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Emílio

Dentro Da
Terrina
Astrid Lindgren, 1973
( Editorial Verbo, 1979)

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Era uma vez um rapaz chamado Emílio, que vivia em Lonneberga. Além de ser um cabeça no
ar, era muito teimoso, ao contrário de vocês, está claro, que são bem comportados, mas ele
também parecia bem comportado, principalmente quando não gritava. Tinha os olhos redondos e
azuis, a cara redonda e rosada como uma maçã, e um penacho de cabelo loiro a cair para a testa.
De facto, parecia tão bem comportado que as pessoas pensavam que ele era um anjo.
Mas estavam muito enganadas.

Tinha cinco anos de idade, era forte como um toiro, e morava na quinta de Katthult, perto
de Lonneberga, uma pequena aldeia em Smaland, na Suécia.

Certo dia o pai foi à cidade e trouxe-lhe um boné. Emílio ficou todo satisfeito com o boné, e
teimou em pô-lo quando se foi deitar. A mãe queria pendurá-lo no cabide da entrada mas o Emílio
gritou tanto que se ouviu em toda a Lonneberga.

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Dormiu com o boné durante quase três semanas! Era um daqueles bonés com a copa preta
e a pala azul, e ficava-lhe bastante largo. Mas ele lá arranjou maneira de o segurar na cabeça.

Mais tarde, durante o Natal, a mãe tentou fazê-lo comer verduras, porque as verduras
fazem bem à saúde, mas o Emílio disse logo que
não.

- Não queres comer verduras? - perguntou a


mãe.
- Quero - respondeu o Emílio. - Mas verduras
a sério. - E sentou-se calmamente atrás da árvore de
Natal a chupar as agulhas do pinheiro. Mas cansou-
se depressa porque ficou todo arranhado.

Tudo isto mostra como ele era teimoso.


Queria mandar no pai, na mãe e até mesmo em toda
a gente de Lonneberga, mas as pessoas da terra não
estavam para isso.

- Faz-me pena aquela gente de Katthult, com


um filho tão mal comportado. Não vão fazer nada
dele - diziam as pessoas.

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Era assim que toda a gente pensava! Mas não teriam dito nada se soubessem como o Emílio
havia de se modificar.
Imaginem se eles soubessem que o rapaz viria a ser Presidente da Câmara quando
crescesse! Vocês provavelmente não sabem o que é ser Presidente da Câmara, mas posso garantir-
lhes que é uma coisa muito importante, e o Emílio ocupou mais tarde esse lugar.

Mas por enquanto vamos dizer o que sucedeu quando Emílio era pequeno e vivia em
Katthult, com o pai, que se chamava António, a mãe, que se chamava Alma e a irmã mais nova, que
se chamava Ida.

Havia também um criado chamado Alfredo, e uma criada chamada Lina. Porque quando o
Emílio era pequeno existiam criados em Lonneberga e em toda a parte. Eram ajudantes que
lavravam a terra e tratavam dos cavalos e do gado, semeavam o feno e plantavam as batatas.
As criadas mungiam as vacas, faziam a limpeza e cantavam para as crianças adormecerem.

Agora já sabem quem vivia em Katthult: o pai António, a mãe Alma, a pequena Ida, o Alfredo
e a Lina. E havia ainda dois cavalos, uma junta de bois, oito vacas, três porcos, dez ovelhas, quinze
galinhas, um galo, um gato e um cão. E o Emílio.

Katthult era uma linda quinta, com uma casa


pintada de vermelho no alto de uma colina e macieiras
e tufos de lilases a toda a volta. E campos de cultivo e
cercas, um lago, e um enorme bosque. Seria agradável e
sossegado viver em Katthult se não fosse o Emílio.

- Este rapaz está sempre metido em sarilhos -


dizia a Lina. - E mesmo quando não é ele quem se mete,
acontece-lhe qualquer coisa. Nunca vi uma criança
assim.

Mas a mãe do Emílio estava sempre a defendê-


lo. - Não é tão mau como isso - dizia ela. - Hoje só deu
beliscões na Ida e entornou o leite que era para o
pequeno-almoço...

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- Ah, sim, e correu atrás do gato em volta da casa. Mas acho que ele já se porta melhor e faz
menos maldades.

E na verdade ele não era mau, ninguém o podia acusar disso. Até era amigo da Ida e do
gato. Mas tinha que dar beliscões na Ida para ela lhe dar a fatia de pão com doce, e corria atrás do
gato para ver se corria mais do que ele. O gato é que não percebia isso!

