You are on page 1of 54

P rojeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDIQÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos estar
preparados para dar a razáo da nossa
esperanga a todo aquele que no-la pedir
(1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta


da nossa esperanga e da nossa fé hoje é
mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á
_ . fé católica. Somos assim incitados a procurar
consolidar nossa crenga católica mediante
um aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
— Responderemos propóe aos seus leitores:
-— ; aborda questóes da atualidade
;r controvertidas, elucidando-as do ponto de
'~~ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
i dissipem e a vivencia católica se fortaleca no
Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar
= ~ — este trabalho assim como a equipe de
Veritatis Splendor que se encarrega do
respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.


Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada
em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral
assim demonstrados.
Ano xlii Julho 2001 470
Sal da Térra

O Diálogo inter-religioso: cinco proposicóes

A Igreja aceitou a comunicacáo com os mortos?

"Tu és Pedro", por Georges Suffert

A Perseguicáo Religiosa na Albania comunista

Urna nova imagem de Jesús

Abusos sexuais

Casamentos que podem ser considerados nulos

"Magonaria para leigos e macons", por Wilson


Ribeiro

Intato o corpo de Joáo XXIII

"Deus e o Sentido da Vida", por Rafael Llano


Cifuentes
PERGUNTE E RESPONDEREMOS JULHO2001
Publica9áo Mensal NM70

SUMARIO
Diretor Responsável
Estéváo Betlencourt OSB Sal da Térra 289
Autor e Redator de toda a materia Notificado da Santa Sé:
publicada neste periódico O Diálogo inter-religioso: cinco proposi-
cóes 290
Diretor-Administrador: Reconhecida e aceita?
D. Hildebrando P. Martins OSB A Igreja aceitou a comunicacáo com os
mortos? 295
Administra9áo e Distribuicáo: Historia da Igreja:
Edicóes "Lumen Christi" "Tu és Pedro'1, por Georges Suffert... 300
Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar - sala 501 Heróis da Fó:
A Perseguicáo Religiosa na Albania
Tel- (0XX21) 291-7122
Fax' (0XX21) 263-5679 comunista 305
Reviravolta?
Enderece para Correspondencia: Uma nova ""W™ *<* J<«"s 310
Ed. "Lumen Christi" Na Igreja:

Caixa Postal 2666 Abusos SeXUalS 317


CEP 20001-970 - Rio da Janeiro - RJ
^^ ser considera-
Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO dos nulos 320
;NT«ÍITKf
na INTERNET: http://www.osb.org.br h ^Jg e macons", por
Wilson Ribeiro ... 327
e-mail: lumen.christi@osb.org.br Milagre?
Intato o corpo de Joáo XXIII 333
Questóes básicas:
"Deus e o Sentido da Vida", por Rafael
Llano Ciluentes 334

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


ES SAIUIV*

NO PRÓXIMO NÚMERO:

A ciencia e a consciéncia de Jesús. - A quarta Pessoa da SS. Trindade? - "O Grande


Tentador". - Adáo e Eva existiram realmente? - O Mar Vermelho se abriu? - E o livro
de Joñas? - "Psicografia absolve réu". - Eutanasia na Holanda. - Por que viver? Que há
após a morte?

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: RS 35,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 3,50).

O pagamento poderá ser á sua escolha:

1. Enviar, em carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ.

2. Depósito em qualquer agencia do BANCO DO BRASIL, para agencia 0435-9 Rio na


C/C 31.304-1 do Mosteiro de S. Bento/RJ, enviando em seguida por carta ou fax
comprovante do depósito, para nosso controle.

3. Em qualquer agencia dos Correios, VALE POSTAL, enderecado as EDICÓES "LUMEN


CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.: Correspondencia para: Edifdes "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ
SAL DA TÉRRA
(Mt5, 13)

Jesús confiou aos seus discípulos a missáo de ser sal da térra (Mt 5,
13). Assim usou urna imagem. Que significa ela?
- Na literatura clássica, o sal simboliza a sabedoria.
No contexto do Evangelho, pode-se dizer que a metáfora tem duplo
sentido:

1) O sal conserva o alimento e ¡mpede-o de se deteriorar... Ora esta


parece ser urna funcáo primordial do cristáo: guardar a Verdade e o Bem,
preservando-os de se perverter. A mensagem do Evangelho é preciosa, mas
nao raro encontra oposicáo por parte da mentaüdade do mundo dado ao
hedonismo. Daí tornar-se especialmente ardua a missáo entregue por Je
sús aos seus discípulos; as pesquisas de opiniáo por vezes manifestam
correntes de pensamento favoráveis a comportamentos alheios ao Evange
lho. O cristáo entáo é tentado a crer que está defasado e deve adaptar-se ao
voto da maioria, como se a Verdade e o Bem dependessem de plebiscito.
Nessas horas toca ao cristáo recordar-se das palavras de Jesús: "Se o sal
perder o seu sabor, com que o salgaráo? Servirá apenas para ser jogado
fora e conculcado" {Mt 5,13). O papel do cristáo arauto da mensagem evan
gélica pode ser penoso, mas é de nobreza singular e - diz Jesús - é único,
insubstituível. Se o cristáo falha na sua fidelidade á mensagem do Evange
lho, deixa urna lacuna que ninguém poderá preencher. Trata-se de um servi-
90 prestado aos irmáos, nem sempre devidamente entendido, mas altamen
te valioso.

2) O sal é chamado a dar um sabor novo á alimentacáo; sem sal a


comida é insossa. A metáfora quer dizer que ao cristáo toca também a tarefa
de renovar a sociedade, comunicando-lhe os valores do Absoluto ou Defini
tivo. Estes nao se opóem aos valores mundanos, mas enriquecem-nos e
dáo-lhes novo alcance. Muitas vezes a presenca de um cristáo fiel e santo
estimula os irmáos e Ihes abre os olhos para horizontes mais elevados. Di-
zia Sao Paulo, citando o escritor grego Menandro: "As más companhias
corrompem os costumes" (1Cor 15, 33). Análogamente a companhia dos
santos pode, por graca de Deus, sanaros costumes. Sem alarde nem vozerio,
o cristáo auténtico e fiel beneficia sua sociedade. - Eis outra missáo que
pode custar sacrificios, pois exige nao pactuar com belas propostas dos
maiorais deste mundo. Pode até implicar zombaria e escarnio para o irmáo
ou a irmá fiel, mas é tarefa valiosa: quem a trai por covardia ou displicencia,
deixa urna lacuna que ninguém poderá preencher.

Parece que os tempos atuais, em que tanto se fala de corrupcáo na


vida pública, vém a ser um sinal eloqüente que faz ressoar aos ouvidos do
cristáo, aínda com mais insistencia, as palavras do Senhor Jesús.
"Se ouvirdes a sua voz, nao endurecais os vossos coracoes..." (SI 95,7).

E. B.

289
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"

Ano XLII - N9 470 - Julho de 2001

Notificacáo da Santa Sé:

O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO:
CINCO PROPOSIQÓES

Em síntese: O Pe. Jacques Dupuis S. J. publicou em 1997 olivro


"Para urna Teología Crista do Pluralismo Religioso", livro que, por suas
afirmagoes incompletas ou ambiguas, mereceu um exame atento por parte
da Congregagáo para a Doutrina da Fé. Esta, após ouvir o autor e suas
explicagóes, houve por bem publicar urna Notificagáo, que procura evitar
os mal-entendidos que a obra como tal pode suscitar. O texto abaixo
publicado tem aproximadamente o mesmo teor que a Decíaragáo
Dominus lesus, que tem em vista dissipar qualquer tipo de relativismo
religioso.
* * *

O Pe. Jacques Dupuis S.J., professor da Universidade Gregoriana


(Roma), publicou em 1997 o livro intitulado Verso una teología cristiana
del pluralismo religioso (Ed. Queriniana, Brescia). Tal obra suscitou
dúvidas quanto á ortodoxia, de modo que fo¡ longamente examinada pela
Congregacáo para a Doutrina da Fé, que, após ouvir as explanacóes do
autor, houve por bem publicar urna Notificacáo, que esclarece os pontos
deixados em ambigüidade pelo autor. Com a data de 24 de Janeiro de
2001, o texto foi publicado em L'OSSERVATORE ROMANO (ed. portu
guesa) de 10/03/01, p. 8.

A seguir, vai transcrito o teor das cinco proposicoes formuladas


pela mencionada Congregacáo, precedido de breve introducáo á proble
mática (extraída do mesmo jornal).

I. O TEXTO

Do Preámbulo

«Depois do exame levado a cabo e dos resultados do diálogo com


o Autor, os Eminentíssimos Padres, após terem avahado as análises e os

290
O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO: CINCO PROPOSIQÓES 3

pareceres expressos pelos Consultores no que diz respeito as Respos-


tas dadas pelo próprio Autor, na Sessáo Ordinaria de 30 de Junho de
1999, reconheceram o seu esforco e vontade de permanecer nos limites
da ortodoxia, ao abordar problemáticas até agora inexploradas. Ao mes-
mo tempo que consideravam a boa vontade do Autor, manifestada ñas
Respostas oferecidas aos esclarecimentos julgados necessários, e o seu
desejo de permanecer fiel á doutrina da Igreja e ao ensinamento do Ma
gisterio, constataram que o livro contém notáveis ambigüidades e dificul-
dades em pontos doutrinais de alcance relevante, que podem induzir o
leitor em opinioes erróneas ou perigosas. Estes pontos dizem respeito á
interpretacáo da mediacáo salvífica única e universal de Cristo, á unicidade
e plenitude da revelacáo de Cristo, á acáo salvífica universal do Espirito
Santo, á orientacáo de todos os homens para a Igreja, ao valor e signifi
cado da funcáo salvífica das religióes.

Depois de ter completado o procedimento ordinario do exame em


todas as suas fases, a Congregacáo para a Doutrina da Fé decidiu redi-
gir uma Notificagáo com a ¡ntencáo de salvaguardar a doutrina da fé ca
tólica contra erros, ambigüidades ou interpretacóes perigosas. Aprovada
pelo Santo Padre na Audiencia de 24 de Novembro de 2000, esta Notifi
cagáo foi apresentada ao Pe. Jacques Dupuis e por ele aceita. Com a
assinatura do texto, o Autor comprometeu-se a aderir as teses enuncia
das e a ater-se para o futuro, na sua atividade teológica e ñas suas publi-
cacóes, aos conteúdos doutrinais indicados na Notificagáo, cujo texto
deverá ser incluido também em eventuais reimpressoes ou reedicóes do
livro em questáo, e ñas relativas traducóes».

«I. A propósito da mediacáo salvífica única e universal de Je


sús Cristo

1. Deve acreditar-se firmemente que Jesús Cristo, Filho de Deus


feito homem, crucificado e ressuscitado, é o único e universal mediador
da salvacáo de toda a humanidade.

2. Deve acreditar-se firmemente que Jesús de Nazaré, filho de


Maria e único Salvador do mundo, é o Filho e o Verbo do Pai. Pela unida-
de do plano divino de salvacáo centrado em Jesús Cristo, há que pensar
também que a acáo salvífica do Verbo se atua em e por Jesús Cristo,
Filho encarnado do Pai, como mediador da salvacáo de toda a humani
dade. Por conseguinte, é contrario á fé católica nao só afirmar uma sepa
racáo entre o Verbo e Jesús, ou uma separacáo entre a acáo salvífica do
Verbo e a de Jesús, mas também defender a tese de uma acáo salvífica
do Verbo como tal na sua divindade, independentemente da humanidade
do Verbo encarnado.

291
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

- II. A propósito da unicidade e plenitude da revelacio de Jesús


Cristo

3. Deve acred¡tar-se firmemente que Jesús Cristo é o mediador, o


cumprimento e a plenitude da revela9§o. Portanto, é contrario á fé da Igreja
afirmar que a revelacáo de/em Jesús Cristo é limitada, incompleta e imper-
feita. Além disso, embora o pleno conhecimento da revelacáo divina so se
verifique no dia da vinda gloriosa do Senhor, todavía a revelacáo histórica de
Jesús Cristo oferece tudo aquilo que é necessário para a salvacáo do ho-
mem e nao tem necessidade de ser completada por outras religióes.

4. É conforme a doutrina católica afirmar que as sementes de ver-


dade e de bondade que existem ñas outras religióes sao urna certa par-
ticipacáo ñas verdades contidas na revelacáo de/em Jesús Cristo. Ao
contrario, é opiniáo errónea pensar que tais elementos de verdade e de
bondade, ou alguns deles, nao derivem em última análise da mediacáo
fontal de Jesús Cristo.

III. A propósito da acao salvífica universal do Espirito Santo

5. A fé da Igreja ensina que o Espirito Santo que atua depois da


ressurreicáo de Jesús Cristo é sempre o Espirito de Cristo enviado pelo
Pa¡, que age de maneira salvífica tanto nos cristáos como nos náo-cris-
táos. Por conseguinte, é contrario á fé católica pensar que a acáo salvífica
do Espirito Santo possa estender-se para além da única e universal eco
nomía salvífica do Verbo encarnado.

IV. A propósito da orientacio de todos os homens para a Igreja

6. Deve acreditar-se firmemente que a Igreja é sinal e instrumento


de salvacáo para todos os homens. É contrario á fé católica considerar
as varias religióes do mundo como vías complementares á Igreja em or-
dem á salvacáo.

7. Segundo a doutrina católica, também os seguidores das outras


religióes estáo orientados para a Igreja e todos sao chamados a fazer
parte déla.

V. A propósito do valor e da fungió salvífica das tradicóes reli


giosas

8. Segundo a doutrina católica, deve-se pensar que tudo quanto o


Espirito opera no coracao dos homens e na historia dos povos, ñas cultu
ras e religióes, assume um papel de preparacáo evangélica (cf. Concilio
Ecuménico Vaticano II, Constituicáo dogmática sobre a Igreja Lumen
gentium, 16). Portanto, é legítimo defender que o Espirito Santo realiza a
salvacáo nos náo-cristáos também mediante os elementos de verdade e de
bondade presentes ñas varias religióes, mas nao tem qualquer fundamento
na teología católica considerar essas religióes, enquanto tais, caminhos de

292
O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO: CINCO PROPOSICÓES 5

salvacáo, até porque nelas existem lacunas, insuficiencias e erras, que di-
zem respeito a verdades fundamentáis sobre Deus, o homem e o mundo.
Além disso, o fato de que os elementos de verdade e de bondade
presentes ñas varias religioes possam preparar os povos e as culturas
para aceitarem o evento salvífico de Jesús Cristo nao comporta que os
textos sagrados das outras religioes possam considerar-se complemen
tares do Antigo Testamento, que é a preparacao ¡mediata para o próprio
evento de Cristo.

Durante a Audiencia de 19 de Janeiro de 2001, á luz dos ulteriores


desenvolvimentos, o Sumo Pontífice Joáo Paulo II confirmou a sua apro-
vagáo da presente Notificagao, decidida na Sessáo Ordinaria desta Con-
gregagáo, e ordenou a sua publicagáo.

Roma, Sede da Congregado para a Doutrina da Fé, 24 de Janeiro


de 2001, memoria de Sao Francisco de Sales.

JOSEPH Card. RATZINGER


Prefeito

D. TARCÍSIO BERTONE, S.D.B.


Secretario»

II. MAIS BREVEMENTE...

Eis, de maneira mais sumaria, o teor das cinco Proposicoes atrás


transcritas:

1. A mediacáo salvífica única e universal de Jesús Cristo

Nao somente Jesús Cristo é o único Salvador, mas também nao é


possivel separar a aoáo do Verbo Eterno da acáo de Jesús Cristo na obra
da salvacáo. Com outras palavras: é sempre Deus feito homem quem
salva e nunca Deus Filho separado da sua humanidade.

2. A índole única e plena da Revelacáo feita por Jesús Cristo

As outras religioes (nao cristas) nao oferecem um complemento a


tal Revelacáo, embora comportem gérmens de verdade e de bondade.
Esses gérmens tém sua origem mais remota na mediacáo trazida por
Jesús Cristo.

3. A acáo salvífica do Espirito Santo

Nao pode ser dissociada da acáo salvífica de Cristo. Nem se diga


que ela se estende mais além do que a acáo do Senhor Jesús.

4. Todos os homens sao chamados a ser membros da Igreja

As outras religioes nao podem ser consideradas complementares


do Cristianismo. Os seus membros sao chamados a fazer parte da Igreja

293
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

de maneira visivel (professando a mesma fé católica) ou de maneira invisí-


vel (caso de quem está sincera e candidamente em outra corrente religiosa).

5. O Espirito Santo efetua a salvacáo dos nao cristaos servin-


do-se dos elementos de verdade e bondade das religióes nao cristas

Isto quer dizer que pode haver salvacáo fora do Cristianismo nao
porque tais correntes religiosas seriam vías de salvagáo (há nelas lacu-
nas e insuficiencias), mas porque o Espirito Santo opera na consciéncia
dos nao cristáos que, sem hesitacáo e com plena fidelidade, praticam o
que o seu Credo preceitua.

