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A Arte na Grécia

Por volta do século X a.c., os


habitantes da Grécia continental e das
ilhas do mar Egeu formavam pequenas
comunidades, distantes umas das
outras, e falavam diversos dialetos.
Nessa época, as comunidades eram
muito pobres, mas aos poucos foram
enriquecendo e se transformaram em
cidades-estado. Com o aumento do
comércio, essas cidades-estado
entraram em contato com as culturas
do Egito e do Oriente Próximo, cuja arte
despertou admiração nos gregos.
Assim, embora a princípio os artistas
gregos tenham imitado os egípcios,
depois passaram a criar sua
arquitetura, escultura e pintura,
movidos por idéias próprias em relação
Doríforo, de Policleto, cerca
à vida, à morte e às divindades. de 440 a.c.
Os períodos da arte grega

A arte grega está dividida em dois


períodos históricos: o arcaico e o
clássico.

O período arcaico vai de meados


do século VII a.C. até a época das
Guerras Pérsicas, no século V a.c.
Tem início, então, o período
clássico, que vai até o fim da
Guerra do Peloponeso, no século
IV a.c. Dele, destaca-se sobretudo
o século V a.c., chamado "século
de Péricles", quando as atividades
intelectuais, artísticas e políticas
manifestaram o esplendor da
cultura grega.
A escultura
Aproximadamente no fim do século VII a.c.
os gregos começaram a esculpir em
mármore grandes figuras masculinas.

A escultura do período arcaico

Nas obras do período arcaico nota-se a influência do


Egito não só como fonte inspiradora, mas também na
técnica. O escultor grego desse período, como o escultor
egípcio, apreciava a simetria natural do corpo humano.
Para deixar clara essa simetria, o artista esculpia figuras
masculinas nuas, eretas, em rigorosa posição frontal e
com o peso do corpo igualmente distribuído sobre as
duas pernas. Esse tipo de estátua é chamado kouros, que
significa "homem jovem".

Estátua grega segundo o padrão kouros (c. 525 a.c.).


Na Grécia, a arte não tinha função
religiosa, como no Egito. Sem submeter-
se a regras rígidas, a escultura evoluiu
livremente.
O escultor grego começou, então, a não
se satisfazer mais com a postura rígida o
e forçada de suas esculturas. Dessa
evolução resultaram trabalhos como o da
figura ao lado.

A evolução da escultura

A obra Efebo de Crítios representa uma nova forma de


fazer escultura. Em vez de olhar bem para a frente,
como o kouros, o Efebo tem a cabeça ligeiramente
voltada para o lado. Em vez de apoiar-se igualmente
sobre as duas pernas, o corpo descansa sobre uma
delas, mais afastada em relação ao eixo de simetria, e
mantém nesse lado o quadril um pouco mais elevado.
Efebo de Crítios (c. 480 a.c.). Museu Nacional, Atenas.
Também para superar a aparência
de rigidez e imobilidade, o escultor
grego procurou representar as
figuras em movimento. É o caso
do Discóbolo, de Míron.
Na rigidez da pedra, o movimento
Nessa famosa estátua, vemos um jovem atleta
prestes a lançar um disco. O corpo está
curvado para a frente; o braço direito, que
segura o disco, está elevado; o braço
esquerdo está na altura do joelho direito. As
pernas e os pés estão prontos para garantir a
rotação do corpo e o impulso necessário para
arremessar o disco a uma distância
considerável. Um observador mais atento
poderá dizer que a postura do tronco não é a
mais adequada para o lançamento de discos,
ou que ela ainda é tão frontal quanto na arte
egípcia. É inegável, porém, a impressão de
movimento obtida por Míron.
Cópia romana do Discóbolo, de Miron. O
original grego data de cerca de 450 a.c.
Altura: 1,55 m. Museu Nacional Romano, Atleta em competição de lançamento de disco (anos 1990).
Roma.
A melhor solução para
superar a aparência de
imobilidade foi encontrada
pelo escultor Policleto na
escultura Doríforo (Ianceiro).

Uma escultura que parece


andar

Observe, nessa obra, que os


braços e as pernas
apresentam-se alternadamente
tensos e relaxados, o que
sugere que a figura está dando
um passo.

Cópia romana do Doríforo, de Policleto. O original grego data de cerca de 440 a.c. Altura: 2,12 m. Museu Arqueológico
Nacional, Nápoles.
A arquitetura

As construções que se destacam na arquitetura grega são os


templos. Hoje em dia, os templos são construídos para reunir,
dentro deles, pessoas em cultos religiosos. Entre os gregos,
porém, sua finalidade era proteger das chuvas ou do sol
excessivo as esculturas de deuses e deusas.

