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estudar os hábitos e as ideologias alimentares, bem como as concepções sobre
doenças e a forma como eram curadas.
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DESENVOLVIMENTO
Atento ao tema religião, como uma das abordagens do estudo que fez, de pronto
constatou no local uma forte aversão ao protestantismo, exemplificado também pelo
fato da mal-sucedida tentativa de instalação de uma sede da igreja Assembléia de Deus
na sede do município de Vigia.
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A concepção a respeito dos santos é a de pessoas que viveram neste mundo, e
por processos diversos, se santificaram após a morte. Há também o que chama de
“santos populares”, nos cemitérios, para os quais se acendem velas e dos quais se
recebem “graças” ou “milagres”.
O poder dos santos estaria relacionado com dois fatores: com suas imagens e
com os locais de culto onde são venerados.
O autor relata concepções mais particulares dos caboclos amazônicos que dizem
respeito à pajelança rural ou de origem rural (cabocla), que tem como crença
fundamental a concepção dos “encantados”.
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Ao contrário dos santos, os encantados são seres humanos que não morreram,
mas se “encantaram”. Como exemplos, citam dois “encantados”: Cobra Norato e o rei
Sebastião, com suas lendas.
Cobra Norato, narrada como uma cobra grande, teria sido uma criança de nome
Antônio Norato, que se transformou no animal pelo encantamento, e afinal matou a
própria irmã gêmea, também encantada como Maria Caninana e seu enamorado, pois
temia que com o namoro deles, não pudessem os gêmeos desencantarem-se, qual era
seu desejo.
Fora dos dois casos citados, relata que o encantamento não abarca o mérito
moral; sendo que as pessoas se encantariam porque são atraídas por outros
encantados para o “encante”, seu local de morada, encontrando-se “no fundo”,
normalmente, dos rios e lagos, em cidades subterrâneas ou subaquáticas.
Há também a idéia de que os grandes pajés são levados pelos encantados para
o fundo, onde aprendem a sua arte; mas neste caso, eles retornam à superfície como
xamãs, para poderem praticar a pajelança.
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Os encantados são normalmente “invisíveis” aos olhos dos simples mortais e
manifestam-se de formas diversas. São pensados em três contextos, recebendo assim
denominações diferentes: bichos de fundo, oiaras, e por fim, chamados de caruanas,
guias ou cavalheiros.
Por outro lado, relata que os encantados podem ser perigosos e cita o boto
encantando que, transformando-se num belo rapaz, seduzia as mulheres, mantendo
relações sexuais com elas. Na região do Salgado o autor não encontrou relatos de que
o boto possa engravidar a mulher com quem se relaciona, comum em outras lendas,
mas sim sugar o sangue dela levando-a à morte, caso o boto não seja impedido a
tempo.
Outra crença muito forte na região do Salgado, que parece ser banstante
disseminada, pelo menos em parte, em outras regiões da Amazônia, é a que diz
respeito aos chamados “fadistas”, pessoas que tem o fado (destino ou sina) de se
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transformar em animais, que são: a matintapereira e o “labisônio” (lobisomem),
conforme sejam mulheres ou homens.
Os fadistas são vistos como pessoas que fizeram um pacto com Satanás em
troca de algum tipo de vantagem, dinheiro ou poderes excepcionais, que além de ter
entregado sua alma ainda são punidos com o destino de transformarem-se em animais
durante a noite.
Aos santos se presta culto particular, nas residências, onde existe sempre uma
estampa de santo, ou uma ou várias imagens, ressaltando que há quem diga que é
mais importante orar diante das imagens de santos particulares do que ir à igreja
assistir a cerimônias. Nesse sentido “donos de santo” assumem importância especial
quando se trata de uma imagem considerada especialmente “milagrosa”. Cita o caso de
uma imagem de São Benedito, do “dono de santo” chamado Zizi, na Vila de Itapuá.
Ao tratar dos rituais dos encantados é necessário compreender mais acerca dos
pajés. Para tornar-se pajé ou curador a pessoa precisa ter um dom, que pode ser “de
nascença” ou “de agrado”, ambos tendo uma carreira muito semelhante com os xamãs:
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A carreira começa com um período de crise de vida, sofrendo com incorporações
descontroladas, necessitando passar por um treinamento para controlar a situação de
quando, onde e qual espírito ou caruana deva incorporar.
Na pajelança cabocla, com origem indígena nos Tupis, a incorporação tem total
importância pois não é o xamã que cura, mas sim os encantados ou caruanas que
agem.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Museu Paraense Emílio Goeldi, 2001, pp. 253-272.
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BIBLIOGRAFIA
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