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Conflitos na História do Brasil

- Regime Militar-
Ditadura Militar

Guerrilha do Araguaia: 1970-1976


A Guerrilha do Araguaia é como se costuma chamar um conjunto de operações terroristas
ocorridas durante a década de 1970 promovidas por grupos contrários ao Regime militar em vigor
no Brasil. O movimento foi organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), na ilegalidade,
entre 1966 e 1974. Por meio de uma ação terrorista prolongada, os integrantes do PCdoB
pretendiam combater o governo militar e implementar o comunismo no Brasil, iniciando o
movimento pelo campo, à semelhança do que já ocorrera na China (1949) e em Cuba (1959).

O palco de operações se deu onde os estados de Goiás, Pará e Maranhão faziam fronteira. O nome
foi dado à operação por se localizar às margens do rio Araguaia, próximo às cidades de São Geraldo
e Marabá no Pará e de Xambioá, no norte de Goiás (região onde atualmente é o norte do Estado de
Tocantins, também denominada como Bico do Papagaio). Estima-se que participaram em torno de
setenta a oitenta guerrilheiros sendo que, destes, a maior parte se dirigiu àquela região em torno de
1970. Entre eles, o ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, que foi detido
pelo Exército em 1972.

Preparação do Exército

Na época as Forças Armadas iniciaram um estudo para efetuar as operações antiguerrilha. Estas
foram envolvidas de um planejamento executado em sigilo e que durou em torno de dois anos.
Segundo os militares, era indesejável a eclosão de outros movimentos semelhantes em outras
regiões do Brasil, pois isto ocasionaria uma eclosão de violência na região rural, o que poderia vir a
gerar uma desestabilização do poder imposto.

Censura
Na época em que Emílio Garrastazu Médici era presidente do Brasil, as operações militares foram
executadas de maneira sigilosa e era proibida a divulgação da existência de um movimento
guerrilheiro no interior do país. Portanto, devido à censura, nunca foi autorizada a publicação de
detalhes sobre a guerrilha e sempre se afirmou que os documentos da operação haviam sido
destruídos. No entanto, durante as polêmicas ocasionadas no governo Lula em relação à abertura de
arquivos do período militar, foi descoberto que boa parte dos materiais foi preservada. Ernesto
Geisel, após assumir o comando do governo militar, também não autorizou a divulgação da
existência de tal guerrilha, ficando desta forma a população brasileira alheia ao conhecimento dessa
movimentação. Por isso, a única menção feita por Geisel a respeito da existência de um movimento
guerrilheiro no interior do Brasil se deu em 1975.

Mobilização
Para combater os 79 guerrilheiros do PCdoB, houve a mobilização de cinco mil soldados
brasileiros, em três fases distintas que se prolongaram até 25 de dezembro de 1974, data em que o
movimento insurgente foi definitivamente extinto. Os soldados brasileiros que participaram das
operações iniciais desconheciam a sua missão e foram comandados pelo general Antônio Bandeira.

Para preparar o teatro de operações, o comandante mandou construir uma rodovia com cerca de 30
km de extensão. Segundo os militares ela era necessária para que fosse executado o deslocamento
de tropas. A área dominada pelos guerrilheiros abrangia em torno de sete mil quilômetros
quadrados, indo da cidade de Xambioá até no sul do Pará, nas proximidades de Marabá. O general
Olavo Viana Moog exerceu o comando tático das operações e o general Hugo Abreu também
comandou ações para pôr fim ao movimento. Do lado da guerrilha, os principais comandantes
foram Maurício Grabois e João Amazonas, que eram oriundos do PCB e que haviam sido presos na
década de 1930 durante a imposição do Estado Novo.

Identidades e atividades preparatórias da guerrilha

Por uma questão de segurança do grupo, os guerrilheiros não tinham identificações. Seus nomes
nunca eram revelados, usando desta forma nomes e identificações falsas. Sabe-se porém, que
muitos eram estudantes e profissionais liberais que haviam participado de manifestações (passeatas)
contra o regime na década de 1960. Sabe-se por relatos dos poucos que sobreviveram que muitos
tinham sido torturados e presos anteriormente pelo regime por não concordar com uma ditadura
comandando o Brasil. Um dado importante é que a grande maioria dos guerrilheiros, em torno de
70%, eram oriundos da classe média, que tinham profissões liberais como médicos, dentistas,
advogados e engenheiros. Havia também bancários e comerciários.

Sabe-se que menos de 20% eram camponeses, e que estes eram recrutados na região do Araguaia. A
quantidade de operários que participavam do movimento guerrilheiro mal chegava aos 10% do
total. Em média, a idade predominante era em torno de trinta anos. Na medida em que iam
chegando à região, adquiriam a confiança dos moradores agindo como agricultores, farmacêuticos,
curandeiros, pequenos comerciantes, donos de pequenas vendas de beira de estrada, além de outros
tipos de ocupações comuns no interior do Brasil.