A característica mais evidente dos templos gregos é a simetria entre o pórtico da entrada 1 e o dos fundos 2. Ou
seja, a entrada e os fundos eram muito semelhantes. O templo era formado pelo pórtico da entrada, pelo recinto
onde ficava a imagem da divindade 3 e pelo pórtico dos fundos. Esse núcleo era cercado por um conjunto de
colunas. Em algumas cidades muito ricas esse conjunto chegava a ter duas fileiras de colunas.
O templo era construído sobre uma base com três degraus:as colunas e as
paredes do templo eram erguidas sobre o mais elevado deles. O conjunto
formado pelas colunas e pelas estruturas a elas ligadas obedecia a dois
modelos: o da ordem dórica e o da ordem jônica.

Colunas do Partenon, (c. 440 a.c.), na Acrópole de Colunas do Erecteion, (c. 420 a.c.), na Acrópole de
Atenas. Atenas.

Partenon: exemplo de ordem dórica Erecteion: exemplo de ordem jônica


A ordem dórica pode ser vista no Partenon, templo A ordem jônica era mais ornamentada e sugeria
construído em homenagem à deusa Atena. O corpo leveza. As colunas apresentavam corpo mais fino e,
das colunas era grosso e firmava-se diretamente no diferentemente das da ordem dórica, não se
degrau mais elevado. O capitel era muito simples. A apoiavam diretamente sobre o último degrau do
arquitrave era lisa e se apoiava diretamente nas templo, mas sobre uma base decorada. O capitel era
colunas. Sobre ela havia retângulos com sulcos ornamentado e a arquitrave, dividida em três faixas
verticais e retângulos que podiam ser lisos, pintados horizontais. Acima dela, em geral, havia uma faixa de
ou com figuras em relevo. esculturas em relevo.
O templo de Erecteion na acrópole de Atenas sendo restaurado.
As Cariátides do templo de Erecteion na acrópole de Atenas.
A cobertura dos templos era constituída de dois telhados altos no
centro e inclinados para os lados. Essa posição do telhado, tanto na
entrada do templo como no fundo, criava um espaço em forma de
triângulo - o frontão -, que era ornamentado com esculturas.

Modelo do templo de Aphaia, Glyptothek, Munique.


Reconstituição dos frontões do templo de Alphaia com as peças originais.
Reconstituição dos frontões do templo de Alphaia, peças coloridas.
Os frontões do templo de Zeus
Entre os frontões dos templos gregos, são notáveis os do templo de
Zeus, em Olímpia (465-457 a.c.), pela forma harmoniosa com que as
esculturas ocupam o espaço.

Reconstrução esquemática do Templo de Zeus: acima e a esquerda, fachada leste; abaixo e a direita, fachada
oeste. Nos detalhes, os respectivos frontões.
Reconstituição dos frontões (fachada oeste) do templo de Zeus com as
peças originais.
A arquitetura grega influencia até hoje muitas construções em todo o
mundo. O Lincoln Memorial, nos Estados Unidos, é um exemplo dessa
influência. Construído entre 1914 e 1922 em homenagem ao Presidente
Abraham Lincoln [1809-1865), foi projetado pelo arquiteto Henry Bacon
como um templo grego. Possui 36 colunas em estilo dórico - uma para
cada estado norte-americano que existia na época de Lincoln -, e seu
edifício de linhas retas, sem frontão, abriga uma enorme estátua do
presidente.

o Lincoln Memorial, em Washington, Estados Unidos da América, ao lado o detalhe das colunas da ordem
dórica.
A pintura em cerâmica

Na Grécia, a pintura em cerâmica


tornou-se uma forma especial de
manifestação artística. Os vasos
gregos, ou ânforas, são famosos
pela beleza da forma e pela
harmonia entre desenho, cores e
espaço utilizado para a
ornamentação. Eram usados em
rituais religiosos e também para
armazenar água, vinho, azeite e
outros alimentos. A medida que
passaram a apresentar uma forma
equilibrada e um trabalho
harmonioso de pintura, tornaram-
se também objetos de decoração.
As pinturas representavam cenas da
mitologia grega e de pessoas em
suas atividades diárias. Inicialmente o
artista pintava, em negro, a silhueta
das figuras. Depois, fazia os detalhes
do desenho retirando a tinta preta. O
maior pintor de figuras negras foi
Exéquias.