Nao se diga que os textos sagrados (o Coráo, os Vedas, os


Upanishad...) de tais correntes religiosas sao complementares do Antigo
Testamento, que foi a preparacáo ¡mediata para o Evangelho.

Esta quinta Proposicáo reafirma quanto o Concilio do Vaticano li


declarou a respeito da possibilidade de salvagáo fora da Igreja Católica;
cf. Lumen Gentium 16 e Gaudium et Spes 22, textos já transcritos em
PR 464/2001, pp. 8S.

Mais urna vez se vé que a Igreja Católica quer ser incondicional-


mente fiel a Cristo, evitando todo relativismo religioso, sem, porém, igno
rar que Deus pode salvar aqueles a quem Ele nao dá a graca de conhecer o
Evangelho (desde que sejam sinceros na procura da Verdade e do Bem).

NINGUÉM AMA O QUE NAO CONHECE...


E TANTO MAIS AMARÁ QUANTO MAIS O CONHECER. EIS POR
QUE A ESCOLA "MATER ECCLESIAE" OFERECE AOS INTERESSA-
DOS DEZOITO CURSOS POR CORRESPONDENCIA REFERENTES
Á SSMA. TRINDADE, A JESÚS CRISTO, A IGREJA, Á ANTROPOLO
GÍA TEOLÓGICA, A MARIOLOGIA, AO ECUMENISMO, A
ESCATOLOGIA, A HISTORIA DA IGREJA, Á TEOLOGÍA MORAL, A
LITURGIA, AO OCULTISMO, AS PARÁBOLAS E AS PÁGINAS DIFÍ-
CEIS DO EVANGELHO.... CARO(A) LEITOR(A), PROCURE INFORMA-
gÓES PELO ENDERECO: ESCOLA "MATER ECCLESIAE", RÚA BEN
JAMÍN CONSTANT 23, CAIXA POSTAL 1362,20001 RIO DE JANEIRO
(RJ) OU PELO TELEFAX 0 XX 21-242-4552.

HÁ TAMBÉM VINTE OPÚSCULOS SOBRE OS NOVOS MOVI-


MENTOS RELIGIOSOS E SOBRE JESÚS CRISTO ACESSÍVEIS PELO
ENDEREZO ÁCIMA.

OS TEMPOS EXIGEM DO CATÓLICO UMA SÓLIDA FORMACÁO


DOUTRINÁRIA.

294
Reconhecida e aceita?

A IGREJA ACEITOU A
COMUNICAQÁO COM OS MORTOS?

Em síntese: Mais urna vez os espiritas propagan) a falsa noticia de


que a Igreja Católica já reconhece e aceita a comunicagáo com os mor
ios. O fundamento de tal noticia é inconsistente e confuso. Nao há pers
pectiva de que tal tenha acontecido ou venha a acontecer, já que se trata
de algo proibido pelas Escrituras e amplamente explicado pela
parapsicología; os fenómenos mediúnicos nada tém de transcendental,
mas sao expressoes do psiquismo do médium respectivo.
* * *

Por e-mail a Redagáo de PR recebeu a seguinte mensagem:


«Mais urna da nossa 'amada' Igreja Católica...

O Vaticano admite Consulta aos Morios

Materia transcrita da revista 'O Espirita', de Brasilia / DF, que, por


sua vez, o transcreveu do Jornal 'O Popular' de Goiánia:

Há anos radicada na Europa, psicóloga goiana divulga a aprova-


gáo pela Igreja da comunicagáo com os morios através de médiuns.
Oficialmente a Igreja Católica nunca admitiu o contato com os mor-
tos, como prega a doutrina espirita. Nem mesmo a atividade de médiuns
e paranormais, até há bem pouco tempo, era levada em consideragáo
pelos religiosos. Essa opiniáo mudou. Através do jornal 'L'Osservatore
Romano', órgáo oficial da Igreja com sede em Roma, em edigáo de no-
vembro de 1996, o padre Gino Concetti concedeu urna entrevista, depois
reproduzida em outrosperiódicos, como os italianos 'Gente'e 'La Stampa'
e o mexicano 'El Universal', revelando os novos conceitos católicos em
relagáo as mensagens ditadas pelos espíritos depois da moríe carnal.
Padre Gino Concetti, irmáo da Ordem dos Franciscanos Menores, consi
derado um dos mais competentes teólogos do Vaticano, admite serpos-
sível dialogar com os desencarnados. Segundo ele, o catecismo moder
no ensina que 'Deus permite aqueles que vivem na dimensáo ultraterrestre
enviar mensagens para nos guiar em determinados momentos da vida.
Após as novas descobertas no dominio da psicología sobre o paranormal,
a Igreja decidiu nao mais proibir as experiencias do diálogo com os
trespassados, desde que elas sejam feitas com finalidades religiosas e
científicas e com muita seriedade'.

295
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

Alegría

A medida ditada pela nova cartilha da Igreja Católica deixou eufóri


ca a espirita Terezinha Rey, psicóloga e ex-professora goiana, que reside
há mais de 40 anos na Suiga. Ela é tradutora e divulgadora do texto do
padre Gino Concetti. De ferias em Goiánia, faz a divulgagáo desse mate
rial. Terezinha diz que as novas opinióes dos católicos a respeito da dou-
trina pregada por Alian Kardec sao urna questao da evolugáo natural das
coisas. 'Tenho um grande respeito pela Igreja Católica e creio ser oportu
na esta revisáo de suas opinióes sobre o espiritismo', afirma ela, que
preside um centro espirita em Genebra, freqüentado por centenas de
pessoas. Terezinha considera importantes as pregagóes do padre italia
no porque tiram a culpa dos católicos por procurar os espiritas em busca
de contatos com seus entes queridos. 'Conhego padres na Europa que
sao médiuns', revela a professora, citando como exemplo o padre Biondi,
capeláo dos jornalistas de París. Fundadora do Instituto Pestalozzi,
Terezinha Rey foi para a Suiga em 1957 para fazer um doutorado em
psicología. Lá conheceu o renomado professor André Rey, um dos cria
dores da psicología clínica, e acabou f¡cando em Genebra, onde também
foi aluna da professa Héléne Antipoff, educadora de grande prestigio no
mundo inteiro. Hoje, paralelamente as atividades que desenvolve no centro
espirita, faz palestras e organiza os arquivos científicos do marido».

QUE DIZER?

1. Inconsistencia da noticia

Nao é esta a primeira vez que o espiritismo procura atrair para si o


abono da Igreja Católica. Já em PR 434/1998, pp. 324-327 foi publicada
urna refutacáo da noticia em foco, transmitida (tal noticia) aproximada
mente nos termos do texto atrás transcrito.

Voltamos ao assunto propondo quatro reflexoes:

1) Toda decisáo doutrinária da Santa Sé é publicada em documen


to assinado pelo Santo Padre ou por seus colaboradores; a colecio "Acta
Apostolicae Sedis" é o órgáo através do qual sao divulgados todos os
atos oficiáis da Santa Sé. Um teólogo isolado, dando entrevista a um
jornal vagamente citado, nao pode ser tido como representante do pen-
samento da Igreja.

2) O jornal L'OSSERVATORE ROMANO1, ao qual G. Concetti terá


concedido a sua entrevista, é citado de maneira imprecisa, sem data de
edicáo - o que foge as normas de urna noticia científica.

A noticia anterior afirmava que Gino Concetti falara ao jornal ANSA.

296
A IGREJA ACEITOU A COMUNICAQÁO COM OS MORTOS? 9

3) O novo Catecismo da Igreja Católica também é vagamente


aduzido, sem ¡ndicacáo de parágrafos alusivos á mediunidade. Alias, estes
nao se acham no Catecismo; quem o percorre, só encontra ai a clássica
doutrina da Comunháo dos Santos, sem referencia a "diálogo com os
falecidos". Vejam-se os parágrafos seguintes:

§ 958 "A comunháo com os falecidos. Reconhecendo cabalmente


esta comunháo de todo o corpo místico de Jesús Cristo, a Igreja terres
tre, desde os tempos primeiros da religiáo crista, venerou com grande
piedade a memoria dos defuntos (...) e 'já que é um pensamento santo e
salutar rezar pelos defuntospara que sejam perdoados de seus pecados'
(2Mc 12, 46), também ofereceu sufragios em favor deles. A nossa oragáo
por eles pode nao somente ajudá-los, mas também tornar eficaz a sua
intercessáo por nos.

§ 959 Na única familia de Deus. Todos os que somos filhos de


Deus e constituímos urna única familia em Cristo, enquanto nos comuni
camos uns com os outros em mutua caridade e num mesmo louvor á
Santíssima Trindade, realizamos a vocagáo própria da Igreja.

§ 2683 As testemunhas que nos precederam no Reino, especial


mente as que a Igreja reconhece como santos, participam da tradigáo
viva da oragáo, pelo exemplo modelar de sua vida, pela transmissáo de
seus escritos e pela sua oragáo hoje. Contemplam a Deus, louvam-no e
nao deixam de velar por aqueles que deixaram na térra. Entrando na
alegría do Mestre, eles foram postos á frente de muito. A sua intercessáo
é o mais alto servigo que prestam ao plano de Deus. Podemos e deve-
mos pedir-lhes que intercedam por nos e pelo mundo inteiro".

A Igreja aceita a invocacáo dos santos (oragoes humildes dirigidas


aos justos do céu para que intercedam por nos), mas nao aceita a evoca-
gao dos mortos (prática ritual que julga obter respostas e mensagens dos
mortos).

4) O estudo da paranormalidade é algo de científico; consiste em


observar o comportamento psíquico para-normal (= ao lado do normal).
Precisamente a consciéncia de que existe um comportamento paranormal
dissipa a concepcáo de que os fenómenos estranhos produzidos no es
piritismo se devem ao além, pois se verifica que sao suficientemente ex
plicados pelo psiquismo do individuo paranormal.

A Igreja aceita tranquilamente o estudo da paranormalidade, que


ela distingue da comunicacáo com os mortos. O sensitivo é o individuo
dotado de paranormalidade mais ampia; nao é necessariamente um
médium espirita; só será médium se julgar que os seus fenómenos psí
quicos paranormais sao produzidos por espíritos do além. •

297
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

Estas observacóes permitem concluir que a noticia em foco é fal


sa.

2. O testemunho bíblico

Para o católico, é importante o testemunho da Sagrada Escritura.


O mesmo Deus que, segundo seus inscrutáveis designios, permite as
vezes a aparicáo de santos ou defuntos, proibiu terminantemente a evo-
cacáo dos mortos:

«Se alguém se dirigir aos que evocam os espíritos e aos adivinhos,


para se entregar as suas práticas, voltarei minha face contra esse ho-
mem e o afastarei do meu povo» (Lv 20, 6).

«Todo homem ou toda mulher que evocar os espíritos ou se der á


adivinhacáo, será punido de morte; lapidá-lo-áo; seu sangue recairá so
bre ele» (Lv20, 27). Ver aínda Lv 19, 31; Dt 18, 11.

Nao obstante estas proibicóes, sabe-se que o reí Saúl, atribulado


numa campanha bélica, foi ter com a pitonisa (ou adivinha) de Endor,
pedindo-lhe que o pusesse em comunicacáo com a alma de Samuel, seu
guia de outrora (cf. 1Sm 28, 7-14). O cronista bíblico acentúa bem que
esse feito foi ilícito: «Saúl... se tornara culpado diante do Senhor...
porque interrogara e consultara os que evocam os mortos» (1Cr 10,
13). Nao obstante, Deus se dignou permitir que o espirito de Samuel
evocado respondesse: permitiu-o, nao por causa dos ritos da pitonisa,
que eram totalmente ineptos para tanto, mas tomando como mera oca-
siáo a visita do rei á adivinha, O motivo por que entáo o Senhor atendeu
a Saúl foi, como se depreende das palavras de Samuel, o desejo de
admoestar o rei á penitencia, ao menos no fim de sua vida (o rei Saúl
havia de morrer no dia seguinte); a exortacáo dirigida a Saúl em circuns
tancias táo extraordinarias seria particularmente eficaz. Disto, porém, nao
se segué que Deus se dirija aos homens por via táo estranha todas as
vezes que estes o desejem.

A razáo por que é proibida a necromancia, nao é o falso pressu-


posto de que esta incomoda os mortos; deve-se simplesmente ao fato de
que é urna crendice ou supersticáo.

3. E as visóes dos Santos?

Bem diferentes dos fenómenos espiritas sao as visóes que os san


tos tém.

Estas sao totalmente gratuitas, nao resultando de ritos previamen


te executados para as provocar. Nao há dúvida, tais visóes podem ser a
resposta do Senhor a preces de almas justas desejosas de obter um

298
A IGREJA ACEITOU A COMUNICAQÁO COM OS MORTOS? 11_

sinal sobrenatural. Contudo, assim como o Senhor Deus pode atender a


essas oracóes (caso ¡sso ocorra para o bem dos fiéis), pode também nao
as deferir; nunca será lícito ao cristáo crer que dispoe de meio seguro
para se comunicar com as almas dos defuntos; todo o nosso intercambio
com eles se realiza mediante insondável e soberana permissáo de Deus.
Mesmo quando urna pessoa devota julga estar sendo agraciada por vi-
sóes, os mestres da vida espiritual aconselham-lhe toda a cautela na
interpretacao de tais fenómenos, pois Satanás nao raro se dissimula em
«anjo de luz» (cf. 2Cor 11, 14). As auténticas aparicóes de santos ou
almas neste mundo (mesmo nao provocadas) nao sao tao freqüentes
quanto propalam as noticias!

Como se vé, este ponto de vista nao se identifica com a posicáo


dos espiritas, que afirmam poder entrar em contato com tal alma, por
ocasiáo de tais ritos... Procedem como se ainda tivessem jurisdicáo ou
poder sobre aqueles que nao sao mais da nossa convivencia e cuja sorte
só Deus conhece.

Vi ver com Sabedoria, por Freí Battistini. - Ed. Vozes, Petrópolis


2001, 130 X 180 mm, 300 pp.

O autor é conhecido por livros de catequese oportunos e claros.


Desta vez publica urna coletánea de reflexóes sobre problemas da vida
cotidiana atinentes áféeá Moral: Onde está Deus? Quem é pobre? As-
sédio moral, Inferno, Conversáo, Sofrimento..., períazendo um total de
setenta e tres meditagóes. Á p. 12 o autor assim apresenta o seu livro:
"Viver com Sabedoria é um livro de espiritualidade sadia, de psi
cología do profundo e filosofía da educagao, em que se evidencia o equi
librio espiritual e humano, pois tem sua raiz na Escritura.

De fato, a citagáo continua da Palavra de Deus dá a base á espiri


tualidade e ao livro todo.

O livro nos faz conhecer também os estragos, as vezes irreparáveis,


que o orgulho, o egoísmo, o desprezo dos outros, o descaso dos pobres,
a incompetencia e a corrupgáo dos políticos e dos que deveriam adminis
trar a 'coisa pública', produzem nos pobres e nos mais fráeos".

O livro será útil a quem sobre ele se debrugar.

299
Historia da Igreja:

TU ES PEDRO"
por Georges Suffert

Em síntese: Ojornalista Georges Suffert publicou um livro que pre


tende ser urna apología da Igreja, a qual existe há dois mil anos, apesar
de ter atravessado períodos de crise e tormentas. Todavía o estilo do
autor é, por vezes, superficial: ao descrever as situagóes dolorosas por
que passou a Igreja, nao menciona fatores importantes que as elucidariam.
É tendente a certo sarcasmo (moda jornalfstica). Engana-se quanto á
Teología da Libertacáo. Além do qué, a tradugáo deixa a desejar, especi
almente quando se trata de nomes próprios, títulos de livros ... - o que
todavía nao impede a boa compreensáo do texto.
* * *

Georges Suffert é jornalista, nao historiador profissional, que es-


creve urna historia da Igreja num volume único de 517 páginas.' Profes-
sa ser católico:

"O autor deste livro nao é verdaderamente neutro em relacáo á histo


ria que conta. Precisemos entao que ele é católico; por isto tenderá a fazer
das posigoes tomadas por Roma o eixo central de sua narrativa" (p. 18).

Todavía o estilo de jornalista, um tanto sumario e por vezes super


ficial, faz que o autor nem sempre entre no ámago das questóes aborda
das; omite certos tópicos que poderiam elucidar e amenizar sítuacóes
dolorosas, tornando-se assim unilateral, mais propenso a por em relevo
as sombras do que as luzes da historia da Igreja.

Apesar disso, G. Suffert julga estar propondo aos leitores urna dis
creta apología da Igreja:

'"O opio do povo', diziam as pessoas avangadas do secuto XIX. Na


verdade, essa longa procissáo, essa oragáo única que continua através
do tempo e do espago, só tem urna razáo compreensível: tratase da luta
dos vivos em face da morte. Jesús confiou aos homens o misterio da
ressurreigáo; a sua, a deles...