Foi no dia 7 de Março que o Emílio foi tão bom que só deu beliscões à Ida, entornou o leite e
correu atrás do gato. Mas já vão saber o que sucedeu num outro dia, em que o Emílio se meteu em
sarilhos, como dizia a Lina. Foi na...

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Terça feira, 22 de Maio,
quando o Emílio meteu a cabeça
na terrina da sopa

Naquela tarde havia sopa de carne para o jantar em Katthult. A Lina serviu-a na terrina de
flores e estavam todos a comer sopa à volta da mesa da cozinha, especialmente o Emílio.
Ele adorava sopa: via-se pelo barulho que fazia a comê-la.

- É preciso fazer esse barulho? - perguntou-lhe a mãe.


- Se não for assim, a gente não sabe que está a comer sopa - respondeu ele.

Todos comeram à vontade, e a terrina ficou vazia, só com uma pinguinha de sopa no fundo.
Mas o Emílio ainda quis por força aquela pinguinha, e a única maneira que descobriu para a comer
foi metendo a cabeça na terrina para a lamber. Mas imaginem! Quando ia tirar a cabeça de dentro
da terrina, não conseguiu. A cabeça estava presa.

Ficou muito assustado, saltou logo da mesa e ficou ali, com a terrina como se fosse um
capacete. Tapava-lhe completamente os olhos e as orelhas. Ele batia na terrina e gritava, e a Lina
ficou logo muito aflita.

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- Ai, a nossa rica terrina - dizia ela. - A nossa linda terrina de flores. Agora onde é que vamos
pôr a sopa?

Porque apesar de não ser muito esperta, a Lina percebeu logo que enquanto o Emílio
estivesse metido na terrina, era impossível deitar-lhe sopa dentro. Mas a mãe do Emílio estava mais
preocupada com o filho.

- Valha-me Deus! Como vamos tirar a criança dali? O melhor é pegar na tenaz da lareira e
partir a terrina.
- Estás doida? - gritou o pai do Emílio. - Uma terrina destas custa quatro euros!
- Deixem-me experimentar - disse o Alfredo, que era um rapaz forte e espadaúdo. Pegou na
terrina pelas asas e levantou-a no ar.

Não serviu de nada! O Emílio foi atrás da


terrina, porque estava realmente com a cabeça
bem presa. E ficou pendurado, a espernear,
tentando voltar a pôr outra vez os pés no chão.

- Larguem-me! Larguem-me, já disse! -


gritou ele, e o Alfredo largou-o.

Agora começavam todos a ficar muito


preocupados. Estavam todos, o pai António, a
mãe Alma, a Ida, o Alfredo e a Lina, de roda do
Emílio, a pensar no que haviam de fazer.
Ninguém descobria a maneira de tirar o Emílio de
dentro da terrina.

- Olhem, o Emílio está a chorar! - gritou a


pequena Ida, apontando para duas grandes
lágrimas que escorriam pela cara do Emílio
abaixo, e depois pela borda da terrina.
- Não estou nada! - gritou o Emílio. - Isso
é sopa.

A voz dele era tão insolente como de costume, mas a verdade é que não é nada agradável
estar entalado numa terrina de sopa. E supondo que ele nunca mais conseguia sair de lá? Pobre
Emílio! Nestas condições, quando é que ele iria voltar a usar o seu rico boné?

A mãe do Emílio, muito aflita por causa do filho, queria pegar na tenaz e partir a terrina, mas
o pai disse:

- De maneira nenhuma! Esta terrina custou quatro euros. O melhor é irmos ao médico de
Mariannelund. Ele resolve o assunto. Leva três euros pela consulta e, assim, poupamos um euro.

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A mãe do Emílio achou que era uma boa ideia. Não é todos os dias que se tem oportunidade
de poupar um euro. E pensou logo em tudo o que podia comprar com esse dinheiro. Talvez
qualquer coisa para a Ida, que tinha sempre que ficar em casa enquanto o Emílio se divertia lá fora.

Agora andava tudo numa azáfama em Katthult. Era preciso arranjar o Emílio, lavá-lo e vesti-
lo com a sua melhor roupa. Claro que não era possível penteá-lo, nem lavar-lhe as orelhas, embora
devessem precisar de ser lavadas. Mesmo assim, a mãe ainda tentou meter o dedo pela borda da
terrina, para apanhar uma das orelhas do rapaz, mesmo correndo o risco de também ficar com o
dedo entalado.

