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Ano 2005/2006
Aula 1 22-09-2005
Sumário da Disciplina
a) adjudicação
b) nomeação
c) concessão
a) controle
b) celebração do contrato – aceitação
1. Cláusula de Sujeição
2. Cláusula de Remuneração
1. Cláusula de Sujeição:
Art. 180 a), c), e) CPA – fala-se aqui dos poderes da administração que pode
modificar unilateralmente as prestações num contrato. O ente público pode,
inclusivamente, rescindir unilateralmente o contrato. O ente público goza
ainda de poder sancionatório.
Estes poderes cabem ao ente público e não encontram paralelo no direito
privado. Estes três poderes constituem uma excepção ao principio do “pacta
sum servanda” consagrado no art.406 C.Civil. O ente público exercita estes
poderes independentemente da vontade do particular contratante.
2. Cláusula de Remuneração:
1. Uma das partes devem ser, em princípio, uma pessoa colectiva de direito
público.
Aula 3
06/09/2005
Dissemos na ultima aula que uma coisa são os valores essenciais e outra são
os requisitos fundamentais. Vimos então que para que um determinado
contrato ser considerado como contrato administrativo é essencial que:
Dissemos ainda que, sob pena de nulidade, o objecto do contrato tem de ter
uma conexão directa e imediata com as atribuições do ente público. Vimos que
o contrato obedece ao regime de direito público que tinhamos visto antes (art
180º). As questões colocadas pela interpretação, pela qualidade, ou pela ... dos
contratos são da competência dos tribunais administrativos.
2. O objecto
3. A escolha do co-contratante
1. Termo
2. Condição resolutiva
3. Anulação
4. Denúncia
5. Resgate
6. Rescisão
Denúncia
Resgate
NOTA
Um abraço…
Os Estados, muito embora comunitários, admitam e aceitem que deve ser toda
a comunidade, enquanto tal, a concorrer, admite (e não é de hoje) a cada um
deles criar normas de protecção dos seus. EXCEPTO NÓS!!!
EX: A Ponte Vasco da Gama em Lisboa, só 0,2% do capital é de sociedades
portuguesas, o resto foi ganho em concursos públicos internacionais por
consórcios cuja sede (os pontos de atracção) não era, obviamente, em
Portugal.
Ora, entre nós, há por isso a tentativa de fazer o seguinte: perante uma
determinada obra, 1 determinada aquisição, eu me candidatar ao concurso
público, tento dividir essa aquisição. Para possibilitar o convívio, para
possibilitar o não concurso público. E a lei diz, claramente o seguinte:
Art.º16ºnº2: É proibido o facturamento da despesa com a intenção de a subtrair
ao regime previsto no presente diploma.
Subtrair ao regime previsto é, subtrair à regra geral que é o concurso público.
Agora vamos ver aquilo que o direito nos concede.
Vamos supor que somos 1 ente público ou 1 Câmara Municipal que carece de
ser apetrechada de novos meios informáticos. Temos propostas. A Câmara
precisa de 300 mil euros de novos meios informáticos. E portanto de acordo
com o nº1 do art.º16º devo pôr a concurso a totalidade. Só que a Câmara não
tem o dinheiro todo. Este ano só pode comprar 20 mil euros. No princípio do
próximo ano vamos lá ver se consegue 50 mil. A solução é fraccionar. O que
não posso querer comprar para além daquilo para que tenho disponibilidade
financeira nem devo ficar amarrado a nada perder porque ainda não tenho
disponibilidade de capital.
Consideração off the record: por exemplo art.º19º, que fala da despesa com
seguros.
As viaturas do Estado antes não tinham qualquer seguro, agora têm seguro de
responsabilidade civil. E pode acontecer que na mesma entidade pública
existam pessoas que tenham, inerente da função e do estatuto, o seguro
mínimo ou o não seguro (nada), a par de outras pessoas que podem e têm, o
seguro que entendem por bem contratar. Dizendo de outra forma, e o exemplo
é o melhor:
O Prof. Esteve na Entidade Reguladora da Saúde; nas viagens para Lisboa iam
2 administradores, 1 sem seguro do Estado (nem sequer lhe concedia a
hipótese de ter seguro), o outro que lá vai fazendo de quando em vez um
segurito (Prof.).
