.

FAYE, Emmanuel. Heidegger. La introducción del nazismo em la filosofia. Madrid,


Akal, 2009.

FAYE, Jean-Pierre. Introdução às linguagens totalitárias: teoria e transformação do


relato. São Paulo, Perspectiva, 2009.

FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2002.

GRISPIGNI, Filippo e MEZGER, Edmund. La reforma penal nacional-socialista.


Coleção El penalismo olvidado, coordenada por Eugenio Raúl Zaffaroni. Buenos
Aires, 2009.

HASSEMER, Winfried. História das ideias penais na Alemanha do pós-guerra.


Faculdade de Direito de Lisboa, 1995.

KAGAN, Robert A. Adversarial legalism: the american way of law. Harvard University
Press. 2003.

LANGBEIN, John H. History of the Common Law. New York, Aspen Publishers, 2009.

______. The origins of adversary criminal trial. New York, Oxford University Press
Inc., 2005.
12 Esquema do Trabalho

As matrizes autoritárias do Processo Penal brasileiro:


para além da influência do Código Rocco (1941)

INTRODUÇÃO
1. Marco Teórico.
1.1. A linguagem autoritária e as “tradições inventadas”.
1.2. O discurso sobre a lei contextualizado. Atos de fala como fatos sociais.
2. O Código de Processo Penal de 1941
2.1. O período pré-unificação e a República.
2.2. O movimento pelo Código de Processo Penal único
3. Os anos 20/40 do século XX
3.1. Desenvolvimento e apogeu do pensamento totalitário.
3.2. O nazismo e o Direito
4. A feição inquisitorial do Código de Processo Penal e o autoritarismo dominante:
permanência indesejável
4.1. A assunção da ideologia da Defesa Social.
4.2. O espectro ronda o “Projeto”.
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS

Rio de Janeiro, 24 de março de 2010

Encaminhado por:
Prof Dr. Flávio Alves Martins
Diretor da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ

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