Nunca conversavam entre si, e nunca moravam próximos uns dos outros. Integravam-se às
comunidades onde agiam, participando de todos os eventos, sendo desta maneira absorvidos por
estas. Não atuavam e não influiam nas políticas locais, não se envolviam em discussãoes políticas
para evitar o despertar de desconfianças. Suas atividades principais se baseavam no ensino do
trabalho comunitário, voluntariado e assistencialismo. Quando podiam, ajudavam os moradores
com medicina, odontologia, ajudavam nas escolas, davam aulas, ensinavam a população como
organizar e realizar mutirões. Agindo da forma descrita, aos poucos o grupo foi ganhando respeito e
admiração da população local.

O desenvolvimento das operações


O Exército Brasileiro descobriu a localização do núcleo guerrilheiro em 1971 e fez três investidas
contra os rebeldes. As operações de guerrilha iniciaram-se efetivamente em 1972, tendo oferecido
resistência até março de 1974. Em janeiro de 1975 as operações foram consideradas oficialmente
encerradas com a morte ou detenção da maioria dos guerrilheiros. Em 1976 ocorreu a chamada
Chacina da Lapa quando foram executados os últimos dirigentes históricos do PCB. João
Amazonas, na ocasião, se encontrava na Albânia.

A questão do Araguaia (guerrilha)

Em 1971, ocorreu uma manifestação concreta de ação militar no Brasil, onde o Exército Brasileiro
enfrentou sua maior prova, na região de Xambioá, norte do antigo estado do Goiás, (hoje
Tocantins). Lá formou-se um quadrante de ação operacional, seguido de encasamento de tres
divisões clássicas de combate pôr quadrantes menores, ou seja a formação de 3 batalhões de 21
soldados de 3 pelotões de 7 soldados, totalizando 63 componentes. O líder de cada grupo de 7
soldados, desconhecia as ordens do comandante do batalhão de 21, que desconhecia a formação e
identificação dos demais batalhões, assim a pirâmide de autoridade seguia uma linha de formação
utilizada na guerra colonial da Argélia, perdida pêlos franceses e pela legião estrangeira. A
formação dos líderes principais era universitária (médicos engenheiros), sendo desconhecida então
pela inteligência do exército. Contudo, os guerrilheiros tratavam a ocupação valendo-se da linha de
Ernesto Guevara, tentando conquistar a população com atitudes assistencialistas, posto que o
estado era ausente na região. Após um ano de atuação os grupos lá estacionados, já julgavam
possuir condições de articulação da população em curto período com mobilização para defesas,
baseadas nas táticas empregadas por Ho Chi Min no Vietnã e em Cuba, por Fidel Castro. O
trabalho da inteligência do exército foi bem executado, mas inicialmente faltaram os efetivos
operacionais necessários à repressão, e aí começaram os problemas no país. O chefe da agência do
SNI na época Gal. João Batista Figueiredo determinou o imediato fechamento da área e início das
operações militares.

Porém, o que encontrou guerrilheiros e guerrilheiras que, há mais tempo instalados, conheciam a
região. As tropas do governo, por sua vez, recorreram à orientação de "mateiros" nativos da região,
que ajudaram na guia das patrulhas. Promoveram também ações assistencialistas para aliciar a
população. Durante 14 meses, num jogo de gato e rato na selva, os guerrilheiros conseguiram se
furtar à presença dos militares, em meio a choques esporádicos e baixas eventuais.

Porém, em 1973 entra em cena um assessor militar do mais alto gabarito, nessas questões, o
Coronel H. da Fonseca do Exército Português, veterano da Guerra do Ultramar Português que veio
formar o primeiro batalhão de infantaria de selva, utilizando-se dos métodos de disciplina da legião
estrangeira e alguns métodos alemães. Em 1974 com ataques combinados, Forca Aérea, infantaria e
pára-quedistas a primeira grande ofensiva apresentou sucesso do lado do Exército Brasileiro, cujas
tropas na ocasião foram lideradas pelo General Hugo Abreu, comandante da Brigada Pára-Quedista
e veterano da Força Expedicionária Brasileira.

Todavia sabe-se que a ofensiva valeu-se de aproximadamente 18.000 soldados nas mais variadas
Forças Armadas - Aeronáutica, Exército e PMs. A guerrilha cessou. As manifestações regionais
ocorridas no país a partir do confronto armado, no Araguaia passaram a exigir dos governantes,
uma condição ainda mais acentuada de controle, tendo as policias militares estaduais,
desempenhado esses papéis.

As baixas
Pelo lado do exército, estima-se que pereceram dezesseis soldados. O balanço oficial à época,
indicava sete guerrilheiros mortos. Em 2004, o Ministério da Justiça brasileiro contabilizava
sessenta e um desaparecidos. Segundo testemunhos, a maioria dos guerrilheiros capturados foi
torturada antes de ser executada, e os seus corpos ocultados, numa espécie de operação limpeza
promovida pelos militares a partir de 1975.