Supondo que há 1 acidente e morrem os 2. Vêem que 2 pessoas a exercer a
mesma actividade e por causa da mesma actividade “recebem” tratamento
diferenciado. 1 recebe zero, o outro recebe uma componente acrescida.
PORQUÊ? Porque o primeiro nem sequer teve a hipótese de se poder socorrer,
que no exercício da sua função, da faculdade que a lei geral deveria permitir.
Dizemos, então que, neste domínio o regime público é limitativo e alguns dos
estatutos disponíveis pelo Dto. Privado para o exercício de funções públicas. E
quando acontece encontrarmos pessoas colectivas que eram pessoas colectivas
de Dto. Público e passaram a pessoas colectivas de Dto. Privado as …………
vão ter que conviver com 2 tipos de estatutos: os que já eram funcionários
públicos mantém-se e as novas contratações de Dto. Privado, ou seja, começa
a esvair-se de 1 lado a quantidade de gente que tem de ser tutelada.
E, então, nós lidamos com 2 situações completamente opostas designadamente
a esse nível.
O Prof. não está de acordo que, em prestações dessa natureza, a própria lei
limite a obrigação do Estado em relação aos seus prestadores, porque (e mais
uma vez do ponto de vista do Prof.) viola o Princípio da Igualdade Material.
A concorrer a 1 qualquer concurso público não tem que ir apenas o Sr. António
com a sua empresa. NÃO! Admite-se o agrupamento. Um conjunto de pessoas
que, entre si se associam. Essas sim, de acordo com o Código Comercial
(como se compõe o consórcio, como se compõem as participações de cada
sócio, como se define a relação jurídica – C. Com.).
Na relação desse agrupamento, desse consórcio com o ente público, o C.
Comercial desaparece.
Agrupamentos – art.32º
Vejam a propósito do concorrente, dizíamos que, além da capacidade jurídica
exige-se capacidade técnica e financeira.
art.º35º a art.º40º(que nos fala da falsidade dos documentos)
Relembro uma ideia que dissemos atrás e que vamos a ela voltar: a empreitada
de obras públicas.
O Prof. entende que quando A apresenta a sua proposta, ela não deveria ser
rejeitada liminarmente no caso de A, dever prestações ao Fisco e à Segurança
Social.
Muitas vezes acontece, estarmos perante uma empresa que tem uma boa parte
técnica, apresenta uma boa proposta e ela própria diz estar bem, só que passa
um documento com um total menos bom.
Se é rejeitada liminarmente, porque deve ao Fisco e à Segurança Social, está o
ente público (a lei) a condená-la a morrer. Quando se fosse possível admitir
que apresentasse a sua proposta, se essa empresa fosse ganhadora, só poderia
celebrar o contrato no caso de essa empresa resolver previamente os encargos.
Do ponto de vista do Prof. talvez se salvassem algumas empresas, que sendo
tecnicamente boas empresas, não podem concorrer, desgraçadamente para a
economia.
EX: caso nacional de 1 empresa particularmente bem aceite na têxtil, na
confecção de fatos. Essa empresa tinha mercado internacional. Vendia
normalmente para 1 empresa distribuidora em França, tinha muitos clientes em
Inglaterra e Irlanda, para onde mandava os fatos escoceses, só para pôr a
etiqueta. A empresa passou por um momento menos bom. Não pode concorrer.
Está a perder o mercado para empresas espanholas e italianas.
Naturalmente que, e só por isso é que o Prof. focou o art.º40º, existe muita
falsificação de documentos. São múltiplos os exemplos.
EX: O Benfica não deveria nada de especial ao Fisco, de acordo com a
interpretação da Direcção Geral dos Impostos. MAS, descobriu-se que os
documentos eram falsos.
Em todos os concursos, o Supremo Tribunal não admite que seja posto de lado
o Princípio da Audiência Prévia, quando, é óbvio, exige-se um qualquer
concorrente que não tenha sido escolhido.
(2ªhora)
Quanto à escolha do particular do contratante, como se disse na altura, o
D.L. define até à forma mais exaustiva que possamos imaginar cada um dos
tipos de escolha.