O que permitiu que a Igreja durasse? Haverá um misterio, quem


sabe... um milagre explicando essa sobrevida? Para nos convencermos
disto, basta olharpara essa trajetória" (p. 16).

1 Tu és Pedro - Tradugáo deAdalgisa Campos da Silva - Ed. Objetiva, Rio de Janei


ro 2001, 160 x 220 mm, 517 pp.

300
"TU ÉS PEDRO" 13

Analisemos alguns tópicos importantes abordados pelo autor.


1. Inquisicáo

O jornalista nao trata da temática com a devida profundidade. Fala


da "invencáo da Inquisicáo" {p. 210), da "repressáo ideológica e doenca
pavorosa" (p. 211)... Todavía á p. 212 escreve:

"É preciso tentar imaginar o clima intelectual da época (séculos XII


a XIV). Ponto de partida: a existencia aceita de urna sociedade crista.
Tanto ñas instituigóes políticas como ñas regras jurídicas, o universo era
naturalmente cristáo. Aquele que se afastava da norma parecía um
transgressor, um provocador, talvez mesmo um louco. A idéia de que
esse individuo pudesse, em alguma medida, ter razáo nao ocorria a nin-
guém; a idéia de que, recusando as normas da época, ele estivesse no seu
direito era impensável. Desconfiava-se da intervengáo do diabo" (p. 212).
Estas observacóes sao muito válidas. Todavía o autor podía ter
acrescentado que

- em vírtude do mencionado regime de cristandade, a Inquisicáo


nunca foi um tribunal meramente eclesiástico. O Estado sendo oficial
mente cristáo, a lesáo de um artigo de fé era lesáo da ordem pública, que
o Estado julgava ter o dever de reprimir;

- os medievais eram mais dados á metafísica, os homens moder


nos sao mais dados á psicología. Isto quer dizer que, para o medieval, o
erro era sempre erro inescusável, ao passo que, para o cidadáo moder
no, o erro pode ser desculpável em vírtude de falta de responsabilidade
do delituoso.

Estas observacóes complementares sao muito importantes para


se reconstituir o quadro da Inquisicáo. Nao se pode julgar o passado
aplicando-se-lhe categorías do pensamento contemporáneo que os antigos
nao conhecíam.

2. Indulgencias

As pp. 249s o autor trata das indulgencias, que ele nao compreen-
deu. Escreve em estilo jornalístíco um tanto sarcástico:

"Os cristáos em geral nao gostam de dilapidar seu peculio. Para


estimulá-los a ser mais generosos, a Igreja anuncia que os doadores váo
se beneficiar nos limites razoáveis - da mansuetude de Deus no dia do
Juízo. As indulgencias acabam de ser inventadas...

A partir do secuto XV admite-se que as indulgencias podem bene


ficiaras almas do purgatorio. O que é bem espantoso: esse lugar indistin
to que, como mostrou Le Goff, tem como fungáo precipua tirar o juízo final
da regra terrível do tudo ou do nada - quer dizer, a danagáo eterna -, o

301
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

Purgatorio é uma invengáo relativamente recente. Se o termo inventado


parecer chocante, basta substituí-lo pelo de 'tomada de consciéncia'. A
Igreja, em suma, acha que, por intermedio de Cristo, operdao é possível,
como Deus quiser, e quando Ele quiser. O Purgatorio traduz, numa fór
mula, essa esperanga" (p. 250).

O texto é confuso e erróneo, a comecar pela afirmacao de que o


purgatorio é um lugar; na verdade é um estado de alma. O purgatorio
está documentado já na Escritura do Antigo Testamento; cf. 2Mc 12, 38-
45, texto que demonstra como os judeus anteriores a Cristo já acredita-
vam numa purificacáo postuma. Os cristáos herdaram essa crenca do
povo israelita.

Quanto as indulgencias, nao sao esmolas apenas; sao boas obras


enriquecidas pelos méritos de Cristo; supóem o perdáo dos pecados pre
viamente obtido, e contribuem para apagar os resquicios de pecado que
ainda ficam após a absolvicáo sacramental; o amor a Deus e o odio ao
pecado com que alguém pratica uma obra indulgenciada (recitacáo do
Rosario ou do terco, leitura da Biblia, visita a um santuario, jaculatorias...)
fazem que a "ferrugem" deixada pelo pecado (mesmo já absolvido) vá desa-
parecendo. A propósito ver PR 437/1998, pp. 497ss; 442/1999, pp. 127ss.

Donde se vé que a ¡nstituicáo das indulgencias nada tem que ver


com captacáo de dinheiro, nem o purgatorio é uma ¡nvencao. G. Suffert
se enganou flagrantemente a respeito.

3. Lutero e a Reforma

G. Suffert procura respeitar Lutero; apresenta as peripecias de sua


obra reformadora. Todavía o historiador objetivo nao esqueceria de
enfatizar um pouco mais o envolvimento de Lutero com os príncipes da
nació alema, aos quais escreveu um libelo, excitando o seu nacionalis
mo contra Roma; tornou-se assim o porta-bandeira de uma atitude políti
ca, que muito incentivou o cisma religioso. No fim da vida, em suas
alocucoes de mesa (de refeicóes) ou Tischreden, dizia ele: "Há mil anos,
Deus a nenhum Bispo concedeu táo grandes dons quanto a mim. É pre
ciso gloriar-se dos dons de Deus (In mille annis Deus nulli episcopo
tanta dona dedlt ut mihi. Gloriandum est enim de donis Deis)"
(Tischreden 5494 V 189).

Seria também pertinente ao quadro apontar a protecáo concedida


por Frederico da Saxónia ao reformador, em troca da qual Lutero reco-
nheceu a Filipe o direito á bigamia.

Lutero deve ter sido um homem profundamente religioso, mas nem


sempre foi feliz em suas opcóes movidas por fortes paixóes e afetos. Ver
a propósito PR 437/1998, pp. 439-456; 439/1998, pp. 548-556.

302
"TU ÉS PEDRO" 15

4. Teología da Libertado

O autor parece nao ter compreendido o que é a Teología da Liberta-


cao, que ele expóe nos seguintes termos (referindo-se á América Latina):

"Muitos padres consideravam que sua atitude, suas oragóes e seus


ritos haviam se tornado totalmente incompreensíveis para essas multi-
dóes de margináis concentrados na periferia das cidades ou em zonas
agrícolas arruinadas pelo empobrecimento das térras, os pregos de cus-
to da produgáo, etc. Essas massas haviam sido cristas. Já nao eram muito
mais. Para se dirigir a elas, para despertá-las, era preciso usar nova lin-
guagem. As mensagens confusas dos revolucionarios - havia-os de to
dos os tipos - costumavam ser ouvidas por esses verdadeiros excluidos.
A Igreja deveria agora usar um pouco da sua linguagem. Eis aquí, em
linhas gerais, o que era a Teología da Libertagáo.

A partir dessa constatagáo indiscutivel é que padres e leigos co-


megaram a elaborar urna nova teología; sonhava-se enxertar a mensa-
gem evangélica sobre o arbusto da revolugáo" (p. 482).

Na verdade, a Teología da Libertagáo extremada nao foi simples-


mente "usar um pouco da linguagem do povo". Ela partia da análise mar-
xista da sociedade, segundo a qual o homem é essencialmente carente
de bens materiais; estes sao disputados; quem deles se apodera passa
a oprimir seus semelhantes, de modo que a sociedade consta de opres-
sores e oprimidos; haja entáo luta de classes para se chegar a urna soci
edade igualitaria, sem classes. Em funcáo desta indiscutida premissa, o
Evangelho é relido de maneira a se ver em Jesús Cristo o primeiro guer-
rilheiro e a considerar o pecado como sendo a nao participacáo na luta
política.

A questáo, portanto, foi muito mais serla do que descreve o jorna-


lista G. Suffert.

5. Outros tópicos

Varias outras ¡mprecisdes de linguagem e de julgamento se pode-


riam apontar na obra em pauta. Talvez o que mais chame a atencao, é o
estilo leviano e, por vezes, sarcástico utilizado pelo autor. Sejam indica
dos ainda os seguintes pontos:

- em 1415 o Papa Gregorio XII nao "aceitou entregar sua demis-


sáo", mas renunciou ao pontificado (p. 233);

- o Concilio de Nicéia I (325) nao "inventou" o Credo, mas formulou


de maneira clara e definitiva a verdade já contida ñas Escrituras, ou seja,
a Divindade do Logos ou do Filho; cf. p. 73;

303
■16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

- as heresias nao "fabricaram" a fé, mas contribuiram para estimu


lar a reta formulacáo dessas verdades apregoadas pela tradigáo anteri
or; cf. p. 71;

- no fim da Idade Media terá havido "a corrupcáo generalizada da


Igreja". Esta afirmacáo é leviana e tendenciosa, pois em todas as épocas
sempre houve grandes Santos e Santas, que fizeram frente á fragilidade
humana; cf. p. 17;

- á p. 161 o autor diz que, após o cisma bizantino (1054), "daí por
diante seráo duas Igrejas". A expressáo é ambigua. Mais adequado é
usar a imagem proposta por Joáo Paulo II: a única Igreja de Cristo tem
dois pulmóes, dos quais um se separou em 1054.

- a centena de anos que vai de 301 a 400 constituí o sáculo IV e


nao o século III, como está insinuado as pp. 72 e 74.

Em suma, a traducáo do francés para o portugués deixa a desejar,


principalmente ao se tratar de nomes próprios. Eis alguns espécimens:
- Godofredo de Bouillons nao é Godofredo de Bolonhas; o sobre-
nome nao se traduz; cf. pp. 178s;

- o Patriarca Fócio nao escreveu em francés, mas em grego; por


¡sto a tradutora bem poderia ter citado "A Mistologia do Espirito Santo"
em vez de guardar a versáo francesa "La Mystologie du Saint-Esprit"; cf.
p. 158;

- á p. 253 ficaram em francés os nomes Cajetan (Caetano), Jean


(Joao) Eck, Georges (Jorge) de Saxe;

- á p. 207, lé-se Pierre Lombard em vez de Pedro Lombardo;

- á p. 74, Marcel d'Ancyre em vez de Marcelo de Ancira;

- á p. 19, "La guerre juive" de Flávio José nao é o título original da


obra. Daí a conveniencia de traduzir por "A Guerra Judaica".

Em suma, a intencáo, do autor, de afirmar que a existencia bimilenar


da Igreja é algo de singular e portentoso, sinal da acáo de Deus, que
opera através dos homens, é válida e louvável. Todavía a maneíra como
G. Suffert apresenta a historia é assaz falha; as vezes parece brincar
com as coisas serias mediante suas expressoes inoportunas e omitindo
muitos tópicos que dariam a compreender melhor o fio condutor ou o
espirito que animava os personagens citados pelo autor.

O leitor da obra saberá fazer os descontos que ela exige.

304
Heróis da Fé:

A PERSEGUigÁO RELIGIOSA
NA ALBANIA COMUNISTA

Em síntese: Nos últimos anos tém vindo á tona os fatos desuma-


nos desencadeados contra fiéis cristáos nos ex-países comunistas. A
Albania foi o único país explícitamente ateu no mundo inteiro. O presente
artigo narra episodios da violencia desferida contra a Igreja nos anos do
comunismo albanés.

Aos poucos va¡-se revelando quanto ocorreu de violento e desu-


mano na perseguicáo movida pelos regimes totalitarios da Europa no
século XX contra a Igreja. A Albania foi um dos países mais castigados
pelo governo explícitamente ateu que a dominou de 1944 a 1990.

Ñas páginas seguintes seráo reproduzidas as noticias que a res-


peito foram publicadas por Mons. Zef Simoni no artigo "La persecución
de la Iglesia en Albania de 1944 a 1999", da revista mexicana ECCLESIA
de abril-setembro 2000, pp. 305-316.

O TEXTO

"No día 16 de agosto de 1944, por ocasiao da festa de Sao Roque


celebrada em Shiroka, durante a procissao o Pe. Ndre Zadeja dirigiu aos
fiéis um breve discurso:

"Quero hoje dizer urna breve palavra a vos, especialmente aos }o-
vens: urna nuvem negra, carregada de urna ideología vermelha, se es-
tende sobre as vossas cabegas. Ela deve descarregar-se sobre vos. Se
isto acontecer, nada podereis fazer contra ela; apenas tereis que supórta
la com seus males todos, inclusive a negagao de Deus".

O Padre Zadeja, fervoroso e destemido, pronunciou tais palavras


tres meses antes que na Albania comecasse a dominar o comunismo.

O inicio da grande perseguicáo

Assim comecou a grande perseguicáo, única em toda a historia de


nossa patria albanesa.

Um dos primeiros golpes do governo comunista contra a Igreja ocor


reu em 1945, quando negou entrada ao Núcleo Apostólico, Mons. Leone
Nigris, que regressava de Roma.

305
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

Mons. Gasper Thaci e Mons. Vincenc Prennushi foram chamados


pelo presidente Enver Hoxha para Ihes oferecer colaboracáo contanto
que se separassem da Santa Sé. Ambos rechacaram peremptoriamente
a proposta.

Após a morte de Mons. ThacJ, Enver Hoxha tentou mais urna vez o
mesmo, chamando Mons. Franco Gjini, que Ihe respondeu: "Nunca se-
pararei da Santa Sé o meu rebanho".

O primeiro sacerdote fuzilado na Albania fo¡ o Pe. Lazer Shantoja


em 1945; antes da execucáo foi submetido a terríveis torturas, que Ihe
quebraram as máos e os pés. Aos 21 de junho, festa de Sao Luís Gonzaga,
o Pe. Giacomo Gardini S. J., após ter pregado na igreja em presenca de
agentes da Sigurimi, foi preso e condenado. No mesmo dia foi detido
também o Pe. Gjergj Vata S. J.

Aos 31 de dezembro de 1945, a policía descobriu a organizacáo


nacionalista Bashkimi Shqiptar, fundada e integrada por católicos e
muculmanos no Pontificio Seminario Albanés de Roma. Animados por
zelo patriótico, alguns seminaristas, sem que o soubessem seus superi
ores, mandaram imprimir varios escritos. Por este motivo foram presos e
fuzilados o Pe. Giovanni Fausti S. J., italiano, e o Pe. Daniel Dajani S. J.
A esses dois irmáos associou-se também o intelectual albanés Pe. Gjon
Shllaku OFM, acusado injustamente de haver fundado o Partido Demó
crata Cristáo.

"Viva Cristo Rei! Perdoamos"

Juntamente com seus colegas foi fuzilado, a 4 de marco de 1946, o


principal organizador do movimento, o seminarista Kark Cuni. Os arqui-
vos do Ministerio do Interior registram as palavras pronunciadas pelo jovem
antes de ser fuzilado: "Viva Cristo Rei! Perdoamos aos nossos inimigos".
O levantamento anticomunista de Postriba, aos 9 de setembro de
1946, foi o pretexto para que se encarcerassem muitos sacerdotes que
dele nao tinham tomado parte. O Pe. Provincial dos Frades Menores,
Frei Mati Prennushi OFM, e o Guardiao do convento de Shkoder, Frei
Ciprian Nika OFM foram falsamente acusados de haver escondido ar
mas dentro do altar de Santo Antonio na igreja de S. Francisco em
Gjuhadol; foram submetidos a um processo-farsa e fuzilados. O conven
to franciscano de Gjuhadol transformou-se em cenário de sangrentos inter
rogatorios e cárceres, onde ficaram detidas cerca de setecentas pessoas.

Numerosos outros sacerdotes e Religiosos foram presos, tortura


dos e condenados. O Pe. Frei Serafín Koda OFM foi degolado. O Pe.
Papas Pandit foi decapitado e deixaram sua cabeca exposta ao público.
Outro sacerdote, Papas Josif, foi enterrado vivo no campo de trabalho do

306
A PERSEGUIgÁO RELIGIOSA NA ALBANIA COMUNISTA 19

pantano de Maliq. O Pe. Mark Gjini, foi submetido a torturas para que
renegasse Cristo; muito ao contrario, suas últimas palavras foram "Viva
Cristo ReÜ"; morreu amarrado de tal modo que se asfixiasse; seu corpo
foi lancado aos caes e os restos moríais foram logo atirados ao mar.
O odio comunista fez que retirassem de seus túmulos alguns sa
cerdotes a fim de os escarnecer. O Pe. Frei Frano Kiri OFM sofreu duran
te tres dias e tres noites atado a um cadáver em decomposicáo. O Pe.
Gjon Karma SJ foi enterrado vivo em um ataúde.
Novas Invectivas

Em 1946 foram fechadas todas as escolas particulares da Albania.