Um vaso com figuras negras


Uma das pinturas mais famosas de Exéquias mostra
Aquiles e Ajax, heróis gregos, envolvidos em um jogo.
Além do detalhado trabalho nos mantos e nos escudos
dos heróis, o artista fez coincidir, de forma
harmoniosa, a curva do vaso com a inclinação das
costas das duas personagens. As lanças também
contribuem para modelar a forma do vaso, pois levam
o olhar do observador para as alças da ânfora. Das
alças, então, o olhar direciona-separa os escudos
atrás das figuras. O modo como Exéquias organizou
esses elementos cria um conjunto harmonioso e faz
com que a beleza do vaso seja o resultado da
combinação de todos esses detalhes.
Aquiles e Ajax jogando damas (e. 540 a.C), pintura
em vaso assinada por Exéquias. Altura: 61 cm.
Museu Etruseo, Vaticano.
Por volta de 530 a.c., Eutímedes, discípulo
de Exéquias, introduziu uma grande
modificação na arte de pintar vasos:
inverteu o esquema de cores, isto é,
deixou as figuras na cor natural do barro
cozido e pintou o fundo de negro, dando
início à série de figuras vermelhas.
Um vaso com figuras vermelhas
O efeito obtido com a inversão de cores foi, sobretudo, a
vivacidade das figuras. Além disso, observe nesse vaso
uma inovação significativa:as figuras laterais,
possivelmente os pais do guerreiro, estão de perfil (posição
comum nas pinturas em cerâmica), mas o jovem guerreiro
está de frente para o observador - note a posição frontal do
seu pé esquerdo. Desenhar os pés de perfil foi a solução
inicial que artistas Egípcios e gregos encontraram para
tornar compreensível ao Observador essa parte do corpo
humano. Nessa obra, a tradição, mantida pelo pintor no pé
direito do guerreiro, é superada no pé esquerdo. O
observador, no entanto, reconhece como dedos os
pequenos círculos na ponta desse pé. Assim, os gregos
deram um importante passo para a compreensão de que
na pintura se podem representar objetos em três A despedida do guerreiro (e.530a.c.), pintura em
dimensões:largura, altura e profundidade. vaso assinada por Eutimedes. Altura: 60 cm.
Staatliche Antikensammlungenund Glyptothek,
Munique.
A escultura no período helenístico

No século IV a.c., Filipe II, rei da


Macedônia, dominou a Grécia. Ao
morrer, foi sucedido pelo filho,
Alexandre Magno, que construiu
um gigantesco império: manteve o
domínio sobre a Grécia e
conquistou a Pérsia e o Egito. Com
sua morte, o império dividiu-se em
vários reinos nos quais se
desenvolveu uma cultura
semelhante à grega - daí ser
chamada de helenística, de
Hélade, como a Grécia era
conhecida.
A escultura desse período apresenta
características bem diferentes da dos
períodos anteriores. Uma delas é a
tendência de expressar, sob forma
humana, idéias e sentimentos, como
paz, amor, liberdade, vitória, etc. Outra
é o início do nu feminino, pois nos
períodos arcaico e clássico as figuras
de mulher eram esculpidas sempre
vestidas.
Afrodite, a deusa do amor
A Afrodite de Cápua foi muito apreciada e copiada, com
variações, durante séculos. Assim, no século 11 a.c.,
aparece a célebre Afrodite de MeIos, ou Vênus de Mito
na designação romana. Nessa escultura vêem-se
combinados a nudez parcial da Afrodite de Cápua e o
princípio de Policleto - alternância de membros tensos e
relaxados, que ele usou ao esculpir o Dor/foro. Volte a
observar a imagem do Doríforo e compare nas duas
esculturas a posição da perna esquerda, do lado direito
do quadril e do lado esquerdo do tronco. É possível
notar na Afrodite de MeIos a mesma impressão de
movimento que se percebe no Dor/foro.

Afrodite de Melos (séc. II a.c.). Altura: 2,04 m. Museu do Louvre, Paris.


No início do século III
a.c. os escultores já
aceitavam a idéia de que
suas figuras deveriam
expressar movimento e
despertar no observador
o desejo de andar em
torno delas para
examiná-Ias de vários
ângulos.
Nas asas da vitória
Supõe-se que essa escultura estivesse presa
à proa de um navio que conduzia uma frota.
De fato, as formas que o artista deu à figura
de uma mulher com asas abertas e
ligeiramente afastadas para trás, a túnica
agitada pelo vento, as ondulações e dobras
das vestes, o tecido transparente e colado ao
corpo parecem sugerir o sentimento de vitória.
Além disso, todos esses elementos criam no
observador uma forte impressão de
movimento. Vitória de Samotrácia (c. 180 a.c.). Altura 2,75 m.
Museu do Louvre, Paris.
A grande novidade da escultura
do período helenístico,
entretanto, foi a representação de
grupos de pessoas, em vez de
apenas uma figura. Todo o
conjunto devia dar a impressão
de movimento e permitir a
observação por todos os ângulos.

Beleza e dramaticidade
Esse conjunto era parte de um monumento de guerra
existente em Pérgaso, na Ásia Menor. O original grego se
perdeu e hoje o que existe é apenas a cópia romana. A cena
representa o momento em que um soldado grego mata a
mulher para não entregá-Ia ao inimigo e se prepara para o
suicídio. Além da beleza, o conjunto revela, de qualquer lado
que seja visto, uma forte dramaticidade. O soldado olha para
trás, como que desafiando o inimigo que se aproxima, e está
pronto para enterrar a espada no pescoço. Ao mesmo tempo,
segura por um dos braços o corpo inerte da mulher, que
escorrega para o chão. O outro braço da mulher, já sem vida,
contrasta com a perna tensa do marido. A dramaticidade é
obtida justamente pelos contrastes: vida e morte, homem e
mulher, o nu e as vestes, força e debilidade.
Cópia romana de O soldado gálata e sua mulher. O
original grego data do século IIIa.c. Altura: 2,11 m.
Museu Nacional Romano, Roma.

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