O Prof. Cordeiro Tavares é das pouquíssimas pessoas que entende que em
qualquer contrato deveria ser prevista uma fase de negociações. Entende que,
ao sentido e ao alcance de qualquer proposta tem que estar sempre associado a
autoria da mesma. Se se admite uma fase de negociação considera-se o
seguinte: há uma primeira fase de avaliação de propostas em que são
eliminadas praticamente todas, menos 2, 3, 4… Podemos depois discutir com
qualquer uma das eleitas com vista a ficar convencido que a escolha da final é
a melhor escolha. Todavia, a negociação, a não ser regra-geral, apenas é
possível nos casos expressamente previstos no respectivo contrato.
Se me pedem para fazerem um qualquer contrato em que seja possível
fazer denúncia, eu tento colocar a denúncia. Se um particular me contrata para
denunciar um contrato, eu tento impor que a denúncia seja feita, eu estou
obrigado a defender a parte que me contrata, eu estou obrigado a pensar que o
ente público pode denunciar, assim como pode extinguir, e por isso,
fundamentar muitas vezes será limitar o alcance da sua consideração. Ao
mesmo tempo se for um particular tem que dizer que deve evitar o arbítrio do
ente público, eu vou exigir que a denúncia seja devidamente fundamentada. E
por quanto tempo? Que seja admitida de duas formas: a negociação e o acordo
arbitral, o chamado Tribunal Arbitral para evitar as longas que o tribunal
normal, tradicional, traz a qualquer processo.
A negociação enquanto meio procedimental, instrumental da escolha do
particular do contratante é considerado um meio fundamental – art.83º.
O art.85º, (desenvolvido nos art.151º e ss. - Consulta prévia), tem um
texto corrido. Deve cada um destes requisitos lá previstos ser efectivamente
respeitados:
- na medida do estritamente necessário
- motivos de urgência imperiosa
- acontecimentos imprevisíveis
- incumprimento dos prazos previstos para os processos normais
- circunstâncias não imputáveis às entidades.
Está a vulgarizar-se a consulta prévia para fugir ao concurso público.
Invoca-se sempre motivos imperiosos. O que é um motivo imperioso? É um
conceito indeterminado. Em que consiste esse motivo? Porque o
incumprimento lá estabelecido de acordo com a lei geral se vai traduzir em
prejuízo, e tem que se ver que o ente público não soube ser responsável por
aquilo que está a acontecer.
Ora bem, quando dizemos assim: está estabelecido o leque de
oportunidades do ente público. Não pode ser qualquer coisa porque não pode
ser por capricho do ente público. É ou não necessário cumprir imediatamente?
É. Casos extraordinários mas devidamente verificados. E aqui mais vale
corrermos o risco de dizermos: a escolha foi mal feita mas o bem cessou-se, do
que estarmos atrás de um concurso que quando chegou ao seu fim já a
calamidade passou.
Não existe a consulta prévia para as situações em que poderia à nascença o
ente público ter que provir a necessidade de acontecer.
Quanto aos trabalhos de concepção, nós olhamos sobre o que está sobre
eles e verificamos que eles não dizem propriamente respeito a prestações do
nosso nível, do nível de juristas. São trabalhos de outro alcance que não de
jurista.
O que faz a maior parte dos entes públicos?
Sujeita a um concurso falseado: “apresente a sua proposta e arranje 2 ou 3
propostas de colegas que apresentem um preço!” – isto não se faz. Onde
justifica devidamente que a escolha não pode deixar de ser por ajusto directo
porque se entende que se aquele fulano, não sendo a última e única escolha, é
aquela que dá mais garantia, ou então tem que se abrir concurso público. Serve
para dizer o seguinte: quando muitas vezes acontece que o Tribunal de Contas
questiona a razão porque se contratou a prestação de A, o Tribunal de Contas
formalmente tem razão. O Tribunal de Contas está a ver que sobre aquela
matéria, não haverá ninguém melhor de que Marcelo Rebelo de Sousa para
explicar. Só que, mesmo aceitando, entende que Marcelo Rebelo de Sousa
devia ter sido o escolhido depois de um concurso ao qual houvesse respondido
A,B, e mais Marcelo Rebelo de Sousa.