As tipografías da Igreja foram encampadas, de modo que nenhum jornal
ou periódico católico podia doravante ser publicado. Foram confiscados
também todos os objetos dos museus dos jesuítas e dos franciscanos,
assim como os livros de todas as suas bibliotecas; somente a dos jesuí
tas contava quarenta mil volumes. Foram igualmente supressas todas as
associacoes religiosas, ainda que nao estivessem voltadas para a política.
Em maio de 1946 o povo comecou a sentir a falta de sacerdotes.
Os fiéis iam á Missa (quando a havia), entravam e saíam em silencio. Todos
tinham medo; havia perigo ñas rúas, ñas horas notumas, na escuridáo...
Em torno de 1960, a Albania rompeu relacoes com a Uniáo Sovié
tica e voltou-se para a China. Comecou entáo um controle severo e se
creto sobre todas as pessoas que iam á igreja, especialmente os profes-
sores, os funcionarios do Governo e os jovens. Desencadeou-se forte
propaganda atéia, principalmente ñas escolas. Em periódicos e livros
escreviam-se estórias odiosas, falsas, caluniadoras e ofensivas contra a
Igreja, sem que houvesse possibilidade de responder-lhes. Havia liber-
dade apenas para atacar e difamar; quem o fizesse, recebia graus e títu
los académicos.

Na vigilia de Pentecostés de 1960, o Chefe do comité comunista


de Escútari, o sr. Bilal Parraca, comunicou ao Arcebíspo que o sacra
mento da Crisma devia ser ministrado na igreja e nao as ocultas na resi
dencia do Arcebispo, dizendo: "Nao há por que se esconder, visto que a
religiáo é livre". Na verdade, o que o agente comunista quería, era desco-
brir quem receberia o sacramento, e, para tanto, organizou diversos gru
pos de vigilancia.

Os acontecimentos foram-se tornando cada vez mais graves.


Aos 6 de fevereiro de 1967, em Tirana, numa reuniáo de organiza
res do Partido Comunista Enver Hoxha apregoou a "revolucáo cultural",
ou seja, a guerra feroz contra as tradicóes antigás e os preconceítos reli
giosos. Esta proclamacáo deu inicio a um grande incendio logo no dia

307
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

seguinte. Comecaram a circular os "Manifestos de Crítica", semelhantes


aos tazebao chineses. No dia 15 de fevereiro, as dez da manha, ñas
portas de todas as igrejas e mesquitas, assim como em varios pontos da
cidade de Durré apareceram "Manifestos de Crítica".

Aos 24 de marco de 1967 (sexta-feira santa) nos bairros católicos de


Escútari, entraram ñas casas alguns grupos da organizagáo dos "Pioneiros"
para controlar a situacáo e a limpeza; na verdade, o que desejavam, era
saber em quais casas se guardavam rosarios, crucifixos e imagens sagra
das; esta entrada ñas residencias tinha por objetivo também incitar as crian-
gas ao costume de denunciar os pais e familiares e praticar a espionagem.
Aos 11 de junho de 1971, em Escútari, na igreja catedral, convertida
em Palacio dos Esportes, teve lugar o Congresso da Mulher. Nessa igreja,
centro da vida religiosa católica albanesa, ressoaram palavras violentas dos
dirigentes comunistas contra a religiáo católica, muito aplaudidas pelas mu-
Iheres que com grande entusiasmo animavam o infame Congresso.
O auge da impiedade

Em 1976 a Albania se declarou, em sua Constituicáo, um Estado


ateu, que proibia por lei qualquer ato religioso. Estava assim decretado o
desaparecimento do Catolicismo com a erradicacáo de qualquer reminis
cencia ou sinal de religiáo. A violencia tornou-se ainda mais sistemática...
Em maio de 1976 foi preso o Bispo Mons. Gjergj Simoni, porque
durante urna ¡nspecáo de sua residencia se encontraram vasos sagra
dos, Iivros da biblioteca do arcebispado e escritos pessoais. Abriu-se um
processo, que terminou aos 29 de abril de 1977; aos 10 de Janeiro de
1980 morreu na enfermaría do cárcere após ter recebido misteriosa injecáo.
De modo semelhante, o Pe. Mikel Koligi, pároco de Escútari, foi
detido e logo condenado a ser confinado durante trinta anos. Ao Pe. Simón
Jubani tocou a condenacáo a vinte e seis anos; seu irmáo, o Pe. Lazri foi
envenenado com tomates em seu lugar de trabalhos toreados... Em suma,
até 4 de novembro de 1990, mesmo sob Ramiz Alia, sucessor de Enver
Hoxha, a ditadura comunista se projetou contra todo tipo de religiáo, es
pecialmente porém contra a católica.

Finalmente a paz

Aos 4 de novembro de 1990 foi recuperada a liberdade religiosa na


Albania. A Igreja Católica se reergue nao somente por sua hierarquia,
mas também pela colaboracáo do povo católico. Verdade é que este cons
tituí urna minoría num país que é prevalentemente muculmano e que foi
sufocado pelo ateísmo militante. Pode-se dizerque os católicos na Albania
sao discriminados e subestimados, como alias tém sido em séculos an
teriores, já que o dominio islámico tende ao absolutismo. Como querque

308
A PERSEGUIgÁO RELIGIOSA NA ALBANIA COMUNISTA 2±

seja, os católicos sao beneméritos na nacao albanesa, pois resistiram


corajosamente aos ditames do materialismo ateu e hoje procuram cola
borar para a reconstrucáo do país com ánimo forte, movidos pelos ideáis
da fraternidade, do amor e do respeito pela dignidade humana.

A Fé do Cristáo Católico hoje, por Freí Boaventura Kloppenburg


O.F.M., Ed. Vozes, Petrópolis 2001, 160 x 220 mm, 231 pp.

D. Boaventura Kloppenburg é bispo emérito de Novo Hamburgo


(RS). Tem dedicado estes últimos anos á redagao de livros sobre temas
de fé, como Jesús Cristo, Deus Pal, o Espirito Santo... Oferece agora um
compendio das verdades da fé, que abrange todos os tratados teológicos
em linguagem sólida e clara. Além do qué considera, num quase Apéndi
ce, dificuldades e objegóes freqüentemente levantadas contra artigos de
fé ou disciplina católicas. A obra é muito oportuna. O autor tem conscién-
cia de que, dos 130 milhóes de católicos do Brasil, apenas 30 milhóes
sao praticantes: os demais nao sao tais, muñas vezes por falta de instru-
gáo religiosa ou porque impressionados por questionamentos de origem
protestante ou espirita. Daia importancia de se oferecerem aos fiéis sub
sidios para que se esclaregam e possam fortalecer a sua fé.

O livro comega com a apresentagáo da fé como resposta aos anseios


mais espontáneos do ser humano:

«Por experiencia sabemos que o centro de gravidade (somos 'mons-


tros de inquietagáo', constatava Charles Péguy) nao se encontra ñas
coisas criadas; e a meta de nossos desejos nao sao os valores terrenos.
Sentimos que, de fato, sao deficientes e limitados. Todas as satisfagóes
deste mundo trazem em si um sabor amargo. As flores murcham. As ro
sas tém espinhos. O que nos agrada, logo termina. O sorriso acaba em
pranto. A felicidade mora ao lado do infortunio. E diante da morte fracas-
sa nossa imaginagáo. Compreendemos entao que deve haver em nos
urna sementé de eternidade; e que fomos criados para urna vida feliz além
dos limites da existencia terrestre. Experimentamos que Deus nos chama
para estarmos com Ele na comunháo perfeita da incorruptivel vida divina.

Como diz nosso Catecismo no n° 27, o desejo de Deus está inscri


to em nosso coragáo: fomos criados por Deus e para Deus; e Ele nao
para de atrair-nos a si; e somente nele encontramos a verdade e a felici
dade que nao cessamos de procurar. Deus nos criou por amor; e por
amor nos conserva na existencia. E, ainda que o homem esquega ou
rejeite o Criador, Deus, de sua parte, continua a chamar todo o homem e
a procurá-lo, como o bom pastor busca a ovelha perdida, para que viva e
encontré a felicidade. Vale aqui a célebre constatagáo de Santo Agosti-
nho no comego de suas Confissóes: 'Vos nos fizestes para vos, Senhor,
e o nosso coragáo nao descansa enquanto nao repousar em vos'» (p. 17).

309
Reviravolta?

UMA NOVA IMAGEM DE JESÚS

Em síntese: Alguns pesquisadores ingleses tentaram reconstituir


a imagem de Jesús através do exame de cránios humanos e de pinturas
da Palestina do século I d.C; daf resultou urna configuragao de Cristo
bem diferente da clássica. Na verdade, tal nova imagem - corresponden
te ou nao ao que foi Jesús - nao altera a piedade crista. Ninguém foto-
grafou Jesús ao vivo; toda imagem é conjetural e serve únicamente para
lembrar aos fiéis o misterio da Encarnagao: Deus quis fazer-se homem
exceto no pecado, a fim de dar aos homens o consorcio da sua bem-
aventuranga divina. - De fato a tradigáo crista tende a afirmar que Jesús
teve um porte físico muito befo e digno, como atestam tres retratos medi-
evais imaginados pela piedade da época. Também o vulto impresso no
Santo Sudario dá a entender que Jesús tinha um físico muito bem tragado.
* * *

Em marco pp. a imprensa noticiou a confeccáo de urna nova ima


gem de Jesús reconstituida com a ajuda de computadores - o que susci-
tou varios comentarios um tanto despropositados. A seguir, publicare
mos a noticia e Ihe teceremos algumas reflexóes.

1. A noticia

Eis o que publicou o jornal O GLOBO em sua edicao de 28/3/01:

«Especialistas criam nova imagem de Cristo


Resultado será usado pela BBC

• Londres. A rede de TV británica BBC criou urna imagem pouco conven


cional de Jesús Cristo para urna serie de televisáo, com auxilio da
informática e da pesquisa histórica. Segundo a BBC, o rosto a que se
chegou a partir do cránio de umjudeu que viveu no século I é provavel-
mente o desenho mais próximo que já se fez da face de Cristo.

Como resultado do trabalho, Cristo foi retratado como um homem


com nariz pronunciado, cábelos curtos e ondulados e mais moreno do
que se costuma pintá-lo.

- Nao pretendemos ter a foto de Jesús, mas certamente este é o


rosto mais verossímil que se pode conseguir - disse Lorraine Heggessey,
diretora de programagáo da BBC.

Um grupo de pesquisadores chefiado por Richard Neave, especia


lista em reconstrugáo forense da Universidade de Manchester, trabalhou

310
UMA NOVA IMAGEM DE JESÚS 23

com um cránio descoberto por arqueólogos israelenses para determinar


o que sería o rosto de um judeu que viveu numa época próxima á de
Cristo. Além disso, usou outros tipos de material, como pinturas
antiquissimas representando Jesús».

2. Que dizer?

Toda imagem de Cristo é conjetural, pois ninguém fotografou ou


pintou Jesús ao vivo. Qualquer tentativa de reconstituir o semblante de
Cristo é válida, contanto que guarde o respeito devido a essa santa efigie.
O que importa, é que a imagem contribua para por em relevo o misterio
da Encarnacáo: Deus se fez homem, em tudo igual aos demais homens,
exceto no pecado. E se fez homem para que a criatura humana possa
ser elevada á participacáo da bem-aventuranca divina. - A arte bizantina,
mediante os seus icones, se esmera em fazer imagens transparentes do
Divino, que convidam á oracáo e á contemplacáo; pode-se dizer que tal
tipo de arte sacra é o mais recomendável, pois preenche plenamente o
seu papel, que é o de fazer o orante passar do visível ao Invisível, conso-
ante a clássica norma: "Por Jesús Cristo a Deus Filho, e por Deus Filho
ao Pai". A arte ocidental apresenta um Cristo talhado segundo os traeos
do homem ocidental, a fim de que este, através do que Ihe é familiar, se
possa elevar ao Invisível. A rigor, nada haveria a objetar á confeceáo de
um Cristo japonés, chinés, indiano ou africano ñas respectivas regióes
geográficas, a fim de que o asiata e o africano melhor compreendam que
Deus se fez igual ao homem em tudo exceto no pecado, e se sintam
interpelados por Cristo Mediador para o Pai.

Menos desejável (embora nao condenável) é a representacáo me


ramente realista de Jesús Cristo como se fosse um simples herói huma
no, sem deixar transparecer a Divindade que nele habita. A confeceáo
dos arqueólogos e pesquisadores ingleses está nesta linha fortemente
realista, sem compromisso com o Transcendental. O esforco de tais es
tudiosos merece ser levado em conta; é louvável do ponto de vista cien
tífico, mas deixa a desejar do ponto de vista teológico, pois a respectiva
imagem parece opaca e nao transparente.

A tradicáo crista julgava que Jesús tivera um belo porte físico com
um semblante muito significativo, como atestam os documentos seguintes:

3. Urna imagem medieval

Na Idade Media foi confeccionada urna ¡magem escrita de Jesús


numa carta espuria do governador Públio Léntulo ao Imperador Tiberio.
O documento nao pode ser tido como auténtico, mas exprime bem o
modo de pensar dos cristáos antigos e medievais; que se apoiavam no SI
45, 3, onde se lé: "Tu és o mais belo dos filhos dos homens; a graca
escorre dos teus labios".

311
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

Há tres versees da carta de Públio Léntulo, que váo, a seguir,


reproduzidas:

Versáo 1

Redigida pelo seu concidadáo contemporáneo, Publius Lentulus,


gobernador da Judéia, antecessor de Pondo PHatos. Extrato de urna
missiva a Tiberio César, Imperador Romano (14-37).
"A pessoa de Jesús é de nobre estirpe. Sua aparéncia é de urna bele-
za fora do comum, que jaz em sua majestosa maneira de ser. Usa seus
brilhantes cábelos de cor castanha á moda nazarena, divididos ao meio,
cobrindo os ombros. A tez de seu rosto é alva e sem rugas, sua fronte é lisa
e bela. Nada a acrescentar sobre o formato de seu nariz e sua boca. Sua
barba curta e espessa, usa-a exatamente ao estilo nazareno, sem apresen-
tar qualquer cunho excéntrico. Os olhos sao semelhantes aos raios do Sol e,
por motivo de seu intenso brilho, é ¡mpossível fitar seu rosto por tempo pro
longado. Suas máos e seus bracos sao bem formados. É amado por todos,
é austero, contudo alegre. Usa sandalias e anda sempre com a cabeca des-
coberta. Na conversacáo é muito amável; porém, raríssimas vezes deixa-se
levar por urna palestra, e, quando Ele está com a palavra, mantém-se em
atitude discreta. Sua aparéncia é a mais bela possível de imaginar-se, se-
mefhante á sua Máe, que é a mais formosa das mulheres vistas aqui nesta
regiáo. É considerado um prodigio em sabedoria por todos os habitantes da
cidade de Jerusalém. Nunca estudou; no entanto, conhece toda a ciencia.
Comenta-se que nunca se ouviu falar, neste país, sobre outra pessoa que o
igualasse. Na verdade, os hebreus ¡nformam que jamáis ouviram conselhos
semelhantes, instrucoes táo elevadas como as que sao ensinadas por este
Cristo. Muitos judeus o consideram divino e créem nEle, enquanto outros
vém a mim para condená-lo, por estar em contradicáo com Vossa Majestade.
É notorio que jamáis infligiu qualquer mal a quem quer que seja, e
que somente pratica o bem. Todos os que o conhecem e com Ele man-
tém relagóes, dizem que dEle receberam curas e beneficios.
Publius Lentulus"

Versáo 2

"A Tiberio César, saúde.

Eis aqui, Majestade, a resposta que exigistes.

Apareceu aqui um homem dotado de excepcional poder, denomi


nado o grande profeta. Seus discípulos chamam-no Filho de Deus. Seu
nome é Jesús.

Em verdade, ó César, todos os días ouvem-se coisas prodigiosas a


respeito deste Cristo, que ressuscita mortos, cura qualquer enfermidade
e, com sua doutrina extraordinaria, póe em estupefacáo toda a Jerusalém.

312
UMA NOVA IMAGEM DE JESÚS 25

É de aspecto majestoso, de fisionomía esplendente, cheia de en


canto, de tal modo que os que o véem, amam-no e o temem ao mesmo
tempo. Dizem que seu róseo rosto, com barba dividida ao meio, é de
urna beleza incomparável, e que nao pode ninguém fitá-lo por longo tem
po, tal é o esplendor que manifesta nos tragos e nos olhos azuis. Os
cábelos louros escuros sao semelhantes aos da mié, que é a mais bela
e simpática figura, aqui jamáis vista.

Em suas palavras incisivas, graves, incontestáveis, apresenta ele


a expressao mais pura da virtude e urna sabedoria que supera em muito
a dos maiores genios. Ao repreender e exprobrar, mostra-se temível; no
ensinar e exortar, manso, amável e fascinante. Anda descaigo, de cabe
ca descoberta, e, ao verem-no a certa distancia, muitos riem; tremem
porém e permanecem estupefatos em sua presenca. Ninguém jamáis o
viu rir, muitos porém o viram chorar. Todos que com ele conviveram,
afirmam ter recebido beneficios e saúde. Maliciosos, no entanto, me
molestam dizendo constituir ele perigo a vossa Majestade, por afirmar
publicamente que rei e súditos sao iguais diante de Deus.

Da¡-me vossas ordens nesse sentido, que prontamente seréis obe


decido.