A operação limpeza

Sabe-se que, após 1975, foi realizada na região uma espécie de operação limpeza, que durou até
meados de 1978, com a finalidade de eliminar focos de militantes remanescentes na região. Os
militares, para evitar a disseminação do movimento e mantê-lo encerrado em limites específicos, se
utilizaram das chamadas táticas de combate à guerra revolucionária. Um dos métodos utilizados
era o espalhamento de cartazes em diversos pontos das cidades, tais como bancos, aeroportos,
terminais rodoviários etc. Os cartazes eram formados com retratos de opositores do regime
procurados e com mensagens que incitavam a população a delatá-los. Normalmente, os cartazes
possuiam fotografias dos procurados que eram integrantes dos grupos de ação armada. Médici
mandou editar uma série de decretos secretos cuja finalidade era o combate aos guerrilheiros sob a
evocação da segurança nacional. Os textos de tais decretos, porém, jamais foram conhecidos.

Entre os muitos nomes envolvidos na Guerrilha do Araguaia destaca-se o de Osvaldo Orlando da


Costa, um militante do PCdoB, que chegou à região em 1966 com a missão de organizar a guerrilha
rural. Nascido em Abril de 1938 na cidade de Passa Quatro, em Minas Gerais, de família humilde,
descendente de escravos, era um indivíduo de grande estatura, de pouca fala, embora bastante culto
e prestativo. Graduou-se com destaque como Engenheiro de Minas pela Universidade de Praga, na
então Tchecoslováquia, onde havia ganho uma bolsa de estudos. Quando residente no Rio de
Janeiro, foi campeão de boxe, na categoria Pesos-pesados, pelo clube Botafogo de Futebol e
Regatas. Em 4 de Fevereiro de 1974, enquanto abria uma trilha no mato, Oswaldão deparou-se
repentinamente com uma patrulha do Exército, pela qual foi alvejado no peito, no momento exato
em que abria os braços para afastar o mato da sua frente. Em seguida, o corpo foi arrastado pela
mata e içado de cabeça para baixo por uma corda presa a um helicóptero.

Dizem alguns, que para ter certeza de que o morto estaria realmente morto, ao chegar em grande
altura, teria sido solto e arremessado ao solo, sendo em seguida apanhado, amarrado novamente à
aeronave e levado para ser exibido aos camponeses como um troféu.

A Ação Judicial

Um processo foi instaurado contra a União, em 1982, por vinte e dois parentes de vítimas, que por
meio dele pediram à Justiça que o Exército brasileiro apresentasse documentos para que pudessem
obter atestados de óbito. Em 22 de Julho de 2003, o Diário da Justiça publicou a decisão da juíza
Solange Salgado, da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, ordenando a quebra de sigilo das
informações militares sobre a Guerrilha do Araguaia, dando um prazo de 120 dias à União para
que fosse informado onde se encontram sepultados os restos mortais dos familiares dos autores do
processo, assim como rigorosa investigação no âmbito das Forças Armadas brasileiras.

Em 27 de Agosto de 2003, a Advocacia-Geral da União apelou da sentença que determinou de


abertura dos arquivos, embora reconhecesse o direito dos autores de tentar localizar os restos
mortais de seus familiares desaparecidos. Baseado em argumentos puramente processuais,
especialmente questionando o curto prazo imposto na sentença para a apresentação de resultados, o
recurso da AGU foi severamente criticado por organizações de defesa dos direitos humanos,
familiares dos desaparecidos e por integrantes da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos.

Pressionado e sensibilizado, o governo Lula criou em 3 de Outubro de 2003 uma comissão


interministerial para localizar restos mortais. Esta comissão solicitou os documentos, sendo
informada de que os mesmos não existiam. Atualmente, o processo se encontra no Superior
Tribunal de Justiça, em fase de recurso especial, não tendo sido cumprida até hoje a decisão da juíza
de primeiro grau.

Documentos que restaram

A Revista ISTOÉ, em sua edição número 1830 (3 de Novembro de 2004), contraria o ponto comum
nas versões dos ex-combatentes da guerrilha, dos que a perseguiram e do governo. Segundo eles,
nenhum documento da guerrilha teria sobrevivido. No entanto, são publicados, com exclusividade,
trechos de documentos que comprovam a guerrilha. Fichas de guerrilheiros e listas de nomes dos
envolvidos, dentre outros materiais, vieram a público, trazendo à tona um assunto de que advogados
das vítimas torturadas e pesquisadores do período já possuíam amplo conhecimento, apesar de
nunca terem provas. Boa parte dos arquivos da ditadura militar sobreviveu, bem mais do que o
admitido pelo Governo. Tantos que, passados mais alguns meses, possibilitaram a publicação do
livro Operação Araguaia: os Arquivos Secretos da Guerrilha.

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