Dizíamos atrás, a lei não discrimina uma coisa que é discriminada e sabe
que é discriminada, é exactamente há certo tipo em que o concurso se traduz
numa prestação pessoal: trabalhos de concepção, de avaliação, de análise em
pessoal. Uma auditoria, p.ex.: a C.M. quer fazer uma auditoria para saber o
que é que os antecessores deixaram de herança…vai escolher uma das
empresas auditoras. Qual? A que faz o preço mais barato? Qual? Aquela em
relação à qual eu já conheço o port-folio e me dá mais garantias de dimensão?
Portanto, chegamos a um plano em que faço sustentados o concurso como
regra-geral, não é tão passível quanto isso. Ser, é óbvio que é possível, basta
que ele imponha e nós tenhamos que o respeitar, mas o resultado final desse
tipo de escolha pode não ser o resultado esperado com vista ao interesse
público.
Mesmo que o fulano seja um artista destas áreas de autarquias, foi violado
o D.L. 197/99. O Prof. acha que aí o legislador devia condicionar melhor a lei
às circunstâncias concretas a que ele se acaba por dedicar, era melhor respeitar
o P. da Justiça Material, sé esta, porque da formal estamos todos cheios.
Ver em pormenor quanto é cada um dos actos instrumentais de escolha dos
particulares. A lei vai determinando cada procedimento, p.ex. no art.132º;
art.146º; art.164º.
Artº 26 DL
Artº 45 DL
Artº 107 DL
2ª hora
Hoje ficamos por aqui. Na próxima semana continuamos com esta matéria.
Um abraço!
Aula de Contratação Pública – Aula 7
3 De Novembro de 2005
Ora, na vida prática quando sou chamado a intervir por via da Rescisão do
Contrato de Empreitada, há-de estar uma destas questões: ou porque há um
acto unilateral da administração pública que se traduz em trabalhos a menos
que o particular, legitimamente, não quer nem pode aceitar – arts. 31º ss; ou
então quando o ente público introduz alterações naquele contrato, que
implicam uma muito maior onerosidade por parte do particular – art. 196º. O
caso da cessão da posição contratual, em que o particular se permite ceder a
posição contratual sem autorização do ente público, este pode rescindir – art.
148º/2. Quando, uma vez consignada a obra, existe retardamento, veremos: as
telas não estão feitas, muitas vezes o terreno não está devidamente identificado
e o particular pode suspender, pode rescindir. E no caso da suspensão de
trabalhos que se prolongam para lá daquilo que é definido, a suspensão do
trabalho do particular, legitima a que o ente público possa rescindir.
Art. 234º ss – Rescisão e Resolução Convencional
Casos portanto de rescisão do contrato e nós vamos começar pelos arts. 234º e
ss. Do DL 59/99.
Eu gostaria, e vou permitir-me hoje ler um pouco, gostaria que lessem estes
arts. Que vos vou indicar. Na vida prática, conforme vos dizia, usamo-los
muito porque os problemas que se põem não são grandes problemas
relacionados com a interpretação. Nem são grandes problemas relacionados
com a validade dos contratos, também não! Juridicamente, contenciosamente,
os problemas que se levantam são, muitas vezes os que derivam da
necessidade ou não de rescisão do contrato.
Por isso pedia-vos, e vimos a sema na passada, que este diploma 59/99, tal
como outros, além de ser um diploma legal, também contém imensa disciplina
que é regulamentar, que é secundária, que é derivada, mas contém
praticamente tudo aquilo que nós devemos usar quando tratamos de qualquer
um destes pontos, destes temas.
Vejam já o art. 242º : sendo a rescisão imposta pelo dono da obra, logo que
esteja fixada a responsabilidade do empreiteiro, será o montante respectivo
deduzido dos depósitos, garantias e quantias devidas, pagando-se-lhes o
saldo, se existir.
Portanto, dizia-mos nós na parte inicial, na parte geral, que o dono da obra,
ente público, será obrigado a indemnizar se porventura, se por qualquer
motivo, de interesse devidamente fundamentado, o contrato não puder
continuar.
Dizia-mos também que, cuidado com a leitura que fazemos da al. c) desse art.
180º, porque muitas vezes a rescisão decorre do facto de incumprimento ou
cumprimento defeituoso por parte do particular, por parte do empreiteiro.