Passai bem.

Públio Léntulo"

Versáo 3

"Apareceu nestes tempos, e ainda existe, um homem (se é lícito


considerá-lo homem) de grande virtude, chamado Jesús Cristo. É tido
pelos povos como profeta da verdade; os seus discípulos chamam-no
Filho de Deus; ressuscita mortos e cura todas as doencas. É homem de
estatura elevada, moderado e respeitável. Tem semblante venerável,
cábelos da cor de avelá nao plenamente madura, quase lisos até os ou-
vidos, crespos dos ouvidos para baixo, um tanto brilhantes, caindo sobre
os ombros. A cabeleira se reparte no meio de sua cabeca, como é costu-
me entre os Nazarenos. A sua testa é lisa e muito serena, as faces sem
ruga. Nenhuma falha traz no nariz e na boca. Tem barba, da cor dos
cábelos, nao longa, levemente bifurcada na altura do queixo. Seu olhar é
simples e maduro; os olhos sao claros e esverdeados. Quando repreen-
de, é terrível; quando admoesta, é manso e amável; é alegre, ao mesmo
tempo que serio. Chorou algumas vezes, mas nunca riu. Tem estatura
bem erecta, as mios e os bracos bem configurados. É ponderado ao
falar, sobrio, modesto, de tal modo que o Profeta bem pode dizer: 'É o
mais belo dos filhos dos homens"'.

Tal carta atribuida a Léntulo procede da pena de um cristáo que


desejava parafrasear o salmo 45, 3, citado no fim do texto.

313
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

De resto, a imagem gravada no santo Sudario de Turim (o qual


parece ser a auténtica mortalha que envolveu o corpo de Cristo morto)
confirma a concepcáo antiga, dando a ver um físico bem delineado e de
nobre porte; terá medido 1,83 m de altura.

Para concluir, percorramos ainda os Evangelhos a fim de


depreender dos mesmos o que nos dizem sobre o perfil físico e psíquico
de Jesús.

4. O Perfil Psicofísico

a) Os estudiosos, após atenta leitura do Evangelho, costumam con


cluir que Jesús devia ser físicamente robusto, dotado de saúde vigorosa.

Durante tres anos levou vida intensamente movimentada, cami-


nhando de urna cidade para outra, exposto a todas as intemperies. En-
quanto as aves do céu tinham seus ninhos e as raposas as suas tocas,
Jesús nao tinha onde repousar a cabeca (cf. Mt 8, 20). Aos seus discípu
los deu o conselho: "Nao levéis coisa alguma para o caminho, nem bor-
dao, nem mochila, nem pao, nem dinheiro" (Le 9, 3). Iniciava cedo as
suas jornadas (cf. Le 6, 13) e as vezes nem sequer tinha tempo para
comer, cercado como estava pelas multidóes (cf. Me 3, 20). Finda a jor
nada, acontecía que se retirasse para a solidáo e passasse a noite em
oracao (cf. Le 6,12; Mt 14, 23).

Em seus padecimentos fináis, Jesús deu a suprema prova de sua


fortaleza física e psíquica, demonstrando perfeito dominio sobre os ñer
vos, de tal modo que o centuriáo, estupefato, exclamou: "Verdaderamente
este homem era Filho de Deus" (Mt 27, 54). Observa sabiamente Karl
Adam: "Qualquer temperamento doente ou simplesmente delicado teria
cedido ou sucumbido. Nunca em lugar nenhum Jesús se retirou, nem
mesmo ñas situacóes mais enervantes e perigosas. Ele dorme tranquilo,
repousando sobre o seu travesseiro, em meio á tempestade que agita o
lago de Tiberíades; quando os discípulos O despertam, logo vencendo o
sonó profundo, Jesús toma consciéncia da situacao e a domina; cf. Me 4,
36-41. Tudo isto mostra quao longe estava de ter um temperamento excitável,
nervoso; ao contrario, era sempre senhor dos seus sentidos. Numa palavra,
era inteiramente sadio" (Karl Adam, Gesü il Cristo. Brescia 1954, p. 88).

A respeito de muitos místicos se refere que tiveram éxtases e arre-


batamentos, que os tornavam insensíveis ao mundo visível. Quanto a
Jesús, nao se sabe que tenha passado por éxtases ou transes que Ihe
tirassem o dominio das faculdades sensitivas. Em sua linguagem - que
nada tinha de pomposo ou esotérico - Ele recorría as imagens do mundo
que o cercava: as flores do campo, as aves do céu, as criancas que
brincavam ñas pracas públicas, os pescadores que puxavam as redes e
faziam a triagem dos peixes, a mulher que varre a casa, a festa nupcial,

314
UMA NOVA IMAGEM DE JESÚS 27

o angariamento de trabajadores para a vinha, o administrador que tra-


paceia, o semeador e a sementeira nos campos, a videira e os ramos...
b) No plano psicológico, Jesús revelou Inteligencia ampia e
perspicaz. Em cada situacáo, sabia de pronto apreender o essencial,
sem perder de vista os particulares. Assim, por exemplo, dizia: "Que adi-
anta ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida? Ou
que dará um homem em troca de sua vida?" (Mt 16, 26).

Á conquista da vida é necessário subordinar tudo: "Se teu olho di-


reito é para ti causa de queda, arranca-o e lanca-o longe de ti, porque te
é preferível perder um só dos teus membros a que o teu corpo todo seja
lancado na geena" (Mt 5, 29).

Principalmente ñas altercacóes com os judeus, sempre dispostos


a insidias, manifesta-se a agudez de espirito de Jesús. Assim diante da
questáo do imposto a ser pago a César, responde: "Dai a César o que é
de César, e a Deus o que é de Deus" (Mt 22, 21).

Por mais astutos que fossem, os adversarios jamáis conseguiram


arrancar de Jesús urna palavra comprometedora.

Nos momentos de tribulacáo ou de gloria é que urna personalidade


tem mais ocasiáo de se manifestar; pode entáo fácilmente perder o sen-
so da realidade ou superestimar-se. Jesús, porém, jamáis se deixou do
minar pelos acontecimentos. Depois da multiplicacáo dos páes, quando
viu que o povo se dispunha a aclamá-lo rei, fugiu a sos para urna monta-
nha (cf. Jo 6, 15). Em vez de desfrutar a popularidade que os seus mila-
gres Ihe angariavam, Jesús impunha silencio as pessoas que ele benefi-
ciava (cf. Me 1, 43s; 3, 11; 7, 36; 8, 26).

A vontade de Jesús era resoluta e inabalavelmente firme em


demanda de suas metas. Assim as primeiras palavras que o Evangelho
refere de Jesús, com doze anos de idade, patenteiam essa decisáo de
vontade frente aqueles que o procuravam: "Nao sabíeis que devo ocu-
par-me com as coisas de meu Pai?" (Le 2, 49).

Continuamente repetía Jesús: "Vim para... Nao vim para..." (cf. Me


10,45; Le 5, 32; 12, 49; 19.10; Jo 3,15; 10,10; 18, 37...). Tinha conscién-
cia de que o Pai o enviara á térra para salvar o mundo mediante sua
Paixáo e Ressurreigáo. Jesús nao o esquecia por um momento. Mais de
urna vez, os discípulos quiseram dissuadi-lo de tal obra; Jesús, porém,
sempre superou os obstáculos com a sua vontade tenaz, chegando a
censurar severamente a Pedro por nao compreender os designios de
Deus; cf. Me 8, 32s; Jo 11, 8-10; 18, 11.

Depois de anunciar o pao da vida, Cristo viu que muitos ouvintes,


julgando demasiado duras as suas palavras, se afastaram do Mestre.

315
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

Voltou-se entáo para os doze discípulos que ainda ficavam e perguntou-


Ihes: "Queréis vos também retirar-vos?" (Jo 6, 68). Jesús colocava clara
mente a opcáo diante de seus Apostólos sem desdizer as palavras que
havia anteriormente pronunciado.

O derradeiro assalto contra a vontade de Jesús proveio da própria


natureza sensível do Mestre. Na noite de sua Paixáo, foi acometido de
tristeza mortal; pressentia a tempestade que se aproximava, e comecou
a ter medo e angustiar-se (único caso em que o Evangelho assinala tais
sentimentos em Jesús; cf. Me 14, 33). Todavía mesmo entáo Cristo sou-
be manter-se na atitude devida: "Pai, nao se faca o que eu quero, mas o
que tu queres!" (Me 14, 36). Jesús nao foi apático e ¡nsensível, mas teve
a firmeza necessária para subordinar seus sentimentos e emocoes á re-
alizacáo de sua missáo.

Nao é fácil a um herói compreender as f raquezas alheias. Mas tam


bém nesse setor Jesús deu provas de equilibrio surpreendente. Como
norma geral, ensinou aos discípulos que nao julgassem o próximo (cf. Mt
7, 1). A Pedro que perguntava quantas vezes deveria perdoar, respon
der: "Setenta vezes sete" (Mt 18, 22), isto é, um sem número de vezes.
Aos Apostólos que queriam fazer descer fogo sobre as cidades incrédu
las, replicou: "Nao sabéis de que espirito sois" (Le 9, 55).
Jesús era particularmente compreensivo para com os pecadores.
É conhecido o episodio da muiher adúltera que os fariseus queriam ape-
drejar. Sem derrogar á lei que mandava realmente punir tal muiher, disse
entáo muito sabiamente: "Aquele de vos que nao tem pecado, lance a
primeira pedra" (Jo 8, 8). Eles entáo foram-se retirando um por um; a sos
diante da muiher disse o Senhor: "Muiher, onde estáo os que te acusa-
vam? Ninguém te condenou? - Ninguém, Senhor. - Nem eu te condena-
rei; vai e nao peques mais" (Jo 8, 11).

Jesús foi igualmente benigno para com a muiher infame que pene-
trou na casa do fariseu Simáo. Em contraste com este, que, por julgar-se
justo, condenava interiormente a muiher e Jesús, declarou o Senhor: "A
quem muito ama, muito se perdoa"; e, voltando-se para a muiher, disse:
"A tua fé te salvou; vai-te em paz" (Le 7, 36-50).
O amor aos pecadores sugeriu a Jesús as parábolas mais belas de
sua pregacáo: a do filho pródigo (Le 15,11-32), a da ovelha desgarrada
(Le 15, 4-7) e a da moeda perdida (Le 15, 8-10).
Eis o Jesús que todo cristáo deve guardar na memoria.

316
Na Igreja:

ABUSOS SEXUAIS

Em síntese: A imprensa noticiou com destaque abusos sexuais de


presbíteros cometidos com Religiosas principalmente na África. A noticia
é dolorosa, mas, até ceño ponto, é algo previsto pelo Senhor na parábola
dojoio e do trigo (Mt 13, 24-30. 37-43): o patrio do campo nao querque
se arranque o joio antes do fim dos tempos; deveráo sempre coexistir o
trigo e o joio, aquele, porém, em maiores proporgóes do que este. O cris-
táo, ao ouvir tais noticias, lembra-se de que ele é um vaso comunicante,
do qual muitas vezes dependem os irmáos no Corpo Místico de Cristo.
* * *

O mundo inteiro foi surpreendido pela noticia de que padres come-


teram abusos sexuais com Religiosas durante sete anos em 23 países
do mundo, especialmente na África. Tais sao esses países:
Botawana, Burundi, Brasil, Colombia, Gana, india, Irlanda, Italia,
Quénia, Lesotho, Malawi, Nigeria, Papua Nova Guiñé, Filipinas, África do
Sul, Sierra Leone, Tanzania, Tonga, Uganda, Estados Unidos, Zámbia,
Zaire, Zimbabwe.

Diante do noticiario, o fiel católico pergunta:

Que dizer?

Proporemos seis reflexóes:

1) O fato foi reconhecido pela Santa Sé, á qual as queixas tém sido
levadas sucessivamente. Mediante a Congregacáo para a Vida Consa
grada tém sido tomadas providencias a fim de conter a onda do mal.

2) Se a noticia é dolorosa, ela nao deve surpreender. Com efeito; já


o Senhor Jesús no Evangelho {Mt 13, 24-30.37-43) contou a parábola do
trigo e do joio: o inimigo semeia o joio no campo de trigo; quando os
servidores do patráo verificam o mal ocorrido, querem arrancar o joio,
mas o Senhor do campo nao o permite; antes, quer que até o fim dos
tempos coexistam o trigo e o joio; somente entáo se fará a separacáo.
Isto quer dizer que a Igreja de Cristo deverá sempre ter filhos santos (ver
o artigo das pp. 305-309 deste exemplar) e filhos pecadores. Nos sécu-
los III e IV varios grupos cristáos (Novacianos, Montañistas, Donatistas...)
quiseram conceber urna Igreja que nao incluisse pecadores; a tese, po
rém, nao prevaleceu, em grande parte por causa da parábola do Evange-

317
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

Iho. Urna Igreja sem pecadores nao seria a Igreja de Cristo; esta contará
sempre Santos e prevaricadores em seu gremio.

3) O patráo nao quer que se arranque o joio antes do fim dos tem-
pos. Por qué? - Os teólogos tém apontado razóes para explicar tal atitu-
de. Urna das mais ponderáveis é a seguinte: a presenca do joio, longe de
abater os Santos, deve provocá-los a mais santidade; sim, a Igreja é urna
comunháo de coisas santas (os méritos de Cristo e as gracas que o Se
nhor distribuí); a cada membro dessa comunháo urge lembrar que ele é
inevitavelmente responsável pela salvagáo de seus semelhantes, visto
que Cristo quer salvar a uns mediante os outros; por conseguinte as fa-
Ihas dos irmaos recordam aos justos a obrigacáo de procurar ser mais
santos a fim de que a graca transborde mais copiosamente sobre os
irmaos carentes. O bom cristáo tem que saber interpretar os sinais dos
tempos que a Providencia Divina vai acompanhando, e tirar daí ás con-
clusóes adequadas: nao se abalar na fé, nao descrer da promessa de
que as portas do inferno nao prevaleceráo contra a Igreja (Mt 16, 18),
mas estimular-se a urna vida mais fiel e coerente ou mais santa, pois o
Senhor quis honrar cada um de seus discípulos com a missáo de sal da
térra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13s).

4) Note-se aínda que os prevaricadores, embora muito espalhados


pelo mundo, sao urna minoría. A grande maioría das pessoas consagra
das vive a castidade com fidelidade e, nao raro, com heroísmo. O bem
nao faz alarde; o mal, porém, se difunde com rapidez e em proporcóes
que parecem encobrir todo o horizonte.

5) O celibato e a virgindade consagrada sao grandes gracas que o


Senhor concede á sua Igreja. Sao Paulo é o primeiro a atestá-lo em 1Cor
7, 25-35: a vida una ou indivisa se justifica pelo fato de que o Reino de
Deus, com seus valores definitivos, já chegou; conseqüentemente o crís-
táo pode receber a graca de se envolver o menos possível em afazeres
temporais para mais se dedicar ao Eterno presente no tempo. Diz o Apos
tólo: "Passa a figura deste mundo" (1Cor 7, 31), em favor do Definitivo.

A obrigacáo de celibato para o clero decorre de um costume


vivenciado desde os primeiros sáculos, espontáneamente, pelos minis
tros do Senhor. Tornou-se lei porque a praxe se difundirá amplamente
(embora contraditada pelas inevitáveis falhas humanas). A Igreja man-
tém até hoje a obrigacáo de celibato para os clérigos, porque julga que o
padre deve dedicar-se inteiramente ao seu sagrado ministerio; nao se
trata de mitigar esta lei em conseqüéncia dos abusos, mas sim de refor-
car a formacáo dos seminaristas que se preparam para o sacerdocio.
Seria falso abolir o celibato clerical ou torná-lo facultativo, pois equivale-
ria a ceder á concepcáo de que o uso da genitalidade é um imperativo ao

318
ABUSOS SEXUAIS 31

qual nao se pode contradizer.

6) Em particular, a África é um continente em que se pratica a poli


gamia e a abstinencia sexual se torna muito difícil. Cerca de 25.300.000
dos 36.100.000 de contaminados pelo HIV vivem na África sub-saariana.
Desde que a epidemia comecou na década de 1970, 17 milhoes de afri
canos faleceram vítimas da AIDS. Dos 5.300.000 novos casos de infec-
cáo pelo HIV ocorridos em 2000, 3.800.000 tiveram lugar na África.

Do bilháo de católicos existentes no mundo, 116.600.000 (cerca de


12%) vivem na África. De acordó com o Anuario Católico de 2001, a Áfri
ca conta 561 Bispos ou Arcebispos, 26.026 presbíteros e 51.304 Religio
sas.

Em suma, a dolorosa noticia leva o fiel católico a orar mais pela


Santa Máe Igreja e seus filhos carentes, assim como a procurar levar
urna vida mais santa e persuasiva da grandeza do Evangelho.