- Ai, ai, que já está entalado! - disse a Ida. O pai António ficou logo muito zangado, apesar de
ser geralmente uma pessoa calma.
- Também querem ficar entalados na terrina? gritou ele. - Acabem depressa com isso,
enquanto eu vou buscar a carroça do feno e seguimos todos para casa do doutor, em
Mariannelund.

Mas a mãe do Emílio lá puxou o dedo e conseguiu tirá-lo.

- Bom, tens que ir mesmo com as orelhas por lavar - disse ela soprando no dedo.

Na boca do Emílio, que aparecia debaixo da terrina, viu-se um grande sorriso, e ele disse:

- É a primeira coisa boa que me acontece desde que enfiei esta terrina na cabeça.

Entretanto, o Alfredo trouxe o cavalo e a carroça para a frente da casa e o Emílio teve que
subir para a carroça.

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Estava muito bonito com o fato domingueiro às riscas, as botas com botões pretos e a
terrina metida na cabeça. Claro que ficava um pouco estranho, mas a terrina era muito alegre, com
flores pintadas, e parecia um lindo chapéu de Verão.
O único defeito que tinha era tapar completamente os olhos do Emílio.
Finalmente, lá partiram todos para Mariannelund.

- Tem cuidado com a Idazinha enquanto estamos fora - gritou a mãe do Emílio para a Lina, e
sentou-se à frente, ao lado do marido.
O Emílio e a terrina sentaram-se atrás e o Emílio pôs o boné no banco, junto dele, porque
precisava de qualquer coisa para pôr na cabeça quando voltasse para casa. Foi muito bom ter-se
lembrado disso!

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- O que é que eu faço para a ceia? – perguntou a Lina, no preciso momento em que a
carroça começou a andar.
- Faz o que entenderes - gritou-lhe a mãe do Emílio. - Agora tenho mais em que pensar.
- Nesse caso, faço sopa de carne - disse a Lina. Mas viu qualquer coisa às flores desaparecer
na curva da estrada e lembrou-se de que não podia ser. Voltou-se para o Alfredo e para a Ida, cheia
de tristeza, e disse:
- Tenho que fazer empadão de carne com chouriço de sangue.

O Emílio tinha ido muita vezes a Mariannelund. Gostava de se sentar no alto da carroça, a
ver a estrada toda às curvas e de olhar para as quintas por onde passava, para as crianças que lá
viviam, para os cães que ladravam nas cancelas, e para os cavalos e vacas a pastar nos prados.

Mas desta vez não podia apreciar coisa nenhuma. Ia sentado, com a terrina a tapar-lhe os
olhos, e só conseguia ver um bocadinho das botas com botões pretos, por debaixo da borda da
terrina bem apertada. E tinha que perguntar ao pai:

- Onde estamos agora? Ainda não chegámos ao sítio das panquecas? Já estamos perto do
lugar dos porcos?

O Emílio tinha posto nomes a todas as quintas à beira do caminho. O sítio das panquecas
tinha este nome por causa de dois rapazinhos muito gordos que estavam a comer panquecas junto
da cancela uma vez que o Emílio passou por ali. E o lugar dos porcos chamava-se assim porque
havia lá um porquinho a que o Emílio costumava puxar as orelhas.
Mas agora ia muito triste, a olhar para as botas com botões pretos, sem poder ver nem
panquecas nem porquinhos. Não admira que perguntasse a todo o momento:

- Onde estamos agora? Já estamos perto de Mariannelund?

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Quando finalmente chegaram,
a sala de espera do médico estava
cheia de gente quando o Emílio
entrou com a terrina metida na
cabeça. E todos tiveram muita pena
dele. Julgaram que aquilo tinha sido
um acidente qualquer.
Todos, menos um velho
horrível, que desatou a rir como um
perdido, como se tivesse alguma
graça ficar entalado numa terrina da
sopa.

- Ah-ah! Ah-ah! - ria o velho. -


Tens frio nas orelhas, rapaz?
- Não - respondeu o Emílio.
- Então porque usas essa geringonça na cabeça?
- Porque de outra forma tinha frio nas orelhas - disse o Emílio. Quando queria, ele também
sabia dizer piadas, apesar de ser tão pequeno.

Até que chegou a sua vez de ser recebido pelo médico, e o médico não se riu dele. Só disse:

- Boa tarde! Que estás a fazer aí dentro?

O Emílio não podia ver o médico, mas podia cumprimentá-lo, e por isso fez uma grande
vénia, mesmo com a terrina enfiada na cabeça. E, TRÁS!, a terrina ficou partida ao meio. Porque o
Emílio bateu com a cabeça na secretária do médico.