Nesse caso, o empreiteiro será obrigado a indemnizar, não só a não receber,
como a indemnizar. E vêem exactamente esta situação aqui espelhada, quando
se fala da liquidação, do pagamento da indemnização devida ao dono da obra,
quando há incumprimento ou cumprimento defeituoso por parte do
empreiteiro.
Por último há aqui uma cláusula, nº4: a rescisão não produz, em regra, efeito
retroactivo.
A rescisão não pode produzir efeito retroactivo!
Apanhei um caso em que o Ministério da Agricultura e a Associação dos
Jovens Agricultores do Norte de Portugal, fizeram entre si um contrato, ao
abrigo do qual houve uma candidatura a fundos comunitários, cuja deveria ter
sido, e foi, investida nessa associação de agricultores. Desentenderam-se
politicamente, já estava o material adquirido, o edifício construído,
desentenderam-se e o Sr. Ministro pretendeu rescindir com eficácia
retroactiva.
Como é que eu posso rescindir com eficácia retroactiva algo cujas prestações
já se efectivaram?! A rescisão apenas pode produzir efeitos para o futuro.
Se algo ocorreu antes da rescisão, vai depender da assunção da
responsabilidade relativa de cada uma das partes. Como é que eu posso
rescindir um contrato se ele já chegou ao seu termo? O contrato já se esgotou,
já chegou ao seu termo, como é que eu posso ir depois dizer que rescindo o
contrato?
A rescisão não produz efeitos retroactivos.
Até por outro motivo: todos os actos já praticados devem ser preservados,
dizia-vos eu, mesmo quando se põe em causa a anulação do contrato. Há que
preservar os efeitos já produzidos. E o Tribunal, quando chamado para avaliar
as causas de anulação do contrato, o tribunal deve intervir de acordo com os
juízos de justiça e equidade, ou seja, vai graduar a responsabilidade relativa
das partes quanto à causa invalidante do contrato, mas preserva e mantém os
efeitos já produzidos. Estamos nós a falar de anulação! Por isso, por maioria
de razão, quando por qualquer motivo haja que rescindir, seja pelo dono da
obra, seja por interesse e direito do empreiteiro, os efeitos produzidos mantém-
se.
A rescisão vai produzir efeitos para o futuro, vai contemplar ou não, além de
danos emergentes, lucros cessantes, não vai necessariamente tocar em
qualquer dos efeitos já produzidos anteriormente, com a execução do contrato.
Os arts. seguintes falam da rescisão pelo dono da obra. Eu vou permitir-me,
não vou estar agora a ler os arts. seguintes, só queria a propósito disto, dizer-
vos o seguinte. Muitas vezes a rescisão pelo dono da obra aparece como
sanção. O incumprimento ou cumprimento defeituoso, muitas vezes não é
suprido, não é resolvido através de multas. O ente público promove
unilateralmente a rescisão, considerada como sanção. E quando assim
acontece, normalmente verifica-se aquilo a que nós chamamos o “ sequestro”.
O dono da obra, o ente público toma posse administrativa do estaleiro, da
maquinaria existentes na obra, vai continuar essa obra, com os bens do
particular contratante. Não é as pessoas, não há sequestro de pessoas! É só os
bens, as máquinas, o estaleiro.
Muitas vezes acontece, repito, que como acto sancionatório o ente público
promova o sequestro.
Vamos então ver as outras situações de rescisão.
Por exemplo: se for mais caro 5% ou mais barato 5%. Se os encargos a mais se
traduzirem em mais 5 ou 10% ou em menos 5 ou 10%. Conforme o valor do
contrato, porque às vezes são muitos fiadores, as partes não vão pedir nem a
rescisão, nem a redução do preço. Não vou pedir nem contrapartidas
pecuniárias por via disso. E normalmente faço o seguinte: se o ente público
introduzir alterações, por exemplo, que se tornem mais gravosas, mais
onerosas, num valor que exceda 5% do contrato, o empreiteiro não vai pedir
qualquer compensação por essas alterações, se o dono da obra pagar em
tempo, pagar no prazo estipulado os valores acordados.
Dizíamos atrás que, de facto, o ente público é mau pagador. Compra e não
paga, paga mal! O Estado paga mal, as Autarquias pagam tarde e muito mal.