Cole$áo Patrística. - Ed. Pauius, Sao Paulo (SP)

Merece atengáo especial a Coiegáo dita PATRÍSTICA, da Editora


Pauius, pois vem publicando importantes obras dos Padres da Igreja,
como sao os Padres Apostólicos, os Apologistas, S. Justino de Roma, S.
Ireneu de Liáo, S. Agostinho. Os Padres da Igreja sao aqueles escritores
que contribuiram para formular auténticamente as verdades da fé na época
dos grandes debates e das heresias. Tal época val até S. Gregorio Mag
no (t 604) no Ocidente e S. Joáo Damasceno (f 749) no Oriente. Os
seus textos sao vasados em linguagem diferente da moderna, mas des-
frutam de grande importancia, pois fazem a ponte entre os Apóstoios e a
Idade Media. A Teología em todos os tempos se voltou freqüentemente
para eles, pois na verdade gozam de especial autoridade. Ademáis o
estudo dos Padres da Igreja favorece a aproximagáo dos cristaos entre
si, visto que viveram e escreveram em época anterior aos cismas ortodo
xo e protestante. O fiel católico de nossos dias que deseje aprofundar
sua fé, muito lucrará com a Ieitura das obras patrísticas. A Editora Pauius
apresenta cada livro com urna introdugáo que permite reconstituir o ambi
ente em que se originou, a problemática subjacente e o pensamento do
autor de tal livro. Sao particularmente interessantes os escritos de S. Agos
tinho (f 430).

Congratulamo-nos com a Pauius Editora e fazemos votos para que


continué tao benemérito empreendimento. Enderego: PAULUS, Rúa Fran
cisco Cruz 229, 04117-091 Sao Paulo (SP). Telefone: Oxx 11 -572.2362.

319
A Cruz dos Recasados:

CASAMIENTOS QUE PODEM SER


CONSIDERADOS NULOS

Em síntese: O presente artigo considera os impedimentos que tor-


nam nulo o casamento e mostram como devem proceder as pessoas que
julgam ter contraído um casamento nulo. A ¡greja nao anula um casa
mento validamente contraído e carnalmente consumado, mas pode de
clarar nulo o matrimonio que haja sido contraído com impedimento diri
mente (anulante).
* * *

O Pe. Vítor Gropelli publicou um livro intitulado "A Cruz dos


Recasados"1, em que aborda a situacao das pessoas que, infelizes no
seu casamento, vivem sos ou se unem a outrem sem a béncáo de Deus.
A obra é muito oportuna, pois oferece urna palavra de reconforto a tais
pessoas e abre-lhes perspectivas geralmente pouco conhecidas. Com
efeito; um casamento fracassado pode ter sido nulo em sua origem mes-
ma, porque contraído com algum impedimento dirimente (anulante). Quan-
do alguém julga que seu matrimonio se enquadra em algum dos casos
de impedimento dirimente, pode procurar o tribunal eclesiástico e pedir a
investigacáo da validade ou nao de tal matrimonio.
Visto que o assunto é de grande atualidade, váo, a seguir, transcri
tas as páginas dos capítulos V e VI da obra atinente á problemática.

«CAPÍTULO V
QUANDO O MATRIMONIO É NULO?
A Igreja, como também o direito civil, estabelece algumas condi-
coes para que o sacramento do matrimonio seja válido. Assim, há deter
minadas condicoes, chamadas jurídicamente impedimentos dirimentes,
que, quando ocorrem, tornam o ato da celebracáo sem efeito. Isso signi
fica que, teóricamente, alguns casamentos sao nulos ou inválidos apesar
de terem sido celebrados com grande pompa e na frente de ¡numeras
testemunhas. O Código de Direito Canónico (CDC) chama impedimento
dirimente o que impede que o matrimonio seja válido. Os cánones 1083-
1094 sao dedicados a essa materia.
Quais sao, entáo, os impedimentos que tornam nulo o casamento?
Vamos apresentá-los de forma resumida para que todos os conhecam e
possam tirar suas conclusóes.

1 Ed. Ave-María, Sao Paulo 2001, 140 x 210 mm, 104 pp.

320
CASAMENTOS QUE PODEM SER CONSIDERADOS NULOS 33

1)0 impedimento dirimente da idade (cánone 1083)

O homem que nao tenha aínda 16 anos completos e a mulher an


tes que tenha 14 anos completos nao podem contrair matrimonio válido.
Nao sao raros os casos de adolescentes toreados a casar antes da idade
impeditiva porterem tido urna suposta relacáa sexual. Conheci pessoal-
mente gente que declarou falsamente idade superior dos filhos para con
seguir realizar o casamento. Infelizmente, isso acontece muitas vezes.

Portanto, as pessoas que foram vítimas desse crime e se casaram


sem obter urna legítima dispensa do impedimento da idade devem saber
que seu matrimonio nunca existiu como sacramento.

2) A impotencia coeundi (sexual) (cánone 1084)

Essa impotencia consiste na impossibilidade física ou psíquica, quer


relativa quer absoluta, de se ter urna relacáo sexual completa com o pró-
prio cónjuge. Para que o ato se torne nulo, é necessário que a impotencia
coeundi seja antecedente ao matrimonio e perpetua, relativa ou absolu
ta. A esterilidade nao impede que o matrimonio seja válido.

3) A existencia de outro matrimonio religioso (cánone 1085)

Esse cánone afirma que "tenta inválidamente contrair matrimonio


quem está ligado pelo vínculo de matrimonio anterior, mesmo que esse
matrimonio nao tenha sido consumado". Isso porque o matrimonio
validamente celebrado é indissolúvel e dura até a morte de um dos cón-
juges. Já encontrei urna pessoa que admitiu ter casado tres vezes na
Igreja sem se ter dado conta da lei da Igreja. Falou-me isso tendo ao lado
a terceira esposa enquanto me perguntava: "O que devo fazer, agora?"
As duas esposas anteriores estavam vivas e, possivelmente, casadas
com outros.

Como isso aconteceu? Creio que por falta de diligencia na hora de


pedir a certidáo de batismo ou de registrar nela o casamento acontecido.
De fato, no registro dos batizados deve ser anotado o casamento acon
tecido para evitar que alguém minta e case de novo. As vítimas desse
engaño sao vítimas também da pouca solicitude de nossas secretarias
paroquiais.

Certa vez, alguém me alertou que um conhecido seu estava para


casar de novo em outra cidade. Deu-me os dados do primeiro matrimo
nio e fui conferir nos livros da paróquia onde tinha sido celebrado. Levei
um susto quando li que eu tinha sido o presidente da cerimónia a pedido
do vigário. Tentei em váo tomar as providencias do caso. A segunda es
posa conhecia os antecedentes do noivo? Nao saberia dizer. Mais um
matrimonio nulo.

321
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

4) Impedimento de disparidade de culto (cánone 1086)

Como prescreve o cánone 1086, é inválido o matrimonio entre duas


pessoas, urna das quais católica, e outra nao batizada, que tenha sido
celebrado sem a devida dispensa do impedimento.

5) Impedimento da ordem sagrada (cánone 1087 e 1088)

É nulo o matrimonio de sacerdote, diácono celibatário e diácono


permanente (cánone 1087) e de religiosos(as) ligados por voto público
perpetuo de castidade (cánone 1088), que seja realizado sem a devida
autorizacáo (dispensa) da Igreja.

6) Impedimento de rapto (cánone 1089)

Se um dos dois é seqüestrado (raptado) a fim de realizar casamen


to, nao pode existir matrimonio enquanto permanecer a situacáo de rapto.

7) Impedimento de crime (cánone 1090)

É inválido o matrimonio de quem, "com intuito de contrair matrimo


nio com determinada pessoa, matar o cónjuge dessa pessoa ou o pró-
prio cónjuge" (cánone 1090). Isso, infelizmente, nao é fantasía, pois já
aconteceu varias vezes. A dispensa desse impedimento só pode ser con
cedida pela Santa Sé.

8) Impedimento de consangüinidade (cánone 1091)

É absolutamente nulo o matrimonio entre pais e filhos, avós e ne


tos e irmáos e irmás. Sem a devida dispensa da Igreja, é nulo também o
matrimonio entre tios e sobrinhos e entre primeiros primos, quer dizer,
quando um ou os dois pais de um noivo sao irmáos de um ou dois pais do
outro.

9) Impedimento de afinidade (cánone 1092)

A afinidade é a relacáo existente entre os cónjuges validamente


casados e os consanguíneos do outro. Este impedimento torna sempre
inválido o matrimonio entre um dos dois e os ascendentes ou descen
dentes do outro. Quer dizer que os viúvos nao podem casar validamente
com sogro, sogra, enteado, enteada.

10) Impedimento de pública honestidade {cánone 1093)

É parecido com o impedimento de afinidade. Só que o impedimen


to de pública honestidade se dá quando os dois convivem sem ter casa
do (concubinato notorio ou público) ou dentro de um matrimonio inválido.
Nesse caso, nao pode haver matrimonio válido entre o homem ou a mu-
Iher e eventuais filhos ou pais do companheiro.

322
CASAMENTOS QUE PODEM SER CONSIDERADOS NULOS 35

11) Parentesco legal (cánone 1094)

É nulo o casamento entre o adotante e o adotado ou entre um des-


tes e os parentes próximos do outro.

Além dos impedimentos, outras circunstancias colaboram para que


o matrimonio nao seja válido.

12) Falta de consentimento (cánone 1095)

Assim reza o cánone 1095:

«Sao incapazes de contrair matrimonio: 1- os que nao tém suficien


te uso da razáo; 2- os que tém grave falta de discrigao dejuízo a respeito
dos direitos e obrigagóes essenciais do matrimonio, que se devem mutu
amente dar e receben 3- os que sao incapazes de assumir as obrigagóes
essenciais do matrimonio, por causa de natureza psíquica».

As circunstancias previstas por este cánone sao mais freqüentes


do que se imagina. Sao elas que mais aparecem nos tribunais eclesiás
ticos quando se dá entrada ao processo para a declaracáo de nulidade.

13) A ignorancia a respeito da esséncia do matrimonio (c. 1096)

O cánone 1096 define como desconhecimento da esséncia do ma


trimonio o do "consorcio permanente entre homem e mulher, ordenado á
procriacáo da prole por meio de alguma cooperacáo sexual".

14) O erro de pessoa (cánone 1097)

Isso se dá quando alguém pensa que está casado com urna pes
soa, quando na realidade se trata de outra.

15) O dolo perpetrado (cánone 1098)

Isso acontece quando alguém é engañado por dolo perpetrado por


outro, a fim de "obter o consentimento matrimonial, a respeito de alguma
qualidade" pessoal que nao existe, cuja falta "possa perturbar gravemen
te o consorcio da vida conjugal".

16) Alguma condigáo negativa (cánone 1102)

A exclusáo voluntaria e consciente de filhos ou a firme vontade de


nao viver até a morte o matrimonio o torna inválido.

17) Medo e violencia (cánone 1103)

Reza o cánone 1103:

<<É inválido o matrimonio contraído por violencia ou por medo grave


proveniente de causa externa, aínda que nao dirigido para extorquir o

323
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

consentimento, quando, para dele se livrar, alguém se veja obrígado a


contrair o matrimonio».

Assim, como foi possível constatar, os casos ou as circunstancias


que podem tornar nulo o matrimonio sao muitos e complexos. Por isso,
um aprofundamento dirigido poderá ajudar os casáis a sanar os erros e a
recuperara liberdade sacrificada num casamento inválido ou nulo. É opor
tuno divulgar o que a Igreja diz a respeito de casamento nulo para dar
condicáo aos fiéis de discernir o que devem fazer para poder alcancar a
declaracáo de nulidade do primeiro matrimonio.

capítulo vi
Como contactar o Tribunal Eclesiástico
O que deve fazer quem acredita ter serios motivos para duvidar da
validade de seu matrimonio? Quais devem ser os primeiros passos para
iniciar o processo de nulidade?

Há pouca informacáo a respeito do procedimento a ser adotado


para a declaracáo de nulidade de um matrimonio. Quando uma pessoa
acha que seu matrimonio, embora celebrado perante o representante da
Igreja, nao foi válido, o que deve ela fazer? Nem sempre os sacerdotes e
suas secretarias paroquiais sabem informar corretamente, deixando as
pessoas agoniadas e confusas. Portanto, é necessário divulgar o mais pos
sível quer os impedimentos que tornam nulo o matrimonio, quer o acesso ao
tribunal eclesiástico, que é o órgáo responsável para realizar o processo.

O que é um tribunal eclesiástico?

A expressáo tribunal eclesiástico pode até assustar levando as


pessoas a imaginar que se trate de algo complicado, como véem nos
processos e julgamentos que aparecem em muitos filmes e seriados de TV.

Na realidade, o tribunal eclesiástico é um órgao formado por uma


equipe (colegiado) de tres juízes (cánone 1425). Porém, se em primeira
instancia nao for possível formar o colegiado de juízes, a Conferencia
Episcopal pode autorizar o bispo a entregar a causa a um único juiz sa
cerdote (cánone 1425 § 4).

Quem trabalha no processo?

Durante o processo, ¡ntervém sempre o defensor do vínculo (cánone


1432) e o notario (cánone 1437). Cabe ao defensor do vínculo a defesa
do vínculo matrimonial e ao notario assinar as atas. Sem a assinatura do
notario as atas devem ser consideradas nulas.

Como comeca e se desenvolve o processo?

A introducao da causa é feita por meio de um pedido escrito (libelo)


de uma das partes, a qual solicita a declaracáo de nulidade do matrimó-

324
CASAMENTOS QUE PODEM SER CONSIDERADOS NULOS 37

nio (petitum) a partir de urna resumida descricáo dos fatos e das provas
(cánone 1504).

O presidente do colegiado, após urna tentativa de reconciliacáo


entre os cónjuges (cánone 1676), tem o prazo de um mes para aceitar ou
rejeitar, por decreto, o libelo (cánone 1505). Caso o decreto nao seja
dado dentro de um mes, passados dez dias depois do prazo, considera
se o libelo admitido (cánone 1506).

Depois disso, o presidente deve decretar que a citacáo seja


comunicada á parte requerente, ao outro cónjuge e ao defensor do vín
culo (cánone 1677).

Passados quinze dias após a notificacáo, o presidente terá mais


dez dias para publicar o decreto e dar continuidade ao processo. Se a
outra parte nao responder á solicitacáo, o processo pode continuar após
a declaragáo de sua ausencia (cánone 1592).

As provas que dizem respeito á presumível nulidade do matrimo


nio sao colhidas durante o interrogatorio das partes, das testemunhas e
dos peritos. As partes nao tém direito de assistir ao interrogatorio das
testemunhas e dos peritos (cánone 1678).

Os depoimentos devem ser registrados durante as audiencias. Urna


vez terminada a instrutória, o juiz deve publicar as atas (cánone 1598).

Se a sentenca de nulidade for afirmativa, ela deve ser publicada e


transmitida ao tribunal de apelacáo. O tribunal de segunda instancia de-
verá confirmar ou rejeitar com um decreto (cánone 1617) a sentenca re-
cebida.

Quando se conseguir urna dupla decisáo em favor da nulidade do


matrimonio, as partes poderáo celebrar um novo matrimonio religioso,
pois se entende que o primeiro nunca existiu.

Em que consiste o libelo?

O libelo é o pedido escrito que a parte demandante faz para solici


tar a abertura do processo para a declaracáo de nulidade do matrimonio.
Seu conteúdo compreende:

• os dados pessoais da parte demandante e da parte demandada


{endereco, profissáo, religiáo, etc.);

• exposicáo dos fatos que podem justificar o pedido. Trata-se de


um breve histórico, claro e objetivo, de como nasceu o amor, a
decisáo de casar, como foi vivido o relacionamento dentro do ma
trimonio, como se chegou á separacáo;

325
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

• documentos varios: certidáo de casamento religioso e civil, docu


mentos relativos á separacáo;

• rol de cinco testemunhas que tenham conhecimento dos fatos.

Nem toda separacáo leva necessariamente á declaracáo de nuli-


dade. Existem casos em que o matrimonio foi celebrado validamente.
Portanto, seria um desgaste e uma perda de tempo iniciar um processo
sabendo que nao dará em nada. Para evitar este risco, é bom que as
pessoas interessadas procurem a orientacáo de um sacerdote ou de um
advogado.

Qual é a duracáo e quanto custa o processo?

A duracáo do processo é bem mais curta do que geralmente acon


tece nos processos civis. Ela depende da disponibilidade de tempo dos
envolvidos: o casal, suas testemunhas, os juízes. O calendario das audi
encias é estabelecido de acordó com essa disponibilidade. Podemos d¡-
zer que um processo bem-sucedido pode durar cerca de um ano no Tri
bunal de Primeira Instancia. A demora pode depender, as vezes, da falta
de tribunais e do número grande de processos em andamento.

Ás vezes, encontram-se pessoas que chegam a fazer o pedido anos


depois da separacáo e quando já comecaram um novo namoro. Nesse
caso elas tém pressa em conseguir a declaracáo de nulidade. Um tribu
nal eclesiástico nao pode levar em conta a pressa da parte demandante.