- Lá foram à viola quatro euros - disse o pai do Emílio à mãe em voz baixa. Mas o médico
ouviu-o perfeitamente.

- É verdade. Mas assim, o senhor poupa um euro - disse ele. - Porque eu costumo levar cinco
euros para tirar rapazes pequenos de dentro de terrinas, e este conseguiu sair dela sozinho.

O pai ficou muito agradecido ao Emílio por lhe ter poupado um euro. Agarrou nos dois
bocados da terrina e saiu porta fora, mais o Emílio e a mãe.
Quando chegaram à rua, a mãe do Emílio disse:

- Tem graça! Poupámos mais um euro! O que vamos fazer com ele?
- Não vamos fazer coisa nenhuma. Fica poupado - disse o pai do Emílio. - Mas é justo que o
Emílio receba cinco cêntimos para meter no mealheiro quando chegarmos a casa.

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Tirou logo uma moeda de cinco cêntimos do porta-moedas, e deu-a ao Emílio. Calculem
como o Emílio ficou satisfeito! E lá foram para casa.

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O Emílio sentou-se no banco de trás da carroça todo contente, com a moeda de cinco
cêntimos na mão e o boné na cabeça, enquanto olhava para as crianças, os cães, os cavalos e os
porcos ao longo da estrada.

Se o Emílio fosse um rapaz como outro qualquer, nada mais teria acontecido naquele dia.
Mas não era! E adivinhem o que ele fez!
Meteu a moeda de cinco cêntimos na boca, e quando iam a passar pelo lugar dos porcos,
GLUP!, ouviu-se um ruído no banco de trás. O Emílio tinha engolido os cinco cêntimos.

- Ai, ai, ai! - disse o Emílio. - Lá se foi o meu dinheiro!

E a mãe do Emílio começou a lamentar-se outra vez:

- Valha-me Deus! Como vamos tirar os cinco cêntimos de dentro da criança? Temos que
voltar ao médico.
- Tens cá uma maneira de ver as coisas! - gritou o pai do Emílio. - Vamos pagar cinco euros
ao médico para receber em troca cinco cêntimos? Quem foi que te ensinou a fazer contas quando
andaste na escola?

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O Emílio não se preocupou. Deu uma palmada no estômago e disse:

- Posso muito bem ser o meu próprio mealheiro e guardar a moeda na barriga, em vez de a
meter no mealheiro, porque não vale a pena querer tirar alguma coisa do mealheiro. Já
experimentei com a faca da cozinha e sei isso muito bem.

Mas a mãe não desistia. Queria por força levar o filho outra vez ao médico.

- Não me queixei quando ele engoliu os botões das calças - lembrou ela ao pai do Emílio. -
Mas uma moeda de cinco cêntimos é de metal, e pode ser perigoso.

Conseguiu assustar tanto o pai do Emílio que ele fez o cavalo dar uma volta e tomou outra
vez o caminho para Mariannelund. Porque também estava preocupado com o filho.

Entraram a correr no consultório do médico.

- Esqueceram-se de alguma coisa? - perguntou o médico.


- Não, foi o Emílio que engoliu uma moeda de cinco cêntimos - disse o pai. Se o pudesse
operar por quatro euros... os cinco cêntimos ficavam para si.

Mas o Emílio puxou pela manga do casaco do pai e disse baixinho:

- Não, senhor! O dinheiro é meu!

Mas o médico disse que não era preciso


fazer operação nenhuma, porque a moeda vinha
cá para fora daí a uns dias.

- Mas deves comer cinco bolos - disse o


médico -, para os cinco cêntimos se entreterem e
não te arranharem o estômago.

O médico era um encanto, e não levou


nada pela consulta. O pai ficou tão contente que
saiu a rir de satisfação. A mãe do Emílio queria ir a
correr comprar os bolos à padaria da menina
Adriana.

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- Não é preciso - disse o pai - Temos muitos bolos lá em casa.

O Emílio pensou uns segundos. Era muito esperto a inventar coisas, e estava cheio de fome,
de maneira que disse:

- Eu tenho cá dentro cinco cêntimos, e se os conseguir tirar pago os bolos com o meu
dinheiro.

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Pensou mais um bocadinho, e continuou:

- Não me pode emprestar cinco cêntimos só por uns dias, pai? É dinheiro em caixa!

O pai do Emílio concordou, e lá foram à padaria da menina Adriana comprar cinco bolos
para o Emílio, bolos óptimos, redondos e douradinhos, com açúcar em cima.

O Emílio comeu-os todos uns atrás dos outros.