E quando me permito, ao outorgar o contrato em nome de um qualquer
particular, negociar, podem existir alterações até um determinado valor, as tais
bandas, os tais limites, as tais fronteiras. E o particular não vais pedir nenhuma
compensação a mais, mas para que não peça, é necessário que o ente público
cumpra religiosamente o pagamento das prestações conforme o que foi
acordado.
Portanto, sujeito a eficácia desta cláusula a uma condição.
Também vos pedia que lesses os artigos seguintes. É exactamente para que nos
convençamos: o particular não pode rescindir, o particular pode pedir a
rescisão.
Tenho um caso desta semana, em que há uma empresa construtora que, pura e
simplesmente, abandonou a obra. E quando a avisaram que estava a receber
sanções, multas, procurou-me e dizia-me: “ eu tinha que me vir embora porque
tenho “n” prestações por receber e avisei continuadamente a CM. Há eleições,
a CM é a mesma, mantém o atraso, e prometeu-me antes das eleições mas não
estão a cumprir e eu vim-me embora”. Não vale, não pode, não deve! Vai pedir
a rescisão do contrato, mesmo tendo direito a que ela seja concedida. Se o
requerimento não funcionar, o tribunal rapidamente o vai decidir. Mas deve
manter a execução da obra, dizia eu, dizia-vos a vós, mesmo que não seja todo
o estaleiro activo, nem todo o pessoal, algum pessoal, algum estaleiro: a
presença objectiva na obra. Abandono, fica imediatamente sujeito a multas. E
pode incorrer em sequestro.
A tendência natural: o empreiteiro sente-se, tantas vezes pede, tantas vezes lhe
é prometido que se lhe paga, tantas vezes vê que não pagam, desiste, desarma,
abandona. É natural, só que o direito não contempla o abandono.
Aliás, tenho um caso em que não conseguem contratar, isto era uma operadora
de guindastes que tinha sido embargada, e o manobrador disse que não queria
trabalhar para o ente público e, estupidamente, passo o termo, o Ministério
tentou requisitá-lo, a requisição civil. Isto é uma anormalidade.
O estaleiro, as máquinas; as pessoas não! Aderem voluntariamente ou vão
embora.
Portanto, um dos limites ao exercício do poder de modificação unilateral, é a
própria capacidade técnica e/ou financeira, pelo que, mesmo estando numa
situação de maior onerosidade, e o próprio (caso limite) ente público se
comprometa a suportar todos os encargos a mais, mesmo assim o particular
pode dizer que não quer permanecer no contrato, pois que excede a sua
capacidade técnica, a sua capacidade financeira, seria obrigado a um esforço
para o qual não está preparado ou nem sequer quer arriscar.
Porquê? A relação com o ente público é uma relação precária, temporal, e
depois? O que vai acontecer depois?
II Hora
E eu gostava que atendessem aquilo que vos falava ser a aceitação do acto –
art. 256º.
Desculpem, se não estiver no contrato que há recurso a tribunal arbitral, não há
recurso ao tribunal arbitral. O recurso vai para os tribunais administrativos. Só
há a constituição do tribunal arbitral, quando tal consta do contrato.
Diz o art. 256º - o cumprimento ou acatamento pelo empreiteiro, de qualquer
decisão tomada pelo dono da obra ou pelos seus representantes, não se
considera aceitação tácita da decisão acatada.
Todavia, se dentro do prazo de 8 dias a contar do conhecimento da decisão, o
empreiteiro não reclamar ou não informar reserva dos seus direitos, a decisão é
aceite. Isto é importante.
Muitas vezes sucede quando o dono da obra pretende introduzir alterações ao
contrato. O empreiteiro não concorda. Não é o facto de continuar a executar o
contrato de acordo com as alterações determinadas que implica que ele
aceitou. Não é! O que ele deve fazer, no prazo de 8 dias contados de acordo
com o procedimento, diz o texto, deve reclamar. E continua a executar o
contrato. Se porventura a reclamação não for atendida, e se ele considerar que
o acto unilateral do ente público é ilegal, ou de per si bastante para pedir a
rescisão do contrato, vai impugná-lo. Vai considerar, porque reclamou não se
considera que o acto esteja tacitamente aceite. Branco é, galinha o põe, claro!