O custo do processo é relativamente baixo. O peso do trabalho é


sustentado por gente gabaritada que merece receber uma recompensa
por sua participacáo. Mesmo que juízes, notario e defensor do vínculo
nao visem ao lucro, eles sao profissionais que precisam de receber retri-
buicoes pelo trabalho serio que desenvolvem e que exige plena dedica-
cáo. Como nao formam nenhuma associacáo de voluntariado que traba-
Iha de graca, para eles também vale o que diz o evangelho: "O operario é
digno do seu salario" (Le 10, 7). Além disso, há outras despesas conexas
com o trabalho de um tribunal.

A CNBB estabelece tabelas de custos para determinar qual será a


contribuicáo económica da parte demandante e os honorarios de quem
trabalha nos processos.

De pessoas comprovadamente pobres nao sao cobradas as des


pesas do processo. A Igreja local prevé para elas uma ajuda de custo
especial chamada patrocinio gratuito.

326
Um clamor ardente:

'MAQONARIA PARA LEIGOS E MA<?ONS"


por Wilson Ribeiro

Em síntese: O livro se deve a um magom altamente graduado, que


julga estar enfraquecida a Magonaría; incompatibilizou-se com a Loja a
que pertence e diz estar fundando uma Ordem nova, baseada na filosofía
magónica. O autor revela minuciosamente os rituais magónicos, embora
saiba que isto nao é permitido; deseja assim mostrar ao grande público a
"mística" magónica com seus símbolos e gestos. No tocante á Igreja Ca
tólica, o autor afirma que teve origem depois da Magonaría e copiou al-
guns de seus ritos; varios clérigos se teráo infiltrado ñas Lojas eliminan
do seus símbolos sagrados para dará entender que a Magonaría é atéia.
Apesar de tudo, W. Ribeiro assegura que o Papa Joáo XXIII e alguns
padres pertenceram sinceramente á Magonaría. - Dizendo tais coisas, o
autor se torna altamente questionável, pois foge á evidencia dos fatos;
na verdade a historia é bem diferente.

Wilson Ribeiro é autor de um livro muito original sobre a Magona-


ria, á qual ele pertence como Venerável graduado. Póe as claras os ritu
ais macónicos e o significado de varios graus de ¡niciacio, no intuito de
tentar reerguer a Maconaria, que ele julga estar desunida e enfraquecida.

A seguir, examinaremos os principáis tópicos da obra1.

1. O Autor

O Sr. Wilson de Almeida Ribeiro é Macom grau 33 da Maconaria


Adonhiramita, 33° do REAA pela Grande Loja do Líbano, um dos funda
dores da ARL "Mahatma Gandhi", 2347 do Grande Oriente do Brasil, onde
já exerceu, por cinco vezes, o Veneralato; é Grande Secretario Adjunto e
Grande Chanceler da Loja de Perfeigáo Bandeirantes (SP).

Além de ter outros varios títulos de ordem iniciática, é psicanalista,


cónsul honorario da República da Macedónia, Ministro-Delegado do Par
lamento Mundial no Brasil e autor de diversos livros, como "Encontró
com o Cristo de Jesús" e "Um Mergulho para a Eternidade".

Está amargurado com a Loja a que pertence por motivos que ele
mesmo expóe:

1 Magonaría para Leigos e Magons. - Master Book, Sao Paulo 2000, 140
x210mm, 113 pp.

327
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

"Essa Loja ignorou-me quando fui vitima de um enfarto que me


deixou nove dias na UTI. Quando machucado afastei-me da Loja, ne-
nhum de seus membros (nem sequer seu Venerável, tido como chefe da
Familia) deu um telefonema para saberse ainda estava vivo...

Nosso afastamento da vivencia da Loja já por mais de dois anos


parece nao ter sido notado pelos que se fizeram donos da Oficina...

Neste momento estamos fundando urna Ordem que, baseada na


Filosofía magónica em grande parte, seguramente fará o que os magons
nao tém permitido que a Magonaria faga!" (p. 122).

2. A finalidade do livro

W. Ribeiro assim explana o porqué do seu livro:

"Nosso objetivo, neste livro, é mostrar o que é a Magonaria, como


foi desde seu inicio, como surgiu, para que existe, o que faz, como faz e
como foi no Brasil antigamente, como é hoje e como deveria ser de novo,
para nao perder sua finalidade táo útil á humanidade" (p. 20).

Na verdade, o autor afirma repetidamente que a Maconaria está


enfraquecida e decadente, e isto por razóes de ordem interna ou por
divisoes e rixas. Eis o que escreve á p. 62:

"Por mais incrível que possa parecer, se tem alguma coisa neste
país que sempre acabe em pizza é - na maioria - urna sessáo de Loja
Magónica. E, se assim é, como podería a Magonaria Brasileira combater
as coisas nacionais que sempre acabam em pizza?!...

Embora algumas Lojas - poucas - trabalhem corretamente e dis-


cutam assuntos nacionais e desejem fazer alguma manifestagáo, já nao
vemos qualquer manifestagáo da Magonaria publicada para protestar em
favor do povo, dos direitos humanos, da justiga social, etc., etc. É que,
por exemplo, no Grande Oriente do Brasil, de acordó com sua Constituí-
gao, as Lojas nao podem se manifestar, sem a aprovagáo dos Grao-Mes-
tres estadual e nacional. Eles sao o 'porta-voz' oficial. Mas, quase nunca,
eles desejam falar em nome das Lojas e do povo magom, porque nem
sempre o ponto de vista dos Magons é o mesmo que o dos Gráo-Mestres.
Além disto, a Magonaria há muito tempo nao está no poder. Ela sempre
tem estado com o poder, e nao querem gerar conflitos e embaragos...

Sao coisas assim que levam a nossa Amada e Augusta Ordem ao


enfraquecimento e á decadencia...

Muitos Magons esperam a reagáo e esse soerguimento de nos


sa Ordem. Eu também espero e ainda désejo assistir o levantamen-
to da Magonaria no Brasil. A prova disto é ter escrito este livro".

328
"MAQONARIA PARA LEIGOS E MAQONS"

3. Origem da Maconaria

O autor confessa nao poder indicar com precisáo como surgiu a


Maconaria, pois a respeito existem versoes e lendas diversas. Como quer
que seja, defende a seguinte tese:

"Na verdade, ela vem de muito antes das Escrituras do Velho Tes
tamento, embora existan) ritos que utilizem texto e palavras daquele livro,
como adaptagáo á filosofía hebraica-cristá. Observem que, quando a
Maconaria reportase ao reí Salomáo como Magom e fala de seu Tem
plo, a Magonaria já existia e Salomáo era personagem magónica de
um novo ciclo da Ordem, ciclo este que aínda estamos revivendo.

Há alguns historiadores (que usando intuigáo e dedugao) escre-


vem historias como a que a Magonaria teria surgido durante a construgáo
das pirámides do Egito, o que dé certo sentido, pois ela teria surgido para
combater a opressáo e libertar o povo da escravidáo.

Também existe quem diga que a Magonaria veio de algum outro


planeta trazida pelos "deuses astronautas", pois sua filosofía é muito sa
bia e evolufda.

E nos ficamos com a teoría de que a Magonaria é urna inspiragáo


transmitida por intuigáo ao homem, vinda da Fonte inesgotável de Sabe-
doria. Pois, sabe-se que em épocas muito remotas existiam espalhados
por varias partes do mundo pequeños grupos estudiosos das ciencias
esotéricas e psíquicas, cujos rituais e objetivos eram comuns entre si,
ainda que nao houvesse qualquer sistema de comunicagáo que possibi-
litasse a utilizagáo de troca de informagáo ou de copia.

Isto parece que se tratava de urna comunicagáo coletiva por meio


de urna Inteligencia Cósmica ou telepatía....

Fico, portanto, com esta teoría, porque tem muito mais significado
espiritualista e cósmico que as outras. Mas acredito que a Magonaria
possa ter chegado até os construtores das pirámides, e nao descarto a
possibilidade de que seres de outros planetas que tenham visitado o nos-
so planeta trouxessem conhecimentos complementares a nossa Mago
naria, pois creio na existencia de habitantes em outros planetas, como
creio que o espirito sobrevalece á materia, como proclama a Magonaria
em todo o mundo, além de aceitar completamente a universalidade da
Magonaria" (pp. 20-22).

Na verdade, deve-se dizer que a atual Magonaria teve inicio no


século XVIII, quando o pastor anglicano James Anderson redigiu seu
Estatuto. É herdeira das Corporacóes de pedreiros (macons, em fran
cés) medievais; estas gozavam de grandes favores e privilegios por cons-
truírem belas catedrais góticas e outros monumentos célebres. Todavía
no século XVI perderam sua voga, dado que passou a ser aplicado o

329
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

estilo renascentista barroco e rococó na construcáo dos monumentos


mais importantes. Decadentes como eram, resolveram adotar entre os
seus membros pensadores e intelectuais, que assim deram inicio á Ma-
conaria filosófica e política, guardando, porém, as insignias dos pedrei-
ros (avental, pá, esquadro....).

As Lojas assim fundamentadas nada tém que ver com Salomao ou


Hiram rei de Tiro, embora muitas apelem para táo remota origem (sáculo
X a.C). Ver a respeito PR 413/1996, pp. 480ss. De passagem note-se
que W. Ribeiro chega a dizer que Jesús foi um grande iniciado (p. 68).

4. Igreja Católica e Magonaria

O autor assim apresenta as relacóes da Maconaria com a Igreja


Católica:

"Autores antigos e velhos Magons contam que a Igreja Católica,


praticamente inimiga da Magonaria até antes do Papa Joáo XXIII (princi
pal causa: a Magonaria combateu o exclusivismo cristáo e a 'Santa Inqui-
sigáo'), infiltrou-se na Magonaria por meio de seus representantes, já que
a Magonaria tem suas portas abertas a todas as religióes e o clero - para
provaro que pregavam sobre a nossa Ordem - depois que estava dentro
da Magonaria em grande número, abriu diversas Lojas e criou um 'rito
especial' para eles, no qual eliminavam expressóes como Deus, Grande
Arquiteto do Universo, retiraram a Biblia do altar dos juramentos e simpli-
ficaram a ritualistica e reduziram a quantidade de Graus. Com isto, eles,
os padres magons, especialmente 'jesuítas', desejavam demonstrar o ate
ísmo da Magonaria. Essa era terminou, mas o 'rito' continua até hoje e o
'Grande Oriente do Brasil' reconhece e prestigia o dito rito, como a outros
também simplificados" (p. 51).

Esta versáo é totalmente infundada. Desde o inicio da sua existen


cia, a atual Magonaria foi condenada pelos Papas por ser sociedade secre
ta e por professar um certo relativismo religioso. Ver PR 413/1996, pp. 480ss.

Quanto ao Papa Joáo XXIII, o autor vai mais longe e escreve:


"Para terminar o assunto Igreja Romana versus Magonaria: embo
ra a 'guerra' continué por alguns padres que nao perceberam que a guer
ra acabou, perderam-na, mas continuam perdidos no ex-campo de
batalha, o Papa Joáo XXIII (nosso irmao desde quando era o cardeal
Roncalli, em Palermo - Italia) redimiu a Igreja por meio de urna ora-
gao, na qual pede perdáo a Deus por tudo o que a Igreja fez contra
os Magons e os Judeus. Essa oragáo foi publicada em órgáo do Vatica
no, pouco antes de sua morte (ler 'A Magonaria na Evolugao da Humani-
dade', de Felippe Cocuzza - 2« ed., Ed. icone), onde declara que a Igre
ja nao havia percebido que 'um esquadro e um compasso tinham o mes-
mo significado que um crucifixo'. E, hoje, durante a celebragáo da mis-

330
"MAgONARIA PARA LEIGOS E MAQONS" 43

sa em portugués, nem os magons nem os judeus sao excomunga-


dos, por determinagáo de Joáo XXIII. Mesmo porque excomungar
judeu e magom é o mesmo que excomungar Jesús (procurem ler os
Sete Livros Perdidos da Biblia! - neles é contada a verdadeira histo
ria de Jesús, dos 12 aos 30 anos!)" (p. 54).

Na verdade, o Papa Joáo XXIII nunca fo¡ magom. A oragáo "aos


magons" que se Ihe atribuí, é evidentemente espuria, como se depreende
do artigo de PR 257/1981, pp. 312s.

Quanto á pertenca de sacerdotes á Magonaria no Brasil do século


XIX, explica-se do seguinte modo: vigorava entáo a ¡nstituigáo do
padroado, segundo a qual o Estado se achava unido á Igreja, de modo
que as leis da Igreja eram promulgadas pelo cbefe do Governo e tinham
a forca de leis civis. Ora o Imperador no Brasil era magom, de maneira
que nao promulgava a condenacao da Magonaria por parte da Igreja; em
conseqüéncia o clero e os fiéis em geral podiam pensar que a Magonaria
era legítima para os católicos; tal era a deficiencia de comunicagoes com
a Santa Sé, que, além do mais, passavam pela mediagáo do Estado bra-
sileiro magom.

Em seu entusiasmo um tanto simplório o autor chega a dizer o


seguinte á p. 26:

"Falando de santificagáo (Kadoshe, que significa o mesmo que


Messias, estado crístico, etc.), a Magonaria é táo antiga e significativa
que a Igreja Católica Romana deve ter copiado ou se baseado no ritual
do Grau 19 do Rito Escocés Antigo e Aceito da Magonaria para a prática
da solenidade de Sagragáo dos Papas. O Papa é denominado Sumo
Pontífice e o Magom que chega ao Grau 19 é qualificado Grande Pontífi
ce. Ambos, pelo uso do ritual, utilizando símbolos, referencias e imagina-
gao (fé, crenga, etc.), conseguem penetrar na 'Jerusalém Celeste' para
receberem urna iluminagáo cósmica.

Assim, o Magom perfeito teña a mesma qualificagáo e fungáo


missionária do Papa. O Papa como veículo e missionário de Jesús.
O Magom como veículo e missionário de Deus na Térra".

5. Os Segredos

A respeito o autor é contraditório.

Com efeito; á p. 37 escreve:

"É no final da solenidade de iniciagáo que o novo Aprendiz Magom


recebe o que chamam de 'segredos'. O Venerável-Mestre, auxiliado peto
Mestre de Cerimónias da Loja, dá as primeiras instrugóes ao Aprendiz,
que constam de sinais, comportamento do Magom em Loja e a pala-

331
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

vra sagrada do Grau, para identificagáo e garantía de ter acesso as


demais Lojas Masónicas do mundo. Esses sinais e palavras sao,
exclusivamente, utilizados dentro da Loja. Nao devem ser revelados
a ninguém, porque é por meio deles que se identifica um Magom.
Fora os sinais, paiavras e posturas, nao há mais nada de secreto na
Magonaria. Ela nao é urna 'sociedade secreta'. É urna sociedade dis
creta e praticante do 'ocultismo' (esoterismo - o que acontece den
tro do homem). Se divulgássemos os nossos sinais de identificagáo nao
seria mais possivel distinguir um Magom de um náo-Magom.

Em Graus mais elevados aprendemos outros sinais, inclusive o de


pedir socorro aos irmáos, quando estamos vivendo algum apuro. Isto tem
que ser preservado.

No entanto, 'magons' mal formados e 'goteiras' (assim qualificamos as


pessoas estranhas a Ordem) e exibicionistas fazem sinais em plena rúa, nao
para saudar um irmáo no tránsito, mas para dizer que também é 'magom'. E
isto seria digno de punigáo, de acordó com o 'Código Penal Magónico'".

Todavía á p. 121 W. Ribeiro observa que nem tudo é táo patente


assim:

"Sei que todos os Magons, no término de suas sessóes, prometem


sotenemente guardar sigilo sobre tudo o que se passou dentro de urna
Loja mas os órgáos que dirigem e guardam a Magonaria nada tém feito
sobre as publicagóes de magons que chegam a transcrever os rituais
para venderam seus livros. Há editoras profanas' publicando tudo sobre
a Ordem e sua Filosofía, existem 'Lojas Magónicas' mistas e femininas, e
nada é feito, além da proibigáo de serem visitadas pelos Magons. Há
entidades filosóficas utilizando rituais e ritos das potencias existentes,
com mulheres de Malhete em punho...

Assim, espero que nao venham dizer que estou quebrando sigilo!".

6. Conclusáo

A leitura do livro de Wilson Ribeiro é elucidativa no tocante aos


ritos e graus da Maconaria. O autor explica os diversos símbolos utiliza
dos: bode, chapéu preto, vestes pretas, templo... expóe o valor de varios
graus de iniciacáo macónica; trata da maneira como as Lojas conside-
ram as esposas (ditas "cunhadas"), os filhos (ditos "Lowtons"), as filhas
(ditas "sobrinhas") dos magons...

Contudo o pensamento do autor nao deixa de ser eclético: adota


traeos da Cabala, do esoterismo (vibracóes cósmicas ligam o individuo
ao universo; cf. p. 40), da Rosa-Cruz (p. 41), do Cristianismo, da Ufologia...