- Este é o melhor remédio que tomei na minha vida - disse ele.

O pai do Emílio ficou tão satisfeito que, de repente, já não sabia o que estava a fazer.

- Hoje poupámos uma fortuna -


disse ele - e comprou também cinco
cêntimos de rebuçados para levar à Ida.

Depois o Emílio e os pais voltaram


para Katthult. Assim que o pai do Emílio
entrou a porta, e antes mesmo de tirar o
chapéu e o casaco, pôs-se a colar a terrina.
Não foi difícil porque estava partida só em
dois bocados.
A Lina ficou tão contente, que deu
pulos de alegria e gritou para o Alfredo,
que estava a desatrelar o cavalo:

- Agora já vai haver sopa de carne


em Katthult!

Isso julgava ela, porque se tinha


esquecido do Emílio!

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Nessa tarde, o Emílio brincou mais tempo do que o
costume com a irmã Ida. Construiu uma casinha para ela com
pedrinhas e ramos, e ela achou muita graça. E só lhe deu
beliscões quando queria mais um rebuçado.
Depois começou a escurecer, e o Emílio e a Ida acharam
que eram horas de ir para a cama.

Entraram na cozinha à procura da mãe, mas ela não


estava. Não estava ninguém. Só estava a terrina da sopa, no
meio da mesa, colada e pronta para servir outra vez.
O Emílio e a pequena Ida ficaram a olhar para a linda
terrina que tinha andado em viagem o dia inteiro.

- Que engraçado, fez todo aquele caminho até


Mariannelund - disse a Ida. E logo a seguir:

- Como conseguiste meter a cabeça dentro da terrina, Emílio?


- É muito fácil - disse o Emílio. - Foi assim.

Neste momento a mãe do Emílio entrou na cozinha. E a primeira coisa que viu foi o Emílio
de pé com a terrina metida pela cabeça abaixo. O Emílio puxou pela terrina. A Ida gritou. O Emílio
também gritou. Porque a terrina tinha ficado presa na cabeça outra vez, tanto ou mais do que
antes.

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Então a mãe pegou na tenaz e, ZÁS!, bateu com ela na terrina, fazendo um barulho tão
grande que se ouviu em toda a Lonneberga.
A terrina caiu ao chão feita em mil bocados.

O pai ouviu o barulho e correu para a cozinha. Ficou à porta, muito quieto e calado, e viu o
Emílio, os cacos da terrina e a tenaz que a mãe do Emilio tinha na mão.
Não disse uma única palavra. Só voltou as costas e foi tratar dos carneiros.

Mas passados dois dias recebeu os cinco cêntimos do Emílio, o que já foi uma compensação.

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Bom, foi assim que ficaram a saber que espécie de rapaz
é o Emílio.

Foi na Terça-Feira, dia 22 de Maio, que se passou este caso


da terrina. Mas talvez vocês gostem de ouvir o que sucedeu no
Domingo, 10 de Junho, quando o Emílio pendurou a irmã Ida no
pau da bandeira.

Mas é melhor essa história ficar para outro dia...

Sobre a Autora

Astrid Lindgren é autora de mais de 30 livros infantis e ainda de filmes e séries


para a rádio e a televisão (quem não se lembra da Pippi das Meias Altas?).
Foi várias vezes galardoada, tendo recebido, nomeadamente, o Prémio
Internacional Andersen, em 1971.
De entre todas as personagens que criou, Emílio é o seu herói preferido. Ele é, na
verdade, a sua criação mais original e desconcertante, podendo considerar-se das
personagens melhor conseguidas da literatura infantil mundial.

Sites sobre a Autora Sites sobre Katthult


Sobre a Autora
pt.wikipedia.org/wiki/Astrid_Lindgren www.katthult.se/Sidor/E_Index.htm
www.astridlindgren.se/eng www.alv.se/pages/miljo/emil.asp?Lang=eng&sida=Emil
www.astridlindgrensworld.com www.turism.vimmerby.se/eng/eturism/et27.asp
kirjasto.sci.fi/alindgr.htm www.flickr.com/search/?q=Katthult

Emílio Dentro Da Terrina


Texto: Astrid Lindgren
Ilustrações: Björn Berg
Tradução: Ricardo Alberty
Adaptação para Internet: Ricardo Silva

Colecção 'Pirilampo' (Editorial Verbo, 1979):


Emílio Dentro Da Terrina (vol. 1)
Emílio Faz Das Suas (vol. 2)
Emílio e o Porco Sábio (vol. 3)

Rev. 05 (18.04.2010)

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