Só que a reclamação deve ser por escrito. Muitas vezes constatamos situações
de conflito em que aparece o empreiteiro a dizer, “mas eu reclamei”, e não há
nenhum documento que suporte a reclamação. Deve ser por escrito! Formal!
Não basta a reclamação oral da parte que, muitas vezes sucede na expressão
técnica, na execução da obra. O empreiteiro cumpre, mas não concorda, e
reclama verbalmente.
Deve deduzir a reclamação em base formal, caso contrário vai ser considerado
como tendo aceite espontaneamente a alteração.
Eu tenho uma situação dessa natureza em que, de facto, existe uma alteração
na execução do contrato, em que o dono da obra através de seu representante,
o engenheiro, considerava ser, não o ferro que estava projectado, mas menor
quantidade de ferro, o bastante para suportar determinado peso. O engenheiro
comunicou a decisão ao empreiteiro e comprovadamente o disse, “é bastante”,
e o empreiteiro reclamou dizendo que atendendo aquele solo não é bastante. O
projecto inicial, com os cálculos iniciais estava correcto, a alteração a produzir
não era bastante.
Reclamou! Todavia cumpriu. Normalmente é assim: “ pois quem manda é o
senhor, o senhor é que sabe, o senhor é que manda”. A obra continuou em
execução e, de repente, há um esbatimento da obra. O piso de suporte
agachou.
Vem a verificação técnica que considera que não foi colocado o ferro nas
quantidades devidas, atendendo ao suporte do solo. E imediatamente
apontaram a responsabilidade ao empreiteiro, porquê? Porque o empreiteiro
não cumpriu!
E reparai a situação perfeitamente inédita: o engenheiro determinou a alteração
de boca; o empreiteiro de boca reclamou, mas cumpriu a ordem. Em tese
geral: o empreiteiro não cumpriu aquilo a que estava obrigado segundo o
caderno de encargos.
Porque o engenheiro depois aparece a dizer: “ Eu não disse isso! Eu disse que
uma hipótese neste tipo de construção é que não é necessário tanto ferro, não
estava a falar desta especificamente! Estávamos a discutir do ferro necessário
para suportar a valorimetria desta construção e eu disse, teoricamente…”.
Claro que agora desfaz-se em multiplicações, pretextos! O empreiteiro,
chamam-no mentiroso, como é óbvio. Diz que lhe manda com um bocado de
cimento em certo sítio e disse: “ não senhor, o senhor disse-me e eu cumpri
conforme o senhor disse”. E o que está a ser indagado, o que está a ser
interrogado diz: “ E então o senhor, empreiteiro à não sei quantos anos, era
capaz de aceitar uma ordem desse tipo? O senhor não via que estava a fazer
mal? Porque é que aceitou? Ou seja, então o senhor não estava a tentar,
colocando menos ferro, poupar dinheirito, ganhando o remanescente?”
O engenheiro não disse; o empreiteiro fez. E o tribunal haverá de concluir até
onde vai a verdade do engenheiro e a mentira do empreiteiro; ou o inverso!
Em situações como esta é perfeitamente normal, até porque lidamos com gente
muito educada, e chega lá o dono da obra e diz: “ eu quero que…”, “faz-se!”.
Mas muitas vezes há alterações “lana-caprina”, alterações que nem sequer se
traduzem num aumento de encargos.
Sempre que o empreiteiro, ou quem o represente, entenderem que as alterações
violam as regras de construção, violam regras legais ou regulamentares,
mesmo que cumpram, devem reclamar. Não o fazendo, correm o risco de
serem co-responsabilizados, mesmo que se prove que a ordem não devia ter
sido dada, correm o risco de terem aceite essa alteração indevida. Portanto,
incorrem em responsabilidade.
Como vos disse é importante porque amiúde sucedem estas situações, amiúde.
A propósito dos prazos, vejam o art. 274º. À contagem dos prazos são
aplicáveis as seguintes regras: não se inclui ma contagem o dia em que ocorrer
o evento a partir do qual o prazo começa a correr; o prazo começa a correr,
independentemente de qualquer formalidade, e suspende-se aos sábados,
domingos e feriados nacionais; o termo do prazo que caia em dia em que o
serviço perante o qual deva ser praticado o acto, não esteja aberto ao público
ou não funcione durante o período normal, transfere-se para o dia útil seguinte.