Em suma, o livro é um bom informativo, feito o descontó das teses


pessoais do autor.

332
Milagre?

INTATO O CORPO DE JOÁO XXIII

Vía internet a Redacáo de PR recebeu a seguinte noticia do Vati


cano:

O Cardeal Virgilio Noé, arcipreste da basílica de Sao Pedro em


Roma, supervisionou a abertura do caixáo do Papa Joáo XXIII, falecido
em 1963 (há 38 anos), a fim de remover os despojos para um lugar da
basílica mais acessível ao grande número de fiéis que o querem visitar.

Declarou entáo S. Eminencia que parte alguma (e nao somente a


face) desse corpo foi decomposta. "Estava como se tivesse morrido on-
tem. Tinha o olhar tranquilo, a boca suavemente aberta e serena. A paz
que ele sempre conservara antes de falecer, ele a levou consigo para a
casa do Pai e a ostenta em seus despojos moríais. É-nos dado ver mais
urna vez os traeos da face que tanto estimávamos e que a morte nao
conseguiu apagar".

Milagre ou nao?

O Cardeal Angelo Sodano, Secretario de Estado do Vaticano de


clarou numa entrevista de televisáo que se poderia tratar de um milagre,
mas deixava o julgamento aos peritos.

As autoridades da Igreja nao sao propensas a ver no caso um fato


milagroso, já que a conservacáo incólume de cadáveres tem ocorrido em
varios casos que nao se relacionam com a religiáo; o milagre é sempre
um sinal de Deus dado em resposta a urna prece ou a urna situacáo de
hesitacáo e dúvidas. A conservacáo do corpo de Joáo XXIII se explica
pela maneira como foi tratado: o cadáver foi colocado num caixáo de
madeira dentro de urna urna de bronze, ambos herméticamente selados
numa antiga gruta da cripta da basílica de Sao Pedro. A conservacáo do
cadáver nao é necessariamente um sinal de santidade. As virtudes do
Papa Roncalli se evidenciaram já antes de sua morte pelo apelativo de
"Papa buono (Papa bom)" que Ihe foi dado quando peregrinava na térra.
Foram confirmadas pelo müagre (cientificamente reconhecido) obtido por
sua intercessáo após a morte; com efeito, urna Religiosa italiana que
sofria de grave tumor no estómago, pediu a S. Santidade que, na gloria
do céu, rezasse em prol de sua cura; ora esta sobreveio em circunstanci
as que a medicina julga inexplicáveis pela ciencia.
Joáo XXIII foi beatificado em 2000, última etapa anterior á
canonizacáo.

333
Questóes básicas:

'DEUS E O SENTIDO DA VIDA"


por Rafael Llano Cifuentes

Em síntese: O livro aborda as questóes fundamentáis que todo


homem coloca em seu íntimo: Donde venho? Para onde vou? Por que e
para que vivo? E responde, no decorrer de quatorze capítulos, mostran
do que a vida só tem sentido se é encaminhada para o Absoluto ou para
Deus. Muitos casos concretos e muitas imagens ilustram esta afirmagáo,
tornando a teitura da obra muito agradável e proficua.
* * *

D. Rafael Llano Cifuentes é Bispo Auxiliar da arquidiocese do Rio


de Janeiro. Oferece ao público um livro sobre questóes fundamentáis ou
sobre o por qué e o para qué da vida. Em quatorze capítulos profere sua
resposta, evidenciando que a vida só tem significado se encaminhada
para o Absoluto, que é Deus. O autor va¡ ilustrando sua tese mediante
reflexóes, casos históricos, testemunhos da literatura de varias línguas...,
de modo a tornar a leitura suave e clara: "Os mesmos pensamentos apa-
recem em ascensáo gradual, vistos de prismas diversos para obter da
realidade observada todo o seu significado" (p. 13).

A seguir, será apresentado um espécimen muito significativo da


obra, retirado do seu capítulo I (pp. 17-24).

A PERGUNTA DE UM DOENTE RUSSO

O escritor russo Alexandre Solzhenitsyn, Premio Nobel de Literatu


ra, deixou-nos um livro intitulado "Pavilháo de Cancerosos". Supóe urna
enfermaría de hospital (sob regime comunista ateu), em que varios paci
entes se encontram e se póem a conversar. Um deles, Efrém Poduiev,
levanta a pergunta: "Vamos ver quem de voces me responde: que é que
faz os homens viver?". Alguém respondeu: "O ar, a agua e o alimento.
Isto é suficiente ao homem para viver". Outro respondeu: "Basta o salario".
Efrém nao se contenta com tais respostas, pois as acha muito pri
marias. Afinal no hospital havia ar, agua e alimento; o enfermeiro, que
participava do grupo, recebia seu salario e, apesar de tudo, aqueles ho
mens nao estavam satisfeitos; perguntavam a respeito de algo mais.

Foi entáo que um geólogo de 27 anos, Vadin, exclamou: "Pensó


que já tenho a solucáo. O homem vive para criar!". O jovem o dizia, em-
bora estivesse cíente de que sofría de um cáncer no estómago e o de
senlace parecía próximo. Que haveria ele de criar? E, se criasse algo,
para que o criaría? Sua producáo estava limitada pela morte, que, cedo ou

334
"DEUS E O SENTIDO DA VIDA" 47

tarde, Ihe sobreviria. Em seu íntimo ele nao quería morrer. Mas via-se
frustrado e oprimido pela perspectiva da morte. Isto Ihe confirmava a senten-
5a de Oreshenkov, filósofo russo cujas obras ele estava lendo: "Diante da
morte o homem se vé inerme ou totalmente desarmado para a enfrentar".

As reflexóes do jovem foram interrumpidas pelas palavras de outro


enfermo, a saber: Rusanov, destacado funcionario do Partido Comunis
ta, que disse:

"Nao haja a menor dúvida, senhores, a despeito de tudo que já se


disse. Estou absolutamente convencido de que os homens vivem de ide
ologías e de causas comuns".

Replicou, porém, Kostoglotov, precipitadamente:

"Sim, Rusanov, vocé disse isto como se o tivesse aprendido num


panfleto, mas na hora em que a morte se aproxima, diga-me: para que
servem as ideologías e as causas comuns?"

Rusanov responde que nao convém falar da morte. Ao que


Kostoglotov retruca:

"Se nao se tala da morte aqui, onde é que se falará déla? Ah! Já
sei: quiséramos viver como se fóssemos viver eternamente...

Vocé mesmo é que vai morrer. Que é que vocé mais teme neste
mundo agora? Morrer, nao é verdade? Ede que é que tem mais medo de
falar e pensar? Da morte, nao é verdade? Pois bem, sabe como se cha
ma isso? Chamase hipocrisia!"

Nesse momento o homem do Partido Comunista experimentou


estranha sensacáo: parecía estremecer em seus fundamentos.

Entáo Dionka, um jovem estudante, comegou a angustiar-se ao


observar que aqueles homens já maduros nao eram capazes de solucio
nar urna incógnita que Ihe parecía primordial. Cheio de ¡níbícao, arriscou-
se a consultar urna jovem atraente que acabava de chegar ao hospital
para submeter-se a um exame:

"Asia, para que vivem os homens?"

A jovem comecou entáo a falar dos seus namoros e respondeu:

"Para qué? Para amar, é lógico! O amor nos pertence para sempre.
Para amar é que nascemos... e isso é tudo".

Mais tarde, após o exame de saúde, disse dramáticamente a jo


vem Asia entre solucos: "Váo-me extrair o seio! E agora quem me ama
rá? De que me serve viver?"

O Pavilháo dos Cancerosos era como urna síntese do mundo. Como


se o juízo emitido por aqueles hospitalizados representasse o eco de

335
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 470/2001

milhares de vozes, de milhóes de pessoas que procuram descobrir a


finalidade da vida: ora na satisfacáo de seus desejos físicos, ora na
efervescencia do amor humano, ora na montagem de uma empresa, ora
na realizacio de sistemas sociais e políticos, ora no triunfo de sua perso-
nalidade ou de seus projetos, ora no desenvolvimento de sua capacida-
de criadora... para terminar reconhecendo que nenhuma dessas preten-
sóes satisfaz plenamente á intimidade da alma humana. Parecía que em
todas elas se assomava o velho mal: o descontentamente

O desejo de viver, e viver sem fim, que ecoa como música no fundo
de todo ser humano, expressa-o de forma comovedora um daqueles do-
entes, Shulubin, cuja declaracáo se apresenta como que a chave do pro
blema. Com efeito; ao aproximar-se da hora da cirurgia, disse confidenci
almente a Kostoglotov:

"Tenho medo... Por muito tempo que alguém tenha vivido, de qual-
quer forma deseja viver aínda mais".

Depois da operacao, Kostoglotov se aproxima de Shulubin - já á


beira da morte - e, apertando-lhe ternamente a máo, Ihe pergunta:

"Necessitas de algo?"

Shulubin murmura:

"Eu nao morrerei totalmente. Sei que nao morrerei por completo.
- Sim, tu viveras... coragem!

- Sim, viverei. Há uma parte de mim que vivera sempre..."

Kostoglotov nunca se esquecerá das palavras que, a seguir, ouviu:


"Ás vezes sinto claramente que o que há em mim nao é ainda tudo
o que sou. Algo há muito mais indestrutível que ninguém me poderá ar
rancar, algo muito elevado. Algo assim como um pouco da eternidade de
Deus. Nao sentes tu isso mesmo?".

Esse pobre canceroso, nascido ñas estepes russas, nos está fa-
lando, á sua maneira de uma verdade que está escondida no coracáo de
todos: a verdade de que o homem senté necessidade de Deus e da eter
nidade tanto como do próprio ar que respira; a verdade de que a idéia de
Deus nao é - como alguns supóem - um assunto que somente interessa
aos ambientes religiosos fechados ou aos círculos clericais. No meio do
gelo dos polos, no fundo da selva amazónica, no barulho de uma grande
cidade, em qualquer latitude, se fala essa linguagem e se senté essa
conviecáo: sem Deus nao há sentido.

Ausente da vida humana a vivencia de Deus, só se chega a uma


conclusáo pessimista: todos somos, em última análise, habitantes do
Grande Hospital do Mundo. Nascer é entáo receber a ficha clínica, com

336
Á VENDA NA LUMEN CHRISTI:

UM MONGE QUE SE IMPÓS A SEU TEMPO - pequeña Introducáo com antología á


vida e obra de SAO BERNARDO DE CLARAVAL - Pe. Luis Alberto Rúas Santos
O. Cist. Musa e Edicóes Lumen Christi. 2001. 200 pp R$ 26,00.

ORACÁO E TRABALHO - Organiza9áo: Mosteiro Nossa Senhora da Paz. e llustra-


cóes: Claudio Pastro. "Este livro pretende evocar Deus nos ambientes de trabalho.
Suas orajes nos proporcionaráo momentos de louvor, alegría e grapa. De coracáo
aberto, poderemos, entáo, refletir sobre nosso relacíonamento com os companheí-
ros de jornada".
Saga Editora e Mosteiro Nossa Senhora da Paz. 2001.160 pp R$ 19,00.

Q EFÉMERO E O ETERNO - poemas de sóror mínima.


Trecho da apresentacáo de Irmáo Eugenia Teixeíra O.S.B.: "Com muita alegría, que
remos partilhar com os irmáos e as irmás um dos nossos preciosos tesouros de
familia: as poesías de Ir. Inés, esta coluna de nossa comunidade..."
Mosteiro da Virgem - Petrópolis - RJ. 2001.170 pp R$ 19,00.

TRATADO SOBRE A ORACÁO: TERTULIANO, S. CIPRIANO, ORÍGENES.


Tres grandes mestres da espiritualidade crista dos primeíros séculos comentam
magistralmente o Pai-nosso.
Ed. Mosteiro da Santa Cruz de Juiz de Fora - MG. 2001. 2a ed. 216 pp. ..R$ 19,00.

VIVENDO COM A CONTRADICÁO, reflexóes sobre a Regra de S. Bento. Esther de


Waal. 1998. 165 páginas. Edícáo do Mosteiro da Santa Cruz de Juíz de Fora, MG.
(Sumario: Explicacáo. Prólogo da Regra de S. Bento. Um caminho de cura. O poder
do Paradoxo. Vivendo com as contradicóes. Vivendo comigo mesma. Vivendo com
os outros. Vivendo com o mundo. Juntos e separados. Dom e Grapa. Deserto e feira.
Morte e vida. Rezando os conflitos. Sím. Notas e comentarios) R$ 16,00.

POEMAS E ENSAIOS - RAÍSSA MARITAIN. TRADUCÁO E COMENTARIOS DE


CESAR XAVIER BASTOS.
Edícáo CXB - Juiz de Fora - MG. 2000.200 páginas R$ 20,00.

Pedidos pelo Reembolso Postal

RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA DE PR.


RENOVAQÁOOU NOVA ASSINATURA (ANO DE 2001):
NÚMERO AVULSO

PERGUNTE E RESPONDEREMOS ANO: 1998,1999 e 2000:


Encadernado em percalina, 590 págs., com índice incluido.
(Número limitado de exemplares) R$ 50,00 cada exemplar.
um prazo contado de vida, de dez ou de cem anos; o número de dias nao modifica
a índole fatal da enfermidade da qual padecemos - a mortalidade - comum a todos
nos. E, quando ao nosso lado um companheiro de pavilháo, um irmáo, um paciente
qualquer dessa enfermidade nos perguntar como Efrém: "Para que viver?", só Ihe
poderemos responder: "Para a morte". Nao. Só um animal poderia responder assim
e viver tranquilo. Um homem, nao. Por ventura nao sentimos todos que somos ca-
pazes de dizer, parafraseando Shulubin: "Creio que vivo para algo muito importan
te, creio que algo existe de indestrutível dentro de mim que ninguém, nem a morte,
poderá arrancar, algo que me empurra para cima, para adiante e que me conduz
para Deus"? Sim, provavelmente assim Ihe podemos responder, E, talvez, olhando
cordialmente teu companheiro de lutas, o assaltarias também com a mesma per-
gunta do moribundo russo: "Por acaso nao sentes tudo isso tanto quanto eu? Por
ventura nao sentiste, ainda que fosse urna única vez, o chamado do Eterno?".

Tais ponderacoes exprimem bem o propósito de D. Rafael através de sua


obra. Merecem destaque ainda os capítulos III {Os Motivos para nao acreditar), IV (As
Evasóes), VI (Conseqüéncias da Evasáo), VIII (Jesús Cristo), XI (A Fé e o nojso Encon
tró com Deus)... Em suma, o livro muito se recomenda nao somente aos que sincera
mente buscam urna resposta para os seus anseios mais profundos, mas também aos
que já a encontraram e desejam tomar consciéncia do valor desta descoberta.

Estéváo Bettencourt O.S.B.

NOVIDADE!

SAO BENTO DE NÚRSIA - UMA SABEDOR1A DE VIDA PARA HOJE


Sumario:
• Nada mais importante que Cristo, André Borias (Saint-Wandrille, Franca).
• Sao Bento e sua Regra, Un Donnat (Saint-Benoit-sur-Loire, Franca).
• Visáo geral da historia beneditina, Daniel Misonne (Maredsous, Bélgica).
• Pequeño sumario da historia benedilina no Novo Mundo, Mauro Mattei (Viña del Mar, Chile).
• Sao Bento, padroeiro da Europa: porqué?, Philippe de Lignerolles (En Calcat, Franc.a).
• No cora?áo da comunidade beneditina: o Oficio Divino, Denis Hubert (En Calcat, Franca).
• AoracáopurasegundoaRegradeSáo Bento, TerrenceG. Kardogn (AbadiadaAssuncáo, Estados Unidos).
• A leitura orante da Escritura, Daniel Rees (Downside, Reino Unido).
• O equilibrio beneditino, Michael Casey (Tarrawara, Australia).
• A dimensáo comunitaria da vida beneditina, Basilio Penido (Abade Pres. da Congr. Brasileira).
• Qual espiritualidade?, M. Bernard de Soos (Secretario geral da A.I.M.).
• A educacáo para a liberdade na Regra, Charles Hélie (Fundadora de Toffo, Bénin).
• O monge beneditino na Europa hoje, Jean-Pierre Longeat (Sao Martinho de Ligugé, Franca).
• O monge beneditino na América do Sul, Joel Rjppinger (Abadía de Marmion, Estados Unidos).
• A vida monástica, um desabrochar da vida batismal, Mawulawoe Yawo (Dzogbegan. Togo).
• A idéia da ordem e da posicáo na comunidade cenobítica e sua relacáo com os valores filipinos de ordem e
posicáo na familia, Eduardo P. África (Malaybalay, Phílípinas).
• Que pensam os jovens argentinos sobre a Regra de Sao Bento, Um grupo de monjas da Abadía Santa
Escolástica (Buenos Aires, Argentina).
Éditionsdu Signe (Franca). Em PORTUGUÉS. 1994.
Comfotoseilustra$óes.21x30cm,57págs R$ 25,00.

You might also like