E o nº2 – os prazos para apresentação das propostas ou dos pedidos de
apresentação, bem como o prazo de execução da empreitada, são contínuos,
incluindo sábados, domingos e feriados.
Há aqui um pequeno ponto. Às vezes é só uma coisinha muito miudinha,
mas…!
A al. B) do nº1 – o prazo começa a correr independentemente de quaisquer
formalidades e suspende-se aos sábados, domingos e feriados
nacionais.
Portanto, não suspende nos dias de feriados municipais. E isto às vezes, não é
por causa de um dia, é que muitas vezes o que acontece e deve acontecer, é
que no contrato estão previstas cláusulas penais. Por cada dia de
incumprimento por parte do empreiteiro, fica este obrigado a pagar uma
quantia de x.
O ente público faz com que se cumpra exactamente a cláusula, é obrigado a
fazê-lo. Ora muitas vezes sucede que o empreiteiro, de facto, começa a ver
resvalar o tempo. Designadamente quando as condições atmosféricas são
adversas. Não é previsível o mau tempo, a empreitada começa a resvalar,
qualquer dia é dia. E quando, na parte final, se vem considerar os dias de
incumprimento para a definição do montante final da cláusula penal, mesmo
quando exista algum feriado municipal, o dia de feriado municipal é
considerado. Acho mal, mas a lei não dá fuga.
Eu por exemplo, já pus o exemplo, mas não vale a pena.
Festas de St. António, festas de S. João. No dia anterior as empreitadas acabam
mais cedo. No dia seguinte é a festa. E no dia seguinte à festa, oh! A lei refere
expressamente.
A não ser que no contrato, mais uma vez no contrato, se estipule que, para
efeito da aplicação da cláusula geral, não conta ou os feriados municipais. Vale
dizer, apenas vale feriados nacionais.
Eu por acaso sou contra, mas é por outro motivo. Se, por exemplo, o prazo
para apresentação de propostas se ultima no dia de um feriado municipal, o
prazo passa para o dia útil seguinte. Até porque os serviços estão fechados. E
não vejo razão para que o mesmo não suceda com a execução do contrato.
Porquê? De facto, na execução de uma empreitada, os trabalhadores dessa
empreitada, designadamente os que fazem parte desse município, têm tanto
direito a ir ao S. João, quanto direito têm os outros trabalhadores. Não me
parecer ser que por um dia, um feriado festivo, se venha considerar
incumprimento.
Tenho-o dito! Não tem sido aceite porque dizem que a lei é tão clara, tão
imperativa, não vale a pena estarmos agora com interpretações na tentativa de
juntar a esta justiça formal, uma justiça mais material.
E isso leva-me a que, quando se fazem contratos, e se define no contrato
cláusula penal, tenta-se sempre ficar salvaguardado que, dia de feriado ou
feriados municipais, porque há municípios que têm mais do quem um feriado,
é o santinho, é o dia do município, pois! Eu não digo as pontes, não digo! Mas
há municípios que têm o seu feriado. Acontece, por exemplo, aqui
relativamente perto, o dia do município é a 20 de Junho e o S. João é a 24, e
isto entre dia 20 e 24, ninguém faz nada. Claro que não é bem assim!
Feriado ou feriados municipais, ficando contemplado expressamente já os dias
apontados, caso contrário não vale a pena, repito, invocar a excepcionalidade
da situação porque a lei é clara.
As adjudicações também devem ser publicadas na II Série do DR.
17/11/2005
1.Nomeação
Por tempo indeterminado
Comissão de Serviço
2.Provimento
3.Prestação de Serviços
4.Ctt de trabalho a termo certo
Regras do procedimento
Problema:
Lei Nova surge antes da tomada de posse e vem a considerar que aquela
tomada de pessoa colectiva deixa de ser de dto. Público e passa a ser de dto.
Privado.
Na fase iniciativa do concurso ainda aquela pessoa é uma p.c. de dto. Público e
enquanto p.c. de dto. Público abriu um concurso para o preenchimento de uma
vaga da função pública, procedendo a avaliação dos candidatos. Seleccionou
um dos candidatos, através da sua nomeação; entretanto a lei nova vem
considerar que aquele ente deixa de ser ente público para passar a ser uma p.c.
de dto. Privado/entidade pública.